abril 16, 2009

Capítulo 348 – Golpe traiçoeiro


Cerca de uma hora havia se passado desde que Legolas se deixara vencer pelo sono. Dormia profundamente, na esperança de repor as energias perdidas no combate contra os vampiros para então estar pronto para derrotar seu pior inimigo: Zulil. Galanodel vigiava o precário acampamento, alternando momentos de sono e de alerta. Por ser noctívaga, a ave tinha facilidade em se manter acordada durante a noite, dormindo apenas o mínimo necessário para mantê-la acordada no dia seguinte, para acompanhar seus novos aliados. Embora ainda não confiasse totalmente nela, Legolas sabia que poderia dormir em paz. A vida da coruja havia sido salva mais de uma vez por seu grupo e seu comportamento desde o instante em que se juntara aos aventureiros não dava motivos para desconfiança. Era um animal, motivado por objetivos simples como comer, dormir e ficar em segurança. E como ela havia encontrado tudo isso ao juntar-se àquele grupo, não havia motivos para traição. Além de tudo, era benéfico para o grupo deixar que um combatente como Nailo ou Orion descansasse para poder lutar bem no dia seguinte, ao invés de passar a noite em vigília. Os sentidos da coruja, adaptados ao ambiente noturno, eram tão aguçados quanto os de Nailo, garantindo a certeza de que qualquer aproximação inimiga seria notada a tempo de uma reação. Com tudo isso em mente, Legolas dormia profundamente. Mas, embora Legolas se sentisse seguro, a traição ocorreria ainda naquela noite. Um golpe sujo seria desferido contra o grupo, da forma mais covarde possível, pois, enquanto os aventureiros dormiam, foram traiçoeiramente atacados.

Legolas acordou num susto. Dor, o som de uma explosão atrás da sua cabeça, vinda da sua mochila, fumaça preta. Carvão. Legolas abriu os olhos e viu alguém agachado sobre seu corpo. Pele pálida, dentes pontiagudos, punho fechado retornando para junto do corpo após desferir um golpe certeiro no pescoço do elfo. Um golpe que para sorte do arqueiro não fora fatal. Um vampiro. Legolas pegou o arco que repousava ao seu lado e disparou velozmente. Três flechas certeiras, cravadas no peito do vampiro, fizeram-no desfazer-se numa nuvem de fumaça, poeira de carvão e neve. Olhou ao redor, não gostou do que viu. Oito nuvens gasosas que flutuavam acima de seus companheiros se transformaram em vampiros diante de seus olhos, silenciosos, indetectáveis. Os malditos haviam voltado como alertara Anix. Seus punhos fechados golpearam os pescoços de Anix Nailo, Lucano e Orion. Três deles se manifestaram agarrando Mexkialroy e o último segurava Squall. Os dragões não deveriam morrer ali, seriam sacrificados ao seu deus. O som dos golpes explodiu como tambores. Lucano e Orion despertaram assustados, extremamente feridos. Anix não se mexeu, vagava novamente entre dois mundos. Por sorte e generosidade. Squall e o dragão azul acordaram lutando para se libertarem de seus captores, sem entender direito o que acontecia. Nailo estava envolto por uma nuvem negra. Uma fração de segundo antes do Guardião ser atingido, algo explodiu dentro da mochila na qual ele apoiava a cabeça. A nuvem de poeira negra se espalhou rapidamente, cegando momentaneamente o vampiro e impedindo um golpe fatal. O carvão da noite da alegria, pensou Legolas. O carvão que, segundo Sam, trazia sorte. A lenda era verdade. Nailo, assim como Legolas e anteriormente Lars Sween, havia sido salvo pelo carvão. Legolas levou a mão à aljava, puxando novas flechas. Nem bem havia descansado, um novo combate se iniciava.

Despertos e com as vidas por um fio, os heróis começaram uma rápida reação. Nailo evocou o poder da natureza, a vegetação rasteira que crescia em meio à sujeira do pináculo começou a curvar-se sob sua vontade. Mas, antes que ele pudesse concluir seu intento e aprisionar os inimigos, recebeu um novo golpe, tão potente quanto o que o tirara do sono, quebrando sua concentração e dissipando sua magia. O ranger rolou para trás, agarrando suas espadas e pondo-se de pé num só movimento. Encarou o inimigo, com relâmpago ao seu lado, e o reconheceu.

_ Não disse que me mataria? Ainda estou esperando por isso! – desafiou o vampiro, o mesmo que dominara a mente de Relâmpago. Nailo esboçou uma resposta, mas um rugido o calou, assim como a seu oponente.

A metros dali o dragão azul se erguia. Suas escamas reluziam refletindo o brilho alvo do arco de Legolas. Agitou as asas, pateou o chão e conseguiu livrar-se de dois pares de braços que o prendiam. Apenas um vampiro tentava imobilizá-lo, sem muito sucesso, enquanto outro ao lado tentava o mesmo com Squall. Os demais monstros continuavam atacando os heróis que mal haviam despertado.

Squall liberou o poder do anel e num piscar de olhos transformou-se num enorme dragão vermelho. Mexkialroy sorriu. Orion levantou-se, escapando dos golpes do adversário que o perseguia. Brandiu sua espada de fogo e correu para perto de Galanodel, que preparava um bote contra os inimigos. O humano urrou, chamando a atenção dos inimigos. Tinha um plano.

Lucano levantou-se clamando por Glórienn. Tocou Anix, desacordado, e correu em direção aos demais companheiros. Orion viu os vampiros confusos, como se não enxergassem o clérigo e o mago. Os monstros então correram na direção do guerreiro e ele viu seu plano começando a funcionar.

_ Ataquem os três de uma vez! – gritou o guerreiro, saltando para fora da torre. Galanodel mergulhou para a escuridão atrás do humano, salvando-o da morte certa. Lucano compreendeu a intenção do guerreiro e agiu.

_ Dililiümi! Preciso de sua ajuda! – gritou o clérigo. A espada brilhou e inflamou-se e uma explosão de chamas atingiu os monstros que perseguiam Orion. Lucano evocou então o seu poder arcano e lançou uma segunda bola de fogo nos vampiros, tirando-os do combate. Apenas três pequenas nuvens de vapor restaram dos monstros em meio aos escombros, movendo-se lentamente rumo às suas criptas no interior da torre.

Na borda oposta, Legolas disparava se arco sem parar, sem ao menos se levantar para atacar. Um dos vampiros que atacavam o dragão azul se desfez em fumaça e o outro perdeu metade da face, congelada por uma flecha. Ao seu lado, os dois dragões lutavam com eficiência. Squall levantou vôo e cuspiu chamas em seus inimigos que saltitavam entre as labaredas para escapar de seus efeitos. Mais um dos inimigos foi destruído, libertando o azul de suas garras. Mexkialroy atacou então com dentes e garras, deixando dilacerado o corpo do vampiro que o atacava. Os invasores eram perigosos e se os vampiros não os vencessem logo, fatalmente seriam destruídos. Traiçoeiros, agiram de forma a aumentar suas forças.

_ Junte-se a nós! Ataques seus companheiros! – sussurraram os vampiros. Seus olhos brilhavam como chamas. Legolas, assim como Mexkialroy, não resistiu.

O arqueiro disparou suas flechas. Desta vez, os alvos eram seus companheiros. Squall escapou por pouco do ataque, mas o mesmo não ocorreu com seu aliado de escamas azuis. Mexkialroy recebeu duas flechas no dorso, sentindo suas escamas congelarem.

O azul revidou. Mas seu alvo não era o elfo. Cuspiu um relâmpago naquele que seus instintos apontavam como um inimigo natural, o dragão vermelho. Ferido, Squall deixou o combate, mergulhando no buraco onde antes caíra para o interior da torre. Não fugia, perseguia as os vampiros em forma gasosa, para eliminá-los de vez quando assumissem suas formas sólidas novamente.

Fora, no andar superior, Nailo atracava-se contra seu inimigo declarado. Fundido ao lobo Relâmpago, a nova criatura sobrepujava o vampiro pela força. Nailo, ou Nailâmpago, golpeava o oponente com suas garras e o mordia com ferocidade. Entretanto, os ferimentos se fechavam instantaneamente. O vampiro tentava dominar a mente do lobisomem que o atacava, tentava sugar seu sangue, mas todas as suas tentativas eram falhas. Certo de que aquela luta não daria em nada, decidiu recuar. Transformou-se em vapor e flutuou até a entrada da torre. Outro monstro o acompanhava, fugindo para se regenerar após ser rasgado pelas garras do dragão azul.

Somente um dos vampiros permanecia lutando. Era ele quem dominava a mente de Legolas e obrigava o arqueiro a atacar os companheiros. Sob o domínio do monstro, Legolas retesou o arco, mirando a cabeça lupina de Nailo. Os dedos foram soltando a corda um a um quando, inesperadamente, Orion e Galanodel surgiram por trás da muralha de dentes de pedra. O guerreiro caiu ao lado do vampiro, abrindo um largo corte em sua barriga com a espada. Lucano veio em seguida, braço estendido exibindo o símbolo de Glórienn, lançando o poder da Deusa dos elfos sobre a criatura, fazendo sua pele pálida queimar e se dissolver, quebrando finalmente sua concentração e o encanto que prendia Legolas. O arqueiro desviou rapidamente o arco e disparou. A flecha explodiu em gelo na cabeça do vampiro que se desfez por completo assumindo a forma de vapor.

As três nuvens restantes flutuavam rumo à cripta no andar inferior, duas delas já desapareciam fosso abaixo quando Anix finalmente despertou. A pulseira de flores que pertencera a Squall murchara e caíra de seu pulso. Já habituado àquela situação, o mago levantou-se sem hesitar e voou para o buraco por onde Squall descera. Anix encontrou o irmão, transformado em dragão, aguardando na câmara das criptas. Os vapores entravam nas tumbas um a um, lentamente. Uma das nuvens, que descia pelo fosso de entrada, transformou-se novamente em vampiro. Squall o atacou com todas as forças, obrigando o monstro a recuar. A criatura transformou-se novamente em fumaça e subiu para a superfície, onde assumiu novamente a forma física e recebeu uma flecha nas costas. Legolas disparou seu último ataque, encerrando o combate, destruindo o inimigo restante e libertando Mexkialroy de seu controle mental. Todos correram para o fosso onde Anix, ressuscitado, preparava um plano.

_ Squall prepare-se. Quando eu der o sinal, abra as tampas dos túmulos! – o mago entoava um feitiço esperando, dessa forma, livrar-se de vez daquela terrível ameaça.

Nenhum comentário:

Postar um comentário