_ Intrusos! Ousaram invadir a câmara sagrada! Eu, o
guardião do tesouro de Ashardalon, matarei a todos! – gritou a criatura
que surgira magicamente diante dos heróis. Era um ser translúcido, que lembrava
um humano com características de dragão. Porém, diferente de Squall e dos
outros meio-dragões que já haviam visto, este possuía algo mais. Suas escamas
eram vermelho enegrecidas e sua cabeça adornada com um par de chifres afiados. Seus
olhos brilhantes e vermelhos eram puramente malignos. Asas de morcego se
projetavam das costas da aparição, e uma cauda comprida, delgada e pontuda como
uma lança, agitava-se de um lado para o outro. A criatura era de alguma forma
parte dragão e também parte demônio, para espanto de todos. E, como a maioria
das coisas naquela torre maldita, não estava viva. Era um fantasma.
_ Cale-se, espectro! Suas ameaças não nos assustam! – retrucou Legolas. As
flechas prateadas deixaram seu arco num vendaval gélido que atravessou o
inimigo sem lhe causar dano algum. Atingida pelos projéteis, a parede ao fundo
da sala foi se congelando aos poucos.
Os olhos do fantasma
brilharam com mais intensidade, e a aberração pareceu ainda mais medonha que
antes. Suas escamas translúcidas se eriçaram, dentes e garras ameaçaram os
corajosos invasores, que não se deixaram intimidar pela aparência assustadora
do inimigo. Valente, Yczar avançou contra a criatura empunhando o símbolo de
Khalmyr com extrema fé. O monstro, entretanto, enfrentou o paladino sem medo,
exibindo todo seu poder.
_ Saia da frente, Yczar! – gritou Squall,
vomitando fogo em seguida sobre o espírito. Tal qual as flechas de Legolas, as
chamas nada fizeram ao inimigo. O mesmo aconteceu à rajada elétrica de
Mexkialroy.
_ Ele é um fantasma! – falou Anix. – Ataques físicos não são efetivos. Além disso, ele é imune ao fogo...
_ E à eletricidade! – completou Guiltespin. – Vou distraí-lo. – o anão usou seu
poder para criar uma cópia mágica de si mesmo, que parou diante do fantasma
provocando-o.
_ Morram! – o espírito enfureceu-se e despejou seu
sopro de fogo sobre os heróis. Ferido, Orion foi novamente dominado pela fúria
insana que tornava sua armadura uma maldição, e avançou para dentro das chamas
em direção ao inimigo. Soul Eater atravessou a imagem do inimigo como se
cortasse o ar. No entanto, o corpo espectral não ficou intacto desta vez,
ganhando um grande corte em seu peito.
Yczar avançou pelo
outro flanco, atacando com sua espada, mas, sem a mesma sorte de Orion, sua
lâmina apenas passou através do fantasma sem feri-lo. O fantasma iniciava seu
revide contra o cavaleiro, quando subitamente cinco Guiltespins surgiram ao seu
redor, provocando-o.
As cópias ilusórias
do anão chamaram a atenção do inimigo. A criatura desistiu de atacar Yczar para
tentar afugentar os anões que a cercavam. O gemido do ser híbrido abafou todos
os outros sons, fazendo estremecer a determinação dos heróis. Mexkialroy
tombou, afetado pelo poder do fantasma. O dragão tremia no chão, aturdido,
gritando por ajuda, pedindo para que alguém calasse a criatura.
Anix e Legolas
atacaram simultaneamente. As flechas voaram junto ao raio negro disparado pelo
olho maligno do mago. Os projéteis atravessaram o espectro e somente um deles
conseguiu deixar uma marca de ferimento na criatura, enquanto que a magia de
Anix não foi capaz de afetá-la nem mesmo parcialmente.
Orion despejou
novamente sua força sobre o adversário. Sua lâmina atravessou a imagem do
inimigo várias vezes, mas poucas delas foram efetivas. Anix, Guiltespin e
Legolas continuavam a disparar magias e flechas no inimigo, mas o ser
incorpóreo escapava de cada ataque facilmente. Chamados por Anix, os Cavaleiros
da Luz tomaram parte na batalha, mas pouca esperança tinham de ferir o
oponente. Então, cercado por mais de uma dezena de inimigos, o fantasma decidiu
lançar mão de táticas ainda mais vis.
O monstro translúcido
entrou no corpo de Orion. O guerreiro tentou resistir, mas sua mente sucumbiu
ao poder da criatura e todo o seu corpo foi dominado pelo inimigo. O corpo
possuído do guerreiro brandiu a espada devoradora de almas e atacou seus
companheiros. Duas das cópias mágicas de Guiltespin foram destruídas pela
lâmina negra que, faminta por almas, induziu o fantasma a atacar Yczar, a única
criatura viva (e com uma alma) ao redor da criatura.
Sem outra opção, Anix
usou sua magia para dominar a mente de Orion. A luta entre Anix pela posse de
Orion durou não mais que uma fração agoniante de segundo. Anix saiu vitorioso e
assumiu o controle pelas ações do humano, obrigando o fantasma a abandonar o
seu corpo.
Fora do corpo de
Orion, o fantasma podia novamente ser alvejado pelos heróis. Yczar usou o
medalhão sagrado de Khalmyr para enfraquecer o monstro, enquanto Guiltespin
tentava em vão aprisioná-lo em sua teia mágica. Sam, a pedido de Anix, surgiu
no colar do guerreiro para tentar colocá-lo para dormir, impedindo assim que
sua mente pudesse ser novamente controlada. Mas Orion resistiu à sonolência e,
mesmo exausto devido ao intenso esforço, atacou o inimigo que fugia
desesperadamente de perto de Yczar.
O fantasma então
decidiu mudar o alvo e penetrou no corpo de dragão de Squall. O vermelho teve
sua mente dominada pelo inimigo e testemunhou, impotente, seus amigos se
tornarem alvo de sua baforada flamejante. O corpanzil de Squall recuou em
direção à porta, pisoteando os soldados em seu caminho, afastando-se ainda mais
de Yczar. O paladino o perseguia ostentando o símbolo do Deus da Justiça com
uma fé que feria o monstro dentro do corpo do dragão. Na sala do tesouro, Orion
e Legolas apagavam as chamas de seus corpos, enquanto Anix tentava sem sucesso
enfeitiçar a mente de Squall e, assim, quebrar o domínio do inimigo sobre seu
irmão. O monstro já quase fugia pelo
corredor, quando Guiltespin usou sua mágica para prendê-lo dentro de uma prisão
de pedra que emergiu do solo, cercando- por todos os lados e impedindo os
movimentos de Squall.
O grupo cercou o
cubículo rochoso, esperando que o fantasma atravessasse por suas paredes para
voltar a atacar. No entanto, não foi o que aconteceu. Uma mulher surgiu vinda
de dentro da rocha, indo em direção a Anix. Ela tinha cabelos dourados e uma
beleza incomparável. Seu corpo escultural era emoldurado por um vestido fino de
seda esvoaçante, que os aventureiros conheciam muito bem.
_ Anix, ajude-me. Sinto dor! Preciso de sua ajuda! – disse a mulher num
lamento. O mago estava em
choque. Sua mente formigava como se alguém revirasse seu
cérebro com as mãos. A indecisão e a tristeza tomaram conta de Anix, afinal, a
mulher que lhe estendia os braços em súplica era Enola.
_ Enola...O que você...Eu... – gaguejava Anix,
perturbado.
_ Saia daí, Enola! – gritou Orion, ofegante. – É perigoso!
O guerreiro correu
desajeitadamente na direção da mulher. O cansaço dominava-o por completo, já
que a fúria provocada pela armadura exauria suas forças rapidamente. Orion
tentou agarrar Enola e carregá-la para longe de onde o fantasma estava, mas não
conseguiu. Seus braços atravessaram o corpo da mulher, como se ela não
existisse. O humano parou seu movimento desajeitado a tempo de impedir uma
colisão contra a parede. Orion se virou, tentando entender o que acontecera, e
viu Enola tornar-se transparente como uma névoa. Sua imagem era mesclada à de
outra pessoa, o fantasma.
Num lance de sorte
único Orion conseguiu desmascarar a fraude do fantasma e salvar seus amigos,
especialmente Anix, das garras do inimigo. Percebendo a ilusão criada pelo
monstro, os Cavaleiros da Luz aspergiram água benta na criatura, arrancando dela
gritos horrendos de agonia.
Furioso por ter sido
enganado, Anix novamente usou os poderes da aberração alojada em seu corpo,
disparando uma rajada de energia negativa em seu inimigo. Contudo, por ser
composto pelo mesmo tipo de energia, o espectro fortaleceu-se ainda mais, para
surpresa de Anix. Acuado, o mago voou para fora do salão, tentando afastar-se
do espectro. Mas o monstro o seguiu, despejando fogo mágico sobre os soldados
que tentavam feri-lo, quase matando a todos.
Orion e Yczar também
correram para o corredor. O paladino continuava a irradiar o poder de Khalmyr,
ferindo e afugentando o inimigo. Orion chamou Galanodel e montou em suas
costas, indo atrás do espírito que já se apossava do corpo de Anix. Mago tentava se defender desesperadamente.
Seus mísseis mágicos atingiram e feriram o espectro, mas não o impediram de
entrar em seu corpo e controlá-lo. Porém, antes que o corpo possuído pudesse
realizar qualquer ação, Orion voou em sua direção e o golpeou com a espada,
atirando-o ao chão e deixando-o completamente atordoado.
Novamente o fantasma
se viu obrigado a abrir mão da possessão e a se expor. A aparição gesticulou rapidamente
e uma vez mais criou uma explosão de chamas mágicas, desta vez ao redor de
Orion, ganhando tempo para desaparecer além da parede que conduzia para os
corredores onde os heróis haviam enfrentado os mohrgs.
_ Anix! Você está bem? – chamou Orion, despertando o amigo de
sua paralisia.
_ Mais ou menos! Estou bastante machucado, mas posso
andar – respondeu
o elfo.
_ Depressa, volte para junto dos soldados, eles poderão
tratar de seus ferimentos. Eu vou ver como estão os outros. E fique alerta!
Tenho certeza que esse fantasma vai voltar. Se ele é guardião daquele tesouro,
ele vai voltar para protegê-lo.
Orion correu de volta
ao salão do tesouro. Guiltespin já se deleitava com as moedas douradas,
enquanto Legolas, fora da sala, ainda se recompunha, após ser alvejado pelo
sopro de fogo de Squall, recebendo cura mágica do clérigo que integrava o
pequeno exército comandado por Yczar. Mexkialroy ainda permanecia caído no
chão, e Squall ainda era prisioneiro da magia de Guiltespin.
_ E então, dragão! – chamou Orion – Precisa de ajuda?
_ Onde está aquele fantasma maldito! – rugiu Mex.
_ Fugiu! Ele foi embora pelo corredor.
_ Ótimo! – sorriu o dragão enquanto se levantava. Já
refeito do susto, ele continuou. – Lutaste
bem, humano! Agora vamos logo ao que há de valor nesta pilha de ouro.
E assim, os heróis
juntaram-se ao redor do que restara do tesouro que já pertencera ao grande
dragão-demônio, Ashardalon.
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