fevereiro 14, 2008

Capítulo 304 – Vinhas assassinas

Pai e filho se abraçaram com emoção, havia vários meses que eles não se viam e não se falavam, desde que Lucano tinha deixado a vila e rumado para Malpetrim. Lucano apresentou Anakin, seu pai, aos companheiros de jornada. Pouco depois chegaram duas elfas, uma metida em um vestido vinho, longo e esvoaçante, adornado com runas prateadas e tinha cabelos negros e olhos verdes e profundos. A outra trajava vestes simples de camponesa, um vestido marrom e branco feito de algodão, seu cabelo era ruivo, amarrado numa longa trança e seus olhos eram verde esmeralda.

_ Mãe! Aíno! – bradou Lucano com emoção. Correu e abraçou a primeira, com a mesma intensidade que tinha abraçado o pai. A segunda ele tomou nos braços, ela já em pranto, e a beijou calorosamente.

_ Amigos! Quero que conheçam minha mãe, Cassandra, e minha esposa, Aíno! – disse Lucano.

Cada um dos heróis cumprimentou a família do amigo com cortesia. Estavam surpresos, especialmente com Aíno, a esposa de Lucano, a qual era de uma beleza inesperada por todos. Pouco conversaram, porém, apesar de haver muito a ser contato, pois tinham urgência em encontrar o paradeiro das crianças e salvá-las, se isso ainda fosse possível. Lucano pediu a Aíno que retornasse para casa e cuidasse de Enola, Darin e Liodriel, que estavam em sua casa, e a todos os outros aldeões foi pedido que retornassem para suas casas e aguardassem em vigilância até que eles retornassem.

As pessoas retornavam para a vila, preocupadas e insatisfeitas, mas sabiam que eram todas pessoas simples, meros agricultores, e que nada poderiam fazer de melhor a não ser confiar nos oficiais do exército de Tollon que ali estavam. Tinham como consolo o fato de que Lucano, um morador do local, estava entre eles, o que lhes dava maior confiança no grupo que assumira a missão de resgatar as crianças. Também tinham fé em Anakin, que os acompanharia e os guiaria na missão.

O pai de Lucano era, sob muitos aspectos, parecido com Nailo. Trajava uma couraça de peles grossas para proteger seu corpo e levava duas espadas presas à cintura por um cinturão de couro. Um pequeno macaco, o qual ele tratava como a um irmão, desceu de uma das árvores e veio pousar em seu ombro, onde permaneceu toda a jornada. Os dois, elfo e macaco, pareciam de fato irmãos, assim como Nailo agia em relação a Relâmpago e antes dele a Smeágol. Anakin guiou o grupo até o local onde as crianças tinham sido capturadas, onde agora só restavam pegadas de trolls e restos de um piquenique destruído.

_ Aqui está o rastro dos trolls – disse Anakin. – Está muito apagado e confuso por causa da chuva desses dias. Será difícil segui-lo assim. Creio que teremos que contar com a sorte.

_ Felizmente não será necessário, senhor! – respondeu Nailo. – Eu consigo ver claramente por onde eles foram. Os rastros seguem para o oeste, depois de uns cinco metros viram ao sul onde o musgo na casca daquela árvore foi removido por uma mão enorme. Há marcas de pés pequenos ali e galhos quebrados na altura de aproximadamente um metro. Uma das crianças deve ter escapado e corrido dos trolls, mas foi perseguida. Eles tentaram capturá-la a todo custo, e suas mãos gigantescas arrancaram vários galhos quando tentavam agarrá-la. Infelizmente conseguiram. Posso ver o final dos rastros da perseguição daqui.

_ Que bom! – sorriu o elfo. – Fico feliz em saber que tenho um rastreador melhor do que eu mesmo ao meu lado nesse momento! Agora, com sua orientação, posso enxergar os rastros também, e sei que sua análise está correta. Há esperanças de salvar as crianças.

_ Mas, senhor! Por que demoraram tanto para tomar providências? – perguntou Anix.

_ Bem, os pais das crianças perceberam sua ausência só há pouco. Um pai acreditava que seu filho estava na casa de outro garoto. E os pais deste achavam que ele estava na casa do primeiro. Assim foi com todas as famílias, até que descobriram que as crianças não estavam em casa alguma e se lembraram dos Trolls. – respondeu Anakin.

_ Bem, eu acho estranho esses trolls atacarem assim, desta forma. Parece que eles atacaram em bando e com um plano preparado em mente. Isso não me cheira bem. – continuou o mago.

_ Bem, eu também acho estranho. Temo que eles possam estar sendo comandados por alguém. Alguém inteligente e cruel, e que ordenou que as crianças fossem capturadas com vida por algum motivo sinistro. É o que parece, já que segundo o senhor Nailo, uma das crianças ainda conseguiu tentar fugir.

_Sim, e não há marcas de sangue também, por um longo trecho pelo menos. E nem cheiro dele, como Relâmpago me disse agora. Talvez as crianças ainda estejam com vida. Vamos nos apressar! – disse Nailo.

O grupo se colocou em fila yudeniana, rigorosamente um atrás do outro com a mesma disciplina que era comum no reino de Yuden, e avançou pela floresta. As árvores de Greenaria tentavam barrar o avanço deles com seus muitos cipós, galhos retorcidos e folhagem vasta. Mas, a habilidade de Nailo, aliada ao conhecimento do local possuído por Anakin, era ainda mais eficiente que as barreiras impostas pela natureza, e ele conseguia conduzir seu grupo de forma veloz pela selva.

A mata se adensava mais à medida que avançavam. Em certos momentos, a luz do sol era apenas uma doce lembrança, impedida de atravessar a folhagem espessa e chegar ao chão. Mesmo sem o sol, o ambiente era abafado e havia muita umidade no ar tornando possível vem em certos momentos uma fina névoa de vapor d’água serpenteando entre a vegetação.

Subitamente, em uma da várias paradas onde Nailo se abaixava para observar os rastros e decidir a direção a tomar, Lucano agiu de forma inesperada.

_ Pare com isso, Legolas!­ – gritou ele, olhando para trás.

_ Parar com o que? Eu não fiz nada! – espantou-se o arqueiro.

_ Você passou a mão em minha bunda, eu senti! Não faça isso de novo! – Lucano se voltou novamente para frente, então, de repente gritou outra vez. – Já mandei você parar!

_ Eu já disse que não estou fazendo nada! – vociferou Legolas.

_ Ai! Passaram a mão em mim também! Quem foi? – dessa vez era Anix, no fim da fila. Todos olharam confusos uns para os outros, tentando entender o que acontecia. Nailo olhou ao redor, Relâmpago farejou o ar e começou a rosnar, mas os dois não tiveram tempo de avisar do perigo. Subitamente, um cipó rastejou pelo chão, enrolou-se na perna de Anix e puxou-o com violência, atirando-o ao chão. Ao mesmo tempo, Vários outros ramos vieram das árvores, agitando-se como serpentes e golpeando os aventureiros como chicotes.

_ Cuidado! – gritou Nailo. – São vinhas assassinas!

Mal o aviso fora dado e as vinhas já tinham conquistado grande vantagem na luta. Squall, Anix, Lucano e Orion foram golpeados com extrema força pelos ramos animados. Seus galhos os atingiram como clavas e rapidamente se enrolaram em seus corpos, imobilizando-os e esmagando-os com força impressionante. Até mesmo Cloud fora capturado no abraço mortal das vinhas e Anix já quase não tinha ar em seus pulmões para se manter consciente.

Legolas sacou a espada e correu até o amigo caído, golpeando com sua lâmina para tentar libertá-lo. Nailo as combatia com suas espadas, impedindo que se aproximassem dele e de Relâmpago, enquanto que Seelan levantou vôo magicamente e subiu até perto das copas das altas árvores, ficando fora do alcance do inimigo. Anakin tentava ajudar seu filho, cortando os ramos com suas espadas.

As plantas eram resistentes além do normal, e atacavam de vários pontos e muitas vezes por segundo. Orion conseguiu se libertar, mas logo depois foi capturado novamente em outro abraço esmagador. Anix sofria e não conseguia sequer respirar. Squall tentava concentrar sua mente, apesar da dor, para evocar seus feitiços e com isso inverter a situação do combate.

A ajuda veio do alto, quando Seelan lançou uma magia atrás de Squall e Anix. Chamas se espalharam pela mata numa onda explosiva e brilhante como o próprio sol. Os ramos se agitavam com espasmos de dor e finalmente afrouxaram o laço ao redor das presas, pendendo inertes no chão.

Anix e Squall revidaram com uma bola de fogo e um círculo de chamas que se expandiu ao redor de Squall pelo chão. Nailo gritava, furioso, ordenando que parassem de ferir as árvores com suas chamas mágicas. Do alto, Seelan pediu desculpas e iniciou a conjuração de um outro feitiço diferente.

Os ramos continuavam atacando e parecia que as chamas tinham tido pouco efeito sobre eles. Relâmpago foi atingido e aprisionado, mas Nailo o libertou com suas espadas. E se as chamas pareciam pouco efetivas, as faíscas elétricas das espadas do ranger eram totalmente inofensivas contra as vinhas.

Orion, já liberto, se juntou a Anakin para ajudar Lucano. Sua espada golpeou uma das vinhas, decepando-a e Nailo viu um tronco fino tombar atrás de uma árvore. Ao guerreiro se juntaram Legolas e Anix, o último sendo atacado de surpresa enquanto se movia na direção do amigo amarrado. Nailo veio em seguida, após livrar o lobo do perigo, e com golpes precisos e potentes, libertou o amigo. O último ramo parou finalmente de se mexer e o perigo terminara ao menos por enquanto. Então do alto desceu uma criatura de do tamanho de um humano, mas cujo corpo era formado apenas por chamas. Era um elemental do fogo.

_ Ataque as vinhas assassinas! – gritou Seelan.

_ Não há nada aqui para ser atacado – respondeu a criatura do fogo no mesmo idioma do mago que o evocara.

_ Sério? – o mago parecia surpreso. – Então deixa pra lá! Pode retornar, e obrigado assim mesmo!

O elemental curvou seu corpo como que em reverência e desapareceu através de um portal. Seelan retornou ao chão e encontrou a batalha já vencida. Nailo estava no local atingido pelas chamas do capitão e de Anix. Parecia conversar com as plantas.

_ Uma magia de crescimento seria de boa ajuda agora para curá-las! – sugeriu Anakin.

_ Sério?! Então deixe comigo! Obrigado por dizer isso. – respondeu Nailo. E, usando o poder concedido por Allihanna, Nailo fez com que as plantas crescessem em velocidade espantosa. A magia da natureza as envolvia e curava, fechando feridas e cicatrizando queimaduras à medida que elas aumentavam de tamanho. – Vamos em frente! – continuou Nailo. – Estamos no caminho certo. As árvores me disseram que os trolls passaram por aqui com as crianças. E elas estavam vivas!

Todos se alegraram com a notícia. Lucano curou seus corpos feridos com o poder de Glórienn e eles seguiram adiante.

fevereiro 12, 2008

Capítulo 303 – Vila atacada

_ Bem, Lucano. Já chegamos, mas nem sinal de sua vila. Onde ela está? – perguntou Seelan.

_ Espero que não longe daqui. É uma vila pequena, não mais que umas cem casas. Tem um rio que corre no lado leste da cidade. –respondeu o clérigo.

Squall não perdeu tempo e pegou em sua mochila um pergaminho mágico. Subiu aos céus, seguido de Anix e Legolas, montados na vassoura voadora. Do alto, puderam ver o que a Greenaria não permitia do solo. Lá estava o vilarejo de Blastoise, um povoado agrícola cravado no meio da floresta. A oeste e ao sul, a cidade era cercada por mata fechada de árvores centenárias. A norte uma fenda profunda na terra separava o vilarejo da selva e a leste um rio largo de águas turbulentas que vinham de uma cascata próxima à vila, corria rápido em direção ao sul.

_ Estou vendo a vila! –gritou Squall. – Está a norte daqui, uns quinhentos metros aproximadamente.

_ Bem, Nailo, agora é com você. Guie-nos até lá. – pediu Seelan.

Com a ajuda de Relâmpago, Nailo conduziu o grupo por entre a selva abafada e úmida, sempre escolhendo os caminhos menos difíceis. Legolas puxava Rassufel, que carregava Liodriel em sua sela. Anix e Enola iam à frente, voando na vassoura mágica, acompanhados de Squall. Os demais caminhavam com pouca dificuldade graças à habilidade de Nailo em guiá-los. Em poucos minutos já era possível ouvir o som do rio rugindo à direita do grupo. Seguiram o som e chegaram a uma trilha larga que separava a mata de um penhasco em cujo fundo corria o rio.

_ É aqui mesmo! – exclamou Lucano. – Essa e a estrada de entrada para a vila.

O grupo pode andar com maior velocidade, Legolas montou em seu cavalo e seguiu na frente, Anix e Squall já voavam por sobre a vila.

_ Lucano! Costuma haver trolls ou ogros aqui em sua vila? Vocês têm algum tipo de relação com esse tipo de criaturas? – perguntou Nailo.

_ Claro que não! Você sabe melhor que eu que esses monstros são selvagens e que não se pode dialogar com eles. E felizmente, graças à vigilância dos rangers e druidas daqui, essas criaturas raramente se aproximam da vila.

_ É, era o que eu imaginava e temia. Eu encontrei algumas marcas na floresta, pegadas enormes e galhos quebrados. Um bando de trolls ou ogros passou por aqui uns dois dias atrás. As marcas estão meio apagadas porque andou chovendo nesse tempo, mas tenho certeza de que eles foram em direção da vila.

_ Não! Minha mulher! – Lucano saiu correndo tomado pelo desespero. Em pouco tempo quase alcançou o cavalo de Legolas. Na entrada da vila notaram sinais de destruição, casas e carroças quebradas, sinais de luta em vários pontos.

Tudo estava deserto no lugar. Não havia pessoas em lugar algum e algumas casas estavam com suas portas abertas, como se tivessem sido abandonadas às pressas. Legolas preparou sua espada e entrou na vila, seguido por Lucano e pelos outros que vinham mais atrás, em busca de alguém vivo. No alto, Anix e Squall circulavam o local, também em busca de moradores.

Encontraram algumas ruas ao norte um homem que corria de casa em casa, fechando portas e janelas que estivessem abertas. O suor corria-lhe pelo rosto em abundância e sua expressão era de cansaço.

_ Ei, homem! – gritou Legolas. – O que está acontecendo aqui? Onde estão as pessoas da vila?

_ Que...quem é você? – gaguejou o aldeão.

_ Sou o general Legolas! Diga-me o que está acontecendo aqui, e se precisam de ajuda!

_ Você é do exército? Pelos deuses, veio em boa hora! Trolls atacaram a vila, e levaram algumas crianças com eles. Todos foram persegui-los na mata. Eu fiquei aqui com alguns outros para tomar conta do vilarejo.

_ Trolls? Pra que lado eles foram? – gritou Legolas. Lucano e os outros tinham acabado de chegar nesse momento.

_ Foram para o oeste, general. Por favor, nos ajude senhor. – respondeu o homem.

_ Liodriel, fique aqui. É mais seguro.

_ Venha até minha casa, você estará em segurança lá. Darin e Enola também poderão nos esperar em segurança lá. – disse Lucano. Levou as mulheres para um sobrado não distante dali. Silfo ficou para protegê-las.

_ Você, rapaz. Vigie tudo aqui e se vir algo estranho nos avise. – ordenou Legolas.

_ Certo general!

_ Soldados, venham comigo!

Todos correram, junto com Legolas para a direção oeste, Legolas e Lucano explicavam o pouco que sabiam da situação.

_ E, que história é essa de general, senhor Legolas? – indagou Seelan.

_ Por favor Seelan, me ajude. Só dessa vez. É só uma mentirinha à toa, não vai causar mal algum.

_ Não estou gostando muito dessa história não. Mas, está bem. Vou deixar você brincar de general por hoje. Mas, você vai ficar me devendo um favor por isso. – respondeu o capitão, lançando um olhar cheio de malícia para Legolas. Depois, se dirigiu aos outros e começou a gritar. – Muito bem soldados! Acelerem o passo e obedeçam ao general Legolas! Um, dois, um dois!

Mesmo sem compreender ou concordar, todos correram mais rápido. Em pouco tempo estavam novamente dentro da floresta Greenaria, seguindo as dezenas de pegadas deixadas pelos aldeões. Nailo os guiou novamente e logo encontraram os moradores, todos armados de pás, enxadas e tochas, espalhados em vários pontos da mata em busca dos trolls inimigos.

_ Atenção todos vocês! Eu sou o general Legolas e estou aqui para ajudá-los. Reúnam-se todos aqui para me explicarem com detalhes o que está acontecendo. – gritou o arqueiro. Todos os seus companheiros, com exceção de Seelan fizeram caretas de espanto e descontentamento.

Os moradores aos poucos se aglomeraram ao redor do grupo. Todos eram pessoas simples que tiravam da terra o seu sustento, mas um deles, um homem obeso e calvo, de bigode castanho bem talhado na forma de um pequeno quadrado sob o nariz, aparentava ter mais astúcia que os demais e ser algum tipo de líder.

_ General?! – espantou-se o homem. – Você é mesmo do exército? Não tem nem uniforme ou estandarte!

_ Sou general sim, do exército de Tollon, homem! Agora deixe de enrolação.

_ Exército de Tollon?! Mas você está mesmo longe de casa! Não consigo entender como alguém do exército de Tollon veio para aqui tão longe. Aliás, nem sabia que Tollon tinha exército.

_ Tem sim, homem! E é um dos mais poderosos, Yuden já provou a força de nosso exército. Agora deixe de conversa mole e me conte logo o que está acontecendo aqui.

_ Sim, isso mesmo! Pare de enrolar e explique melhor a situação. Nós estamos aqui pra ajudar, portanto coopere com o general! – era Seelan. Os demais heróis começaram a cochichar entre si.

_ Seelan. Que negócio é esse de general? O Legolas não pode ficar falando desse jeito. – interveio Anix.

_ Cale-se soldado! – gritou Seelan. – Isso não é jeito de falar como general. Pague trinta flexões de braço!

_ Não vou fazer isso não. Ele... – Anix começou, mas foi logo interrompido.

_ Cale-se! Vai fazer sim, soldado. E eu, como seu superior, estou lhe ordenando, portanto, você vai obedecer! – Seelan encarou Anix com firmeza e depois sorriu de forma provocativa. Sabendo que não poderia vencer aquela discussão, Anix começou a contar suas flexões.

Os aldeões começaram a contar o que tinham acontecido. Dois dias antes, um grupo de Trolls tinha atacado a vila pelo sul, depredando e destruindo hortas e casas. Reunidos, os moradores conseguiram expulsar todos eles. Entretanto, um grupo de crianças tinha saído para fazer um piquenique no bosque naquele mesmo dia e não haviam retornado ainda. Os moradores lembraram então do ataque dos trolls e relacionaram as duas coisas, supondo que as crianças estavam agora em sério perigo. Assim, todos procuravam na mata.

Um dos moradores, um caçador, tinha seguido o rastro das crianças e encontrado o local do piquenique. Todas as cestas de comida e brinquedos haviam sido esmagados por pegadas enormes, pegadas dos trolls, que seguiam para a floresta em um rastro difuso e difícil de identificar devido a uma chuva caída no dia do ataque à vila.

O caçador tentava agora rastrear a trilha apagada pela chuva, com muita dificuldade. Ele foi chamado e junto com alguns outros acompanhantes, se reuniu ao restante dos aldeões.

_ Lucano? – disse ele, espantado, ao chegar.

_ Pai!!! – respondeu o clérigo, emocionado.

fevereiro 11, 2008

Capítulo 302 – Celeiro de Arton

_ Senhor Ragnarok, senhora Valkyria, foi um prazer conhecê-los! Você também, Rael. Até algum dia amigos! – Seelan e os demais se despediram dos pais e do amigo de Anix e Squall. O capitão entregou-lhes um pergaminho mágico para que pudessem se teletransportar de volta para casa.

_ Bem, agora vamos para a Sambúrdia, conhecer a casa de Lucano – anunciou o mago.

_ Seelan! Deixa eu ajudar no teletransporte. Prometo que irei me comportar, me dá uma segunda chance, vai! – pediu Squall.

_ Tudo bem, você e o Anix terão que ajudar dessa vez. Mas nem tentem aprontar outra gracinha, pois desta vez os pergaminhos tem apenas uma magia. Se fizer outra das suas, Squall, não terá como voltar! – Seelan entregou um pergaminho a Squall e outro a Anix, olhando-os com frieza.

_ É, eles ganham uma segunda chance. Eu fiz uma coisinha de nada e até agora não tive chance alguma, continuo como cabo! – protestou Nailo. Seelan ignorou-o.

_ Pensando bem, - comentou Seelan – tenho uma idéia melhor. Devolvam-me esses pergaminhos já. Isso vai me custar muito dinheiro, mas vai nos poupar problemas. Não sabemos onde fica a casa de Lucano e além disso eu sinto que devo guardar esses pergaminhos para mais tarde. – O mago recolheu os papiros mágicos e os enrolou novamente. Dobrou a ponta de cada um deles, como se os marcasse, e os guardou. Pegou outro pergaminho e começou a lê-lo em voz alta.

Diante de todos um enorme portal mágico se formou. Além dele era possível ver uma vasta e antiga floresta, tomada por árvores gigantescas.

_ Entrem! – disse Seelan, concentrado. Os heróis começaram a atravessar o portal ainda receosos.

_ Ah! Squall! Quando você voltar para casa, nós iremos ter uma boa conversa! – exclamou Ragnarok, ainda com a imagem da noite anterior em sua mente. Sua esposa baixou a cabeça com pesar.

_ Não consigo ouvir, pai! Depois a gente conversa! – Squall saltou rapidamente através do portal, fingindo não ouvir as palavras do pai. Os dois últimos a atravessarem foram Orion e Seelan, quando a passagem já começava a se fechar.

_ Vamos Orion, rápido, vai fechar! – gritou Seelan, batendo a palma da mão nas nádegas de Orion, e saltando através da passagem mágica. Irritado e envergonhado, o guerreiro finalmente atingiu o outro lado e o portal se fechou. Restavam apenas Vectora e a multidão.

_ Bem, eles partiram novamente – suspirou Valkyria.

_ Pois é. Nossos filhos cresceram­ – concordou Ragnarok.

_ Mas eles ainda têm muito a crescer para enfrentarem os desafios que estão por vir. – a voz de Rael soou de forma estranha, grave e alta, e parecia emitir um tipo de eco, como se não saísse de sua boca, mas de algum lugar distante.

_ O que você disse, Rael?

_ Hã?! Eu?! Eu não falei nada senhor Ragnarok – a voz do clérigo voltara ao normal.

_ Bom, deixa pra lá! Vamos voltar para casa. Precisamos ter uma conversa com a Deedlit, e prepará-la para o pior, pois nosso Squall já não é mais o mesmo de antes. Aquele jovem apaixonado (e fiel) parece não existir mais. Acho que ela terá que encontrar outro namorado. – lamentou o mago. Os olhos de Rael brilharam.

_ Ela encontrará alguém que cuide dela, tenho certeza. Deedlit merece isso. – disse o clérigo.

_ Sim, no final essas coisas sempre se resolvem. Venham, meus queridos, vamos aproveitar um pouco mais o esplendor dessa cidade antes de voltarmos pra casa.­ – E dizendo isso, lady Valkyria envolveu os dois num abraço materno e todos juntos retornaram para as ruas tumultuadas de Vectora.

· · · · · ·

_ Onde estamos?

_ Em Sambúrdia, oras! Essa é a floresta Greenaria. Sam já nos falou dela várias vezes. Ele é desse reino, não se lembram? – respondeu Nailo a Anix. Parecia conhecer bem o local, apesar de nunca ter colocado os pés naquela mata.

_ Sim, isso mesmo, Nailo. Estamos na Sambúrdia, o Celeiro de Arton. Um reino rico e próspero, cheio de fazendas e densas florestas por todos os lados. – respondeu Seelan.

De fato aquele reino era exatamente o que o mago dissera, o Celeiro de Arton. No passado, quase todo o território da Sambúrdia era tomado por uma profunda e exuberante floresta, nascida muitas eras antes. De terra extremamente fértil o local se tornou morada de agricultores que prosperaram formando uma das nações mais ricas do Reinado. Passados muitos anos após a colonização, as florestas passaram a dividir espaço com plantações e criação de animais, atividades devidamente reguladas por druidas e rangers de Allihanna, garantindo assim o equilíbrio entre a natureza e as comunidades do reino.

_ Ah! Ali está! Olhem para a direita! – disse Seelan. Todos olharam e com espanto viram um enorme buraco, uma cratera gigantesca de mais de mil metros de diâmetro e de profundidade desconhecida. – Olhem esse buraco – continuou ele. – Não é magnífico? Sabem o que ele é?

_ Eu acho que sei, Seelan. Esse é o buraco de onde saiu Vectora, não é mesmo?

_ Sim, Nailo. Exatamente. Muitos anos atrás, Vectorius fez uma montanha inteira levitar, arrancando-a do chão. Depois ele a virou de cabeça pra baixo, cortou e aplainou sua base e sobre ela construiu sua cidade voadora. Apenas esse buraco restou aqui, como uma lembrança, uma marca de que por aqui passou Vectorius.

_ Nossa, ele é realmente poderoso! – era Anix, admirado.

_ Sim, muito. Mas poder não é tudo nesse mundo. Sabedoria também é importante, especialmente quando se usa grandes poderes. Observem aquele esquilo ali. – Seelan apontou para o pequeno mamífero que espreitava ao redor da cratera e arremessou uma pedra em sua direção. O animal correu e saltou para o buraco, flutuando em seguida em direção às árvores que circundavam o buraco a vários metros de distância. O animal voara como que por mágica.

_ Viram o esquilo voando? Isso foi uma conseqüência das poderosas magias que foram usadas nesse lugar. E é pelo mesmo motivo que ao redor do buraco existe uma larga faixa sem árvores ou qualquer tipo de planta. Lembrem-se, quando forem usar magias poderosas, tomem muito cuidado com suas conseqüências. – Seelan discursava como um professor ou um pai dedicado. Depois de adverti-los, voltou-se para Lucano. – Bem, Lucano. Agora que temos um ponto de referência dentro de Sambúrdia, diga-nos em qual direção e a qual distância está sua casa.

_ Bem, meu vilarejo fica a uns quinhentos quilômetros daqui, na direção noroeste, quase na fronteira com Trebuck e Pondsmânia. – respondeu o clérigo.

_ Está certo! Vamos embora, então. – e Seelan abriu um novo portal mágico para que todos passassem. Anix jogava pequenas pedras dentro do fosso de Vectora, na esperança de vê-las voando como o esquilo, mas nada acontecia. Todos atravessaram o portal, cruzando em uma fração de segundo quase a metade do reino. A milhas dali, após cruzar a abertura mágica no tecido do tempo e do espaço, o grupo de heróis ressurgiu, novamente em meio às árvores ancestrais da floresta Greenaria.