outubro 22, 2012

Capítulo 376 – Além do abismo – tesouros e fúria


Deitado sobre uma rocha, enrolado em seu próprio rabo, Mex observava, risonho, o resultado da batalha. Dezenas de corpos estavam espalhadas aos pedaços por todo o chão rochoso da gruta. Havia cadáveres de humanos, elfos, goblins e criaturas nativas da ilha, como as dragoas-caçadoras, e havia também corpos de monstros como ogros, trolls e outros. Estavam agora todos inertes, alguns congelados, outros queimados até os ossos e muitos deles retalhados por lâminas e garras. Legolas, Squall e Orion comemoravam a vitória como se tivessem derrotado o próprio Zulil. De certa forma, o necromante sofrera uma grande derrota ali ao perder seu exército.

_ Vamos, parem logo de brincadeira! – resmungou o dragão azul. Bocejou. – Temos mais coisas a ver ainda por ai. Não percamos mais tempo - o dragão esticou o pescoço e apontou o focinho escamoso para o alto. Cerca de trinta metros acima, na parede oposta à porta de entrada, havia um pequeno e escuro túnel que seguia para o leste.
_ Vou ver o que há lá! – disse Orion e, fazendo um aceno para Galanodel, saltou nas costas da coruja gigante. A ave bateu forte as asas e alçou voo com incrível velocidade. Bastou um instante para que humano e pássaro desaparecessem além da passagem estreita. Todos observavam, forçando os olhos para enxergarem a distante saída. Viam quase que apenas o brilho difuso e sombrio da espada do guerreiro tornando-se mais fraco à medida que ele se afastava.
Subitamente, Galanodel surgiu novamente na caverna, dando um piado estridente para alertar os companheiros. Orion corria perigo.
_ Venha elfo! – Mexkialroy lançou-se no ar, agarrando Legolas com as patas traseiras e carreando-o para o alto. Squall seguiu os dois, levantando poeira com o bater de suas asas. Lá em cima, no nível das catacumbas, Anix cruzou o céu da caverna em sua vassoura mágica, seguido por Guiltespin que voava através de sua magia e carregava Yczar com ele.
Squall foi o primeiro a chegar ao patamar do outro lado do abismo. Pendurou-se na borda e cuspiu uma rajada de chamas, iluminando o ambiente e atingindo os inimigos. Orion estava em uma câmara esculpida na rocha sólida. Era quadrada e possuía cerca de seis metros de aresta e à direita da entrada havia uma porta que conduzia ao sul. Orion estava no centro da sala, cercado por seis mortos-vivos. Eram Mohrgs.
Anix chegou em seguida, invadindo a câmara rente ao teto e focando um dos inimigos. Tentou dar um comando mentalmente para a máscara em seu rosto e obteve sucesso. O item se desprendeu de seu rosto e voou na direção do alvo, atingindo-o com força e retornando em seguida para a face do mago, como se fosse vivo. O mohrg cambaleou para frente com a força do impacto, mas estava aparentemente ileso. A criatura virou-se para revidar, mas foi atingida por quatro flechas vindas da entrada do salão. As setas se cravaram em seu peito putrefato e uma camada de gelo criou-se ao redor dos ferimentos e se espalhou por todo o corpo, congelando-o. Um relâmpago veio da mesma direção, explodindo a estátua gélida que se formara. Legolas e Mexkialroy comemoraram, enquanto avançavam corredor adentro.
As demais criaturas se voltaram contra os novos oponentes, ignorando Orion que já estava sob o jugo de seus poderes paralisantes. Avançaram contra o grupo, mas foram detidas pela chegada de Yczar e Guiltespin. O guerreiro sagrado ostentava em sua mão esquerda o símbolo de Khalmyr com fé. A balança em seu medalhão brilhava como o sol, assustando e ferindo as criaturas que começaram a recuar. Squall aproveitou a chance e lançou raios mágicos incandescentes nos inimigos, carbonizando dois deles instantaneamente. Legolas concentrou seus poderes e fez surgir uma esfera de gelo e neve em suas mãos. Lançou-a com violência contra os Mohrgs, fazendo-a explodir e destruir mais dois inimigos. A criatura restante começou a desmanchar, enquanto Yczar se aproximava dela, até ser reduzida a um amontoado de vísceras e ossos podres no chão.
_ Bem, vencemos mais uma – comemorou Legolas. – vamos adiante! – disse, por fim, apontando para a porta ao sul.
_ Só um momento – pediu Yczar. O paladino correu até a beira do precipício, enquanto Anix e Guiltespin cuidavam de tentar reanimar Orion. – Batloc – gritou o paladino. – Leve metade dos cavaleiros com você e Vá ajudar o Nailo. Deixe os demais vigiando está área. Há mais um corredor além daqui e nós iremos explorá-lo.
O genasi de cobre acatou a decisão de seu mentor e organizou rapidamente os soldados. Partiu minutos depois no encalço do ranger e seus companheiros. Na saleta além do abismo, os demais se voltaram para a porta, menos Squall.
_ Vocês seguem em frente – disse o dragão vermelho. – Eu vou retornar e explorar o que há naquelas salas que nós deixamos para trás quando o fantasma atacou meu irmão.
­_ Irei com você, Vermelho! – disse Mex. – Quem sabe não encontramos algum tesouro para nós por lá?
Os dois dragões atravessaram a imensa gruta voando e foram em busca de tesouros.

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_ Bem, somos só nós cinco agora. Vamos em frente! – disse Legolas.
Já recomposto do susto, Orion tomou a dianteira e abriu a passagem. Revelou-se um longo corredor, estreito e sinuoso, também esculpido por hábeis artesãos do passado. O grupo seguiu em duas filas por ele, andando vários metros até chegarem à outra porta. Orion a abriu e deparou-se com um grande e alto salão. Tinha nove metros da porta onde estava até o extremo oposto e uma largura de quase vinte metros. No meio dele havia três enormes pilares de três metros de face que sustentavam o teto. Em cada um havia uma porta, revelando que eram ocos e que poderia haver algo interessante dentro deles. Atrás dos pilares havia mais duas portas, uma simples à direita e outra dupla à esquerda. No extremo oeste, o salão virava e seguia para o sul por mais seis metros, onde mais duas portas, uma no centro da parede oeste e outra no extremo sul do corredor, podiam ser avistadas. Orion, Anix e Legolas tomaram lugar diante das portas nos pilares. O humano à direita, o mago no centro e o arqueiro à esquerda. Abriram-nas ao mesmo tempo, revelando seu conteúdo enquanto Yczar e Guiltespin adentravam o salão.
Orion encontrou um sarcófago abandonado e quebrado encostado na parede do fundo do pilar. No chão havia uma pilha de areia escura, provavelmente os restos do habitante do sarcófago, e por todo lado havia os pedaços de uma armadura de batalha. O guerreiro juntou todas as partes e começou a vesti-las sem hesitar. Precisava de proteção nova, já que o monstro da ferrugem o havia deixado sem defesas. A armadura era negra e possuía uma aura pesada, como notou Yczar. As placas que a formavam eram todas pontudas, sobrepondo-se umas às outras de forma que Orion parecia vestir uma couraça espinhosa. Todas as bordas possuíam também recortes afiados e o elmo tinha o formato de um crânio humano.
_ Orion, não me parece uma boa ideia você usar esta armadura – aconselhou Yczar. – Ela me parece meio maligna.
_ Ora, deixe de bobagens. Eu não temo o mal – retrucou o guerreiro, sorrindo.
_ É, Yczar! Para um paladino você está se mostrando muito medroso – zombou Anix.
A despeito da advertência de Yczar, Orion se sentia muito bem com a armadura. Ela se encaixara perfeitamente em seu corpo e parecia ser extremamente leve, já que ele não sentia cansaço ao se mover com ela. Mesmo seus ferimentos pareciam não incomodá-lo mais.
Na outra ponta, Legolas encontrou um cenário parecido. Sarcófago abandonado, areia pelo chão. Mas não havia armadura. Em seu lugar havia um pequeno baú. Legolas o abriu e viu várias pequenas pedras coloridas dispostas cuidadosamente em cavidades aveludadas em uma placa de madeira no fundo da arca. As pedras brilhavam magicamente. O arqueiro guardou o baú para dividir seu conteúdo com os amigos mais tarde e ele, e todos os outros, foram até Anix, que estava intrigado com o que encontrara.
O terceiro pilar estava vazio. Havia apenas um pentagrama riscado com giz no meio do piso rochoso. Dele emanava uma fraca luz azulada.
_ O que será que é isto? – perguntou Legolas.
_ Não sei ainda – disse Anix. – Vou tentar identificar.
_ Vamos ver – disse Orion, invadindo a saleta e ficando sobre o símbolo magico. O pentagrama brilhou mais vívido e Orion desapareceu.
_ Teletransporte! – exclamou Guiltespin. – Resta saber para onde – completou, coçando a barba.
_ Hora de descobrir! – redarguiu Anix, empurrando o anão para dentro da câmara. Guiltespin desapareceu tal qual o humano. Anix sorriu com ironia para Yczar e saltou sobre o símbolo. Legolas foi o próximo. Yczar meneou a cabeça em desaprovação e seguiu os companheiros.

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Longe dali, Squall e Mexkialroy pousavam do outro lado do precipício. Os soldados da luz se assustaram ao verem os dois dragões sozinhos. Sabiam que eram aliados, mas a ausência de qualquer pessoa “normal” para controlar aqueles dois era preocupante. O Vermelho passou entre os homens com imponência, agitando seu corpanzil e espremendo-os contra as paredes. Mex o seguiu sorridente, caminhando com igual suntuosidade.
Chegaram ao corredor e começaram a vasculhar as saletas uma a uma. Squall teve que voltar à forma élfica para poder passar pelas portas, causando a irritação de Mexkialroy. Em meio à poeira, entulho e restos mortais dos antigos cultistas, encontraram diversos tesouros. Além de moedas, havia um par de mandíbulas de aço, que se encaixavam perfeitamente na boca de Squall, aumentando o poder de sua mordida. Mex deu as mandíbulas para Squall, já que eram grandes demais para ele e aproveitou a chance para colocar em seu dedo um anel de ouro maciço que encontrara e escondera de todos no segundo andar da torre. Encontraram também uma bela túnica feita de couro de dragão de ouro e coberta por uma aura mágica, um belíssimo arco mágico feito a partir do fêmur de um dragão, um par de braceletes, também mágico, feito de prata pura e com entalhes de arcos e flechas revelando tratar-se de um poderoso item para melhorar as capacidades de arquearia de seu usuário. Squall pegou para si os braceletes e a túnica e guardou o arco para dividir com seus amigos. Havia também um belíssimo escudo de metal forjado para parecer a cabeça de um dragão vermelho rugindo e que também possuía poderes mágicos. Squall guardou-o para dar a algum dos demais combatentes. Por fim, Mexkialroy encontrou um medalhão escarlate, feito a partir de um único e gigantesco rubi, com o formato de um dragão vermelho de asas abertas e garras projetadas para frente como se atacasse sua presa. O azul pendurou a joia em seu pescoço e sentiu suas capacidades místicas serem consideravelmente ampliadas. Sentindo-se mais forte que nunca, Mex sorriu e retornou ao corredor junto com Squall.

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Orion viu quando Guiltespin surgiu no pequeno cubículo onde o teletransporte o havia levado. Estavam agora em um salão amplo e lúgubre. Orion ergueu a espada, iluminando ao seu redor e viu que havia duas portas, uma à sua direita e outra no centro da parede oposta a ele. À sua esquerda havia um corredor largo que saia da quina do salão e seguia em diagonal até uma pesada porta dupla. Do corredor vieram em velocidade espantosa cinco criaturas. Tinham a pele enrugada, coberta por escamas em pontos aleatórios em uma tonalidade que mesclava o roxo e o vermelho. Possuíam garras e presas proeminentes e afiadas como navalhas que refletiam ameaçadoramente a luz de Soul Eater. Seus olhos eram vermelhos como fogo. Pareciam mulheres velhas e deformadas, mas com feições dracônica aqui e ali. Orion lembrou-se imediatamente da descrição que seus amigos deram da batalha que tiveram quando visitaram o vilarejo de Lucano. Eram bruxas da noite. As mulheres avançaram a galope, correndo e saltando, cercando os dois aventureiros rapidamente.
_ Estamos em desvantagem, rapaz – disse Guiltespin engolindo em seco.
_ Não se preocupe anão! Vamos matar todas elas – respondeu Orion, sorrindo, enquanto fechava o elmo de sua nova armadura. Ansiava aquele combate como nunca antes em sua vida. Uma misteriosa fúria começava a tomar conta de sua mente enquanto ele analisava as adversárias. Algo mudara. Parecia que Yczar estava certo, Orion começava a sentir prazer na matança. Rugindo como um leão, o humano avançou.


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