junho 29, 2005

Capítulo 66 - Uma nova visão

No grande salão de reuniões de Darkwood, uma enorme casa de madeira, onde eram tomadas as decisões importantes da vila, e também onde se realizavam as comemorações locais, Anix e seus amigos contaram à população sobre a ameaça com a qual haviam sonhado na noite anterior. A notícia de que um monstro atacaria e destruiria a vila causou pânico nos aldeões. Um clima de histeria tomou conta do local, alguns até acusavam os heróis de carregarem uma maldição com eles. Foi preciso que Sam intervisse com seu alaúde para acalmar os moradores com sua música. Sam cantou os feitos dos bravos heróis que haviam enfrentado genasis e monstros marinhos, enquanto usava sua música para fascinar as pessoas, acalmando a todos. Após muita discussão, ficou decidido que o melhor a fazer era fugir de Darkwood com todos os moradores, antes que o monstro atacasse a vila. Haviam apenas umas dez pessoas, além dos pais de Legolas e Nailo, que sabiam manejar uma arma para proteger os aldeões. Assim, ficou decidido que o grupo de heróis conduziria as pessoas até uma vila próxima e, quando todos estivessem em segurança, os aventureiros retornariam para enfrentar a criatura. O grupo começou a organizar os moradores para a fuga, reunindo todos aqueles que poderiam ser úteis em uma batalha. Infelizmente Draco havia levado consigo os melhores guerreiros e, com exceção da mãe de Nailo, apenas uma menina, aparentando não mais que doze anos, tinha habilidades para curar pessoas feridas através da magia. Ficou decidido que todos passariam a noite nas casas mais ao sul da vila, para ficarem longe dos orcs, que atacavam do oeste, e do monstro, que atacava vindo do leste. Na manhã seguinte, a aldeia seria evacuada pelo sul, até a vila mais próxima de Drakwood. Todos, com exceção de Legolas, estavam de acordo com o plano. O arqueiro só tinha um pensamento em mente, Liodriel, que estava em posse dos orcs, assim como Draco e os outros guerreiros da vila. Legolas estava decidido a resgatar sua amada na manhã seguinte, nem que para isso precisasse ir sozinho ao confronto com os orcs.
Os moradores se retiraram para suas casa, escoltados pelos heróis. Nailo e Sam criaram um alarme mágico ao redor da aldeia, para alertá-los caso algum invasor se aproximasse. As casas ao norte, leste e oeste foram evacuadas, e os moradores destas regiões foram para as casas mais ao sul, junto de seus vizinhos. Quando todos estavam em segurança, os heróis também foram dormir.
Pela manhã o grupo de heróis acordou, antes que o sol raiasse entre as árvores. Todos se reuniram em frente ao poço da vila, sem dizer uma palavra sequer, pareciam guiados, como se soubessem que os outros estariam esperando naquele local. Ao se reunirem, os heróis se voltaram para o oeste, olhando a passagem que conduzia para fora da vila. Seus corpos ou suas mentes se projetaram para frente, rumo ao oeste, numa velocidade impressionante. Os heróis viram milhares de árvores passando por eles em poucos segundos. Todos sentiam uma sensação estranha, como se estivessem fora de seus corpos. Essa sensação lhes revelou o que estava acontecendo, aquilo só podia ser mais uma visão. Suas mentes viajaram vários quilômetros para o oeste, até que pararam subitamente, diante de uma montanha com o formato de um dente de pedra. Os aventureiros começaram a subir, como se estivessem sob o efeito de alguma magia de levitação. Flutuaram até ficarem acima da montanha, então caíram. No momento em que iam se chocar com o solo, algo estranho aconteceu. Eles atravessaram o chão e penetraram montanha adentro. Após atravessarem vários metros de terra e pedras, eles chegaram em uma caverna, onde vários orcs mantinham pessoas presas em uma jaula. Não houve tempo para fazer nada por aquelas pessoas que gritavam por socorro, desesperadas. Eles continuaram afundando na montanha, enquanto assistiam aos apelos dos prisioneiros torturados pelos orcs. Atravessaram mais alguns metros de terra, na mais completa escuridão, até chegarem a um grande salão de paredes cobertas de cristais. Sem poder fazer qualquer coisa, os heróis continuaram descendo. Em sua jornada rumo ao centro de Arton, passaram por mais outro salão esculpido na montanha, onde várias criaturas os aguardavam. Os heróis só puderam ver os vultos das criaturas, antes de afundarem novamente no solo, enquanto ouviam o som de martelos sendo batidos sobre o ferro. Enfim, muitos metros abaixo, sua jornada terminou, em uma gigantesca caverna com um lago subterrâneo. Os heróis pararam de afundar e viram, no centro do lago, um enorme coração negro pulsando. O coração começou a desaparecer lentamente, enquanto ao seu redor um corpo se materializava. Um vulto negro de grande tamanho englobou o coração, e avançou na direção dos heróis, abrindo suas asas negras e agitando sua enorme cauda. Os heróis ouviram um grito de socorro e viram, numa gruta ao fundo da caverna, uma bela elfa ruiva semi-nua, acorrentada sobre uma grande pilha de tesouros. Ao seu lado, uma outra sombra, menor que a anterior, a ameaçava com uma espada. O monstro bateu suas asas, levantando vôo e indo em direção aos heróis. A visão dos aventureiros foi escurecendo, à medida que o monstro se aproximava, até que eles despertaram do sonho.
Todos acordaram ao mesmo tempo, e novamente haviam tido o mesmo sonho. Sem perder tempo, os heróis se prepararam para partir, não com os aldeões, mas em busca de seu destino. Legolas reuniu provisões e tudo que encontrou de útil na casa dos Ranil. Despediu-se de seu pai, e pediu-lhe que explicasse a sua mãe o que acontecera. Do outro lado da vila, Nailo se despedia de seus pais. Sua mãe lhe deu as poções mágicas que possuía e lhe desejou boa sorte. Nailox abraçou o filho, dizendo que ficaria encarregado de proteger os aldeões durante a fuga. O velho ferreiro, disse que faria um arco de madeira negra para o filho e exigiu que ele prometesse buscá-lo em Folen. Com a promessa feita, pai e filho tinham a certeza de que se encontrariam novamente. Os heróis se reuniram em frente ao poço de Darkwood, antes do sol nascer, exatamente como no sonho, e partiram para o oeste, rumo ao seu destino.

Capítulo 65 - Sustos no cemitério

Após isso, os dois elfos se encontraram com seus amigos e foram até a casa de Nailo. Lá eles contaram a Nailox sobre o “beijo” que seu filho e Squall haviam dado um no outro, deixando o homem ainda mais preocupado com o filho. Legolas comprou do criador e treinador de animais uma coruja branca, um belo animal de estimação. Depois, ele, Anix e Squall foram até a casa do senhor Avilan, o ancião do local.
Avilan era um elfo já com mais de quinhentos anos de vida. Sua grande experiência fazia dele um homem respeitado e procurado por todos para servir de conselheiro para os mais diversos tipos de assuntos. Os três saíram em companhia de Nailo, que foi até o cemitério da vila para sepultar seu antigo amigo Smeágol. O restante do grupo ficou na casa de Nailo, na simpática companhia de seus pais.
Nailo se separou de seus amigos, indo para o cemitério, enquanto eles rumavam para a casa do ancião. Anix, Legolas e Squall bateram à porta de Avilan, que os recebeu em sua casa com grande alegria. Eles contaram ao homem sobre a visão que haviam tido e perguntaram-lhe se ele poderia saber o significado daquilo. Também indagaram o homem sobre a maçã que haviam recebido de Allihanna, mas mesmo com toda sua experiência o homem não pode ajudá-los. Anix, temendo que a criatura do sonho atacasse a vila como eles haviam sonhado, pediu ao velho para evacuarem a vila, e para comprovar a veracidade das suas visões, contou sobre Enola e seus poderes. Ao mencionar a visão da Ninfa sobre “o coração negro que vivia embaixo da terra”, o ancião estremeceu. Ao ligar os fatos do monstro que vivia sob a terra, e dos mortos-vivos que matavam Nailo e os outros no sonho, Avilan concluiu que só havia um lugar onde a criatura poderia surgir, o lugar temido e evitado por todas as pessoas do mundo, o cemitério. O mesmo cemitério onde Nailo estava sozinho e indefeso.
Avilan pediu aos heróis que encontrassem um clérigo para abençoar os mortos e impedir que eles se levantassem como zumbis. Anix disse ao homem para avisar todas as pessoas da vila sobre o perigo e lhe disse para encontrar Lucano na casa de Nailo, para que ele abençoasse ao mortos de Darkwood. Enquanto o velho corria para a casa de Nailo, os outros três foram correndo até o cemitério para socorrer Nailo, que poderia estar em grande perigo.
Nailo chegou ao cemitério após o pôr-do-sol. A escuridão da noite fazia com que o ranger se sentisse inseguro naquele lugar tão temido e evitado. Ele se lembrou do sonho e dos mortos-vivos que o devoravam e sentiu que podia estar em perigo. Ordenando a relâmpago que ficasse longe do cemitério, Nailo começou a cavar uma cova para enterrar Smeágol. O ranger cavava com lágrimas nos olhos, lembrando-se com carinho dos grandes momentos que passara com seu amigo lobo. Então ele viu algo que o fez estremecer. No meio das muitas sepulturas que haviam ali, Nailo viu várias luzes flutuando, sem produzir som algum. Imediatamente ele sacou seu arco e disparou contra as luzes. Os pequenos objetos luminosos se desviaram do projétil que se perdeu na escuridão. Relâmpago passou ao lado dele correndo, como se fosse buscar a flecha de seu amigo, achando tratar-se de uma brincadeira. O lobo prateado sentou-se próximo das luzes, abanando a cauda, enquanto esperava seu companheiro. Um neblina fina e fria tomava conta do chão e o lobo começava a desaparecer na escuridão. Armado de seu arco, Nailo foi ao encontro de seu amigo, temendo perder outro companheiro. Nailo se aproximou lentamente de Relâmpago e das luzes, até que finalmente ele percebeu que as luzes não passavam de vaga-lumes que rondavam um punhado de fezes de algum animal que havia passado por ali. Nailo fez uma carícia em seu companheiro animal e retornou para a entrada do cemitério, para a cova de Smeágol. Após alguns passos, ele parou e apontou o arco para a entrada do lugar, onde passos e vozes chegavam de forma assustadora. O ranger ficou aliviado ao ver que quem se aproximava eram Anix, Squall e Legolas, para alertá-lo do perigo que corria sozinho no cemitério. Enquanto conversavam, eles ouviram um barulho vindo do fundo do cemitério. Olharam para a direção do som e viram um vulto negro, surgindo de trás de uma lápide. Aos seus olhos o pequeno vulto era imenso e ameaçador. A criatura começo a caminhar na direção deles, deixando-os aflitos. Todos prepararam suas armas para combater o monstro, desta vez na vida real, quando o monstro começou a falar.
_ Querem parar com essa barulheira pessoal, não se pode ter sossego nem no cemitério mais? – a criatura tinha uma voz conhecida, mas ainda sim os heróis não baixaram a guarda.
_ Quem é você? – perguntou Anix, pronto para lançar um feitiço no inimigo.
_ Como assim quem sou eu? Não estão me reconhecendo, heróis? – a sombra caminhou na direção do grupo enquanto falava, até que sua aparência foi revelada pela lua. Era Sam, o bardo que eles não viam desde que haviam chegado em Darkwood. Somente naquele momento eles notaram que haviam se separado dele. Os heróis contaram tudo que estava acontecendo ao bardo que, após tentar ir embora, foi convencido a ficar a ajudá-los a enfrentar a criatura.
_ Narnia, venha para cá minha flor! É melhor você ir embora! Parece que tem um monstro aqui, mas não se preocupe, pois eu e meus amigos o mataremos! – após as palavras de Sam, uma bela moça saiu de trás da lápide onde ele estava, arrumando o cabelo e a roupa. A moça passou ao lado dos heróis com a face ruborizada. Despediu-se de Sam com um beijo e correu de volta à vila.
Em companhia de seus amigos, Nailo terminou de sepultar seu antigo amigo. Após isso, todos sacaram suas armas e se prepararam para o combate. Todos estavam decididos a utilizar a maçã de Allihanna contra a criatura caso ela surgisse. Então os heróis sentiram um leve calor atrás de si e viram uma forte luz na direção onde ficava a vila. A vila estava em chamas, eles imaginaram. Anix pensou ainda que a moça que gritava por socorro no sonho seria agora a amiga de Sam ao invés de Liodirel. Sabendo o que viria a seguir os grupo correu entre as árvores, desviando-se da entrada do cemitério, na esperança de surpreender a criatura por trás. Ao chegar à vila, vira que ela não estava em chamas, mas todas as casas estavam vazias. Legolas entendeu o que estava acontecendo e correu até a entrada do cemitério, onde encontrou os moradores reunidos por Avilan, seguindo Lucano que entrava no cemitério portando o símbolo de Glórien para expurgar qualquer mal que ali existisse. Após o clérigo abençoar todos os túmulos, a vila inteira se reuniu no grande salão para decidir o que fariam dali para frente.

Capítulo 64 - Reencontro com antigos amigos

Assim, enquanto ouviam sobre os acontecimentos recentes de Darkwood, as horas foram passando e a noite foi se aproximando. Na casa de seus pais, Nailo recebeu um presente. Relâmpago, um lobo prateado, com uma mancha amarela em forma de raio no olho direito seria seu novo companheiro de viagem.
Algum Tempo depois, Squall chegou à casa de Nailo. Lá, o feiticeiro foi muito bem recebido pelos pais de seu amigo. No entanto, Nailox demonstrava preocupação com a masculinidade de seu filho, ao perguntar a Squall se ele o estava deixando afeminado. Squall demonstrou seus poderes mágicos a Nailox, dando-lhe uma força sobrenatural com um de seus feitiços. O velho ferreiro aproveitou a nova força para trabalhar em uma arma que estava criando e com isso ganhar tempo. Como recompensa, o pai de Nailo prometeu dar a Squall uma arma. Nailo combinou secretamente com seu pai que daria ao feiticeiro uma das armas que havia recolhido dos orcs mortos por Mavastus.
Enquanto isso, Legolas e Anix saiam da casa dos Ranil para ir até a casa de Liodriel, conversar com os pais dela. Enquanto os dois saiam, os demais heróis ficaram na com os pais de Legolas, ouvindo os detalhes do ataque dos orcs.
Na casa de sua noiva, Legolas e seu amigo foram recebidos por Lioniel, a irmã mais velha de Liodriel. A bela elfa de longos cabelos cor de fogo recebeu o arqueiro com socos, tapas e ofensas. Lioniel culpava a ausência de Legolas pela desgraça que havia caído sobre sua irmã e, ao vê-lo, perdeu o controle. Anix tentou segurá-la, e acabou apanhando também. Quando a moça finalmente se acalmou, os dois puderam entrar na casa. Lá dentro, foram recebidos por Alana e Anuril, respectivamente a sogra e o sogro de Legolas. O casal mostrou-se feliz ao rever o arqueiro, principalmente após ele prometer resgatar Liodriel. Legolas foi com seu sogro até o quarto de Liodriel, em busca de pistas que revelassem algo mais sobre seu seqüestro. Enquanto isso, Alana, sempre simpática, fazia sala para Anix, junto de sua sempre agressiva filha.
Admirado com a beleza da cunhada de seu amigo, Anix não se conteve e passou a flertar com a moça. Ele se exibia, usando seus poderes mágicos para deixar as duas impressionadas, mas a moça não parecia estar gostando muito dos truques do mago e foi para a cozinha irritada. Anix foi atrás dela se desculpar e aproveitar os poucos momentos que teriam a sós para tentar conquistá-la. Enquanto isso, Legolas buscava informações no diário de Liodriel. No diário, ao ler suas últimas páginas, ele descobriu que Binah, o jovem chamado de Draco, havia demonstrado interesse por sua noiva. Legolas teve a confirmação do amor de Liodriel por ele, ao ler que ela havia recusado todas as investidas do jovem rapaz, apenas para se guardar para ele. Sabendo que sua noiva o esperava, Legolas retornou para a sala, junto com Anuril.
Notando a falta de seu companheiro, Legolas foi até a cozinha, onde Anix fazia elogios a Lioniel. Legolas fez um gracejo, e despertou novamente a fúria da moça que passou a atirar-lhe panelas e pratos. Anix fingiu ser ferido e se atirou ao chão, gritando de dor. Lioniel o socorreu e fez um curativo em sua cabeça. Anix conseguia assim ganhar aos poucos a simpatia da moça.

junho 24, 2005

Capítulo 63 - Darkwood, a vila em perigo

A caravana viajou desde o nascer do sol até o meio da tarde, sem parar para nada, nem para comer. Por volta das duas da tarde, do dia 6 de Luvitas, um Jetag, o grupo finalmente alcançou a entrada da vila. Legolas foi o primeiro a entrar, orando aos deuses para que o sonho não tivesse se realizado. Mas já era tarde demais. No local onde outrora ficava a casa de sua família, agora só restavam cinzas e escombros. Ele olhou em volta, vasculhando cada centímetro da vila com seus olhos. Desde a casa do ferreiro, passando pelos estábulos, até as plantações da vila. Tudo destruído. Os moradores reconstruíam suas casas, que tinham paredes quebradas e queimadas, mas ainda estavam em pé. Em relação ao sonho que haviam tido, a vila estava em ótimas condições, o que serviu de alívio para todos. O grupo foi entrando na aldeia lentamente, observando cada detalhe do lugar. Nailo viu a casa de seus pais e correu em disparada para lá. Legolas reconheceu um dos moradores, que trabalhava remendando a parede de sua casa, e foi até ele com seus amigos.
_ Boa tarde senhor Silgan! O que aconteceu na vila? O que aconteceu com Leondil e Eire Greenleaf? – a ansiedade era tanta, que Legolas se esqueceu do disfarce e chamou o alfaiate pelo nome.
_ Boa tarde estranho! Fomos atacados por um bando de orcs! Eles destruíram nossas casa e nos roubaram! Por acaso você conhece os Greenleaf? Eles estão hospedados na casa dos Ranil, enquanto não reconstroem sua casa! – felismente o homem não notou a falha do arqueiro e não o reconheceu embaixo do disfarce.
_ Não, só conheci o filho deles há alguns dias atrás! Você disse orcs, nós os matamos há alguns dias! Eram quase cem! Nós os pegamos ao norte daqui!
_ Que boa notícia, é a melhor notícia que eu tenho em duas semanas! E como está a moça?
_ Qual moça? – Legolas sentiu um calafrio na espinha nesse momento.
_ Uma elfa de longos cabelos vermelhos! Ela foi seqüestrada pelos orcs há cerca de uma semana! Como ela está?
_ Ela não estava com eles! Agora, me conte está história em detalhes, por favor! – Legolas passou a mão no rosto, desesperado ao saber que sua noiva estava em posse dos orcs. Seu disfarce caiu, e Silgan o reconheceu.
_ Legolas, é você!? Venham comigo, vou levar vocês até onde os Greenleaf estão!
O alfaiate conduziu o grupo até a casa onde viviam Vatasha e Laeran Ranil, um casal de elfos já bastante idosos, que haviam acolhido os pais de Legolas após o incêndio de sua casa. Legolas encontrou sua mão em bom estado, e suas lágrimas correram enquanto ele a abraçava. Leondil, o seu pai, estava de cama, com o corpo todo ferido. O elfo se levantou, ajudado pelo filho e pela esposa. Todos se sentaram em volta de uma mesa, enquanto a senhora Vatasha servia um cozido aos viajantes famintos. Após abraçar seu filho, emocionado, Leondil começou a contar o que havia acontecido.
_ Tudo começou há duas semanas. Um grupo numeroso de orcs, dezenas deles, atacaram o vilarejo durante a noite, pegando todos de surpresa! Essas criaturas vis e sujas chegaram ateando fogo nas casas com suas tochas e armaram uma emboscada, bem ao estilo orc de ser! Enquanto os moradores saiam de suas casas, para fugir do fogo, eram pegos de surpresa pelos orcs que os atacavam com flechas e espadas! Fomos pegos de surpresa, o que deu uma grande vantagem aos malditos! Várias pessoas ficaram feridas e muitas até morreram! Liodriel inclusive, quase foi morta por eles neste dia! Se não fosse pelo jovem Binah Baenlyl, aquele que todos chamam de Draco, o garoto que adorava desenhar dragões quando pequeno, se não fosse por ele, sua namorada estaria morta! Ele se colocou entre ela e os orcs que a cercavam, e recebeu todas as flechas que seriam para ela, enquanto Liodriel fugia pela floresta! Você deve ser grato a ele! Felizmente nós encontramos o garoto a tempo de salvá-lo! Bem, nossa reação demorou por causa da armadilha armada pelos orcs, mas quando não começamos a combater, eliminamos vários deles, e os sobreviventes fugiam para o oeste! Tudo parecia tranqüilo, nós enterramos os mortos e cuidamos dos feridos! Parecia que os orcs não se atreveriam a retornar aqui. Mas eles se atreveram! Os desgraçados voltaram e começaram a nos pegar separadamente! Aqueles vermes me emboscaram, enquanto eu estava sozinho e me atacaram pelas costas! Não tive chances de reagir. Eles me quebraram várias costelas, um braço e uma perna, e se não fosse pela ajuda de Draco, eu não estaria aqui agora! O jovem Draco reuniu os melhores combatentes e partiu atrás dos malditos orcs para exterminá-los! Isso já faz mais de uma semana! Os rapazes não voltaram, nem mandaram qualquer mensagem! Então, a cerca de três dias, os orcs atacaram novamente. Desta vez, eles não destruíram nem roubaram nada! Eles apenas levaram Liodriel, que estava caminhando durante a noite pela vila. Só fomos notar sua ausência no dia seguinte, foi quando mandamos dois mensageiros em busca de ajuda para resgatar Liodriel e o grupo de Draco...se é que eles ainda estão vivos!
O pai de Legolas não conteve a emoção e caiu em pranto, nos braços de sua mulher. Do outro lado da cidade, na casa dos Anyldur Beliondil, Nailo ouvia a mesma história da boca de Nailox, seu pai. O velho ferreiro local contou ao jovem ranger a história da tragédia de Darkwood, enquanto sua mãe Esparta lhe dava o que comer. Nailo contou ao seu pai o triste fim que Smeágol tivera nas garras do troll, e o seu pai tentou confortá-lo. Do outro lado da pequena vila, os outros também tentavam confortar Legolas, mas isso já era impossível. A visão que haviam tido durante a noite havia se concretizado. Liodriel estava de fato em grande perigo, bem como o lar de Legolas e Nailo. Sem poder contar com a ajuda dos mensageiros que haviam partido há apenas dois dias, somente eles e seus amigos podiam cumprir a missão de resgatar aqueles que estavam em perigo e eliminar a ameaça dos orcs. Era o início de uma nova jornada de aventuras e perigos que o grupo de jovens heróis teria que enfrentar.

junho 23, 2005

Capítulo 62 - Sonho

A caravana seguiu sua jornada rumo ao sul por mais alguns dias, mas desta vez, com dois integrantes a menos. A floresta ia se tornando mais e mais escura à medida que os heróis avançavam. Pela cor da madeira das árvores, mais escura que o normal, Nailo e Legolas sentiam que sua vila natal já estava próxima. Então o grupo parou para acampar, numa noite em que a lua em escudo brilhava entre as copas das árvores. Legolas e Nailo sabiam que sua casa estava a apenas um ou dois dias dali. O grupo montou um acampamento à beira da estrada, sob as árvores. Nailo usou um encantamento para proteger a área ao redor deles contra invasores e todos foram dormir.
Já era muito tarde quando Legolas acordou. O arqueiro despertou subitamente na madrugada, tremendo e suando de maneira estranha. Legolas se sentia incomodado com alguma coisa, mas não sabia o que era. Então ele ouviu um grito de socorro vindo do sul. Legolas imediatamente reconheceu a voz que pedia ajuda. Levantou-se e vestiu-se apressado, e então correu pela estrada, seguindo em direção à voz. Nailo e os outros despertaram e o viram saindo do acampamento. Era uma atitude muito estranha, eles sabiam que alguma coisa estava errada, e decidiram segui-lo.Legolas correu alguns metros pela estrada, até encontrar uma saída que cortava as árvores à esquerda. O elfo atravessou a passagem e o que encontrou foi uma vila em chamas. A vila que ele imaginava estar a alguns dias dali, estava somente a alguns metros de distância do acampamento. O pequeno vilarejo, onde Legolas e Nailo haviam nascido, estava tomado pelas chamas. A poucos metros de Legolas, uma elfa de longos cabelos ruivos, observava o incêndio.
Ele se aproximou, chamando a atenção da moça que se voltou para ele, olhando-o nos olhos. A força do amor, mais forte que qualquer disfarce, fez com que a mulher o reconhecesse, apesar da maquiagem, da peruca e da barba falsa.
_ Legolas!!! Não venha, é perigoso! Ele vai matá-lo! – a bela elfa tinha lágrimas nos olhos e estava desesperada.
O arqueiro ignorou o pedido, e foi em direção Liodriel, sua amada. Legolas a abraçou forte, tentando entender o que havia acontecido ali, quando viu surgir uma imensa criatura de trás de uma casa em chamas. Anix e os outros chegavam neste momento, e também puderam ver o monstro surgindo. Era uma visão impressionante e assustadora. Uma gigantesca sombra, mais alta que qualquer uma das casas, caminhava entre as chamas que consumiam o pequeno vilarejo. O monstro não tinha rosto ou contornos definidos. Parecia mais um vulto de formato humanóide com olhos brilhantes na cabeça. Ele se aproximou do grupo de aventureiros, agora reunido, agitando uma longa cauda se no. Apontou suas enormes mãos para o grupo, exibindo grandes garras afiadas, e de suas costas, duas asas, negras como a noite, se abriram criando uma corrente de ar.
Sem perder tempo, Legolas disparou uma de suas Flechas Infalíveis contra o monstro, visando atingir seus olhos. Apesar de toda a perícia que o arqueiro possuía, o monstro se desviou do ataque com grande facilidade, deixando que a flecha passasse ao seu lado e se perdesse nas chamas.
Anix se concentrou, proferindo palavras mágicas, e de suas mãos, dois projéteis brilhantes partiram em direção à criatura. O feitiço se chocou contra a cabeça do monstro em duas pequenas explosões, mas o ser as ignorou, como se não tivesse sentido nenhuma dor.
Sam, o bardo que acompanhava os heróis, se aproximou do inimigo, tocando seu alaúde. A criatura parou por um momento para observar o artista, para depois, com um chacoalhar na cabeça, quebrar o encanto do menestrel. Os misteriosos poderes de Sam não haviam funcionado, era como se o monstro fosse imune a efeitos mentais. Só restava uma opção, atacar. Foi o que Lucano e Nailo fizeram, sem grandes resultados no entanto. Lucano invocou o poder de Glórien, ao mesmo tempo em que Nailo disparava com seu arco. Uma espada composta apenas de uma luz branca surgiu na frente do clérigo, que ordenou o ataque. Um raio luminoso partiu da lâmina sagrada em direção ao monstro. A criatura se defendeu com suas asas, rebatendo a flecha e desviando a direção do raio. O poder da criatura era espantoso, e era arriscado demais lutar corpo a corpo contra ela. Pensando nisso, Sairf decidiu chamar reforços. O mago agitou os braços enquanto murmurava um feitiço, fazendo com que um portal mágico começasse a surgir ao lado do inimigo.
O monstro não deu importância ao feitiço de Sairf e avançou na direção de Sam, que estava à frente do grupo. Da cabeça da criatura surgiu uma enorme boca, projetando-se para frente. As mandíbulas da criatura, ornadas com poderosas presas, se fecharam sobre a cabeça de Sam. O bardo deu um grito abafado dentro da boca do monstro e os seus amigos viram sua cabeça explodindo. O corpo do menestrel caiu, separado da cabeça, trazendo pavor aos heróis. Sam foi morto com apenas um golpe do inimigo.
Vendo o assustador poder do adversário, os heróis perceberam que deveriam mudar de estratégia. Legolas mandou Liodriel fugir para longe dali, enquanto Squall e Loand circundavam a vila, para cercarem o monstro por trás. Legolas disparou outra Flecha Certeira, arrancando o olho esquerdo da besta, parecia que o jogo começava a virar a favor dos heróis. Anix criou uma proteção mágica em volta de seu corpo, para poder combater a criatura de frente, e levou a noiva de Legolas para longe do monstro.
A criatura novamente rebateu o ataque da arma espiritual de Lucano, e com suas presas rasgou a carne de Nailo, que passava ao seu lado. Nailo continuou sua corrida, ficando atrás do inimigo, a uma distância segura, esperando seus companheiros Squall e Loand. O ranger disparou mais uma flecha, mas ela se espedaçou ao se chocar contra o corpo do monstro.
Um vórtice luminoso surgiu ao lado da criatura, e de dentro dele, um bisão saiu em disparada, atacando com violência a perna do monstro. O ataque do animal abriu uma profunda ferida na criatura. Sairf sorriu ao ver que a criatura que escolhera para evocar seria de grande utilidade. O mago apontou sua mão para o inimigo e pronunciou um verso em voz alta. Um ar extremamente frio partiu de seus dedos, para ser repelido pelo bater de asas do monstro.
Aquela aberração monstruosa parecia não se importar com os ferimentos causados e avançou. Abrindo sua boca negra, o monstro abocanhou o crânio de Sairf, deixando-o quase irreconhecível. O mago ficou atordoado com o golpe e nem notou a garra direita do monstro se aproximando perigosamente. As unhas afiadas quase partiram o corpo do elementarista em dois, jogando-o no chão já quase sem vida. A mão esquerda da criatura desceu sobre o corpo de Sairf tão rápido quanto a da direita, esmagando completamente o corpo do rapaz. Daquilo que fora um dia um humano, só era possível reconhecer os braços e as pernas em meio a uma poça de sangue, carne e ossos triturados.
Com a morte de Sairf, o monstro passou a atacar o alvo mais próximo, o bisão invocado pelo mago. As duas enormes asas atingiram o corpo do animal simultaneamente, fazendo o sangue jorrar. Logo em seguida veio a cauda, descendo dos céus como uma avalanche e atingindo as costas do bisão. O animal mugia de dor, mas mesmo assim não se abateu, enquanto o efeito da magia que o mantinha ali durasse, ele atacaria aquele ser bestial.
Vendo que Squall e Loand não chegavam para ajudar Nailo, Legolas e Anix sentiram que algo estava errado e começaram a recuar. Legolas lançou sua última Flecha Infalível, ferindo o peito do inimigo, enquanto Anix usava seus projéteis mágicos para atingir o rosto do monstro.
Os dois correram até perto de Liodriel, protegendo-a, enquanto Nailo disparava sua besta pesada nas costas do monstro. A criatura rebateu o virote disparado pelo ranger, defendeu com as asas o ataque mágico da arma de Lucano e parou os chifres do bisão com os pés. Avançou na direção do clérigo elfo, e o atacou com todas as armas que possuía. As mandíbulas do monstro esmagavam o rosto do sacerdote, enquanto suas garras lhe abriam o peito e as costas. O monstro o soltou, para logo em seguida esmagar todas as costelas de Lucano com suas duas asas. O clérigo caiu no chão, e ninguém tinha dúvidas se ele estava vivo ou morto. O monstro se virou, como se fosse recuar, e levantou sua pesada cauda para o céu. A cauda desceu como um martelo sobre o corpo de Lucano, esmagando seu corpo como a pata de um leão sobre uma indefesa formiga.
Legolas sentia-se culpado pela morte de seus dois amigos. A idéia de vir para Tollon tinha sido sua, e agora todos estavam morrendo. O arqueiro começou a perder a confiança em si mesmo e se arco já não tinha mais o mesmo efeito. Suas flechas já não atingiam mais o inimigo e ele começou a pensar que este seria o fim de todos.
_ A maçã!!! A maçã de Allihanna!!! Enola disse que ela pode acabar com o mal, vamos usá-la!!! – Anix lembrou-se num estalo do presente que haviam recebido da deusa da natureza. Usou uma magia para se tornar invisível e poder passar pelo monstro sem ser atacado. O mago caminhou até onde Nailo estava para pegar a maçã e tentar usá-la contra o inimigo.
Entretanto, Nailo não entregou a maçã ao amigo e preferiu atacar com seu arco. Impulsivo e inconseqüente como sempre, Nailo escorregou e caiu no chão, complicando ainda mais a situação para seus amigos. Caído no chão, o ranger viu o monstro atacar o bisão de Sairf quando este tomava distância para atacar. A criatura escorregou no sangue de Lucano, Sairf e Sam, que cobria todo o solo, e tombou no chão. Era o momento que todos esperavam. Legolas cravou uma flecha dentro da boca do monstro, enquanto o bisão passava correndo ao lado da besta, rasgando sua carne com os chifres. Irresponsavelmente, Nailo ignorou novamente o pedido de Anix e, ao invés de lhe entregar a maçã, disparou uma nova flecha na criatura, que já demonstrava cansaço. A flecha percorreu o ar, indo em cheio no pescoço do monstro, que soltou um urro abafado. Parecia que seria o fim da batalha. O bisão celestial correu até o monstro, golpeando sua cabeça com os chifres. O sangue do monstro, uma pasta negra, jorrou pelo ar, ao mesmo tempo em que o animal convocado pelo falecido Sairf retornava ao seu plano de origem. O feitiço de Sairf havia acabado, e a luta também. O monstro fechou os olhos, demonstrando estar vencido. Mesmo inconsciente, a criatura ainda respirava com dificuldades, e seus ferimentos pareciam se regenerar lentamente. Era preciso fazer alguma coisa rápido.
Anix sacou sua adaga, e correu na direção do monstro pronto para decapitá-lo. Legolas se aproximou e abaixou-se para poder mirar seu arco na cabeça da criatura. Nailo sacou mais uma flecha e a posicionou em seu arco, ficando no lugar onde estava. Loand e Squall nem deram sinais de vida.
Legolas mirou sua flecha no olho direito da criatura e passou a encará-la, cheio de ódio e tristeza. Quando sua mão estava pronta para soltar a corda do arco, Legolas viu, como se tudo acontecesse lentamente, o olho da fera se abrindo.
_ Esse é o momento, meus comandados!!! – o monstro se levantou, ao mesmo tempo em que gritava uma ordem com sua voz gutural.
Diante dos olhos de Legolas, dezenas de mortos-vivos saíram do solo ao redor de Nailo e o cercaram. O cadáveres atacavam o ranger com mordidas e pancadas. Nailo tentava se defender com seu arco e flecha, mas os inimigos eram muito numerosos. Das ruas próximas, uma multidão de zumbis surgiu para devorar o ranger. Entre eles estava Loand e Squall, já derrotados pelas criaturas e agora fazendo parte de seu exército. Nailo gritava desesperado, enquanto era devorado vivo, até que sua voz não pode mais ser ouvida.
Legolas ainda viu Anix se aproximar do monstro com sua adaga na mão direita. A cauda da criatura se esticou na direção do mago, perfurando seu coração. Enquanto balançada o corpo sem vida de Anix em seu rabo, o monstro se aproximava de Legolas, abrindo sua enorme boca. Do fundo da garganta da criatura surgiu uma luz branca que foi aumentando seu brilho, até que um jato luminoso saiu em direção ao arqueiro. Um líquido viscoso e fétido cobriu o corpo de Legolas e começou a queimá-lo. Era ácido. A pele do elfo começou a se desfazer como papel imerso em água. Seus dedos caíram, suas orelhas se dissolveram e seu cabelo desapareceu. Antes de perder as orelhas, Legolas ouviu um último som atrás de si. Liodriel gritava desesperada ao ver seu amado sendo corroído pelo ácido do monstro. Legolas se virou e correu para proteger sua amada.
_ Eu disse para você não vir!!! Eu avisei que era perigoso!!! – gritava a elfa ruiva para seu noivo.
O monstro bateu suas asas, levantando vôo e pousou seu enorme corpo sobre o de Legolas. O arqueiro se debatia, tentando alcançar sua amada, mas as garras da criatura o impediam até mesmo de respirar. Uma das garras do monstro segurou a cabeça de Legolas, como se tentasse mostrar a ele o que aconteceria a seguir. Legolas se debatia, ao mesmo tempo em que via um brilho branco surgir acima de sua cabeça, e sentia um líquido corrosivo caindo sobre seu corpo. O desespero fez com que ele perfurasse o olho direito na garra do monstro. Com o olho restante, Legolas pode ver um jato luminoso indo de encontro à sua amada e ofuscando a visão de qualquer outra coisa. Quando abriu os olhos, Legolas viu o sol da manhã batendo em seu rosto. Viu que estava todo suado e acordou aos gritos de um pesadelo terrível. Ao seu lado, todos os seus companheiros, inclusive Sam, também haviam tido o mesmo sonho. Teria sido somente um sonho, ou uma visão? Neste instante, todos se lembraram da vertigem que haviam tido ao se despedirem de Enola, e das visões futurísticas que a ninfa tinha de tempos em tempos. Sem perder tempo, o grupo de heróis levantou o acampamento e partiu em disparada, rumo ao vilarejo de Darkwood.

junho 21, 2005

Capítulo 61 - O adeus de Enola

Os heróis puseram-se então a recolher os pertences dos orcs mortos. Passaram quase uma hora recolhendo armaduras, espadas e machados gastos. Quando retornavam para os cavalos, foram surpreendidos. Do meio da mata, à direita dos aventureiros, um javali saltou correndo desesperado, passando muito próximo aos cavalos do grupo. Os animais se assustaram e se dispersaram pela estrada. O cavalo de Anix, sobre o qual estava Enola, correu em disparada para o oeste, penetrando na floresta. Silfo saltou da carroça, desesperado, tentando em vão segurar o animal. Enola gritava por socorro, enquanto o cavalo corria, desorientado, até desaparecer entre as árvores.
_ Salvem a bela dama!!! – gritou Sam, soltando no chão os itens que carregava. Todos seguiram a atitude do bardo e correram para resgatar Enola. Legolas e Anix pegaram os cavalos mais próximos e entraram na mata atrás da ninfa, enquanto Sairf e os outros guardavam o equipamento pilhado dos orcs.
Anix e Legolas corriam o mais depressa que podiam, sempre guiados pelos gritos aflitos de Enola. Encontraram Silfo, já vencido pelo cansaço, que saltou sobre o lombo da montaria do mago para não ficar para trás.
_ Heart, encontre Enola! – o falcão alçou vôo a partir do ombro de Anix, servindo de referência para que os heróis pudessem encontrar o caminho até a ninfa em perigo.
Então veio o silêncio. Os gritos desesperados de Enola e o som dos casco do cavalo cessaram por completo. Heart of Dark mergulhou num vôo rasante, muito metros à frente do grupo, desaparecendo entre as árvores. O falcão não fazia contato mental com seu mestre, e o medo começou a tomar conta de todos. Subitamente, os cavalos diminuíram o ritmo da marcha, e prosseguiam em frente, sem obedecer a nenhum comando dos cavaleiros. Havia uma forte luz à frente, que aumentava ainda mais o clima de tensão dos heróis. O ambiente foi se tornando mais claro e ar árvores ficavam cada vez mais esparsas, à medida que o grupo avançava. Os heróis já não tinham mais noção de onde estavam, ou do quanto haviam entrado na mata. Então um grande jardim de flores surgiu à frente de todos. Numa clareira, escondida entre as árvores negras de Tollon, um enorme jardim natural abrigava milhares de flores. De uma elevação rochosa ao fundo, jorrava uma cascata de água cristalina, formando um pequeno riacho. Na borda do jardim, o cavalo de Anix repousava, deitado na relva. No centro da clareira estava Enola, ajoelhada no chão, conversando com um pequeno cervo branco.
Os heróis entraram no local, completamente paralisados. Não sabiam se de medo, ou se a beleza do lugar os havia fascinado a ponto de imobilizá-los. Só o que sabiam é que uma sensação de paz dominava aquele lugar. Então Enola se levantou e estendeu o braço delicadamente na direção do grupo. Sairf e os demais chegavam neste momento e puderam ouvir a ninfa dizendo:
_ São eles minha senhora!
A corsa caminhou lentamente na direção dos heróis, parando em frente a eles. De seu corpo totalmente branco, emanava uma aura que acalmava a todos.
_ Então vocês são os jovens que cuidaram da minha doce criança?! Eu lhes sou grata por a terem protegido durante todo este tempo. Enola ficara aqui neste santuário a partir de agora. Seu destino será proteger este lugar até o final de seus dias! – o cervo se expressava com uma voz feminina que preenchia todo o ambiente, como se estivesse em todos os lugares.
_ Quem é você? – perguntavam os heróis, já imaginando a resposta.
_ Eu sou Allihanna! – todos estremeceram, pois diante deles estava ninguém menos que a própria deusa da natureza.
Anix entristeceu, ao sentir que se separaria de sua amada, mas foi rapidamente confortado pela deusa.
_ Enola ficará aqui, este é o destino dela! O destino de vocês está em outro lugar, mas vocês sempre serão bem vindos a este santuário, e poderão visitá-la sempre que desejarem!
_ Mas eu não quero ir embora, eu quero ficar com Enola, eu a amo! – Anix tinha lágrimas em seus olhos ao dizer estas palavras.
_ Eu sei de seus sentimentos jovem elfo! E saiba que eles são recíprocos! Entretanto, seu destino não é ficar aqui agora! – as palavras da deusa diminuíram a dor no coração do mago. A deusa voltou a dirigir a palavra para o grupo.
_ Jovens aventureiros! Para cumprirem esta missão para mim, eu fiz um acordo com os outros deuses, para que me cedessem seus filhos por algum tempo. Saibam que por um breve instante, todos os deuses voltaram suas atenções para vocês. A missão de vocês termina aqui. Eu lhes agradeço por protegerem minha criança e lhes recompensarei por isso. Agora você seguirão seus destinos, e Enola seguirá o dela! Quanto a você Silfo, você é livre para escolher partir ou permanecer aqui com Enola!
Silfo deu alguns passos jardim a dentro, e ficou ao lado de Enola. Allihanna entendeu e aceitou a decisão do sátiro. A deusa então se aproximou de Anix, Sairf, Squall e Nailo.
_ Vocês tem cuidado muito bem de minhas criaturas, e isso me deixa feliz! Quanto a você jovem ranger, saiba que eu acolherei seu companheiro em meu reino e cuidarei bem dele! Você sempre tratou muito bem dele, e poderá reencontrá-lo um dia, quando você deixar este mundo! Agora eu me despeço!!!
Um forte luz tomou conta do corpo do cervo branco, avatar de Allihanna. Todos ficaram ofuscados por um breve instante. Quando a visão dos heróis retornou, Allihanna já não estava mais lá. Em seu lugar, havia apenas uma única maçã vermelha como um rubi. Nailo recolheu a maçã do chão, enquanto Enola e Silfo se aproximavam do grupo.
Enola e Silfo se despediram com lágrimas nos olhos, agradecendo aos amigos pelos bons momentos que haviam passado juntos. Silfo abraçou a todos com emoção e, quando chegou a vez de Squall e Nailo, o sátiro não conteve as lágrimas. Silfo os abraçou com força, dizendo que os dois seriam sempre seus amigos. Enola se despediu abraçando cada um dos heróis. Cada um que recebia seu abraço caloroso sentia uma suave vertigem, talvez por causa de sua beleza estonteante, ou pelo poder da deusa, ainda presente no local. Então Enola abraçou Anix por um longo tempo. Suas lágrimas corriam pela sua face e ao caírem no chão, faziam brotar pequenos botões de flor. Enola acariciou o rosto de Anix, olhando profundamente em seus olhos, e disse que jamais o esqueceria.
_ Eu também não a esquecerei, Enola! Eu a amo!
_ Eu também o amo Anix!
Com lágrimas nos olhos, Anix beijou a ninfa, e aqueles poucos segundos pareceram uma eternidade para ele. Os lábios macios de Enola e o sabor de mel que vinha de sua boca eram como encontrar o paraíso em Arton. Se morresse naquele instante, Anix morreria feliz.
Enola terminou de se despedir de seu primeiro amor. Depois se aproximou de Nailo, tomando a maçã de suas mãos.
_ Esta maçã é um presente da deusa para vocês meus amigos. Ela tem o poder de eliminar todo o mal. Vocês saberão o melhor momento para usá-la!
Os heróis saíram do jardim, acenando para Enola e sentindo-se mais leves e felizes. Sem que nenhum deles notasse, todos os ferimentos que haviam recebido na luta contra os orcs haviam sido curados pela deusa da natureza. Assim, no dia do solstício de inverno, conhecido como noite longa, do ano de 1397, do calendário élfico, Anix e seus companheiros se despediram de Enola e Silfo, deixando para trás um grande amigo, e um amor verdadeiro.

junho 20, 2005

Capítulo 60 - Cem corpos na mata - o ranger solitário

A caravana prosseguiu, deixando o inimigo morto para trás. Nailo levou consigo os restos mortais de seu companheiro animal, para enterrá-los em sua terra natal. Os heróis continuaram sua jornada por mais alguns dias, tendo sempre as montanhas geladas à sua esquerda e bosques à sua direita, muito distantes, já na linha do horizonte. Então, no dia 18 de Dantal, um valag, o grupo notou que a distante floresta ao sul se tornava cada vez mais e mais escura. Então Legolas deu o aviso:
_ Amigos, já estamos em Tollon!!!
A caravana desviou sua rota para o sul, entrando no reino da madeira negra. Neste instante Legolas retirou de sua mochila uma peruca negra e uma barba falsa. O elfo se disfarçou e escurece sua pele com a maquiagem do kit de disfarces que havia comprado dias atrás em uma das vilas que encontraram pelo caminho. Legolas explicou aos amigos que era procurado no reino de Tollon por ter matado um soldado que havia assassinado seu avô, e pediu aos seus amigos que o chamassem de Duriel, enquanto estivessem em Tollon.
Viajaram vários dias rumo ao sul, até que encontraram um obstáculo em seu caminho. Um homem, parado na beira da estrada, vestindo armadura de couro, apontava seu longo arco para a mata ao leste.
_ Afastem-se daqui! É perigoso para vocês! – o estranho homem advertiu o grupo com sua voz grave, ao ouvir um grito de Legolas.
_ O que está acontecendo? O que tem na mata de tão perigoso? – perguntou Legolas, assustado.
_ Orcs, vários deles!
Legolas saltou de seu cavalo e correu na direção do homem, armado de seu arco, sendo logo seguido por seus amigos.
_ Olá, sou Leg.., digo, Duriel!
_ Não é hora para apresentações Duriel, use esse seu arco logo, se deseja permanecer vivo!!! – o homem repreendeu Legolas, ao mesmo tempo em que disparava uma flecha. A flecha atravessou o peito de um dos dez orcs que avançavam pela mata, armados com enorme falciones, e terminou seu trajeto cravando-se em uma árvore. O orc caiu no chão frio da mata, seu corpo já sem vida.
Legolas disparou contra outro orc, atingindo seu peito e matando-o instantaneamente.
_ Luta muito bem Duriel, parabéns! – o homem sorriu para Legolas, enquanto preparava seu próximo ataque.
Anix chegou em seguida, gritando para Silfo e Sam ficarem com os cavalos. Enquanto o bardo reunia os animais, Anix atingiu o pescoço de outro dos orcs com uma flecha. O sangue jorrava a cada batida do coração da criatura, até que seu corpo atingiu o solo já quase sem sangue.
O próximo ataque veio do arco de Squall, entretanto o seu inimigo se desviou e os orcs atacaram. Um dos inimigos parou em frente ao feiticeiro e atacou-o com a falcione. Squall sentiu o aço frio penetrando em seu ventre, enquanto seu sangue escorria pela mata. Um dos orcs passou ao seu lado, com a guarda baixa, e Squall não desperdiçou a chance, atingindo-lhe uma flecha na região glútea. O orc, que já devia estar ferido, tombou morto, antes de alcançar seu alvo. Squall, distraído com o inimigo que passou correndo, recebeu um novo golpe, ficando gravemente ferido.
Lucano invocava o nome de Glórien, quando viu um dos orcs correndo em sua direção. A falcione, segurada como se fosse uma lança, atingiu o estômago do clérigo, e quase atravessou seu corpo. Lucano recuou, segurando a barriga aberta pelo inimigo e terminou sua conjuração. A espada mágica de Glórien surgiu diante do orc e abriu seu corpo de cima a baixo, tirando-lhe a vida.
Ao lado do clérigo, Legolas se esquivava de um inimigo, enquanto eliminava outro com seu arco, impedindo-o de chegar até Nailo. O ranger retribuiu, eliminando com sua espada o orc que havia tentado atingir Legolas. O orc caiu sem vida, com a traquéia rasgada pela espada de Nailo, enquanto Sairf congelava o peito de outro inimigo com sua mágica. Com o tórax congelado, o monstro pragejou, amaldiçoando o elementarista que comemorava o ataque bem sucedido.
Próximo das carroças, Anix encontrava-se em situação difícil. Um dos orcs, correndo com a ponta da falcione raspando no chão da floresta, havia aberto um rasgo no peito do mago, e estava prestes a eliminá-lo.
Então, o estranho homem ajudado pelos heróis, sacou duas flechas e as disparou quase simultaneamente contra os inimigos que ameaçavam Squall e Sairf. As flechas atravessaram os corpos das criaturas e fincaram-se nas árvores atrás dos orcs, antes que seus corpos atingissem o chão. Impressionado com a habilidade daquela misteriosa figura, Legolas entrou na mata, cercando por trás o orc que atacava Anix. Disparando uma flecha na nuca do adversário, Legolas salvou o amigo da morte.
Todos se reuniram novamente, à beira da estrada e se apresentaram ao entranho. O homem se chamava Mavastus, e fazia parte do grupo de rangers que patrulhavam o reino de Tollon. Sam finalmente se reuniu com os companheiros e ficou admirado com o feito do grupo.
_ Nossa meus amigos! Vocês foram incríveis, eliminaram quase uma centena de orcs, isso é fantástico!!
Todos olharam para a mata sem entender as palavras do bardo e viram que nas profundezas da floresta, jaziam dezenas de corpos de orcs mortos.
Mavastus confirmou que ele havia eliminado os outros orcs, deixando todos boquiabertos com sua habilidade. Após trocar algumas poucas palavras com os heróis, o ranger se abaixou, examinado o solo em busca de pegadas, retirou uma bolsa de moedas e a falcione de um dos orcs.
_ Vou levar isso aqui comigo! O resto pode ficar com vocês! – o ranger deu um assovio enquanto se levantava, e do meio da floresta surgiu um tigre gigantesco, um tigre atroz. Mavastus subiu nas costas de seu companheiro, enquanto os heróis alisavam o seu pêlo, admirados com sua beleza. Anix lhe presenteou com uma porção de rações de viagem, recebendo a gratidão do homem. Mavastus se despediu dos heróis, agradecendo-os pela ajuda e partiu, rumo ao oeste, desaparecendo na mata.

junho 17, 2005

Capítulo 59 - Troll picolé

Assustados com os rumores que haviam ouvido sobre uma doença mágica que começava a se espalhar pelo reino de Lomatubar, os heróis decidiram que seria prudente desviarem deste reino. Assim, a caravana atravessou o reino de Fortuna rumo ao norte, em direção às Montanhas Uivantes.
Vários dias se passaram até que o grupo de aventureiros entrou no território da rainha dos dragões brancos. A vegetação se tornou escassa, o frio era intenso e havia neve e gelo por quase toda a parte. Mais ao norte, era possível ver cadeias de montanhas congeladas, compondo uma paisagem branca quase sem fim. Ao sul, estava o reino amaldiçoado, Lomatubar. Até chegarem ao território das Uivantes, os heróis sempre viajaram por estradas e trilhas comerciais, ficando livres de problemas. Entretanto, nos dias em que passaram pela fronteira entre as Uivantes e Lomatubar, o grupo atravessou uma região inóspita e a tranqüilidade dos dias anteriores desapareceu quando uma nova batalha mortal teve início.
Era o dia 13 do mês de Dantal, um Lanag, o grupo foi surpreendido pela chegada de uma imensa criatura, vinda das colinas ao norte. Um ser grotesco, mais alto que dois humanos juntos, de braços extremamente longos que terminavam em mãos com enormes garras afiadas. O corpo aparentemente macio tinha tons verdes e parecia recoberto de plantas, além da neve. Ao avistar o grupo, o monstro correu na direção dos heróis, urrando, e com as garras à frente de forma ameaçadora.
_ É um Troll!!! – gritou Nailo, alertando seus amigos do perigo.
Rapidamente Anix desceu de seu cavalo para combater a criatura. O elfo ordenou que o animal recuasse, para manter Enola em segurança. Anix foi andando lentamente na direção do gigantesco Troll, enquanto Legolas saltava de seu cavalo. Os pés de Legolas se enroscaram nos estribos da sela, e o arqueiro caiu no chão gelado, sofrendo alguns pequenos arranhões. Ele se levantou rapidamente e atacou. Sua flecha passou sobre a cabeça de Anix, indo se chocar contra o corpo do Troll. Apesar do ferimento no pescoço, a criatura parecia não se importar com o dano sofrido e continuava a avançar.
Nailo desceu de sua carroça também de forma desajeitada, disparando sua besta pesada contra o inimigo. Desequilibrado, o ranger errou seu ataque. Nailo deu um assovio para seu companheiro Smeágol, ordenando que o lobo atacasse. Esse fora o maior erro de Nailo. Ninguém ali conhecia a verdadeira força de um Troll, e todos atacavam imprudentemente, como se estivessem enfrentando apenas kuo-toas. Smeágol seguiu cegamente as instruções de seu amigo. O lobo correu até o inimigo e saltou com suas mandíbulas à mostra. Os longos braços do Troll o alcançaram primeiro, rasgando o ventre do animal com suas garras. Smeágol caiu sobre o Troll e, mesmo muito ferido, mordeu-lhe o pescoço com violência. O lobo saltou, ficando no chão em frente ao Troll, latindo e rosnando para afugentá-lo. Entretanto a criatura não se intimidou com as ameaças do animal. Levantando seus dois braços, o troll soltou um urro que ecoou por toda aquela imensidão branca. As garras da criatura desceram como suas foices, e penetraram na carne de Smeágol. O lobo soltou um gemido de dor enquanto seu sangue jorrava. Num movimento rápido, o Troll abriu os braços, traçando um X no ar, e partindo o corpo do pobre lobo em pedaços. Smeágol estava morto.
Todos ficaram atônitos diante da cena. O silêncio foi quebrado pela prece de Lucano. Evocando o nome da deusa dos elfos, o clérigo fez surgir diante de si uma espada mágica que voou até a direção do troll, ferindo-o no peito. Apesar dos ferimentos, o monstro não recuava e, para espanto ainda maior de todos, as feridas começaram a se fechar lentamente. Os ferimentos do monstro começaram a se regenerar. Squall desceu do cavalo num salto, pegou um pergaminho em sua bolsa, e lançou um feitiço em forma de estaca, extremamente brilhante, contra o corpo da criatura. Nem mesmo o míssil mágico surtiu efeito e a ferida aberta por ele fechou instantaneamente. Os heróis se encontravam numa situação delicada. Seu inimigo era extremamente forte, e seus ataques não surtiam efeito. Pra piorar a situação, um dos seus já estava morto.
Foi então que Sam mostrou suas habilidades de bardo. Enquanto descia da carroça, tranqüilamente, o menestrel tocava uma agradável canção. Sam desceu da carroça e deu alguns passos na direção do inimigo, encarando-o enquanto tocava. Todos se surpreenderam quando o Troll parou e começou a observar o bardo. A criatura se sentou sobre a neve, esmagando os poucos arbustos existentes no local, e permaneceu assistindo a apresentação de Sam.
_ Ele caiu no meu truque. Agora é o momento. Vão para trás das carroças sem chamar a atenção dele e pensem em algum plano para derrotá-lo. Eu vou ficar distraindo-o enquanto isso. – sussurrou Sam aos seus amigos enquanto fascinava o Troll com sua música.
Anix e Legolas foram para trás das carroças. Sem perder tempo, Legolas preparou duas flechas, enrolando em suas pontas os panos de uma tocha para torná-las flechas incendiárias. Legolas se lembrava de ter ouvido em algum lugar que os Trolls eram vulneráveis ao fogo. O arqueiro desejava preparar várias flechas dessa forma, entretanto não pode concluir seu plano.
O Troll soltou um urro assustador, quando Legolas e Anix olharam, viram que ele havia saído do transe e se debatia contra os pequenos arbustos que cresciam no lugar. Cego de ódio pela morte de seu amigo, Nailo despertou seu poder mágico de ranger e encantou as plantas para prenderem o monstro. Sentindo-se ameaçado, o Troll se libertou do encanto de Sam e se levantou, libertando-se das plantas. A criatura caminhou lentamente na direção dos heróis, enquanto lutava para se livrar da constrição. Para tentar impedir seu avanço, Lucano invocou uma centopéia monstruosa que surgiu no meio do caminho do inimigo. Infelizmente, a criatura evocada ficou presa na magia de Nailo, enquanto o troll podia se mover, ainda que mais lentamente.
Squall usou sua varinha mágica para fazer surgir um escorpião gigante atrás do troll, cercando-o. Infelizmente, assim como a centopéia, o escorpião também ficou enredado nas plantas animadas pelo ranger. Então Silfo agiu.
O sátiro ficou de pé na carroça, com sua flauta nas mãos. Começou a tocar uma melodia hipnótica, enquanto os heróis tampavam seus ouvidos para não serem afetados também. Ao final da canção, o troll caiu adormecido. As plantas encantadas por Nailo prenderam-no no chão, deixando o monstro em uma situação difícil. Entretanto, Sam também havia caído no sono, enfeitiçado pela música de Silfo. Anix levou o bardo para dentro de uma das carroças, enquanto Legolas se preparava para eliminar a ameaça. O arqueiro parou próximo ao monstro, com suas duas flechas incendiárias e acendeu a tocha. Enquanto Legolas riscava sua pederneira, Nailo saltou sobre o corpo do troll, cravando sua espada na garganta da criatura. O troll despertou, tentando agarrar o ranger, mas estava preso pelos arbustos e não conseguia se mexer. Lucano comandou sua espada espiritual para fazer um enorme corte na carne da criatura. O troll se debatia e começava a romper as suas amarras. Temendo um confronto direto contra o monstro, Squall se preveniu com um feitiço de proteção, criando um escudo de energia em volta de seu corpo, ao mesmo tempo em que se aproximava de Legolas. Silfo correu para ajudar seus amigos, pronto para esmagar a cabeça do inimigo com sua clava, mas acabou preso nas plantas também. Anix encantou sua própria mão e tocou na cabeça do inimigo, descarregando uma forte corrente elétrica na fera. Legolas disparou uma de suas flechas de fogo, e os heróis ouviram o primeiro grito de dor do inimigo. Ao contrário de todos os outros ferimentos, a ferida feita por Legolas não cicatrizou e todos sentiram a vitória próxima. Nailo e Lucano atingiram o pescoço do inimigo caído com suas espadas, aproveitando enquanto ele não podia se mover, e Anix disparou uma flecha dentro da boca da fera. A cabeça do troll foi separada de seu corpo e os heróis respiraram aliviados, sem saber que o perigo ainda não havia acabado. Nailo desfez seu encanto, e os arbustos da estrada voltaram a sua condição original. Com a tocha, os heróis atearam fogo no corpo do troll, eliminado de vez a ameaça.

junho 15, 2005

Capítulo 58 - A partida

Os jovens aventureiros passaram o restante do dia descansando e aproveitando o último dia da feira de Malpetrim. A roda do tempo girou e três dias tranqüilos se passaram num piscar de olhos. O robe de Legolas ficou finalmente pronto, e era chegado o momento da partida. Reunidos na frente da Estalagem do Macaco Caolho Empalhado, os heróis se despediam de seus grandes amigos.
_ Então meus amigos, para onde vão agora? – perguntava Zulil com sua voz sempre serena.
_ Nós vamos para Tollon, visitar minha vila natal. E vocês o que farão agora que a feira acabou, Zulil? – respondeu Legolas.
_ Estamos de partida também meu amigo, vamos para o oeste, ainda sem destino certo.
_ Por que vocês não vem conosco para Tollon? Tem bastante lugar nas duas carroças que eu comprei! – Nailo, como de costume, não aceitava facilmente se separar de velhos amigos.
_ Agradeço o convite Nailo! Mas nós já passamos por Tollon antes de vir para Malpetrim. Quem sabe numa outra ocasião. Bem meus amigos, é o momento, partam em paz, e que T..., que Glórien os abençoe!
Todos se despediram e se abraçaram emocionados. Legolas e Flint brincaram um com o outro. O elfo advertiu o pequenino para que ficasse longe das canecas de cerveja. Flint apenas riu. Rud se despedia agradecendo aos bons fregueses pelo tempo que haviam passado juntos. Petra tinha lágrimas nos olhos quando abraçou Anix. Então chegou a vez de Enola e Silfo.
_ O que você pretende fazer Enola?
_ Não sei Anix, esse mundo é novo para mim, não tenho noção de pra onde devo ir aqui.
_ Venham conosco então!
Enola sorriu e seus olhos brilharam como duas estrelas ao ouvir o convite de Anix. Ela subiu em seu cavalo despedindo-se de Zulil e dos outros com um aceno. Silfo subiu numa das carroças de Nailo. Assim, na manhã do dia 23 de Terraviva, tirag, os heróis partiram da Estalagem do Macaco Caolho Empalhado, deixando para trás grandes amizades, mas levando boas lembranças consigo.
A pequena caravana seguiu pelas ruas da cidade cada um montado em seu próprio cavalo, comprados com o ouro trazido de Ortenko. Enola ia na garupa do cavalo de Anix, abraçada ao elfo e admirada com tudo o que via naquele mundo novo. A bela ninfa, que vivera isolada numa pequena ilha durante toda a vida, tinha muito a conhecer e aprender sobre o continente. Enquanto atravessavam as ruas de Malpetrim, Nailo perguntava a cada pessoa que encontrava se alguém queria carona para Tollon. Já na saída da cidade, avistaram um misterioso homem encostado numa árvore. Vestia um corselete de couro, uma capa e um chapéu que cobria quase todo o seu rosto. Os heróis passaram devagar ao lado dele, observando-o.
_ Estão indo pra Tollon! Poderiam dar carona a um viajante? – indagou o homem.
_ Isso depende! Quem é você estranho? – aquela figura misteriosa preocupava Anix.
_ Ora, não estão me reconhecendo, senhores heróis? – o homem levantou o chapéu, mostrando o seu rosto. Todos o reconheceram rapidamente, era o bardo que havia cantado seus feitos na estalagem, algumas noites atrás. – Sou Sam Rael, o bardo! Muito bom dia para vocês meus amigos heróis! – o menestrel se apresentou sorridente e subiu numa das carroças, sentando-se ao lado de Nailo. Com mais um integrante, a pequena caravana de aventureiros finalmente deixou a cidade de Malpetrim.

junho 14, 2005

Capítulo 57 - Adeus amigos!

No dia seguinte, logo ao nascer do sol, os heróis deram adeus a dois grandes amigos. Yczar e Batloc estavam de partida para Altrim, onde Batloc seria ordenado paladino oficialmente, no mesmo templo onde Yczar havia se tornado um. Antes porém, o paladino entregou aos amigos quase duzentas moedas de ouro, que havia conseguido com a venda do navio e das jóias de Teztal. Anix recusou o dinheiro do navio, e o deixou com os paladinos.
_ Yczar, eu não quero esse dinheiro, fique com você, vocês precisarão dele mais do que eu em sua viagem!
_ Obrigado meu bom amigo! Bom eu ainda irei até o porto, dividir o restante do dinheiro com os outros ex-escravos, depois passarei no templo de Khalmyr para orar um pouco e então partiremos para Altrim. E vocês, o que vão fazer daqui por diante?
_ Nós iremos para Tollon daqui a três dias. Vamos até a vila onde Legolas nasceu – respondeu Anix.
_ Por que vocês não vem com a gente Yczar? – Nailo estava inconformado com a separação e desejava encontrar uma forma de não se separar dos amigos.
_ Não posso meus amigos, preciso me reportar no meu templo e relatar o que aconteceu em Ortenko. Minha missão foi cumprida, com a ajuda de vocês, e outras me aguardam. Se o grande Khalmyr permitir, tenho certeza de nos encontraremos no futuro! Por enquanto eu lhes digo adeus meus amigos, e muito obrigado por tudo. Que Khalmyr abençoe e proteja a todos, adeus!
Yczar e Batloc se despediram de todos e saíram caminhando pelas ruas de Malpetrim rumo ao sul, até desaparecerem entre a multidão nas ruas. Os heróis sabiam que os dois que partiam eram amigos verdadeiros, e desejavam encontrá-los novamente um dia.
Após a despedida, Nailo e Squall rumaram para a sede da administração local.
_ Quem são vocês e o que desejam aqui? – indagou um dos soldados da milícia local que guardava a prefeitura.
_ Nós precisamos trocar nosso dinheiro e falar com o prefeito! – foi a resposta de Nailo.
_ Me acompanhem então! – o soldado conduziu os dois para dentro da mansão da prefeitura. Lá dentro, em um grande salão decorado com tapeçarias finas, uma secretária nada simpática os atendeu.
_ Sim, o que desejam? – a voz rouca da atendente tinha um tom arrogante. Ela olhava os dois por cima de seus óculos com ar de desconfiança.
_ Eu quero trocar algumas moedas! – respondeu Squall.
_ Certo, siga por esse corredor e vire na primeira porta à esquerda. No final do corredor você encontrará uma sala com uma plaqueta escrito “câmbio”!
Squall seguiu pelo caminho indicado, enquanto Nailo tentava convencer a secretária a deixá-lo falar com o prefeito.
_ Eu quero falar com o prefeito, é muito importante!
_ Sobre o que? O que é tão importante assim para merecer a atenção dele?
_ Eu prefiro dizer diretamente a ele.
_ Se você não me disser do que se trata, não poderá falar com ele.
_ Ta bom, é que aconteceu um assassinato ontem na feira. – Nailo começou a blefar, para tentar convencer a moça.
_ Um assassinato! Isso é terrível! Você deve falar urgente com o capitão da milícia, esse assunto que deve ser resolvido por ele, não pelo prefeito!
_ Mas moça, eu já falei com ele, e ele me disse pra falar diretamente com o prefeito! – Nailo começava a ficar aflito, pois a situação ficava cada vez mais complicada.
A secretária pensou alguns instantes e resolveu conversar com o prefeito. Ela pediu a Nailo que a aguardasse por alguns instantes. O ranger tentou segui-la, mas foi impedido pelo guarda que o havia trazido até ali. Após alguns instantes, ela voltou, dizendo que o prefeito o receberia.
Nailo atravessou o grande salão, indo até uma grande porta de madeira nobre toda cheia de belos entalhes. Após a porta, ficava o escritório do prefeito, uma grande sala, com várias estantes repletas de livros. Quatro soldados guardavam o local, armados de lanças e espadas. Atrás de uma pesada mesa de carvalho, um homem de estatura mediana e longa barba cumprimentou Nailo.
_ Saudações meu jovem, sou Agron, o prefeito de Malpetrim! Conte-me mais sobre o tal assassinato.
Nailo desmentiu a história do homicídio, dizendo que havia inventado aquela história apenas para passar pela secretária. O ranger ofereceu-se para ajudar a cidade caso houvesse algum ataque de montros ou outro distúrbio que precisasse de combatentes para resolver. O prefeito agradeceu a proposta, mas descartou os serviços de Nailo, dizendo que o procuraria caso necessitasse da ajuda de um grupo de mercenários.
Nailo saiu da sala do prefeito, após informar o local onde estava hospedado. Encontrou Squall no salão principal, irritado com o funcionário que queria cobrar impostos dele apenas para trocar suas moedas de cobre por moedas de ouro. Juntos novamente, os dois retornaram para a estalagem.

junho 13, 2005

Capítulo 56 - Noite na taverna

Quando a noite caiu sobre Malpetrim, todos se reuniram na Estalagem do Macaco Caolho Empalhado, para comemorarem a volta à cidade.
Era noite de festa na estalagem do velho Rud. A grande feira anual sempre trazia bons fregueses, com suas carteiras recheadas de tibares para serem gastos com comida, bebida e diversão. Os heróis, junto com os bons amigos que encontraram em Ortenko, apreciavam a comida e a bebida da casa, enquanto observavam as festividades. Todos bebiam e conversavam ao som da melodiosa música de um bardo que animava os clientes sobre o palco. O habilidoso menestrel entoava canções simples e animadas, enquanto cantava as lendas mais famosas do mundo de Arton para os seus espectadores. Assim, os aventureiros tomaram conhecimento da lenda dos Rubis da Virtude, da Balada do Triste Fim e das aventuras do lendário Paladino de Arton. Eram momentos agradáveis que fizeram todos se esquecerem por alguns momentos dos dias infernais que haviam passado.
Nailo presenteou Silfo com uma flauta doce, tornando-se ainda mais amigo do sátiro. Enquanto dividia uma caneca de vinho com seu amigo, o ranger observava Legolas escrevendo algo em um pedaço de papel. O elfo se levantou animado, sem dizer uma palavra aos seus amigos, e se dirigiu até o palco, esgueirando-se entre mesas, cadeiras e as dezenas de pessoas presentes no local. Legolas entregou o pequeno pedaço de papel ao menestrel, no exato instante em que ele agradecia os aplausos recebidos por mais uma canção terminada. O bardo leu o bilhete, e com um brilho emocionado em seus olhos, foi conversar com o elfo.
_ Por acaso você conhece essas pessoas, meu amigo? Elas estão presentes aqui hoje? – indagou o artista, visivelmente entusiasmado com o que lera no papel.
_ Sim, todos eles estão sentados naquela mesa. Eu faço parte do grupo, meu nome é Legolas, muito prazer!
O bardo subiu ao palco, pedindo atenção de todos os expectadores. Legolas aguardava ao seu lado, fornecendo mais detalhes para que uma nova canção fosse criada, e novos nomes fossem adicionados às lendas.
_ Meus amigos, é com grande orgulho e alegria que eu anuncio a presença de um grupo de valorosos heróis nesta taverna hoje! Sim, heróis estes que atravessaram o temível Mar Negro, enfrentando seus perigos, de piratas a monstros marinhos! Heróis que foram escravizados por criaturas malignas de pele dourada em uma ilha distante! Mas esses bravos heróis conseguiram vencer seus algozes e escaparam do cativeiro após enfrentar ninguém menos que o terrível Tarrasque, seja lá o que isto quer dizer! Um destes bravos está aqui ao meu lado, os outros estão sentados naquela mesa! É com grande orgulho que eu lhes apresento Legolas, Nailo, Loand, Lucano, Squall, Sairf, Anix, Batloc, Silfo, Enola e Yczar! Vamos saudá-los com uma salva de palmas e fazer um brinde a esses corajosos aventureiros!!!
O menestrel entoou uma nova canção, cantando os feitos de Legolas e seus amigos. Na mesa, os heróis foram cercados pelas pessoas que, admiradas, pediam para ouvir suas aventuras. Assim, os jovens heróis ganharam a admiração das pessoas mais simples, e obtiveram seu breve momento de fama.
Nailo e Squall se retiraram e foram até a feira, aproveitar seus últimos momentos, já que o dia seguinte seria o encerramento do evento. Os dois usaram o dinheiro que haviam conseguido na ilha de Teztal para comprar tudo aquilo que desejavam. Squall desejava também trocar suas moedas de cobre por outras de ouro, para poder carregar menos peso. Foi informado de que deveria ir até o palácio da administração para efetuar a troca, mas só poderia fazê-lo pela manhã, conforme informado pelos soldados.
Enquanto os dois se divertiam na feira, Legolas divertia a todos na taverna. Ao ver dois meio-orcs totalmente bêbados numa das mesas da casa, o elfo se aproximou dos dois com algo em mente.
_ Ei vocês dois! Vejo que vocês adoram beber. Não gostariam de participar de uma competição para ver quem agüenta beber mais? Um disputa entre eu, vocês e quem mais desejar na taverna. Aquele que perder paga a conta dos outros, o que me dizem? – Legolas esperava obter uma vitória fácil contra aqueles dois totalmente alcoolizados.
_ Ora, é claro que topamos, vocês dois vão perder, seus elfos fraquinhos! – os meio-orcs sequer conseguiam ver com clareza, e Legolas teve a certeza da vitória.
Legolas subiu no palco, convidando os outros fregueses para participarem da disputa. Assim, ele e os dois meio-orcs se juntaram a um anão e um humano para disputarem qual seria o melhor bebedor.
_ Eu também participarei, e vou derrotá-lo seu elfo metido a besta!
Legolas procurou pelo novo participante ao ouvir sua voz, mas não encontrou ninguém. Sentiu então uma pancada na perna direita e, ao olhar para baixo, viu o novo desafiante.
_ Estou aqui, lembra-se de mim?
_ Flint, você vai participar? Você vai é se afogar na caneca de cerveja! Onde estão Zulil e Laurel?
_ Estão chegando, veja!
O pequeno halfling apontou para a porta da taverna, onde os dois elfos acenavam para Legolas e os outros.
A disputa começou. Rud serviu a cada competidor uma caneca com um litro de cerveja. Todos na taverna assistiam entusiasmados, enquanto os participantes viravam as canecas em suas bocas. Flint quase se escondia atrás da espuma na borda da caneca, e foi o primeiro a cair, inconsciente. Os dois meio-orcs, já muito bêbados, despencaram em seguida, virando as canecas sobre seus corpos, ficando ensopados. Legolas e o anão ficaram muito atordoados, e trocavam desafios enquanto o humano parecia não ter sentido os efeitos da bebida. Mais uma rodada foi servida. O humano saiu da mesa, reconhecendo a derrota e se encostou em uma das paredes, onde passou o resto da noite. Legolas desabou no chão, mais dormindo que acordado, e somente o anão permaneceu em pé. O vencedor saiu cambaleante, enquanto os demais eram arrastados pelos que assistiam.
Zulil e Laurel carregaram Legolas e Flint, e se juntaram aos demais heróis. Lucano carregou os meio-orcs para fora da taverna, e Nailo, já de volta da feira, levou Legolas para o quarto.
Anix contou aos dois amigos tudo que tinha lhes acontecido nos últimos dias. Zulil mostrou-se interessado em Batloc, e demonstrou conhecimento sobre os genasis e o plano elemental do metal, que segundo ele teria sido a origem da raça do paladino. Zulil, com sua voz calma e sábia, e Laurel, sempre brincalhão, passaram o resto da noite com os heróis, conversando, bebendo, e se divertindo com as histórias do menestrel.
Após algumas horas, Legolas retornou de seu quarto, tropeçando em suas próprias pernas, dizendo que ia até a feira procurar um alfaiate. Apesar de seus amigos insistirem para que ele voltasse a dormir, o arqueiro se dizia em condições de andar, apesar de não se lembrar de que já havia fugido de Ortenko e que já era um elfo livre novamente.
Zulil, mostrou-se um grande amigo, e decidiu acompanhar Legolas até o alfaiate, já que era impossível convencê-lo do contrário. Os dois caminharam entre as barracas da feira, que começavam a se fechar para reabrir no dia seguinte. Os dois foram até a casa de Godo, um alfaiate amigo de Zulil. Legolas pediu a Godo que lhe fizesse um robe de seda branca, e que bordasse nas costas o brasão de sua família com fios de ouro. O alfaiate concordou em fazer a roupa e pediu que Legolas retornasse em três dias para pegá-la. Os dois retornaram para a estalagem onde se reuniram com os demais até altas horas da madrugada.

junho 07, 2005

Capítulo 55 - Enfim Malpetrim

Cerca de quatorze dias se passaram desde que haviam deixado a ilha de Ortenko. Em suas mentes, a imagem do Tarrasque destruindo Teztal e da ilha afundando em chamas no oceano, ainda permaneciam nítidas. Haviam se passado quase duas horas desde o almoço. Os peixes pescados e servidos sem tempero algum, tinham um gosto nada agradável. Ao menos podiam contar com os frutos encantados por Enola, que eram distribuídos em pequenos pedaços para os tripulantes, e cujo sabor doce animava e dava motivação aos marinheiros. O falcão de Squall retornou do horizonte trazendo uma notícia ao seu mestre, uma notícia que todos esperavam ouvir há tempos. O familiar chegou ao mesmo tempo em que Legolas, na proa do navio, gritou: “Terra à vista!”. Na linha do horizonte era possível distinguir o porto de Malpetrim.
Mais algumas horas no mar, e o Liberdade finalmente atracou no porto. Todos comemoraram a chegada se abraçando com emoção. Yczar foi o último a descer, enquanto agradecia ao seu deus por estar de volta, são e salvo.
_ Capitão Engaris! O senhor é um homem de grande valor! Nos trouxe em segurança por esses mares bravios e nós devemos muito ao senhor! O senhor tem grande conhecimento sobre navios, então eu lhe peço que venda o Liberdade, conseguindo o melhor preço por ele e divida o dinheiro com esse bravos heróis que foram os verdadeiros responsáveis por nossa libertação! Eu venderei essas jóias que pertenceram a Teztal e dividirei o dinheiro entre todos os outros, para que cada um aqui tenha algo para poder recomeçar a vida. Amanhã ao meio-dia, nós nos encontraremos novamente aqui neste local para dividir o dinheiro arrecadado e para finalmente nos despedirmos e cada um seguir o seu caminho!
Todos ouviram atentamente as palavras do paladino antes de saíram pela cidade. Legolas pediu a Yczar que lhe desse alguns rubis para que ele pudesse adornar seu arco, e em troca deu um punhado de ouro para o paladino vender com as jóias restantes. Capitão Engaris devolveu os mapas e a bússola para Squall, agradecendo-o por tudo por tudo. Antes de descer do navio, o capitão parou um jovem que passava pelo cais, perguntando-lhe em que dia estavam.
_ Pois não capitão! Hoje é kalag, estamos no dia dezoito do mês de Allihanna, tenha uma boa tarde!
Todos ouviram a notícia animados, pois sabiam que a Grande Feira de Malpetrim ainda não havia acabado. Os heróis pegaram todas as suas coisas e foram para a cidade, para o evento que tanto desejavam testemunhar. Antes porém, passaram na Estalagem do Macaco Caolho Empalhado, deixando lá tudo que não seria necessário. Enola e Silfo ficaram na estalagem, num quarto pago por Anix, enquanto os heróis iam às compras. Assim, após tantos perigos e aventuras, os jovens aventureiros finalmente tiveram um momento de descanso e alegria. Eles trocaram as pepitas que haviam pego em Ortenko por dinheiro, renovaram todo o seu equipamento e caíram na diversão durante o resto do dia.

Capítulo 54 - Liberdade

O rei sabia que se os competidores pudessem nadar, os heróis não tinham a menor chance de vitória. Seria fácil para ele vencer daquele modo. Mas o rei era orgulhoso demais para desejar uma vitória fácil. Com a imagem da atitude honrada de Lucano ainda em sua memória, o rei ordenou que seus sahuagins competissem em iguais condições aos heróis. Para tanto, o monarca proibiu que os competidores nadassem. Todos teriam que correr, mantendo sempre os pés no chão. Aquele que violasse essa regra, levaria seu grupo à desclassificação. Ao ouvirem as palavras do rei, traduzidas por Sairf, os heróis sorriram, pois sabiam que agora tinham uma chance de vitória.
Todos se colocaram em suas posições na pista de corrida. Legolas seria o primeiro a correr, junto com o sahuagin da cicatriz. Depois seria a vez de Anix e seu adversário com o corpo manchado de vermelho. Lucano seria o próximo, disputando contra o mancha negra, seguido de Yczar e o sahuagin de escamas verde claras. Loand diputaria com o sahuagin de escamas escuras e Squall teria como adversário o de longas barbatanas. Por último, encerrando a competição, Nailo enfrentaria o sahuagin caolho.
A largada foi dada. Legolas abriu uma grande vantagem sobre seu adversário, entregando o bastão de coral para Anix bem antes dos sahuagins. Anix correu até Lucano, entregando o bastão para o clérigo. Lucano correu o mais rápido que podia, auxiliado pela magia divina de Yczar, mas seu oponente era muito veloz e começou a alcançá-lo. Em desespero, Lucano deixou o bastão cair no momento de passá-lo para Yczar. O sahuagin o alcançou. Parecia tudo perdido. Yczar e Lucano tentavam pegar o bastão do chão o mais rápido possível, enquanto assistiam à chegada do sahuagin. Mas os deuses estavam ao lado dos heróis. O mancha negra deixou o bastão cair no chão também, equilibrando a disputa novamente. Yczar saiu em disparada, lado a lado com seu adversário. Chegou a Loand com uma pequena vantagem, passando o bastão para o jovem paladino. Loand e Squall conseguiram manter a pequena vantagem, até que o bastão chegou até Nailo. O ranger correu o mais rápido que podia, mas seu adversário o alcançava pouco a pouco. Os dois ficaram lado a lado, Nailo colocou sua cabeça para frente e atravessou a linha de chegada com os olhos fechados. Após alguns momentos de espera, os juízes anunciaram o resultado. Nailo havia vencido por um nariz de diferença.
O estádio se calou enquanto os heróis comemoravam e o rei sahuagin se levantava para falar.
_ Vocês, criaturas do mundo seco, lutaram com honra e venceram meus soldados! Eu lhes dou os parabéns por esse feito e os liberto, como prometido! Vocês serão levados até a superfície, junto com seus objetos e animais, e serão deixados na ilha ou embarcação mais próxima! Vocês não devem jamais retornar aqui, nem revelar a localização desse local para ninguém! Para tanto, vocês terão seus olhos arrancados, assim não poderão encontrar esse lugar novamente!
Os heróis ficaram felizes e ao mesmo tempo apavorados. Seriam libertados mas teriam seus olhos arrancados pelos sahuagins. Os soldados já se aproximavam, empunhando adagas afiadas, quando os heróis interviram, intermediados por Sairf.
_ Vocês não podem arrancar nossos olhos, não seria justo, nós fizemos tudo certo, conforme combinado. Se querem proteger a localização da sua cidade, basta vendarem nossos olhos!
O rei ponderou por alguns segundos, enquanto coçava suas barbatanas. Deu um sorriso e concordou com o pedido.
Pedaços das roupas dos heróis foram arrancados para servirem de vendas. Todos foram amarrados e carregados no lombo de selakos para a superfície. Antes da partida, a sacerdotisa sahuagin lhes concedeu a habilidade para respirarem fora das águas mágicas, e eles partiram.
Após vários minutos, os heróis voltaram a sentir os sol ardendo sobre suas peles. Sabiam que já era quase noite, pois o sol já estava fraco. Navegaram nos tubarões por uns vinte minutos, sempre com o sol à esquerda, o que permitia deduzir que estavam indo rumo ao norte. Então ouviram gritos de várias pessoas e som de passos sobre a madeira. Sentiram uma grande sombra cobrindo o sol e ouviram uma voz familiar pedindo por cordas. Era Batloc.
Os heróis foram içados de volta ao Liberdade, junto com suas coisas e seus animais. Todos se abraçaram e comemoraram, emocionados, a volta do grupo de aventureiros. Batloc lhes contou que haviam esperado por um dia inteiro pelo seu retorno. O genasi de cobre mergulhava a todo instante no mar, junto com outros tripulantes, na esperança de encontrar algum sobrevivente do naufrágio do navio de Flat Nose. Quando todas as esperanças haviam sido perdidas, eles resolveram partir.
Batloc se tornou o líder da embarcação durante esse período. Coordenou os reparos do navio para consertar as avarias feitas pelos canhões dos piratas. Tornou-se encarregado pela proteção de todos à bordo, e, quando sentiu que não havia mais chances de reencontrar com o grupo de Yczar, decidiu partir, para garantir a sobrevivência dos que haviam permanecido no navio. Foi uma decisão dura para Batloc, mas ele sabia que não tinha outra escolha. O liberdade navegou meio dia em ritmo lento, pois todos os tripulantes estavam desmotivados pela perda dos heróis. Enola entristeceu e perdeu parte de sua beleza durante esse período. Batloc ainda teve outra tarefa difícil, sepultar seus irmãos, mortos em combate em Ortenko. O paladino encontrou os corpos dos outros genasis no porão do navio enquanto cuidava dos reparos da nau. Levou-os para o convés e fez uma prece a Khalmyr para que lhes desse um julgamento justo pelos seus atos em vida. Depois atirou os corpos ao mar, com lágrimas em sua face de cobre, despedindo-se de seus irmãos.
O retorno dos heróis trouxe a alegria de volta ao navio. Enola abraçava Anix em prantos, enquanto Silfo abraçava seus grandes amigos, Nailo e Squall.
No mar, os sahuagins se despediram, com os braços estendidos e os punhos fechados, enquanto os selakos submergiam lentamente. Os sahuagins desapareceram nas águas do mar negro e o Liberdade novamente seguiu viagem.
Nailo pediu ao capitão Engaris que assinalasse no mapa os locais do naufrágio do navio pirata e do resgate dos heróis. Desta forma eles teriam uma localização aproximada do reino dos sahuagins e poderiam utilizar essa informação, caso precisassem dela algum dia.

Capítulo 53 - Por um fio

Lucano seria o próximo a competir. Ele deveria enfrentar um sahuagin com uma grande mancha negra no lado esquerdo do corpo. Seu adversário, que parecia ser extremamente mau, o enfrentaria num disputa de arremesso de peso. Lucano era o mais forte do grupo, depois de Yczar, e portanto o mais indicado para tal prova. Para ajudá-lo a compensar a vantagem geográfica dos sahuagins, Yczar orou a Khalmyr, lançando um encanto sobre o clérigo. A magia aumentou a força de Lucano em 25%, tornando-o extremamente forte.
Na lateral do estádio, cada competidor recebeu três grandes conchas, que seriam arremessadas pelos dois. A distâncias atingidas por cada concha seriam somadas. Aquele que conseguisse o maior valor seria o vencedor.
O sahugin abriu a disputa com um arremesso de 14 metros. Lucano não se deixou intimidar e, confiante na sua capacidade, atirou com facilidade sua concha a 21 metros de distância. Em seu segundo arremesso, o sahuagin conseguiu 15 metros, enquanto Lucano alcançou 19 metros de distância. O sahuagin tomou distância, girou o corpo enquanto avançava para frente e atirou a concha. O peso não passou dos 9 metros, dando já a vitória ao clérigo de Glórien. O rei se levantou para observar a atitude de Lucano naquele momento. O clérigo não precisava nem fazer seu último arremesso, mas decidiu fazê-lo. A concha percorreu 14 metros antes de atingir o solo. Na soma das distâncias, Lucano tinha 54 metros contra apenas 38 de seu oponente. Pela atitude do clérigo, que resolveu dar seu último arremesso com empenho, ao invés de simplesmente soltar a concha no chão, o rei percebeu que aqueles escravos, que lutavam arduamente por sua liberdade, eram pessoas honradas. Um sentimento de respeito começou a brotar no monarca sahuagin. O rei deu os parabéns ao grupo pela nova vitória e anunciou o início da próxima modalidade, a disputa de natação.
Restavam apenas Squall e Sairf para a disputa. Ficou decidido que o feiticeiro iria enfrentar a prova, contra um sahuagin que possuía uma cicatriz que cortava todo o seu tórax em diagonal. Os dois se posicionaram atrás da linha de largada, o rei deu o sinal e a corrida começou. Como era de se esperar, o sahuagin era um nadador muito melhor do que Squall. A criatura terminou a volta no estádio, antes que o feiticeiro completasse a primeira metade. A disputa desequilibrada foi vencida de forma humilhante pelo sahuagin. Mas os heróis ainda estavam um ponto à frente no placar geral. Eles precisavam apenas vencer a última prova, a corrida de revezamento, para conseguirem a liberdade.
Os heróis foram para a pista, se posicionaram a cerca de 15 metros uns dos outros. Legolas, o que tinha os reflexos mais rápidos do grupo, seria o primeiro a correr, para garantir uma vantagem para o grupo logo na largada. Ele correria lado a lado com o sahuagin da cicatriz no peito. Após ele, seria a vez de Anix, contra o mancha vermelha, depois Lucano contra o mancha negra, Yczar contra o verde escuro, Loand contra o verde claro, Squall contra o de barbatanas grandes, e Nailo, que encerraria a corrida disputando com o sahuagin caolho.
Os primeiros corredores receberam dos juízes um pequeno bastão feito de coral. Eles deveriam correr até o próximo competidor a 15 metros, e entregar-lhe o bastão. Assim, o pequeno pedaço de coral passaria de mão em mão até chegar ao final, completando uma volta no estádio. Se os heróis chegassem após os sahuagins, ou se passassem da linha de chegada sem o bastão, tudo estaria perdido. Eles empatariam no placar geral com os sahuagins e ninguém sabia o que aconteceria a seguir. Era preciso o máximo de empenho de todos naquela corrida. Sairf observava os seus amigos de fora da pista, orando aos deuses para que eles vencessem aquela disputa.

Capítulo 52 - Uma pequena vantagem

A próxima modalidade a ser disputada seria uma corrida de bigas puxadas por tubarões. Yczar, que tinha a maior intimidade com montarias, foi o escolhido para representar os heróis. Seu adversário, um sahuagin caolho com ar imponente, se posicionou ao lado de Yczar na linha de largada, provocando o paladino a todo instante. O rei anunciou a prova, e ao seu comando, dois sahuagins levantaram seus tridentes, abrindo caminho para os dois competidores, e dando início à corrida. O sahuagin largou na frente, abrindo uma boa vantagem em relação à Yczar. Mas o paladino possuía muita habilidade e antes que o adversário completasse um quarto de volta, Yczar já o havia passado. O paladino deixou seu oponente muitos metros atrás, completando uma volta ao redor do estádio, e vencendo com folga a disputa. Com a vitória fácil de Yczar, os heróis conseguiram empatar a disputa com duas vitórias para cada lado.
O rei ordenou que a competição de luta começasse. Um sahuagin de enormes barbatanas se aproximou do centro da arena, esperando pelo seu oponente. Loand, o melhor em combate corporal depois de Yczar, foi escolhido para enfrentar o desafio. Os heróis fizeram um círculo ao redor de seu lutador, como se lhe passassem alguma instrução. Aproveitando a cobertura, Squall conjurou um feitiço, criando uma armadura mágica invisível ao redor do corpo de Loand. Legolas lhe entregou o anel mágico que haviam encontrado no fundo do abismo, que aumentava ainda mais a proteção do usuário, e o protegeu enfaixando a mão do paladino. Por fim, Yczar abençoou o lutador, concedendo-lhe uma melhoria para suas habilidades ofensivas e defensivas.
A luta começou. O sahuagin foi o primeiro a atacar, atingindo o nariz de Loand. O paladino sentiu toda a força do sahuagin naquele golpe e pode prever o que aconteceria então. A luta já estava ganha. O sahuagin era muito habilidoso, golpeava com muita velocidade, enquanto dava saltos e cambalhotas na água. Ele tinha suas mão enfaixadas, para impedir que suas garras afiadas ferissem Loand. Mesmo sem suas armas, ele era um oponente perigoso. Loand, entretanto, manteve-se tranqüilo o tempo todo. Defendia cada golpe do seu adversário e revidava os ataques, aproveitando cada falha na defesa de seu adversário. A proteção mágica concedida por seus amigos foi de grande ajuda para o paladino, que pode lutar em iguais condições às do seu adversário que contava com uma pele grossa e resistente. Parecia a luta se estenderia por horas, até que um dos dois caísse, vencido pelo cansaço. Entendendo isso, o sahuagin decidiu decidir o combate de maneira rápida. A criatura se abaixou, para agarrar as pernas de Loand e derrubá-lo no chão. O paladino viu seu adversário com a defesa aberta e o golpeou violentamente, enquanto desviava de seu ataque. O forte golpe desconcentrou o sahuagin. Loand aproveitou a vantagem e desferiu vários socos no seu adversário. Desesperado, o sahuagin tentava jogar o paladino no chão e agarrá-lo. Mas a cada tentativa, ele deixava sua guarda baixa e recebia os ataques do oponente sem qualquer chance de defesa. Loand aplicou o golpe final no rosto do adversário, deixando-o caído no chão, desmaiado. Os heróis comemoraram a vitória, enquanto o sahuagin saía carregado do estádio.

Capítulo 51 - A derrota do arqueiro

Legolas, dono da melhor pontaria do grupo, se aproximou do centro da arena junto com um sahuagin de escamas verdes muito escuras. A cada um deles foi entregue um tridente dourado. A ponta central do tridente, muito mais comprida que as laterais, seria a que iria definir o resultado de cada lançamento. A cerca de vinte metros deles, foi colocado um alvo circular com quatro círculos concêntricos de cores diferentes. A clériga explicou as regras para Sairf, que traduziu para Legolas cada palavra. Cada um daria três disparos alternadamente. Atingir o círculo mais externo valeria 1 ponto. O primeiro círculo interno valia 2 pontos. O segundo círculo interno 3 pontos, e o círculo central, a mosca, 5 pontos. A pontuação dos três tiros seria somada e aquele que atingisse maior pontuação seria o vencedor.
O sahuagin foi o primeiro a atirar o seu tridente contra o alvo. A criatura tinha excelente pontaria e conseguiu três pontos já no primeiro disparo. Legolas não se intimidou com as provocações do sahuagin, o arqueiro tinha confiança em suas habilidades e sabia que poderia vencer. Entretanto, Legolas estava embaixo da água, um ambiente desconhecido para ele, o que dava uma grande vantagem ao sahuagin. O arqueiro de Tollon tomou distância, correu até a marca no chão e lançou o tridente. A pressão da água no fundo do oceano fez com que a arma se desviasse, passando longe do alvo. O estádio foi ao delírio com o fracasso de Legolas. O seu adversário ria enquanto girava o tridente na mão, preparando-se para o segundo arremesso. Os assistentes recolheram o tridente de Legolas e o levaram de volta para o elfo. O sahuagin correu até a marca e atirou contra o alvo. O tridente do sahuagin atravessou a água fria girando como uma broca e passou por cima do alvo, caindo fincado no solo, longe do seu objetivo. O estádio se calou enquanto os heróis comemoravam. Legolas pegou seu tridente e começou a girá-lo na mão, debochando de seu oponente, e o lançou. A arma se cravou no círculo externo, dando 2 pontos para a equipe de Legolas, a disputa estava equilibrada.
Enquanto os heróis ainda comemoravam o desempenho de Legolas, o seu adversário lançou o terceiro tridente. A arma se deslocou na água girando com grande velocidade, indo direto ao alvo. Os juízes entraram em discussão para saber se a ponta tinha ou não atingido a mosca. Entretanto, qualquer que fosse o resultado, Legolas já não tinha mais chances de alcançar a pontuação de seu adversário. Após a discussão, os juízes deram o veredicto, mais 3 pontos para os sahuagins. Já sem chances de vitória, Legolas fez seu último lançamento com total desleixo, atirando o tridente ao chão. A disputa terminou com 6 pontos para o sahuagin e 2 pontos para Legolas. Era a segunda vitória das criaturas.

Capítulo 50 - Disputa equilibrada

Enquanto o rei falava, a sacerdotisa traduzia cada uma de suas palavras para Sairf. O mago por sua vez, traduzia do idioma aquan para o valkar para que seus companheiros pudessem entender. O monarca deu ainda a sua palavra de que a competição seria justa e honrada. Nenhum de seus soldados poderia trapacear de qualquer forma. Se alguém o fizesse, seu grupo seria automaticamente declarado perdedor.
Do outro lado do estádio, um grupo composto por sete sahuagins entrava na arena, ovacionado pela multidão que assistia. O rei se levantou e ordenou que a competição de salto se iniciasse.
Do lado dos sahuagins, o que tinha uma mancha vermelha que cobria quase metade de seu corpo, se apresentou no centro da arena, saudando seu rei sob os aplausos da multidão. No outro lado do estádio, os heróis confabulavam para decidir quem seriam os participantes de cada competição. Yczar, Squall, Anix e Lucano ainda tinham algumas magias de reserva, e as usariam para fortalecer o seu grupo. Como os sahuagins iriam competir em seu habitat natural, estariam em vantagem. As magias serviriam para equilibrar as habilidades dos dois grupos e tornar a disputa mais justa. Ficou decidido que Nailo seria o saltador do grupo. Sua experiência em caminhar na floresta, andando muitas vezes sobre as árvores, o havia tornado um excelente saltador. Antes que ele se dirigisse ao centro do estádio, Legolas e Anix exigiram da clériga sahuagin que ela conjurasse sobre o grupo a magia de movimentação livre, para deixá-los em condições iguais às dos seus adversários. A sacerdotisa invocou o poder de seu deus, e abençoou os heróis, permitindo que eles se movessem sem as dificuldades impostas pela pressão da água. Com os dois grupos em pé de igualdade, Nailo caminhou até o centro do estádio, sob as vaias dos expectadores.
O sahuagin da mancha vermelha obrigou Nailo a saudar seu rei também. Nailo se curvou contrariado, o rei lhes desejou boa sorte, e a disputa começou.
Os dois foram até uma das bordas do estádio, ficando atrás de uma linha marcada no piso de conchas. Numa disputa de papel pedra e tesoura, que os sahuagins possivelmente teriam aprendido com algum outro escravo da superfície, Nailo foi o vencedor. Ao perdedor coube dar o primeiro salto.
O sahuagin tomou distância, correu em direção à linha, dando três passos largos e rápidos e saltou. O homem peixe se deslocou pela água, com o corpo reto, sem mexer um músculo para pegar impulso. A criatura percorreu 3,25 metros, um grande feito embaixo d’água. A torcida vibrou enquanto o sahuagin desfilava para seus fãs. Ele se aproximou de Nailo, arrogante e com ar de superioridade, como se já tivesse vencido. O ranger não deu atenção às provocações e se posicionou. Correu, dando três passos longos também, e saltou. Os torcedores assistiram o deslocamento do ranger com atenção e se calaram quando viram o resultado, 5,30 metros. Nailo venceu a primeira competição com folga, fazendo os sahuagins se calarem. O rei se levantou, reconheceu a vitória de Nailo e lhe deu os parabéns.
_ Parabéns escravo! Você competiu com honra e venceu! Mas não pense que as outras competições serão tão fáceis assim, a verdadeira disputa começa agora. Que se inicie a competição de arremesso de arpão!
Ao comando do monarca, Anix e um sahuagin de escamas verde-claras se aproximaram do centro da arena. Os dois competidores fizeram uma saudação respeitosa ao rei e foram até a borda do estádio. A cada um foi dado um arpão prateado muito bem confeccionado. Legolas pediu para examinar as peças, e constatou que ambas tinham o mesmo tamanho e peso. Certos de que não havia nenhuma trapaça, os dois iniciaram a disputa.
Anix foi o primeiro a lançar o arpão. O elfo tomou distância e deu dois passos longos em direção à marca no chão. A lança partiu de suas mãos em grande velocidade e percorreu 10 metros antes de atingir o solo. Os heróis comemoravam o excelente arremesso de Anix, enquanto a platéia vaiava o desempenho do elfo. O outro competidor debochava de Anix, girando seu arpão nas mãos. Tomou distância, avançou até a marca e arremessou o dardo com grande força. O arpão do sahuagin caiu muito à frente do de Anix, percorrendo um total de 23,2 metros.
Anix retornou cabisbaixo para junto de seus amigos, enquanto os sahuagins comemoravam a primeira vitória. O rei se levantou, dando parabéns aos competidores e ordenou o início da próxima disputa, o tiro ao alvo.

Capítulo 49 - Olimpíadas Submarinas

O rei ordenou que o baú do tesouro fosse aberto por um de seus soldados. Os soldados viraram todo o conteúdo da arca no chão e começaram a procurar pelos seus itens sagrados. Quatro sacerdotisas se aproximaram, sob as ordens da fêmea que traduzia os diálogos para Sairf. Elas recolheram várias pequenas urnas feitas de coral, grandes pedras preciosas, e a estátua de um selako em ouro puro, que foi carregada pelos soldados. Os itens foram levados até um altar atrás do trono do monarca. Lá, cada uma das peças foi cuidadosamente devolvida ao seu respectivo lugar. Com seus itens sagrados recuperados, o rei se voltou para os heróis, e começou a discursar.
_ Muito bem, seres da superfície! Vocês cumpriram a sua missão, resgatando nosso tesouro sagrado e conseguiram salvar as suas vidas. Conforme minha promessa, eu irei poupar suas vidas inúteis. Vocês trabalharão como escravos em nossas minas de coral pelo resto dos seus dias! Guardas, levem-nos para as minas!
Yczar e Nailo foram reunidos aos seus companheiros. Sob a ameaça das dezenas de tridentes afiados, os heróis não tiveram opção senão se renderem. Enquanto eram conduzidos para fora do palácio real, Yczar, que até então se demonstrava o mais calmo de todos, explodiu em fúria, atacando os soldados e indo em direção ao rei, gritando ofensas e desafios. O paladino foi agarrado pelos sahuagins, e atirado ao chão. Os soldados já estavam prontos para matá-lo, quando Legolas se rebelou também. Os dois heróis ficaram em situação difícil, parecia que seria o fim para os dois. Sairf interviu, pedindo que Yczar fosse ao menos ouvido pelo rei. O lorde sahuagin coçou suas barbatanas sob o maxilar e consentiu que Yczar falasse, olhando para o paladino com olhar de desprezo.
_ Vocês são uns covardes, não tem coragem de nos enfrentar. Nós recuperamos o seu precioso tesouro e agora somos escravizados! Isso é injusto! Nós nem tínhamos nada a ver com seu tesouro e arriscamos nossas vidas para recuperá-lo para vocês! Exigimos ao menos o direito de lutar por nossa liberdade! Se vocês são tão confiantes assim da sua força, enfrentem-nos em um combate justo!
O rei ouviu as palavras do paladino, traduzidas por sua clériga de confiança. Ponderou por alguns instantes com um sorriso sarcástico no rosto e tomou sua decisão. Os heróis participariam de uma competição contra os sahuagins. Se vencessem a maioria delas, estariam livres. Se perdessem, seriam escravos para sempre. O monarca ordenou que os heróis fossem levados, e enquanto saía, arrastado pelos sahuagins, Yczar ainda exigiu que se eles vencessem, levariam todas as suas coisas, e seus animais junto com eles.
Os heróis foram levados dentro de uma jaula para fora do palácio. Atravessaram a vila dos sahuagins, espantados com a intimidade entre aqueles seres, e os tubarões. Os terríveis selakos eram tratados como animais de estimação e de carga naquele estranho lugar. Crianças brincavam com tubarões, com os humanos faziam com os cachorros, gatos, coelhos. Tubarões maiores trabalhavam como cães de guarda nas casas, ou no transporte de carroças e sahuagins. Os prisioneiros atravessaram todo o vale, e ao subirem uma pequena colina, já saindo da vila, se depararam com um grande coliseu, construído todo com corais sobre um vale cercado por uma selva de algas marinhas.
Os heróis foram levados para dentro do estádio e foram trancafiados em uma cela, onde permaneceram por quase uma hora, aguardando pela oportunidade de lutarem por sua liberdade. Os soldados conduziram todos para fora da cela, até a arena do coliseu. Centenas de sahuagins estavam presentes, amontoados nas arquibancadas, para assistir aa combate dos heróis. O rei de todas aquelas criaturas, em uma confortável tribuna rodeada de fêmeas como um harém, levantou-se e começou a discursar:
_ Seres da superfície! Vocês mostraram valor ao resgatarem o nosso tesouro sagrado e receberam com isso o direito de permaneceram vivos. Agora vocês enfrentarão meus soldados em um torneio. Você os enfrentarão em competições de salto, luta, natação, tiro ao alvo, arremesso de peso, arremesso de arpão, corrida de selakos, e corrida em grupo. Se vocês conseguirem maior número de vitórias, receberão a liberdade. Se meus soldados conseguirem maior número de vitórias, vocês passarão o resto de seus dias como escravos em nossas minas de corais. Que comecem os jogos!