De súbito, o grupo
estava do lado de fora da torre, a vários metros do chão. A magia de
teletransporte de Anix os arremessara aleatoriamente no espaço, afetada pela
força maligna que dominava a espiral negra. Orion tivera menos sorte e
materializou-se dentro da parede da torre, sendo cuspido para fora dela por uma
força poderosa. Com seu corpo todo ferido pelo atrito com a rocha da parede, o
guerreiro juntou-se aos demais para com eles despencar rumo ao solo. Ainda
atordoados, levantaram-se e rumaram o mais rápido que conseguiam para a caverna
que usavam como acampamento. Estavam feridos, cansados e humilhados. Apenas o
pequeno Flint, praticamente sozinho, causara a todos tamanho estrago. Não
supunham que alguém tão diminuto, de aparência tão frágil, pudesse ser tão poderoso.
Subestimar Flint provara-se um erro. E para piorar a situação, o coração de
Legolas parara de bater.
Já de volta à caverna
Lucano usou seus poderes para tratar as feridas dos companheiros. Sua pulseira
de flores foi colocada no pulso de Legolas e, segundos depois, o arqueiro
despertou de seu sono mortal.
_ Eu vi o Relâmpago! – gritou ele.
● ● ● ● ● ●
Legolas contou aos
amigos tudo que ira no curto período de tempo em que estivera morto. Agradeceu
aos amigos por terem-no salvado, em especial a Mex, que o carregara o tempo
todo até a caverna, e a Lucano, que cedera sua pulseira mágica para trazê-lo de
volta ao mundo dos vivos.
Todos concordaram em
descansar pelo resto do dia e por toda a noite, para recuperarem as forças e
poderem tentar novamente derrotar o halfling. Legolas e Anix foram para o fundo
da caverna, onde começaram a planejar algo. Sabiam que sozinhos teriam muita
dificuldade para vencer os desafios restantes e uma idéia começou a surgir em
suas mentes. Os mais novos no grupo, Carion, Kátia, Luskan e Rafael,
dividiram-se em turnos assumiram a tarefa de vigiar a entrada da caverna. Os
demais aproveitaram o momento de pausa e dormiram. Orion foi a exceção. O
humano permaneceu acordado todo o tempo de vigília, pois uma voz voltou a ecoar
em sua mente. Era a mesma voz sinistra, sussurrante que ouvira instruindo-o
quando estava preso no subsolo da torre com Anix. Ele finalmente se deu conta
que aquela não era a voz do companheiro. Para sua surpresa, Orion descobriu que
quem falava com ele era sua nova espada.
● ● ● ● ● ●
Horas se passaram, a noite
já se aproximava da metade quando Orion se levantou. Soul Eater contara a ele
toda a sua história e o instruíra no uso de seus poderes. Entretanto, a
Devoradora de Almas estava fraca, pois há muito tempo repousava perdida na
escuridão da gruta, sem se alimentar. E o alimento que lhe restituiria suas
habilidades era a alma de criaturas vivas. A espada negra se alimentava
literalmente das almas daqueles que estavam em contato com ela ao morrerem. O
espírito era absorvido pela lâmina maligna e ia sendo lentamente digerido até
desaparecer por completo da existência, ou até outra alma tomar seu lugar.
Orion sabia agora que isto o incluía como possível alimento para sua arma, já
que um tipo de maldição o ligava a ela, impedindo-o de se separar dela ou mesmo
de usar outra arma que não fosse a espada. Com os poderes de Soul Eater, Orion
seria um guerreiro quase invencível, mas, se morresse, teria sua alma devorada
por ela. Este era o preço a pagar por seus poderes, um pacto que Orion aceitara
de bom grado. No entanto, era necessário alimentar sua espada e para isso ele
precisaria caçar. Assim, ele se dirigiu rumo à saída da caverna, mas foi
barrado por Carion.
_ O que foi, Carion? Só vou dar uma volta lá fora – disse Orion,
espantado.
_ Tem algo e mexendo lá embaixo na escuridão – respondeu o homem. – Não é seguro sair agora. Alerte os outros,
em silêncio. Está vindo em nossa direção.
Orion retornou ao
refúgio mágico criado por Sam. Legolas e Nailo já estavam em pé, pressentindo o
perigo, de armas em punho. Foi quando Carion atravessou a barreira ilusória com
o rosto pálido como uma vela.
_ É ele! Ele está aqui – gaguejou.
Foi então que ouviram
a voz mais aterrorizante de todas.
_ A aranha subiu pela parede, viu as moscas e as devorou! – cantava o inimigo.
Era a voz de Flint.
Nailo e Orion
acordaram todos os demais. Seus corpos moviam-se lentamente, devido aos
ferimentos da batalha anterior e ao medo que tomava conta de todos. Legolas
invocou seus poderes para criar uma parede congelada dentro da ilusão, a fim de
protegê-los. Não havia muito mais o que fazer. Estavam todos cansados, feridos
e tinham testemunhado da pior maneira a superioridade do poder do halfling.
Acuados naquela caverna, nas condições em que estavam, seriam presas fáceis
para o pequeno inimigo. Seus corpos estavam paralisados, o ar preso em seus
pulmões, cada segundo parecia uma eternidade enquanto ouviam o halfling
galgando lentamente a encosta do despenhadeiro. Sua canção intimidadora era como
milhares de facas perfurando a alma dos heróis. Então, repentinamente, Flint
saltou dentro da caverna.
_ Surpresa, moscas! – gritou ele ao adentrar a câmara.
Seu sorriso era largo e suas espadas reluziam em suas mãos. O assassino
vasculhou a caverna com seu olhar frio, mas não encontrou sinal algum de seus
alvos. Intrigado, caminhou por toda e extensão do túnel até ficar diante da
camuflagem mágica de Sam. Farejou o ar como um predador, olhou ao redor e, num
giro veloz, dirigiu-se em direção à saída. – Que droga! – resmungou. – Outro
alarme falso.
Flint saiu da
caverna, desaparecendo da visão do grupo. Mas, antes que pudessem sequer voltar
a respirar, uma pequena pedra alaranjada voou caverna adentro, chocando-se
contra a parede de gelo e explodindo em chamas. A explosão destruiu a muralha
criada por Legolas e as chamas atingiram o grupo, ferindo Nailo e Anix. A nuvem
de fumaça e poeira formada pela explosão desfez-se aos poucos, revelando uma
figura diminuta além dela.
_ Encontrei vocês, suas moscas! Vou esmagá-los agora, de
uma vez por todas!
– rugiu Flint, correndo para o fundo da caverna. Atravessou a ilusão de Sam e
finalmente pode ver os adversários, mas não a tempo de frear. Flint se chocou
com Anix, interrompendo de forma brusca e dolorida a sua corrida.
_ Desgraçado! Eu vou comer seu coração! – gritou Legolas,
disparando uma saraivada de setas. Flint recuou um passo, seriamente ferido,
para recuperar o equilíbrio e avançou em sua dança mortal, rasgando os corpos
de Legolas e Anix com suas lâminas. Os dois elfos foram ao chão, enfraquecidos
pelos cortes, enquanto seu sangue se esvaia rapidamente.
Orion saltou sobre o
pequeno, tentando agarrá-lo para deter sua dança assassina. Mas, Flint era
deveras rápido e ágil, escapando com facilidade do guerreiro. E, enquanto
amaldiçoava seu fracasso, Orion ouviu uma voz em sua mente, instruindo-o. Sem
hesitar, o humano sacou sua espada negra e atacou.
Nailo sacou suas
espadas gêmeas, cujas lâminas brilhavam como a luz da lua, e também atacou.
Lado a lado, ranger e guerreiro trocavam golpes com o halfling. Faíscas
coruscavam por todos os lados, iluminando a caverna. Sangue era derramando dos
dois lados, porém Orion e Nailo levavam a pior, cedendo lentamente à pressão do
inimigo.
Ao mesmo tempo,
Squall, Lucano e Katia conjuravam magias de proteção em seus companheiros,
tentando melhorar suas chances, enquanto Anix e Rafael miravam seus poderes
Arcanos em Flint, tentando minar suas forças. Assim, aos poucos, o pequeno se
viu cercado por todos os lados, sem ter espaço para lutar, para usar sua
técnica mortal. Assim, buscando espaço, Flint atravessou o estômago de Orion
com uma espada e abriu um profundo corte na perna direita de Nailo com a outra,
tirando-os de seu caminho. Carion, e Luskan Foram derrubados em seguida,
enquanto o halfling corria até a entrada da caverna.
_ Não vai fugir, maldito! - rugiu Legolas, que bloqueava a saída. Um
frasco de poção mágica jazia ao seu lado no chão, seus ferimentos fechavam
vagarosamente.
_ Não era esta minha intenção, orelhudo – retrucou o pequenino.
– Vim aqui para retalhá-lo!
As lâminas de Flint
Stone penetraram fundo na carne do elfo. Legolas curvou o corpo de dor, vendo a
morte se aproximar novamente. Mas, Orion chegou a tempo de impedir o golpe
final, atacando Flint com Soul Eater. O halfling rebateu com facilidade cada
ataque do humano e desferiu novo golpe entre suas costelas, levando-o ao chão.
Foi a vez de Nailo aparar o ataque derradeiro com sua rosa de mithral. Mas o
inimigo rodopiou no ar e conseguiu rasgar o pescoço do ranger, deixando mais um
à beira da morte. Desta vez, foi a vez de Lucano intervir, bloqueando com
Dililiümi a lâmina flamejante do oponente. A Caçadora Prateada ainda usou sua
força mágica para paralisar o inimigo por um breve instante e ganhar algum
tempo enquanto Katia e Squall curavam e fortaleciam seus amigos.
Mas todos os esforços
eram em vão. Flint perdia forças, era verdade, mas muito lentamente, enquanto
que cada investida sua deixava um dos heróis à beira da morte. Mesmo cercado o
pequeno assassino levava vantagem e subjugava pouco a pouco seus oponentes. Vendo
seus amigos em perigo, Anix entrou em desespero. Foi quando ele despertou.
_ Liberte-me, elfo! – pediu a voz em sua mente. Era uma voz
sombria, gutural que falava pausadamente. – Liberte-me
e eu prometo salvar seus amigos.
_ Não! – respondeu Anix. – Você tentou matá-los. Não vou deixá-lo sair.
_ Não tem escolha. Sem meu poder eles morrerão, e você
também. Deixe-me sair e eu prometo não fazer mal a nenhum de seus amigos.
_ Não posso confiar em você!
_ Você não tem escolha. E nem eu. Se você morrer aqui, eu
também morrerei. Façamos um pacto. Eu ficarei desperto apenas durante seu sono
e não farei mal a seus amigos. Em troca eu os salvarei e lhe darei meus
poderes.
_ Não! – gritou Anix. Seus olhos se voltaram para a
entrada da caverna, e ele viu que Flint se preparava para transpassar o coração
de Squall com sua espada gélida. O medo tomou conta do mago, bem como o ódio
pelo halfling e o desejo pelo poder. Então, Anix cedeu. – Está certo, criatura. Aceito seu pacto.
Anix desfaleceu e
subitamente seu corpo se ergueu, flutuando no ar. Seus três olhos se abriram
com uma expressão maligna. Daquele que ficava na testa partiu um raio negro que
atingiu o peito de Flint, fazendo-o arquear o corpo, dando tempo para que
Legolas se reerguesse e disparasse diversas flechas à queima-roupa nas costas
do inimigo. Flint cambaleou para frente, seriamente ferido, recomeçando sua
dança. Seus ataques, no entanto, já não tinham mais o mesmo efeito de antes. Seus
golpes não tinham mais a mesma potência e eram facilmente defendidos pelos
outros. Nailo e Orion golpearam simultaneamente com suas armas e Legolas
continuou atirando incessantemente, enquanto o halfling avançava em sua direção,
até que ele finalmente tombou. Durante alguns segundos todos ficaram imóveis,
mas quando viram que o inimigo não se levantaria mais, cercaram-no.
_ Malditas moscas! – Flint arfava. De sua boca escorria um fio
de sangue escuro. – Não acredito que
conseguiram me derrotar. Mas não importa. Vocês jamais chegarão a Zulil. Jamais
verão suas amadas novamente. Sem as chaves vocês não conseguirão entrar no
coração da torre.
_ Que chaves são essas? Responda, seu maldito! – Gritou Nailo.
_ As chaves do dragão, idiota. Vocês nunca conseguirão
reunir as quatro partes. Sem elas o coração não se abrirá.
_ Abrirá sim! – Legolas encarou o halfling com o olhar
carregado de ódio. Segurou o peito do pequenino e usou seu poder para canalizar
um frio intenso que o congelou. Rapidamente o arqueiro sacou sua faca de caça e
arrancou o coração congelado do inimigo, e o comeu diante de Flint enquanto ele
agonizava. - Isto é pelo Sam! Desgraçado!
– gritou Legolas, entre uma mordida e outra. Seus olhos estavam tomados pelas lágrimas.
Flint começou a se
contorcer em seus últimos espasmos de vida. Horrorizado com a cena, Nailo
cobriu o rosto do inimigo com sua capa e deixou-o morrer em paz. Orion ainda
desferiu um último golpe com sua espada, para se certificar que o inimigo nunca
mais levantaria.
O silêncio tomou
conta da caverna. Legolas se levantou e foi para o fundo da gruta sem nada
dizer. Seu olhar era tétrico. Mexkialroy passou por ele, sorridente, e o
cumprimentou – Muito bem, elfo. Gostei de
ver. – o dragão passou por entre o grupo e começou a se banquetear com os
restos do halfling.
Um tênue fio de luz
se desprendeu do corpo de Flint e desapareceu ao tocar a lâmina da espada de
Orion. Então, algo assustador aconteceu.
_ Comida! Finalmente! Estou viva novamente! – uma voz rouca
ecoou pelo túnel, vinda da espada. Seu gume enegrecido emanava chamas
igualmente negras. Soul Eater estava novamente desperta. Orion sorria
triunfante.
E enquanto todos
tentavam ainda entender o que acontecera ali, Anix tomou a palavra.
_ Ouçam-me! – disse o elfo. Seu tom era frio. – Fiz um pacto com o beholder que habita meu
corpo. Ele nos ajudou nesta batalha e agora, em troca, eu o deixarei livre
enquanto eu dormir. Ele prometeu não atacá-los, por isso, não o ataquem também.
_ Anix! O que você fez? – gritou Nailo.
_ Sairei para caçar agora! Retornarei antes do sol nascer
– respondeu
Anix. Sua voz, entretanto, não era mais a mesma. Era a voz do beholder. E, sem
que os outros pudessem fazer qualquer coisa, a criatura deixou a caverna,
levando o corpo de Anix consigo.
Nailo olhou ao redor,
assustado. O grupo estava rachando. O poder maligno daquele lugar começava a
corromper seus amigos. Ele temia pelo futuro do grupo e, sem que ele
suspeitasse disto, os Deuses também. E estes já começavam a se mexer para ajudá-los.
Legolas permanecia no
fundo da caverna. Seu rosto coberto pelo manto, seu olhar perdido no horizonte,
abraçado aos próprios joelhos. Orion estava maravilhado com sua espada e o
poder que ela emanava, sem se importar com o fato de ele ser tão maligno quando
a própria torre ou os inimigos que os aguardavam lá dentro. Carion voltou para
a entrada da caverna, vigiando, enquanto Lucano e Kátia tratavam das feridas
dos companheiros. Com a ajuda de Luskan e Rafael, Nailo retirou o equipamento
de Flint, antes que Mex o devorasse junto com o corpo.
Sem ter mais o que
fazer, o grupo se reuniu atrás da ilusão de Sam e, esperando ter ao menos um
pouco de paz, todos tentaram dormir.
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