Deitado sobre uma
rocha, enrolado em seu próprio rabo, Mex observava, risonho, o resultado da batalha.
Dezenas de corpos estavam espalhadas aos pedaços por todo o chão rochoso da
gruta. Havia cadáveres de humanos, elfos, goblins e criaturas nativas da ilha,
como as dragoas-caçadoras, e havia também corpos de monstros como ogros, trolls
e outros. Estavam agora todos inertes, alguns congelados, outros queimados até
os ossos e muitos deles retalhados por lâminas e garras. Legolas, Squall e
Orion comemoravam a vitória como se tivessem derrotado o próprio Zulil. De
certa forma, o necromante sofrera uma grande derrota ali ao perder seu
exército.
_ Vamos, parem logo de brincadeira! – resmungou o dragão
azul. Bocejou. – Temos mais coisas a ver
ainda por ai. Não percamos mais tempo - o dragão esticou o pescoço e
apontou o focinho escamoso para o alto. Cerca de trinta metros acima, na parede
oposta à porta de entrada, havia um pequeno e escuro túnel que seguia para o
leste.
_ Vou ver o que há lá! – disse Orion e, fazendo um aceno
para Galanodel, saltou nas costas da coruja gigante. A ave bateu forte as asas
e alçou voo com incrível velocidade. Bastou um instante para que humano e
pássaro desaparecessem além da passagem estreita. Todos observavam, forçando os
olhos para enxergarem a distante saída. Viam quase que apenas o brilho difuso e
sombrio da espada do guerreiro tornando-se mais fraco à medida que ele se
afastava.
Subitamente,
Galanodel surgiu novamente na caverna, dando um piado estridente para alertar
os companheiros. Orion corria perigo.
_ Venha elfo! – Mexkialroy lançou-se no ar, agarrando
Legolas com as patas traseiras e carreando-o para o alto. Squall seguiu os
dois, levantando poeira com o bater de suas asas. Lá em cima, no nível das
catacumbas, Anix cruzou o céu da caverna em sua vassoura mágica, seguido por
Guiltespin que voava através de sua magia e carregava Yczar com ele.
Squall foi o primeiro
a chegar ao patamar do outro lado do abismo. Pendurou-se na borda e cuspiu uma
rajada de chamas, iluminando o ambiente e atingindo os inimigos. Orion estava
em uma câmara esculpida na rocha sólida. Era quadrada e possuía cerca de seis
metros de aresta e à direita da entrada havia uma porta que conduzia ao sul.
Orion estava no centro da sala, cercado por seis mortos-vivos. Eram Mohrgs.
Anix chegou em
seguida, invadindo a câmara rente ao teto e focando um dos inimigos. Tentou dar
um comando mentalmente para a máscara em seu rosto e obteve sucesso. O item se
desprendeu de seu rosto e voou na direção do alvo, atingindo-o com força e
retornando em seguida para a face do mago, como se fosse vivo. O mohrg
cambaleou para frente com a força do impacto, mas estava aparentemente ileso. A
criatura virou-se para revidar, mas foi atingida por quatro flechas vindas da
entrada do salão. As setas se cravaram em seu peito putrefato e uma camada de
gelo criou-se ao redor dos ferimentos e se espalhou por todo o corpo,
congelando-o. Um relâmpago veio da mesma direção, explodindo a estátua gélida
que se formara. Legolas e Mexkialroy comemoraram, enquanto avançavam corredor
adentro.
As demais criaturas se
voltaram contra os novos oponentes, ignorando Orion que já estava sob o jugo de
seus poderes paralisantes. Avançaram contra o grupo, mas foram detidas pela
chegada de Yczar e Guiltespin. O guerreiro sagrado ostentava em sua mão
esquerda o símbolo de Khalmyr com fé. A balança em seu medalhão brilhava como o
sol, assustando e ferindo as criaturas que começaram a recuar. Squall
aproveitou a chance e lançou raios mágicos incandescentes nos inimigos,
carbonizando dois deles instantaneamente. Legolas concentrou seus poderes e fez
surgir uma esfera de gelo e neve em suas mãos. Lançou-a com violência contra os
Mohrgs, fazendo-a explodir e destruir mais dois inimigos. A criatura restante
começou a desmanchar, enquanto Yczar se aproximava dela, até ser reduzida a um
amontoado de vísceras e ossos podres no chão.
_ Bem, vencemos mais uma – comemorou Legolas. – vamos adiante! – disse, por fim,
apontando para a porta ao sul.
_ Só um momento – pediu Yczar. O paladino correu até a beira do
precipício, enquanto Anix e Guiltespin cuidavam de tentar reanimar Orion. – Batloc – gritou o paladino. – Leve metade dos cavaleiros com você e Vá
ajudar o Nailo. Deixe os demais vigiando está área. Há mais um corredor além
daqui e nós iremos explorá-lo.
O genasi de cobre
acatou a decisão de seu mentor e organizou rapidamente os soldados. Partiu
minutos depois no encalço do ranger e seus companheiros. Na saleta além do
abismo, os demais se voltaram para a porta, menos Squall.
_ Vocês seguem em frente – disse o dragão
vermelho. – Eu vou retornar e explorar o
que há naquelas salas que nós deixamos para trás quando o fantasma atacou meu
irmão.
_ Irei com você, Vermelho! – disse Mex. – Quem sabe não encontramos algum tesouro para
nós por lá?
Os dois dragões
atravessaram a imensa gruta voando e foram em busca de tesouros.
● ● ● ● ● ●
_ Bem, somos só nós cinco agora. Vamos em frente! – disse Legolas.
Já recomposto do
susto, Orion tomou a dianteira e abriu a passagem. Revelou-se um longo
corredor, estreito e sinuoso, também esculpido por hábeis artesãos do passado.
O grupo seguiu em duas filas por ele, andando vários metros até chegarem à
outra porta. Orion a abriu e deparou-se com um grande e alto salão. Tinha nove
metros da porta onde estava até o extremo oposto e uma largura de quase vinte
metros. No meio dele havia três enormes pilares de três metros de face que
sustentavam o teto. Em cada um havia uma porta, revelando que eram ocos e que
poderia haver algo interessante dentro deles. Atrás dos pilares havia mais duas
portas, uma simples à direita e outra dupla à esquerda. No extremo oeste, o
salão virava e seguia para o sul por mais seis metros, onde mais duas portas,
uma no centro da parede oeste e outra no extremo sul do corredor, podiam ser
avistadas. Orion, Anix e Legolas tomaram lugar diante das portas nos pilares. O
humano à direita, o mago no centro e o arqueiro à esquerda. Abriram-nas ao
mesmo tempo, revelando seu conteúdo enquanto Yczar e Guiltespin adentravam o
salão.
Orion encontrou um
sarcófago abandonado e quebrado encostado na parede do fundo do pilar. No chão
havia uma pilha de areia escura, provavelmente os restos do habitante do
sarcófago, e por todo lado havia os pedaços de uma armadura de batalha. O
guerreiro juntou todas as partes e começou a vesti-las sem hesitar. Precisava
de proteção nova, já que o monstro da ferrugem o havia deixado sem defesas. A
armadura era negra e possuía uma aura pesada, como notou Yczar. As placas que a
formavam eram todas pontudas, sobrepondo-se umas às outras de forma que Orion
parecia vestir uma couraça espinhosa. Todas as bordas possuíam também recortes
afiados e o elmo tinha o formato de um crânio humano.
_ Orion, não me parece uma boa ideia você usar esta
armadura – aconselhou
Yczar. – Ela me parece meio maligna.
_ Ora, deixe de bobagens. Eu não temo o mal – retrucou o guerreiro,
sorrindo.
_ É, Yczar! Para um paladino você está se mostrando muito
medroso – zombou
Anix.
A despeito da
advertência de Yczar, Orion se sentia muito bem com a armadura. Ela se
encaixara perfeitamente em seu corpo e parecia ser extremamente leve, já que
ele não sentia cansaço ao se mover com ela. Mesmo seus ferimentos pareciam não
incomodá-lo mais.
Na outra ponta,
Legolas encontrou um cenário parecido. Sarcófago abandonado, areia pelo chão.
Mas não havia armadura. Em seu lugar havia um pequeno baú. Legolas o abriu e
viu várias pequenas pedras coloridas dispostas cuidadosamente em cavidades
aveludadas em uma placa de madeira no fundo da arca. As pedras brilhavam
magicamente. O arqueiro guardou o baú para dividir seu conteúdo com os amigos
mais tarde e ele, e todos os outros, foram até Anix, que estava intrigado com o
que encontrara.
O terceiro pilar
estava vazio. Havia apenas um pentagrama riscado com giz no meio do piso
rochoso. Dele emanava uma fraca luz azulada.
_ O que será que é isto? – perguntou Legolas.
_ Não sei ainda – disse Anix. – Vou tentar identificar.
_ Vamos ver – disse Orion, invadindo a saleta e ficando
sobre o símbolo magico. O pentagrama brilhou mais vívido e Orion desapareceu.
_ Teletransporte! – exclamou Guiltespin. – Resta saber para onde – completou, coçando a barba.
_ Hora de descobrir! – redarguiu Anix, empurrando o anão
para dentro da câmara. Guiltespin desapareceu tal qual o humano. Anix sorriu
com ironia para Yczar e saltou sobre o símbolo. Legolas foi o próximo. Yczar
meneou a cabeça em desaprovação e seguiu os companheiros.
● ● ● ● ● ●
Longe dali, Squall e
Mexkialroy pousavam do outro lado do precipício. Os soldados da luz se
assustaram ao verem os dois dragões sozinhos. Sabiam que eram aliados, mas a
ausência de qualquer pessoa “normal” para controlar aqueles dois era
preocupante. O Vermelho passou entre os homens com imponência, agitando seu
corpanzil e espremendo-os contra as paredes. Mex o seguiu sorridente,
caminhando com igual suntuosidade.
Chegaram ao corredor
e começaram a vasculhar as saletas uma a uma. Squall teve que voltar à forma
élfica para poder passar pelas portas, causando a irritação de Mexkialroy. Em
meio à poeira, entulho e restos mortais dos antigos cultistas, encontraram
diversos tesouros. Além de moedas, havia um par de mandíbulas de aço, que se
encaixavam perfeitamente na boca de Squall, aumentando o poder de sua mordida.
Mex deu as mandíbulas para Squall, já que eram grandes demais para ele e
aproveitou a chance para colocar em seu dedo um anel de ouro maciço que
encontrara e escondera de todos no segundo andar da torre. Encontraram também
uma bela túnica feita de couro de dragão de ouro e coberta por uma aura mágica,
um belíssimo arco mágico feito a partir do fêmur de um dragão, um par de
braceletes, também mágico, feito de prata pura e com entalhes de arcos e
flechas revelando tratar-se de um poderoso item para melhorar as capacidades de
arquearia de seu usuário. Squall pegou para si os braceletes e a túnica e
guardou o arco para dividir com seus amigos. Havia também um belíssimo escudo
de metal forjado para parecer a cabeça de um dragão vermelho rugindo e que também
possuía poderes mágicos. Squall guardou-o para dar a algum dos demais
combatentes. Por fim, Mexkialroy encontrou um medalhão escarlate, feito a
partir de um único e gigantesco rubi, com o formato de um dragão vermelho de
asas abertas e garras projetadas para frente como se atacasse sua presa. O azul
pendurou a joia em seu pescoço e sentiu suas capacidades místicas serem
consideravelmente ampliadas. Sentindo-se mais forte que nunca, Mex sorriu e retornou
ao corredor junto com Squall.
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Orion viu quando
Guiltespin surgiu no pequeno cubículo onde o teletransporte o havia levado. Estavam
agora em um salão amplo e lúgubre. Orion ergueu a espada, iluminando ao seu
redor e viu que havia duas portas, uma à sua direita e outra no centro da
parede oposta a ele. À sua esquerda havia um corredor largo que saia da quina
do salão e seguia em diagonal até uma pesada porta dupla. Do corredor vieram em
velocidade espantosa cinco criaturas. Tinham a pele enrugada, coberta por
escamas em pontos aleatórios em uma tonalidade que mesclava o roxo e o
vermelho. Possuíam garras e presas proeminentes e afiadas como navalhas que
refletiam ameaçadoramente a luz de Soul Eater. Seus olhos eram vermelhos como
fogo. Pareciam mulheres velhas e deformadas, mas com feições dracônica aqui e
ali. Orion lembrou-se imediatamente da descrição que seus amigos deram da
batalha que tiveram quando visitaram o vilarejo de Lucano. Eram bruxas da noite.
As mulheres avançaram a galope, correndo e saltando, cercando os dois
aventureiros rapidamente.
_ Estamos em desvantagem, rapaz – disse Guiltespin engolindo em seco.
_ Não se preocupe anão! Vamos matar todas elas – respondeu Orion,
sorrindo, enquanto fechava o elmo de sua nova armadura. Ansiava aquele combate
como nunca antes em sua vida. Uma misteriosa fúria começava a tomar conta de
sua mente enquanto ele analisava as adversárias. Algo mudara. Parecia que Yczar
estava certo, Orion começava a sentir prazer na matança. Rugindo como um leão,
o humano avançou.
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