maio 03, 2005

Capítulo 28 - Depois do perigo...um beijo

Quando chegaram à morada da ninfa, Anix parou em frente da entrada da caverna e bateu palmas para anunciar sua presença. Nailo, entretanto, dispensou as formalidades e foi entrando, sem dizer nada. Squall foi logo atrás e após alguns segundos, Legolas os seguiu também. Nailo estranhou a ausência de movimento dentro da gruta e se preparou para o combate. Foi percorrendo o túnel lentamente até chegar à câmara principal da caverna, onde um corpo caído atrás de uma mesa chamou sua atenção. O ranger reconheceu as belas pernas que jaziam no chão e correu, desesperado, para acudir Enola. Quando Squall e Legolas chegaram, Nailo já estava com a ninfa em seus braços, tentando reanimá-la. Enola estava pálida como um cadáver e não despertava quando sacudida pelo ranger. Squall gritou pedindo ajuda aos seus amigos e ordenou ao seu familiar que fosse procurar por Silfo. O restante do grupo entrou na caverna rapidamente para ajudar os companheiros, e todos se surpreenderam ao encontrar Enola inconsciente. Atendendo à sugestão de Anix, Nailo colocou Enola sobre a mesa. Anix umedeceu suas mãos com a água de seu cantil e passou as mãos úmidas no rosto da mulher. Enola finalmente acordou, atordoada e com a mente confusa. Silfo chegou logo em seguida, com o falcão de Squall no ombro e um balde cheio de água nas mãos. O sátiro, que havia saído por alguns instantes para buscar água, largou tudo o que tinha nas mãos e correu para junto da moça, abraçando-a em prantos.
Assim que se recuperou do desmaio, Enola contou ao grupo que havia tido uma nova visão. Ela disse ter visto um coração negro batendo sob a terra, e disse que os aventureiros deveriam tomar muito cuidado com ele. Sem mencionar uma palavra sequer, os heróis não deram importância para a visão da ninfa. Todos já sabiam o significado daquilo. Deveriam tomar cuidado com o lendário Tarrasque, a criatura que dormia sob a ilha de Ortenko e que possuía um coração negro, repleto de maldade.
Então os aventureiros contaram a Enola que a fuga se daria em dois dias e prometeram mostrar a Silfo o local onde ela e o sátiro deveriam aguardar. Enola se comprometeu a estar no local combinado antes do sol nascer, junto com Silfo e todas as frutas coletadas por eles na selva. Com a missão cumprida, os heróis poderiam retornar à mina para liberar os trabalhadores para continuarem os reparos no navio, exatamente como Roryn havia pedido quando saíram. Entretanto, Squall ainda tinha algumas pendências para resolver.
Revoltado com a trova que fizera com Silfo, Squall exigiu de Enola que convencesse o sátiro a lhe devolver sua lanterna ou a ensinar como acionar os poderes mágicos da flauta. Enola explicou então que a flauta não tinha nada de mágica, mas sim Silfo. O sátiro possuía poderes mágicos inatos e usava a flauta apenas como um foco para canalizar esses poderes. Squall exigiu que Silfo desfizesse a troca e ameaçou bater no sátiro caso ele não aceitasse. A reação do sátiro, ao ouvir Enola traduzir as palavras do feiticeiro, foi apenas dar uma gargalhada alta e longa. Silfo zombou do elfo e mostrou-lhe uma nova flauta que tinha confeccionado. Zangado, Squall se retirou da caverna e foi aguardar seus amigos do lado de fora.
Nailo viu a nova flauta de Silfo e desejou fazer uma troca também. Depois de mostrar todos os seus pertences ao sátiro, o ranger deu seu escudo em troca do instrumento. Nailo desejava algo mais e pediu para que o sátiro lhe fizesse um cachimbo e algumas flechas ocas para poderem abrigar infusões. Como o sátiro se negou a fazer a troca, Nailo pediu para ver os pertences do mesmo.
Como seus amigos demoravam demais para sair, Squall retornou para apressá-los. Lá dentro, ao ver seu amigo negociando com Silfo, ele tentou convencê-lo a não trocar nada para também não ser prejudicado. Desejando ajudar seu companheiro lesado, Nailo tentou a todo custo convencer Silfo a desfazer a troca com Squall. Sem conseguir êxito, o ranger então tentou recuperar a lanterna de seu amigo através de uma nova troca. Enquanto os três negociavam, Anix pediu a Silfo um pedaço de barbante e a moeda que havia lhe dado de presente em sua última visita. O mago pediu a moeda dada a Enola também e furou as duas peças de prata com sua adaga. Usando o cordão de Silfo, Anix fez dois colares, uma para Enola e outro para Silfo, para que os dois sempre se lembrassem dele no futuro.
Após muita negociação, Nailo conseguiu convencer Silfo a trocar a lanterna por uma pepita de ouro. Nailo ensinou ao sátiro o conceito do dinheiro e disse que aquela pedra seria muito útil quando Silfo chegasse ao continente. Squall finalmente recuperou seu lampião e agradeceu ao ranger, dizendo que o tinha com um grande amigo.
Silfo, que não entendia nada do idioma Valkar, perguntou ao ranger o que Squall lhe dizia.
_ Ah, ele disse “agora nós somos amigos de verdade”!!! – respondeu Nailo ao sátiro.
Silfo se empolgou com o gesto de afeto do feiticeiro e lhe deu um caloroso abraço. Squall, que tinha uma estatura menor que a de Silfo, foi obrigado a roçar seu rosto no peito cabeludo e fétido do sátiro. Nailo tentou desfazer a confusão, explicando a Silfo que Squall se referia a ele e não ao sátiro.
_ Não Silfo, ele disse que nós somos amigos!!!
Silfo novamente entendeu errado, e pensou que agora todos os três eram grandes amigos. Ao menos para o sátiro isso era verdade. Silfo então deu um caloroso abraço nos dois novos amigos, pressionando as cabeças dos pobres elfos contra os tufos de pelo do seu tórax.
_ Amigos!!! – disse o sátiro, enquanto Nailo e Squall ainda cuspiam pelos, e os empurrou um de encontro ao outro para que se abraçassem. Silfo era muito mais alto que os dois, e suas mãos empurraram as cabeças dos dois aventureiros em rota de colisão. Os dois estavam distraídos e não esperavam por esse gesto do sátiro. A grande força de Silfo também influiu para o que aconteceu em seguida. Prevendo um possível vexame, Nailo e Squall tentaram virar os rostos, mas por azar viraram-nos para o mesmo lado. Seus lábios se tocaram, enquanto Silfo pressionava suas cabeças, e algo como um beijo forçado aconteceu. Legolas e os outros riram de seus amigos que haviam se beijado na marra, enquanto os dois ainda cuspiam, enojados. Anix aproveitou a empolgação para conseguir um abraço de Enola. E, enquanto Silfo tentava entender os motivos de tantas risadas, Squall, enfurecido por ter beijado Nailo, roubou todas as coisas do sátiro e as escondeu na sua mochila. Assim, naquela noite, após tantos perigos e infortúnios, os heróis finalmente encontraram um pouco de diversão. Ao menos alguns deles, é claro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário