Legolas pousou com a vassoura sobre a borda da torre, apoiando-se nas presas de pedra. Chorava a morte do amigo, sabia que não havia chance de Anix estar vivo após ser esmagado até a inconsciência pelo monstro e depois despencar daquela altura. Nailo e Squall desceram velozmente, em busca do cadáver do amigo e dos outros companheiros que tinham ficado para trás. Pousaram no chão inundado e lamacento ao lado do ossuário. O corpo da criatura que matara Anix jazia inerte sobre o telhado de pedra do cubículo. A laje rachara com o impacto e os tentáculos da besta pendiam moles pela fenda do teto. A chuva diminuía, reforçando a idéia de que era o monstro quem a criara e comandara seu poder contra os heróis.
_ O Anix sumiu! – espantou-se Nailo ao procurar pelo corpo. Encontrou somente a cratera ensangüentada no chão onde o amigo caíra e algumas pegadas que conduziam em direção à torre junto com um rastro de sangue. – Squall, acho que algum outro monstro o arrastou daqui, veja essas pegadas. Vamos segui-las! – decidiu por fim.
Orion e Lucano terminavam de chegar, exaustos devido à longa corrida de volta à torre após terem sido jogados para longe pela ventania.
_ O que aconteceu! – perguntou o clérigo.
_ O Anix morreu! O monstro o matou e o jogou aqui para baixo. Seu corpo foi levado, talvez por outro monstro! – respondeu Squall rugindo no idioma dracônico.
O dragão explicava aos amigos o que acontecera no alto da torre, enquanto Nailo seguia os rastros no chão. Levavam até a torre. Havia manchas de sangue na parede, um rastro grande como se o corpo de Anix tivesse sido arrastado para cima. Nailo observava intrigado e outra coisa lhe chamou a atenção. As gotas que caiam do céu batiam em algo e respingavam em seu rosto, mas diante dele só havia a torre. Nailo notou que as gotas batiam em algo, formando uma silhueta humanóide um pouco mais baixa do que ele. Nailo sabia que na sua frente havia alguém ou alguma coisa invisível. Poderia ser a criatura que roubara o corpo de seu amigo. Nailo atacou. Agarrou com força aquilo que julgava ser o pescoço da criatura, ameaçando-o com uma de suas espadas.
_ Onde está o Anix? – exigiu saber o ranger.
_ Está na sua frente – um choramingo conhecido. Era Anix.
_ Anix?! Você está bem? Achamos que você tinha morrido! – espantou-se Nailo.
_ Estou bem. Eu acho – respondeu o mago. Squall, Orion e Lucano se aproximavam após ouvir a conversa.
_ Nailo, o que está acontecendo? Encontrou o Anix? – perguntou o dragão.
_ Sim, ele está aqui na minha frente, invisível. Está bem.
Anix desfez a magia que o envolvia e seus amigos puderam vê-lo novamente. Ficaram surpresos.
_ Anix! Achamos que você tinha morrido. Você estava todo ferido, mas agora está inteiro novamente. O que aconteceu? – disse Nailo. Seus olhos correram pelo corpo do amigo, vendo as manchas de sangue, mas sem encontrar qualquer ferimento. Era como se Anix tivesse nascido novamente. Olhou para o pulso do amigo e não encontrou a pulseira de flores. – E o que aconteceu com sua pulseira? Parece que ela caiu. Vamos procurá-la.
_ A pulseira está aqui – respondeu o mago, retirando as flores murchas do bolso do manto. – E vocês não se enganaram, eu morri de fato. Fui até o outro mundo e vi Glórienn. Mas voltei à vida, graças a esta pulseira que Lena me deu. Essas pulseiras que recebemos têm o poder de nos ressuscitar, caso morramos. Lembram do que Lena disse? Essas flores não murchariam até nossas vidas murcharem. Se isso acontecesse, então a pulseira cumpriria sua missão. Lena me protegeu e impediu minha morte dessa vez. Mas a partir de agora não poderei mais contar com a ajuda dela.
_ Nem eu! – disse Squall. Nailo traduzia as palavras do dragão vermelho. – Para mim não haverá segunda chance. Lutarei sem a ajuda de Lena, só com minhas próprias forças – Squall apanhou a pulseira, que, ao contrário dos outros pertences do feiticeiro, continuava visível após a transformação de Squall. O Vermelho retirou a pulseira do braço e a jogou fora. Nailo rapidamente a apanhou, antes que caísse na água lamacenta.
_ Fique com ela, então, Anix – ofereceu Nailo. O mago pegou a pulseira da mão do amigo e a colocou em seu pulso. Estava novamente protegido. – Vamos embora. Não temos tempo a perder aqui. Vamos encontrar Legolas no alto da torre.
O grupo iniciou a sua subida. Nailo voava montado nas costas de Squall que transportava Relâmpago em suas garras. Em uma situação normal seria impossível testemunhar um dragão vermelho se deixar montar. Anix voava com auxílio de sua magia, todo o seu poder retornara após a ressurreição e ele sentia algo mais, como se estivesse mais forte, pronto para arriscar usar as magias novas que vinha desenvolvendo durante a viagem. Orion chamou Galanodel, que se abrigara com a filha nas árvores no alto do penhasco. A coruja gigante carregou o humano nas costas para o alto e transportou também o elfo Lucano seguro por suas garras. O grupo já passava da metade da torre, quando algo lhes chamou a atenção. Uma flecha cortou o céu noturno iluminado por relâmpagos, deixando para trás um rastro de gelo e neve. A flecha vinha do topo da torre, pertencia a Legolas. Squall arfou suas poderosas asas e disparou para o alto. Anix agarrou-se à pata do irmão para não ficar para trás. Galanodel acelerou também, tentando acompanhar o dragão. Precisavam ser rápidos, Legolas corria perigo.
Legolas enxugara suas lágrimas e decidira que era inútil perder tempo com aquilo. Ao invés de chorar, faria com que o culpado pela morte de Anix pagasse. Iria matar Zulil. Antes, porém, precisava se reunir com os companheiros e precisava de sua espada. Legolas olhou para dentro da torre, tudo estava escuro. Não havia sinal da espada gélida feita
Cinco criaturas caminhavam na direção de Legolas. Pareciam cadáveres humanos. Tinham olhos cheios de malevolência, dentes transformados em agulhas irregulares e pele áspera e ressecada esticada sobre os ossos. Seus dedos exibiam unhas em forma de garras afiadas. Carregavam sacolas de pano cheias de moedas reluzentes que largaram displicentemente no chão ao avistar o invasor. Um que revirava o lixo acumulado na borda da torre ergueu-se logo atrás de Legolas, pronto para atacar. O mais próximo deles chegava maliciosamente perto de Legolas com as mãos para trás, como se escondesse alguma coisa.
_ Invasor! – bradou o monstro. – Matou a Cria da Lua de Gulthias e chegou até aqui! Mas esse lugar será também o seu túmulo!
O monstro trouxe as mãos para frente do corpo revelando o que escondia. Estava armado com uma espada congelante. Legolas olhou ao redor e viu um vasto tesouro brilhando em meio a entulho, excrementos e cadáveres. Entre os corpos havia três que o espantaram. Eram três carcaças de dragões, mortos há muito tempo. O mais recente era um dragão branco, ainda inteiro, morto há pouco tempo. Os outros eram um verde em decomposição já avançada, e um negro, já sem pele ou carne e apenas reconhecido pelo formato da cabeça, semelhante à de Escamas da Noite. Legolas entendeu o porquê do entusiasmo da tal Cria da Lua quando Squall surgiu diante dela. A criatura e seus asseclas inumanos caçavam e matavam dragões. O dragão negro mencionado por Tork jazia ali há um longo tempo, ao lado de outros semelhantes. Legolas estava diante de um grande perigo, monstros que matavam dragões. Precisava de ajuda. Sem hesitar, disparou uma flecha para o alto, para alertar os amigos. Um novo raio cortou o céu, iluminando seu sinal. A ajuda estava a caminho.
Mas Legolas não podia esperar pelos seus amigos. Precisava lutar, sobreviver àquele desafio. Puxou a corda do arco e evocou seu grande poder. Um ciclone congelante avançou veloz pela torre. Uma das criaturas tombou. Seu corpo congelado estilhaçou-se ao se chocar no solo de pedra. Outro dos monstros ficou com metade do corpo paralisada dentro do gelo, avançando com dificuldade aparente.
Os monstros revidaram rapidamente. O líder dos inumanos saltou sobre Legolas, abrindo um talho em seu pescoço com a espada mágica. Um segundo correu até o elfo tentando atingi-lo com suas garras, mas Legolas esquivou antes de ser atingido. Um terceiro veio por trás e cravou suas unhas imundas na garganta do herói. O sangue escorreu timidamente da pequena ferida. No entanto, Legolas percebeu que o ferimento era mais grave do que aparentava. Sentiu uma tontura abalando-o e o ar escapando dos pulmões. Sua visão escureceu momentaneamente, como se ele fosse desfalecer. O monstro sorriu maldosamente, revelando seu poder profano. Seu toque drenara, além de sangue, um pouco da vida de Legolas. Mais do que a carne, os ataques daqueles monstros eram capazes de ferir a alma de suas vítimas.
Legolas levou a mão a aljava, carregou uma flecha e mirou. Os monstros que o cercavam rasgaram sua pele e sua alma, enfraquecendo-o mais ainda. Disparou. Uma das criaturas tombou congelada. Carregou o arco novamente, garras afiadas voltavam a rasgar seu corpo. Visão turva, falta de ar. Sua vida era sugada. Disparou. Mais um inimigo caiu sem vida. Os restantes já o cercavam completamente. Se a batalha durasse muito tempo, o arqueiro pereceria. Um grito ritmado como um verso de poema. Magia. Anix chegava. O mago passou num vôo rasante sobre a cabeça do guerreiro glacial, cuspindo fogo nos inimigos como um dragão. Squall chegou em seguida, provocando redemoinhos de vento com o bater de suas asas. Soltou o lobo em suas garras delicadamente no chão. Nailo saltou de suas costas, deu um giro no ar e caiu em pé diante de um dos inimigos. Puxou a espada cravada no flanco esquerdo do monstro durante a queda e deixou o corpo sem vida atingir o chão. O dragão já atacava o alvo restante com suas mandíbulas, dilacerando um ombro. A seguir chegou a coruja gigante, pousando com graça no topo da torre. Orion saltou de suas costas brandindo a espada de fogo. Lucano já corria ao encontro de Legolas. Levava o medalhão que tinha o símbolo de Glórienn estendido à frente do corpo. A peça emitiu um brilho alvo, desintegrando o monstro que restara. O combate estava terminado.
_ Você está bem, Legolas? – perguntou Anix.
_ Sim, Anix. Anix!? – espantou-se o arqueiro. – Você está vivo!?
_ Sim, estou. A pulseira de Lena me trouxe de volta à vida, ressuscitei!
Legolas sorriu. Estavam quase todos reunidos novamente. Ainda faltava alguém no grupo. Sam. Iriam descer aquela torre maldita e resgatar o amigo. Sem perder tempo comemorando o retorno de Anix, o grupo iniciou a busca por uma entrada para a fortaleza de Zulil.
Very Nice ! ;)
ResponderExcluirTo ansioso pra ver o proximo cap.
(:
Berserck?