Orion recuperou o fôlego,
refeito dos golpes que haviam rasgado sua carne. Ingeriu uma poção mágica para
minimizar os efeitos dos ferimentos que se fecharam instantaneamente. Ouviu um
gemido ao seu lado e reconheceu a voz de Anix.
_ Anix! Onde estamos?
_ Não sei. Acho que dentro da torre ainda. Em algum tipo
de caverna, eu acho. Devemos estar no subsolo.
Realmente estavam em
uma caverna. O chão irregular, a ausência de luz e o ar rarefeito e pesado denunciavam
isto. Havia também algo mais, um ruído que despertou a atenção dos dois
aventureiros. Era como se algo rastejasse em direção a eles de forma sorrateira
e ameaçadora. Era um inimigo certamente. Sem poder enxergar a suposta ameaça,
Orion começou a tatear o chão em busca de sua maça enquanto Anix empunhou seu
cajado mágico na direção do som. Então, algo os surpreendeu. Uma luz surgiu,
vinda do alto, revelando os detalhes do local onde estavam. Anix e Orion
puderam ver, ainda que na penumbra, a extensão de uma gigantesca caverna, de
teto abobadado repleto de estalactites pontiagudas. Não conseguiam ver as
paredes, já que a câmara se estendia muito além do alcance da luz, mas foram
capazes de ver o chão, feito de rocha natural, todo irregular e tomado de
protuberâncias afiadas tais quais as do teto. Havia vários corpos há muito
apodrecidos, de antigos aventureiros desafortunados que tinham encontrado
naquela gruta seu túmulo. E diante dos dois estava o inimigo, uma monstruosa
aranha, tão grande quanto uma carroça, de pernas longas e peludas e quelíceras
afiadas gotejando veneno mortal.
O cajado de Anix
disparou relâmpagos sobre o corpo repugnante do monstro, fazendo hesitar. Orion
apanhou uma espada de um dos cadáveres no chão e saltou sobre a criatura. A lâmina
enegrecida pelo tempo penetrou fundo na carne da aranha gigante, fazendo-a
tombar. Suas patas se retraíram e seu corpo cessou seus movimentos. Orion
retirou a espada da cabeça da criatura, ainda surpreso por aquela espada
enferrujada ainda possuir tão bom corte.
Com o canto do olho,
Anix pensou ter visto uma pequena centelha luminosa se elevar a partir do
inimigo e ir em direção a Orion. Quando olhou com mais atenção, o brilho já não
existia e o mago pensou ter imaginado aquilo. Teria sido melhor assim.
Um rangido chamou a
atenção de Anix. O elfo olhou para o alto a tempo de ver algo como uma porta se
fechando no teto da caverna levando embora a única fonte de iluminação que possuíam.
_ Acho que estamos realmente embaixo da torre, Orion – disse Anix. – Creio que aquilo lá em cima seja um alçapão,
uma armadilha talvez. Podemos escapar por ali.
_ Sim, mas primeiro precisamos voltar a enxergar – respondeu o humano. –
Sam, precisamos de sua ajuda! – gritou
o guerreiro, esfregando a jóia pendurada em seu pescoço.
A pedra brilhou,
iluminando a caverna, e a imagem do bardo se formou em seu interior.
_ Estou aqui, amigos! Como posso ajuda-los?
_ Precisamos de luz – respondeu Orion. – Estamos perdidos em uma caverna e precisamos
encontrar os nossos amigos.
Sam assoviou uma
melodia curta e triste e o colar de Orion começou a brilhar como uma tocha
acesa.
_ Mais comida!
_ O que você disse, Sam? – perguntou Orion.
_ Eu? Não falei nada. Por que pergunta? – respondeu o
menestrel.
_ Estranho, pensei ter ouvido um sussurro. Achei que
fosse você – disse
Orion, confuso.
_ Não, não fui – disse Sam.
_ Mais comida!
_ Outra vez! – exclamou Orion, assustado. – Você ouviu isso, Anix? Um sussurro pedindo
comida?
_ Não, não ouvi – respondeu o elfo. – Imagino que possam ser mais criaturas escondidas na escuridão querendo
nos devorar. Vamos sair logo daqui. Livre-se desta espada velha e pegue sua
maça, veja, ali está ela. E vamos dar logo o fora daqui.
_ Está certo! – concordou o guerreiro. Orion apanhou sua maça
do chão e prendeu-a à cintura, junto de sua nova espada. – Vamos lá!
Anix evocou o poder
de seu cajado, fazendo-o flutuar. Os dois subiram e voaram em direção ao teto. Começaram
a tatear, em busca do alçapão. Anix viu um tênue brilho através de uma pequena
fresta e apontou-o para o companheiro.
_ Vou tentar arrombar o alçapão com minha maça! – anunciou Orion. O
humano começou então a golpear o teto da caverna com o cabo da espada, sem
sucesso.
_ Idiota! Não deste jeito! Use a lâmina!
_ Não sei se dará certo, Anix. Ela está enferrujada. Mas
se você insiste. Talvez eu tenha sorte e consiga enfiá-la na fresta do alçapão –
respondeu
Orion. – E pare de falar deste jeito.
_ Mas eu não disse nada – retrucou Anix,
surpreso e confuso. E para deixá-lo ainda mais surpreso, seus olhos viram a velha
lâmina se cravar na rocha sólida acima deles.
_ Uau! Que sorte! – sorriu o humano. – Parece que a pedra é porosa ou algo
parecido. Estou conseguindo cortá-la. Vamos abrir este alçapão num instante.
E tal qual Orion
havia dito, bastaram apenas alguns poucos golpes da espada para abrir um buraco
na tampa do alçapão suficientemente grande para que os dois passassem por ele.
Já fora da caverna,
os dois estavam agora em um longo e estreito corredor circular. Seguiram a esmo
em uma das direções e encontraram uma grande porta que os levou de volta à sala
onde haviam enfrentado o elemental de fogo.
_ Os outros venceram o elemental, Orion – disse Anix. – Veja esse monte de lascas de gelo no chão. Isto
só pode ter sido obra do Legolas. Eles devem ter seguido por aquele corredor,
na direção da qual viemos. Devem ter acionado o alçapão, mas felizmente não caíram
nele. Vamos, temos que alcançá-los!
Os dois retornaram ao
corredor, voando rapidamente na direção dos companheiros. Enquanto percorriam o
caminho na borda de torre, Orion se deu conta de que usara a espada, e não a
maça como pretendia, para arrombar o alçapão. O guerreiro olhou com curiosidade
e temor para a arma, analisando cada detalhe com cuidado. A lâmina não estava
enferrujada, como ele supunha. Ela na verdade estava como nova, intocada pelos
efeitos do longo tempo que passara na caverna. Seu metal era negro como uma
noite sem luar. Seu cabo tinha cor dourada escura, como cobre envelhecido, e era
decorado por entalhes de ossos se entrelaçando. O pomo tinha o formato de um
crânio humano em cujos olhos brilhavam pequenos rubis. A guarda da espada era
formada por dois escorpiões metálicos em combate, agarrados um às pinças do
outro, e cujas caudas curvadas para o alto se ameaçavam mutuamente enquanto
protegiam as mãos do usuário. Em sua lâmina, escritas em letras garrafais e rústicas,
Orion pode ler as seguintes palavras no idioma comum: “Soul Eater, Devoradora de Almas”. Um calafrio percorreu a espinha
do guerreiro.
_ Vou me livrar desta espada – decidiu Orion, silenciosamente.
Não faria alarde, apenas deixaria a arma ali no chão daquele corredor.
Anix apontou para o
fosso no chão diante deles. Os dois desceram escuridão abaixo guiados pelos
sons de batalha que ecoavam ao longe. Orion se agarrou firmemente para não cair,
prendendo a respiração como no momento em que tinham chegado à torre dias
antes. A espada repousava presa à sua cintura, dentro da bainha outrora ocupada
por sua arma flamejante. Orion só percebeu quando já era tarde demais.
---> Próximo episódio: Moscas na teia
eu tentei jogar ela fora?!?
ResponderExcluircomo fui tolo...
ela é uma arma perfeita!!! kkk
Soul Eater - Devoradora de Almas