fevereiro 24, 2006

Capítulo 172 – Por um triz, Legolas em perigo

Capítulo 172 Por um triz, Legolas em perigo

Já era o início da madrugada, quando os heróis rumavam para a casa do capitão. Mesmo sendo tão tarde, sabiam que não tinham tempo a perder, pois Legolas tinha apenas mais três dias de vida. Enquanto eles investigavam, buscando uma forma de conseguir um novo julgamento, uma nova chance de salvar o amigo, Legolas passava por maus bocados na cadeia.

Legolas não pregara os olhos desde que chegara àquela cela infernal. Estaca em um ambiente hostil, talvez mais perigoso que as câmaras de Khundrukar e precisava ficar atento a tudo para manter sua integridade física. Então, já por volta das duas da manhã, ele viu seu maior inimigo, o meio-orc Gorosh, se levantando.

Legolas fingiu estar dormindo e ficou a observar o monstro caminhando em sua direção. Quando estava próximo da cama do elfo, o meio-orc desviou e foi até o canto da cela urinar no ralo que conduzia os dejetos dos presos para fora da masmorra. O ser ficou ali despejando sua urina fétida por quase dois minutos. Legolas olhava assustado, impressionado com o tamanho descomunal da “arma” do meio-orc.

Gorosh terminou de fazer suas necessidades e retornou. Parou diante da cama de Legolas e ficou olhando calado. Depois se aproximou mais um pouco para desespero de Legolas, mas sua atenção estava voltada para a cama debaixo do arqueiro.

_ Droga, esse anãozinho tá roncando de novo! Assim eu não vou conseguir dormir.Dorme direito ae, ô rapá! – disse Gorosh, sacudindo o anão.

Legolas respirou aliviado, parecia que ele havia esquecido de sua presença. Triste engano. Quando Legolas pensou que estava livre d perigo, Gorosh o agarrou rapidamente pelas pernas e o puxou para fora da cama.

_ Não me esqueci de você não minha loirinha gostosa! Agora a gente vai se divertir bastante! – gritou o meio-orc, puxando o pobre elfo para junto de si.

Legolas tentou reagir com socos e pontapés, mas nada disso parecia fazer Gorosh sentir dor. Tentou então mudar de tática, agarrando ao monstro e mordendo o seu pescoço.

_ Ai, ela morde! Que loirinha selvagem! Adoro meninas más! – disse o estuprador, socando sua pesada mão no rosto do elfo.

Legolas ficou atordoado com toda a força do inimigo. Foram vários golpes em seqüência e com tanta força que Legolas quase perdeu os sentidos. Muito fraco e imóvel, Legolas foi deitado no chão de bruços. Sentiu o meio-orc rasgando sua calça com suas poderosas mãos, de maneira selvagem e brutal. Ouviu ele sussurrando em seu ouvido “eu vou te fazer mulher”, enquanto se despia. Legolas não podia fazer nada naquele momento, estava totalmente indefeso. Finalmente sentiu algo quente, muito grande e roliço encostando suavemente em suas nádegas e avançando contra seu corpo. Legolas pensou que aquele era seu fim. O órgão do meio-orc cutucou Legolas, e depois se dobrou por cima do elfo. Gorosh deitou sobre o corpo de Legolas, completamente imóvel. Legolas rastejou para fora daquela situação horrenda e viu que vários guardas, armados de clavas, haviam nocauteado Gorosh. O meio-orc foi conduzido para fora da cela, sob os pontapés enraivecidos de Legolas. Ele se vestiu novamente, com suas roupas rasgadas e sua dignidade abalada. Voltou para sua cama, assustado e lá permaneceu, um pouco mais calmo agora que sabia que Gorosh iria para a solitária. Ouviu os comentários dos anões que diziam que “Edgard havia estragado a festa de Gorosh”, mas não fez nada, apenas procurou dormir, para poupar energias, caso aquele monstro voltasse a importuná-lo e ele tivesse que lutar contra ele. Legolas fora salvo apenas por um triz, mas para seu alívio, sua integridade física não havia sido violada.

Capítulo 171 – Investigação

Capítulo 171 Investigação

Todos foram libertados e receberam todos os seus pertences de volta, intactos. Todos menos Legolas. O arqueiro foi conduzido de volta ao forte, e trancafiado em uma cela diferente da primeira onde haviam ficado. Os demais seguiram para a estalagem onde os moradores de Darkwood que haviam participado do julgamento estavam hospedados. Todos se alimentavam, para repor as energias após aquele longo e penoso julgamento. Yczar, entretanto não parou para descansar. O paladino deixou seu amigos na taverna e partiu, rumo à prisão para falar com Legolas. Queria ter maiores detalhes sobre a morte de Elenindow, na esperança de descobrir algum fato grave que pudesse justificar o crime de Legolas. Yczar desejava de alguma forma provar que Elenindow era um mau caráter e que o ato de Legolas na verdade teria sido uma benfeitoria para todos, e não um crime como diziam todos os soldados. Enquanto isso, Nailo saiu pela cidade para comprar armas, pois, já que Legolas estava condenado à morte e não havia nada a ser feito, pelo menos ele poderia aproveitar que estavam ali para se equipar e, se conseguisse boas armas, poderia utilizá-las para tirar Legolas da cadeia à força. Squall também saiu pelas ruas, desejava encontrar alguém com poderes suficientes para reviver seu amigo Loand a partir do dedo que ele carregava consigo. Sam também não ficou na estalagem. O bardo foi para as ruas de Vallahim aproveitar a noite, como ele mesmo disse. Era decepcionante. Legolas estava prestes a morrer, mas Sam parecia mais preocupado em se divertir do que ajudar o amigo condenado. Parecia que o bardo começava a dar as costas para os amigos. Anix e os demais permaneceram na estalagem, em companhia dos moradores de Darkwood, esperando o retorno dos demais para decidirem o que fariam para ajudar seu amigo.

Enquanto tudo isso acontecia, Legolas enfrentava dificuldades na prisão. Em sua nova cela, havia mais sete prisioneiros. Quatro humanos, dois anões, um deles de tapa-olho negro, e um meio-orc gigantesco. Ao colocar os pés dentro da cela, Legolas foi olhado de cima a baixo pelos outros presos, menos por um dos humanos, que parecia alheio a tudo. O meio-orc não conteve-se em apenas olhar.

_ Olha só pessoal! Temos companhia nova! Chega mais loirinha “bunitinha”! Vem aqui pertinho que eu tenho certeza que a gente vai se dar muito bem! Se é que você me “intendi”! – o meio-orc falava de um jeito mole, como se possuísse dificuldades para falar ou para pensar no que falar. Mas, apesar de aparentar ser pouco inteligente, aquele ser tinha força suficiente para derrubar um batalhão.

_ Cale essa sua boca imunda senão eu te arrebento! – gritou Legolas, tentando impor respeito.

_ Olha só pessoal, a loirinha é brava! Que bom, adoro mocinhas rebeldes! – provocou o meio-orc.

_ É acho que o Gorosh cai fazer a festa hoje! – disse um dos anões sorrindo maliciosamente.

_ Cala a boca você também! Me diz ai, onde tem um cama vazia aqui? – disse Legolas tentando disfarçar o medo.

O anão caolho apontou justamente para a cama acima da do meio-orc, que sorriu ao var que Legolas dormiria perto dele. Gorosh levantou-se, exibindo uma assustadora protuberância em sua calça na região entre as pernas e chamou Legolas para perto dele.

_ Vem cá minha loirinha, vem dormir com o Gorosh, vem! – disse o meio-orc.

Legolas engoliu seco. Não havia mais camas naquele lugar, parecia que teria que dormir perto daquele ser nojento e depravado. Quando estava se conformando com a idéia de dormir no chão, e enfrentar os ratos que segundo os presos atacavam com mordidas durante a noite, um dos humanos se levantou e cedeu sua cama para Legolas, indo se deitar perto de Gorosh.

_ Ah Edgar, você estragou tudo! Assim eu vou ficar bravo com você! – exclamou o meio-orc.

Legolas se deitou e todos se calaram. Passados alguns minutos, Legolas recebeu a visita de Yczar, que lhe contou sua estratégia de tentar denegrir a imagem de Elenindow para livrar Legolas da forca. Legolas lhe contou sobre o estranho duelo que havia tido com o tenente Sunil, e sobre o que ele havia dito sobre Legolas trapacear para vencer. O arqueiro também garantiu ao paladino que tinha tido uma luta limpa e vencido de forma justa o seu inimigo.

Yczar saiu da prisão, deixando seu amigo para trás e foi ao encontro dos demais. O paladino tencionava conversar com Sunil para entender porque ele acusou Legolas de trapacear e tentar descobrir algo de obscuro que pairava sobre aquele caso. Squall, Lucano e Nailo foram com ele. Sairf e Anix permaneceram na estalagem, tentando confortar seus amigos de Darkwood.

Sunil os recebeu mesmo a contra gosto. Morava em uma cabana pequena de madeira, um lugarejo bem simples, porém aconchegante. Todos se dividiram em duas poltronas de madeira rústica que Sunil tinha em sua sala e começaram a conversa.

O tenente lhes contou sobre o duelo com Legolas e que o tinha feito apenas para confirmar que Legolas não possuía capacidade para vencer Elenindow numa luta justa. Segundo ele explicou, Elenindow sempre fora muito mais forte que ele próprio. Assim sendo, se Sunil tinha derrotado Legolas tão facilmente, não havia possibilidade de Elenindow ter sido derrotado por Legolas. A menos que o arqueiro tivesse lutado sujo de alguma forma. Sunil estava convencido que Legolas havia usado alguma magia ou algum veneno para facilitar a luta e matar Elenindow.

Sunil contou também que Elenindow era um bom rapaz, descartando a possibilidade de ele ter matado o avô de Legolas e o curandeiro, a menos que fosse por legítima defesa. Contou que Elenindow, no início, era um garoto arrogante e sem educação, mas que com o passar do tempo, o capitão Ron conseguiu educá-lo após muitos castigos e provações. Elenindow já havia sido condecorado como herói por ter impedido, poucos dias antes de sua morte, que ladrões roubassem o ouro dos tributos que o pelotão escoltava para a capital. Sunil teria sido salvo por Elenindow e devia sua vida a ele. Porém, logo após os dois terem conseguido impedir o roubo, outros bandidos aproveitaram enquanto o pelotão comemorava o feito heróico para roubar o ouro. O dinheiro numa mais foi encontrado, mas Elenindow descobriu que havia alguém do exército envolvido no roubo, um soldado sem disciplina e metido a valentão que existia no grupo. Ele foi contar ao capitão quando estavam acampados perto de Darkwood e ia receber uma medalha e a promoção a tenente por isso. Elenindow e o capitão comemoraram e brindaram para festejar. Finalmente os dois haviam acertado as diferenças. Todos no acampamento ouviram as risadas do capitão dentro da sua tenda comemorando com seu novo tenente. Depois disso, Elenindow saiu cambaleando de bêbado pelo acampamento e foi dormir na mata. Na manhã seguinte, o pelotão o encontrou em Darkwood, sendo assassinado por Legolas. O capitão sempre fora muito severo com o rapaz e, justamente agora que os dois haviam ficado amigos, Legolas havia ceifado covardemente a vida do coitado. Mesmo com Elenindow morto, o capitão Ron fez questão de colocar a medalha de honra no peito do garoto e promovê-lo a tenente diante de todos os outros soldados.

Sunil não se conformava com isso, e não sossegou até ver Legolas atrás das grades. Descartou com segurança a hipótese de Nailo, de seu amigo estar embriagado quando lutou com Legolas, já que ele havia bebido mais de doze horas antes do assassinato.

Todos ficaram confusos. O rapaz parecia muito sincero e seguro. Além disso, sem que ele notasse, Lucano havia usado uma magia no tenente para impedir que ele mentisse. Será que Legolas estava mentindo, ou ao menos ocultando algum fato sobre o incidente? Não sabiam dizer, a única coisa que podiam fazer era acreditar no amigo e confiar em suas palavras.

O grupo saiu da casa de Sunil disposto a conversar também com o capitão Ron. Também tinham a intenção de buscar Laura, a neta do curandeiro e maior testemunha da morte de seu avô. Talvez o capitão ou a jovem pudessem lhes dar alguma resposta, alguma pista que pudesse levar à libertação de Legolas ou à sua total condenação.

Capítulo 170 – Crime e castigo, o julgamento

Capítulo 170 Crime e castigo, o julgamento

_ Senhor juiz, senhoras e senhores jurados, hoje nós testemunharemos aqui um show de inverdades a fim de iludi-los para que dêem a liberdade para estes jovens que hoje se sentam no banco dos réus. Jovens estes que cometeram diversos crimes e que não tem nada de inocentes. Criminosos tão perigosos que não hesitaram em atacar e ferir seus próprios companheiros, amigos e parentes para fugir da punição divina. Eu, na posição de promotor, irei convencê-los, através da apresentação de provas e testemunhos reais, irei convencê-los da culpa destes jovens e do perigo que eles representam para o bem estar de nossa sociedade e para a segurança pública. Provarei aqui, que este grupo não só é culpado, como também é perigoso demais para continuar a andar livre pelas ruas de nosso reino. No final, tenho certeza de que todos vocês ficarão convencidos, não pelas minhas palavras, mas sim pelos fatos que aqui serão apresentados, de que os réus merecem ser punidos e esta punição não será um simples prisão, mas sim a pena máxima, a pena capital para expiar os crimes que estes jovens cometeram e para garantir que nenhuma outra pessoa venha no futuro a se tornar vítima de seus atos perversos e criminosos! – o promotor, um homem de baixa estatura, cabelos pretos bem curtos e de rosto cuidadosamente barbeado, deu início ao julgamento, acusando de forma veemente os heróis com um discurso inflamado de emoção que parecia ser insuperável.

_ Yczar, quantas pessoas você já defendeu em julgamentos? – perguntou Anix, preocupado.

_ Vocês são os primeiros, meu amigo! Mas não se preocupe, vou tirá-los desta! – respondeu sorridente e confiante o paladino.

_ Com a “palava”...digo, palavra, a defesa! – parecia que o juiz ainda não tinha aprendido a falar. Seu problema com as palavras, e suas marteladas histéricas sobre a tribuna pedindo silêncio, provocavam risos naqueles que assistiam ao julgamento. Risos estes, que eram sufocados e reprimidos pelos presentes para evitar retaliações por parte do juiz.

_ Senhor juiz, senhoras juradas, senhores jurados e todos aqui presentes! Hoje, eu vocês testemunharão não um show, mas uma série de depoimentos e a apresentação de fatos concretos que provarão a todos vocês a inocência de meus clientes. Esses fatos e depoimentos irão convencê-los da inocência de meus clientes, que foram acusados injustamente e foram vítimas de abuso de poder e autoritarismo por parte daqueles que os prenderam! Vocês verão por si próprios que estes jovens, não são criminosos, mas sim heróis, que salvaram várias vidas, a deste defensor inclusive! Ao final deste julgamento, estou certo de que todos aqui concordarão com a inocência dos acusados e pedirão a absolvição dos réus! – discursou Yczar de forma segura e convincente, aumentando a esperança dos heróis.

O julgamento se estendeu por todo o dia e avançou noite adentro. Foram ouvidos os testemunhos de várias pessoas que, sob os efeitos da magia dos clérigos de Khalmyr, não tinham como mentir em seus depoimentos. Entre essas pessoas estavam Liodriel e outros moradores de Darkwood. Yczar os interrogava com maestria, levando-os a exaltar as atitudes heróicas do grupo. Batloc também testemunhou, contando resumidamente sobre os fatos ocorridos na ilha de Ortenko, mais uma vez mostrando que os jovens eram heróis de verdade. A promotoria, por sua vez, tentava desqualificar o depoimento das testemunhas de defesa, alegando que como todos eram amigos e parentes dos acusados, jamais os acusariam de qualquer coisa.

Depois foi a vez das testemunhas de acusação, os soldados do exército. O promotor lhes perguntava sobre os atos dos réus, confirmando que estes haviam resistido à prisão, atacado os soldados, e ferido os aldeões inocentes. Mas, Yczar também os interrogou de forma brilhante. A cada pergunta feita pelo paladino, os soldados confirmavam a tese da defesa: o exército havia dado voz de prisão, sem se identificar, sem dizer porque os prendiam e ainda por cima ameaçando com arcos, flechas e espadas não somente os réus, mas também os aldeões que estavam presentes. As perguntas de Yczar, elaboradas de maneira estratégica, trouxeram um fato à tona que pesou a favor dos réus. Os jurados ouviram das bocas dos próprios soldados, que o exército havia disparado suas flechas contra os réus e ferido os aldeões antes que os heróis tivessem reagido. Na verdade, a única reação tinha sido a tentativa de Squall de enfeitiçar o comandante, mas como ele não havia sacado nenhuma arma, nem produzido qualquer efeito mágico visível, pareceu a todos que os soldados o haviam atacado apenas por se equilibrar em cima do cavalo. Yczar começava a vencer o caso.

Mas, uma das acusações era irrefutável. A do assassinato de Elenindow. Mesmo justificando que Legolas estava fora de si e que Elenindow havia matado o avô de Legolas primeiro, os seus amigos e familiares confirmaram que ele havia de fato matado um oficial do exército. O promotor era impiedoso. Percebendo que perdia a batalha para Yczar no caso da prisão dos heróis, agarrou-se com unhas e dentes à tentativa de condenar ao menos Legolas pela morte de Elenindow.

As pessoas de Darkwood tentavam reduzir a gravidade do fato contando sobre o péssimo caráter de Elenindow. Mas essa estratégia foi logo vencida pelo depoimento dos soldados, que mostravam um outro lado do caráter de Elenindow, um homem honrado, um amigo fiel, um soldado disciplinado. Pesaram contra Legolas principalmente o depoimento do tenente Sunil Aeon, parceiro de Elenindow desde o tempo em que eram apenas recrutas, o mesmo soldado que testemunhou a luta entre Legolas e Elenindow e que comandava as tropas no dia em que os heróis foram presos. Além dele, também depôs o capitão Ron Fumir comandante geral do batalhão de Elenindow e Sunil, que exaltou ainda mais a retidão do caráter de Elenindow, bem como seus feitos heróicos que lhe deram a promoção ao posto de tenente.

Esse capitão em especial chamou a atenção de todos por seu testemunho. Era um homem extremamente arrogante e estúpido. Tratava Yczar como se ele fosse um de seus subordinados. Não respondia às perguntas, se irritava facilmente e desrespeitava o paladino. Dizia que queria ver o assassino de seu soldado mais querido morto e parecia odiar Legolas. Dizia que o arqueiro devia pagar pelo crime cometido com a própria vida. Quando indagado por Yczar sobre a morte do curandeiro e do avô de Legolas, o capitão se irritou mais ainda e o ofendeu chamando-o de “paladinozinho hipócrita”. Repreendido pelo juiz, o capitão respondeu dizendo que Elenindow seria preso e julgado pelas mortes, mas que Legolas interferiu e impediu que isso acontecesse, atrapalhando o trabalho da justiça.

Já passava das sete da noite quando o juiz ordenou um recesso para que os jurados se reunissem e dessem o veredicto. Após alguns minutos tensos, todos voltaram a se reunir no tribunal. O juiz recebeu de um dos jurados um envelope com a decisão do júri e anunciou o veredicto.

_ Ao décimo sétimo dia sob Weez, do ano de 1397, pelos poderes a mim concedidos nesta corte, declaro os réus Legolas Greenleaf, Nailo Beliondil, Anix Remo, Squall Remo, Sairf Ridlav, Sam Rael e Lucano Lireian inocentes dos crimes de desacato à autoridade, formação de quadrilha, tentativa de homicídio, perturbação da paz pública, danos ao patrimônio público e resistência à prisão! – anunciou o juiz de forma clara, com uma voz grave e quase ensurdecedora.

Todos começaram a comemorar e a se abraçar. Haviam vencido, estavam livres. Mas a alegria durou pouco. As marteladas do juiz calou a todos para ouvir o anão que parecia não ter concluído sua declaração.

_ Silêncio todos! Continuando, condeno o réu Legolas Greenleaf a pena de morte por enforcamento, pelo assassinato do tenente Elenindow Ruran, oficial do exército real de Tollon! Determino que a sentença seja executada daqui a três dias, às quatro horas da tarde do dia 20 do mês de Weez do ano de 1397! – concluiu o juiz.

A declaração causou dor e tristeza nos heróis. Seu amigo Legolas estava com os dias contados. Seria enforcado antes de poder se casar com sua amada Liodriel, antes de ter filhos e de construir uma família. Sua vida seria abreviada precipitadamente, deixando todos os seu amigos e parentes entristecidos. Liodriel caiu em prantos, enquanto o tenente Sunil, o capitão Ron e os outros soldados comemoravam a vitória. Yczar não se conformou com a decisão.

_ Meretíssimo! Eu recorro da sentença e peço que o réu Legolas tenha um novo julgamento para julgá-lo separadamente de seus companheiros e apenas pela morte do tenente Elenindow, sem envolver as outras acusações das quais ele foi absolvido, para que ele tenha a chance de se defender de maneira justa. – gritou Yczar tentando abafar os gritos e risadas dos que comemoravam.

_ Silêncio! A sentença já foi “data”...digo, dada defensor! Não há como voltar atrás! – respondeu o juiz, calando a todos com seu martelo.

_ Mas eu penso que os outros fatos desviaram o foco desta acusação e que todos os detalhes envolvendo a morte de Elenindow ainda não foram esclarecidos! Eu peço um novo julgamento! – insistiu Yczar.

_ Como eu já disse, a sentença já foi dada e, a menos que surja algum fato grave que justifique um novo julgamento, a decisão aqui anunciada deve ser cumprida! E caso encerrado! – e o juiz bateu mais uma vez seu martelo, encerrando o julgamento e o futuro promissor do jovem Legolas Greenleaf.

Capítulo 169 – Agonia na prisão

Capítulo 169 Agonia na prisão

Batloc e Yczar estavam de volta ao grupo. Após viverem grandes aventuras juntos e após ficarem separados por meses, os velhos amigos estavam novamente todos reunidos. Todos ficaram felizes em rever os dois paladinos. Com a ajuda deles, todo aquele mal entendido podia ser desfeito e eles poderiam retornar para suas vidas normais. Entretanto, ainda havia uma última etapa a ser cumprida, mais um desafio a ser superado. Um duro julgamento estava por vir para testar uma vez mais o valor daqueles jovens.

Os prisioneiros foram conduzidos de volta à prisão. Pouco tempo depois, Yczar e Batloc se reuniram com eles para ouvir suas histórias. Anix e seus amigos contaram detalhadamente tudo que haviam enfrentado desde o dia que deixaram Malpetrim. A longa viagem até Tollon, os problemas encontrados em Darkwood, suas aventuras dentro da forja de Durgedin, a morte de Loand e, finalmente, os detalhes da prisão do grupo. Legolas contou também sua história, os motivos que o tornaram um criminoso procurado no reino. Contou de sua luta contra Elenindow, e do assassinato de seu avô e do curandeiro de Darkwood.

Yczar ouvia tudo atentamente, enquanto Batloc anotava cada detalhe num pergaminho. Após colherem cada informação necessária para preparar a defesa dos amigos, Yczar lhes contou que os dois estavam a caminho de Valkaria quando pararam no templo de Khalmyr para descansar e ouviram o juiz anunciar os nomes dos heróis. Fora uma feliz coincidência eles estarem ali naquele momento, ou talvez uma providência divina. E aqueles jovens em especial tinham motivos de sobra para crer no maravilhoso poder dos deuses, já haviam tido o privilégio de estar na presença de dois deles.

_ Bem, meus amigos! Agora nós iremos interrogar alguns dos soldados que prenderam vocês! Minha estratégia será usar o fato de eles terem sido autoritários em excesso para livrá-los da condenação! – disse Yczar, se levantando para partir.

_ Yczar, descubra para nós o que aconteceu com o nosso amigo Nevan e com nossos animais, por favor! – pediu Anix.

_ Ah sim, já ia me esquecendo! Seu amigo e seus animais estão bem! As pessoas da vila que ficaram feridas na batalha foram curadas e passam bem! O seu amigo machucado ficou de repouso na vila para se curar e seus animais ficaram com o ferreiro da vila! – respondeu Yczar.

_ Ei Yczar! Por que nossos poderes não funcionam mais? - perguntou Squall, curioso.

_ Porque tanto esta cela, quanto os grilhões que vocês estão usando são encantados e impedem que qualquer magia funcione. Tentar fazer magias aqui é inútil. Bem, agora nós temos que ir! Vamos preparar a defesa e reunir testemunhas para ajudá-los. Temos dez dias ainda, então iremos até a vila de vocês para buscar algumas pessoas de lá para testemunharem a favor de vocês! Até mais amigos! – despediu-se o paladino. Yczar e Batloc deixaram os companheiros com as bênçãos de Khalmyr e partiram.

Durante a noite, uma nova visita veio tirar o sossego dos heróis. O oficial que liderava as tropas que os haviam capturado surgiu acompanhado de uma dúzia de soldados. Diante da cela, ele encarou cada um dos presos, até localizar sua presa. Apontando para Legolas, ele ordenou que seus soldados o tirassem e o levassem para fora da prisão.

Lá fora no pátio do forte, Legolas foi solto das algemas e cercado por uma roda com dezenas de soldados. O líder deles apontou para um soldado e ordenou que ele entregasse uma espada para Legolas. O arqueiro imediatamente reconheceu o homem. Era o mesmo soldado que testemunhara o momento em que Legolas derrotava Elenindow e o matava com sua espada. Legolas assistiu ao homem retirar sua armadura calmamente. O oficial ficou com o corpo desprotegido, da mesma forma que Legolas, sacou sua espada e o desafiou para um duelo.

_ Vamos ver agora do que você é capaz! – exclamou o homem iniciando o duelo.

A disputa seguiu equilibrada no começo. Os soldados que assistiam vibravam a cada golpe dado por seu comandante. O soldado começou a encurralar seu oponente, até encostá-lo nos soldados que cercavam os dois. Legolas não se deixou intimidar e colocou todo seu empenho naquela luta. Com muito esforço ele conseguiu ganhar espaço para contra-atacar. O arqueiro inverteu a situação e atacou o inimigo sem parar, fazendo-o recuar até os limites da arena. Entretanto, apesar de encurralado, o soldado parecia tranqüilo e confiante.

Quando finalmente encostou em seus subordinados que fechavam a roda ao redor do combate, o soldado sorriu para Legolas, que atacava impiedosamente.

_ Quer dizer que é só isso? Então eu estava certo o tempo todo, como suspeitava! – disse o soldado calmamente enquanto se defendia dos ataque de Legolas.

Logo após dizer essas palavras, o comandante voltou a atacar e a avançar, conduzindo Legolas até o centro da roda. Legolas mal conseguia se defender dos ataque, enquanto seu inimigo parecia nem se cansar. Com um giro de espada, o soldado desarmou Legolas tão facilmente que parecia que lutava contra uma criança indefesa. Encostou a ponta da espada no pescoço do arqueiro tão rápido quanto um relâmpago, rendendo-o e encerrando o combate.

­_ Era como eu suspeitava! Você só venceu o Elenindow porque lutou sujo contra ele! Ele era muito mais forte que eu, se você não tivesse trapaceado jamais o teria vencido! Não sei que magia, veneno ou truque você usou para vencê-lo, mas sei que se você não tivesse trapaceado, seria você que estaria enterrado agora! – disse o homem com fúria em seu olhar. Depois se virou com total desprezo pelo inimigo derrotado e partiu, ordenando que os soldados levassem Legolas de volta à cela.

Legolas retornou para a cela, sem contar nada a seus companheiros. Estava confuso com o que acontecera e com as palavras daquele homem. Legolas não lutava sujo e nem trapaceava. Vencera Elenindow de maneira justa e limpa, então por que ele dissera aquelas palavras? Por que de tudo aquilo? Sem entender o significado daquele acontecimento, o arqueiro se rendeu ao cansaço e adormeceu, sem contar aos amigos o que lhe acontecera.

Dez dias se passaram desde a abertura do processo. Foram dias tediosos e agonizantes dentro daquela cela fria, escura e úmida. A única alegria que tiveram durante este período foi a visita quase diária de seus amigos e parentes. Liodriel e sua família faziam Legolas voltar a sorrir, além de divertir a todos com as explosões de fúria de Lioniel. Os pais de Nailo também estavam sempre presentes para tranqüilizá-los quanto à situação de seus animais. Yczar e Batloc sempre apareciam para deixá-los a par de suas estratégias para o julgamento e para colher mais detalhes que pudessem ajudar a absolver os heróis. Porém, segundo as suposições de Yczar, as chances não eram nada animadoras.

_ Eu acredito que vocês tenham uns 30% de chance de serem absolvidos! Já no caso do Legolas, a situação se complica mais! Ele realmente matou o oficial, com testemunhas vendo e além de tudo ele declarou-se culpado no início do julgamento! – disse Yczar.

_ E quanto eu tenho de chance? – perguntou Legolas com a cabeça baixa, totalmente desanimado.

­_ Acho que suas chances de ser absolvido são zero! A condenação é quase certa! Minha esperança é tentar reduzir a pena ao máximo para você! – respondeu Yczar.

_ E se ele for condenado, o que vai acontecer com ele? – perguntou Lucano.

_ A pena varia! Ele pode tanto morrer enforcado, quanto ser simplesmente preso ou ter a mão decepada! Isso é difícil de prever. – respondeu Batloc.

Eram realmente pequenas as chances do grupo, mas eles não perderam suas esperanças e confiaram em seus amigos. Assim, passaram-se os dez dias e finalmente a manhã do 17º dia de Weez chegou. Era um aztag, o primeiro dia da semana. Uma semana que começava cheia de angústia e esperança para os aventureiros.

fevereiro 23, 2006

Capítulo 168 - Defensor divino

Capítulo 168 Defensor divino

Ainda algemados, os prisioneiros se acomodaram numa carroça jaula, um pouco maior que aquela na qual haviam sido trazidos para Vallahim. Conduzidos através do portão do forte, os jovens atravessaram parte da cidade até parar diante de um majestoso palácio. Era um imenso prédio, construído de mármore branco e curiosamente simétrico. Na entrada havia dois enormes pilares um de cada lado da entrada, cuidadosamente alinhados e esculpidos com entalhes decorativos idênticos. Uma escada larga, de degraus muito grandes vinha do interior do prédio até a rua, bifurcando-se diante da entrada para formar duas escadas menores e totalmente iguais. Diante das escadas, duas estátuas de bronze com quase três metros de altura, representavam a figura de um homem imponente usando uma armadura de batalha e portando uma espada e um escudo de formato exótico. As estátuas tinham sido construídas como se uma fosse a imagem da outra refletida num espelho, para garantir a simetria das formas, o que revelava a natureza daquele lugar. Era um templo de Khalmyr, o deus da justiça e da ordem. Era naquele templo majestoso que eles seriam julgados.

Acorrentados uns nos outros, os jovens entraram no local sagrado em fila única. Cruzaram um gigantesco salão, de teto abobadado com fileiras de bancos de madeira à esquerda e à direita. Grandes vitrais ilustravam cenas da luta de Khalmyr contra outro deus, Zzssaas, o corruptor, e permitiam a entrada do sol que iluminava todo o lugar. Um grande altar de celebrações ficava ao fundo, num patamar mais elevado e separado dos bancos por um largo corredor que se estendia para a esquerda e para a direta, terminando em duas portas idênticas.

O grupo seguiu pela direita, atravessando a porta dupla de madeira que dava para um outro salão anexo. De forma semelhante ao salão anterior, vários bancos se enfileiravam pelo local, separados por um corredor central. Ao fundo existia um balcão de madeira alto, e outro um pouco menor à esquerda deste. Entre o balcão e os bancos havia um espaço de cerca de três metros, isolado dos assentos por uma grade baixa de madeira. À frente das grades, havia duas grandes mesas, rodeadas de cadeiras. À esquerda do balcão também existia uma outra área cercada. Com assentos de madeira alinhados um atrás do outro, que se tornavam mais altos à medida que se aproximavam da parede esquerda, formava algo como uma arquibancada, complementando o tribunal.

Havia várias pessoas no local. Alguns homens sentados nos bancos no meio do tribunal, um anão de barba branca trançada, cabelos longos e alvos e com o topo da cabeça calvo. Um homem de aspecto severo sentava-se solitário na mesa da esquerda, e nos bancos dos jurados haviam dois homens vestidos com armaduras brilhantes. Havia também outros homens em pé, soldados do exército, e todos os outros que não faziam parte do exército traziam consigo o símbolo de Khalmyr na forma de medalhões com a figura de uma balança com seus pratos equilibrados em uma espada.

O grupo sentou-se à mesa da direita, e o juiz, um sacerdote de Khalmyr, deu início à sessão.

_ Ao sétimo dia sob Weez, do ano de 1397, procedemos à abertura do processo de julgamento dos réus Legolas Greenleaf, Nailo Beliondil, Anix Remo, Squall Remo, Sairf Ridlav, Sam Rael e Lucano Lireian! – falou o juiz num tom quase gritado que preenchia o salão.

_ Os réus são acusados dos crimes de desacato à autoridade, formação de quadrilha, tentativa de homicídio, perturbação da paz pública, danos ao patrimônio público, resistência à prisão e finalmente, no caso específico do réu Legolas Greenleaf, homicídio qualificado, agravado por resultar na morte de um oficial do real exército de Tollon! – continuou o juiz.

_ Frente a todas essas acusações, o que os réus alegam? – perguntou o juiz, voltando o olhar para os prisioneiros.

Todos ficaram surpresos com a quantidade de acusações que pesavam sobre eles. Sabiam que grande parte de tudo aquilo era exagero, mas sabiam também que haviam abusado de seus poderes e cometido atos estúpidos, do mesmo tipo daqueles que no passado causaram as mortes de Sam e Loand. Apesar da situação difícil em que se encontravam, Legolas tomou a frente do grupo para fazer a defesa de seus amigos.

_Olha senhor juiz, eu sei que eu matei o cara no passado, e sou procurado por isso, mas meus amigos não tiveram nada com isso, e se a gente atacou os soldados agora, foi porque eles nos ameaçaram e.... – Legolas falava com insegurança e temor.

_ Silêncio no tribunal! – gritou o juiz, interrompendo o discurso de Legolas. – Eu acho que vocês não entenderam, por isso vou perguntar novamente! O que os réus alegam?

_ Bem, como eu estava dizendo, os soldados apontaram os arcos pra nós, nos ameaçando e... – continuou o arqueiro, sendo novamente interrompido.

_Silêncio! - gritou o anão, batendo com seu martelo de madeira sobre o balcão. - Meu jovem, venha cá! – disse acenando para Legolas.

O arqueiro se levantou para se aproximar da tribuna, mas como estava acorrentado aos seus companheiros, não podia se movimentar.

_ Ah! Está bem! Venham todos vocês até “agui”! – disse o juiz, aborrecido com a situação e se confundindo com as palavras.

O grupo se levantou e se aproximou do anão que os olhava com descaso. Quando estavam próximos o bastante, o juiz se curvou na direção deles e continuou.

_ Vejam bem! Isto aqui é um tribunal, e num tribunal existem certos “pocedimentos”...digo procedimentos legais que devem ser seguidos. Esta é a fase de abertura do processo, não é o julgamento ainda. Só o que eu estou perguntando é se vocês “alegram”...digo, se vocês alegam culpa ou inocência. Eu não quero saber o que vocês fizeram, quem são vocês, de onde vieram ou qualquer outra coisa! Só o que eu quero ouvir de vocês agora é uma resposta simples e direta: culpados ou inocentes! E não quero ouvir mais nenhuma outra palavra além de uma destas duas. Entenderam? – explicou pacientemente o juiz, novamente trocando as palavras, tornando aquele processo um pouco menos tenso e mais engraçado.

_ Entendemos! – responderam em coro os jovens.

_ Ótimo, então voltem aos seus lugares! – ordenou o juiz. Quando estavam todos de volta às suas posições, prosseguiu. – E então, “diande”...digo, diante de todas as acusações levantadas, o que os réus declaram???

_ Inocente! - respondeu Anix com tranqüilidade.

_ Inocente! - disse Nailo contrariado com toda aquela situação

_ Culpado! - disse Legolas, baixando sua cabeça, para surpresa de todos.

_ Inocente! - respondeu Sairf bufando.

_ Inocente! - disse Lucano segurando o riso por causa do problema de oratória do juiz.

­_ Inocente! – resmungou Squall.

_ Inocente, é claro! - sorriu Sam.

_ Sendo assim, daremos início ao julgamento dos réus num prazo de dez dias a contar da data presente, às dez horas da manhã do dia 17 de Weez de 1397. Vocês tem alguém para defendê-los? – prosseguiu o magistrado.

_ Não senhor juiz, não temos! E onde estão nossos animais e nosso amigo Nevan, um que estava machucado quando os soldados nos prend... – disse Anix, sendo interrompido pelas marteladas do anão.

_ Silêncio! Eu só perguntei se vocês tinham alguém para defendê-los, não sobre seus animais e amigos. Os soldados responderão essas perguntas a vocês depois! Esse assunto não me interessa! – vociferou o juiz, irritado, espancando a tribuna com seu martelo e fazendo com que Anix quase enfartasse de susto. – Bem, como vocês não têm nenhum defensor, eu nomearei um defensor “plúblico”...digo, público para vocês! – prosseguiu.

_ Mas o defensor tem que ser um elfo! – pediu Legolas, interrompendo o anão.

_ Silêncio! – mais marteladas no balcão. – Vocês serão defendidos por um servo de Khalmyr e, não importa a qual raça ele pertença, vocês terão uma defesa e um julgamento justo conforme nos ensinou o deus da justiça! Não haverá nenhum tipo de preconceito racial aqui neste “tibunal”...digo, tribunal! Podem estar certos disso!

­_ Bem, como eu estava dizendo, já que vocês não têm nenhum defensor particular, eu nomeio como defensor para o caso de vocês... – o juiz já estava prestes a bater o martelo uma última vez e dizer o nome daquele que defenderia os heróis, mas foi interrompido quando as portas do tribunal se abriram bruscamente e dois homens invadiram o ambiente.

Os dois entraram no tribunal, sem se importar com as “marletadas”...digo, marteladas e os gritos enlouquecidos do pequeno juiz de fala engraçada. Eram dois guerreiros robustos, vestidos com armaduras de batalha douradas e que carregavam em seus peitos o brasão de Khalmyr. Um deles, um humano, trazia em seu cinto uma grande espada e caminhava à frente com segurança e imponência. O outro, também um humano, mas de pele parda e brilhante como se fosse feita do próprio bronze, carregava um enorme machado em suas costas. A luz do sol penetrava pela porta, ofuscando os presente e escondendo a identidade dos dois que chegavam. Quando estavam próximos, o líder dos dois se dirigiu ao juiz.

_ Eles têm um defensor sim! Eu os defenderei, em nome da justiça de Khalmyr! – disse com uma voz firme e grave.

_ E quem é você que invade meu tribunal assim? – indagou o juiz.

_ Sou Yczar Artorion, paladino do grande deus da justiça de da ordem, Khalmyr! – respondeu o homem, sorrindo para seus velhos amigos que balançavam suas cabeça positivamente para o juiz.

_ E eu sou Batloc! Paladino de Khalmyr! – completou o outro homem.

_ Então, pelo poder a mim concedido eu nomeio com defensor dos réus, o paladino de Khalmyr, Yczar Artorion! – e bateu mais uma vez na tribuna, encerrando a sessão e retirando-se do recinto.

O destino daqueles jovens seria decidido num prazo de dez dias. Não sabiam qual seria o resultado de todo aquele processo, se seriam condenados ou absolvidos. Mas, com a presença de Batloc e Yczar, os jovens tinham suas esperanças renovadas e podiam voltar a sonhar com a liberdade.

fevereiro 22, 2006

Capítulo 167 - Prisão em Vallahim

Capítulo 167 Prisão em Vallahim

Um a um, os aventureiros abriram seus olhos lentamente. Estavam ainda atordoados devido à magia daquele estranho homem. Não sabiam onde estavam, nem como tinham parado naquele lugar. Sentiam que estavam em movimento, pois os seus corpos sacolejavam constantemente, enquanto a paisagem escura ao redor deles parecia ficar para trás. Estava escuro, e seus olhos ainda não haviam despertado totalmente, mas o som característico de cascos de cavalos, bem como os vultos que os cercavam, deixavam claro que havia homens montados em volta, talvez fossem os soldados. Estavam num tipo de jaula, com grades de metal e piso de madeira e que balançava como uma carroça em movimento. Pouco a pouco a visão do grupo foi recuperando a condição normal, até que eles puderam distinguir cada detalhe que os cercava. Estavam presos dentro de uma carroça fechada com barras de ferro e madeira. Ao redor, uma centena de soldados do exército de Tollon cavalgava próximo à carroça, formando três filas para escoltar os prisioneiros. Era noite, mas as tochas carregadas pelos soldados das filas internas permitiam que pudessem ver suas condições. Tinham as mãos presas a grilhões de ferro, e seus pés estavam acorrentados a pesadas bolas de metal. Seus equipamentos não estavam com eles. Vestiam apenas as roupas de baixo e havia peles de animais dentro da cela para que eles pudessem se proteger do frio da madrugada. Dentro da jaula, além de Lucano, Anix, Squall, Sam, Sairf, Nailo e Legolas, havia também dois orcs, presos do mesmo jeito que os heróis. Nevan, entretanto, não estava com eles. Nem ele, nem os animais do grupo.

_ Ei soldado! Pra onde estão nos levando? – perguntou Squall.

_ Não se preocupem, logo vocês verão! – respondeu um dos soldados que cavalgava próximo à carroça.

_ Ei, o que aconteceu com o nosso amigo ferido? Ele estava com vários ossos quebrados e cavalgava comigo! O que fizeram com ele? – perguntou Anix.

_ Ah! Isso eu não sei dizer, não estava presente na hora em que vocês foram capturados! Quando chegarmos ao nosso destino, vocês poderão perguntar a alguém que saiba! – respondeu o oficial com descaso, voltando sua atenção para seu grupo.

Passaram-se alguns minutos de completo silêncio dentro da jaula. Quando tiveram a certeza de que não estavam sendo observados, Lucano e Squall tentaram usar suas magias para criar alguma chance de fuga para o grupo. Foram usadas as palavras corretas e, apesar dos grilhões que os prendiam, os gestos também foram feitos com exatidão. Mesmo assim, os encantos não funcionaram, deixando todos confusos.

_ Há há há há há! Não adianta desperdiçarem seu tempo! Suas magias não irão funcionar! – riu um dos soldados.

_ Cale a boca, seu idiota, filho de uma meretriz! – gritou Lucano, irado, enquanto urinava e cuspia no homem.

Irritado, o soldado saiu da formação, foi em direção à carroça e começou a bater em Lucano com o cabo de seu chicote. O clérigo se protegeu dos golpes com as mãos, e Nailo aproveitou a chance para tentar desarmar o inimigo. Segurando o chicote com as mãos, o ranger tentou laçá-lo nas grades da jaula. Mas, o soldado enrolou o chicote em sua mão e esporeou o cavalo que avançou rápido, afastando-se da carroça e retirando o chicote das mãos de Nailo. Outros soldados se aproximaram, batendo nos prisioneiros e sufocando a rebelião. Os heróis se calaram e se conformaram com sua situação.

Cerca de duas horas depois, o sol já surgia entre as árvores negras de madeira mágica, aquecendo e iluminando aquela manhã de inverno. Viram uma cidade distante no horizonte, Vallahim, segundo disse um dos soldados, a capital do reino de Tollon. Era o dia 6 de Weez, um Tirag, os heróis haviam dormido durante os cinco dias em que estiveram presos.

Vallahim era uma grande cidade. Com grandes construções e muitas pessoas circulando por suas ruas. Nada que se comparasse a lugares como Valkaria ou Vectora, mas ainda assim era um lugar impressionante. A caravana do militar atravessou os limites da cidade e continuou rumando para o norte, depois para o leste, até chegar a um grande forte. Já dentro do forte, os prisioneiros foram retirados da carroça e conduzidos até uma masmorra subterrânea. Atravessaram vários corredores, sempre frios e úmidos, até chegarem a uma cela de cinco metros de lado, onde foram trancafiados, os heróis e os orcs.

Lá eles receberam alimentação, um prato de sopa de legumes e carne, acompanhado de um pedaço de pão. Logo após o almoço, os dois orcs foram levados pelos soldados. Para onde, não sabiam.

Passaram o resto do dia e a noite toda na cela. Nailo tentava usar a bola de ferro presa ao seu pé para quebrar as paredes da cela. Mas, os grossos blocos de pedra maciça sequer eram arranhados pelos golpes do ranger. Suas magias também não funcionavam, e sem seus equipamentos, não havia nada a fazer além de esperar.

No dia seguinte, logo no início da manhã do dia 7 de Weez, um jetag, os heróis olhavam através da única abertura para o mundo exterior, uma pequena janela quadrada, cercada por grades de ferro tanto dentro da cela quanto na parte que dava para fora da masmorra. Assistiam atentos ao enforcamento dos dois orcs que haviam sido capturados junto com eles. Uma hora depois, serviram aos jovens o desjejum, frutas e pão, e eles ficaram sabendo que os orcs foram julgados e condenados por terem atacado várias vilas, entre elas Darkwood. Logo após a refeição, os guardas vieram buscá-los. A vez dos heróis havia chegado, o seu julgamento estava para começar.

fevereiro 21, 2006

Capítulo 166 - Prisioneiros

Capítulo 166 Prisioneiros

Todos estavam temerosos. Suavam frio, temendo que algo de ruim pudesse acontecer. Seus corações batiam apressadamente, e suas mãos seguravam trêmulas as rédeas dos cavalos. Legolas foi o primeiro a entrar na vila, seguido de perto pelos outros. Ao cruzarem o arco formado pelas árvores negras, ficaram espantados com o que viram. O pequeno vilarejo, que havia sido abandonado muitos dias atrás, estava repleto de pessoas. Todos os moradores de Darkwood estavam lá, vivendo suas vidas tranqüilamente, reconstruindo suas casas calmamente, como se não houvesse nenhum perigo para ameaçá-los. Ninguém ali parecia temer um possível retorno dos orcs, ou o ataque do suposto monstro com o qual os heróis haviam sonhado. Era uma visão estranha, mas ao mesmo tempo agradável, ver que todos estavam ali.

_ Ei! É o Legolas! E o Nailo! E os outros rapazes! Eles voltaram!!! – gritou um dos moradores com alegria ao ver que todos haviam voltado sãos e salvos.

Uma multidão se juntou para acompanhar os aventureiros que haviam retornado de sua missão. As pessoas da vila os saudavam como aos grandes heróis das lendas contadas pelos bardos. As crianças acompanhavam o trote dos cavalos gritando os nomes dos que chegavam à vila, especialmente dos que ali moravam, Legolas e Nailo.

Então, no meio da multidão, Nailo percebeu algo diferente. Além dos aldeões, havia outras pessoas. Dois homens vestidos com armaduras militares, se misturavam junto ao povo. Um deles balbuciou algumas palavras ao ouvir com espanto o nome de Legolas sendo ovacionado pelas crianças. Subitamente ele correu para a borda da vila, atravessando as árvores que a cercavam.

_ Legolas, você precisa fugir! Tem soldados na vila! Olhe um deles ali! – Nailo correu para avisar seu amigo do perigo que corria, mas já era tarde demais.

_ Prendam todos! – gritou o soldado que correra para fora da vila ao retornar por entre as árvores acompanhado por quase trinta guerreiros armados com arcos longos.

_ Rendam-se todos vocês! Estão todos presos! – anunciaram em coro os soldados.

Não havia dúvidas, aquele era o exército real de Tollon. Suas armaduras, o padrão xadrez de suas roupas, o tipo de armas que usavam não deixavam dúvidas quanto a isso. Legolas precisava fugir, pois se fosse capturado, estaria com os dias contados.

Nailo sacou sua espada, inconseqüente como sempre, e desafiou os soldados a lhe enfrentarem, tentando assim ganhar algum tempo para Legolas escapar. Os homens do exército carregaram seus arcos e os apontaram na direção dos heróis, mostrando que não estavam brincando. Legolas sacou seu arco e mirou uma de suas flechas no que comandava o resto do pelotão. Estava pronto para disparar, assim como os inimigos que os cercavam. Mas, ao ver todas aquelas flechas apontadas para ele, lembrou-se de Liodriel. Se os soldados disparassem, ela também sairia ferida. E para piorar a situação, mais soldados chegavam vindos do norte da vila.

Legolas e Nailo baixaram as armas por um instante. Era preciso encontrar outra forma de vencer aquele desafio, uma forma que não colocasse em risco as vidas dos moradores que estavam em volta deles. Foi o que Squall tentou. O jovem feiticeiro sussurrou um encanto em voz baixa, tentando ocultar suas intenções dos soldados. Mantinha o olhar fixo no comandante do pelotão, tentando dominar sua mente. Mas, aquele homem estava decidido, sua vontade não fraquejava diante da magia de Squall, era impossível enfeitiçá-lo.

Uma flecha foi disparada contra Squall, e após ela, dezenas de outras flechas cruzaram o céu do pequeno vilarejo. Os heróis foram feridos pelo ataque em massa do exército. Vários aldeões caíram no chão, gravemente feridos, vítimas das flechas desviadas pelos heróis que deveriam defendê-los.

_ Rendam-se, eu já disse! Vai ser melhor para vocês! – insistiu o comandante.

Mas, Nailo ainda não havia compreendido a situação. O ranger atacou os soldados com sua espada, atingindo-os com a lâmina. Os homens ficaram feridos, mesmo assim ainda tinham forças para atacar. Uma nova chuva de flechas se precipitou sobre os heróis e os camponeses. Muitas pessoas caíram no chão à beira da morte, vítimas do ataque. Entre elas estavam Squall e Sairf.

_ Nããããão!!! Meu irmão! – gritou Anix desesperado ao ver o irmão despencando de cima do lombo do cavalo. O mago atirou uma pelota no meio dos soldados, fazendo-a explodir em chamas ao seu comando. Outro grupo de aldeões inocentes caiu, vítimas do ataque de Anix. Os soldados, apesar de feridos, continuavam em pé, com seus arcos prontos para disparar outra rajada.

Legolas desceu de seu cavalo, e entregou seu arco para Liodriel, erguendo os braços para o alto e entregando-se ao pelotão.

_ Eu me rendo! Não façam mal aos outros! Ele não tem nada a ver com isso! – disse Legolas, desanimado.

_ Todos vocês, larguem suas armas agora! É o último aviso! – gritou o homem que comandava.

Nailo hesitou por um instante, tentou guardar sua espada e se aproximar do cavalo, mas uma nova rajada de flechas o fez desistir e jogar sua espada no chão ao ver mais alguns dos seus companheiros de vila serem feridos.

Todos desceram de seus cavalos, jogando suas armas no chão, exceto Anix que ajudava Nevan a se equilibrar sobre o cavalo.

_ Não vou descer! Meu amigo está ferido, com os ossos quebrados! Ele não vai conseguir ficar no cavalo! – disse Anix.

_ Desça agora! Nós cuidaremos de seu amigo ferido! É meu último aviso! – ordenou o comandante.

Anix finalmente desmontou, enquanto dois soldados cuidavam de apoiar o pobre Nevan.

­_ Agora, deitem no chão! – gritou o que comandava.

_ Meus amigos estão feridos! Deixe-me curá-los primeiro! – pediu Lucano.

_ Não, nós cuidaremos disso depois! Agora deite logo no chão! – respondeu o comandante.

Lucano ignorou a ordem e se atirou sobre Squall recitando uma magia de cura. As flechas dos soldados impediram-no de completar sua ação. Lucano caiu inconsciente sobre Squall, deixando o amigo ainda mais perto da morte. Nailo esboçou se rebelar novamente, mas um som sinistro o impediu de agir.

O tilintar agudo de um pequeno sino se aproximava da vila, vindo de trás das árvores ao sul. Era um som agradável e ritmado, quase uma melodia. Do meio da vegetação surgiu um homem de estatura média, pele clara e cabelos negros amarrados num longo rabo de cavalo. Vestia um manto branco de seda, todo bordado com figuras decorativas. Em suas orelhas, um par de brincos com o formato de sinos vibrava acompanhando o ritmo de seus passos lentos e seguros.

_ O que está acontecendo aqui? – indagou o homem.

_ Estamos prendendo estes criminosos, senhor! – respondeu um dos soldados.

_ E precisam causar tantos estragos para prendê-los? Olhem só a confusão que causaram! Isso é imperdoável! Deixem que eu cuido de tudo daqui por diante. – respondeu a misteriosa figura, enquanto movia suas mãos e recitava um feitiço, acompanhando o som dos sinos.

Os heróis sentiram um sono voraz que os dominava por completo. Tentaram resistir, mas era impossível manter-se acordado diante daquele poder. Todos adormeceram e finalmente se deitaram no chão e pararam de resistir como desejavam os soldados.

fevereiro 15, 2006

Mapa de Darkwood

Capítulo 165 – O retorno

Capítulo 165 O retorno

Legolas acordou finalmente de seus sonhos. Parecia que a febre havia enfim cessado. Liodriel estava ao seu lado, apreensiva como sempre nos últimos cinco dias em que tinham estado acampados naquele lugar. O contato com águas contaminadas e os ferimentos causados pelos ratos imundos que habitavam Khundrukar fizeram com que Legolas, Nailo e Anix adoecessem. O grupo foi forçado a parar e acampar até que os três melhorassem. Liodriel, Sam, Lucano, Sairf e Squall cuidavam de seus amigos. Graças aos conhecimentos de ervas que Nailo possuía, eles podiam encontrar remédios entre as plantas para ajudá-los na recuperação. Nevan também sofria, muito ferido após o último ataque de Escamas da Noite. Com muitos ossos quebrados, o guerreiro precisaria de um longo e merecido repouso para se recuperar.

Quando os três se recuperaram e podiam novamente cavalgar, o grupo retomou a viagem de volta. Assim, no 1º dia de Weez, o mês dedicado a Tanna-toh, a deusa do conhecimento, num kalag frio de inverno, os heróis finalmente saíram da floresta, retornando à estrada que cortava o reino de norte a sul. À direita deles ficava o caminho que conduzia para Follen, uma cidade de médio porte para onde os aldeões haviam fugido para evitar o ataque da sombra negra que os jovens haviam visto em seus sonhos e que mais tarde revelou-se ser Escamas da Noite, a amante de Draco. À esquerda ficava, a poucos metros dali, a entrada para Darkwood, a vila onde Nailo, Legolas e Liodriel viviam há tanto tempo.

_ Legolas, meu amor! Antes de irmos pra Follen encontrar com os outros, eu gostaria de dar uma passada rápida em darkwood! – disse Liodriel com sua voz melodiosa.

_ Mas por quê? Não tem ninguém lá! Vamos direto pra Follen buscar o resto do pessoal da vila depois a gente volta de vez pra lá e iremos nos casar! – respondeu Legolas, descendo sua mão pelo rosto delicado da bela elfa.

_ É que eu queria dar uma passadinha rápida na minha casa! – sorriu Liodriel.

_ Ah, mas por que? Assim a gente só vai perder mais tempo! – resmungou Legolas, apoiado por Nailo que já virava seu cavalo para a direita.

_ Porque eu não vou pra uma cidade grande, cheia de gente e de coisas como Follen vestindo apenas esses trapos velhos, sem tomar um bom banho, sem me perfumar, maquiar, pentear,... – Liodriel gritava e gesticulava irritada, quase deixando todos surdos.

_ Puxa! Será que essa é a bela dama mesmo ou é mais uma dragonesa terrível? – cochichou Sam no ouvido de Anix, sorrindo com ironia.

_ Tá legal! Você venceu! Nós vamos parar em Darkwood! Mas tem que ser bem rápido! Tenho medo de que o sonho que tivemos quando chegamos aqui aconteça! – Legolas se deu por vencido.

_ O sonho no qual eu morria? – perguntou a bela dama.

_ Sim, esse mesmo! – suspirou Legolas.

_ Então não há com o que se preocupar! Se alguma coisa acontecer, você estará lá para me proteger e me salvar novamente! – sorriu Liodriel.

Nailo e Squall tentaram argumentar e desejavam se separar do grupo e rumarem para Follen sozinhos. Mas decidiram não abandonarem seus amigos naquele momento. Se tudo corresse bem, não havia porque não esperarem. E se por ventura algo desse errado, eles tinham que estar presentes para ajudar seus amigos, mesmo que isso lhes custasse suas vidas. Assim, após muitas aventuras e perigos, finalmente os heróis entraram, triunfantes, na vila de Darkwood.

Capítulo 164 – Duelo, o herói que abandona o lar

Capítulo 164 Duelo, o herói que abandona o lar

Legolas percorria as ruas de Darkwood em busca de seu desafeto. Seus passos pesados e duros logo atraíram uma pequena multidão para segui-lo. Todos ali, sem exceção, guardavam alguma mágoa de Elenindow. Desde garoto, ele já demonstrava má conduta. Judiava dos animais locais, destruía hortas, atirava pedras nos vidros das casas de seus vizinhos, botava fogo nos telhados. Seu gênio terrível obrigou seus pais a mandá-lo para o exército real, na esperança de que a disciplina do serviço militar desse algum jeito naquele garoto. Elenindow já era um elfo adulto assim como Legolas, mas seu comportamento e seu gênio não haviam mudado. Chegou à Darkwood junto com um destacamento do exército que ainda se aproximava da cidade e, após uma discussão com Loran, o curandeiro local, Elenindow foi humilhado na frente dos aldeões. Atirado ao chão pelo velho curandeiro, Elenindow apanhou sua espada de lâmina larga e atravessou a garganta do pobre elfo.

Loran foi cruelmente assassinado diante de sua neta, a jovem Laura uma pequena elfa de cabelos dourados. O elfo caiu mortalmente ferido, enquanto seu algoz ameaçava as demais pessoas com sua espada. Mas havia ali alguém com coragem suficiente para enfrentar aquele garoto sem moral. Lanell, o avô de Legolas tentou prendê-lo até a chegada do resto do pelotão real. Entretanto, tentando se defender, Elenindow cravou a lâmina da espada no peito de Lanell. O jovem correu cambaleante pelas ruas da cidade, enquanto as pessoas acudiam os dois feridos. Loran já estava morto, mas Lanell foi levado até seu filho. Entretanto, nada poderia ser feito por ele também.

Legolas caminhava apressado, guiado pelas crianças da vila que lhe indicavam o caminho até onde estava o assassino de seu avô. Os mais velhos acompanhavam mais de longe, ansiosos para ver o duelo. Legolas não dava importância para toda aquela gente em volta dele. Seus pensamentos estavam no maldito Elenindow. Legolas se perguntava o que teria trazido aquele desgraçado até Darkwood, já que seus pais haviam se mudado de lá antes de ele partir para ir treinar com mestre Li.

­_ Será que aquele maldito veio até aqui somente para matar o senhor Loran e meu avô? O maldito vai pagar por tudo que fez durante toda sua vida! – pensava Legolas entre um passo e outro.

Quando estava próximo da entrada nordeste da vila, Legolas avistou seu inimigo. Elenindow estava sentado no chão, encostado em uma arvoreja quase dentro da lavoura comunitária do povoado. Vestia uma armadura de metal e couro toda empoeirada, e partes dela, como as luvas, capacete e botas, estavam largadas no chão displicentemente. Sua espada tinha a ponta fincada na terra batida da viela e o corpo da lâmina apoiado no ombro direito de seu dono. Elenindow estava com a cabeça abaixada e nem notou a chegada de Legolas e do povo da vila. Sangue escorria de um arranhão profundo em seu braço e seu corpo possuía diversos outros arranhões menores, como se ele tivesse atravessado uma moita espinhosa. Era uma vítima fácil para Legolas, que poderia acabar com ele com apenas um golpe furtivo, mas não o fez.

A multidão parou a cerca de dez metros dos dois. Legolas avançou tranqüilamente na direção do inimigo e atirou sua wakizashi entre os pés do oponente. Elenindow levantou a cabeça lentamente e encarou Legolas. Seu olhar distante e vazio dava a impressão de que estivera dormindo. Como aquele maldito podia conseguir dormir depois de matar dois elfos bons e inocentes? Pensava Legolas. Vagarosamente, Elenindow se levantou do chão, apoiando-se em sua espada. Já de pé, ergueu a lâmina que, dada a dificuldade com que ele a levantava, deveria ser extremamente pesada.

A batalha começou. Sem dizer nenhuma palavra, os dois começaram a trocar golpes de espada. O duelo era equilibrado. Legolas contava com sua destreza, enquanto Elenindow confiava em sua força. Pouco a pouco, Legolas foi vencendo a resistência do inimigo e encurralando-o. Entretanto, um golpe certeiro de Elenindow, quase pôs fim à vingança do arqueiro. A lâmina da espada larga penetrou no peito de Legolas que estava desprotegido sem sua armadura. Felizmente para ele, o ferimento foi apenas superficial. Mas, se Elenindow tivesse usado mais força no ataque, teria atravessado o coração de Legolas com certeza.

Legolas se refez rapidamente do susto, e golpeou o braço do oponente. Elenindow baixou a guarda, dando chance para que Legolas o atingisse novamente. A lâmina da katana cortou o ar rapidamente, indo na direção do ventre de Elenindow quando a espada larga de Elenindow caiu no chão, uma fração de segundo antes de Legolas atingi-lo.

Legolas desferiu uma série de golpes, cortando o corpo do adversário que parecia já nem estar vivo. Elenindow finalmente caiu no chão, morto. Legolas cessou seus ataques, observando o inimigo que jazia à sua frente. Soltou a espada no chão e deu um grito que ecoou por toda a vila, abafando o som dos cascos dos cavalos que se aproximavam. Um homem, vestido com um uniforme militar, observava tudo do outro lado da ponte que cruzava o riacho Aurora que cortava a vila. Leondil se aproximou dele neste mesmo instante.

_ Legolas! Fuja depressa! Os soldados estão chegando! Se eles te pegarem, você será executado por matar um oficial! Sua mãe e eu preparamos seu cavalo com suprimentos. Parta agora, antes que seja tarde! – disse Leondil aos prantos, enquanto abraçava o filho e apontava para onde estavam Eire e Rassufel, o cavalo de Legolas. Legolas se despediu de seus pais e montou, partindo rumo ao oeste.

_ Prendam aquele elfo! – gritava o soldado que havia assistido ao duelo.

Legolas esporeou o cavalo e partiu rápido, enquanto os aldeões ocupavam a rua para impedir a passagem dos soldados. Flechas foram disparadas, na esperança de atingir Legolas, mas ele desviou dobrando uma esquina e desaparecendo da vista dos soldados.

O arqueiro passou diante de sua casa pela última vez, despedindo-se daquele lugar que tanto amava. Então ele viu quem ele mais desejava ver em todo o mundo. Liodriel estava lá, parada diante dele. Seus cabelos ruivos se agitavam ao vento criando um belo contraste com seu longo vestido azul turquesa. Legolas saltou do cavalo com ele ainda em movimento. As delicadas margaridas que a jovem trazia nas mãos espalharam-se pelo chão quando seu amado a abraçou. Legolas a tomou nos braços e se despediu de Liodriel com um beijo. Prometeu que voltaria um dia para se casar com ela e partiu.

Legolas fugiu pela estrada com seu cavalo em disparada. Depois penetrou na floresta para despistar seus seguidores e seguiu para o oeste sem parar. Algumas horas depois, encontrou um outro elfo, que cavalgava vagarosamente, acompanhado de um belo lobo. Legolas se aproximou e ficou surpreso ao ver que o elfo era Nailo, seu amigo de infância.

Nailo estava indo para Malpetrim, uma cidade de médio porte do reino de Petrinya, famosa por sua grande feira anual e pelas grandes aventuras que ali tiveram início. Legolas se juntou a ele e os dois foram para Malpetrim, ver a grande feira. Legolas sabia com razão que aqueles eventos daquela manhã mudariam para sempre a sua vida, só não sabia o quanto.

Dias depois, em 31 de Wynn, um morag, os dois se encontraram com um grupo de viajantes que rumavam para o mesmo destino e se juntaram a eles. Entre os viajantes estavam Anix, o mago que procurava pelo irmão Squall, Lucano, o clérigo de Glórien Sairf, o mago da água e Loand, o paladino de Khanmyr. Legolas e Nailo se juntaram àqueles jovens, sem saber que aquele grupo estava destinado a desbravar o mundo de Arton, viver grandes aventuras e deixar seus nomes gravados na história para sempre.