_ Halfling maldito! – xingou Orion. – Onde este desgraçado escondeu a chave?
_ Só pode estar com ele – deduziu Anix depois de pensar por
alguns instantes. – Convencido como era, para
ele o lugar mais seguro era com ele mesmo. Vamos voltar até a caverna e revirar
o corpo dele.
_ Mas nós já fizemos isso, e não havia nem sinal de chave
nas coisas dele
– disse Nailo.
_ Talvez ele tenha engolido a chave. Se para pegá-la
teríamos que passar por cima do cadáver dele, ou seja, só matando ele,
significa que a chave está dentro do corpo dele, não nas suas roupas – disse Orion. – Vamos até lá rasgar o corpo dele e procurar.
_ Não sejam tolos! – rugiu Mexkialroy. – O corpo dele já não está mais na caverna. Eu o comi, lembram?
_ Então, - começou Orion, pensativo. – vamos ter que abrir o dragão!
_ Estais louco, humano? – gritou o dragão, irritado.
_ Acho que seria mais fácil esperarmos a chave sair – sugeriu Anix.
_ Boa ideia! – concordou o guerreiro. – Vai dragão, vai fazer cocô logo.
_ Idiota! Já fiz isso ontem à noite, quando sai com
aquele ali
– disse Mex, apontando para Anix. – Ou
melhor, com o outro “eu” dele!
_ E onde foi isso? – perguntou o humano.
_ Na floresta. Venham, eu mostro o caminho!
Mexkialroy deixou a
torre acompanhado de Anix, Orion e Galanodel. Os outros aguardariam diante da
porta restante, que dava acesso ao centro da torre. Havia duas portas
idênticas, acessadas por lados opostos das catacumbas. Ambas estavam lacradas
magicamente, impossíveis de serem abertas sem a chave. Ambas tinham uma
cavidade esculpida em baixo relevo na rocha, com o formato das peças que
formavam a chave, já encaixadas no formato de um dragão. Uma delas era acessada
pelo corredor onde Flint havia preparado a cilada com os vampiros e o golem de
pedra, a outra ficava além do salão onde os heróis haviam enfrentado as bruxas
de sangue dracônico. Eram as últimas passagens a serem exploradas naquela
masmorra e, a julgar pela dificuldade em transpô-las, com certeza Gulthias,
Zulil e seus asseclas estariam além de uma daquelas portas.
Fora da torre, os
dois heróis voavam pelo céu da floresta pré-histórica de Galrasia, seguindo
Mexkialroy por caminhos tortuosos em busca das fezes do dragão. Levaram cerca
de meia hora para encontrar o que procuravam, um monte generoso de excrementos,
rodeado pelos restos da chacina da noite anterior. Pedaços de carne, ossos e
grande quantidade de sangue seco espalhavam-se por todos os lados, revelando a
voracidade do dragão e seu companheiro de caçada. Para felicidade de Orion, ele
não viu no local qualquer pedaço de girallon, ao menos nenhum que pudesse
identificar como tal.
Orion começou a
revirar os dejetos com sua maça, enojado. Anix e Mexkialroy observavam,
ansiosos. O elfo estava calado, mas o dragão não desperdiçou a chance de mostrar
sua malignidade.
_ Isto, continue trabalhando. Isto é um trabalho para um
humano mesmo.
Irritado com o
comentário, Orion desejou acertar sua maça na cabeça do dragão, de leve, apenas
para intimidá-lo. Mas, quando se deu conta, já tinha atacado o dragão com a
lateral de sua espada, machucando-o seriamente.
_ Pois pode procurar você mesmo, dragão. Afinal a merda é
sua mesmo
– vociferou Orion.
Resmungando consigo
mesmo, Mexkialroy apanhou um galho no chão e cutucou com raiva as fezes, várias
vezes, até que finalmente ouviram o som da madeira batendo em algo metálico. O
dragão empurrou o graveto com força, erguendo o objeto até este saltar e ir de
encontro a uma árvore, onde ficou grudado.
Orion usou a água de
seu cantil para lavar o objeto, uma pequena peça metálica dourada. Junto com as
outras três partes, finalmente a última porta seria aberta, e os heróis
finalmente poderiam confrontar seu odiado inimigo.
Com a chave em mãos,
o pequeno grupo retornou para a torre rapidamente. Pousaram no pináculo e
começaram a longa descida rumo às catacumbas. O retorno seguiu sem problemas
através dos dois primeiros andares, mas, ao chegarem ao terceiro nível da
espiral, uma alarmante surpresa os aguardava. Gemidos e o som de corpos
rastejando chegaram aos ouvidos de Orion e Anix, deixando-os em estado de
alerta.
O guerreiro caminhava
cautelosamente pelos corredores, de espada em punho, quando chegou ao mar de
cadáveres cortados, queimados e congelados que se espalhava ao redor da sala
que dava acesso ao piso inferior. Ao tentar cruzar as carcaças destroçadas dos
zumbis exterminados pelo grupo, Orion sentiu algo segurando-lhe a perna: era
uma mão.
Do meio dos corpos
uma mão emergiu e segurou a canela do guerreiro. Nenhum corpo se ligava ao
pedaço que segurava Orion, mesmo assim ele se mexia, como se voltasse à vida,
ou à sua não-vida. Todas as outras partes espalhadas pelo corredor tornavam-se
vivas, ligavam-se umas às outras, formando novos zumbis ávidos pela carne do
humano.
Orion cortou os
cadáveres novamente e Anix outra vez incendiou-os com sua magia. E novamente os
pedaços voltavam a rastejar para atormentá-los.
_ Vamos embora, Orion! – disse Anix. – Não podemos perder tempo com isso agora!
Os dois desceram
velozmente a escada e continuaram a avançar pelos corredores escuros e
assombrados da torre maldita. Por onde passavam, os inimigos derrotados
voltavam a se erguer lentamente, como um pesadelo que se tornava real.
Finalmente, uma hora e meia após terem partido, Orion, Anix, Mex e Galanodel se
encontraram com o restante do grupo.
_ E então? Conseguiram a chave? – quis saber
Legolas.
_ Sim, conseguimos! – respondeu Orion, ofegante.
_ O que aconteceu? Vocês parecem assustados? – perguntou Nailo.
_ Algo estranho está acontecendo neste lugar – disse Anix. – As criaturas que matamos, elas estão
começando a voltar à vida. Não sei como, mas eles estão voltando à atividade,
se regenerando.
_ Eu sei – disse Lucano. – A energia negativa que emana neste lugar, ela deve estar transformando
todos aqueles cadáveres em
zumbis. Este poder maligno é mais forte aqui embaixo, aqui
perto do centro. Atrás desta porta deve estar a fonte desta aura maligna, temos
que encontrá-la e destruí-la. E então os mortos desta torre poderão descansar
em paz.
_ Então temos que nos apressar, antes que os inimigos
derrotados retornem da tumba para nos importunar novamente – Disse Orion,
encaixando as peças da chave uma a uma na cavidade da porta.
_ Espere! – gritou Nailo. - Se nós entrarmos ai agora, poderemos morrer. Aquele dragão de metal
deve ter enfraquecido vocês – o Guardião apontava para Legolas, Anix, Orion
e Yczar. – Não seria melhor descansarmos,
para vocês recuperarem suas forças?
_ Nailo tem razão – concordou Anix. – Gastei quase todo o meu poder na última luta. E se nossos inimigos
mais poderosos estiverem atrás desta porta, o poder que usei será novamente
necessário.
_ Sim, vocês têm razão – disse Yczar. – Mas se pararmos agora, também estaremos nos arriscando. Se ficarmos
aqui, alguém pode chegar e nos surpreender. E se formos para a caverna
poderemos perder terreno para os inimigos.
_ Ora, vamos nos trancar aqui neste corredor e montar
turnos de guarda. Se algum inimigo aparecer, lutaremos nas condições em que
estamos. E se ninguém vier aqui, poderemos nos preparar melhor para o confronto
com Zulil – sugeriu
Legolas.
_ Mas se esperarmos mais tempo para atacar, daremos
chance aos inimigos para eles se prepararem para nos enfrentar – disse Squall.
_ Não seja tolo, Vermelho – resmungou Mex. – Eles têm nos observado todo este tempo por
estas pedras – o dragão apontou para o bloco onde a marca da árvore havia
sido destruída pelos heróis momentos antes. – Eles já estarão preparados para nós, quer aguardemos, quer entremos
agora. Vamos descansar, posso esperar um pouco mais para mastigar a carcaça
daquele tal Gulthias.
Depois de ponderar
por um instante, os aventureiros concordaram em descansar até que todos
recuperassem as forças para o que esperavam ser o último embate. Legolas lacrou
as portas congelando-as e, após definirem os turnos de vigília, os heróis
esticaram seus corpos cansados no chão. A última porta aguardaria ainda algum
tempo antes de ser finalmente aberta.
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