junho 14, 2006

Capítulo 212 – Cozinha infestada

Capítulo 212 Cozinha infestada

Retornaram para a biblioteca, onde retomaram sua busca por passagens secretas e por informações importantes escondidas nos tomos ali guardados. Glorin, juntamente com Legolas e Anix, usaram o baú abandonado para lacrarem todos os pedaços das armaduras derrotadas. Desta forma estavam seguros de que elas não poderiam voltar a se levantar para atacá-los.

Pararam um instante para descansar. Enquanto respiravam, Nailo insistia numa idéia estapafúrdia. O ranger teimava em retornar para o povoado de Carvalho Quebrado, sozinho. Dizia-se preocupado com Relâmpago, e desejava ir buscá-lo o quanto antes. Mesmo com Glorin o advertindo e tentando convencê-lo de que o lobo prateado estaria mais seguro na vila, sob os cuidados dos moradores, ainda assim Nailo não desistia da idéia. Estava determinado. No máximo se comprometia a partir durante a noite, enquanto seus amigos dormiam e não precisavam de sua ajuda para combater os inimigos. Farto de toda aquela insubordinação e das atitudes irresponsáveis e inconseqüentes do elfo, Glorin desistiu de tentar mantê-lo no grupo.

_ Hunf! Está bem então! Faça como você preferir! E se quiser ir, pode ir agora mesmo! Nós podemos nos virar muito bem sem você! Não precisamos da sua ajuda! – resmungou o anão, com total descaso, convocando o restante do grupo para prosseguir.

Legolas, que conseguira habilmente destrancar o livro do Código do Dragão encontrado por Lucano, foi cobrar uma atitude enérgica de seu capitão. Exigia que Nailo, ou qualquer outro que contrariasse as ordens do comandante, fosse severamente punido. Não se sabia se Legolas desejava realmente ver Nailo punido, ou se ele desejava apenas que o anão impedisse que seu amigo se separasse do grupo para se arriscar sozinho na selva. Talvez o que ele desejasse fosse somente parecer um bom soldado aos olhos do capitão para poder ganhar algum benefício durante o tempo em que passaria no exército.

O grupo deixou a biblioteca, desta vez reunido, como sempre deveria ser, e se dirigiu à porta imediatamente em frente. A entrada simples, sem nenhuma pompa, estava destrancada, de modo que foi fácil para eles invadirem o lugar. Glorin foi o primeiro a entrar, seguido de perto por Squall com sua lanterna iluminando o lugar. Estavam numa enorme cozinha. Armários de mantimentos e talhares, mesas, com resquícios de comida e utensílios de cozinha, repousavam intocadas há eras encostadas nas paredes. Enormes sacas rasgadas espalhavam farinha e grãos podres por todo o piso. Barris, ânforas e outros recipientes se amontoavam nos cantos no fundo do aposento. O cheiro de mofo e podridão imperava no lugar, causando repugnância nos jovens heróis. Mas uma brisa fria ajudava a aliviar o fedor. Uma das janelas, que também estavam lacradas com tábuas, tinha um rombo, do tamanho de cabeça humana, permitindo a entrada da luz e do ar exterior.

Sob orientação do capitão, o grupo se espalhou pela cozinha, para procurar por pistas, objetos de valor, mortos-vivos escondidos e, principalmente, as crianças raptadas. Enquanto todos vasculhavam a sala, Nailo aguardava do lado de fora, vigiando o corredor.

Glorin e Squall foram até o fundo do aposento, para olhar atrás das pilhas de barris que mofavam ali. Quando se aproximaram das barricas, foram surpreendidos pelo repentino aparecimento de um grupo de ratos. Vários camundongos saíram de trás dos barris, dando um susto em todos. Inicialmente, todos ficaram assustados com todo aquele alvoroço, mas logo depois sorriram, ao ver que eram apenas pequenos ratos inofensivos tentando fugir. Talvez tivessem sido os ratos os responsáveis pelo buraco na janela, escavado a dentadas para alcançar a comida estocada na despensa.

Já refeito do susto, Squall iluminou os barris com sua lanterna, e o que viu o deixou verdadeiramente assustado. Uma assustadora ratazana de mais de um metro de comprimento saltou de trás do tonel na direção do feiticeiro. O monstruoso animal investiu com suas presas afiadas, rasgando a perna esquerda de Squall. Outros ratos, de dimensões exageradas surgiram também, atacando quem quer que se colocasse entre eles e a saída.

Squall revidou o ataque com uma poderosa rajada de fogo, cozinhando as costas do pobre animal. Glorin o golpeou com toda sua força, ceifando a vida do agressor com seu machado. Ao perceber a fragilidade das criaturas, o anão suspirou, decepcionado.

Rapidamente os heróis reagiram, atacando os inimigos com suas flechas, espadas e magias. Legolas disparou com seu arco, matando duas outras criaturas. Anix atingiu outro dos ratos com um orbe mágico de ácido, deixando o animal atordoado bem diante de Lucano. O clérigo brandiu sua espada e, sem piedade, decapitou o rato que tentava se esgueirar por entre suas pernas.

Era uma batalha fácil. Fácil demais. Os ratos pareciam apenas querer fugir dos heróis, o que era sábio, já que não tinham chances de vencer uma batalha. Entendendo isso, Nailo se sensibilizou com a situação dos animais e pediu a seus amigos que não os matassem.

Glorin também já tinha concluído o mesmo que Nailo ao desferir seu primeiro ataque no agressor de Squall. O anão demonstrou uma compaixão até então não exibida, atingindo o último rato que saia do esconderijo com a lateral de seu machado. O animal caiu no chão inconsciente, mas vivo.

Restava ainda um animal, que corria desesperado em direção à porta, passando sob as mesas para não confrontar os aventureiros. Anix saltitou no chão, abrindo caminho para que o rato passasse livremente. Nailo saiu da frente da porta, deixando o caminho livre para que o animal pudesse fugir sem riscos.

O rato passou pela porta em disparada, correndo para a frente do castelo. Nailo saiu atrás do animal para segui-lo. Mais um animal de estimação, deve ter pensado ele. Enquanto isso, seus amigos retomavam a exploração do aposento, um pouco mais atentos para surpresas desta vez.

Nailo seguiu o animal até fora do castelo, perseguindo o pobre rato no meio do matagal seco que cercava o terreno da fortaleza. Então, o capim subitamente parou de se mexer. Nailo se aproximou devagar pensando em saltar sobre o animal e agarrá-lo de surpresa. Mas, não o encontrou. O ranger seguiu os rastros deixados pela criatura até próximo da muralha, onde viu um pequeno e profundo túnel que avançava solo adentro na direção do muro do castelo. Era uma toca, ou talvez apenas um túnel para passar por baixo da muralha.

O ranger desistiu do animal e decidiu retornar para seu grupo. Antes, constatou que o túnel sob a muralha ficava bem próximo à janela arrombada da cozinha, confirmando a autoria do buraco. Os ratos. Nailo voltou, em meio às arvores e ao mato alto e viu algo que lhe chamou a atenção. Perdida, no meio da vegetação, uma enorme engenhoca de madeira aguardava imóvel que o tempo e as intempéries lhe consumissem por completo. Uma catapulta.

Nailo observava a catapulta, admirado, enquanto em sua mente idéias sinistras e amalucadas começavam a se formar. Nailo tinha encontrado uma forma simples e rápida de retornar para Carvalho Quebrado e buscar seu amigo Relâmpago. Iria voando. Ao menos era para isso que ele pretendia usar aquela catapulta antiga.

O ranger voltou para dentro do castelo, ignorando o que seus amigos faziam e foi novamente até o corredor das armaduras. Sentou-se em um pedestal e pôs-se a fumar um cachimbo tranqüilamente, até que Squall foi chamá-lo.

Squall trazia consigo vários pergaminhos que havia encontrado num armário, junto com talheres, pratos e temperos, dentro da cozinha. Como os pergaminhos só poderiam ser utilizados por alguém que usasse magia provinda dos deuses, Squall os dividiu entre os dois conjuradores divinos do grupo, Lucano e Nailo. Além dos pergaminhos, os jovens haviam encontrado diversos talheres feitos de prata pura, que eles guardaram para, segundo a sugestão de Glorin, vender e comprar cerveja. De posse de seus novos tesouros, os heróis seguiram adiante, rumo à próxima sala, onde uma misteriosa fonte os aguarda, junto com novos desafios.

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