março 31, 2006

Capítulo 188 – O fim de uma era


Capítulo 188 O fim de uma era

Era um Lanag, o 2º dia de Lunaluz. O sol que surgia, ainda tímido entre as árvores negras, aquecia a cidade de Follen naquela manhã de primavera. Na estalagem A Última Chance, administrada por um poderoso mago chamado Raraist Motaron, os heróis saltaram logo cedo de suas camas. Legolas ainda estava atordoado, após a bebedeira da noite passada. Vestiu sua cota de malha élfica rapidamente e saiu apressado para a taverna, sem nem se dar conta de que a porta passara a noite aberta. Lá, encontrou seus companheiros reunidos, fazendo o desjejum para iniciarem o dia.

Anix e Nailo aguardavam ansiosos pela chegada de Timi à taverna. O pequeno halfling que os havia ludibriado seria preso por eles assim que botasse seus pés diminutos no estabelecimento.

Sairf permanecia calado, enquanto Batloc, Yczar, Lucano e Nevan conversavam animadamente. O mago da água estava compenetrado, imerso em seus próprios pensamentos, parecia preocupado com alguma coisa.

Squall não parecia nada bem. Ainda zonzo pelo efeito mágico causado por Lana, e com a cabeça cheia de ferimentos por causa das pancadas que recebera, ocupava-se com uma fatia de batata, ainda crua, que pressionava contra a cabeça fazendo uma compressa. Sua cabeça doía ao menor barulho. Ele quase foi a nocaute quando Legolas chegou para cumprimentá-lo.

_ Pessoal! Eu estou indo pro exército! Alguém vem comigo? – perguntou Legolas, afoito.

_ Não! Primeiro a gente vai esperar uma pessoa chegar! Um halfling enganou a gente ontem e nós vamos pegá-lo assim que ele aparecer aqui! – respondeu Anix.

_ Bom, eu não posso esperar! Eu estou indo pro exército pra cumprir uma pena e já estou atrasado! Eu deveria ter me apresentado ontem! Se eu demorar mais ainda, minha situação vai se complicar cada vez mais! – completou Legolas. – Alguém sabe onde fica o quartel aqui?

_ Batloc e eu passamos perto dele ontem à tarde! Iremos com você Legolas! – respondeu Yczar, levantando-se da cadeira.

_ Obrigado! Alguém mais também vai? – o elfo olhou ao redor, para cada um dos amigos.

_ Conte comigo! – disse Nevan

_ Eu irei! – respondeu Lucano

_ Eu também! Mas fala mais baixo, por favor! Ai minha cabeça! – gemeu Squall.

_ Ótimo, então! Bom Anix, depois a gente volta pra encontrar vocês aqui! E o Sam, alguém viu ele? – disse Legolas.

Só então eles se lembraram do bardo. A última vez que o viram, Sam rastejava para fora da taverna, após ser espancado por Lana. Ninguém sabia do paradeiro do menestrel. Todos se olharam com ar de confusos, quando escutaram a voz do bardo.

_ Bom dia meus amigos! – gritou Sam. Estava sorridente e radiante como nunca. Caminhava pelo corredor que conduzia aos quartos da estalagem, abraçado com Lana. Todos imediatamente entenderam o que se passava ali. Sam e Lana tinham passado a noite juntos. Sam apresentou sua acompanhante a Legolas. Todos estavam curiosos pra ouvir do bardo os detalhes da sua noite com Lana. A cada palavra dita, que revelava os detalhes da intimidade do casal, Lana o agredia. Anix ficou revoltado, cobrando de Sam uma atitude contra aquelas agressões.

_ Não se preocupe meu amigo! Tapas de amor não doem! – foi a resposta de Sam. Uma torção na orelha do bardo foi a resposta de Lana.

Então, Yczar, Batloc, Lucano, Squall, Legolas e Nevan partiram para a base militar, enquanto Anix, Sam, Nailo e Sairf permaneceram na estalagem.

Pouco depois, Nailo também se ausentou, indo procurar por um druida chamado Hasimor Goviw, que vivia em Follen e, segundo o que ouvira, poderia ajudá-lo a localizar um clérigo capaz de devolver a vida a Loand. Nailo encontrou a morada do druida, chamada pelos moradores de Casa de Allihanna. Hasimor o atendeu gentilmente, mas não pode ajudar Nailo em sua busca. Desanimado, o ranger retornou para a estalagem, questionando-se de deveriam realmente trazer Loand de volta, ou deixá-lo descansar em paz.

Enquanto isso, na taverna, Anix aguardava a chegada de Timi. Durante esse tempo, Anix se desculpou com Lana pelas atitudes de seu irmão na noite anterior. Para sua surpresa, Lana lhe disse para esquecer o que havia se passado, demonstrando não guardar nenhuma mágoa. Parecia que a noite com Sam havia a deixado mais calma e gentil.

Distante dali, os outros subiam por um elevador de cordas até a casa que pertencia ao exército de Tollon. Lá em cima, chegaram a uma grande casa de madeira, suspensa em mais de uma árvore para garantir apoio suficiente. Embora grande, era uma construção simples. Sob a porta de entrada havia uma grande placa, na qual podia se ver o brasão do reino de Tollon entalhado. Os seis atravessaram a porta, chegando a uma pequena sala, onde um homem ainda jovem, aguardava atrás de uma escrivaninha. Havia uma porta atrás dele, que conduzia para o interior do quartel. Duas grandes janelas nas laterais deixavam a luz penetrar no ambiente, assim como a brisa da manhã. Nas paredes, vários cartazes dividiam espaço para exibir os rostos dos vários criminosos procurados pela justiça. Entre eles, pessoas famosas, como o Camaleão, o maior assassino do reinado, o lendário grupo do mal, que aterrorizava a todos só de ouvir a simples menção de seu nome, Leon Galtran, o criminoso mais perigoso e mais procurado, cuja cabeça valia uma fortuna capaz de comprar um reino pequeno. Entre eles, estava um retrato de Timi, cuja captura rendia 200 tibares. Mas o que mais chamou a atenção de todos foi o rosto de um criminoso conhecido, cuja prisão valia uma recompensa de 100 tibares, e que era procurado por assassinar um tenente do exército. Legolas.

_ Bom dia, eu vim me apresentar! Meu nome é Legolas Greenleaf! Eu sou o cara daquele cartaz ali! – disse o arqueiro apontando para seu retrato.

_ Você é quem? Hã?! Alto lá meliante, está preso! – gritou o soldado, apontando uma espada para Legolas.

_ Calma! Eu já fui preso e julgado, agora estou aqui para pagar minha pena, vim me alistar! Esse aqui é meu advogado! – esclareceu Legolas, apontando para Yczar.

_ Ah! Então você é o tal que vai cumprir pena no forte Rodick! Entendi! Eles também vão com você? – o soldado embainhou a espada.

_ Sim, eles estão comigo! Qual seu nome? – disse Legolas.

_ Sou o cabo Solo! Por favor, sigam pelo corredor! – respondeu o homem, apontando para a porta que ficava atrás de sua mesa.

_ Tá certo! Ah! Posso ficar com esse cartaz? – pediu Legolas, apontando para o seu retrato na parede.

_ Pode sim, ele já não tem mais utilidade mesmo! – respondeu Solo.

_ Obrigado! – Legolas pegou o cartaz e seguiu pelo corredor com seus companheiros.

No final do corredor, chegaram a um vasto salão com várias janelas, teto alto e várias armas de diferentes tipos e tamanhos penduradas nas paredes. Dois rapazes bem jovens lutavam um contra o outro, usando espadas de ponta romba e recobertas com pedaços de coura nas lâminas para não ferirem um ao outro. À direita da entrada, no fundo do salão, um anão, de cabelos e barba branca, os observava atentamente.

_ Senhor! Eu vim me apresentar! Sou Legolas Greenleaf! Estou aqui para cumprir pena no exército! – disse Legolas ao se aproximar do anão.

_ Fale direito garoto! – respondeu o anão.

_ Sim Senhor! Eu sou Legolas, senhor! Estou aqui para cumprir minha pena, senhor! – gritou Legolas, para desespero de Squall.

_ Certo já entendi! Legolas, você disse? Então vocês são o bando de elfos que Sunil me falou! Bem, estão atrasados! Deveriam ter se apresentado ontem! A tropa já partiu para o forte ontem pela manhã! E pro culpa do atraso de vocês, eu tive que ficar para trás esperando-os! Agora vamos logo, preencham essas fichas e vamos partir imediatamente! – gritou o anão, visivelmente irritado com o atraso do grupo.

_ Senhor, meus amigos também irão comigo! – disse Legolas.

_ Certo, Sunil me falou de vocês! Só não me disse que no grupo de vocês tinha alguém com a pele dourada! Quem é você rapaz? – disse o anão, se dirigindo a Batloc.

_ Eu sou Batloc, um genasi de cobre! Eu não irei para o exército! Eles é que vão! – respondeu Batloc, apontando para Lucano e Squall.

_ Certo, então preencham suas fichas todos vocês! – disse, entregando os papéis aos heróis.

_ Senhor, tenho alguns outros amigos que também irão, eles estão na estalagem ainda! – disse Legolas.

_ Bom, então preencha logo esses papéis e vá buscá-los então! – ordenou o anão.

Todos preencheram rapidamente os papéis. Batloc e Yczar admiravam a vista aérea que tinham de cima daquela árvore. Nevan observava atentamente o combate entre os dois soldados. Legolas conversava com os dois, enquanto escrevia. Seus nomes eram Havat e Merin, dois soldados ainda em treinamento. Após preencher sua ficha, Legolas a entregou ao anão.

_ Aqui está senhor! Estou indo buscar os outros então senhor! Disse Legolas ao entregar seus papéis.

_ Muito bem Legolas, vá logo então, não devemos perder mais tempo! Nossa tropa já está um dia à nossa frente! – ordenou o anão.

_ Voltarei logo senhor! Ah, senhor, qual seu nome? – perguntou o arqueiro.

_ Sou o capitão Glorin Coldhand, rapaz! Agora ande logo, estamos atrasados. – respondeu o capitão.

_ Sim senhor! – gritou Legolas, batendo continência e se retirando do salão.

Enquanto ele corria atrás de Sam e dos outros, Lucano e Squall aproveitaram para testar suas habilidades, desafiando Havat e Merin para um combate.

_ Nevan, posso usar sua espada? – pediu Squall.

_ Claro que sim meu amigo! Você sempre gostou dela, use-a! – respondeu Nevan, entregando sua enorme espada de madeira ao feiticeiro.

Os dois soldados revestiram a lâmina com pedaços de couro para que ela não pudesse ferir ninguém. Enquanto isso, Squall se preparava para o combate, aumentando sua força através de sua magia. Então, o duelo começou. Graças à força mágica, e à poderosa espada de Nevan, Squall levava grande vantagem sobre seu adversário. Em poucos golpes ele conseguiu encurralar Havat e com um violento golpe arrancou a espada de suas mãos, derrotando-o.

Depois foi a vez de Lucano. O clérigo pegou uma das espadas de treino e partiu para cima de Merin. Era um combate equilibrado, os dois lutavam em igualdade. O tempo foi passando sem que nenhum dos dois mostrasse superioridade em combate. Entretanto, com o passar do tempo, Merin foi perdendo as forças, ficando exausto, enquanto Lucano ainda esbanjava energia. Quando o Merin mal podia levantar a espada para se defender, Lucano o desarmou facilmente, vencendo a batalha.

_ Muito bem recrutas, estão de parabéns! Parece que vocês dois não são tão inúteis quanto eu pensei! Gostei de ver! - O capitão Glorin aplaudia os vencedores, enquanto falava com sarcasmo.

As lutas terminaram com a derrota dos dois soldados. Exaustos, os dois pararam para descansar. Squall e Lucano se encararam por um instante e, sem dizerem uma palavra sequer, levantaram suas espadas um contra o outro.

O duelo entre os dois heróis começou. Squall tinha muito mais força, graças à sua magia, parecia um touro. O tamanho da espada portada por ele também ajudava a impor mais força nos golpes desferidos. Parecia que Lucano seria facilmente derrotado. A cada golpe a espada do clérigo balançava, quase escapando de suas mãos. Entretanto, a estratégia provou ser superior à força bruta. Lucano recebeu os primeiros golpes do adversário enquanto o estudava, até que ficou encurralado numa parede. Squall levantou a espada, quase tocando o teto, e atacou com todas as forças, soltando um urro insano. Parecia o fim de Lucano. No entanto, o clérigo se mantinha tranqüilo. Colocou sua espada acima de seu ombro direito, com a lâmina voltada para cima e a ponta para fora, segurando-a apenas com a mão direita. Quando a espada de Squall se chocou na de Lucano, o clérigo abaixou a ponta de sua espada, deixando a do adversário deslizar sobre a sua lâmina até se chocar no chão. Lucano contra-atacou rapidamente, golpeando com força a barriga de Squall. O feiticeiro recuou, atordoado com a força do golpe recebido. Irritado, voltou a atacar Lucano com força. Novamente, o clérigo aparou a espada com maestria, deixando Squall com a guarda aberta. Lucano o golpeou com muita força. Squall gritou de dor e recuou, quase soltando a espada. Lucano percebeu que era o momento de encerrar a batalha e partiu para cima de Squall, desferindo uma série de golpes rápidos e fortes. Squall foi atirado ao chão, sem forças e sem sua espada. Lucano se aproximou, encostando a ponta de sua espada no pescoço de Squall e terminando o duelo vitorioso.

Enquanto isso, nas ruas de Follen, Legolas cavalgava Rassufel alegremente, em busca de seus amigos. Estava distraído, sonhando com sua carreira militar, e com o dia em que poderia reencontrar sua amada e nem percebeu, quando um grupo de senhoras atravessou seu caminho. Eram cinco mulheres, todas com vestidos longos e com as cabeças cobertas por lenços, capuzes e chapéus. Quando as viu, Legolas puxou as rédeas rapidamente. O cavalo parou, quase atropelando as mulheres, que ainda tiveram que saltar para não serem atingidas pelo animal. Passado o susto, Legolas prosseguiu em sua marcha, passando pelas mulheres.

_ E ai loirinha!!! – gritou uma das mulheres após Legolas passar por elas. Era uma mulher baixinha e corpulenta, e tinha uma voz grave, como a de um homem. Legolas se espantou com aquilo, deu meia-volta e parou diante das damas.

_ O que você disse? – perguntou o arqueiro.

_ E ai loirinha!!! Como vai essa força? Que tá fazendo por aqui? – perguntou a estranha senhora.

_ Por acaso eu a conheço de algum lugar senhora? – perguntou Legolas, ainda confuso.

_ Ei loirinha, não lembra mais dos amigos não?­ – respondeu a mulher, levantando o capuz e exibindo um rosto barbudo, com um tapa-olho negro sobre um dos olhos.

_ Tinn??? O que você faz aqui? – perguntou Legolas, assustado, ao reconhecer o anão.

_ Ora, nós fugimos cara! – respondeu o anão.

Todas as outras mulheres mostraram seus rostos rapidamente para Legolas, sorrindo. Elas eram, na verdade, os companheiros de cela de Legolas, Tinn, Durunn, Alberik, Dimitri e Rodor. De alguma forma eles tinha escapado da prisão em Vallahim e estavam agora ali em Follen, disfarçados de mulher.

_ Fugiram? Como assim fugiram? – Legolas continuava chocado.

_ Oras, a gente deu no pé! E fala baixo pra não estragar nosso disfarce! – respondeu Tinn.

_ Ah! Sinto muito, mas vocês estão presos! Agora eu faço parte do exército! – disse Legolas, segurando o anão pelo braço.

_ Deixa de brincadeira, loirinha! Fica na sua, que a gente já tá se mandando daqui! – Tinn riu, enquanto tirava a mão de Legolas de seu braço.

_ Ai não! Que maneira de começar minha carreira militar! Tá bom! Vão embora logo daqui! Vou fingir que não os vi! Agora sumam daqui! – Legolas levou a mão ao rosto, lamentando-se. Depois esporeou Rassufel, afastando-se do grupo de fugitivos.

_ Valeu loirinha! Até qualquer dia! – Tinn acenou para Legolas, imitando voz de mulher. Cobriu seu rosto com o capuz e partiu na direção oposta ao arqueiro com seu grupo.

Legolas chegou na estalagem e reuniu seus amigos. Todos juntos, foram para a base do exército, onde Lucano e os outros aguardavam. Lana também os acompanhou.

Já no quartel, o capitão Glorin entregou ao grupo as fichas de inscrição. Yczar e Batloc estavam olhando a paisagem da janela. Os dois não iriam para o exército, tinham outros objetivos e missões a cumprir. Todos já sabiam que se despediram dos paladinos ali. Tinham consciência que Nevan também não os acompanharia. O guerreiro retornaria para Darkwood, para ter um descanso mais que merecido após todo o sofrimento que enfrentou dentro de Khundrukar. Entretanto, os heróis não esperavam pelo que veio a seguir.

_ Não, eu não irei, capitão! Pode ficar com isso! – Sam devolveu os papeis ao anão, sorrindo.

_ Eu também não! Tome! – disse Sairf, devolvendo a ficha ao capitão.

_ Espera ai!!! Vocês não vão com a gente?? Você vai abandonar a gente Sam? Depois de tudo que vivemos juntos? E você Sairf? – gritou Anix, inconformado com a atitude dos amigos.

_ Não, meu amigo! Não vou abandoná-los! Só vou tirar umas férias! Esse negócio de exército não é pra mim! Serviço militar é uma indecência! Já parou pra pensar, um ano sem mulher, batendo continência! Eu to fora! – respondeu Sam, levando a mão ao ombro de Anix, e ajeitando seu chapéu. – Enquanto vocês ficam lá, treinando, eu estarei aqui fora, espalhando seus feitos heróicos pelas tavernas do mundo! Daqui a um ano a gente volta a se encontrar!

_ Eu concordo com ele! Eu desejo sua companhia com a gente Sam, mas conosco você está sempre em perigo! Não queremos vê-lo morrer novamente! – disse Legolas, segurando o choro.

_ É verdade, sempre tentam arrancar minha cabeça! Mas, mesmo assim, daqui a um ano eu estarei de volta! Enquanto isso eu vou ficar com essa bela elfa, cantando suas façanhas por ai! – Sam sorriu para Legolas e abraçou Lana. Sua voz era trêmula, era trêmula, como se Sam estivesse quase chorando.

_ Tá certo, vai! Mas prometa uma coisa Sam! Daqui a um ano, quando a gente sair do exército, vá nos encontrar na porta do forte! Estaremos esperando por você! – Anix apontou o dedo para Sam, intimando-o.

_ Combinado! Daqui a um ano nos encontraremos novamente, meus amigos!!! – Sam apertou a mão de Anix, selando um pacto.

_ E você Sairf? Por que vai nos deixar??? – perguntou Nailo.

_ Ah! Eu sou como o Sam! Não gosto desse negócio de exército não! Mas não é só por isso! Vocês sabem muito bem que eu não tiro aquela seria da minha cabeça! Eu preciso encontrar a Narse de novo, senão acho que vou enlouquecer! Eu vou voltar ao Mar Negro e procurar alguma forma de reencontrá-la! Deve existir alguém na costa que possa me ajudar nisso!­ – suspirou o mago.

_ Mas Sairf, ela é uma sereia e você um humano! Vocês não tem nada a ver um com o outro! – disse Squall.

_ Eu sei! Mas não consigo mais suportar! Tenho que ir atrás dela! Alguém no Mar Negro, talvez um mago da água mais poderoso que eu, deverá ser capaz de me ajudar! Mas eu prometo que nunca vou esquecer vocês! E um dia voltarei para revê-los! – concluiu o mago, caminhando vagamente no salão de treino e indo até uma janela voltada para o sul.

Os heróis terminaram de preencher suas fichas e as entregaram a Glorin. O capitão conferiu uma por uma, conhecendo as informações sobre seus novos recrutas. Depois ordenou que todos se despedissem rápido e que o encontrassem lá fora, onde ele os estaria aguardando, enquanto preparava seu equipamento.

Sam se despediu, emocionado de cada um dos aventureiros. Em sua mente, passavam imagens dos bons momentos que viveram juntos. Do dia em que se conheceram na Estalagem do Macaco Caolho Empalhado, em Malpetrim. Do dia em que Sam se juntou ao grupo, aceitando a carona oferecida por Nailo. Do dia em que deixaram Enola na floresta. Da chegada a Darkwood. As aventuras e perigos vividos na Forja da Fúria. Tudo passava na mente do bardo ao mesmo tempo em que ele se despedia dos amigos. Sam ainda recebeu um presente. Squall deixou com ele um manto, no qual estava bordada a figura de uma mão segurando chamas. Era o manto de família de Squall,com o brasão de sua família. Sam recebeu o presente, molhando-o com suas lágrimas. Depois pegou o manto e o jogou nas costas, usando-o como uma capa.

Depois foi a vez de Yczar e Batloc se despedirem, com abraços calorosos e votos de boa sorte a todos. Então foi a vez de Sairf. O mago se despediu dos amigos com poucas palavras, como era seu jeito, e com um aperto de mão especial do grupo que terminava com as mãos fechadas se tocando como dois socos colidindo. Lana também se despediu do grupo. Mais calma, a barda abraçou os heróis com carinho. Quando chegou a vez de Squall, ele ameaçou bater nele, para depois abraçá-lo sorrindo. Squall respirou aliviado.

_ Puxa! Mulher brava é a pior coisa que tem! Não sei como o Sam consegue agüentar! – Squall passou a mão na testa, como se enxugasse seu suor e cochichou no ouvido de Nevan.

_ Ah! Nem posso falar nada Squall! – Nevan sorriu timidamente e seu rosto ficou ligeiramente avermelhado.

O último a se despedir foi Nevan. Todos emocionados, principalmente ele, que fora salvo por aqueles jovens aventureiros, após passar por tanto sofrimento nas mãos das orcs. Os heróis o abraçaram com emoção. Estavam tristes por ter que se separar daquelas pessoas, mas ao mesmo tempo estavam felizes, por tudo finalmente acabar bem.

_ E você, Nevan? O que vai fazer agora? – perguntou Lucano.

_ Bom, eu vou procurar uma caravana que esteja indo pra perto de Darkwood e vou voltar pra casa! – respondeu o elfo.

_ Tome cuidado na volta Nevan! – advertiu Anix.

_ Não se preocupem! Vai dar tudo certo! Quando eu chegar em Darkwood, peço a Liodriel para falar com o Legolas pelo berloque e avisar que cheguei bem! E fiquem tranqüilos! Enquanto vocês estiverem fora, eu cuidarei da vila! – Nevan colocou sua enorme espada de madeira à frente de seu corpo, com a ponta apoiada no chão, e estufou o peito com orgulho.

Em seguida, o grupo desceu até o solo, onde o capitão aguardava, impaciente, pelos seus novos soldados. Os heróis trocaram novos abraços com os que ficavam, e partiram, deixando para trás grandes amizades, amores verdadeiros e encerrando uma era de aventuras.

março 29, 2006

Capítulo 187 – Um pequeno ladrão

Capítulo 187 Um pequeno ladrão

A bela Lana voltou a tocar sua flauta, enquanto Anix e Nailo provavam estranhas combinações de bebidas. Legolas também bebia como um camelo. O arqueiro precisou ser carregado para um quarto por Malcon, o assistente do taverneiro. Legolas foi carregado até o quarto pelo rapaz. Lá ele retirou a armadura, atirando-a de qualquer jeito no chão. Depois conversou com Liodriel mal e porcamente e decidiu trancar a porta com cuidado para não ser assaltado. Pegou a chave do quarto, enfiou-a na gaveta da cômoda ao lado da cama e a girou, dando duas voltas. Então ele segurou o pequeno vaso de flores sobre a cômoda, pensando ser a maçaneta, e o girou para conferir se a porta estava trancada. Como a parede não se abriu e ele não viu o corredor ao girar o vaso, Legolas se deitou e dormiu tranqüilamente, sem saber que a porta estava escancarada e dezenas de clientes da taverna riam de seu estado deplorável.

Enquanto isso, na taverna, o impaciente Nailo aguardava na entrada da Última Chance o retorno do garoto com as informações sobre a ordem de Thyatis. Anix continuava bebendo no balcão e conversando com Johnny, o taverneiro. Lucano e os outros permaneciam numa mesa, bebendo e conversando embalados pelo doce som da flauta de Lana.

_ Ei Sam! Você pode me emprestar algum instrumento? – perguntou Squall.

_ Bem, só tenho meu alaúde aqui! Você por acaso sabe tocar? – respondeu Sam, entregando o alaúde ao feiticeiro.

_ Não sei se sei! Eu vou tentar! – Squall pegou o instrumento e correu na direção do palco. Subiu e começou a tocar umas notas tímidas e desajeitadas. Lana o olhou com desaprovação, mas não se importou com a presença do herói e continuou sua apresentação. Pra surpresa de todos, Squall foi melhorando pouco a pouco sua performance, conseguindo até acompanhar a barda. Os dois entraram em sincronia, arrancando aplausos da platéia. Sam observava Squall como se não estivesse gostando de sua intimidade com Lana. Ficava cada vez mais evidente que os dois tiveram algum tipo de envolvimento no passado.

Yczar e Batloc chegaram e se juntaram aos seus amigos. Anix continuava ignorando-os, isolado de todos no balcão da taverna. Nailo também não se importava com eles. Seu único objetivo era encontrar logo o tal clérigo de Thyatis, talvez até antes do que Squall. A impressão que se tinha é que desejava encontrar o tal clérigo para ressuscitar Loand antes que Squall o fizesse, como se estivesse numa competição e desejasse apenas receber os louros da vitória ao invés de trazer o amigo de volta à vida.

Então, após algumas horas, já pelo fim da tarde, o garoto finalmente apareceu. Era um garotinho sujo e maltrapilho, de cabelos ruivos e lisos caídos sobre os olhos. Tinha um olhar carente e um corpinho franzino, como o de quem passava vários dias sem se alimentar. Vestia roupas rasgadas e cobertas de uma poeira escura como terra.

_ Ei garoto! Você que foi procurar por um clérigo de Thyatis?- perguntou Nailo, bloqueando a entrada do pequenino.

_ Sim, tio! – respondeu o garoto, com ar de assustado e uma vozinha fina.

_ Fui eu quem pediu a informação ao taverneiro! O que você descobriu? – continuou o ranger.

_ Descobri que tinha um clérigo desse deus ai aqui na cidade sim. Ele tava hospedado numa outra estalagem, na Ganso Afogado! Mas ele já foi embora da cidade hoje de manhã! – completou o menino.

­_ Que droga! Chegamos tarde demais! Você conseguiu descobrir pra onde ele foi?

_ Não tio, ninguém soube dizer!

_ Tudo bem então! Qual seu nome menino?

_ Timi!

_ Tome! Isso é pra você! Obrigado pela informação! – completou Nailo, entregando algumas moedas de ouro ao pobre menino.

O garoto pegou as moedas rapidamente, agradecendo a Nailo pela gentileza e entrando na taverna. O pequenino se sentou ao lado de Anix, no balcão. Sorriu para o mago, que se ofereceu para pagar um suco para o guri.

_ Ei Johnny! Traz uma cerveja ai pra mim! Meu amigo aqui é quem vai pagar! – disse o menino ao taverneiro, desta vez com uma voz rouca e grossa e com um certo ar de malandro. Depois voltou a olhar para Anix e novamente voltou a fazer aquela voz fina para agradecer ao elfo. – Obrigado tio!

_ Você não é um menino? Quem é você! – perguntou Anix num tom inquisidor.

_ Eu sou um halfling oras! Agora disfarça e fica de boa! E valeu pelo trago! – respondeu o “menino”.

Nailo entrou na taverna, e foi até o balcão, sem desconfiar de nada. Viu o pequeno farsante conversando com Anix e se aproximou para falar com os dois.

_ Ei Timi! O que você tá fazendo ai? – perguntou Nailo sem suspeitar de nada.

_ Ah, to tomando um suco! Esse tio aqui que me pagou! Né mesmo tio? – respondeu o halfling, se fingindo de menino novamente.

_ É! Eu paguei um “suco” pra ele! – respondeu Anix, contrariado.

_ O Timi! Você vem sempre aqui nessa estalagem? Você mora aqui? – perguntou o ranger.

_ Não tio! Eu não moro aqui não! Eu moro numa casa muito pobre aqui na vila! A gente passa muita necessidade, minha mãe eu e meus irmãozinhos! Ô tio, dá um dinheiro pra mim? Pra eu poder comprar comida pros meus irmãos! Por favor! – continuou o farsante, vez ou outra sorrindo para Anix, como se estivesse se exibindo.

Nailo se sensibilizou com o teatro encenado por Timi e lhe deu mais moedas douradas. O halfling abraçou Nailo, simulando um choro e o agradeceu. Depois abraçou Anix também, dando uma piscadela pedindo para que ele continuasse mantendo o segredo, e saiu correndo da taverna. Anix o seguiu, deixando Nailo sorridente no bar, por ter feito uma “boa ação”.

_ Ei Timi! Porque você fez todo aquele teatro? – perguntou Anix.

_ Ah, cara, fica de boa! Fica na sua e me deixa quieto com meus negócios! – respondeu o halfling com sua voz natural.

_ Mas o que você fez é errado! Isso é um crime! E se você não sabe, eu sou do exército e podia te prender agora mesmo! – Anix tentou intimidar o pequenino.

_ Ah! Você é do exército? Então somos parceiros! Eu também sou do exército! Estou trabalhando disfarçado aqui! Então disfarça pra você não atrapalhar minha missão! – respondeu Timi.

_ Se você é do exército, então me mostra sua identificação! Você deve ter algum pergaminho com seu nome, seu posto e sua missão! Eu quero ver! – insistiu Anix, desconfiando da história contada pelo halfling.

_ Você tá louco! É claro que eu não estou com nada aqui! Se alguém me descobre com um papel desses, meu disfarce vai por água abaixo! – respondeu o pequenino.

_ E qual a sua missão? – perguntou Anix.

_ Ah! Isso eu não posso dizer! É confidencial, e de grande importância! Agora, se me dá licença, é melhor eu ir embora pra não dar bandeira demais! – concluiu Timi, afastando-se do mago.

Anix deixou o halfling partir, mesmo suspeitando ter sido iludido também, e retornou para a mesa com seus amigos. Conversou com Sam e os dois foram até a cadeia da cidade investigar a história do pequenino. Lá descobriram que Timi era, na verdade, um ladrão procurado por diversos crimes, confirmando as suspeitas de Anix. Os dois voltaram para a estalagem, onde Anix foi tirar satisfações com o taverneiro.

_ Ei Johnny! Você sabia que aquele Timi não é menino coisa nenhuma? – perguntou Anix em tom de ameaça.

_ Sim eu sei! Mas eu tenho medo que ele me faça alguma coisa, então não me meto nos assuntos dele! Eu tenho que me preservar. Ele nunca me fez nada e espero que isso continue assim! Só o que eu faço é servir na taverna. O que os fregueses fazem não é assunto meu! – respondeu o taverneiro, tentando se livrar de qualquer responsabilidade.

_ Ele vem sempre aqui?

_ Sim todos os dias! Às vezes ele fica meio sumido, mas depois volta!

_ Tá certo! Amanhã eu vou esperar ele aparecer aqui! Quando ele chegar, eu vou capturá-lo e entregá-lo à milícia! Ele é um criminoso procurado! – concluiu Anix, dando as costas para o atendente.

Anix voltou para a mesa com seus amigos e contou a Nailo toda a verdade sobre o pequeno Timi. Nailo ficou furioso por ter sido feito de idiota tão facilmente. Combinou com Anix de ambos prenderem o pequeno larápio na manhã seguinte. Lembraram do abraço que o halfling lhes dera antes de sair da taverna e pensaram que tinham sido roubados. Após conferirem todo seu equipamento, constataram que não estava faltando uma peça cobre sequer. Parece que os dois haviam tido muita sorte naquele dia.

A noite caiu, trazendo o frio e a escuridão para Arton. Os bardos Squall e Lana encerraram sua performance e se juntaram aos outros. Lana contou que conhecera Sam quando ele ainda era um garoto e assistia admirado suas exibições, mas evitou falar de si mesma. Já Sam, fazia insinuações e comentários maliciosos, dando a entender que ele e Lana haviam sido amantes no passado. A cada comentário, a barda desferia golpes de flauta na cabeça de Sam. Squall também começou a cortejar a dama, muito sem jeito, é verdade. Apanhou muito também, principalmente quando tentou descobrir a idade de Lana. Irritado com a concorrência, Sam resmungou algo do tipo “esse folgado vai ver, essa elfa é minha”. Por azar, todos ouviram o comentário do menestrel, descobrindo a raça daquela bela mulher. Lana também ouviu, ficando ainda mais irritada com Sam e começou a espancá-lo novamente. Sam tentava se desculpar, mas cada palavra que saia de sua boca só revelava mais a intimidade da elfa, deixando-a ainda mais nervosa. Lana bateu tanto em Sam que sua flauta se quebrou na cabeça do bardo. Sam caiu no chão, quase desmaiado, e começou a receber pontapés de sua antiga namorada. Por fim, um chute atingiu com força as partes baixas de Sam, deixando-o quase sem voz, e obrigando-o a sair da taverna em busca de um punhado de neve para fazer uma compressa gelada. Com a ausência de Sam, o feiticeiro Squall aproveitou a chance para tentar conquistar Lana. Só o que conseguiu foi apanhar mais ainda. Sem sua flauta, espedaçada na cabeça de Sam, Lana retirou de sua bolsa uma gaita e com ela colocou Squall num sono profundo. A barda saiu da taverna irritada, deixando todos para trás. Sem mais nada a fazer naquela noite, os heróis decidiram encerrá-la e foram dormir. Squall, que já dormia profundamente, foi carregado por Batloc, pelos fundilhos, até sua cama. A manhã seguinte seria bem movimentada. Tinham um bandido a capturar, e finalmente todos se apresentariam ao exército de Tollon, onde permaneceriam até o ano seguinte, ajudando seu amigo Legolas a cumprir sua pena e pagar sua dívida com a sociedade.

março 28, 2006

A verdadeira essência do RPG

"acho que falhamos como amigos dele. E na verdade ainda naum aprendemos a verdadeira esencia do jogo. Que é de formar amigos, formar um grupo de amigos e naum um simples grupo de rpg"
André Galli

A frase acima foi me dita por um amigo ainda há pouco, e eu compartilho da mesma opinião.
Nós tinhamos um grupo de jogo, conturbado, cheio de picuinhas, como todos devem ser. Aos poucos os jogadores foram se afastando, deixando de jogar, fosse por causa do "mestre chato" (eu, hehe), porque não suportavam um ou outro jogador por causa de suas atitudes no jogo, ou até mesmo na vida real. Apesar de todas as picuinhas, mesmo com brigas e tudo mais, nós sempre conseguimos nos divertir e dar boas risadas juntos, eramos felizes e não sabíamos.
Um desses jogadores que se afastou, meu amigo Tiago, era chamado por todos de "embalista" pois sempre dizia "eu to com você então", as vezes repetia as ações de outros jogadores, e tal. Todos nós brigavamos com ele por causa disso, mas mesmo assim sempre nos divertiamos juntos. Mas, o grupo foi se separando até se desmanchar por completo.
Esse Tiago uma vez não apareceu pra jogar. Todos pensamos "dane-se, não ganha XP". Na outra semana ele também não foi, e na outra e na outra. Eu, o mestre, cheguei a pensar "o fdp não prestou nem pra dar uma satisfação pra gente, pra simplesmente falar que não ia mais jogar, então que se dane".
Logo depois que ele parou de jogar, eu o encontrei no ônibus. Fui conversar com ele e ele me tratou de um modo estranho, arrogante, metido mesmo. Novamente eu pensei "dane-se você, um inútil a menos ao meu lado".
Bom, nunca mais o procurei. Nunca fomos de sair juntos e tal, só jogávamos mesmo, e o cara ainda fez essa palhaçada com a gente, então deixei ele pra lá e continuei minha vida.
Continuei mestrando até o final do grupo. Cada um foi pro seu canto, formei um novo grupo, mas tive pouco contato com "os inúteis do grupo antigo".
Bom, ai chegou a quinta-feira passada. Segundo o irmão do Tiago, ele saiu à tarde pra dar uma volta. Tava afastado do trabalho por estar estressado. Um cara que fez faculdade, trabalhava no inss, na área que estudou, ganhando algo em torno de 3000 reais numa cidade do interior paulista, morando numa baita duma casa bonita, com apenas 22 anos de vida e um futuro promissor pela frente. Frescura, provavelmente eu pensaria se me falassem desse stress dele. Mas eu estava cego.
O Tiago não voltou pra casa naquele dia. Não se sabe os motivos ao certo (somente ele), ele decidiu encerar sua vida, se atirando de um viaduto de 30 metros de altura.
"Ótimo, um inútil a menos na Terra" vocês devem estar imaginando que eu pensei. Mas não, a primeira coisa que me veio à mente foi: se ele estivesse jogando com a gente ainda, será que ele teria feito isso?
Provavelmente não. Infelizmente, só agora é que a gente parou pra pensar. O Tiago era um cara que precisava de ajuda. Suas atitudes "embalistas" no jogo talvez fossem uma forma de ele expressar toda a carência que sentia, tipo "eu estou com você porque não quero ficar sozinho". Sua arrogância no ônibus talvez fosse apenas uma forma de ele chamar a atenção ou de evitar que a vida o ferisse mais ainda, tipo o dilema do ouriço mesmo.
E o que nós fizemos por ele? Brigávamos na mesa de jogo o tempo todo, por moedas que nem existiam. Odiávamos cada vez que, ao invés de tentar ser original, ele teimava em "ir no embalo" de algum outro personagem.
E quando ele se afastou, o que fizemos? "Nós estamos aqui, tentamos ser amigos dele, ele que não nos quis", era isso que pensávamos (e alguns daquele grupo ainda devem pensar assim)
Talvez, se nós tivéssemos procurado por ele, insistido pra ele permanecer ao nosso lado, ainda que tivéssemos picuinhas. Talvez, se nós tivéssemos enxergado algo além de nossos próprios umbigos, nossas próprias ambições. Talvez se nós tivessemos lhe estendido a mão ao invés de lhe virar as costas, talvez ele ainda estivesse vivo.
Como está no topo do email, nós falhamos com ele como amigos. Deixamos que um companheiro de grupo entrasse sozinho numa dungeon perigosa e perdesse a vida. Esquecemos do "trabalho em equipe" que o rpg nos ensina. Deixamos de agir em grupo e o pior aconteceu. Só que agora eu não vou mais ouvi-lo dizer "Jé, eu morri, me dá outra ficha". Agora não tem continue, é game over mesmo.
Como bem disse meu amigo André, "ainda naum aprendemos a verdadeira esencia do jogo. Que é de formar amigos, formar um grupo de amigos e naum um simples grupo de rpg" e talvez por isso o Tiago pagou com a vida.
O Tiago deu a própria vida pra que nós pudéssemos perceber isso, sua morte não foi em vão. Pena não ter entendido isso a tempo de salvá-lo.
Agora só o que podemos fazer é levantar a cabeça e seguir em frente, viver a parte dele também.

Desculpem se estiquei demais o assunto, mas acho super importante compartilhar isso com vocês. Esse é o exemplo de uma vida que talvez poderia ter sido até salva pelo rpg, contrariando o que alguns setores inescrupulósos da midia afirmam por ai. Esse acontecimento serviu de lição para mim, espero que para vocês também. E espero que vocês nunca passem por situação semelhante. Não dá pra saber se o Tiago ainda estaria vivo se nosso grupo tivesse continuado, só o que sei é que nós não tentamos descobrir a resposta.

Abraço a todos

Jefferson

março 22, 2006

Mapa de Follen

Eis meu mapa pessoal da cidade de Follen. Abaixo a legenda dos locais mais importantes:

1 Estalagem A Última Chance

2 Administração (Druidas)

3 Cavalos/ferreiro

4 Base Exército

5 Mercado

6 Santuário Allihanna

7 Druida chefe

8 Escola

9 Prisão

10 Mercado

Capítulo 186 – Follen, a cidade suspensa

Capítulo 186 Follen, a cidade suspensa

O restante do dia passou com o pequeno tentacute saltitando de cabeça em cabeça durante a viagem. Veio o dia seguinte, e os aventureiros continuaram sua jornada, sem maiores problemas. Quando a noite caiu, mostrando a todos o magnífico poder de Tenebra, os aventureiros pararam para acampar, sob a luz da lua em escudo, que clareava o céu. Sam fez uma fogueira e chamou seus amigos para reunirem-se ao redor dela e festejar, enquanto tocava alguns acordes.

_ Festejar o que Sam? – perguntaram os heróis, curiosos.

_ Ora meus amigos! Esta é a Noite da Alegria! É a primeira noite da primavera, vamos comemorar o final do inverno rapazes! – e respondendo à pergunta, Sam voltou a tocar e a cantar ao redor da fogueira.

O dia da Alegria em Arton sempre foi comemorado a mais tempo do que o próprio nascimento da civilização humana, já que marca o fim do inverno e início da primavera. Neste dia, um grande almoço é preparado pela família ou comunidade, e a comilança se estende por toda tarde até o começo da noite, quando fogueiras são acesas para afastar o frio até o próximo ano. Normalmente, os carvões desta fogueira são considerados itens de sorte, sendo carregados até o dia da Alegria do ano seguinte.

Aventureiros também costumam comemorar o dia da Alegria, mesmo em situações difíceis, para manter a esperança sempre acesa e lembrá-los de que todo inverno chega ao fim. Os servos de Marah, a deusa da paz, também comemoram o dia da Alegria com grandes eventos em prol dos necessitados e sem recursos.

Os povos silvestres também marcam o equinócio de primavera, chamado Renascer. Neste dia, todos os habitantes da floresta reúnem-se novamente na mesma clareira em que se reuniram na Queda das Folhas e, comandados por druidas ou xamãs de Allihanna, agradecem-na pelo fim do inverno. O druida ou xamã então planta uma semente de carvalho no centro da clareira; se a árvore crescer, aquela clareira não mais será palco de festas da Queda das Folhas (mas é considerada uma clareira “da sorte”).

Enquanto Sam tocava, os heróis pensavam em suas famílias, a milhas de distância dali, até que finalmente adormeceram.

Na manhã seguinte, 1º dia de Lunaluz, o mês de Lena, a deusa da cura e da vida. Os heróis se levantaram naquele aztag ainda frio e arrumaram suas coisas para partir. Segundo os cálculos de Nevan, em mais algumas poucas horas eles chegariam a Follen.

Sam recolheu um pedaço do carvão da fogueira feita na noite anterior, enquanto Legolas desejava bom dia para Liodriel. Contou aos seus amigos da boa sorte que aquele carvão representava segundo as tradições, e todos, com exceção de Anix, copiaram o gesto do bardo, guardando consigo um pedaço do carvão da sorte.

O grupo seguiu em frente, e antes mesmo da hora do almoço, avistaram a entrada da cidade de Follen, no final da estrada. Ansiosos por conhecer a famosa cidade, todos travaram as rédeas, acelerando o galope dos cavalos. Atravessaram as últimas árvores na estrada, mas não encontraram cidade alguma. Somente uma gigantesca área gramada, com várias árvores gigantes havia no lugar onde esperavam ver casas e edifícios.

_ Ué? Onde está a cidade? – perguntou Sairf, confuso e frustrado.

_ Ora, meu amigo mago! Pelo que vejo você nunca ouviu falar muito de Follen, não é mesmo? A cidade está bem em cima de sua cabeça! – brincou Sam, apontando para o alto.

Era uma visão maravilhosa. Todas as casas da cidade estavam no alto, suspensas em gigantescas árvores ancestrais. A cidade era toda construída sobre as árvores, em perfeita harmonia com elas. As casas se moldavam ao formato dos troncos e galhos, mesclando-se a eles, sem agredir uma só folha. Pontes de corda interligavam todas as casas, formando um desenho mágico nos céus. Escadas de corda e plataformas de madeira, suspensas por cordas e contra-pesos, conduziam as pessoas para cima e para baixo. Follen era uma cidade com forte influência do pensamento dos druidas de Allihanna, um lugar em perfeita harmonia com a natureza, um exemplo a se seguido pelos povos humanos, anões e até mesmo pelos elfos.

Maravilhados com tanta beleza, os heróis se separaram para conhecer aquele lugar tão fascinante. Nailo, Nevan e Lucano foram juntos fazer compras na parte norte da cidade, Legolas na parte sul, onde comprou pergaminhos para presentear seus amigos, uma armadura nova e uma bolsa toda especial, capaz de invocar criaturas para ajudá-lo hora de necessidade. Usou seu berloque para mostrar sua nova roupa para sua amada e ficou trocando elogios com ela por vários minutos. Já Nailo, comprou uma bolsa igual à encontrada por Anix dentro da montanha de Durgedin, capaz de comportar dezenas de objetos num pequeno espaço interdimensional. Enquanto isso, Batloc e Yczar procuravam um templo na cidade, para poderem orar para seu deus. Sam, por sua vez, desapareceu, como de costume, sem deixar rastros. Anix, Squall e Sairf rumaram para a famosa Estalagem A Última Chance, onde todos se reuniriam após cerca de trinta minutos.

Os três subiram juntos por um elevador de madeira, até a copa de uma árvore assustadoramente gigantesca, até mesmo para os padrões locais. Entraram na estalagem que, segundo Sam, era administrada por um famoso mago local. A Última Chance era um lugar aconchegante, apesar do nome nada inspirador. Era um local amplo, com muitas mesas lotadas dos mais variados tipos de pessoas. Uma escada na lateral conduzia até um andar superior, onde havia mais mesas, com vista para janelas que serviam de mirante permitiam ver quase toda a cidade. Dois outros prédios anexos serviam de alojamento para os hóspedes e de moradia para os proprietários. Ao lado do balcão de bebidas, uma bela barda de longos cabelos castanhos e lisos, caídos sobre as orelhas e puxados para trás por uma faixa de tecido púrpura amarrada sobre a testa, tocava uma flauta de madeira e dançava graciosamente. Vestia roupas de couro brilhante, que lembravam de longe uma armadura sobre aquele corpo cheio de curvas esculturais. Calçava uma bota de cano longo e saltos pontudos e usava grandes brincos de argola dourados, pendurados nas orelhas ocultas pela cabeleira.

Anix e Sairf sentaram em uma mesa e se puseram a admirar o talento e a beleza da moça, que tocava uma música que muito lembrava as músicas tocadas por Sam na festa de casamento de Legolas. Enquanto isso, Squall conversava com o taverneiro, pedindo informações que pudessem lhe ajudar a trazer seu amigo Loand de volta. Como o taverneiro não conhecia nenhum clérigo de Thyatis, o deus da ressurreição, o feiticeiro ofereceu a ele algumas moedas de ouro para que descobrisse para ele se alguém da ordem de Thyatis estava na cidade.

O taverneiro foi até um garoto, próximo da porta de entrada e deu a ele algumas moedas. O garoto saiu pela cidade em busca da informação para Squall, enquanto ele aguardava com seus amigos.

Meia hora depois, conforme combinado, chegaram Nailo, Lucano, Nevan e Legolas. Todos se sentaram em volta da mesma mesa. Nailo, a exemplo de Squall, pagou ao taverneiro pela mesma informação pedida pelo feiticeiro. Pouco depois, foi a vez de Sam chegar.

_ Ei amigos! Cheguei! Nossa, que ambiente bem animado! Espera ai, eu conheço essa música! – disse o bardo ao se aproximar da mesa.

_ Claro que você conhece, Sam! É a música que você tocou no casamento do Legolas! – respondeu Anix.

_ Não, você não entendeu...espere ai! Lana! Sabia que eu conhecia essa melodia, esse jeito de tocar! – Sam sorriu ao reconhecer a mulher no palco.

_ Você a conhece? – perguntaram os outros.

_ Sim! Claro que conheço! Ela é minha mestra! – Sam correu na direção do palco, subiu e começou a tocar seu alaúde ao lado da bela dama. Depois de realizarem uma grande performance juntos, o casal de menestréis voltou para a mesa onde os heróis aguardavam ansiosos.

_ Amigos! Quero que conheçam Lana Pureheart, a melhor barda de todo o reinado! – Sam apresentou a bela moça ao grupo. Seus olhos brilhavam e seu rosto estava corado. A dama cumprimentou cada um dos heróis, demonstrando grande carisma e simpatia.

_ É verdade que você é mestra do Sam? – perguntou Anix.

_ Sim, eu ensinei a ele tudo que ele sabe! – respondeu a mulher, com um sorriso cativante.

_ Isso mesmo! Você me ensinou tudinho que eu sei, não é mesmo Lana? – o bardo deu um sorriso malicioso enquanto cutucava a dama com o cotovelo.

Lana bateu sua flauta com força na cabeça de Sam, interrompendo o sarcasmo do bardo. Todos riram da situação, tudo estava em paz. Faltava apenas Batloc e Yczar para completar o grupo e a diversão continuar naquele dia feliz.

março 21, 2006

Capítulo 185 – Uivos na neve


Capítulo 185 Uivos na neve

O primeiro dia de viagem até Follen foi tranqüilo. Os jovens cavalgaram por uma pequena estrada esburacada em meio às árvores, que mais parecia uma trilha do que uma estrada realmente. Uma brisa fresca, influenciada pela proximidade com as Montanhas Uivantes, soprava em seus rostos, ao mesmo tempo em que um sol tímido aliviava o frio e anunciava a chegada da primavera. Assim os heróis seguiam seu caminho, felizes por tudo estar bem. Aquela tranqüilidade toda chagava a ser tediosa. Acostumados a batalhar contra criaturas apavorantes, os heróis sentiam-se meio incomodados com todo aquele marasmo. Apesar de conhecerem os riscos, todos gostavam de usar suas habilidades para derrotar monstros, enfrentar desafios, vencer a própria morte. Entretanto, todos tinham que se contentar com a situação, e agradecer aos deuses por estarem vivos.

A única coisa que quebrava a monotonia naquele dia, era o ruído provocado pelo berloque de Legolas. Por três vezes os viajantes ouviram o som estridente, como o de vários sinos agitados rapidamente, avisando que Liodriel estava chamando por Legolas. Assim, o casal passava longos minutos se falando, enquanto os outros apenas observavam, invejando o jovem casal.

No entanto, essa calmaria logo teve seu fim. Já no dia seguinte, 29 de Exinn, Valag, o último dia do mês da morte e último dia no inverno, os heróis tiveram que enfrentar um novo desafio.

Já eram passadas mais de duas horas após a pausa para o almoço, quando um javali cruzou a estrada apressadamente, diante da caravana.

_ Ai! Mas que droga, já estou ficando farto desses javalis! Já é a segunda vez que isso acontece! – praguejou Sam, ao despencar do cavalo que empinara com o susto e se chocar no solo frio.

O javali era o prenúncio de algum perigo. Os jovens, com exceção de Sam e Legolas, já tinham passado por esta situação duas outras vezes, e sabiam que aquilo não era bom sinal. Esperaram até que Sam montasse novamente, para seguir viagem, mas um estranho ruído lhes chamou a atenção. Era uma voz fina a baixa, quase um choro que repetia constantemente “kiute...kiute...kiute”. Intrigado com o som, o grupo parou para investigar. Nailo desceu do cavalo e sacou sua espada, entrando na mata, no local onde Legolas indicava ter visto um vulto. Bastaram alguns passos do ranger para que o barulho dos arbustos sendo pisados chamasse a atenção do inimigo. Eram seis gigantescos lobos de pelagem branca como a neve que saltaram das moitas, indo na direção do aventureiro. Corriam sobre quatro patas grossas como troncos, saltando entre as árvores. Tinham cerca de um metro de altura, e quase três de comprimento. Suas bocas exalavam uma névoa branca e congelada, entre uma respiração e outra. Lobos das estepes. Animais muito comuns nas Uivantes, mas que costumavam avançar no território tolloniense nas épocas frias em busca de presas para se alimentar. Nailo percebeu que o líder, um lobo ainda maior que os outros e de patas negras como se vestisse duas meias sobre sua pelagem branca, cercava alguma coisa numa árvore. O animal correu na direção do ranger, enquanto sua presa fugia pelo mato, aproveitando a distração criada por Nailo. O ranger só teve tempo de mandar Relâmpago se esconder atrás do cavalo e evocar o poder de Allihanna para lhe ajudar. Magicamente, os arbustos, cipós e galhos começaram a se mover e se enrolar nos lobos e no próprio Nailo. Ele conseguiu escapar de sua própria armadilha, e conseguiu prender alguns dos lobos, ganhando algum tempo até que seus amigos pudessem vir ajudá-lo.

_ Lobos! Seis deles, enormes! – gritou Legolas, disparando duas flechas, nas costas e na orelha direita, do lobo de costas sem pelos, que avançava na direção do grupo.

_ Bola de fogo! – gritou Anix em dracônico, arremessando uma esfera negra na mata. O objeto se chocou numa das árvores próximas e explodiu, quase os atingindo com suas chamas.

_ Agüente firme ai Nailo! – Nevan saltou do cavalo, pegando sua espada e correu até o amigo que enfrentava sozinho o líder da matilha.

_ Meu raio ardente vai retardá-los por um tempo! – disse Squall, na borda da mata, evocando sua magia de fogo. Contudo, da mesma forma que Anix, Squall atingiu apenas as árvores que serviam de proteção para os animais.

Os lobos, sem se intimidar com os ataques de fogo de Anix e Squall, contra atacaram de forma feroz. O líder das criaturas encheu seus pulmões de ar, para logo em seguida lançar um sopro congelante sobre Nailo. Outros dois que estavam perto, repetiram o ataque do seu líder, ferindo Nailo e Nevan com se bafo congelante. Dois outros, mais distantes dali, tentaram primeiro se soltar das plantas animadas por Nailo. Como não conseguiram, também cuspiram gelo, mas desta vez na direção de Squall e Legolas. Felizmente os dois estavam longe das criaturas presas e não foram feridos. Já Anix não teve a mesma sorte. Uma das feras saiu da mata, colocando-se à frente do mago e atingindo-o com seu hálito gelado.

Yczar correu para ajudar o mago, enquanto Sam usava seu alaúde para atordoar os lobos com suas notas estridentes. Lucano repetiu o movimento de Sam, dando tempo para que Batloc penetrasse na floresta enquanto Sairf criava um portal mágico para reunir reforços.

Nailo atacava ferozmente com suas espadas o líder da matilha, Legolas disparava flechas e mais flechas de cima de seu cavalo, então Anix decidiu tentar uma atitude ousada. O mago pensou que era o momento de tentar usar uma nova magia que desenvolvera, mesmo sem ter certeza de seus efeitos, e assim o fez. Ele pronunciou as palavras e movimentou suas mãos formando os gestos necessários para a conjuração da magia. Uma parede de fogo, de seis metros de altura surgiu no meio da floresta, cercando os lobos e também os aventureiros. A gigantesca muralha de fogo descreveu um círculo de quase trinta metros de diâmetro, ferindo todos que estavam em contato com as chamas. Infelizmente, a imprudência de Anix custou mais ao seu grupo que a seus adversários. Com exceção de Lucano e Batloc, todos foram atingidos pelas chamas. Do lado dos lobos, somente o líder da matilha, que estava próximo da muralha, foi ferido. Os outros animais, que estavam exatamente no centro do círculo, ficaram a uma distância segura das chamas.

Mesmo assim, os heróis não recuaram e continuaram lutando bravamente. De um lado Nevan rasgava a carne do líder dos lobos. De outro, Squall avançava com seu cavalo em direção ao centro do círculo, para ajudar Batloc que enfrentava sozinho os três lobos que o cercavam. Squall sacou sua espada com uma mão, pegando impulso com a outra mão para dar um salto mortal para fora do cavalo. Já no chão, o feiticeiro arrancou o topo da cabeça de um dos animais com sua espada.

No entanto, não foram somente os heróis que continuaram a atacar. O líder dos lobos atacava Nailo, que se defendia com suas espadas, enquanto Nevan era derrubado por outro dos inimigos, bem ao lado do ranger. Perto dali, Batloc também era atacado pelos lobos, mas conseguia se defender sem grandes dificuldades. A situação pior era a de Squall. Uma das feras mordeu violentamente a perna do feiticeiro, rasgando-a. Depois, jogou-o no chão com uma puxada forte, deixando-o desprotegido contra os ataques do outro lobo que estava ao lado. Squall caiu no chão, desacordado, seu sangue tingindo de vermelho o chão da floresta. Batloc pediu ajuda aos demais, que não podiam ver o que acontecia dentro da barreira de fogo criada por Anix. Aflitos, todos tentaram ajudar o amigo ferido da melhor maneira possível.

Com poderosos golpes de espada, Yczar arrancava pedaços do lobo à sua frente, ganhando tempo para que Anix pudesse correr para ajudar o irmão. Sem se importar consigo mesmo, como sempre, Sam atravessou correndo a muralha de fogo, suportando o calor das chamas e conseguindo chegar até Squall. As cordas do alaúde vibraram e um grande dragão vermelho, pronto para cuspir fogo em todos, surgiu sobre sua cabeça. Os lobos se assustaram com a ilusão do bardo, e deixaram de mastigar a carcaça de Squall enquanto procuravam uma forma de fugir do dragão.

Lá fora, Lucano tentava, em vão, dissipar a muralha de fogo para que todos pudessem atravessá-la sem se ferir. Vendo o fracasso do amigo, Sairf invocou um grande lobo atroz, fazendo-o surgir dentro da muralha. O animal atacou ferozmente um dos algozes de Squall, e matando-o. Os gritos do lobo abatido guiaram o ataque seguinte de Sairf. Um limo escorregadio surgiu sob as patas do lobo que lutava com Batloc, impedindo-o de se manter firme no chão. Entretanto, o líquido tornou os arbustos escorregadios o suficiente para que o lobo se livrasse das amarras criadas por Nailo. Porém, ao se soltar, o animal apenas desejou fugir, assustado com a ilusão criada por Sam.

Batloc aproveitou a chance criada por Sam e Sairf, e se atirou sobre o corpo de Squall, usando seus poderes de paladino para tirá-lo da entrada da morte. Batloc, gritou, dizendo aos amigos que Squall estava salvo.

Sabendo disso, todos puderam voltar a se concentrar nos inimigos que enfrentavam. Nailo saltou para fora da muralha de fogo, protegendo Nevan com seu corpo, enquanto suas espadas cortavam as chamas e rasgavam a carne do líder da matilha. Cego de um olho, o lobo chefe já estava fraco demais para continuar a luta, e os heróis finalmente começaram a ver a vitória raiando no horizonte.

Legolas avançou pela muralha de fogo, um instante antes de Anix dissipá-la, e com suas flechas fez o lobo sem pêlos nas costas tombar no chão, já muito fraco. Anix disparou uma nova bola de fogo, perto de Nailo e Nevan. Por pouco o ranger não foi atingido pelas chamas, esquivando-se com grande habilidade da magia. O líder dos lobos, entretanto, não teve a mesma sorte e padeceu, carbonizado pelo poder do mago. Nevan se levantou, girando sua enorme espada no ar, e arrancou a cabeça do lobo que o derrubara. Nailo atingiu a cabeça do animal, que rodopiava no ar à sua frente, destruindo-a com a espada. Enquanto isso, Squall, mesmo caído, lançava um raio ardente no rosto da fera que lhe atirara ao chão. O ataque, feito à queima-roupa, fez a cabeça do animal explodir em chamas, encerrando seus dias em Arton. O outro lobo fugiu desesperadamente, perseguido de perto pelo animal invocado por Sairf.

Restava apenas um inimigo no campo de batalha, um enorme lobo branco com uma mancha negra sobre o olho direito, que atacava Yczar com suas presas. O servo de Khalmyr se desviou de cada ataque, contra-atacando com sua poderosa espada. Lucano cercou o animal, impedindo sua fuga para que um segundo lobo atroz invocado por Sairf pusesse um fim à batalha.

Sim, a batalha estava terminada. Sem que eles soubessem, aquela tinha sido a batalha de despedida daquele grupo. Parte deles ficaria treinando durante um ano no exército, enquanto os outros seguiriam seus próprios destinos. E nada era melhor para encerrar uma era do que uma grande vitória como aquela.

Os lobos de Sairf ficaram de prontidão enquanto seus amigos cuidavam dos feridos e Nailo perseguia o inimigo que fugira. Quando o ranger retornou, ele e Lucano foram verificar o que os lobos perseguiam.

Os dois chegaram perto da árvore onde o líder da matilha farejava antes de atacar Nailo. Ouviram o mesmo barulho “kiute...kiute” ecoando entre as folhagens. Os dois procuravam ansiosos pela fonte do estranho som, quando de repente, um estranho animal caiu sobre a cabeça de Lucano.

Era um pequeno animal peludo com o corpo do mesmo tamanho e aparência do corpo de um gato. Trazia em sua cabeça algo como um capacete ósseo e tinha um exótico rabo com formato de tentáculo, com ventosas e tudo, semelhante ao de um polvo.

Nailo tentou agarrar o bichinho, mas ele foi mais veloz e escapou das mãos do ranger. Então, a espada de Lucano brilhou, refletindo a luz do sol, e o pequeno ser tentou agarrá-la, repetindo “kiute...kiute....tentakiute”. Era um tentacute, um pequeno e dócil animal nativo de Arton, e que adorava objetos brilhantes.

Nailo lhe mostrou uma moeda de ouro. O pequeno a agarrou e subiu na árvore como um esquilo, escondendo a moeda dentro de um buraco na árvore. Nailo e Lucano procuravam pelo animalzinho, olhando para o alto, sem notar que ele já estava no chão ao lado dos dois, mexendo em suas armas. Nailo finalmente percebeu a presença do pequenino tentacute e, usando sua magia, começou a conversar com o inocente bichinho. Descobriu que os lobos das estepes o estavam caçando, isso após terem matado toda sua família. Os heróis viram os corpos dos tentacutes mortos e sentiram pena do pequenino. Nailo o convidou a acompanhar o grupo. Rapidamente, o animal subiu na árvore e pegou seus objetos pessoais: a moeda de Nailo, algumas outras moedas de cobre, pequenos estilhaços de espadas, enfim, apenas objetos sem valor, mas que brilhavam.

_ Kiute, kiute! Tentakiute! – gritava o animalzinho, alegre por ter encontrado alguém para cuidar dele, enquanto seus olhinhos telescópicos se projetavam pra fora da cabeça. Subiu na cabeça de Nailo feliz, e com sua cauda cheia de ventosas, tentou arrancar os olhos de Nailo. Após o ranger explicar ao animal que seus olhos não saltavam pra fora, todos retornaram para a estrada. Lá, relâmpago tentou comer o pequeno animal, que saltitava de cabeça em cabeça, assustado. Nailo acalmou Relâmpago, os heróis montaram em seus cavalos e prosseguiram em sua jornada rumo a Follen, desta vez, com um novo companheiro.