outubro 22, 2012

Capítulo 379 – Guardião fantasmagórico


_ Intrusos! Ousaram invadir a câmara sagrada! Eu, o guardião do tesouro de Ashardalon, matarei a todos! – gritou a criatura que surgira magicamente diante dos heróis. Era um ser translúcido, que lembrava um humano com características de dragão. Porém, diferente de Squall e dos outros meio-dragões que já haviam visto, este possuía algo mais. Suas escamas eram vermelho enegrecidas e sua cabeça adornada com um par de chifres afiados. Seus olhos brilhantes e vermelhos eram puramente malignos. Asas de morcego se projetavam das costas da aparição, e uma cauda comprida, delgada e pontuda como uma lança, agitava-se de um lado para o outro. A criatura era de alguma forma parte dragão e também parte demônio, para espanto de todos. E, como a maioria das coisas naquela torre maldita, não estava viva. Era um fantasma.

_ Cale-se, espectro! Suas ameaças não nos assustam! – retrucou Legolas. As flechas prateadas deixaram seu arco num vendaval gélido que atravessou o inimigo sem lhe causar dano algum. Atingida pelos projéteis, a parede ao fundo da sala foi se congelando aos poucos.
Os olhos do fantasma brilharam com mais intensidade, e a aberração pareceu ainda mais medonha que antes. Suas escamas translúcidas se eriçaram, dentes e garras ameaçaram os corajosos invasores, que não se deixaram intimidar pela aparência assustadora do inimigo. Valente, Yczar avançou contra a criatura empunhando o símbolo de Khalmyr com extrema fé. O monstro, entretanto, enfrentou o paladino sem medo, exibindo todo seu poder.
_ Saia da frente, Yczar! – gritou Squall, vomitando fogo em seguida sobre o espírito. Tal qual as flechas de Legolas, as chamas nada fizeram ao inimigo. O mesmo aconteceu à rajada elétrica de Mexkialroy.
_ Ele é um fantasma! – falou Anix. – Ataques físicos não são efetivos. Além disso, ele é imune ao fogo...
_ E à eletricidade! – completou Guiltespin. – Vou distraí-lo. – o anão usou seu poder para criar uma cópia mágica de si mesmo, que parou diante do fantasma provocando-o.
_ Morram! – o espírito enfureceu-se e despejou seu sopro de fogo sobre os heróis. Ferido, Orion foi novamente dominado pela fúria insana que tornava sua armadura uma maldição, e avançou para dentro das chamas em direção ao inimigo. Soul Eater atravessou a imagem do inimigo como se cortasse o ar. No entanto, o corpo espectral não ficou intacto desta vez, ganhando um grande corte em seu peito.
Yczar avançou pelo outro flanco, atacando com sua espada, mas, sem a mesma sorte de Orion, sua lâmina apenas passou através do fantasma sem feri-lo. O fantasma iniciava seu revide contra o cavaleiro, quando subitamente cinco Guiltespins surgiram ao seu redor, provocando-o.
As cópias ilusórias do anão chamaram a atenção do inimigo. A criatura desistiu de atacar Yczar para tentar afugentar os anões que a cercavam. O gemido do ser híbrido abafou todos os outros sons, fazendo estremecer a determinação dos heróis. Mexkialroy tombou, afetado pelo poder do fantasma. O dragão tremia no chão, aturdido, gritando por ajuda, pedindo para que alguém calasse a criatura.
Anix e Legolas atacaram simultaneamente. As flechas voaram junto ao raio negro disparado pelo olho maligno do mago. Os projéteis atravessaram o espectro e somente um deles conseguiu deixar uma marca de ferimento na criatura, enquanto que a magia de Anix não foi capaz de afetá-la nem mesmo parcialmente.
Orion despejou novamente sua força sobre o adversário. Sua lâmina atravessou a imagem do inimigo várias vezes, mas poucas delas foram efetivas. Anix, Guiltespin e Legolas continuavam a disparar magias e flechas no inimigo, mas o ser incorpóreo escapava de cada ataque facilmente. Chamados por Anix, os Cavaleiros da Luz tomaram parte na batalha, mas pouca esperança tinham de ferir o oponente. Então, cercado por mais de uma dezena de inimigos, o fantasma decidiu lançar mão de táticas ainda mais vis.
O monstro translúcido entrou no corpo de Orion. O guerreiro tentou resistir, mas sua mente sucumbiu ao poder da criatura e todo o seu corpo foi dominado pelo inimigo. O corpo possuído do guerreiro brandiu a espada devoradora de almas e atacou seus companheiros. Duas das cópias mágicas de Guiltespin foram destruídas pela lâmina negra que, faminta por almas, induziu o fantasma a atacar Yczar, a única criatura viva (e com uma alma) ao redor da criatura.
Sem outra opção, Anix usou sua magia para dominar a mente de Orion. A luta entre Anix pela posse de Orion durou não mais que uma fração agoniante de segundo. Anix saiu vitorioso e assumiu o controle pelas ações do humano, obrigando o fantasma a abandonar o seu corpo.
Fora do corpo de Orion, o fantasma podia novamente ser alvejado pelos heróis. Yczar usou o medalhão sagrado de Khalmyr para enfraquecer o monstro, enquanto Guiltespin tentava em vão aprisioná-lo em sua teia mágica. Sam, a pedido de Anix, surgiu no colar do guerreiro para tentar colocá-lo para dormir, impedindo assim que sua mente pudesse ser novamente controlada. Mas Orion resistiu à sonolência e, mesmo exausto devido ao intenso esforço, atacou o inimigo que fugia desesperadamente de perto de Yczar.
O fantasma então decidiu mudar o alvo e penetrou no corpo de dragão de Squall. O vermelho teve sua mente dominada pelo inimigo e testemunhou, impotente, seus amigos se tornarem alvo de sua baforada flamejante. O corpanzil de Squall recuou em direção à porta, pisoteando os soldados em seu caminho, afastando-se ainda mais de Yczar. O paladino o perseguia ostentando o símbolo do Deus da Justiça com uma fé que feria o monstro dentro do corpo do dragão. Na sala do tesouro, Orion e Legolas apagavam as chamas de seus corpos, enquanto Anix tentava sem sucesso enfeitiçar a mente de Squall e, assim, quebrar o domínio do inimigo sobre seu irmão.  O monstro já quase fugia pelo corredor, quando Guiltespin usou sua mágica para prendê-lo dentro de uma prisão de pedra que emergiu do solo, cercando- por todos os lados e impedindo os movimentos de Squall.
O grupo cercou o cubículo rochoso, esperando que o fantasma atravessasse por suas paredes para voltar a atacar. No entanto, não foi o que aconteceu. Uma mulher surgiu vinda de dentro da rocha, indo em direção a Anix. Ela tinha cabelos dourados e uma beleza incomparável. Seu corpo escultural era emoldurado por um vestido fino de seda esvoaçante, que os aventureiros conheciam muito bem.
_ Anix, ajude-me. Sinto dor! Preciso de sua ajuda! – disse a mulher num lamento. O mago estava em choque. Sua mente formigava como se alguém revirasse seu cérebro com as mãos. A indecisão e a tristeza tomaram conta de Anix, afinal, a mulher que lhe estendia os braços em súplica era Enola.
_ Enola...O que você...Eu... – gaguejava Anix, perturbado.
_ Saia daí, Enola! – gritou Orion, ofegante. – É perigoso!
O guerreiro correu desajeitadamente na direção da mulher. O cansaço dominava-o por completo, já que a fúria provocada pela armadura exauria suas forças rapidamente. Orion tentou agarrar Enola e carregá-la para longe de onde o fantasma estava, mas não conseguiu. Seus braços atravessaram o corpo da mulher, como se ela não existisse. O humano parou seu movimento desajeitado a tempo de impedir uma colisão contra a parede. Orion se virou, tentando entender o que acontecera, e viu Enola tornar-se transparente como uma névoa. Sua imagem era mesclada à de outra pessoa, o fantasma.
Num lance de sorte único Orion conseguiu desmascarar a fraude do fantasma e salvar seus amigos, especialmente Anix, das garras do inimigo. Percebendo a ilusão criada pelo monstro, os Cavaleiros da Luz aspergiram água benta na criatura, arrancando dela gritos horrendos de agonia.
Furioso por ter sido enganado, Anix novamente usou os poderes da aberração alojada em seu corpo, disparando uma rajada de energia negativa em seu inimigo. Contudo, por ser composto pelo mesmo tipo de energia, o espectro fortaleceu-se ainda mais, para surpresa de Anix. Acuado, o mago voou para fora do salão, tentando afastar-se do espectro. Mas o monstro o seguiu, despejando fogo mágico sobre os soldados que tentavam feri-lo, quase matando a todos.
Orion e Yczar também correram para o corredor. O paladino continuava a irradiar o poder de Khalmyr, ferindo e afugentando o inimigo. Orion chamou Galanodel e montou em suas costas, indo atrás do espírito que já se apossava do corpo de Anix.  Mago tentava se defender desesperadamente. Seus mísseis mágicos atingiram e feriram o espectro, mas não o impediram de entrar em seu corpo e controlá-lo. Porém, antes que o corpo possuído pudesse realizar qualquer ação, Orion voou em sua direção e o golpeou com a espada, atirando-o ao chão e deixando-o completamente atordoado.
Novamente o fantasma se viu obrigado a abrir mão da possessão e a se expor. A aparição gesticulou rapidamente e uma vez mais criou uma explosão de chamas mágicas, desta vez ao redor de Orion, ganhando tempo para desaparecer além da parede que conduzia para os corredores onde os heróis haviam enfrentado os mohrgs.
_ Anix! Você está bem? – chamou Orion, despertando o amigo de sua paralisia.
_ Mais ou menos! Estou bastante machucado, mas posso andar – respondeu o elfo.
_ Depressa, volte para junto dos soldados, eles poderão tratar de seus ferimentos. Eu vou ver como estão os outros. E fique alerta! Tenho certeza que esse fantasma vai voltar. Se ele é guardião daquele tesouro, ele vai voltar para protegê-lo.
Orion correu de volta ao salão do tesouro. Guiltespin já se deleitava com as moedas douradas, enquanto Legolas, fora da sala, ainda se recompunha, após ser alvejado pelo sopro de fogo de Squall, recebendo cura mágica do clérigo que integrava o pequeno exército comandado por Yczar. Mexkialroy ainda permanecia caído no chão, e Squall ainda era prisioneiro da magia de Guiltespin.
_ E então, dragão! – chamou Orion – Precisa de ajuda?
_ Onde está aquele fantasma maldito! – rugiu Mex.
_ Fugiu! Ele foi embora pelo corredor.
_ Ótimo! – sorriu o dragão enquanto se levantava. Já refeito do susto, ele continuou. – Lutaste bem, humano! Agora vamos logo ao que há de valor nesta pilha de ouro.
E assim, os heróis juntaram-se ao redor do que restara do tesouro que já pertencera ao grande dragão-demônio, Ashardalon.


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