maio 28, 2005

Capítulo 48 - Canceronte

Dentro da caverna, Anix encontrou apenas algumas armaduras e armas, que pertenciam à antigas vítimas do monstro, cujos corpos estavam espalhados aos pedaços na caverna. Também havia uma pequena caixa com um anel dourado, um frasco com um líquido viscoso, uma varinha que parecia ser mágica e um amuleto de madeira em forma de leque. Segundo Talin, nada ali presente fazia parte do tesouro que precisavam encontrar. O mago e o pirata recolheram os itens rapidamente, e convocaram os demais para continuarem a busca.
Os heróis continuaram seguindo os rastros na areia enquanto andavam, sentiram seus corpos ficarem mais pesados e perceberam que o efeito da magia que permitia o fácil deslocamento dentro d’água havia terminado, era preciso se apressar. Após quase trinta minutos, encontraram uma caverna, para onde os rastros seguiam. Era uma imensa abertura na parede rochosa, que se estendia vários metros montanha adentro. No chão e nas paredes ao redor dos heróis, vários pequenos caranguejos desfilavam, enquanto caçavam pequenos peixes brilhantes. Os heróis foram entrando lentamente na caverna, tomando cuidado para não pisarem nos caranguejos que circulavam por todos os lados. Após vários metros, chegaram a uma câmara muito ampla, onde centenas de ovos contendo larvas de caranguejos se empilhavam umas sobre as outras, cobrindo grande parte da caverna. No fundo da gruta, um enorme baú de carvalho refletia a luz do bastão solar. Talin reconheceu o baú, e foi em sua direção acompanhado de Anix e Legolas. Quando estavam a poucos passos da arca, um caranguejo com quase cinco metros de altura surgiu das sombras e atacou Talin com suas garras. O pobre pirata foi esmagado num único golpe. Sairf soltou um grito abafado pela água em sua boca “Um canceronte gigante!”, exclamou o mago espantado com o tamanho da criatura.
Sem perder tempo, o elementarista lançou uma magia congelante no animal para tentar impedir seu avanço. Novamente o raio se dispersou nas águas. Legolas disparou a flecha que já estava preparada em seu arco, ferindo uma das gigantescas pinças do canceronte. Loand girou o corpo, impulsionando sua espada contra o corpo da criatura, conseguindo arrancar-lhe três das suas numerosas patas. O restante do grupo correu para auxiliar seus amigos, entretanto, o canceronte foi mais rápido e atacou Loand. As pinças grotescas do animal dilaceraram o ventre de Loand, que caiu no chão frio, quase morto. O monstro levantou sua pinça, pronto para sepultar o jovem paladino, mas uma explosão luminosa o impediu. Squall, com a mão estendida, disparara um míssil mágico para salvar seu amigo. Anix lançou uma flecha, que ricocheteou na carapaça do animal, enquanto Lucano o atacava com sua espada, sem conseguir feri-lo. Sairf tentou novamente congelar o canceronte, mas somente Legolas conseguiu feri-lo com uma flechada na cabeça. Loand sangrava muito, e seus amigos tentavam a todo custo salvá-lo da morte. O monstro golpeou Legolas e Anix com suas garras, fazendo com que o pescoço do primeiro vertesse grande quantidade de sangue, enquanto que o segundo teve seu crânio fraturado. Squall correu para proteger os amigos feridos com sua espada, dando chance para que Anix se afastasse para se curar. Anix disparou uma flecha contra a carapaça do inimigo e correu para longe dele. Mesmo assim, a pinça do canceronte o alcançou quando se virou, e o arremessou para longe, deixando-o também à beira da morte. Sairf puxou Loand para longe da criatura, e, às pressas, deu-lhe uma poção de cura mágica, estabilizando sua situação. Legolas jogou seu corpo no chão e, enquanto caia lentamente, disparou uma flecha por baixo do monstro, rachando sua grossa carapaça. Squall correu até perto de Legolas, enquanto o inimigo tentava golpeá-lo com a garra. O feiticeiro recebeu um forte golpe na cabeça, mas mesmo assim conseguiu disparar um último míssil mágico no local onde a flecha de Legolas havia atingido. O raio mágico atravessou o corpo do animal, encerrando a batalha.
Com o monstro morto, os heróis puderam curar suas feridas com suas poções mágicas. Lucano foi até a arca e, ao abri-la, foi atingido por um dardo envenenado. Lucano resistiu bravamente aos efeitos do veneno, e começou a revirar o velho baú. Lá dentro, misturados com moedas, jóias e outros itens, haviam pequenas urnas feitas de coral, e uma grande estátua dourada de um selako com seus enormes dentes à mostra. Os heróis fecharam a caixa e começaram a carregá-la de volta para a vila dos sahuagins.
A viagem de volta, foi muito mais demorada do que a ida. No meio do caminho, os heróis começaram a se sufocar com a água do mar. A magia para respirar na água estava terminando. Rapidamente, todos ingeriram as poções recebidas da sacerdotisa sahuagin. Com o término da magia, os heróis sabiam que já haviam se passado cerca de três horas desde que haviam saído da aldeia. Pelo menos três reféns já haviam sido mortos, e Nailo e Yczar podiam estar entre eles. O grupo aumentou a velocidade o máximo possível. O imenso baú, cheio de tesouros dificultava o movimento e colocava suas vidas em risco. Quase uma hora depois, eles finalmente avistaram os destroços do navio pirata. Legolas nadou o mais rápido que conseguia em direção à saída do abismo vários metros acima. Seus amigos se esforçavam para carregar a arca para o alto seguindo o elfo.
Lá em cima, os soldados sahuagins aguardavam impacientes pela ordem para caçar os heróis até a morte. Legolas chamou a atenção do grupo, mas a comunicação entre eles era totalmente incompreensível para ambas as partes. Legolas gesticulava inutilmente, sem se fazer entender. O elfo então mergulhou no abismo, sendo seguido pelos sahuagins que já estavam prontos para matá-lo. O arqueiro os conduziu até seus amigos com a arca do tesouro, fazendo-os finalmente entender as suas intenções. Os sahuagins amarraram a arca nos selakos a puxaram para cima. Os heróis seguraram nos animais e foram puxados também. Fora do abismo, os aventureiros montaram novamente nos tubarões que os aguardavam e retornaram triunfantes para a vila. Entraram no palácio, onde pedaços de carne estavam espalhados pelo chão de conchas. Aos poucos foram identificando mão, pés e outras partes dos corpos dos reféns mortos. Buscaram com os olhos por seus amigos e viram duas jaulas ao lado do trono do rei. Numa delas, estavam seus animais, na outra, apenas Yczar cabisbaixo. Diante do trono, um grupo de sahuagins rodeava o rei que se levantou para olhar os que chagavam. Em suas mãos, havia uma adaga toda ensangüentada. No chão, cercado pelos soldados, havia o corpo de um elfo. Era Nailo. Os heróis saltaram dos selakos e correram na direção do amigo ranger, enquanto os outros soldados levavam o tesouro até o rei. Para felicidade de todos, Nailo estava vivo.

Capítulo 47 - O estranho Kopru

O grupo de aventureiros caminhou seguindo a fenda submarina por um longo tempo. Cerca de uma hora já havia se passado desde tinham saído do vilarejo sahuagin. Com certeza, um dos prisioneiros já estaria morto. Eles sabiam que o primeiro a morrer seria um dos piratas, conforme havia sido determinado pelo rei dos sahuagins. Entretanto, Yczar o Nailo podiam ser o próximo sacrificado. Eles se apressaram, nadando pouco acima do fundo do mar, até que chegarem a um local de solo extremamente pedregoso, cheio de rochas de variados tamanhos, que ocultavam a trilha o objeto arrastado.
Os heróis continuaram em frente, até que o chão voltou a ficar arenoso e a trilha pode novamente ser vista. Entraram em uma área coberta de algas marinhas. As algas amassadas e rasgadas, denunciavam a passagem do suposto objeto. Enquanto o grupo analisava o local em busca dos rastros, Uma estranha criatura surgiu, saída de uma caverna na parede do abismo, e se aproximou do grupo de maneira ameaçadora. Era um monstro que não lembrava nenhuma criatura conhecida, mas que combinava várias características familiares em uma única monstruosa aparência. Seu corpo lembrava vagamente o de uma enguia, mas terminava em três longas e flexíveis caudas. Seu tórax era quase o humano, e suas mãos no fim de dois braços musculosos, terminavam em garras afiadas. Sua cabeça crescendo diretamente de seu tronco, lembrava a de um peixe. Tinha grandes olhos sem pálpebras, e uma enorme boca rodeada por quatro tentáculos. O estranho monstro parou diante dos heróis, e começou a falar no idioma aquan enquanto parecia gargalhar.
_ Vocês, criaturas da superfície, irão morrer agora. Eu irei devorara suas carcaças e lamber os seus ossos, preparem-se para o seu fim! – dizia o monstro no idioma das águas, enquanto Sairf traduzia cada palavra para seus companheiros. Sairf tentou dialogar com a criatura, tentando convencê-la a não atacá-los e perguntando qual seria o motivo de todas aquelas ameaças. A resposta foi dada na própria pele do mago. A enorme garra do monstro rasgou o peito do elementarista, enquanto ele ainda tentava negociar. O mago se afastou do monstro, e os heróis começaram a lutar por suas vidas.
Enquanto Sairf recuava, segurando o peito ferido, Legolas e Anix avançavam com seus arcos preparados para atacar. A flecha de Legolas passou sobre a cabeça do monstro, desviada pela pressão das águas, mas Anix, disparando corpo a corpo, conseguiu ferir o tórax da criatura. Lucano dava cobertura para os dois amigos, à distância, mas suas flechas nem chegavam próximas do alvo, tamanha era a força exercida pela água naquela profundidade.
Loand ergueu sua espada bastarda e avançou na direção do monstro. O estranho ser encarou o paladino, que começou a se contorcer e a segurar a cabeça como se alguma dor aguda o afligisse. Loand gritava desesperado, as bolhas de ar que saiam de sua boca cobriam seu rosto. Seus amigos pararam, assustados, tentando entender o que acontecia. Quando as bolhas de ar saíram da frente do rosto do paladino eles puderam entender. Loand, com os olhos amarelados e arregalados, atacou Anix com sua espada. A força do golpe foi tão grande que criou um pequeno redemoinho na água, enquanto o paladino rodopiava na frente do mago, após ter errado o golpe. De alguma forma, a criatura havia dominado a mente de Loand, e agora o servo de Khalmyr estava contra os heróis.
Incapacitado para lutar, Sairf não tinha outra coisa a fazer senão usar suas magias. O elementarista começou um ritual de invocação, enquanto Legolas e Anix alvejavam o monstro com suas flechas. Vendo seu companheiro ferido, Lucano usou seus poderes para curar os ferimentos de Sairf.
O monstro contra-atacou com grande violência. Suas três caudas se ataram ao corpo de Legolas e começaram a esmagá-lo enquanto o ser abissal rasgava o rosto do elfo com seus dentes. Legolas se debatia sentindo muita dor, Anix correu para ajudá-lo, mas as garras da criatura o impediram, deixando o mago com o corpo todo rasgado.
Como se não bastasse os terríveis ataques da criatura, Loand ainda atacava seus próprios amigos com sua espada. Lucano rolou seu corpo na água, desviando seu corpo da lâmina sagrada do paladino enfeitiçado. Sairf concluiu sua magia, conjurando um golfinho para ajudá-los. Tentou agarrar Loand, para impedi-lo de lutar contra seus próprios amigos, mas por pouco não teve sua cabeça cortada pela bastarda. Mesmo preso pela cauda da criatura, Legolas atacava com suas flechas, ajudado por Anix e Lucano. O monstro, com duas flechas cravadas em sua cabeça, esmagou o elfo com sua cauda e o atacou com todas as suas armas. As garras e as presas afiadas como sabres rasgaram todo o corpo de Legolas, deixando-o seriamente ferido. Loand voltou a atacar Anix, mas a confusão mental dentro do cérebro do paladino fez com que ele perdesse o equilíbrio e ficasse se debatendo na água.
Squall, que até então apenas observava atônito, aproveitou a chance para tentar nocautear Loand. Mas o paladino se recuperou rápido e Squall foi obrigado a desistir de sua tentativa ao sentir a lâmina fria cortando sua carne.
Enquanto segurava Legolas, o monstro não podia se mover com liberdade, e se tornou alvo fácil dos ataques dos heróis. Recebeu várias flechadas e várias mordidas do golfinho de Sairf. Então ele decidiu terminar com aquela batalha. Colocando toda a sua força na cauda, o monstro deixou Legolas quase sem fôlego. Atacou então com suas garras, deixando o arqueiro quase morto boiando na água. A criatura ainda arrancou um pedaço de Anix com sua mandíbula poderosa, obrigando o mago a recuar. Sairf puxou Legolas, afastando o corpo do elfo da criatura e o fez beber uma poção mágica de cura. Legolas despertou, muito fraco ainda e viu Squall tentando atingir Loand com o cabo da sua espada. Loand defendeu o golpe, e o feiticeiro foi obrigado a fugir, esquivando-se da lâmina do paladino.
Mal havia aberto os olhos, Legolas disparou mais uma flecha no monstro marinho, atingindo-o no peito. Anix disparou um míssil mágico no mesmo local atingido por Legolas e o monstro começou dar sinais de cansaço.
Lucano socorreu Squall, ferido por Loand, curando seus ferimentos. Enquanto ajudava o amigo, o clérigo foi atacado pelas costas pela criatura, sentindo os dentes e as garras penetrando em seu corpo. Ao mesmo tempo, o monstro também atacava Legolas com sua cauda e garra. Por pouco o elfo não foi agarrado novamente pelo inimigo, e ainda teve tempo de avisar Lucano para que o clérigo se desviasse da espada de Loand. A espada passou ao lado do corpo do servo de Glórien, criando uma pequena onda. Loand levantou sua arma e rasgou as costas de Sairf quando este passava ao seu lado. Mesmo ferido, o mago ainda teve forças para disparar um raio congelante no monstro. Entretanto, mesmo com o braço apoiado sobre o ombro de Legolas, Sairf não conseguiu atingir a criatura com o ataque mágico.
Squall recuou para se recuperar dos ferimentos feitos por seu companheiro. Tomou uma poção enquanto Legolas e Anix feriam a estranha criatura com suas flechas. Lucano também disparou mais uma flecha contra o monstro, mas ele já fugia, escondendo-se na escuridão do abismo.
O único inimigo em luta agora era Loand, ainda dominado pelos poderes sobrenaturais do monstro. O paladino correu na direção de Anix, com sua enorme espada na mão, passando entre Legolas e Lucano. Os dois atacaram o amigo, tentando impedi-lo de seguir os desejos do monstro. Loand recebeu uma flechada na nuca, e um forte soco no estômago, dado por Lucano. O paladino desmaiou para alivio de todos.
Sairf segurou o amigo em seus braços e retirou uma poção mágica de sua algibeira para trazê-lo de volta à consciência. Irritado, o mago gritava desafios em Aquan para o monstro que se ocultava na escuridão. Anis e Legolas entraram na caverna da criatura, esperando encontrar o tesouro que procuravam. Talin iluminava o ambiente para os dois, quando eles ouviram Sairf gritando em sofrimento. Legolas nadou para fora da caverna e viu Sairf sendo golpeado pela cauda do monstro, enquanto Lucano tentava defendê-los com sua espada. Legolas aproveitou que não havia sido notado pela criatura, sacou uma flecha e a disparou com toda sua confiança. O projétil atravessou as águas, indo se alojar no crânio do ser abissal, retirando-lhe a pouca vitalidade que restava. Sairf derramou o líquido mágico dentro da boca de Loand. O paladino recobrou os sentidos, sem se lembrar do que tinha acontecido, com a morte do monstro, o domínio mental havia se encerrado.

maio 27, 2005

Capítulo 46 - Rugidos no abismo

Os heróis caminhavam nas profundezas, entre estranhos peixes luminosos, vasculhando cada centímetro da fenda em busca do navio pirata. Após algum tempo, avistaram os destroços da nau no centro do abismo. O navio estava totalmente em pedaços. Apenas metade dele ainda continuava inteira, apesar dos enormes buracos no casco. A outra metade se espalhava pelo solo em milhares de pedaços, misturando-se à pedras e algas do local. O grupo se aproximou lentamente da embarcação, os dois piratas iam à frente, enquanto Legolas iluminava o local com o bastão solar. A luz do bastão refletiu em dois enormes olhos amarelados, dentro do casco do navio. De lá de dentro, um enorme leão marinho surgiu, rugindo e avançando sobre os heróis.
Rapidamente, Legolas lançou o bastão luminoso no chão, próximo do inimigo, e disparou uma de suas flechas nele. Para sua infelicidade, a água gelada do mar desviou a trajetória de sua flecha, fazendo-o errar o alvo. Os dois piratas sacaram seus sabres, e investiram contra o animal. Seus sabres apenas resvalaram na pele espessa da fera, que revidou mordendo o ombro de um dos marujos. O pirata começou a sangrar muito, demonstrando toda a força das mandíbulas do monstro. Anix gritou para que os dois recuassem, pois, caso fossem mortos, mais ninguém poderia reconhecer o tesouro roubado dos sahuagins. Mas o aviso do elfo chegou tarde demais, e, enquanto Lucano e Sairf se concentravam na realização de magias, o leão atacou com toda sua fúria. Talin, um dos piratas, conseguiu escapar por pouco das garras do leão, seu amigo não teve a mesma sorte e teve sua garganta rasgada pelo animal. Loand tentou socorrê-lo, mas já era tarde. O paladino atacou com sua espada então, mas a criatura defendeu o golpe com suas poderosas unhas e contra-atacou, mordendo o ventre de Loand.
O paladino sangrava muito, mas não recuou um milímetro sequer. Sua coragem inabalável, graça concedida pelo deus da justiça, o impedia de se dar por vencido. Anix tentou enfeitiçar o leão marinho, e enquanto distraía o animal, Legolas se aproximou e atirou uma nova flecha. Mas o monstro também não se dava por vencido. Sua força de vontade foi maior que o poder mágico de Anix, e sua pele mais forte que a flecha lançada por Legolas. O monstro rugiu para os dois elfos, enquanto Talin fugia apavorado.
Simultaneamente, dois grandes tubarões surgiram magicamente, invocados por Sairf e Lucano. Os animais atacaram o leão, seguindo as ordens de seus mestres, enquanto Lucano tentava, sem resultados, alvejar o animal com seu arco. O clérigo errou seu ataque, mas os selakos não. A batalha dos animais, disputada dentada a dentada, era desfavorável para o leão marinho. Percebendo isso, Sairf se concentrou e começou a convocar mais reforços. Além dos tubarões, Loand atacava com toda sua força. Durante alguns instantes, a luta se manteve equilibrada. Nem Loand, nem os tubarões, nem o leão conseguiam ferir uns aos outros. A balança começou a pender para o lado dos heróis quando Legolas e Anix cercaram o leão marinho pelos flancos, disparando seus arcos à queima roupa. Era impossível desviar daqueles ataques, o leão foi ferido e começou a sangrar, atiçando ainda mais a fúria dos selakos sobre ele.
Talin recolheu o bastão solar do chão para iluminar o ambiente para os combatentes, enquanto Squall e Lucano lhe protegiam.
Sairf conjurou um terceiro tubarão, que se juntou aos outros dois para devorar o leão marinho. Os três selakos atacaram conjuntamente, arrancando pedaços do pescoço e do focinho do leão, enquanto Sairf começava um novo ritual de invocação.
O leão rebateu novamente a espada de Loand, e despedaçou o corpo do tubarão convocado por lucano com suas garras. Tentou morder Legolas, mas o elfo era muito mais rápido e se livrou das presas do animal defendendo-se com seu arco.
Anix fez um movimento com os braços, como se usasse um arco para mirar no inimigo. Murmurou um feitiço com todo o cuidado para que a boca cheia de água não prejudicasse a conjuração. O mago disparou uma flecha luminosa que atingiu as costelas do leão e começou a queimá-lo como se fosse corrosiva. Enquanto o animal rugia de dor, devido à flecha ácida, Legolas e Lucano o atacaram com seus arcos. O arqueiro atingiu o lombo escamoso da fera. Lucano, entretanto, só conseguiu atingir as costas de seu amigo Loand. Porém, nem mesmo o fogo amigo atrapalhou a vitória dos heróis. Os selakos atacaram, reforçados por um novo tubarão invocado por Sairf, e, em poucos minutos, despedaçaram o inimigo.
Enquanto os tubarões devoravam a carcaça do leão marinho, os heróis entraram no que havia sobrado do casco do navio pirata. Procuraram pela arca que, segundo Talin, continha o tesouro roubado dos sahuagins. Não encontraram nada, além de umas poucas moedas de ouro, guardadas por Sairf. Vasculharam tudo ao redor dos destroços do navio e encontraram marcas de algum objeto grande que fora arrastado sobre a areia para fora do alcance da visão dos heróis. Eles decidiram seguir a trilha, na esperança de que o objeto arrastado fosse o baú com o tesouro.

maio 26, 2005

Capítulo 45 - Jornada submarina

O rei se voltou para o grupo, falando e gesticulando, sem ser entendido. Então a fêmea disse alguma coisa e se aproximou dos heróis, falando e gesticulando com eles. Sua voz mudava de tom a cada frase dita, até que Sairf entendeu suas palavras quando ela falou em idioma Aquan.
A fêmea conversava com o mago, traduzindo cada palavra do diálogo com o rei. De forma semelhante, Sairf traduzia para seus amigos o que ela dizia.
Os sahuagins exigiam que os heróis devolvessem os tesouros que haviam roubado. De acordo com a mulher, os tripulantes do navio com uma carranca de baleia haviam roubado os tesouros sagrados dos sahuagins. Se eles não devolvessem os tesouros, seriam mortos. Quando Sairf traduziu as palavras da criatura, todos entenderam o que havia acontecido. O navio com carranca de baleia era o navio de Flat Nose. Ele e sua tripulação deveriam ter saqueado os tesouros dos sahuagins de alguma forma. Um dos piratas, Talin, confirmou a história, e explicou que Flat Nose havia conseguido algumas poções mágicas para respirar na água e havia roubado o tesouro das criaturas. Infelizmente, o tesouro estava dentro do navio quando ele afundou, e o navio agora estava desaparecido.
Sairf explicou a situação e se propôs a recuperar o tesouro para as criaturas. Mas o rei era irredutível, e quando soube que o tesouro estava dentro do navio, ordenou que os prisioneiros fossem executados. Sairf tentou dialogar, prometendo procurar pelo tesouro, mas, segundo o rei, o tesouro estava no fundo do abismo e não poderia ser recuperado. Por isso os prisioneiros teriam de morrer. Após uma longa discussão, o mago finalmente conseguiu um acordo. Eles iriam até o abismo recuperar o tesouro, e, se cumprissem a missão, poderiam viver como escravos pelo resto de suas vidas. Os heróis receberiam suas armas e teriam seis horas para recuperarem o tesouro, em especial a estátua sagrada do deus dos sahuagins. Se falhassem seriam mortos, isso se os perigos do abismo submarino não se encarregasse de eliminá-los. O soberano caminhou entre os prisioneiros, escolhendo três dos piratas, Nailo e Yczar como reféns. Os reféns foram enjaulados novamente. Aqueles que iriam em busca do tesouro teriam seis horas para retornar com os itens sagrados. A cada hora que se passasse, o rei mataria pessoalmente um dos reféns. Depois de cinco horas, todos os reféns já estariam mortos, e os heróis teriam apenas mais uma hora para retornarem com o tesouro. Se não o fizessem, seriam caçados pelos melhores soldados da aldeia, e mortos de maneira cruel. Rapidamente, Sairf e seus amigos, junto com dois piratas, pegaram seus equipamentos. A fêmea, uma sacerdotisa, conjurou sobre o grupo uma magia que os permitiria respirar fora das águas mágicas, o ar molhado. A magia duraria cerca de três horas apenas, então ela entregou ao grupo frascos com poções mágicas para prolongar a duração do efeito mágico. Também lançou sobre eles uma magia que lhes permitiria se mover livremente pelas águas, como se estivessem na superfície, durante um período de pouco mais de uma hora. O grupo também recebeu três bastões solares, para poderem enxergar nas profundezas, e partiu em direção ao abismo. Quinze soldados sahuagins os escoltaram até a fossa abissal. Todos foram até o local montados em tubarões. Diante da fenda submarina, os heróis desmontaram seus selakos e saltaram nas profundezas escuras. Os soldados ficaram no local, aguardando o retorno dos aventureiros, ou a ordem para caçá-los e eliminá-los. Os heróis desceram cerca de trinta metros mar abaixo, até que atingiram o fundo do abismo submarino. A pressão era esmagadora e as águas eram extremamente frias. Legolas acendeu um dos bastões solares, e eles partiram em sua jornada.

Capítulo 44 - Prisioneiros

Os heróis acordaram em um túnel escuro e comprido. No final do túnel, havia uma fonte de luz branca muito intensa. Eles começaram a se aproximar da luz, cada vez mais rápidos, até verem uma criatura escamosa, com barbatanas por todo o corpo e braços e pernas que terminavam em garras afiadas. Sua boca, repleta dentes afiados, movia-se como se pronunciasse alguma coisa. Os heróis abriram seus olhos por completo e viram que estavam dentro de uma jaula no fundo do mar. Junto com eles, estavam Yczar e mais oito piratas que haviam sobrevivido ao naufrágio. Ao redor da jaula, no leito oceânico, os destroços do navio pirata podiam ser vistos. Atrás deles, uma imensa mancha negra no chão revelava um abismo quase sem fim. A jaula era carregada por dois enormes selakos. À frente dela, mais dois animais de mesmo tamanho, a puxavam por cordas feitas de algas. Conduzindo os tubarões, Uma criatura humanóide que lembrava um homem peixe, olhava para os prisioneiros com um olhar frio e cruel. Dois deles carregavam uma caixa de madeira com os pertences dos heróis, enquanto vários outros reviravam os escombros do navio á procura de objetos de valor. Por fim, uma das criaturas, ao lado da jaula, batia o cabo de um tridente nas barras de ferro, enquanto proferia ofensas em uma língua própria para os heróis. Eram Sahuagins, como explicou Sairf. Criaturas marinhas inteligentes e extremamente cruéis, que viviam em sociedades rígidas. Os Sahuagins, conhecidos como demônios do mar, conduziram a jaula em direção a uma verdadeira floresta de algas marinhas imensas. Os seres mostravam ter grande intimidade com os selakos, e os tratavam como animais de carga, ou até mesmo de estimação. Nenhum deles lembrava do que havia acontecido após terem perdido os sentidos enquanto o navio afundava. E, ainda mais estranho, ninguém entendia como estavam vivos e respirando no fundo do mar. A resposta para o mistério veio por parte de um dos piratas.
_ Ar molhado! – disse um dos seguidores de Léo Seis Dedos, quer não se encontrava entre os sobreviventes. Sairf sabia muito bem do que se tratava, eram as lendárias águas mágicas nas quais uma criatura da superfície podia respirar normalmente.
Legolas rasgou um pedaço de sua camisa e retirou a adaga que guardava escondida em sua bota. Enrolou o pedaço de tecido nas barras da jaula e começou a torcê-lo com a ajuda da adaga. As grades começaram a se entortar lentamente. Os sahuagins se agitaram e ameaçaram Legolas com seus tridentes. O elfo atirou sua adaga, ferindo um dos monstros superficialmente. Sem mais nenhuma arma remanescente, os heróis e os piratas não tiveram outra escolha senão aguardar pacientemente para ver o que aconteceria em seguida.
Os sahuagins os levaram por entre uma floresta de algas gigantes. Peixes abissais, com orbes luminosas em suas cabeças, nadavam em volta deles. Quando a selva submarina terminou, o grupo estava na entrada de um vale que abrigava uma vila de sahuagins. Construídas com corais, dezenas de casas abrigavam a comunidade sahuagin que vivia em harmonia com os tubarões. Atravessaram a vila até chegarem a uma grande construção, parecida com um coliseu ou um palácio.
Dentro do palácio, todo construído com corais multicoloridos, dezenas de soldados montavam guarda, ao longo de todo o complexo. O chão, cuidadosamente pavimentado com conchas, conduzia a um trono numa elevação no fundo do palácio. Sobre o trono, um enorme sahuagin de quatro braços reinava absoluto. Ao seu lado, um sahuagin de aparência esguia, parecendo ser uma fêmea, servia de conselheira para o soberano. Junto com ela, mais quatro fêmeas, todas com tiaras prateadas em suas cabeças, observavam a chegada dos prisioneiros.
Os selakos pararam a cerca de vinte metros do trono. A caixa, com os pertences do grupo, foi virada no chão. Os sahuagins começaram a vasculhar os objetos como se procurassem alguma coisa. O rei fez um gesto, apontando para os prisioneiros, e deu uma ordem em seu idioma, com sua voz rouca.
A jaula foi aberta, e os prisioneiros foram soltos dentro do palácio. O rei falava alguma coisa para o grupo, e estava visivelmente irritado. Três dos piratas se afastaram lentamente, e quando julgaram ser o momento adequado, correram para a saída do palácio. Nenhum dos soldados fez qualquer gesto para prender os fugitivos. Os três alcançaram a saída, e quando pensavam estarem livres, foram atacados por dois selakos do tamanho de grandes baleias. Seus corpos foram estraçalhados pelos animais e seu sangue se espalhou pela água do mar. Os sahuagins olhavam como se estivessem se divertindo com a carnificina. Um dos três fugitivos conseguiu retornar para dentro do palácio antes de ser devorado. Foi preso pelos soldados e levado até a presença do rei. O soberano desceu de seu trono e foi até o prisioneiro. Acariciou seu rosto com suas garras afiadas, enquanto dois soldados seguravam o pirata pelos braços. O rei sahuagin deu uma ordem para seus soldados, e um deles cravou um tridente nas costas do prisioneiro ao mesmo tempo em que os outros arrancavam seus braços e pernas de forma cruel.

Capítulo 43 - Seis dedos

Tudo parecia terminado. Os heróis tinham eliminado os piratas e o azarado capitão Flat Nose. Agora, além do Liberdade, eles possuíam um navio maior e mais equipado. Os aventureiros começaram a revistar os cadáveres dos inimigos mortos, quando Yczar os alertou de que a luta ainda não havia acabado. Sob o convés, no porão do navio, ainda haviam os canhoneiros, responsáveis pelos disparos contra o Liberdade. Embora Cloud não tivesse detectado a presença de ninguém no porão, todos sabiam que Yczar estava certo.
Yczar convocou todos para entrarem no porão. Deixou seu mangual e seu manto, que pertencera a Teztal, junto com Batloc, e pediu que o genasi e Silfo cuidassem dos marinheiros feridos e do Liberdade. Yczar pediu por uma arma menor, recebeu a adaga de Loand para poder lutar melhor no apertado porão. Todos os outros seguiram a susgestão dada pelo paladino de Khalmyr, e deixaram suas mochilas e qualquer outra coisa que pudesse atrapalhar seus movimentos, no Liberdade. Antes de partirem para a nova batalha, Enola curou aqueles que estavam feridos com sua magia, e desejou aos seus amigos boa sorte na luta. Yczar pediu que todos formassem um círculo, os combatentes nas bordas, e os magos no centro. Com todos os preparativos prontos, o grupo de Yczar desceu as escadas que conduziam ao porão do navio pirata.
A atmosfera no piso inferior da nau não era nada agradável. A fumaça dos canhões prejudicava a visão de todos. O forte cheiro de pólvora queimava os narizes dos aventureiros. Estava extremamente escuro. A única luz naquele lugar, era a que penetrava pela entrada e pelas pequenas escotilhas por onde os canhões haviam disparado. Mas os canhões não estavam lá, haviam sido removidos e escondidos. Os heróis desceram todos os degraus da escada de acesso, observando cuidadosamente tudo ao seu redor. Procuravam pelos piratas remanescentes. Então, o chão abaixo de seus pés estalou, como madeira seca se partindo. Do piso emergiu uma enorme rede, feita de correntes, que prendeu a todos. Perto da porta, dois enormes blocos de pedra serviam de contra peso para suspender a rede e os que nela estavam aprisionados. As duas pequenas portas, que davam acesso ao convés, se fecharam assim que a rede se ergueu do chão. Enredados, os heróis tentavam a todo custo se libertar. Sairf e Anix tentavam partir as correntes com raios de gelo e de ácido. Então, um ruído semelhante ao grunhido de ratos, surgiu do meio da escuridão. Dos cantos mais escuros do porão, surgiram doze piratas, empurrando seis enormes canhões sobre pequenas rodas de metal. Os piratas apontaram os canhões para os heróis e acenderam seus pavios. Dentre eles, um homem magro de estatura mediana, com uma cicatriz no nariz e longos cabelos arrumados numa única trança, tomou a dianteira e começou a falar com arrogância:
_ Há Há Há, vocês seus idiotas, caíram num truque com mais de trezentos anos! Vocês fizeram tudo conforme eu previ! Vocês não só eliminaram o inútil do Flat Nose, como também me presentearam com o navio dele. Agora eu tenho o navio e uma tripulação para movimentá-lo, tudo conforme eu previ, há há há!!! Agora eu, capitão Léo Seis Dedos, irei me tornar o maior pirata de todo o Mar Negro! Não, de todos os mares de Arton! Vocês verão eu me tornar o maior capitão pirata de todos os tempos! Não, não verão não, pois estarão mortos! Afinal vocês caíram na minha técnica de trezentos anos e serão eliminados pelo grande Léo Seis Dedos, há há há! – Enquanto falava e gesticulava, os heróis podiam ver em suas mão o porque daquele nome tão peculiar. Léo Seis Dedos tinha de fato seis dedos em cada uma das mãos.
Os pavios foram queimando enquanto Léo discursava, até que as suas chamas entraram dentro dos canhões. Os heróis fecharam seus olhos, esperando pelo som dos disparos. Mas nada se ouviu, além dos gritos do capitão de seis dedos.
_ Inúteis, esses pavios devem estar molhados! Tratem de arranjar pavios novos e rápido!
Os piratas correram para buscar novos pavios para os canhões, enquanto Léo ria e se vangloriava do sucesso de seus planos. Sairf e Lucano começaram a preparar magias para invocar monstros para ajudá-los, quando o navio todo estremeceu com um forte som de pancada. O navio balançou, jogando a rede de encontro ao teto. Legolas tentou segurar a corrente que se prendia ao contrapeso, mas não suportou o peso de todos os que estavam pendurados na rede.
_ Yczar, Yczar! Selakos imensos estão atacando o navio! – Batloc dava o alarme do ataque das criaturas atraídas pelo cheiro do sangue do pirata que havia saltado no mar. Legolas chamava desesperado pelo genasi, mas não obtia resposta.
Léo ria, enquanto o navio chacoalhava de um lado para o outro. O balançar do navio fez com que os seis canhões virassem suas bocas para o chão da nau. Dentro dos orifícios dos pavios, Legolas e seus amigos viram pequenas chamas brilhando.
_Seu idiota os pavios estão... – Legolas não teve tempo de terminar a frase. Os seis canhões explodiram simultaneamente, abrindo uma gigantesca cratera no casco do navio. O piso ruiu e os canhões afundaram no mar, junto com Léo Seis Dedos. A água começou a entrar e a afundar o navio rapidamente. Os piratas tentavam, desesperadamente, alcançar a porta de saída. A água tomou conta de todo o porão em poucos segundos, e o navio afundou nas águas profundas. Dentro da rede, os heróis se debatiam, tentando se soltar, enquanto lutavam para prender o fôlego o maior tempo possível. Então tudo ficou escuro, e eles não viram mais nada.

Capítulo 42 - Piratas (2)

Dois piratas atacaram a espada bastarda de Loand. O paladino, agora com uma força sobrenatural, arrancou a cabeça de um deles, e desarmou o outro. Os marujos, assustados, começaram a recuar. Entretanto, o terceiro atacante jogou a arma do servo da justiça sobre o guarda corpo dos dois navios, que se afastavam lentamente.
O pior aconteceu com Anix. Cercado por vários inimigos, Anix padeceu sob os sabres inimigos, apesar da proteção de seus amigos.
Engaris tentava fazer o Liberdade se afastar da nau inimiga. Os inimigos perceberam suas intenções e partiram para cima do capitão. Batloc saltou sobre Anix, caindo entre os piratas e Engaris, contando um dos inimigos ao meio com seu imenso machado. Squall, temendo a chegada de mais inimigos, ordenou que Cloud investigasse o interior do navio pirata. O pássaro retornou alguns instantes depois, enquanto seu mestre conjurava um feitiço de invocação, sem ter visto ninguém no porão.
Vendo seu senhor desarmado, Smeágol saltou sobre um dos adversários de Nailo, arrancando-lhe a traquéia, enquanto recebia golpes de sabre nas costas. Enfurecido, nailo sacou a cimitarra da mochila, e voltou a atacar com todas as forças, fazendo mais um inimigo tombar.
Loand atacava beneficiado pela força mágica que recebera de Yczar. Os inimigos não tinham chances contra aquele homem extremamente forte e iam caindo um a um. Dentro do liberdade, Silfo e Batloc protegiam capitão Engaris com a clava e o machado, levando mais piratas ao nocaute.
Lucano puxou Anix para longe dos inimigos e invocou sua espada espiritual. A lâmina surgiu, brilhante como o sol, e rodopiou no ar arrancando a cabeça de um dos piratas que já estava desarmado.
Flat Nose ordenou que seus homens batessem em retirada. Enquanto fugiam para seu navio, os piratas recebiam mais golpes dos heróis, ficando ainda mais fracos. Silfo esmagou a cabeça de um dos piratas que passou à sua frente, enquanto Legolas os seguiu até o navio pirata.
Todos os heróis seguiram o elfo, que lutava contra o capitão e seus defensores, ajudado por um estranho escorpião gigante invocado pela magia de Squall. Os piratas foram caindo mortos, como as folhas de uma árvore no outono. Yczar ficou no Liberdade curando os ferimentos de Anix, mas antes encantou a espada de Loand, deixando-a ainda mais poderosa. Os piratas lutavam sujo. Além de tentarem desarmar os heróis, passaram a atacar com rasteiras. Entretanto, os aventureiros eram muito mais poderosos, e eram os piratas que caiam no chão, fosse pelas rasteiras, fosse pelos golpes mortais dos heróis. Nailo, entretanto, foi derrubado no chão, ficando com os pés para o alto, enquanto seus inimigos o estocavam com os sabres. Yczar e Anix, já recuperado, invadiram a nau pirata, socorrendo o ranger.
Cercado por Legolas, Smeágol, e um escorpião monstruoso, o capitão Flat Nose encontrou a morte, pelas mandíbulas do lobo que destroçou sua garganta. Enquanto sucumbia, o pitara tentou virar o leme do navio, mas foi impedido por Legolas.
Sem seu capitão, os piratas perderam a moral, e, desorganizados, foram massacrados pelos heróis. O último dos piratas que restou em pé, saltou no mar quando Legolas se aproximou dele. O elfo correu até a popa do navio a tempo de ver o pirata se debatendo na água, desesperado. Legolas sacou uma flecha para eliminar o inimigo, mas um imenso selako surgiu das profundezas, devorando o infeliz. O disparo do arqueiro ainda atingiu o focinho do animal, enquanto ele mastigava sua presa.

Capítulo 41 - Piratas (1)

Assim, uma semana se passou no mar, todos se tornaram mais próximos e grandes laços afetivos começaram a se formar dentro do Liberdade. Então, no início da tarde do dia 11 de Terraviva, um Kalag, Cloud, o falcão de Squall, retornou de um vôo de reconhecimento com uma mensagem perturbadora. Um navio estava se aproximando rapidamente.
Em poucos minutos, todos puderam ver, na linha do horizonte, uma nau maior que o Liberdade, avançando rapidamente em direção a eles. Era um veleiro de médio porte que aparentava estar muito bem equipado. Em seu convés, Cloud havia visto um grupo numeroso de humanos e possivelmente alguns elfos. Todos acompanharam, apreensivos, a aproximação do navio, até avistarem uma bandeira negra tremulando no topo do mastro mais alto. Eram piratas.
O navio pirata se aproximou rapidamente, ficando lado a lado com o Liberdade. Em seu convés, cerca de trinta homens, armados de sabres, preparavam-se para a abordagem. Cordas foram lançadas no convés do liberdade, prendendo os dois navios um ao outro. O capitão, pirata, um homem magro de nariz achatado foi logo reconhecido por Engaris, era Flat Nose. O pirata de nariz chato tinha o braço esquerdo atado a uma tipóia, e comandava o leme com apenas uma mão. Quando os dois navios estavam lado a lado, presos um ao outros, Flat Nose gritou:
_ Fogo!!! – Três escotilhas à bombordo da nau se abriram ao comando de seu capitão. De dentro delas, surgiram canhões apontados para as obras-mortas do Liberdade, disparando impiedosamente.
Os tiros rasgaram o casco do Liberdade, fazendo-o estremecer. Após os tiros, dezenas de piratas invadiram o navio dos heróis, gritando como loucos e atacando com seus sabres afiados. Todos tomaram posição de combate, Sairf liderou os mais fracos, levando-os para longe da batalha, enquanto os demais lutavam. Anix retirou Enola odo porão, para que ela não fosse atingida pelos canhões. Então uma nova batalha começou.
Flat Nose teve que se abaixar instintivamente, desviando-se de uma flecha atirada por Legolas. Do alto de sua nau, o pirata do nariz chato acreditava que seria uma pilhagem fácil, já que tinha mais de vinte homens, contra apenas nove combatentes dentro do Liberdade. Ledo engano, o último na carreira de Flat Nose.
Os heróis correram para a lateral do navio, a fim de impedir a abordagem dos corsários. Loand cortava as amarras que os prendiam ao navio pirata, enquanto seus companheiros se engajavam em combate. Nailo cortou o lado direito de um dos piratas com sua espada longa, abrindo-o desde o ombro até a virilha. O homem caiu morto no convés de seus navio com apenas um golpe, mostrando aos heróis que aquela seria uma luta fácil. Comandado por seu mestre, Smeágol invadiu o convés do navio inimigo, atacando com mordidas seus adversários.
Os piratas subiam no guarda corpo das naus, para saltar no convés do Liberdade. Lucano feriu um deles com uma flecha, deixando-o incapacitado para lutar. Anix teve menos sorte em seu ataque, e conseguiu apenas atingir a vela principal com sua flecha.
Yczar passou ao lado de Anix, pegando um dos manguais que pertenciam aos genasis derrotados na caverna. Girou a bola de ferro no ar e esmagou a cabeça de um dos piratas antes que ele invadisse seu navio. Se alguém duvidasse do potencial do paladino, agora tinha certeza de que ele era um homem extremamente forte.
Os piratas continuaram a pular de uma embarcação para a outra. Um deles correu até a direção de Legolas, passando ao lado do lobo de Nailo. O animal aproveitou a distração do homem e arrancou-lhe o pé direito com uma violenta mordida. Pulando em apenas uma perna, o marujo tentou atingir o peito de Legolas com seu sabre, mas a dor sentida o impedia de se concentrar na luta, permitindo que o arqueiro aparasse a arma com seu arco.
Legolas passou a lutar contra dois piratas ao mesmo tempo, defendendo-se com seu arco dos ataques dos inimigos. Cada golpe era revidado com fúria pelo elfo, que tentava constantemente derrubar o pirata ferido por Smeágol com chutes, enquanto se concentrava em alvejar o outro oponente com suas flechas.
Cada inimigo que caia era substituído por um novo. Incrivelmente, o homem que tinha apenas um pé, resistia bravamente, enquanto seus companheiros eram mortos um a um por Legolas.
No navio pirata, Smeágol e Nailo estavam cercados por vários inimigos. O lobo se esquivava ao mesmo tempo em que desferia mordidas nos inimigos. Nailo se defendia com suas espadas, lutando contra três piratas. Contra tantos inimigos, o ranger não tinha como evitar todos os ataques, e acabou ferido nas costas por um sabre.
Yczar, também cercado por todos os lados, recebeu um golpe mortal no peito. Entretanto, o paladino possuía uma vitalidade muito grande, e não se deixou abater pelo ferimento, atraindo diversos inimigos ao seu redor. Anix quase teve sua orelha cortada por um dos piratas. Enfurecido, o elfo revidou o ataque, espalhando um leque de fogo pelo convés do navio. Cinco dos piratas foram feridos pela magia, ficando com seus corpos chamuscados. Um dos piratas aproveitou o momento em que Anix se distraía na preparação da magia e o apunhalou pelas costas. Anix sentiu os efeitos do golpe, e sentiu que precisava recuar.
Squall se defendia como podia de seus diversos inimigos. Defendia os ataques com sua espada, e revidava com magia. Sofreu diversos ferimentos, e percebeu que o caminho para a vitória era reduzir o número de oponentes. O feiticeiro, então, imbuiu um dos piratas com um medo sobrenatural, fazendo com que ele se afastasse de si, ao mesmo tempo em que Batloc entrava no combate com todas as suas forças. Vendo a situação crítica de Anix, Batloc saltou no corrimão do Liberdade, passando entre vários inimigos e se esquivando de todos os seus ataques. Ergueu seu machado e despedaçou o sabre que ameaçava o mago elfo, com apenas um golpe. Do outro lado, Nailo perfurava dois inimigos com suas espadas, lutando costas a costas com Smeágol, que afastava os inimigos da retaguarda de seu mestre.
Loand correu para perto de Anix, rebatendo os golpes dos piratas com sua espada, enquanto passava entre eles. Lançou sua espada contra o pescoço de um dos oponentes do mago, arrancando-lhe a cabeça que voou para dentro do navio pirata. Atrás do mago, Lucano atacava com arco e flecha, minando pouco a pouco a resistência dos adversários.
Yczar recuou para o Liberdade, defendendo-se com seu mangual, enquanto os sabres cortavam o ar tentando atingi-lo. O experiente paladino lançou sobre Loand uma estranha magia que fez com que o jovem paladino ganhasse massa muscular de forma assombrosa. Yczar colocou seu corpo à frente de Anix protegendo-o, enquanto Loand começava a perceber todo o poder que tinha recebido.
Os piratas tentaram uma tática diferente. Ao invés de atacar os heróis diretamente, passaram a tentar desarmá-los. Nailo conseguiu eliminar um dos oponentes, mas os outros atacaram-no em massa, e jogaram suas espadas dentro do convés do Liberdade. Enquanto suas armas giravam no ar, fora de suas mãos, Nailo via seu amigo canino ser atingido pelos inimigos. A cabeça de Smeágol ficou com um profundo corte, retirando do lobo um ganido de dor, que enfureceu o ranger.

Capítulo 40 - De volta ao mar

O paladino foi trazido a bordo pelos heróis e contou-lhes o que aconteceu dentro da montanha enquanto eles fugiam. Yczar descera até o andar inferior da mina sozinho. Lá escavou o lugar indicado pelos heróis com uma picareta, até encontrar a caverna onde o Tarrasque repousava. Yczar evocou o poder de Khalmyr, e golpeou o focinho da fera com a picareta. Mas a criatura sequer se mexeu com o ataque. O paladino, então, encantou a picareta com uma série de magias divinas, evocou novamente o poder para destruir o mal e voltou a golpear, desta vez no olho do monstro. O lendário Destruidor de Mundos acordou para se coçar, como se o ataque de Yczar fosse para ele uma mera picada de inseto. A criatura despertou ao vê-lo, furiosa e faminta, e passou a destruir toda a montanha. Yczar subiu para o andar principal, atraindo a atenção do monstro, que o seguiu, abrindo caminho através da montanha. O paladino saiu da mina e subiu pelas escadas do zigurate, para enfrentar Teztal. Quando chegou lá em cima, a criatura já havia saído de dentro de Shinaipa Turud e havia acabado de pisotear sobre o genasi. O chão onde Teztal estava desmoronou dentro da montanha. Com os tremores causados pelo monstro, Yczar rolou escada abaixo, fugindo da criatura e indo ao encontro de seu inimigo. Dentro da mina, no que restava do andar principal, Yczar encontrou o corpo já sem vida do imperador dos genasis. Confirmou sua morte, e tomou para si o pedaço que restava inteiro de seu manto. Yczar correu para a praia, enquanto o lendário Tarrasque destruía toda a ilha. Ortenko começou a afundar no oceano, e uma gigantesca onda avançou selva adentro arrastando tudo em seu caminho. Yczar foi levado pelas águas, e por sorte conseguiu se agarrar a um tronco. Agarrado ao pedaço de árvore, o paladino nadou até o navio, quase uma milha distante, até ser resgatado pelos seus tripulantes.
Todos agora tinham certeza, Teztal estava realmente morto. O maldito genasi teve o fim que merecia, morto de forma humilhante pelo ser mais assustador do mundo. Dos horrores da ilha de Ortenko restavam somente as amargas lembranças de seus ex-prisioneiros, e Batloc, agora o único genasi de toda Arton. Com todos reunidos novamente, o capitão Engaris deu a ordem para que os homens voltassem a remar. Enola agradeceu à sua amiga baleia pela ajuda. Retirou de dentro de sua roupa uma folha de pergaminho enrolada, colocou-a em um pequeno frasco de cerâmica, e a entregou para a baleia orca. A ninfa sussurrou para o animal alguma instrução no idioma druídico e se despediu. A baleia mergulhou nas águas profundas e desapareceu. Sairf sabia do que se tratava. Junto com a baleia, estava a carta que ele escrevera para Narse, a menina tritão por quem tinha se apaixonado. O conteúdo da carta, somente o mago conhecia. Os homens começaram a remar, e o navio partiu rumo ao continente.
Batloc, muito ferido desde a última batalha contra os genasis, foi curado por Enola a pedido de Anix. Após isso, o elfo conduziu a ninfa para o porão da embarcação. Enola estava tímida, no meio de todas aquelas pessoas. Anix percebeu isso, e sabia também que aqueles homens não viam uma mulher há meses, talvez até anos. Portanto, seria prudente que Enola não ficasse exposta. Ele deixou a ninfa dentro do pequeno cubículo construído por ele no porão, e viu que ela estava visivelmente abalada pela morte de tantas criaturas inocentes, todas crias de Allihanna, a deusa da natureza. Anix a abraçou, dizendo que tudo seria melhor dali para frente, entregou-lhe o pequeno colchão que havia pedido para Silfo confeccionar com as peles retiradas dos guepardos, e retornou para o convés. Enola fechou a porta, enquanto observava Anix com ternura.
No convés, uma verdadeira confusão havia sido criada por Squall e Vernt. O feiticeiro desejava reaver a flecha mágica que tinha dado para o mineiro louco, em troca da informação sobre o Tarrasque. Vernt havia usado a flecha, gastando o poder mágico da mesma, para conseguir uma noite tranqüila de sono. Era visível no rosto do homem que a flecha havia dado bons resultados. Vernt não só havia conseguido dormir, como também estava se livrando pouco a pouco dos pesadelos com o Destruidor de Mundos. Squall compreendeu que a flecha tinha tido mais utilidade para o pobre homem do que teria tido para ele mesmo. Sensibilizado, o jovem feiticeiro retirou uma fruta de sua mochila, uma das babas-de-bode colhidas na selva, e a deu a Vernt. Aquela fruta vermelha e de aspecto saboroso, logo despertou a cobiça de todos aqueles ex-mineiros famintos de desnutridos. Vários deles avançaram sobre Vernt, e começaram a arrancar pedaços do fruto e a comê-lo. Os remadores começaram a brigar por causa da fruta quando Anix chegou ao convés. Legolas os ameaçava com seu arco e ordenava que se comportassem. Sob as ordens do capitão, a briga se encerrou, mas os homens estavam muito agitados. Nailo passou então a distribuir as frutas que tinha em sua mochila. Anix, que acabava de sair do porão, recolheu todas as frutas que pode, e pediu ajuda a Silfo. Os dois desceram até o porão, e passaram a dividir as frutas, para distribuí-las entre os marinheiros.
Mais alguns homens trabalhavam no porão em um fogão improvisado, cozinhando os caranguejos capturados no mar. Anix trabalhava na partilha das frutas com Silfo, quando viu a porta do alojamento de Enola se abrindo. O elfo foi até a ninfa e a encontrou com o belo rosto enrubrecido, enquanto se contorcia, como se sentisse alguma dor.
_ Anix...eu...eu...quero...eu quero fazer xixi!!! – Enola estava toda envergonhada. No navio não havia nenhum banheiro ou coisa parecida, somente uma latrina na proa, onde os dejetos eram lançados ao mar, diante da visão de todos os tripulantes. Anix retirou o seu manto, indo com Enola até a proa, afastado de todos os outros, incluindo Silfo. Enola fez suas necessidades num canto do navio, sobre o chão do porão, enquanto Anix a protegia com seu manto. O elfo não resistiu à tentação de olhar a bela ninfa, com seu vestido de cetim transparente, naquele momento tão delicado. Anix percorreu cada curva daquele corpo exuberante com seus olhos, sem saber que Enola havia notado ele espiando. Entretanto, a ninfa não disse nada, e, mesmo envergonhada, permitiu que o elfo a olhasse.
Já de volta ao convés, Anix distribuiu frutas para todos os remadores, encerrando a pequena rebelião. Alimentados, os homens passaram a trabalhar com mais afinco. Entretanto, as frutas colhidas na floresta seriam insuficientes para toda a viagem, e alguma coisa precisava ser feita para se conseguir mais comida. Sairf arrependeu-se de guardar para si a informação sobre a existência de Gorad no navio de Guncha. Certamente, aquele alimento altamente nutritivo pouco volumoso, seria a melhor solução para o problema que surgia.
Nailo remava ao lado de Guiltespin, o mago ilusionista anão que havia tornado a fuga possível. Sem seu grimório, o pequeno mago não podia mais conjurar magia alguma, então Nailo encontrou uma solução. Pediu emprestado o grimório de Sairf e o entregou para Guiltespin, pedindo que o pequenino passasse a estudá-lo sem parar, pois seus poderes mágicos poderiam ser úteis durante a viagem. O anão se retirou para o porão, concentrado em seus estudos, enquanto o ranger tomou seu lugar no remo.
Assim, os dias no mar foram passando de forma tranqüila. Aqueles que não tinham habilidades para lutar, passavam os dias remando, enquanto Nailo e seus companheiros cuidavam da vigilância e da segurança do navio. Batloc e Yczar remavam lado a lado, junto com os outros marinheiros. Aos poucos o paladino passava ao genasi todos os ensinamentos e dogmas do deus da justiça. Batloc escutava com atenção cada palavra que saía da boca de seu mestre, e sua felicidade era visível.
A pedido de Squall, Sairf passou a dar aulas para seus amigos. Enquanto cuidavam da vigilância do navio, os heróis aprendiam passo a passo a se comunicarem no idioma Aquan.
Durante os dias que se seguiram, Nailo e Anix se encarregaram de conseguir mais alimentos do mar. Anix usava a mochila de couro, feita por Silfo, como uma espécie de rede para conseguir pescar não mais que cinco peixes grandes por dia. Já Nailo, usava a antiga balestra do Lazarus para arpoar algo em torno de vinte peixes grandes ao dia. Para atrair os peixes, os dois usavam como isca, inicialmente, os caranguejos e depois os próprios peixes pescados por eles. Enola deu sua contribuição através do poder de Allihanna. A ninfa encantava magicamente cada uma das frutas antes de servi-las aos tripulantes. Desta forma, cada fruta valia por uma refeição completa, e aos poucos os outrora esqueléticos homens, foram recuperando a saúde e o vigor.
Legolas, era o mais próximo ao capitão. O elfo passava horas tendo longas e prazerosas conversas com o ex-corsário, sobre a vida no mar, mulheres, e diversão. Mesmo tendo sido um pirata, o capitão Engaris era um homem de bom coração, ao contrário de alguns de seus colegas de profissão. Engaris já havia tido contato com piratas famosos, como James K., Selakos, Hardman e Jade, e com outros menos importantes, como um tal capitão Flat Nose, um homem de pouco talento e muito azar, segundo Engaris.

Capítulo 39 - Reencontro

Quando as águas do mar se acalmaram, e já não havia mais dúvidas da vitória, um grito de alegria tomou conta do navio, ecoando por aquela imensidão deserta. Os ex-escravos se abraçavam, emocionados, enquanto gritavam em coro, Liberdade. Um a um, Legolas, Nailo, Anix, Squall, Loand, Lucano, Sairf, e até seus animais foram abraçados por cada um dos presentes. A cada abraço, os heróis recebiam a gratidão de todos aqueles homens simples, que os agradeciam com os olhos cobertos de lágrimas. Sem a importante ajuda dos heróis, aquela cena seria impossível, era mais uma das visões de Enola se concretizando. Os jovens aventureiros em início de carreira, se tornaram os libertadores daquelas pessoas.
Mas a alegria daquelas pessoas durou pouco tempo. Boiando agarrado a um tronco de árvore, no meio dos destroços da ilha, um manto de algodão, com dezenas de jóias adornando-o, que refletiam os primeiros raios de sol da manhã que surgiam no horizonte, aproximou-se do navio, cobrindo o corpo de um homem. Teztal. O terrível genasi havia sobrevivido, e estava de volta para atormentá-los novamente. Os heróis teriam que lutar novamente, e contra o pior de seus inimigos. Sua única esperança, era de que os ataques do Tarrasque tivessem enfraquecido o genasi o suficiente para que ele pudesse ser combatido pelos heróis. Todos prepararam suas armas, mirando flechas e magias no corpo do genasi. Loand agrupou os marujos do lado oposto ao da batalha iminente. Então, o genasi ergueu sua cabeça, toda suja e ferida, encarando os heróis em cima do navio. Ele sorriu acenando para o grupo, que rapidamente reconheceu seu rosto, e disse:
_ Olá amigos, estou bem! Será que vocês podem me dar uma carona? – todos ficaram aliviados e se emocionaram, ao ver, com seus olhos já tomados pelas lágrimas, que o homem no mar não era Teztal, mas sim o seu bom amigo Yczar, são e salvo.

Capítulo 38 - O despertar da fúria

Meia nau já estava fora da caverna quando todos olharam para trás, despedindo-se da vida de escravidão. Então o medo e o pavor tomaram conta de todos novamente. Na entrada do túnel que conduzia até a mina, um grupo de dezenas de soldados de cobre e prata olhava para os fugitivos como leões olhando para sua presa. À frente de todos eles estava Teztal. O genasi de platina apontou sua mão para o navio. Era possível sentir pelo seu olhar toda a maldade que carregava em seu coração. A mão prateada do genasi começou a emitir um forte brilho que foi crescendo até ofuscar a todos. Parecia o fim. Quando o genasi estava pronto para desferir o golpe final, um rugido assustador tomou conta de toda a ilha, fazendo a caverna estremecer. As estalactites começaram a desabar, bloqueando o caminho entre Teztal e os fugitivos. O genasi encarou a todos com frieza, virou-se rapidamente, agitando seu manto cravejado de jóias e retornou para a mina, determinado a destruir a todos.
Dentro do Liberdade, todos remavam como se aquele fosse o último dia de suas vidas. E seria, se não se afastassem daquele lugar rapidamente. Fora da caverna, o navio ganhou velocidade. O esforço conjunto dos remadores e da amiga de Enola, fez com que a nau percorresse quase uma milha em poucos instantes. O navio já estava a uma distância segura, onde o desabamento da montanha não poderia atingi-los. Todos pararam, exauridos, e olharam para Shinaipa Turud, felizes por terem conseguido escapar. Novamente a alegria deu lugar ao pânico, quando a figura de um homem prateado surgiu no topo da montanha. Era Teztal. O topo da montanha começou a brilhar, um brilho tão intenso quanto o do próprio sol, idêntico àquele que destruíra o Lazarus, dias atrás. Os heróis baixaram suas cabeças, esperando pela morte certa. Então a montanha explodiu. Ao invés de um raio luminoso, o que saiu da montanha foi a pior de todas as criaturas. O lendário Tarrasque, o destruidor de mundos, surgiu de dentro de Shinaipa Turud, lançando seu topo a metros de distância. A enorme criatura destruía tudo a sua volta. Pisava nos genasis como um leão pisando em formigas. Teztal apontou sua mão para o monstro e começou a disparar seus raios mágicos contra a criatura. O terrível genasi, com todo o seu poder, não era capaz de sequer arranhar a pele escamosa do seu adversário. Dentro do navio, todos assistiam, paralisados, àquela cena assustadora. O tarrasque levantou uma de suas patas com suas garras afiadas e pisou em cima de Teztal, sepultando-o na montanha. Os tripulantes do liberdade gritaram em coro quando o genasi encontrou seu fim. Mas isso era apenas o começo. O Destruidor de Mundos saiu de dentro da montanha que era apenas um pouco maior do que ele. Começou a andar pela ilha, destruindo tudo o que encontrava pela frente. Em meio às árvores que caiam e aos pássaros que fugiam em revoada, era possível ver os soldados genasis, apavorados, sendo esmagados como míseros insetos. A criatura foi até a praia, onde Guncha e seus filhos dourados tentavam, inutilmente, recolher as âncoras do Imperatriz Dourada. A bela genasi, assim como seus seguidores, foi devorada pelo monstro. Yupan, o líder dos soldados de prata, e Maeka, o líder dos soldados de cobre, foram esmagados pelo caminhar da fera. A visão de Enola havia se concretizado. O despertar da fúria, era uma visão assustadora. Um a um, os genasis foram sendo mortos pelo Tarrasque. Junto com eles, também os animais e árvores foram sacrificados. Legolas se lembrou da pequena coelha que havia soltado na selva, com certeza Lola também encontraria seu fim ali. Uma lágrima escorreu pelo rosto do elfo, enquanto ele assistia à destruição do império de Teztal. Então, quando o número de vítimas tornou-se suficiente, o imenso colosso de pedra, que repousava sobre o zigurate do genasi, ergueu-se de seu trono e começou a caminhar a esmo sobre a ilha. A imensa estátua de pedra caminhou em direção ao mar, enquanto o Tarrasque se encarregava de destruir a ilha, e entrou nas águas, até sumir completamente nas profundezas. Os heróis esperavam que, sem o comando de Teztal, a imensa estátua não se tornasse uma nova ameaça. Uma reação em cadeia se iniciou na montanha, e ela começou a explodir, jorrando ouro, prata, cobre, platina e pedras preciosas para o céu, enquanto os destroços da ilha começavam a chegar ao liberdade, arrastados pela correnteza. A ilha de Ortenko começou a afundar lentamente, até desaparecer por completo, junto com toda a sua riqueza e junto com o terrível monstro. O grande Oceano se encarregou de engolir e jogar no esquecimento toda aquela ilha e as atrocidades ali ocorridas. Da ilha de Ortenko, somente pequenos destroços boiavam no mar.

Capítulo 37 - A batalha final (3)

Os genasis atacavam agora movidos pelo desespero. Com seu grupo reduzido à metade, os homens de Teztal começaram a temer por suas próprias vidas, e passaram a atacar sem confiança e precisão. Legolas recebeu mais um golpe de mangual, e foi obrigado a recuar. Mesmo sem precisão, a força do genasi fazia diferença no ataque . Squall forneceu cobertura para o recuo de Legolas. Com suas magias de ataque, o feiticeiro conseguiu distrair o soldado por alguns segundos, tempo suficiente para seu companheiro se posicionar. Vendo a situação critica de seus amigos, Sairf lançou um feitiço em seu bastão, e correu até a direção do Genasi para golpeá-lo. Fora do navio, Batloc trocava golpes com um dos seus irmãos. Mesmo atingido, Batloc não estremecia ante os golpes de mangual do seu oponente, e golpeava de volta com seu enorme machado.
Legolas sacou mais uma flecha para ajudar Batloc. Enquanto mirava, soldado dentro do navio ergueu o mangual, pronto para esmagar o crânio do elfo. Anix reagiu em defesa de seu companheiro, lançando um míssil mágico no rosto do genasi. Squall reforçou o ataque de Anix com uma magia de mesma natureza, e Sairf se aproximou com seu bordão encantado e golpeou o estômago do genasi, dando tempo para que Legolas mirasse com precisão. O genasi tentou atingir o elfo, mas os inúmeros ataques que sofria, o impediram de ver o alvo. Legolas abaixou a cabeça, desviando do mangual e disparou. A flecha partiu em direção ao adversário de Batloc, atingindo-o no ombro direito. O soldado perdeu a força no braço atingido, baixando a gurada diante de Batloc. O genasi se abaixou um pouco em função da dor, desviando-se da espada espiritual de Lucano, sem se dar conta disso. Entretanto, não pode se livrar do machado de Batloc. O genasi paladino golpeou com força o peito do seu irmão de cobre, lançando-o no chão como uma bola rebatida. O soldado deu seu último suspiro, acusando Batloc de traição, e morreu sobre uma enorme poça de sangue.
Os guerreiros comemoraram a queda de mais um inimigo e começaram a atacar aquele que ainda restava em conjunto. Entretanto, o inimigo parecia ser o mais forte de todos os soldados, e nem as flechas de Legolas, nem as magias de Anix, Squall e Sairf, conseguiram atingi-lo. Ele ainda aparou a espada espiritual de Lucano com o cabo de seu mangual, e os encarou como se não temesse ninguém. Então a caverna começou a rugir e a tremer. Do teto, enormes rochas e estalactites despencavam sobre a caverna. Um rugido ecoou por toda a montanha, revelando o que se passava. Yczar havia despertado o Tarrasque. Batloc entrou no navio, pedindo perdão por ter que matar o genasi, com o machado nas mãos em posição de ataque. O paladino passou ao lado do inimigo, para se colocar entre ele e os heróis, sofrendo um golpe devastador no seu crânio.
_ Quem é que vai morrer aqui, seu traidor? – indagou o genasi num tom arrogante, ao ver Batloc cambalear após ser atingido.
Batloc ergueu se machado, segurando-o acima de sua cabeça, evocou o nome do deus da justiça, fazendo a arma brilhar como uma tocha.
_ Você morrerá meu irmão! Perdoe-me, e que Khalmyr julgue sua alma! – todos ficaram paralisados assistindo aquela cena. Nailo, Enola e Silfo que tinham acabado de descer o paredão e entrar na gruta, pararam espantados. Em pensamento, todos ali presentes torciam em coro, repetindo o nome de Batloc mentalmente. O machado se deslocou rápido como o vento, atingindo o peito do inimigo, que explodiu em sangue. O genasi caiu no convés do Liberdade, tingindo-o de vermelho, enquanto todos os ex-escravos comemoravam a vitória.
Nailo correu para o navio, colocando Enola, Silfo e Smeágol, já curado, dentro dele. Junto com Anix, os dois recolheram as armas e os corpos dos genasis e os atiraram no convés, enquanto a caverna ruía pouco a pouco.
Então o capitão Engaris deu a ordem que todos esperavam ouvir a tempos. “Remem”, gritou ele, sua voz ecoou por toda a caverna, enchendo de motivação as almas dos fugitivos. Todos os homens do navio começaram a remar num esforço conjunto para fazer o navio zarpar. Entretanto, algo estava errado. O liberdade não se movia. Engaris gritava para os remadores, pedindo mais empenho, mesmo assim o navio não se movia. A nau estava encalhada, presa entre as pedras da pequena baía subterrânea. Seus corações foram tomados pelo desespero, se aquele navio não saísse dali, todos morreriam, fosse soterrados, fosse pelas mãos de Teztal, fosse pelas mandíbulas do Tarrasque. Os heróis se juntaram aos remadores, num esforço vão de fazer a nau se mover. Enquanto concentravam todas as suas forças nos remos, algo surpreendente aconteceu. Enola, que até então tinha se mantido imóvel, caminhou lentamente até a proa da embarcação, sempre acompanhada por seu fiel protetor, Silfo. A ninfa chegou próximo ao gurupés do navio, erguendo seus delicados braços lentamente, deixou cair o manto que cobria seu rosto, revelando toda a beleza de seus cabelos dourados. Todos os homens do navio pararam maravilhados por um instante diante de toda aquela beleza. Enola sussurrou algumas palavras em verso, no idioma secreto dos druidas, fazendo com que das águas surgisse uma imensa baleia orca. O animal trazia em sua boca um tronco de árvore, firmemente preso entre seus dentes afiados. Enola apontou para as cordas nas laterais do navio e pediu por ajuda. Rapidamente, Anix, Legolas e Nailo agarraram as cordas e saltaram na água. Enquanto amarravam as pontas das cordas no tronco carregado pelo animal, Lucano, Sairf, Loand e Squall, faziam o mesmo dentro do navio, prendendo-o à baleia. Enola deu um comando, com sua voz doce e suave, e a baleia começou a se mover para frente. O casco do navio rangeu, como madeira sendo torcida.
_ Remem com todas as suas forças!!! – gritou o capitão aos marujos, enquanto o grupo de Anix subia a bordo.
O navio começou a se mover lentamente, soltando-se das pedras e saindo da gruta em desabamento.

Capítulo 36 - A batalha final (2)

Anix atendeu ao pedido de Legolas, concentrando seus feitiços de ataque no alvo das flechas do arqueiro. Enquanto um dos soldados era atacado por flechas e mísseis mágicos, o outro genasi confrontava os poderes de Lucano. A espada mágica invocada pelo clérigo girou no ar, desviando-se do mangual do genasi. A lâmina sagrada penetrou na carne do soldado, abrindo-lhe uma enorme ferida no ventre. Feridos, os soldados continuavam tentando atacar Batloc, que desviava cada golpe com seu machado mantendo-se sempre calmo e confiante. Squall e Lucano não tinham a mesma sorte, e sentiam na pele toda a força dos genasis. As bolas de ferro dos manguais atingiam com violência os corpos dos dois heróis. Squall, a beira da morte, se viu forçado a recuar. Enquanto Legolas lhe dava cobertura, o feiticeiro aliviou seus ferimentos ingerindo uma das infusões dadas por Enola dias atrás. Lucano por sua vez, quase perdeu a concentração ao ser atingido. O jovem clérigo controlava os movimentos da espada mágica que invocara, atacando os genasis a todo instante. O sacerdote élfico viu, então, um portal mágico se abrindo diante de seus olhos. Numa rápida olhada para trás, pode ver que Sairf terminava a magia que estava preparando. De dentro do portal, surgiu uma centopéia de tamanho quase igual ao de um homem. O animal monstruoso atacou as pernas de um dos homens de Teztal, enquanto Sairf tentava atingi-lo com um raio congelante. O homem se desviou do raio mágico, deixando que ele passasse ao seu lado. Voltou a atacar sem se importar com o ferimento na perna, como se ele não passasse de um simples arranhão.
Legolas continuava ajudando Batloc a se livrar dos inimigos que o cercavam. Um flecha perfurou o pescoço do inimigo à direita de Batloc. O soldado engasgou com o próprio sangue que começava a verter pelo ferimento. Batloc agradeceu ao amigo e aproveitou a distração do genasi para golpeá-lo com seu machado. A força do golpe abriu uma fenda no peito do soldado, e um grito de dor, sufocado pelo sangue na garganta, tomou conta da gruta.
Anix e Lucano estavam encurralados por um dos genasis. Lucano tentava manipular sua espada mágica com a mente, mas as dores sentidas pelo clérigo começavam a prejudicá-lo. Anix tomou a dianteira, dando cobertura ao amigo. Suas mãos brilharam e um raio de luz branca atingiu o rosto do genasi. Ofuscado, o inimigo rogava maldições em Anix, enquanto Lucano aproveitava a chance para se recompor. As mãos do clérigo se moveram como se ele regesse uma orquestra. Do outro lado da caverna, a espada espiritual repetia os movimentos com exatidão. A lâmina voadora encerrou sua trajetória no ventre do inimigo à esquerda de Batloc, e se afastou dele, toda ensangüentada, ao mesmo tempo em que Lucano encolhia seu braço direito. O alvo da espada atacou cegamente, dominado pela fúria e pela dor. Batloc curvou seu corpo para o lado, enquanto ainda retirava o machado do corpo de seu inimigo, desviando-se do ataque do mangual. O genasi em empurrou o machado para longe de seu corpo e lançou a bola de aço contra Batloc. Mas a dor do ferimento se mostrou mais forte do que a vontade do genasi. A esfera do mangual atingiu o peito de Batloc, já sem força alguma.
Irritados com a situação, os genasis dentro do navio descontaram sua raiva naqueles que estavam mais próximos. A centopéia invocada por Sairf teve parte de seu corpo esmagado por um dos soldados. Legolas perdeu o fôlego ao ser atingido no peito, ficando com a marca do mangual estampada em sua pele. Nem mesmo com Sairf e Squall dando cobertura com suas magias os genais interromperam seus ataques.
Era uma situação dramática. A gruta do cemitério dos navios estava coberta de sangue. Do lado dos genasis, somente aqueles que haviam sido atacados em massa estavam com ferimentos um pouco mais sérios. Do lado dos heróis, praticamente todos, incluindo o poderoso Batloc, estavam quase a beira da morte. Loand protegia os escravos que não sabiam lutar, impedindo que os genasis se aproximassem deles. Mas o jovem paladino temia pelas vidas de seus companheiros, e sabia que se aquela situação continuasse, teria que abandonar os homens indefesos para lutar contra os soldados. Loand pedia a Khalmyr que ajudasse seus companheiros a vencer aquela luta contra o mal. Quando tudo parecia perdido, as preces do paladino foram ouvidas.
A balança começou a pender para o lado dos heróis pelas mãos de Legolas. O tolloniense mirou seu ataque no flanco esquerdo de Batloc, ainda ofegante pelo ataque recebido. A flecha percorreu a câmara em linha reta, emitindo um som agudo enquanto cortava o ar. O projétil atingiu o coração do genasi que flanqueava Batloc pela esquerda. Seu corpo, já sem vida, foi ao chão entre gritos de comemoração e revolta. A queda de um dos inimigos deu entusiasmo ao grupo, e também começou a reduzir a confiança dos soldados de Teztal.
Anix aproveitou o momento de hesitação dos inimigos e lançou sua magia mais poderosa. Moveu seu braço, descrevendo um leque no ar. A trajetória de sua mão era acompanhada por chamas ardentes, saídas de seus dedos, que alcançavam quase quatro metros de comprimento. As chamas queimaram o corpo do genasi, deixando-o distraído e assustado. Lucano moveu as mãos, trazendo a espada para perto de si. Apontou o braço na direção do soldado em chamas, como se o golpeasse a distância. A espada espiritual passou ao lado de Anix e penetrou no tórax do soldado. O segundo inimigo tombou no convés do liberdade entre gritos de comemoração. Os genasis se calaram nesse momento. Mais um gesto do clérigo fez a espada subir rodopiando do corpo sem vida do soldado e flutuar em posição de ataque.

Capítulo 35 - A batalha final (1)

Nailo demorava a voltar com Enola, e a ansiedade começou a tomar conta de todos. Os ex-escravos, sentados em seus lugares no navio, olhavam fixamente para o capitão Engaris, aguardando a ordem para começarem a remar e sair de vez daquele inferno. Do lado de fora do navio, Batloc andava de um lado para o outro impaciente. Então todos os temores dos fugitivos se tornaram realidade. O som de passos vindos do túnel era um mau agouro aos ouvidos de todos. As figuras dos seis genasis que chegaram ao cemitério de navios fez com que todos estremecessem por dentro.
_ Então é aqui que vocês vieram parar!!! Malditos escravos, pretendiam fugir com esse navio velho? Preparem-se para receber o castigo. – a voz do genasi que liderava o grupo atingiu os heróis e os escravos como uma flecha atingindo a caça.
_ Batloc, você, nosso irmão nos traiu! Seu castigo será a morte! Vocês, os novatos que devem ter tramado tudo isso, também morrerão aqui, para servir de exemplo para os demais escravos! Preparem-se para conhecer seu destino final! – enquanto lançava o desafio aos heróis, o soldado gesticulava para um de seus companheiros, ordenando que fosse buscar reforços. – Você, suba até a mina e avise o Grande Teztal! Conte a ele sobre o navio e as ilusões, depressa!!!
Dois dos genasis partiram em disparada pelo túnel para buscar Teztal. As flechas lançadas por Legolas não os alcançaram, e os soldados restantes avançavam na direção dos fugitivos, armados de enormes manguais.
Batloc, na rampa de acesso ao navio, foi cercado por dois dos soldados, enquanto os outros dois subiam pela plataforma de madeira e entravam no navio. Os genasis invadiram o navio ameaçando todos que ali estavam com suas armas. Os heróis se posicionaram para defender a si e aos demais fugitivos. Os marujos, que já estavam em posição para remar, correram para a proa da nau, aglomerando-se uns sobre os outros, enquanto Loand tomava posição a frentes deles. Enquanto seus companheiros partiam para o combate com os genasis, o jovem paladino se pôs a defender aqueles que não tinham habilidade em combate com seu próprio corpo. Se algum dos soldados quisesse ferir algum dos ex-mineiros, teria que passar por cima dele primeiro.
Vendo Batloc cercado por dois inimigos, Legolas decidiu ajudar seu amigo genasi. Um flecha partiu de seu arco, cruzando o céu da gruta em alta velocidade, até atingir o torso do genasi no flanco esquerdo de Batloc. O homem de pele cobreada arrancou a flecha com as mãos, amaldiçoando o elfo. Antes que ele pudesse revidar o golpe, uma espada prateada, coberta de runas élficas, lhe abriu um segundo ferimento, ainda maior que o da flecha. Dentro do navio, Lucano comandava a espada espiritual com sua mente. Em suas mãos, o símbolo da deusa dos elfos brilhava.
Então uma sombra negra cobriu o rosto do clérigo enquanto ele se concentrava no conjuração da magia. Anix disparou de suas mãos um projétil mágico luminoso, que atingiu o rosto do genasi no exato momento em que ele se preparava para golpear Lucano com o mangual. Mesmo atingido no rosto, o soldado não recuou. Ergueu sua arma, girando a esfera de metal com rapidez. A arma foi de encontro ao peito de Anix, deixando no elfo as marcas dos cravos pontudos de metal. O corpo do mago se dobrou com a força do golpe. Enquanto cuspia seu sangue élfico no chão, Anix viu efeito devastador do ataque dos genasis. Batloc era um homem imenso, com quase dois metros de altura. Seu corpo vigoroso ficou todo manchado de vermelho sangue. Apenas dois golpes dos inimigos que o cercavam bastaram para rasgar sua pele bronzeada. A luta mal havia começado, e tanto Batloc como Anix já estavam gravemente feridos. O genasi ergueu seu machado relutante. Apesar de tentarem matá-lo, os seus adversários ainda eram seus irmãos. Mas Batloc não tinha outra escolha a não ser lutar. O genasi paladino começou a se defender dos ataques, sem ter intenções de ferir seus oponentes. Mas as cenas que ele presenciaria ali ao fariam mudar de idéia rapidamente.
Enquanto Batloc apenas se defendia, seus olhos testemunhavam toda a crueldade e força dos genasis. Squall estremeceu e recuou quase caindo quando foi atingido. O sangue escorria de sua cabeça pelo seu rosto, levando o gosto de ferrugem à sua boca. O jovem feiticeiro revidou o ataque com uma magia, mas o genasi parecia não se incomodar com os efeitos dos mísseis mágicos de Squall. Batloc já não tinha mais dúvidas. Pela primeira vez em sua vida, ele teria que matar.
Legolas continuava defendendo o flanco esquerdo de Batloc com suas flechas. Convocando seus amigos a atacar em massa o genasi até que ele caísse. Mas isso era impossível, pois os soldados já estavam no navio, atacando impiedosamente os heróis. Sairf se afastou do combate e entrou em um transe profundo. Enquanto a batalha se desenrolava, o mago murmurava palavras em idioma arcano num estado de concentração total.

Capítulo 34 - Kobolds

O quinto dia do mês de Allihanna começou cedo para os escravos. Antes que o sol despontasse no horizonte, Batloc já havia acordado todas as pessoas da mina. Somente ele e os escravos se encontravam no andar principal da mina. O genasi servo da justiça posicionou todos os escravos no centro da caverna para a contagem. Legolas entregou a jade e o pedaço do manto de Teztal para Guiltespin. O anão reuniu os objetos enquanto gesticulava e murmurava versos em linguagem arcana. A jóia brilhou intensamente, para depois se tornar completamente opaca. Guiltespin gritou para que todos saíssem da mina, indo em direção ao túnel secreto na cela. No local de onde o anão saiu, uma cópia ilusória dele permaneceu. Os escravos foram descendo pelo túnel, guiados por Batloc. A maioria das pessoas já estava fora da montanha quando Yczar veio se despedir. O paladino deu adeus aos amigos e rumou para encontrar o Destruidor de Mundos. Nailo tentou acompanhá-lo, mas as palavras do paladino o convenceram do contrário. Legolas com a mão no ombro do servo de Khalmyr tinha lágrimas nos olhos quando deu seu adeus na língua dos elfos.
_ Uma estrela brilhará no céu no dia do nosso reencontro! – segurando as lágrimas, Legolas partiu apressado para o túnel, acompanhado de Nailo.
Squall, ainda irritado por ter sido obrigado a entregar a sua preciosa flecha do sono para Vernt, queria descer até o andar inferior para reaver seu item. Mas Batloc o impediu, e colocou o feiticeiro e as pessoas restantes no fosso secreto. Batloc fechou a laje de pedra e todos rastejaram apressados em direção ao navio.
No cemitério dos navios, os escravos subiam a bordo sob as ordens do capitão Engaris. Roryn ajudava a organizar os marujos que pouco a pouco iam assumindo seus lugares nos remos. Quase todos os homens já estavam a bordo quando os heróis chegaram à gruta, notando a ausência de alguém. Nem Silfo nem Enola estavam na caverna. Desesperado, Nailo correu até o paredão de pedra que separava a gruta da floresta acima. Não havia ninguém esperando. O ranger avisou seus amigos e subiu a parede de pedra para procurar pela dama da floresta, enquanto seus amigos aguardavam impacientes. Legolas aproveitou o momento, e libertou a pequena Lola na mata, enquanto assistia ao seu amigo ranger desaparecendo entre as árvores, em busca de Enola.
Nailo e Smeágol entraram na mata apressados. Seguiram pela trilha que conduzia até a casa de Enola. Passavam entre os arbustos espinhosos sem se importar com eles. Sua única preocupação era encontrar Enola. Um grito agudo no meio da selva chamou a atenção do ranger. A voz agoniada pedindo socorro fez com que Nailo e seu lobo corressem ainda mais depressa. Alguns metros à frente, encontraram Enola, escondida atrás de uma árvore, enquanto Silfo combatia oito pequenas criaturas numa clareira próxima. As pequenas criaturas reptilianas haviam cercado o sátiro, e o atacavam com pequenas lanças de madeira com pontas de pedra. Seus olhos amarelados olhavam para Silfo como um predador olhava para sua caça. Os focinhos compridos e repletos de dentes pontiagudos, revelavam o perigo que aqueles pequenos seres poderiam significar. Nailo passou por Enola sem dizer uma palavra enquanto sacava suas espadas. Correu até a clareira gritando enfurecido, para chamar a atenção das criaturas para si. O pequeno bando de kobolds se dividiu para atacar os novos inimigos assim que a cabeça de um deles rolou pelo chão ao ser separada de seu corpo pela espada do herói.
Os kobolds revidaram com suas lanças. Três deles cercaram Smeágol, atravessando o couro do lobo com suas armas. O animal ganiu ao mesmo tempo em que os pequeninos gritavam em comemoração. Nailo se defendia dos golpes com suas espadas, mas apesar de toda a sua habilidade, não conseguiu ficar ileso. As pequenas pontas de pedra o perfuraram no abdome e na coxa esquerda. A situação de Silfo não era melhor que a dos companheiros. Cercado por dois dos kobolds, o sátiro tinha dificuldade em se esquivar de todos os ataques. Mas os ferimentos do sátiro eram apenas superficiais. Silfo revidou, esmagando os crânios dos dois monstros com uma enorme clava de carvalho portada por ele. Nailo eliminou mais dois inimigos, cortando-os ao meio com suas espadas. Os outros três foram mortos a mordidas por Smeágol. Mas antes que o último kobold tombasse em combate, os pequenos humanóides chamaram reforços. Gritando por auxílio com vozes parecidas com latidos, os kobolds convocaram um novo pelotão composto por mais oito criaturas. Os novos inimigos entraram no campo de batalha, vindos da floresta, atacando de forma semelhante aos antecessores. A maior arma que os pequeninos possuíam era a quantidade. Os novos combatentes cercaram os heróis na clareira. Suas pequenas lanças afiadas se debatiam nas espadas de Nailo, soltando faíscas pelo ar. A cada golpe desferido, os gritos dos kobolds ecoavam pela selva, ora em comemoração, ora de dor. Apesar de numerosos, os pequenos ainda não eram páreo para Nailo e seus companheiros. As espadas do ranger deslizavam pelo ar, tingidas pelo sangue das criaturas. Dois kobolds tombaram, com seus corpos esquartejados pelas lâminas de Nailo. Outros três tiveram seus crânios esmigalhados pela clava de Silfo. Os três kobolds restantes atacavam Smeágol. O lobo se defendia dos ataques, mas as lanças iam pouco a pouco perfurando sua carne e sua vitalidade se esvaia a cada golpe. Smeágol tombou no chão frio da floresta, mas não antes de enviar um dos inimigos para o mundo dos mortos. Uma mordida voraz no pescoço de um dos kobolds separou sua cabeça de seu corpo. Com seu lobo a beira da morte, Nailo se enfureceu. Os gritos de ódio e fúria do ranger eram ensurdecedores. Nailo correu até os dois inimigos restantes, atacando freneticamente com suas espadas. Silfo ficou paralisado enquanto assistia ao rompante de fúria de Nailo. Os kobolds eram como formigas atacadas por um leão naquele momento. As criaturas, em pânico, gritavam por socorro em seu próprio idioma. A lâmina da espada longa atravessou todo o corpo de um deles, e a espada curta de Nailo decapitou o segundo. Nailo olhou para a parte mais densa da floresta e viu dezenas de kobolds correndo em sua direção. Era quase uma centena de criaturas, mas o ranger não os temia. Seu único intuito naquele momento era vingar a morte de seu companheiro de infância. Nailo buscou Smeágol com seu olhar, mas não o encontrou no chão. Olhou para trás e viu Silfo carregando seu amigo nos braços correndo em direção ao cemitério dos navios. Silfo puxou Enola pelo braço e correu o mais rápido que podia, chamando Nailo para segui-lo. O ranger atendeu ao chamado, deixando os inimigos para trás, e evitando o que seria um massacre. O pequeno grupo chegou rápido ao paredão de pedra. Do alto era possível ouvir o som de gritos de desespero e fúria. Espadas se cruzando emitiam um som agudo que logo foi reconhecido por todos. Era uma batalha. Nailo pediu a Enola para cuidar de seu amigo com seu poder de cura e desceu pela parede rochosa veloz como uma aranha para ajudar seus companheiros.

Capítulo 33 - A última noite

Os heróis se reuniram no centro da clareira, encurralando sua presa. Legolas girou o machado nas mãos e golpeou num rompante de fúria. A arma desceu velozmente sobre as costas peludas do javali e sua lâmina tornou-se rubra. O grito de dor do animal foi abafado pelo som da queda de Squall, que tentava novamente escalar a traiçoeira árvore que já o havia derrotado uma vez. Os gritos e risadas dos soldados ecoavam pela mata, enquanto o feiticeiro retornava para perto de seus companheiros, ferido e humilhado. Neste mesmo instante, uma fenda dimensional se abria ao lado do javali. Uma fissura se abriu no vazio, emanando uma luminosidade sinistra. A fenda se expandiu, e de dentro dela surgiu um inseto quase do tamanho de um homem e com uma quantidade incontável de patas. Sob o comando de Sairf, a centopéia abissal atacou o javali com suas garras. O animal se abaixou, enquanto o serrote empunhado por Sairf quase atingia a criatura invocada pelo mago. Após se esquivar dos ataques, a fera avançou contra Legolas. Suas mandíbulas afiadas se fecharam próximo ao rosto do arqueiro, deixando-o nauseado com seu hálito podre. Enquanto atacava, o javali se esquivava dos ataques de Nailo, Anix e Lucano. Os machados se cruzaram no ar faiscando. A espada de Lucano voou sem precisão e chocou sua lâmina contra uma árvore. Somente as magias de Squall e o facão de Legolas continuavam ferindo o javali. A lâmina do facão rasgou a cabeça do animal até atingir o osso. Squall disparou um raio luminoso de sua mão, explodindo o crânio da fera. Mas o combate ainda não estava decidido. O outro javali retornou correndo em disparada em direção ao grupo. Os genasis vibraram na torcida, ao ver o corpo de Anix ser arremessado para o alto já quase sem vida. Das marcas dos dentes da besta no ventre do elfo, jorrava uma grande quantidade de sangue. Sairf atacou em conjunto com a criatura que havia evocado, enquanto Lucano corria para socorrer seu amigo. As mãos do clérigo brilharam, cobertas de uma aura mágica, ao mesmo tempo em que o javali se esquivava dos golpes. Nailo saltou sobre a criatura com seu machado, dilacerando o focinho do animal com um violento golpe. Anix recobrou os sentidos a tempo de ver o facão empunhado por Legolas atingir o javali no ferimento criado por Nailo. A lâmina atravessou o maxilar e as pernas do javali, enterrando-se em seu peito. Uma poça de sangue se formou no chão, e o coração do animal parou de bater. Os heróis sentaram para recobrar o fôlego com o sol ardendo sobre suas cabeças. Enquanto os genasis entregavam bolsas de moedas ao soldado que havia apostado na morte de Anix, os heróis reclamavam o direito sobre a carne dos animais mortos. Mas os genasis eram irredutíveis, e ordenaram que todos voltassem ao trabalho, enquanto preparavam uma fogueira no chão. Depois de quase duas horas, o aroma da carne assada tomava conta de toda a região, misturando-se ao cheiro do suor dos aventureiros famintos. Um dos genasis arrancou uma das patas do animal assado e a atirou aos heróis, como se atirasse milho aos pombos. Todos saltaram sobre o pernil, devorando-o em instantes. Após a farta refeição, os heróis retornaram ao trabalho e, ao final do dia, cerca de dez metros da muralha de madeira já estavam prontos. Os heróis retornaram à mina no início da noite, conduzidos pelos seus capatazes. Lá, reencontraram Loand e os outros escravos, todos preocupados com a mesma coisa, Batloc havia desaparecido.
Os heróis se abalaram ao saber que Batloc havia desaparecido. Sem a ajuda do genasi, suas chances de fuga se reduziam drasticamente. Temendo que algo de ruim tivesse acontecido ao aliado, os aventureiros resolveram investigar.
Durante o jantar, o pedaço de pão mofado e sujo que sempre recebiam, souberam através de Lango, o vigia presente naquele momento, que Batloc não faria ronda naquela noite. O paladino teria que trabalhar no dia seguinte bem cedo, preparando os escravos para a contagem semanal. Essa era a notícia que todos esperavam ouvir. O plano seguia conforme planejado, se tudo continuasse dando certo, na manhã seguinte eles estariam livres.

Capítulo 32 - Porcos do mato (2)

Sairf já estava com o feitiço pronto para ser lançado, invocou o poder do frio e de sua mão partiu um facho de luz brilhante e fria. O raio passou ao lado da cintura de Legolas, carregado de neve e cristais de gelo. O javali se abaixou no momento exato, e a magia passou por cima de sua cabeça, sem atingi-lo. Uma árvore próxima, depois do animal, ficou com seu tronco parcialmente congelado. Sairf pragejou por ter errado seu alvo e começou a preparar um novo ataque mágico.
Na borda leste da clareira, Nailo se defendia dos ataques de um dos javalis, enquanto recuava pouco a pouco, distanciando-se do animal. Seu machado ameaçava o animal, impedindo-o de avançar contra Nailo. O ranger ficou a cerca de seis metros longe da fera, inclinou seu corpo para frente e preparou o machado para a investida. Enquanto isso, Anix revidava os ataques sofridos com magias de ataque. Agora que os genasis tinham testemunhado Sairf conjurando uma magia, não havia mais motivo para esconder suas capacidades. Anix reuniu uma grande quantidade de energia luminosa em sua mão, e a lançou contra o rosto de seu adverário. O javali se torceu, gemendo pela dor sentida, enquanto os genasis comemoravam. “Eles sabem fazer magias”, gritavam uns com os outros excitados, enquanto as apostas eram aumentadas.
Entretanto, apesar do ataque bem sucedido, Anix estava severamente ferido, enquanto que seu oponente parecia não se incomodar com os ferimentos sofridos. Preocupado com a situação de seu companheiro, Lucano decidiu tirar um dos inimigos do campo de batalha para tornar a luta menos difícil. Ele agarrou com determinação o símbolo de sua deusa e clamou por seu poder, enquanto olhava fixamente para os olhos do javali. O medalhão de carvalho brilhou, fazendo com que a vontade do javali fraquejasse. O animal recuou encolhido, olhando assustado para Lucano, como se o temesse.
Legolas, percebendo a ação de seu amigo clérigo, sente que é o momento para decidir a luta, e passa a atacar com o machado. A pesada lâmina do machado desceu sobre o lombo do javali, deixando suas entranhas expostas. O animal parecia ferido demais para continuar em pé, mas ele continuava firme em sua posição, como se não sentisse os efeitos dos ferimentos. A resistência daquelas criaturas era o que mais assustava o grupo, e o que mais alegrava os genasis. Mesmo recebendo um projétil mágico, evocado por Squall, diretamente no rosto, o javali não recuava. Então, Sairf percebeu que atacar diretamente não era o melhor caminho para a vitória. Anix já estava quase perdendo os sentidos, e os inimigos não recuavam. Nailo correu, aproveitando o impulso para aumentar a potência do golpe, e mesmo assim, o javali que atacava Squall parecia não se abalar ante os ataques do feiticeiro e do ranger. Vendo isso, o elementarista da água resolveu tentar algo diferente. Sairf murmurou um feitiço, e o conjurou sob os javalis que atacavam Anix e Legolas. Num passe de mágica, o chão sob seus pés foi coberto por uma substância branca e extremamente escorregadia. Os javalis começaram a deslizar naquele muco e o que estava diante de Legolas foi ao chão, vencido pela substância. O outro animal conseguiu, com muito esforço, caminhar por cima da substância e fugir para a mata, ainda sob o efeito de medo da magia de Lucano. Legolas lutava para não cair também. Demonstrando toda sua perícia, o arqueiro firmou os pés no chão e aproveitou a chance para atacar o javali caído. O animal recebeu uma machadada no pescoço, aplicada por Legolas. Um dardo místico lançado por Anix atingiu o seu rosto, deixando-o atordoado. Enquanto ainda tentava se levantar, a fera pode ver Lucano orando a Glorien, segurando o medalhão com fé. Diante do clérigo surgiu uma forte luz, em forma de cunha. A luz foi se transformando aos poucos, até se tornar uma belíssima espada longa, toda entalhada com figuras de arcos e elfos. Ao comando do clérigo, a arma avançou pelo ar, até onde estava o animal caído e aplicou-lhe o golpe derradeiro. O javali permaneceu ali caído, seu sangue tingindo de vermelho a área escorregadia criada por Sairf.
Com um dos inimigos derrotado e o outro assustado demais para enfrentá-los, os heróis concentram sua força de ataque no restante. Legolas correu com seu machado para ajudar Nailo e Squall. O piso escorregadio fez Legolas perder o equilíbrio durante seu movimento, e ele errou o alvo. Squall, já muito ferido, afastou-se e tentou subir em uma árvore. Mas o feiticeiro, sem treinamento para esse tipo de tarefa, não conseguiu escalar a árvore, tornando-se motivo de riso para os genasis. Enquanto Legolas e Nailo combatiam corpo a corpo com o animal, Sairf pôs-se a reunir energia para lançar uma nova magia. O brilho gerado pelo mago chamou a atenção do javali que, cego pela fúria que sentia, partiu para atacá-lo, sem se importar com as conseqüências. Legolas e Nailo aproveitaram a chance e atacaram no momento em que o animal lhes deu as costas. O machado do ranger tocou superficialmente o dorso do javali, arrancando um grande tufo de pelos, mas sem lhe causar ferimento algum. Legolas, entretanto, conseguiu amputar uma das patas traseira do javali, deixando mais lento. Nailo o perseguiu, enquanto Legolas preparava o machado para voltar a atacar. O machado do ranger passou rente ao chão, levantando uma fina camada de poeira e indo chocar-se na coxa do javali. O que restava da pata traseira do animal foi arrancado em um único golpe. Ele continuou sua corrida, passando ao lado de Sairf, até ficar cara a cara com Anix. Uma esfera corrosiva saltou das mãos de Anix, passando ao lado do animal e chocando-se no chão. No local do impacto restou somente uma cratera e os restos de vegetação corroída. O javali encarou o mago, raspando os cascos no chão como se o desafiasse para um duelo. Comandando mentalmente sua espada mágica, Lucano feriu o dorso do javali. A lâmina mágica atravessou a clareira em alta velocidade, rasgando o resistente couro do animal com sua ponta afiada. Mesmo assim, o javali continuava em pé, para alegria dos genasis, apesar dos ferimentos e de ter apenas três pernas.

Capítulo 31 - Porcos do mato (1)

_ Você com o facão!!! Limpe a área em volta, corte todo o mato ao redor da clareira! – ordenou o soldado, visivelmente irritado, para Legolas.
O elfo desembainhou o facão e começou a cortar as moitas e cipós em volta da clareira. Legolas, com a imagem do genasi assustado ainda na mente, trabalhava distraído e só foi perceber que havia algo errado, quando viu a ponta do facão manchada de sangue após atingir uma moita. Legolas esticou o braço, e com a ponta do facão, tentou encontrar aquilo que havia atingido. Então uma criatura saltou do meio da relva, chocando-se contra o corpo do elfo com extrema violência. Legolas recuou para trás, sentindo o impacto do golpe, e quase soltando o facão no chão. Legolas olhou para a imensa criatura de pelos negros e empinados. Viu as grandes presas, que se projetavam para fora da boca da fera, manchadas com seu sangue élfico. Os olhos brilhantes do animal eram a personificação da fúria. Enquanto raspava os cascos no chão, preparando-se para uma nova investida, Legolas viu a marca do facão na cabeça do enorme javali que o enfrentava. Todos estavam paralisados, observando a cena. Tanto os heróis quanto os genasis, haviam sido surpreendidos pelo ataque do animal. Então, antes que alguém pudesse reagir, mais dois javalis saltaram da mata, cercando Legolas pela direita e pela esquerda, distantes o suficiente para atacarem o elfo durante uma corrida curta.
Rapidamente, os heróis abandonaram o trabalho e correram para auxiliar seu companheiro. Legolas se encontrava em situação difícil, cercado por três javalis furiosos, e sem sua armadura e suas armas. Os heróis se posicionaram no campo de batalha na floresta, armados de serrotes e machados, enquanto os soldados de cobre apostavam entre si quem sairia vitorioso no confronto. Legolas, ainda com o facão na sua mão, desferiu outro golpe no animal que o atacava, enquanto seus amigos se aproximavam e os genasis vibravam e comemoravam a distância. Um pedaço do couro da cabeça do javali atravessou a clareira rodopiando no ar, indo se chocar contra uma árvore.
Squall se aproximou de um dos animais, junto com Nailo que o ajudava no corte de uma árvore e, usando o serrote como arma improvisada, tentou atingir o corpo da fera. A arma agitou sua lâmina descontroladamente, indo se chocar contra uma árvore próxima.
Os javalis se enfurecem e começam a revidar os ataques sofridos. Dois deles atacaram Legolas com suas presas protuberantes, deixando o elfo com grandes ferimentos nas suas pernas. O terceiro animal avançou contra Squall. O feiticeiro recebeu o corpo do javali contra o seu, e sentiu sua carne sendo perfurada e rasgada pelos dentes do animal. Squall gritou de dor, enquanto os genasis comemoravam o ataque bem sucedido da fera.
Sairf tentou ajudar legolas, mas o mago não conseguia manejar a arma e atingiu apenas as árvores sem sequer ameaçar o javali. Os soldados riram de Sairf, deixando o mago irritado. Ele então abandonou a sua arma e iniciou a preparação de um feitiço, revelando suas habilidades para os genasis.
Nailo, acostumado à vida selvagem, não tinha dificuldades em manejar o machado. O ranger ajudou seu amigo feiticeiro desferindo um forte golpe de machado na cabeça do animal. Parte do crânio voou pela mata, enquanto o animal recuava, afastando-se de Squall.
Apesar de não possuir o treinamento adequado, Anix também decidiu atacar com o machado que usava. Ele temia que sofressem ainda mais nas mãos dos genasis, caso eles descobrissem os seus poderes mágicos. Anix girou o machado sobre sua cabeça, tomando impulso para o golpe. Mas o machado terminou sua trajetória no chão de terra batida da clareira, sem ferir o animal. O mago elfo, percebeu que não tinha escolha, e, ao ver Sairf preparando-se para lançar uma magia, largou o machado no chão e decidiu usar sua mágica também.
O javali, após se esquivar do golpe de Anix, abaixou seu corpo rapidamente, deixando seu ventre rente ao chão, enquanto o machado de Lucano passava veloz sobre sua cabeça, indo se chocar com uma árvore. O machado do clérigo foi abandonado no tronco. Lucano recuou e começou a invocar o nome de sua deusa, enquanto encarava, com fúria, o javali.
Legolas sabia que junto com Nailo, eles eram os únicos capazes de batalhar naquelas condições sem se prejudicarem. Somente os dois tinham treinamento marcial para usar os machados, e mesmo sem suas armaduras, ambos resistiriam aos ataques dos javalis, por mais graves que fossem. Precisavam proteger seus amigos magos, que possuíam corpos mais frágeis. Com esse pensamento em mente, Legolas ergueu seu facão sem recuar, e continuou atacando impiedosamente os animais. A lâmina novamente foi tingida de vermelho, e um novo pedaço foi arrancado da cabeça da fera que o encarava. Próximo a ele, Squall, já convencido de que só poderia atacar com mágica, gesticulava e murmurava um feitiço para derrotar seus oponentes. Enquanto estava com a guarda baixa, evocando as energias mágicas, o javali aproveitou e desferiu um novo golpe no feiticeiro. Squall não resistiu à dor provocada pelo ferimento, perdeu a concentração e o poder mágico que reunira se dissipou no ar. Não satisfeito, o animal voltou a atacar, mas desta vez seu alvo foi Nailo. O ranger torceu seu corpo, desviando-se dos dentes do javali. A boca do animal espumava de ódio e era possível perceber a fúria que sentia pelos seus olhos. Do outro lado da clareira, Anix estava sendo atacado. Seu sangue verteu na mandíbula do javali, tornando-a rubra. O sabor do sangue do elfo fez com que o animal se enfurecesse ainda mais. Anix soltou um grito abafado de dor, e os genasis vibraram com o sofrimento do mago. Enquanto Anix sofria com os ataques da besta enfurecida, seus amigos Legolas e Nailo conseguiam, habilmente, se desviar das mordidas e cabeçadas desferidas pelos outros dois javalis.