_ Acordem! É hora de retornarmos – chamou Legolas, após
o raiar do dia. O sol já ia alto, trazendo calor para o vale. Anix e Mexkialroy
despertaram, ambos ensopados de sangue, e foram se preparar para o dia de
batalhas. O mago começava a se acostumar com aquela situação incomoda. Lavou
rosto e mãos com a água do cantil, comeu um naco de ração de viajante e abriu
seu livro de magias, como fazia todas as manhãs. Estudou os feitiços que usaria
naquele dia, adicionou mais algumas linhas aos novos encantos que desenvolvia e
alegrou-se ao finalmente concluir o aprendizado de alguns truques novos e
poderosos. Seus inimigos que o aguardassem, pois teriam uma bela surpresa. Todo
prontos, os três aventureiros voaram de volta para a espiral no meio do vale e
desceram seus vários andares até chegarem ao subsolo, onde seus amigos os
aguardavam.
Encontraram todos
reunidos no local combinado. Orion, e os que o acompanhavam, terminavam de
quebrar o gelo que lacrava a porta do salão onde tinham passado a noite. Nas
outras salas, Yczar, Nailo, Batloc e os demais se dividiam entre turnos de
descanso e de vigília.
_ É bom vê-lo novamente, Nailo – sorriu Legolas. – Como foi ontem, tudo correu bem?
_ Mais ou menos – respondeu o Guardião. – Encontrei uma das chaves, mas não pude
pegá-la!
_ Por que não? – indagou Anix.
_ Está numa sala lacrada – disse Lucano que
acabava de levantar.
_ Além disso, tivemos outro problema – completou Nailo. – Lembram-se daqueles gorilas que chamavam o
Squall de mestre? Bem, encontramos uma tribo inteira deles aprisionada aqui
embaixo. A situação ficou um pouco tensa no início, mas depois conseguimos
convencê-los de que não éramos inimigos. Felizmente, alguns dos gorilas que o
Squall libertou apareceram e nos reconheceram, então a líder deles decidiu
confiar em nós. Ela
nos mostrou a sala onde a chave está e nos disse que são realmente quatro
chaves ao todo. Elas devem ser unidas para formar uma única peça, que pode
abrir a porta que dá acesso ao centro da torre, onde Zulil está. Nós libertamos
todos os macacos, devia ter uns cinqüenta deles, e os levamos para fora da
torre em segurança.
Depois voltamos para cá e encontramos o Yczar.
_ Você o que? Levou os gorilas para fora? – gritou Legolas. O
elfo estava pálido de medo. – Mex, por
acaso vocês não comeram os gorilas, comeram?
_ Ora, isso você nunca saberá, elfo! – respondeu
Mexkialroy. O dragão sorriu, irônico, e foi se deitar em cima de uma das
tumbas.
_ Bem, o que está feito está feito – Disse Squall,
espreguiçando-se. – Se os gorilas se
deixaram apanhar, azar deles. Agora vamos logo em frente. Vamos buscar
essa chave que o Nailo falou.
_ Sim, não há tempo a perder. Guie-nos, Nailo – disse Orion, todos
concordaram com um aceno de cabeça.
Nailo conduziu seus
companheiros pelos corredores, através de várias catacumbas, até chegarem a uma
caverna natural ampla, poucos metros abaixo do piso, onde os gorilas eram
mantidos prisioneiros atrás de grades de ferro enferrujado agora já destruídas
pelo ranger e seus amigos. Um túnel sinuoso e irregular seguia para o leste
escuridão adentro. Ao norte, diante das grades da antiga cela dos escravos de
Gulthias, havia uma porta que se abria para um corredor. Quatro portas ao longo
do corredor davam acesso a velhas criptas abandonadas e há muito saqueadas. No
centro de cada cripta havia sarcófagos abertos e cheios de pó e entulho. A
última sala à esquerda possuía uma porta que levava a outro corredor, pequeno,
que terminava em um salão onde uma única porta lacrada separava os aventureiros
do objeto que buscavam.
Orion tomou a frente
e, com sua espada devoradora de almas, cortou a pedra sem dificuldade. A porta
veio abaixo ruidosamente, revelando uma pequena sala além dela. Um pedestal de
pedra suportava um pequeno baú de madeira onde, calculavam os heróis, estaria a
chave. Diante do pequeno pilar, um círculo brilhava no chão, traçado
magicamente com dezenas de runas incompreensíveis ao redor e em seu interior.
Uma corrente translúcida se erguia do centro do círculo mágico em direção a uma
robusta perna, coberta de escamas horrendas. Presa à corrente, uma criatura
maior do que um ogro, com forma vagamente humanóide sorria para o grupo com uma
centena de dentes pontiagudos. Seu rosto demoníaco era recoberto de escamas e
chifres. Orelhas muito grandes se projetavam nas laterais da cabeça em direção
às costas da criatura, onde um par de asas de morcego, decoradas com chifres
pontudos em cada articulação, se agitavam ansiosas. Os olhos vermelhos e
brilhantes do monstro fitaram cada um dos recém-chegados com malevolência. A
besta deu um passo à frente, seus braços musculosos se movendo rapidamente,
girando uma enorme corrente com cravos segurada pelas garras grandes e afiadas
do ser.
_ Então finalmente vocês chegaram até aqui – disse finalmente a
criatura, quebrando o silêncio tétrico que tomara conta do ambiente. – Presumo que vieram para me libertar, estou
certo?
_ Bem, isso depende – disse Legolas, levando a mão
lentamente em direção à aljava mágica. –
Quem é você, e por que está preso?
_ É, parece que me enganei. Então se não vieram me
libertar, devo supor que vieram atrás da chave, certo? – perguntou
novamente o ser coberto de chifres.
_ De que chave vocês está falando? – perguntou Anix,
evasivo.
_ Ora, não me subestimem. Vieram ou não atrás da chave?
Não me façam perder tempo com esta encenação ridícula – devolveu o
monstro.
_ Sim, nós estamos procurando a chave! – disse Orion. – Você sabe onde ela está? Se nos ajudar a
consegui-la, talvez nós possamos libertá-lo.
_ Ora, então eu estava certo, vocês querem mesmo a chave.
Era o que eu esperava ouvir – O monstro gargalhou, satisfeito, depois continuou. – Bem tenho duas notícias para vocês. A boa
é que, a chave está neste baú aqui atrás. A ruim é que já que se vocês a
querem, terão que morrer! Eu, Sammet Olbrich acabarei com vocês! – o
monstro projetou seu enorme corpo para frente, girando a corrente furiosamente
e atacou.
A corrente passou
logo acima da cabeça de Orion, quase atingindo-o, deu mais um giro sobre a
cabeça do monstro e voou em cheio contra o peito de Yczar. O paladino cambaleou
para trás, atordoado pelo golpe, totalmente à mercê de seu adversário. A arma
girou novamente, raspando o peito de Orion sem feri-lo.
O guerreiro avançou
correndo contra o inimigo. Sua espada abriu um talho raso no imenso tórax da
criatura, que começou a se fechar rapidamente. O guerreiro e o ser repleto de
chifres se engalfinharam em combate corpo a corpo, enquanto os companheiros
ajudavam à distância. Guiltespin cuidou de tirar Yczar do alcance do demônio e
ao mesmo tempo invocou um gigantesco punho mágico que voou contra o monstro.
Sammet habilmente esquivou-se do soco, deixando que a parede atrás de si fosse
atingida, ao mesmo tempo em que desferia um ataque contra a cabeça de Orion,
deixando o humano também atordoado. A criatura preparava-se para acabar com a
vida de Orion, quando Anix interferiu.
_ Hei, você! Cornugon ! – chamou o elfo, identificando a
espécie da criatura, um tipo de diabo que habitava outros mundos como o reino
da Deusa das Trevas. – Quem é seu mestre?
_ Não lhe interessa, verme! Por que quer saber? – perguntou o
inimigo.
_ Porque eu não ataco aqueles que servem ao mesmo deus
que eu.
_ Pois o meu deus é o mesmo que o seu.
_ Não tente me enganar, monstro! Diga logo o nome de seu
deus. Ele é Gehörnt?
_ É o Deus da Morte! E o seu, elfo?
_ Sim, é o mesmo deus. O mesmo Deus que eu matarei depois
de matar você! Tome isto! kalliamfia bia liarwjphethax!
Inúmeros relâmpagos
se projetaram do olho maligno de Anix em direção ao diabo, como se uma nuvem de
tempestade descarregasse toda sua ira sobre a criatura. Mas cada raio que
tocava a pele escamosa e espinhosa do monstro se desvanecia, anulado pela
capacidade inata do diabo de ignorar poderes mágicos de qualquer natureza. Anix
praguejou e amaldiçoou a si mesmo por seu poderoso ataque ter falhado. Usou o
poder de seu cajado para tornar sua pele escamosa e espessa como a de um
dragão, teria que lutar corpo a corpo se suas magias não funcionassem contra o
inimigo.
As flechas de Legolas
choviam contra o inimigo, também sem grande eficácia, já que a besta era
extremamente resistente ao frio, assim com ao fogo. Nailo e os demais tentavam trazer
Yczar de volta a si, quando viram, com temor, o diabo avançar contra o indefeso
Orion. Os dentes afiados da criatura se aproximaram contra o humano, esperando
arrancar-lhe a cabeça sem qualquer resistência. Foi quando a fúria do guerreiro
explodiu.
_ Vai morrer, seu maldito! – urrou Orion,
encolerado. O ferimento que o atordoara era completamente ignorado por seu
corpo emoldurado no aço amaldiçoado. Totalmente fora de controle, e de volta ao
combate fortalecido, graças ao poder maligno da armadura, Orion estocou para
cima, enterrando a espada na garganta do monstro, fazendo seu sangue enegrecido
verter com fartura. A mão mágica de Guiltespin desceu sobre o corpo do monstro,
ao mesmo tempo em que o anão conjurava uma nuvem de poeira mágica para bloquear
a visão do inimigo. O punho mágico se desfez ao tocar o diabo, tal qual os
relâmpagos de Anix. Mas a criatura estava agora coberta por partículas de
poeira dourada brilhante, como se estivesse imersa em uma nuvem de purpurina.
Infelizmente, o monstro continuava a enxergar claramente e revidou o ataque do
guerreiro, abandonando sua corrente para atacar com suas garras, presas e com o
ferrão venenoso na ponta de sua cauda.
Orion rebateu os
ataques do monstro com sua espada e os poucos que não conseguiu evitar, foram
detidos por sua couraça metálica. Na sua ânsia de retalhar o corpo do
adversário, o guerreiro usou força demais num dos contra-golpes,
desequilibrando-se e caindo aos pés do inimigo. Mesmo deitado de costas no
chão, o humano continuava a bater e a estocar.
Anix disparou uma
rajada prismática no mostro, mas este resistiu novamente aos poderes do mago.
Guiltespin lançou o conteúdo de sua bolsa mágica dentro da sala, fazendo surgir
um cavalo de guerra que se juntou a Orion para combater o diabo. Mas nada
parecia abalá-lo. Seus ferimentos cicatrizavam rapidamente, magias não o
afetavam e ele parecia feliz enquanto lutava.
Mas o excesso de
confiança traiu a criatura. Como acontecera com Orion, o monstro perdeu o
equilíbrio e por pouco não caiu também. Os Heróis ganharam tempo, ainda que
curto. Orion se levantou, Yczar, finalmente restabelecido, colocou-se ao lado
do guerreiro, protegendo-o e aos que o cercavam com sua magia divina.
Guiltespin e Anix tentaram novamente afetar o inimigo com suas mágicas. O anão
criou uma placa de gel escorregadio sob os pés do monstro e Anix frustrou-se
ainda mais ao ver seu raio mágico sendo dissipado ao tocar o couro do diabo.
Orion voltou a trocar
golpes com o cornugon e conseguiu atirá-lo ao chão. O monstro atingiu o solo
estrondosamente, ficando atordoado pelo impacto da espada devoradora de almas.
Yczar avançou rapidamente enquanto o inimigo caia e cravou sua espada em seu
peito. O diabo desfez-se numa nuvem negra que foi absorvida por Soul Eater. A
batalha estava ganha.
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