Orion foi o primeiro
a descer, seguido por Legolas e depois por Yczar. Depois vieram Anix e
Guiltespin, voando na vassoura mágica. Os demais ficariam aguardando, já que
não era prudente todos se arriscarem naquela missão. O objetivo era claro,
evitariam o confronto direto e buscariam obter a chave que faltava. Lutar
contra o dragão seria feito apenas se fosse inevitável. Como o monstro metálico
demonstrara ser lento, chegar até o baú da chave não seria tarefa complicada,
esperavam os heróis.
A criatura os
aguardava nas profundezas escuras, com seu brilho rubro nos olhos e suas presas
afiadas prontas para rasgar a carne de qualquer intruso que ousasse se
aproximar. Orion ia à frente do grupo, explorando a câmara em busca de seu
guardião, quando se viu cara a cara com o monstro. A fera deslocou seu
corpanzil metálico na direção do humano, abriu sua bocarra num rangido
estridente e cuspiu fogo em seus inimigos. Era como se uma fornalha queimasse
dentro do corpo de aço do dragão, suas chamas intensas transbordaram para fora
de seu ventre e atingiram os heróis com violência. Orion sentiu um calor
intenso tomando conta de seu corpo e foi novamente tomado pela fúria. Seu único
objetivo agora era destruir aquela criatura que o ferira. Legolas cercou-se de
ar frio, evitando ferir-se com gravidade, enquanto Yczar, gravemente machucado,
foi obrigado a recuar para a escada para não morrer.
Legolas correu
velozmente para frente, pulou o mais alto que pode e pisou nas costas de Orion,
ganhando impulso para se lançar sobre o corpo metálico da criatura. O dragão
reagiu mais rápido e com um golpe de pata lançou o elfo de volta ao chão.
Legolas caiu de joelhos diante do monstro e sem desperdiçar um segundo sequer,
agarrou as duas pernas do inimigo.
_ Pelos poderes da Rainha Branca, congele! – gritou o arqueiro,
invocando o poder glacial da rainha dos dragões de gelo. Uma aura de frio
envolveu o corpo do monstro, mas este apenas tornou-se mais lento, sem se
congelar como esperava Legolas.
Orion atacou com sua
espada amaldiçoada, perfurando o metal com dificuldade. As chamas negras não
causavam qualquer tipo de incômodo ao dragão, nem seus poderes maléficos eram
capazes de afetá-lo. O fogo mágico parecia fundir os cortes das placas de
metal, como se curassem o dragão. Anix, que observava tudo atentamente do alto,
enfim compreendeu a situação.
_ Esta criatura não é um dragão! É um golem, mas este é
feito de ferro!
– gritou o mago para os amigos.
_ Isso significa que a maioria das magias não funciona
contra ele
– concluiu Guiltespin. – Mas eu tenho alguns
truques que vão surpreendê-lo! – sorriu ele. Mas, antes que pudesse por em
prática sua estratégia, o anão assistiu impotente ao ataque devastador da
criatura. O golem cravou as presas pontiagudas no ombro direito de Orion,
depois penetrou a couraça do guerreiro com suas garras, ao mesmo tempo em que
rasgava o braço de Legolas com a outra pata. O monstro empinou o corpo para o
alto e suas asas moveram-se velozmente, chocando-se violentamente contra o
corpo do humano. Antes que seu corpo voltasse ao chão, sua cauda metálica
serpenteou rápido para frente, atingindo com força o peito de Legolas, arrancando-lhe
uma golfada de sangue.
O anão completou a
conjuração do feitiço. Um círculo dourado brilhou no chão abaixo do golem, que
foi arremessado para o alto bruscamente, como se caísse para cima. O choque
contra o teto, causado pela gravidade invertida, amassou as costas de metal do
dragão, produzindo um ruído ensurdecedor. Não satisfeito, o anão usou seus
poderes para transformar o solo abaixo do inimigo em lama, esperando prender o
inimigo quando ele retornasse ao chão.
_ Phelel a fiajpha! Tempo, pare! – gritou Anix. O elfo
viu o ritmo do mundo ao seu redor diminuir até se transformar em uma imagem
congelada. O tempo parou. Todos os seres, com exceção de Anix, ficaram
paralisados, como se fizessem parte de uma realidade distinta. Anix aproveitou
a chance dada por sua nova magia, que para sua alegria funcionara
perfeitamente, e voou até o baú prateado no fundo do salão. O objeto sólido e
imponente precisaria ser arrombado para ter seu conteúdo revelado. Anix então
aumentou seus poderes de combate magicamente, momentos antes de sua magia
terminar e as areias do tempo voltarem a cair.
Legolas viu o mago
surgir num piscar de olhos à sua frente. Sacou a espada e correu para perto
dele, golpeando com todas as forças o cadeado que selava a arca. Um misto de
espanto e frustração tomou conta dele ao perceber que a arca e o cadeado eram
ambos feitos de mithral e, portanto, extremamente resistentes.
O arqueiro continuou
tentando em vão arrombar o baú, enquanto Orion, tomado pelo ódio, continuava a
lutar contra o golem. O assovio do humano ecoou pela caverna e a coruja gigante
surgiu em seguida no fosso de entrada. Galanodel voou até Orion, que subiu em
suas costas rapidamente. Cavaleiro e montaria voaram em direção ao dragão preso
ao teto pela gravidade distorcida.
Mas o monstro não
aguardou pela chagada de seus oponentes. Sua atenção se voltou para o arqueiro
que tentava violar o tesouro que a criatura deveria guardar. O dragão avançou
na direção do arqueiro, caminhando de cabeça para baixo pelo teto da câmara.
Quando deixou a área afetada pela magia de Guiltespin, o monstro despencou
novamente, para baixo desta vez. Enquanto caia, a fera cuspia fogo sobre o elfo
que tentava se proteger congelando o ar ao seu redor.
O monstro colidiu
contra o piso, amassando seu corpo, despedaçando engrenagens e outros
mecanismos. Mesmo ferido, Legolas continuava tentando arrombar o baú, diante o
olhar atento do monstro de ferro que já abria sua bocarra em sua direção.
Anix fez um sinal para Guiltespin, que
entendeu prontamente a mensagem do elfo. O anão evocou seus poderes mágicos e
fez uma ponte de pedra surgir da parede, sobre o golem. Com os poderes do seu
olho maligno, Anix desintegrou as pedras que uniam a ponte à parede. Toneladas
de rocha caíram em cima do monstro, como se o teto desabasse sobre ele. Com
grandes avarias, a criatura se ergueu dos escombros, voltando suas atenções
para o mago elfo. Mas, antes que pudesse atacá-lo, o dragão foi agarrado por
Orion que, ignorando qualquer dor ou ferimento, saltara das costas de Galanodel
para cair atrás do inimigo e pegá-lo pela cauda.
Orion arrastou o
dragão pelo rabo e o atirou no poço de lama criado pelo anão. A espantosa
proeza do guerreiro, no entanto, não funcionou como ele planejava. Ao invés de
afundar na lama e ficar preso nela e ao alcance de sua espada, o monstro voou
para cima, despencando novamente contra o teto, vítima da força gravitacional
alterada por Guiltespin.
O monstro bateu com
força contra o teto, seu corpo começava a ficar irreconhecível devido aos
danos. Mesmo assim, ele se virou rapidamente e saltou na direção de Legolas. O
corpo de ferro caiu pesadamente em cima do elfo, esmagando-o, rasgando-o. Legolas
sufocava e agonizava embaixo de toneladas de metal, indefeso e impotente. Em um
novo movimento coordenado, Guiltespin criou magicamente uma gosma escorregadia
ao redor do corpo do arqueiro. Anix usou seu poder de telecinésia para arrastar
o companheiro para fora de sua prisão de aço.
_ Não resista, Legolas! – gritavam os magos para o
companheiro.
Gravemente ferido,
Legolas afastou-se da fúria do inimigo para beber uma poção mágica e aliviar a
dor de seus ferimentos. Orion investia contra o golem, atacando-o sem piedade
com sua espada. Yczar, já recuperado das queimaduras, correu até o guerreiro e
lançou sobre ele o poder de Khalmyr, curando parte de seus ferimentos. Incapaz
de sentir qualquer dor por causa da armadura, Orion sequer tinha notado que
estava à beira da morte. Para sua sorte, Yczar retornara para salvá-lo.
O dragão se virou,
erguendo sua cabeça bruscamente. Seus chifres atingiram com força o peito de
Orion, arremessando o humano para trás. Orion voou para o chão lamacento, mas
seu corpo foi atirado para o alto, em direção ao teto, tal qual acontecera com
o dragão antes. O guerreiro chocou-se estrondosamente no teto, sem sentir
qualquer vestígio da dor que seria suficiente para nocautear a maioria das
pessoas. Ergueu-se, ficando de cabeça para baixo, e saltou para fora da área da
magia. Orion despencou novamente, para baixo desta vez, enquanto o dragão preparava-se
para cuspir um turbilhão de chamas em Yczar.
Anix deslizou pelo ar
com a vassoura mágica e agarrou o paladino, tirando-o da frente do golem. Orion
caiu sobre o monstro, cravando a lâmina negra nas costas da criatura. Ao mesmo
tempo, Legolas disparou um vendaval congelante no inimigo, retardando ainda
mais seus movimentos. Enquanto os amigos ganhavam tempo, Guiltespin escalava as
paredes e o teto como uma aranha em direção ao inimigo, beneficiando-se dos
poderes de seu equipamento mágico.
O dragão atracou-se
com Orion, engalfinhando-se com ele como dois cães brigando. Orion conseguiu
segurar a boca do monstro fechada com uma das mãos, enquanto usava o outro
braço para se defender das garras do inimigo e para golpeá-lo com a espada.
Legolas disparava flechas e mais flechas, transformando o corpo da fera em uma
peneira. As setas perfuravam o ferro uma após a outra, para logo depois se
desmaterializarem e retornarem à aljava do elfo, prontas para serem novamente
usadas. Yczar usava seus poderes para fortalecer os companheiros e para curar
suas feridas.
Enquanto os amigos
combatiam no solo, Guiltespin finalmente parou sobre o monstro, preso ao teto
por suas sandálias mágicas. O anão gesticulou e recitou palavras mágicas,
envolvendo seu corpo com um feitiço poderoso. A carne, pele e ossos de
Guiltespin transformaram-se em ferro maciço. Então o anão desprendeu-se do teto
e jogou seu pesado corpo sobre o do dragão, abrindo uma cratera nas costas da
criatura. O anão agarrou o rabo do dragão, enquanto Orion segurava sua cabeça,
deixando-o praticamente imobilizado, um alvo fácil para os disparos de Legolas
e para o ataque de Anix.
O mago elfo voou até
o teto e usou o poder do ser alojado em seu corpo. Um raio negro saiu do olho
maligno do elfo, atingindo o teto da câmara. A rocha foi desaparecendo como
gelo em contato com fogo. Anix traçou um
círculo no teto da caverna, deixando um bloco de pedra maciço, de mais de três
metros de diâmetro, em seu centro. Por fim, o mago usou seu raio ótico para
desintegrar a pedra que ligava o bloco ao teto.
A esfera de rocha
sólida despencou sobre o corpo metálico do dragão, esmagando-o. Soterrado sob
várias toneladas de pedra o golem finalmente parou de se mover. Seus olhos
perderam o brilho e mesmo a fornalha em seu ventre pareceu se apagar. Enfim,
após uma dura batalha, o golem dragão fora finalmente derrotado.
Com o inimigo
vencido, restava apenas uma coisa a fazer, abrir o baú e pegar a última parte
da chave que os levaria até o traidor, Zulil.
Orion partiu
facilmente o cadeado de mithral com sua espada negra. O humano abriu a arca e
uma explosão o envolveu em chamas assim que ele olhou para dentro do baú. Sem
se incomodar com a já esperada armadinha, o guerreiro terminou de abrir o
recipiente. Lá dentro, para surpresa de todos, em meio a um vasto tesouro havia
apenas um colar e um bilhete. Nem sinal da chave que buscavam. O colar era uma
corrente dourada presa a um medalhão também de ouro, com o formato circular no
qual havia a figura de um dragão vermelho cunhada, como se o dragão saltasse
para fora do disco em direção àquele que o segurasse. O bilhete, por sua vez,
trazia a seguinte mensagem:
“Vê se vai esfriar a cabeça um pouco, ela deve estar
quente agora.
Mas, para alegrá-los um pouco, deixei um presentinho para
vocês aqui. Este medalhão é o que controla o dragão de aço. Usem-no para não
apanharem dele, se bem que se estiverem lendo esta mensagem, acho que será
tarde demais para não apanharem. Espero que alguns de vocês (senão todos)
tenham sido mortos pelo bichinho.
Ah! Imagino que devam estar se perguntando onde está a
chave. Bom, resolvi colocá-la em outro lugar, ao invés de deixá-la dentro deste
baú. Basta que saibam, seus vermes, que a chave está num lugar muito mais
seguro. Aliás, é o lugar que eu considero o mais seguro de todos. Vocês só vão
conseguir está chave passando por cima do meu cadáver, o que não vai acontecer,
pois, assim que nos encontrarmos nestes corredores, todos vocês perderão a
vida, insetos.
Cordialmente,
Flint Stone, o seu amigo de sempre.”
>>>Próximo episódio: A última porta >>>
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