agosto 24, 2012

Capítulo 370 – Soul Eater


Orion recuperou o fôlego, refeito dos golpes que haviam rasgado sua carne. Ingeriu uma poção mágica para minimizar os efeitos dos ferimentos que se fecharam instantaneamente. Ouviu um gemido ao seu lado e reconheceu a voz de Anix.
_ Anix! Onde estamos?
_ Não sei. Acho que dentro da torre ainda. Em algum tipo de caverna, eu acho. Devemos estar no subsolo.
Realmente estavam em uma caverna. O chão irregular, a ausência de luz e o ar rarefeito e pesado denunciavam isto. Havia também algo mais, um ruído que despertou a atenção dos dois aventureiros. Era como se algo rastejasse em direção a eles de forma sorrateira e ameaçadora. Era um inimigo certamente. Sem poder enxergar a suposta ameaça, Orion começou a tatear o chão em busca de sua maça enquanto Anix empunhou seu cajado mágico na direção do som. Então, algo os surpreendeu. Uma luz surgiu, vinda do alto, revelando os detalhes do local onde estavam. Anix e Orion puderam ver, ainda que na penumbra, a extensão de uma gigantesca caverna, de teto abobadado repleto de estalactites pontiagudas. Não conseguiam ver as paredes, já que a câmara se estendia muito além do alcance da luz, mas foram capazes de ver o chão, feito de rocha natural, todo irregular e tomado de protuberâncias afiadas tais quais as do teto. Havia vários corpos há muito apodrecidos, de antigos aventureiros desafortunados que tinham encontrado naquela gruta seu túmulo. E diante dos dois estava o inimigo, uma monstruosa aranha, tão grande quanto uma carroça, de pernas longas e peludas e quelíceras afiadas gotejando veneno mortal.
O cajado de Anix disparou relâmpagos sobre o corpo repugnante do monstro, fazendo hesitar. Orion apanhou uma espada de um dos cadáveres no chão e saltou sobre a criatura. A lâmina enegrecida pelo tempo penetrou fundo na carne da aranha gigante, fazendo-a tombar. Suas patas se retraíram e seu corpo cessou seus movimentos. Orion retirou a espada da cabeça da criatura, ainda surpreso por aquela espada enferrujada ainda possuir tão bom corte.
Com o canto do olho, Anix pensou ter visto uma pequena centelha luminosa se elevar a partir do inimigo e ir em direção a Orion. Quando olhou com mais atenção, o brilho já não existia e o mago pensou ter imaginado aquilo. Teria sido melhor assim.
Um rangido chamou a atenção de Anix. O elfo olhou para o alto a tempo de ver algo como uma porta se fechando no teto da caverna levando embora a única fonte de iluminação que possuíam.
_ Acho que estamos realmente embaixo da torre, Orion – disse Anix. – Creio que aquilo lá em cima seja um alçapão, uma armadilha talvez. Podemos escapar por ali.
_ Sim, mas primeiro precisamos voltar a enxergar – respondeu o humano. – Sam, precisamos de sua ajuda! – gritou o guerreiro, esfregando a jóia pendurada em seu pescoço.
A pedra brilhou, iluminando a caverna, e a imagem do bardo se formou em seu interior.
_ Estou aqui, amigos! Como posso ajuda-los?
_ Precisamos de luz – respondeu Orion. – Estamos perdidos em uma caverna e precisamos encontrar os nossos amigos.
Sam assoviou uma melodia curta e triste e o colar de Orion começou a brilhar como uma tocha acesa.
_ Mais comida!
_ O que você disse, Sam? – perguntou Orion.
_ Eu? Não falei nada. Por que pergunta? – respondeu o menestrel.
_ Estranho, pensei ter ouvido um sussurro. Achei que fosse você – disse Orion, confuso.
_ Não, não fui – disse Sam.
_ Mais comida!
_ Outra vez! – exclamou Orion, assustado. – Você ouviu isso, Anix? Um sussurro pedindo comida?
_ Não, não ouvi – respondeu o elfo. – Imagino que possam ser mais criaturas escondidas na escuridão querendo nos devorar. Vamos sair logo daqui. Livre-se desta espada velha e pegue sua maça, veja, ali está ela. E vamos dar logo o fora daqui.
_ Está certo! – concordou o guerreiro. Orion apanhou sua maça do chão e prendeu-a à cintura, junto de sua nova espada. – Vamos lá!
Anix evocou o poder de seu cajado, fazendo-o flutuar. Os dois subiram e voaram em direção ao teto. Começaram a tatear, em busca do alçapão. Anix viu um tênue brilho através de uma pequena fresta e apontou-o para o companheiro.
_ Vou tentar arrombar o alçapão com minha maça! – anunciou Orion. O humano começou então a golpear o teto da caverna com o cabo da espada, sem sucesso.
­­_ Idiota! Não deste jeito! Use a lâmina!
_ Não sei se dará certo, Anix. Ela está enferrujada. Mas se você insiste. Talvez eu tenha sorte e consiga enfiá-la na fresta do alçapão – respondeu Orion. – E pare de falar deste jeito.
_ Mas eu não disse nada – retrucou Anix, surpreso e confuso. E para deixá-lo ainda mais surpreso, seus olhos viram a velha lâmina se cravar na rocha sólida acima deles.
_ Uau! Que sorte! – sorriu o humano. – Parece que a pedra é porosa ou algo parecido. Estou conseguindo cortá-la. Vamos abrir este alçapão num instante.
E tal qual Orion havia dito, bastaram apenas alguns poucos golpes da espada para abrir um buraco na tampa do alçapão suficientemente grande para que os dois passassem por ele.
Já fora da caverna, os dois estavam agora em um longo e estreito corredor circular. Seguiram a esmo em uma das direções e encontraram uma grande porta que os levou de volta à sala onde haviam enfrentado o elemental de fogo.
_ Os outros venceram o elemental, Orion – disse Anix. – Veja esse monte de lascas de gelo no chão. Isto só pode ter sido obra do Legolas. Eles devem ter seguido por aquele corredor, na direção da qual viemos. Devem ter acionado o alçapão, mas felizmente não caíram nele. Vamos, temos que alcançá-los!
Os dois retornaram ao corredor, voando rapidamente na direção dos companheiros. Enquanto percorriam o caminho na borda de torre, Orion se deu conta de que usara a espada, e não a maça como pretendia, para arrombar o alçapão. O guerreiro olhou com curiosidade e temor para a arma, analisando cada detalhe com cuidado. A lâmina não estava enferrujada, como ele supunha. Ela na verdade estava como nova, intocada pelos efeitos do longo tempo que passara na caverna. Seu metal era negro como uma noite sem luar. Seu cabo tinha cor dourada escura, como cobre envelhecido, e era decorado por entalhes de ossos se entrelaçando. O pomo tinha o formato de um crânio humano em cujos olhos brilhavam pequenos rubis. A guarda da espada era formada por dois escorpiões metálicos em combate, agarrados um às pinças do outro, e cujas caudas curvadas para o alto se ameaçavam mutuamente enquanto protegiam as mãos do usuário. Em sua lâmina, escritas em letras garrafais e rústicas, Orion pode ler as seguintes palavras no idioma comum: “Soul Eater, Devoradora de Almas”. Um calafrio percorreu a espinha do guerreiro.
_ Vou me livrar desta espada – decidiu Orion, silenciosamente. Não faria alarde, apenas deixaria a arma ali no chão daquele corredor.
Anix apontou para o fosso no chão diante deles. Os dois desceram escuridão abaixo guiados pelos sons de batalha que ecoavam ao longe. Orion se agarrou firmemente para não cair, prendendo a respiração como no momento em que tinham chegado à torre dias antes. A espada repousava presa à sua cintura, dentro da bainha outrora ocupada por sua arma flamejante. Orion só percebeu quando já era tarde demais.


---> Próximo episódio: Moscas na teia

Um comentário:

  1. Anônimo6:38 PM

    eu tentei jogar ela fora?!?
    como fui tolo...
    ela é uma arma perfeita!!! kkk
    Soul Eater - Devoradora de Almas

    ResponderExcluir