_ Intrusos! Tirem suas mãos do tesouro de Ashardalon! – a voz do fantasma
ecoou sombria de trás da parede além do tesouro. Numa fração de segundo o
guardião do tesouro a atravessou e atacou. Sua mão espectral atravessou o rosto
de Orion num tapa violento. O guerreiro sentiu suas forças sendo sugadas, como
se sua alma fosse arrancada de seu corpo. Antes que o humano pudesse entender o
que lhe acontecia, dois outros inimigos surgiram ao seu lado, saídos das
sombras no chão. Suas peles eram douradas como ouro, mas num tom estranhamente
pálido. Exibiram seus caninos pontudos, voando para cima de Mexkialroy e da cópia
ilusória de Guiltespin. Um dos genasis vampiros cravou seus dentes pontudos no
pescoço de Mex e começou a sugar o sangue do dragão. O outro quase foi ao chão,
ao tentar segurar a imagem falsa à sua frente.
Mexkialroy se
debatia, tentando se libertar do abraço mortal do vampiro que lhe sugava o
precioso líquido vermelho. Vendo o desespero do dragão, Yczar correu em seu
auxílio, estendendo a mão sobre suas escamas azuis e invocando o poder de
Khalmyr.
_ Ai! Humano maldito! O que estais fazendo? Isto dói! – gritou Mexkialroy.
Sua pele ardia como se estivesse em chamas.
_ Não resista, dragão – disse Yczar. – Esta magia o protegerá destas criaturas
malignas! O mal não poderá chegar perto de você! Somente as criaturas malignas
serão afetadas!
_ Ah! Então desliga isto, humano, pois eu serei o maior
afetado aqui!
– reclamou o dragão que, sendo também maligno, sofria os efeitos da magia. Mex
esperneou e rugiu, até que a magia de Yczar deixou de fazer efeito sobre seu
corpo.
Preso dentro do
cilindro de pedra criado pelo anão, Squall gritava para que o libertassem.
Ouvindo os sons da batalha, o dragão vermelho lutava para se libertar. Squall
cuspia fogo contra a muralha de pedra e a golpeava com suas garras. Pouco a
pouco a rocha foi tornando-se vermelha, incandescente, e cedendo ao poder de
Squall. Enquanto o feiticeiro lutava para se soltar, Orion defendia seus
amigos. Sua espada golpeava incessantemente os vampiros, levando uma das
criaturas ao chão diversas vezes com a potência do impacto dos golpes do
guerreiro. Protegido por sua cópia ilusória, Guiltespin teve a chance de
escapar para local seguro. O anão escalou as paredes como se fosse uma aranha
e, do alto, usou seus poderes para ajudar os companheiros. Uma gigantesca mão,
maior que um búfalo, formou-se magicamente abaixo dele, voando violentamente na
direção do monstro que drenava o sangue de Mexkialroy. O punho cerrado golpeou
as costas do morto-vivo, arremessando-o contra a parede com força espantosa.
Era a chance que Anix esperava.
O mago invadiu a sala
após receber cura mágica dos clérigos de Khalmyr. Gesticulou e murmurou as
palavras corretas, abriu os braços subitamente num movimento em arco e diante
de seus amigos surgiu uma muralha brilhante e ofuscante. A parede multicolorida
se expandiu velozmente do centro da pilha de tesouro para as paredes laterais,
era certo que o muro prismático esmagaria os dois vampiros. No entanto, ao
tocar as criaturas, a muralha se desfez no ar, restando dela apenas uma tênue
chuva de pó colorido e reluzente. O plano de Anix falhara, era melhor pensar
rápido.
_ Squall! Lembre-se das palavras do altar e diga-as em
voz alta
– gritou Anix. – Use a armadilha para
ajudá-lo a derreter a rocha.
Contudo, não foram as
chamas da estátua do dragão que Anix viu brilhar, mas sim as de seu inimigo. O
mago recuou com a vassoura mágica, colocando-se a salvo do sopro de fogo do
fantasma que queimava seus amigos. O calor das chamas atingiu em cheio o peito
de Orion, cujos ferimentos ao invés de dor, despertaram novamente uma fúria
insana que o dominou completamente. O guerreiro golpeou enlouquecidamente o vampiro
que tentava se levantar para atacá-lo, até que este transformasse numa nuvem de
fumaça inofensiva. O outro genasi, subjugado pelo punho mágico criado por
Guiltespin, também assumiu a forma gasosa para flutuar por cima de todos e
bloquear a porta de saída do salão, de onde planejava atacar os heróis.
Mexkialroy tentava impedi-lo de escapar, atacando com suas garras, presas e
asas, sem conseguir qualquer resultado contra a névoa na qual o monstro se
transformara. Somente Yczar conseguiu feri-lo, chamando o nome de Khalmyr com fervor
e irradiando energia positiva ao seu redor. As nuvens tremularam, tornando sua
dor visível. O fantasma, que desaparecera dentro da parede para se proteger,
esticou seus braços translúcidos para fora da pedra em visível agonia. Seus
braços foram lentamente se desmanchando, como se evaporassem, até desaparecerem
por completo, junto com o grito angustiante da aparição.
Mais atrás, Squall
usava seu próprio sopro ardente para derreter as pedras que o aprisionavam. O
Vermelho também recitou os versos inscritos no altar, ativando a armadilha
mágica. E tal qual Mex fizera antes, Squall respondeu que ele próprio era capaz
de sobrepujar Ashardalon. Os olhos da estátua brilharam vermelhos e outra vez
mais sua boca metálica cuspiu uma torrente de fogo, aumentando ainda mais o
calor das pedras que impediam Squall de lutar ao lado dos amigos.
Yczar, Orion e
Mexkialroy postaram-se lado a lado diante do tesouro, esperando por um possível
retorno do fantasma. Guiltespin arremessou uma pequena bola de pêlos mágica ao
lado deles, que se transformou num grande leão, para ajudá-los. Legolas, que
finalmente retornara do corredor, canalizava sua aura de frio nas rochas
incandescentes para, com o choque térmico, ajudar a libertar Squall de sua
prisão. Os dois vampiros flutuavam em forma de gás, já se preparando para
atacarem novamente, quando Anix decidiu usar todo o poder que lhe restava para
encerrar o combate.
_ Grande Deus Sol! Oh Azgher todo poderoso, suplico por
tua luz neste momento em que as crias de Tenebra reinam. Preencha todo este
ambiente com sua luz. Que assim seja! – Anix concentrou todo seu poder em suas
mãos, que se seguravam à vassoura voadora, e pediu ajuda a Azgher. A vassoura
começou a brilhar, timidamente de início, mas poderosa, como o próprio sol,
logo em seguida. Era
como se um pedaço do próprio sol tivesse se fundido à madeira, assim como
acontecia com as espadas gêmeas de Nailo.
As fumaças flutuaram
para o corredor, fugindo da luz mágica. Anix as perseguia, esperando que estas
se destruíssem, enquanto Orion o acompanhava um pouco mais atrás. Para sua
surpresa, os dois vampiros não foram destruídos, apenas fugiram até chegarem ao
final do corredor e desaparecerem além da porta dupla que o encerrava.
Os dois companheiros
de jornada retornaram para junto dos amigos. Anix estava intrigado com o fato
de os inimigos terem conseguido escapar.
_ Yczar, Guiltespin – chamou o elfo. – Vocês devem entender mais que eu de vampiros. Eu usei minha magia mais
poderosa para trazer a luz do sol aqui para dentro, mas mesmo assim os vampiros
não foram destruídos. Sabem explicar o por quê?
_ Bem, pelo que eu sei, magias de luz não conseguem
destruir vampiros. Somente o próprio sol é capaz disso – respondeu Yczar.
_ Mas então, por que os outros vampiros foram destruídos
quando o Nailo fez suas espadas brilharem assim como a vassoura de Anix? – perguntou Orion.
_ Como assim? Eles foram destruídos? Isso não deveria
acontecer!
– espantou-se o paladino.
_ Bem, talvez as espadas do Nailo sejam muito poderosas,
então – sugeriu
Orion.
_ Ou talvez os outros vampiros que vocês destruíram
fossem mais fracos que estes dois – disse Guiltespin.
_ Sim, afinal de contas, eles são genasis. E de ouro! Faz
sentido!
– concordou Anix.
_ Não faz não! – o anão cofiou a barba chamuscada,
franzindo o cenho, pensativo. – Genasis
são seres de origem planar. Seus corpos são diferentes dos nossos. Eles não
deveriam ser capazes de se tornarem vampiros. Isso é muito estranho.
_ Bem, vamos parar de especular e vamos trabalhar – disse Legolas, seu
arco apontado para a parede atrás do tesouro. – aquele fantasma ainda pode estar atrás dessa parede.
Yczar usou seus dons
de paladino e vasculhou os arredores sem encontrar sinal do espírito maligno.
Depois junto com Anix investigou o abismo além do corredor, obtendo o mesmo
resultado.
_ Ou o fantasma fugiu, ou foi destruído! – concluiu o
cavaleiro.
_ Bem, vamos aproveitar e descansar, então. Alguém, por
favor, ajude-me a tirar a armadura – pediu Orion.
Guiltespin ajudou o
humano a retirar a pesada indumentária. Por baixo do metal negro, seu corpo
exibia inúmeros cortes e queimaduras. Era difícil crer que alguém era capaz de
sobreviver com tantos ferimentos. Orion, no entanto, parecia bem, sem sentir
qualquer dor, até se despir. O cansaço e a dor tomaram conta do corpo do
guerreiro, abatendo-o.
_ Acho melhor pararmos por hoje e descansarmos até o
amanhecer. Estamos todos feridos e cansados, especialmente o Orion – sugeriu Legolas,
que recolhia com Anix o tesouro da sala – uma pilha de moedas de ouro, pedras
preciosas, uma malha de mithral, alguns pergaminhos e uma varinha mágica que
revelava portas secretas. – Além disso,
Anix tem que sair da torre para...caçar.
_ Tem razão, Legolas – respondeu Anix, que analisava com
curiosidade o que deveria ser a segunda parte da chave, apenas outro pedaço de
metal dourado recurvado e cheio de pontas.
– Sinto que a noite chegou. Tenho um trato a cumprir e do qual não posso fugir.
Preciso ir para a superfície e deixar que Ele saia.
_ Bem, vamos erguer acampamento, então. Vamos voltar para
aquela caverna lá fora – disse Yczar.
_ Bem, na verdade, só o Anix precisa sair. Eu vou
acompanhá-lo, mas os demais podem ficar aqui mesmo – disse Legolas.
_ Sim, vamos ficar aqui mesmo nesta sala. Vamos trancar a
porta e dormir aqui
– pediu Orion, exausto.
_ Está certo! Faremos o seguinte, então. Vocês sobem
enquanto Orion, Guiltespin e os outros descansam aqui. Eu pegarei alguns homens
e irei com eles procurar Nailo e Batloc. Tenho receio de que eles também possam
estar em perigo. Assim
que eu os encontrar, voltaremos para cá e aguardaremos o retorno de vocês.
_ Certo! Vamos Anix! – chamou o arqueiro. – Hei Mex! Não quer vir também?
_ Depende – falou o dragão. – O que vou ganhar com isso?
_ Descubra por si próprio, dragão. Ou será que está com
medo?
– desafiou Anix.
_ Medo? Eu? Ora, elfo, não me faça rir.
_ Venha, Mex. Acho que você ganhará um parceiro de caça,
por mais estranho que isso possa parecer – insistiu Legolas.
_ Vamos logo, então – resmungou o dragão, voando para o
corredor.
Legolas, Anix e
Mexkialroy partiram para os andares superiores. Yczar levou alguns soldados
consigo para explorar o lado sul das catacumbas em busca dos amigos. Squall,
Guiltespin, Orion e alguns soldados ficaram na sala do altar. A porta foi
trancada e congelada por fora por Legolas, garantindo a segurança dos que
estavam lá dentro.
Já na caverna, o
Beholder despertou novamente, logo após Anix adormecer. A criatura deixou a
caverna, acompanhado de Mexkialroy, que só pode se juntar a ele com a condição
de que não o atrapalhasse. Juntos os dois monstros foram caçar na floresta
escura. Legolas os seguia furtivamente, observando seus passos atentamente. Ficou
satisfeito ao ver que os dois, para sua surpresa, estavam se entendendo bem.
Assistiu com assombro aos dois abaterem um enorme dinossauro, agindo em
sintonia como uma verdadeira equipe, como se trabalhassem juntos há muito
tempo. Com seus temores afastados, o arqueiro foi finalmente dormir.
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