outubro 12, 2012

Capítulo 373 – Pactos demoníacos



De súbito, o grupo estava do lado de fora da torre, a vários metros do chão. A magia de teletransporte de Anix os arremessara aleatoriamente no espaço, afetada pela força maligna que dominava a espiral negra. Orion tivera menos sorte e materializou-se dentro da parede da torre, sendo cuspido para fora dela por uma força poderosa. Com seu corpo todo ferido pelo atrito com a rocha da parede, o guerreiro juntou-se aos demais para com eles despencar rumo ao solo. Ainda atordoados, levantaram-se e rumaram o mais rápido que conseguiam para a caverna que usavam como acampamento. Estavam feridos, cansados e humilhados. Apenas o pequeno Flint, praticamente sozinho, causara a todos tamanho estrago. Não supunham que alguém tão diminuto, de aparência tão frágil, pudesse ser tão poderoso. Subestimar Flint provara-se um erro. E para piorar a situação, o coração de Legolas parara de bater.
Já de volta à caverna Lucano usou seus poderes para tratar as feridas dos companheiros. Sua pulseira de flores foi colocada no pulso de Legolas e, segundos depois, o arqueiro despertou de seu sono mortal.
_ Eu vi o Relâmpago! – gritou ele.

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Legolas contou aos amigos tudo que ira no curto período de tempo em que estivera morto. Agradeceu aos amigos por terem-no salvado, em especial a Mex, que o carregara o tempo todo até a caverna, e a Lucano, que cedera sua pulseira mágica para trazê-lo de volta ao mundo dos vivos.
Todos concordaram em descansar pelo resto do dia e por toda a noite, para recuperarem as forças e poderem tentar novamente derrotar o halfling. Legolas e Anix foram para o fundo da caverna, onde começaram a planejar algo. Sabiam que sozinhos teriam muita dificuldade para vencer os desafios restantes e uma idéia começou a surgir em suas mentes. Os mais novos no grupo, Carion, Kátia, Luskan e Rafael, dividiram-se em turnos assumiram a tarefa de vigiar a entrada da caverna. Os demais aproveitaram o momento de pausa e dormiram. Orion foi a exceção. O humano permaneceu acordado todo o tempo de vigília, pois uma voz voltou a ecoar em sua mente. Era a mesma voz sinistra, sussurrante que ouvira instruindo-o quando estava preso no subsolo da torre com Anix. Ele finalmente se deu conta que aquela não era a voz do companheiro. Para sua surpresa, Orion descobriu que quem falava com ele era sua nova espada.

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Horas se passaram, a noite já se aproximava da metade quando Orion se levantou. Soul Eater contara a ele toda a sua história e o instruíra no uso de seus poderes. Entretanto, a Devoradora de Almas estava fraca, pois há muito tempo repousava perdida na escuridão da gruta, sem se alimentar. E o alimento que lhe restituiria suas habilidades era a alma de criaturas vivas. A espada negra se alimentava literalmente das almas daqueles que estavam em contato com ela ao morrerem. O espírito era absorvido pela lâmina maligna e ia sendo lentamente digerido até desaparecer por completo da existência, ou até outra alma tomar seu lugar. Orion sabia agora que isto o incluía como possível alimento para sua arma, já que um tipo de maldição o ligava a ela, impedindo-o de se separar dela ou mesmo de usar outra arma que não fosse a espada. Com os poderes de Soul Eater, Orion seria um guerreiro quase invencível, mas, se morresse, teria sua alma devorada por ela. Este era o preço a pagar por seus poderes, um pacto que Orion aceitara de bom grado. No entanto, era necessário alimentar sua espada e para isso ele precisaria caçar. Assim, ele se dirigiu rumo à saída da caverna, mas foi barrado por Carion.
_ O que foi, Carion? Só vou dar uma volta lá fora – disse Orion, espantado.
_ Tem algo e mexendo lá embaixo na escuridão – respondeu o homem. – Não é seguro sair agora. Alerte os outros, em silêncio. Está vindo em nossa direção.
Orion retornou ao refúgio mágico criado por Sam. Legolas e Nailo já estavam em pé, pressentindo o perigo, de armas em punho. Foi quando Carion atravessou a barreira ilusória com o rosto pálido como uma vela.
_ É ele! Ele está aqui – gaguejou.
Foi então que ouviram a voz mais aterrorizante de todas.
_ A aranha subiu pela parede, viu as moscas e as devorou! – cantava o inimigo. Era a voz de Flint.
Nailo e Orion acordaram todos os demais. Seus corpos moviam-se lentamente, devido aos ferimentos da batalha anterior e ao medo que tomava conta de todos. Legolas invocou seus poderes para criar uma parede congelada dentro da ilusão, a fim de protegê-los. Não havia muito mais o que fazer. Estavam todos cansados, feridos e tinham testemunhado da pior maneira a superioridade do poder do halfling. Acuados naquela caverna, nas condições em que estavam, seriam presas fáceis para o pequeno inimigo. Seus corpos estavam paralisados, o ar preso em seus pulmões, cada segundo parecia uma eternidade enquanto ouviam o halfling galgando lentamente a encosta do despenhadeiro. Sua canção intimidadora era como milhares de facas perfurando a alma dos heróis. Então, repentinamente, Flint saltou dentro da caverna.
_ Surpresa, moscas! – gritou ele ao adentrar a câmara. Seu sorriso era largo e suas espadas reluziam em suas mãos. O assassino vasculhou a caverna com seu olhar frio, mas não encontrou sinal algum de seus alvos. Intrigado, caminhou por toda e extensão do túnel até ficar diante da camuflagem mágica de Sam. Farejou o ar como um predador, olhou ao redor e, num giro veloz, dirigiu-se em direção à saída. – Que droga! – resmungou. – Outro alarme falso.
Flint saiu da caverna, desaparecendo da visão do grupo. Mas, antes que pudessem sequer voltar a respirar, uma pequena pedra alaranjada voou caverna adentro, chocando-se contra a parede de gelo e explodindo em chamas. A explosão destruiu a muralha criada por Legolas e as chamas atingiram o grupo, ferindo Nailo e Anix. A nuvem de fumaça e poeira formada pela explosão desfez-se aos poucos, revelando uma figura diminuta além dela.
_ Encontrei vocês, suas moscas! Vou esmagá-los agora, de uma vez por todas! – rugiu Flint, correndo para o fundo da caverna. Atravessou a ilusão de Sam e finalmente pode ver os adversários, mas não a tempo de frear. Flint se chocou com Anix, interrompendo de forma brusca e dolorida a sua corrida.
_ Desgraçado! Eu vou comer seu coração! – gritou Legolas, disparando uma saraivada de setas. Flint recuou um passo, seriamente ferido, para recuperar o equilíbrio e avançou em sua dança mortal, rasgando os corpos de Legolas e Anix com suas lâminas. Os dois elfos foram ao chão, enfraquecidos pelos cortes, enquanto seu sangue se esvaia rapidamente.
Orion saltou sobre o pequeno, tentando agarrá-lo para deter sua dança assassina. Mas, Flint era deveras rápido e ágil, escapando com facilidade do guerreiro. E, enquanto amaldiçoava seu fracasso, Orion ouviu uma voz em sua mente, instruindo-o. Sem hesitar, o humano sacou sua espada negra e atacou.
Nailo sacou suas espadas gêmeas, cujas lâminas brilhavam como a luz da lua, e também atacou. Lado a lado, ranger e guerreiro trocavam golpes com o halfling. Faíscas coruscavam por todos os lados, iluminando a caverna. Sangue era derramando dos dois lados, porém Orion e Nailo levavam a pior, cedendo lentamente à pressão do inimigo.
Ao mesmo tempo, Squall, Lucano e Katia conjuravam magias de proteção em seus companheiros, tentando melhorar suas chances, enquanto Anix e Rafael miravam seus poderes Arcanos em Flint, tentando minar suas forças. Assim, aos poucos, o pequeno se viu cercado por todos os lados, sem ter espaço para lutar, para usar sua técnica mortal. Assim, buscando espaço, Flint atravessou o estômago de Orion com uma espada e abriu um profundo corte na perna direita de Nailo com a outra, tirando-os de seu caminho. Carion, e Luskan Foram derrubados em seguida, enquanto o halfling corria até a entrada da caverna.
_ Não vai fugir, maldito!  - rugiu Legolas, que bloqueava a saída. Um frasco de poção mágica jazia ao seu lado no chão, seus ferimentos fechavam vagarosamente.
_ Não era esta minha intenção, orelhudo – retrucou o pequenino. – Vim aqui para retalhá-lo!
As lâminas de Flint Stone penetraram fundo na carne do elfo. Legolas curvou o corpo de dor, vendo a morte se aproximar novamente. Mas, Orion chegou a tempo de impedir o golpe final, atacando Flint com Soul Eater. O halfling rebateu com facilidade cada ataque do humano e desferiu novo golpe entre suas costelas, levando-o ao chão. Foi a vez de Nailo aparar o ataque derradeiro com sua rosa de mithral. Mas o inimigo rodopiou no ar e conseguiu rasgar o pescoço do ranger, deixando mais um à beira da morte. Desta vez, foi a vez de Lucano intervir, bloqueando com Dililiümi a lâmina flamejante do oponente. A Caçadora Prateada ainda usou sua força mágica para paralisar o inimigo por um breve instante e ganhar algum tempo enquanto Katia e Squall curavam e fortaleciam seus amigos.
Mas todos os esforços eram em vão. Flint perdia forças, era verdade, mas muito lentamente, enquanto que cada investida sua deixava um dos heróis à beira da morte. Mesmo cercado o pequeno assassino levava vantagem e subjugava pouco a pouco seus oponentes. Vendo seus amigos em perigo, Anix entrou em desespero. Foi quando ele despertou.
_ Liberte-me, elfo! – pediu a voz em sua mente. Era uma voz sombria, gutural que falava pausadamente. – Liberte-me e eu prometo salvar seus amigos.
_ Não! – respondeu Anix. – Você tentou matá-los. Não vou deixá-lo sair.
_ Não tem escolha. Sem meu poder eles morrerão, e você também. Deixe-me sair e eu prometo não fazer mal a nenhum de seus amigos.
_ Não posso confiar em você!
_ Você não tem escolha. E nem eu. Se você morrer aqui, eu também morrerei. Façamos um pacto. Eu ficarei desperto apenas durante seu sono e não farei mal a seus amigos. Em troca eu os salvarei e lhe darei meus poderes.
_ Não! – gritou Anix. Seus olhos se voltaram para a entrada da caverna, e ele viu que Flint se preparava para transpassar o coração de Squall com sua espada gélida. O medo tomou conta do mago, bem como o ódio pelo halfling e o desejo pelo poder. Então, Anix cedeu. – Está certo, criatura. Aceito seu pacto.
Anix desfaleceu e subitamente seu corpo se ergueu, flutuando no ar. Seus três olhos se abriram com uma expressão maligna. Daquele que ficava na testa partiu um raio negro que atingiu o peito de Flint, fazendo-o arquear o corpo, dando tempo para que Legolas se reerguesse e disparasse diversas flechas à queima-roupa nas costas do inimigo. Flint cambaleou para frente, seriamente ferido, recomeçando sua dança. Seus ataques, no entanto, já não tinham mais o mesmo efeito de antes. Seus golpes não tinham mais a mesma potência e eram facilmente defendidos pelos outros. Nailo e Orion golpearam simultaneamente com suas armas e Legolas continuou atirando incessantemente, enquanto o halfling avançava em sua direção, até que ele finalmente tombou. Durante alguns segundos todos ficaram imóveis, mas quando viram que o inimigo não se levantaria mais, cercaram-no.
_ Malditas moscas! – Flint arfava. De sua boca escorria um fio de sangue escuro. – Não acredito que conseguiram me derrotar. Mas não importa. Vocês jamais chegarão a Zulil. Jamais verão suas amadas novamente. Sem as chaves vocês não conseguirão entrar no coração da torre.
_ Que chaves são essas? Responda, seu maldito! – Gritou Nailo.
_ As chaves do dragão, idiota. Vocês nunca conseguirão reunir as quatro partes. Sem elas o coração não se abrirá.
_ Abrirá sim! – Legolas encarou o halfling com o olhar carregado de ódio. Segurou o peito do pequenino e usou seu poder para canalizar um frio intenso que o congelou. Rapidamente o arqueiro sacou sua faca de caça e arrancou o coração congelado do inimigo, e o comeu diante de Flint enquanto ele agonizava. - Isto é pelo Sam! Desgraçado! – gritou Legolas, entre uma mordida e outra. Seus olhos estavam tomados pelas lágrimas.
Flint começou a se contorcer em seus últimos espasmos de vida. Horrorizado com a cena, Nailo cobriu o rosto do inimigo com sua capa e deixou-o morrer em paz. Orion ainda desferiu um último golpe com sua espada, para se certificar que o inimigo nunca mais levantaria.
O silêncio tomou conta da caverna. Legolas se levantou e foi para o fundo da gruta sem nada dizer. Seu olhar era tétrico. Mexkialroy passou por ele, sorridente, e o cumprimentou – Muito bem, elfo. Gostei de ver. – o dragão passou por entre o grupo e começou a se banquetear com os restos do halfling.
Um tênue fio de luz se desprendeu do corpo de Flint e desapareceu ao tocar a lâmina da espada de Orion. Então, algo assustador aconteceu.
_ Comida! Finalmente! Estou viva novamente! – uma voz rouca ecoou pelo túnel, vinda da espada. Seu gume enegrecido emanava chamas igualmente negras. Soul Eater estava novamente desperta. Orion sorria triunfante.
E enquanto todos tentavam ainda entender o que acontecera ali, Anix tomou a palavra.
_ Ouçam-me! – disse o elfo. Seu tom era frio. – Fiz um pacto com o beholder que habita meu corpo. Ele nos ajudou nesta batalha e agora, em troca, eu o deixarei livre enquanto eu dormir. Ele prometeu não atacá-los, por isso, não o ataquem também.
_ Anix! O que você fez? – gritou Nailo.
_ Sairei para caçar agora! Retornarei antes do sol nascer – respondeu Anix. Sua voz, entretanto, não era mais a mesma. Era a voz do beholder. E, sem que os outros pudessem fazer qualquer coisa, a criatura deixou a caverna, levando o corpo de Anix consigo.
Nailo olhou ao redor, assustado. O grupo estava rachando. O poder maligno daquele lugar começava a corromper seus amigos. Ele temia pelo futuro do grupo e, sem que ele suspeitasse disto, os Deuses também. E estes já começavam a se mexer para ajudá-los.
Legolas permanecia no fundo da caverna. Seu rosto coberto pelo manto, seu olhar perdido no horizonte, abraçado aos próprios joelhos. Orion estava maravilhado com sua espada e o poder que ela emanava, sem se importar com o fato de ele ser tão maligno quando a própria torre ou os inimigos que os aguardavam lá dentro. Carion voltou para a entrada da caverna, vigiando, enquanto Lucano e Kátia tratavam das feridas dos companheiros. Com a ajuda de Luskan e Rafael, Nailo retirou o equipamento de Flint, antes que Mex o devorasse junto com o corpo.
Sem ter mais o que fazer, o grupo se reuniu atrás da ilusão de Sam e, esperando ter ao menos um pouco de paz, todos tentaram dormir.


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