_ Bem, Lucano. Já chegamos, mas nem sinal de sua vila. Onde ela está? – perguntou Seelan.
_ Espero que não longe daqui. É uma vila pequena, não mais que umas cem casas. Tem um rio que corre no lado leste da cidade. –respondeu o clérigo.
Squall não perdeu tempo e pegou em sua mochila um pergaminho mágico. Subiu aos céus, seguido de Anix e Legolas, montados na vassoura voadora. Do alto, puderam ver o que a Greenaria não permitia do solo. Lá estava o vilarejo de Blastoise, um povoado agrícola cravado no meio da floresta. A oeste e ao sul, a cidade era cercada por mata fechada de árvores centenárias. A norte uma fenda profunda na terra separava o vilarejo da selva e a leste um rio largo de águas turbulentas que vinham de uma cascata próxima à vila, corria rápido em direção ao sul.
_ Estou vendo a vila! –gritou Squall. – Está a norte daqui, uns quinhentos metros aproximadamente.
_ Bem, Nailo, agora é com você. Guie-nos até lá. – pediu Seelan.
Com a ajuda de Relâmpago, Nailo conduziu o grupo por entre a selva abafada e úmida, sempre escolhendo os caminhos menos difíceis. Legolas puxava Rassufel, que carregava Liodriel em sua sela. Anix e Enola iam à frente, voando na vassoura mágica, acompanhados de Squall. Os demais caminhavam com pouca dificuldade graças à habilidade de Nailo em guiá-los. Em poucos minutos já era possível ouvir o som do rio rugindo à direita do grupo. Seguiram o som e chegaram a uma trilha larga que separava a mata de um penhasco em cujo fundo corria o rio.
_ É aqui mesmo! – exclamou Lucano. – Essa e a estrada de entrada para a vila.
O grupo pode andar com maior velocidade, Legolas montou em seu cavalo e seguiu na frente, Anix e Squall já voavam por sobre a vila.
_ Lucano! Costuma haver trolls ou ogros aqui em sua vila? Vocês têm algum tipo de relação com esse tipo de criaturas? – perguntou Nailo.
_ Claro que não! Você sabe melhor que eu que esses monstros são selvagens e que não se pode dialogar com eles. E felizmente, graças à vigilância dos rangers e druidas daqui, essas criaturas raramente se aproximam da vila.
_ É, era o que eu imaginava e temia. Eu encontrei algumas marcas na floresta, pegadas enormes e galhos quebrados. Um bando de trolls ou ogros passou por aqui uns dois dias atrás. As marcas estão meio apagadas porque andou chovendo nesse tempo, mas tenho certeza de que eles foram em direção da vila.
_ Não! Minha mulher! – Lucano saiu correndo tomado pelo desespero. Em pouco tempo quase alcançou o cavalo de Legolas. Na entrada da vila notaram sinais de destruição, casas e carroças quebradas, sinais de luta em vários pontos.
Tudo estava deserto no lugar. Não havia pessoas em lugar algum e algumas casas estavam com suas portas abertas, como se tivessem sido abandonadas às pressas. Legolas preparou sua espada e entrou na vila, seguido por Lucano e pelos outros que vinham mais atrás, em busca de alguém vivo. No alto, Anix e Squall circulavam o local, também em busca de moradores.
Encontraram algumas ruas ao norte um homem que corria de casa em casa, fechando portas e janelas que estivessem abertas. O suor corria-lhe pelo rosto em abundância e sua expressão era de cansaço.
_ Ei, homem! – gritou Legolas. – O que está acontecendo aqui? Onde estão as pessoas da vila?
_ Que...quem é você? – gaguejou o aldeão.
_ Sou o general Legolas! Diga-me o que está acontecendo aqui, e se precisam de ajuda!
_ Você é do exército? Pelos deuses, veio em boa hora! Trolls atacaram a vila, e levaram algumas crianças com eles. Todos foram persegui-los na mata. Eu fiquei aqui com alguns outros para tomar conta do vilarejo.
_ Trolls? Pra que lado eles foram? – gritou Legolas. Lucano e os outros tinham acabado de chegar nesse momento.
_ Foram para o oeste, general. Por favor, nos ajude senhor. – respondeu o homem.
_ Liodriel, fique aqui. É mais seguro.
_ Venha até minha casa, você estará em segurança lá. Darin e Enola também poderão nos esperar em segurança lá. – disse Lucano. Levou as mulheres para um sobrado não distante dali. Silfo ficou para protegê-las.
_ Você, rapaz. Vigie tudo aqui e se vir algo estranho nos avise. – ordenou Legolas.
_ Certo general!
_ Soldados, venham comigo!
Todos correram, junto com Legolas para a direção oeste, Legolas e Lucano explicavam o pouco que sabiam da situação.
_ E, que história é essa de general, senhor Legolas? – indagou Seelan.
_ Por favor Seelan, me ajude. Só dessa vez. É só uma mentirinha à toa, não vai causar mal algum.
_ Não estou gostando muito dessa história não. Mas, está bem. Vou deixar você brincar de general por hoje. Mas, você vai ficar me devendo um favor por isso. – respondeu o capitão, lançando um olhar cheio de malícia para Legolas. Depois, se dirigiu aos outros e começou a gritar. – Muito bem soldados! Acelerem o passo e obedeçam ao general Legolas! Um, dois, um dois!
Mesmo sem compreender ou concordar, todos correram mais rápido. Em pouco tempo estavam novamente dentro da floresta Greenaria, seguindo as dezenas de pegadas deixadas pelos aldeões. Nailo os guiou novamente e logo encontraram os moradores, todos armados de pás, enxadas e tochas, espalhados em vários pontos da mata em busca dos trolls inimigos.
_ Atenção todos vocês! Eu sou o general Legolas e estou aqui para ajudá-los. Reúnam-se todos aqui para me explicarem com detalhes o que está acontecendo. – gritou o arqueiro. Todos os seus companheiros, com exceção de Seelan fizeram caretas de espanto e descontentamento.
Os moradores aos poucos se aglomeraram ao redor do grupo. Todos eram pessoas simples que tiravam da terra o seu sustento, mas um deles, um homem obeso e calvo, de bigode castanho bem talhado na forma de um pequeno quadrado sob o nariz, aparentava ter mais astúcia que os demais e ser algum tipo de líder.
_ General?! – espantou-se o homem. – Você é mesmo do exército? Não tem nem uniforme ou estandarte!
_ Sou general sim, do exército de Tollon, homem! Agora deixe de enrolação.
_ Exército de Tollon?! Mas você está mesmo longe de casa! Não consigo entender como alguém do exército de Tollon veio para aqui tão longe. Aliás, nem sabia que Tollon tinha exército.
_ Tem sim, homem! E é um dos mais poderosos, Yuden já provou a força de nosso exército. Agora deixe de conversa mole e me conte logo o que está acontecendo aqui.
_ Sim, isso mesmo! Pare de enrolar e explique melhor a situação. Nós estamos aqui pra ajudar, portanto coopere com o general! – era Seelan. Os demais heróis começaram a cochichar entre si.
_ Seelan. Que negócio é esse de general? O Legolas não pode ficar falando desse jeito. – interveio Anix.
_ Cale-se soldado! – gritou Seelan. – Isso não é jeito de falar como general. Pague trinta flexões de braço!
_ Não vou fazer isso não. Ele... – Anix começou, mas foi logo interrompido.
_ Cale-se! Vai fazer sim, soldado. E eu, como seu superior, estou lhe ordenando, portanto, você vai obedecer! – Seelan encarou Anix com firmeza e depois sorriu de forma provocativa. Sabendo que não poderia vencer aquela discussão, Anix começou a contar suas flexões.
Os aldeões começaram a contar o que tinham acontecido. Dois dias antes, um grupo de Trolls tinha atacado a vila pelo sul, depredando e destruindo hortas e casas. Reunidos, os moradores conseguiram expulsar todos eles. Entretanto, um grupo de crianças tinha saído para fazer um piquenique no bosque naquele mesmo dia e não haviam retornado ainda. Os moradores lembraram então do ataque dos trolls e relacionaram as duas coisas, supondo que as crianças estavam agora em sério perigo. Assim, todos procuravam na mata.
Um dos moradores, um caçador, tinha seguido o rastro das crianças e encontrado o local do piquenique. Todas as cestas de comida e brinquedos haviam sido esmagados por pegadas enormes, pegadas dos trolls, que seguiam para a floresta em um rastro difuso e difícil de identificar devido a uma chuva caída no dia do ataque à vila.
O caçador tentava agora rastrear a trilha apagada pela chuva, com muita dificuldade. Ele foi chamado e junto com alguns outros acompanhantes, se reuniu ao restante dos aldeões.
_ Lucano? – disse ele, espantado, ao chegar.
_ Pai!!! – respondeu o clérigo, emocionado.
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