junho 23, 2005

Capítulo 62 - Sonho

A caravana seguiu sua jornada rumo ao sul por mais alguns dias, mas desta vez, com dois integrantes a menos. A floresta ia se tornando mais e mais escura à medida que os heróis avançavam. Pela cor da madeira das árvores, mais escura que o normal, Nailo e Legolas sentiam que sua vila natal já estava próxima. Então o grupo parou para acampar, numa noite em que a lua em escudo brilhava entre as copas das árvores. Legolas e Nailo sabiam que sua casa estava a apenas um ou dois dias dali. O grupo montou um acampamento à beira da estrada, sob as árvores. Nailo usou um encantamento para proteger a área ao redor deles contra invasores e todos foram dormir.
Já era muito tarde quando Legolas acordou. O arqueiro despertou subitamente na madrugada, tremendo e suando de maneira estranha. Legolas se sentia incomodado com alguma coisa, mas não sabia o que era. Então ele ouviu um grito de socorro vindo do sul. Legolas imediatamente reconheceu a voz que pedia ajuda. Levantou-se e vestiu-se apressado, e então correu pela estrada, seguindo em direção à voz. Nailo e os outros despertaram e o viram saindo do acampamento. Era uma atitude muito estranha, eles sabiam que alguma coisa estava errada, e decidiram segui-lo.Legolas correu alguns metros pela estrada, até encontrar uma saída que cortava as árvores à esquerda. O elfo atravessou a passagem e o que encontrou foi uma vila em chamas. A vila que ele imaginava estar a alguns dias dali, estava somente a alguns metros de distância do acampamento. O pequeno vilarejo, onde Legolas e Nailo haviam nascido, estava tomado pelas chamas. A poucos metros de Legolas, uma elfa de longos cabelos ruivos, observava o incêndio.
Ele se aproximou, chamando a atenção da moça que se voltou para ele, olhando-o nos olhos. A força do amor, mais forte que qualquer disfarce, fez com que a mulher o reconhecesse, apesar da maquiagem, da peruca e da barba falsa.
_ Legolas!!! Não venha, é perigoso! Ele vai matá-lo! – a bela elfa tinha lágrimas nos olhos e estava desesperada.
O arqueiro ignorou o pedido, e foi em direção Liodriel, sua amada. Legolas a abraçou forte, tentando entender o que havia acontecido ali, quando viu surgir uma imensa criatura de trás de uma casa em chamas. Anix e os outros chegavam neste momento, e também puderam ver o monstro surgindo. Era uma visão impressionante e assustadora. Uma gigantesca sombra, mais alta que qualquer uma das casas, caminhava entre as chamas que consumiam o pequeno vilarejo. O monstro não tinha rosto ou contornos definidos. Parecia mais um vulto de formato humanóide com olhos brilhantes na cabeça. Ele se aproximou do grupo de aventureiros, agora reunido, agitando uma longa cauda se no. Apontou suas enormes mãos para o grupo, exibindo grandes garras afiadas, e de suas costas, duas asas, negras como a noite, se abriram criando uma corrente de ar.
Sem perder tempo, Legolas disparou uma de suas Flechas Infalíveis contra o monstro, visando atingir seus olhos. Apesar de toda a perícia que o arqueiro possuía, o monstro se desviou do ataque com grande facilidade, deixando que a flecha passasse ao seu lado e se perdesse nas chamas.
Anix se concentrou, proferindo palavras mágicas, e de suas mãos, dois projéteis brilhantes partiram em direção à criatura. O feitiço se chocou contra a cabeça do monstro em duas pequenas explosões, mas o ser as ignorou, como se não tivesse sentido nenhuma dor.
Sam, o bardo que acompanhava os heróis, se aproximou do inimigo, tocando seu alaúde. A criatura parou por um momento para observar o artista, para depois, com um chacoalhar na cabeça, quebrar o encanto do menestrel. Os misteriosos poderes de Sam não haviam funcionado, era como se o monstro fosse imune a efeitos mentais. Só restava uma opção, atacar. Foi o que Lucano e Nailo fizeram, sem grandes resultados no entanto. Lucano invocou o poder de Glórien, ao mesmo tempo em que Nailo disparava com seu arco. Uma espada composta apenas de uma luz branca surgiu na frente do clérigo, que ordenou o ataque. Um raio luminoso partiu da lâmina sagrada em direção ao monstro. A criatura se defendeu com suas asas, rebatendo a flecha e desviando a direção do raio. O poder da criatura era espantoso, e era arriscado demais lutar corpo a corpo contra ela. Pensando nisso, Sairf decidiu chamar reforços. O mago agitou os braços enquanto murmurava um feitiço, fazendo com que um portal mágico começasse a surgir ao lado do inimigo.
O monstro não deu importância ao feitiço de Sairf e avançou na direção de Sam, que estava à frente do grupo. Da cabeça da criatura surgiu uma enorme boca, projetando-se para frente. As mandíbulas da criatura, ornadas com poderosas presas, se fecharam sobre a cabeça de Sam. O bardo deu um grito abafado dentro da boca do monstro e os seus amigos viram sua cabeça explodindo. O corpo do menestrel caiu, separado da cabeça, trazendo pavor aos heróis. Sam foi morto com apenas um golpe do inimigo.
Vendo o assustador poder do adversário, os heróis perceberam que deveriam mudar de estratégia. Legolas mandou Liodriel fugir para longe dali, enquanto Squall e Loand circundavam a vila, para cercarem o monstro por trás. Legolas disparou outra Flecha Certeira, arrancando o olho esquerdo da besta, parecia que o jogo começava a virar a favor dos heróis. Anix criou uma proteção mágica em volta de seu corpo, para poder combater a criatura de frente, e levou a noiva de Legolas para longe do monstro.
A criatura novamente rebateu o ataque da arma espiritual de Lucano, e com suas presas rasgou a carne de Nailo, que passava ao seu lado. Nailo continuou sua corrida, ficando atrás do inimigo, a uma distância segura, esperando seus companheiros Squall e Loand. O ranger disparou mais uma flecha, mas ela se espedaçou ao se chocar contra o corpo do monstro.
Um vórtice luminoso surgiu ao lado da criatura, e de dentro dele, um bisão saiu em disparada, atacando com violência a perna do monstro. O ataque do animal abriu uma profunda ferida na criatura. Sairf sorriu ao ver que a criatura que escolhera para evocar seria de grande utilidade. O mago apontou sua mão para o inimigo e pronunciou um verso em voz alta. Um ar extremamente frio partiu de seus dedos, para ser repelido pelo bater de asas do monstro.
Aquela aberração monstruosa parecia não se importar com os ferimentos causados e avançou. Abrindo sua boca negra, o monstro abocanhou o crânio de Sairf, deixando-o quase irreconhecível. O mago ficou atordoado com o golpe e nem notou a garra direita do monstro se aproximando perigosamente. As unhas afiadas quase partiram o corpo do elementarista em dois, jogando-o no chão já quase sem vida. A mão esquerda da criatura desceu sobre o corpo de Sairf tão rápido quanto a da direita, esmagando completamente o corpo do rapaz. Daquilo que fora um dia um humano, só era possível reconhecer os braços e as pernas em meio a uma poça de sangue, carne e ossos triturados.
Com a morte de Sairf, o monstro passou a atacar o alvo mais próximo, o bisão invocado pelo mago. As duas enormes asas atingiram o corpo do animal simultaneamente, fazendo o sangue jorrar. Logo em seguida veio a cauda, descendo dos céus como uma avalanche e atingindo as costas do bisão. O animal mugia de dor, mas mesmo assim não se abateu, enquanto o efeito da magia que o mantinha ali durasse, ele atacaria aquele ser bestial.
Vendo que Squall e Loand não chegavam para ajudar Nailo, Legolas e Anix sentiram que algo estava errado e começaram a recuar. Legolas lançou sua última Flecha Infalível, ferindo o peito do inimigo, enquanto Anix usava seus projéteis mágicos para atingir o rosto do monstro.
Os dois correram até perto de Liodriel, protegendo-a, enquanto Nailo disparava sua besta pesada nas costas do monstro. A criatura rebateu o virote disparado pelo ranger, defendeu com as asas o ataque mágico da arma de Lucano e parou os chifres do bisão com os pés. Avançou na direção do clérigo elfo, e o atacou com todas as armas que possuía. As mandíbulas do monstro esmagavam o rosto do sacerdote, enquanto suas garras lhe abriam o peito e as costas. O monstro o soltou, para logo em seguida esmagar todas as costelas de Lucano com suas duas asas. O clérigo caiu no chão, e ninguém tinha dúvidas se ele estava vivo ou morto. O monstro se virou, como se fosse recuar, e levantou sua pesada cauda para o céu. A cauda desceu como um martelo sobre o corpo de Lucano, esmagando seu corpo como a pata de um leão sobre uma indefesa formiga.
Legolas sentia-se culpado pela morte de seus dois amigos. A idéia de vir para Tollon tinha sido sua, e agora todos estavam morrendo. O arqueiro começou a perder a confiança em si mesmo e se arco já não tinha mais o mesmo efeito. Suas flechas já não atingiam mais o inimigo e ele começou a pensar que este seria o fim de todos.
_ A maçã!!! A maçã de Allihanna!!! Enola disse que ela pode acabar com o mal, vamos usá-la!!! – Anix lembrou-se num estalo do presente que haviam recebido da deusa da natureza. Usou uma magia para se tornar invisível e poder passar pelo monstro sem ser atacado. O mago caminhou até onde Nailo estava para pegar a maçã e tentar usá-la contra o inimigo.
Entretanto, Nailo não entregou a maçã ao amigo e preferiu atacar com seu arco. Impulsivo e inconseqüente como sempre, Nailo escorregou e caiu no chão, complicando ainda mais a situação para seus amigos. Caído no chão, o ranger viu o monstro atacar o bisão de Sairf quando este tomava distância para atacar. A criatura escorregou no sangue de Lucano, Sairf e Sam, que cobria todo o solo, e tombou no chão. Era o momento que todos esperavam. Legolas cravou uma flecha dentro da boca do monstro, enquanto o bisão passava correndo ao lado da besta, rasgando sua carne com os chifres. Irresponsavelmente, Nailo ignorou novamente o pedido de Anix e, ao invés de lhe entregar a maçã, disparou uma nova flecha na criatura, que já demonstrava cansaço. A flecha percorreu o ar, indo em cheio no pescoço do monstro, que soltou um urro abafado. Parecia que seria o fim da batalha. O bisão celestial correu até o monstro, golpeando sua cabeça com os chifres. O sangue do monstro, uma pasta negra, jorrou pelo ar, ao mesmo tempo em que o animal convocado pelo falecido Sairf retornava ao seu plano de origem. O feitiço de Sairf havia acabado, e a luta também. O monstro fechou os olhos, demonstrando estar vencido. Mesmo inconsciente, a criatura ainda respirava com dificuldades, e seus ferimentos pareciam se regenerar lentamente. Era preciso fazer alguma coisa rápido.
Anix sacou sua adaga, e correu na direção do monstro pronto para decapitá-lo. Legolas se aproximou e abaixou-se para poder mirar seu arco na cabeça da criatura. Nailo sacou mais uma flecha e a posicionou em seu arco, ficando no lugar onde estava. Loand e Squall nem deram sinais de vida.
Legolas mirou sua flecha no olho direito da criatura e passou a encará-la, cheio de ódio e tristeza. Quando sua mão estava pronta para soltar a corda do arco, Legolas viu, como se tudo acontecesse lentamente, o olho da fera se abrindo.
_ Esse é o momento, meus comandados!!! – o monstro se levantou, ao mesmo tempo em que gritava uma ordem com sua voz gutural.
Diante dos olhos de Legolas, dezenas de mortos-vivos saíram do solo ao redor de Nailo e o cercaram. O cadáveres atacavam o ranger com mordidas e pancadas. Nailo tentava se defender com seu arco e flecha, mas os inimigos eram muito numerosos. Das ruas próximas, uma multidão de zumbis surgiu para devorar o ranger. Entre eles estava Loand e Squall, já derrotados pelas criaturas e agora fazendo parte de seu exército. Nailo gritava desesperado, enquanto era devorado vivo, até que sua voz não pode mais ser ouvida.
Legolas ainda viu Anix se aproximar do monstro com sua adaga na mão direita. A cauda da criatura se esticou na direção do mago, perfurando seu coração. Enquanto balançada o corpo sem vida de Anix em seu rabo, o monstro se aproximava de Legolas, abrindo sua enorme boca. Do fundo da garganta da criatura surgiu uma luz branca que foi aumentando seu brilho, até que um jato luminoso saiu em direção ao arqueiro. Um líquido viscoso e fétido cobriu o corpo de Legolas e começou a queimá-lo. Era ácido. A pele do elfo começou a se desfazer como papel imerso em água. Seus dedos caíram, suas orelhas se dissolveram e seu cabelo desapareceu. Antes de perder as orelhas, Legolas ouviu um último som atrás de si. Liodriel gritava desesperada ao ver seu amado sendo corroído pelo ácido do monstro. Legolas se virou e correu para proteger sua amada.
_ Eu disse para você não vir!!! Eu avisei que era perigoso!!! – gritava a elfa ruiva para seu noivo.
O monstro bateu suas asas, levantando vôo e pousou seu enorme corpo sobre o de Legolas. O arqueiro se debatia, tentando alcançar sua amada, mas as garras da criatura o impediam até mesmo de respirar. Uma das garras do monstro segurou a cabeça de Legolas, como se tentasse mostrar a ele o que aconteceria a seguir. Legolas se debatia, ao mesmo tempo em que via um brilho branco surgir acima de sua cabeça, e sentia um líquido corrosivo caindo sobre seu corpo. O desespero fez com que ele perfurasse o olho direito na garra do monstro. Com o olho restante, Legolas pode ver um jato luminoso indo de encontro à sua amada e ofuscando a visão de qualquer outra coisa. Quando abriu os olhos, Legolas viu o sol da manhã batendo em seu rosto. Viu que estava todo suado e acordou aos gritos de um pesadelo terrível. Ao seu lado, todos os seus companheiros, inclusive Sam, também haviam tido o mesmo sonho. Teria sido somente um sonho, ou uma visão? Neste instante, todos se lembraram da vertigem que haviam tido ao se despedirem de Enola, e das visões futurísticas que a ninfa tinha de tempos em tempos. Sem perder tempo, o grupo de heróis levantou o acampamento e partiu em disparada, rumo ao vilarejo de Darkwood.

Nenhum comentário:

Postar um comentário