abril 27, 2006

Capítulo 199 – Encruzilhadas...o início da exploração

Capítulo 199 Encruzilhadas...o início da exploração

Os heróis recolheram seus objetos do chão, e começaram a investigar o salão de entrada do castelo. Com o consentimento do capitão, Legolas saiu do prédio por uma das aberturas laterais que davam acesso ao pátio externo. Antes, porém, terminou o que ia fazer quando foi atacado pelo cão. Rasgou alguns dos sacos empilhados, de onde caíram vários grãos de cereais apodrecidos. Squall aumentou a força de seu companheiro magicamente, e fez uma armadura mágica ao redor de si para se proteger de outros inimigos que pudessem surgir ali. Todos continuaram vasculhando o chão, em busca de pistas, enquanto Legolas atravessava a saída da direita, deixando o aposento.

Enquanto revirava as pedras espalhadas pelo chão, Nailo encontrou três jóias de cor esverdeada, mais escura do que as esmeraldas que já havia manuseado. As gemas tinham formato oval, e o tamanho aproximado de uma moeda. Estavam sujas e um pouco desgastadas, com várias imperfeições devido às péssimas condições de conservação. O ranger mostrou as gemas para Glorin, perguntando ao anão o que fazer com as pedras.

_ Guarde-as com você! Quando a gente sair daqui, vamos vender tudo que encontrarmos e dividir em partes iguais! Ai, depois disso, nós gastaremos todo o dinheiro com cerveja em alguma taverna por ai! – respondeu Glorin, dando uma gargalhada curta e batendo a palma da mão nas costas de Nailo.

Squall seguiu até um dos corpos, que estava caído próximo da porta que conduzia para dentro do castelo. Era um homem, vestido apenas com o que sobrara de roupas simples, provavelmente até roupas de baixo. Seu corpo estava abandonado ali há muito tempo. Estava seco e murcho e coberto de terra, pedras e teias de aranhas. Squall usou a ponta de sua espada para vasculhar o corpo em busca de tesouros ou alguma pista que pudesse explicar os motivos da sua morte, mas não encontrou nada. Temendo então que ele se levantasse para atacá-lo junto com a horda de zumbis que invadiu Carvalho Quebrado, o feiticeiro terminou de destruir o cadáver com sua espada, até que não restasse um único pedaço que pudesse representar ameaça ao seu grupo. Squall então voltou suas atenções para a porta que estava na sua frente. Uma grande porta de madeira, muito mais fina que o portão de entrada, ornamentada com entalhes decorativos de formas geométricas, e flores. A porta parecia limpa e conservada, em contraste com o resto do lugar ao seu redor. Squall apanhou um pedaço da laje que despencara no chão há tempos, e começou a escrever seu nome na porta, para deixar registrada a sua passagem por ali.

Enquanto isso, Lucano se ocupava com outro corpo, abandonado próximo da parede esquerda da câmara, bem diante da porta por onde penetrava a luz do dia. Era uma mulher, de longos cabelos vermelhos, corpo esguio, dando a entender ter sido uma bela mulher. Também vestia apenas trapos de roupas simples e seu corpo também estava intocado há muitas eras. Lucano procurou por objetos valiosos na falecida, mas também não encontrou nada. O clérigo então destruiu o corpo, separando todos os seus ossos, um a um e quebrando-os com seus pés. Lucano se afastou da mulher, e viu Nailo, intrigado com o corpo do cachorro, temendo que ele se levantasse para atacá-los como um morto-vivo. Lucano foi até o amigo e explicou-lhe que ele só se levantaria se tivesse sido morto por um morto-vivo, ou se alguém usasse magia para transformá-lo num.

Mais tranqüilo, Nailo foi até o portão de entrada, onde estava Glorin. Ao mesmo tempo, Anix destruía o terceiro cadáver com sua espada. O corpo estava irreconhecível, apenas seus ossos haviam restado, semi-enterrados nas pedras caídas do teto. Feito isso, foi até onde estava seu irmão.

Squall estava usando seus poderes para localizar objetos ou criaturas mágicas que estivessem além da porta e das paredes. Não detectou nada, tudo parecia tranqüilo. Virou-se então para o salão, investigando-o com sua magia. Mas ali também não havia nenhuma aura mágica, a não ser as dos objetos que eles possuíam. Squall voltou suas atenções novamente para a porta.

Glorin olhava, admirado, para o portão de entrada. Uma entrada extremamente forte. Construída com grossas tábuas de madeira reforçada com chapas de metal, e encravada numa parede de pedras de cerca de cinqüenta centímetros de espessura. Uma viga de madeira, de vinte centímetros de espessura, travava o portão, apoiada sobre duas barras de ferro curvadas em “L”. Glorin levantou a viga vagarosamente, e a colocou no chão ao lado da entrada. Abriu lentamente o pesado portão, apenas o suficiente para poder ver o ambiente externo.

_ Vamos deixar isso destrancado! Se precisarmos fugir rapidamente, nosso caminho estará livre! – resmungou Glorin para Nailo.

O ranger concordou com a idéia do anão,ajudando-o a desbloquear a entrada. Então, os dois ouviram um forte barulho vindo da parede oposta. Glorin se virou e viu as portas que seguiam para o interior da fortaleza se chocando com força nas paredes de um corredor ao qual davam acesso. Squall estava diante da porta, com as mãos ainda estendidas após empurrar as portas com força.

_ Droga Squall!!! Está louco? Quer nos matar? Abriu essa porta sem nos avisar e fazendo esse escândalo todo!!! Se tivesse alguém depois da porta, seriamos pegos de surpresa, seu irresponsável! - sussurrou Glorin, muito irritado, correndo até a porta.

O grupo se reuniu diante da porta que se abria para um longo e escuro corredor. Era largo o suficiente para que dois homens pudessem caminhar e lutar lado a lado nele. Alguns metros à frente, existiam duas portas opostas, uma de frente para a outra, ambas fechadas.

_ Capitão, posso ir até as portas? Vou tentar ouvir o que tem atrás delas! – pediu Nailo.

_ Certo, vá até lá,mas sem fazer barulho! E não abra a porta até estarmos todos prontos! Anix, vá buscar o Legolas, depressa! – ordenou Glorin, sussurrando.

Squall e Nailo caminharam até as portas e colocaram seus ouvidos nelas. Na da direita, Nailo ouviu um estranho ruído, de batidas leves e baixas, não ritmadas, como se alguém batesse no chão com uma vara ou algo parecido. Squall não ouviu nada. O silêncio ecoava atrás da porta da esquerda, e por todo o corredor. Um silêncio estranho e assustador. Todos sabiam que aquele silêncio era o prenúncio de problemas. As maçanetas das duas portas estavam limpas, como se alguém as tivesse deixado assim, ou as usasse com freqüência, confirmando as suspeitas do grupo. Havia alguém naquele castelo, alguém que controlava os mortos-vivos. Os dois retornaram para junto dos demais, aguardando o regresso de Anix e Legolas.

Enquanto isso, Legolas estava fora, no que restara do jardim do castelo. Saíra por uma abertura sem porta na parede, atravessando um corredor coberto de mato alto e seco devido ao clima frio. Havia dois barracões, um à sua direita e outro à sua esquerda. Logo após eles, existiam a muralha e o prédio principal do castelo. O corredor que se formava no centro dos barracões tinha uns três metros de largura, e se estendia por uns quinze metros, até chegar num corredor muito mais largo, que continuava para a esquerda, em direção ao fundo do castelo. De onde estava, Legolas via uma das torres de vigia e a muralha que seguia para o fundo da fortaleza.

O arqueiro caminhou cuidadosamente, com seu arco preparado para disparar em caso de perigo. Entrou no casebre da esquerda, atravessando uma passagem larga e alta. Lá dentro, largados pelo chão pedregoso, estavam os esqueletos de três cavalos, há muito mortos. Legolas vasculhou a cocheira com calma e destruiu os restos dos animais, para que não pudessem ser reanimados.

Seguiu para o outro barracão. Atravessou a entrada, de onde ainda pendia uma porta de madeira semi destroçada. Lá dentro, além de sujeira e entulho, encontrou uma forja. Uma bigorna enferrujada jazia diante de um forno extinto há eras e coberto de teias de aranhas. Bancadas de madeira abrigavam ferramentas velhas e carcomidas pelos anos. Armas enferrujadas e imprestáveis dividiam espaço em cima das bancadas e em prateleiras nas paredes. Legolas avançou lentamente dentro do cômodo, tirando as teias de seu caminho com a ponta de seu arco, até que pisou em algo diferente.

Sentiu algo volumoso debaixo de seus pés, que fez um som de metal ao ser pisado. Legolas olhou para baixo e viu uma espada reluzindo sob seus pés, semi enterrada na terra que cobria o chão. Uma espada longa, confeccionada com grande esmero, ricamente trabalhada e ainda em bom estado. Legolas pegou uma bainha abandonada em cima de uma bancada e guardou sua nova espada. Nesse exato instante, Anix chegava para buscá-lo. Os dois retornaram para o salão principal, onde Glorin aguardava, impaciente.

_ E então? Encontraram alguma coisa? – perguntou o anão.

_ Nada capitão! Só alguns cavalos mortos! Mas eu já destruí os corpos! – respondeu Legolas.

_ Certo! Squall, Nailo, fechem essa porta! Nós vamos voltar! Antes de seguirmos adiante, temos que nos assegurar que o nosso caminho para a saída esteja livre! Existem outras duas saídas que ainda não exploramos! Uma deve conduzir até a torre da direita, a outra para o jardim! Vamos examinar esses lugares para nos certificarmos que nenhuma criatura sairá de lá para nos cercar quando estivermos dentro do corredor adiante! Se encontrarmos algum morto-vivo, vamos lutar até destruí-lo! Qualquer outra criatura que não represente perigo para nós ou para o povo da vila, como as aranhas que matamos lá em cima, deverá ser ignorada! – sussurrou o anão em tom sério.

Nailo engoliu seco quando ouviu o capitão falar das aranhas e dar a entender que elas não representavam perigo. Mesmo com medo de encontrar mais daqueles monstros, obedeceu e fechou a porta. Todos seguiram para a outra saída, oposta à já explorada por Legolas. O arqueiro seguiu na frente, enquanto os outros caminhavam mais devagar e à distância. Reconhecia aquele lugar, era exatamente igual ao que tinha acabado de investigar. Os mesmos barracões de pedra e telhados de madeira e palha. O mesmo tipo de mato crescendo pelo corredor. Tudo parecia igual, como um reflexo no espelho. Só faltava existirem cavalos mortos no celeiro e uma bela espada na forja. Sim a espada. Foi nela que Legolas pensou e, desejando conseguir uma outra arma para si, foi direto ao casebre que ficava do lado da muralha. Lá dentro, encontrou o que esperava, uma forja, cheia de armas e ferramentas deterioradas pelo tempo, pela ferrugem. Para sua total alegria, faltava apenas ele pisar numa espada. Legolas entrou na casa e pisou em alguma coisa. Mas, não era uma espada. Desta vez era um graveto, que se rompeu com o peso do arqueiro, provocando um estalo que chamou a atenção das centenas de criaturas que ali se escondiam...ratos.

abril 26, 2006

O cachorro

Capítulo 198 – Fogo...o perigoso cão das trevas

Capítulo 198 Fogo...o perigoso cão das trevas

Antes que os heróis pudessem reagir, o animal abriu sua bocarra horrenda, e cuspiu labaredas na direção de Legolas. Um clarão iluminou o salão, enquanto as chamas avançavam ferozmente. O fogo atingiu em cheio o arqueiro e continuou se espalhando até atingir Nailo e Glorin. As chamas adentraram o corredor, ferindo com menor intensidade os que ali estavam.

Legolas ainda se debatia para apagar os focos de incêndio em seu corpo quando Glorin passou ao seu lado, correndo. O anão carregava ser escudo à frente de seu corpo com uma das mãos para se proteger das chamas do cachorro. Na outra mão, trazia seu machado de madeira negra, inclinado para trás para tomar impulso para o ataque. Num golpe veloz, a lâmina do machado abriu um profundo corte no ventre da criatura, transpassando a cota de malha que protegia o corpo da fera. O cão ainda tentou se esquivar do ataque, e por pouco não conseguiu escapar do golpe. Fora um poderoso ataque, mas mesmo assim, incapaz de fazer o animal recuar ou sequer abalar sua resistência.

O mastim revidou abocanhando o ombro de Legolas com violência. Suas presas afiadíssimas venceram com facilidade a proteção da armadura do arqueiro e penetraram profundamente em sua carne. Legolas podia sentir o hálito de enxofre do animal, que queimava seu corpo de forma quase tão intensa quanto seu sopro de fogo. Astutamente, a fera saltou de cima dos sacos, escapando da flecha disparada por Squall e da lâmina da faca de caça de Legolas, e correu para o meio do salão, ganhando espaço para poder lutar melhor contra os seus oponentes.

O animal rosnava em desafio para o grupo. Sem se deixar intimidar, Legolas soltou sua faca no chão e enfiou a mão dentro de uma pequena bolsa de veludo que comprara em Vallahim. Apanhou uma pequena bola peluda, do tamanho de seu punho e a arremessou perto do cachorro. A bola rodopiou no ar até se chocar no chão, uma forte luz a envolveu, crescendo até formar uma enorme silhueta brilhante. A luz foi desaparecendo lentamente, e em seu lugar, um grande urso negro se materializou. Legolas gritou e fez um gesto com a mão, para que o urso atacasse o cão e assim ele fez. As garras e presas do urso cortavam o ar, enquanto o cão saltitava no chão, desviando de cada ataque do urso.

Com os animais lutando entre si, os heróis aproveitaram para entrar no salão em segurança. Lucano correu até onde estavam os sacos, protegendo-se atrás deles, enquanto Anix fazia uma magia de proteção em si mesmo.

Nailo soltou sua mochila no chão para poder se movimentar melhor, e disparou uma flecha no monstro. Infelizmente, com o urso negro no seu caminho, o ranger não pode mirar direito. A flecha voou por cima dos dois, perdendo-se na escuridão além do inimigo.

Glorin avançou na direção do inimigo, passando seu machado para a mão que segurava o machado. Estendeu o braço direito para frente,com a palma voltada na direção do mastim. Uma luz branca e fria começou a se formar ao redor da mão do anão de forma sobrenatural.

_ Raio Polar!!! – o grito de guerra de Glorin ecoou pela sala, ao mesmo tempo em que um raio de energia branca avançava na direção do cão infernal, rodeado de pequenos cristais de gelo que giravam em espiral.

O monstro uivava de dor e desespero ao receber o ataque congelante do anão. Não teve sequer tempo de se recuperar do primeiro ataque quando Squall o atingiu com uma rajada de mísseis mágicos. Com sede de vingança, o animal correu na direção do capitão, para aliviar sua dor com o sangue do anão. O mastim de Thyatis saltou sobre o corpo pequenino do guerreiro glacial, cravando seus poderosos dentes nas costas dele. Glorin amaldiçoava o animal aos gritos, enquanto o hálito escaldante do animal consumia sua pele.

Legolas disparou uma flecha nas costas do cão, enquanto o urso negro tentava golpeá-lo com suas garras. Mas o cachorro das trevas era extremamente ágil, escapando de todos os golpes, além de possuir um couro muito resistente que minimiza ferimentos que poderiam ser fatais em uma criatura comum.

Lucano se aproximou do flanco esquerdo da fera, tentando golpeá-la com sua espada. Num salto furtivo, o monstro se esquivou do golpe do clérigo. Nailo correu até a criatura, com a espada nas mãos, e a atacou com todas as forças, conseguindo desferir um esplêndido golpe no abdome do animal.

_ Capitão, use aquele ataque de gelo outra vez! Parece que ele é vulnerável ao gelo! – gritou Nailo enquanto golpeava com sua espada.

_ Deixa comigo, esse maldito vai ver uma coisa! – respondeu Glorin, levantando seu machado sobre sua cabeça – Frost Axe!!! – gritou o anão, descendo a lâmina de sua arma sobre a cabeça do inimigo. O machado se enterrou no crânio do cão, congelando-o parcialmente. A arma continuou sua trajetória, arrancando parte da cabeça do mastim. O machado voltou na direção do animal para um segundo golpe, desajeitado e lerdo, que foi facilmente evitado pelo monstro. Um terceiro ataque de Glorin abriu uma nova ferida na fera, deixando-a seriamente debilitada.

Squall e Anix dispararam rajadas de energia na forma de projéteis de luz quase simultaneamente, fazendo com que o cão arqueasse as pernas, já esbaforido. Sem condições para continuar lutando, o cão tentou uma fuga desesperada, escapando por pouco das garras do urso negro, e da espada espiritual invocada por Lucano. Mas, antes que pudesse alcançar a saída do salão, foi atingido por uma flecha, disparada por Legolas, e tombou no chão, já quase sem vida.

Nailo correu até o animal e, com suas espadas, destruiu o que restava de seu corpo, retirando-lhe o último sopro de vida. Legolas pegou o que restava da armadura do cão, com o intuito de usá-la em seu cavalo, enquanto Lucano prestava auxílio aos seus amigos com seu poder de cura. Glorin deu um suspiro, aliviado por terem superado mais um desafio da difícil jornada que estava por vir.

abril 25, 2006

Capítulo 197 – Entrando no castelo

Capítulo 197 Entrando no castelo

Mas, Nailo não podia prosseguir. Estava em choque, paralisado de medo por causa das aranhas, um dos seus maiores temores. Legolas destruiu os corpos das aranhas e os jogou para fora da torre para que o ranger pudesse se sentir em segurança novamente. Já recuperado, Nailo sugeriu que aproveitassem para comer, pois já passava do meio dia. Glorin concordou com a idéia e decretou um descanso de uma hora para seus soldados.

Enquanto comiam e descansavam, os aventureiros conversavam sobre diversas coisas. Especulavam sobre os possíveis desafios que iriam enfrentar naquele lugar. Contaram ao capitão sobre suas aventuras passadas, e Anix explicou a ele sobre a herança dracônica dele e Squall.

Legolas aproveitou para conversar com sua amada pelo berloque da comunicação distante. Pediu a Liodriel para interromper as obras de sua nova casa. Legolas queria conversar com os carpinteiros, para que construíssem sua casa separada da casa de Nailo. Desejava privacidade para ele e sua esposa, abandonando o plano de morar na mesma casa que seu companheiro de aventuras.

Nailo aproveitou o período de descanso para investigar a torre que ficava ao fundo do castelo. Caminhou pela muralha cuidadosamente, apoiando-se nas amuradas para não ser surpreendido por armadilhas no chão. Chegou perto da torre o suficiente para constatar que se tratava de uma construção semelhante à anterior. O mesmo formato, as mesmas dimensões, o mesmo tipo de sujeira e detritos no chão e muitas, muitas teias de aranha tomando conta do local. Nailo não quis se arriscar e retornou para junto dos outros. Aguardou o momento de partir do lado de fora da torre, com medo das muitas aranhas, menores e inofensivas, que caminhavam pelas teias que tomavam conta do teto.

Já passava das 13:00 horas quando o grupo finalmente decidiu prosseguir adiante. O capitão Glorin, que liderava o grupo, usou os conhecimentos de Nailo para escolher o caminho a seguir. Já que o ranger afirmava com convicção que os rastros dos mortos vivos terminavam no portão de entrada do castelo, era para lá que deveriam seguir. Eles deviam descer as escadas e descobrir para onde os rastros seguiam após o portão do castelo.

Desceram em fila dupla os degraus de madeira apodrecida que conduzia ao piso inferior. Glorin e Anix iam à frente do grupo, atentos a tudo. Logo depois, Legolas e Lucano forneciam a iluminação para o grupo, através da tocha e do arco que pertencera a Draco. Por último, atrás até de Squall, vinha Nailo, assustado e apreensivo por causa das teias de aranha que tomavam infestavam a escadaria.

Internamente, a torre possuía um anel de pedras que acompanhava o seu contorno externo, formando um corredor de três metros por onde se estendia a escada. O grupo descia em espiral, girando no sentido anti-horário. Muitas teias que se entrelaçavam pelo caminho iam sendo cortadas pelo machado de Glorin. Olhando para trás, era possível ver através dos espaços entre os degraus, também cobertos de teias. Com um pouco de dificuldade dava pra ver o lance inferior de escadas, por onde ainda passariam. Acima deles, só se viam os degraus por onde já haviam passado, apoiados em caibros de madeira grossos que atravessavam o corredor e se apoiavam nas duas paredes laterais, formadas pelos anéis interno e externo da torre.

Faltavam ainda uns três metros para o fim da escada quando o anel interno que os cercava terminou, apoiado sobre oito grandes colunas de pedra eqüidistantes. Grandes tábuas fechavam o oco que se formava no interior desse anel, criando uma espécie de laje sobre as colunas no centro da estrutura.

Oposta ao final da escada havia uma saída, que seguia na direção do portão de entrada por um corredor escuro exatamente embaixo da muralha por onde haviam escalado. Glorin seguiu até ela, circundando a torre pela direita e acompanhado de perto por Anix, Squall e Lucano. Pelo meio da câmara ia Legolas, bem mais lentamente que os demais, com seu arco apontado para a saída. Nailo circundou a câmara pela esquerda, seguindo ordens de Glorin e ficou próximo à saída, flanqueando-a junto com o capitão. Enquanto caminhavam pelo piso da torre, os heróis viram dezenas de pegadas que se misturavam sobre a poeira que cobria o chão. Havia pegadas humanóides e outras de animais, que se sobrepunham sem formar uma trilha contínua.

Entraram no túnel sob a muralha. Glorin e Nailo à frente, Legolas, Squall, Anix e Lucano logo atrás. Enquanto andavam, conversavam entre si, sem qualquer preocupação com o silêncio. Glorin os repreendia constantemente, temendo que algum possível inimigo os ouvisse e atacasse de surpresa. O corredor se alongava por mais de dez metros, até terminar em um salão de proporções gigantescas.

O salão tinha uns seis metros de altura. Estava cheio de entulho e lixo espalhado pelo chão. Pedras, madeira, folhas, terra, sacos e outros detritos se amontoavam por vários locais. Duas passagens opostas, um pouco à esquerda de onde os heróis estavam, conduziam para fora da construção e permitiam a entrada da luz externa, iluminando fracamente o lugar. No centro da parede da direita, que tinha mais de trinta metros de extensão, estava o portão de entrada, trancado por uma grossa viga de madeira. Oposta a ele, a mais de vinte metros dali, uma porta de madeira, quase tão grande quanto o portão, bloqueava o acesso ao interior do castelo. De frente para o grupo, na parede oposta, era possível ver um corredor semelhante àquele no qual se encontravam, perdido no meio da escuridão. Três corpos jaziam no chão em pontos distintos. De um deles, apenas os ossos haviam restado.

Legolas sacou sua faca de caça e adentrou no salão. Cuidadosamente, seguiu passo a passo até a pilha de sacos que estava perto da entrada do corredor. Glorin e Nailo entraram no salão, mantendo distância de Legolas, vigiando tudo ao seu redor. Os demais aguardavam apreensivos no corredor. O arqueiro se abaixou para verificar os sacos de pano que ali estavam. Numa mão trazia seu arco para iluminar seu caminho, na outra sua faca, pronta para rasgar um dos sacos a fim de descobrir o que estava armazenado neles.

A lâmina já quase penetrava no tecido apodrecido do saco, quando Legolas ouviu um barulho vindo de trás da pilha de sacos. Levantou a cabeça a tempo de ver um enorme cachorro, de pelagem curta cor de ferrugem, olhos vermelhos como fogo, dentes afiados como punhais, saltando sobre os sacos empilhados. O cão, que tinha o tamanho de um cavalo pesado rosnou para Legolas, enraivecido e emitiu um uivo que fez todos estremecerem. Squall e Anix imediatamente reconheceram o inimigo, era a mesma criatura que comandava os mortos-vivos com seus uivos tenebrosos durante o ataque a Carvalho Quebrado. Eles estavam diante do cão infernal que Velta havia dito. O terrível mastim de Thyatis finalmente havia se revelado, e estava pronto a atacá-los.

abril 17, 2006

Capítulo 196 – Aranhas, o primeiro desafio

Capítulo 196 Aranhas, o primeiro desafio

O grupo cavalgava seguindo trilhas de caça estreitas, de difícil acesso, há muito abandonadas. Apesar de temerosos, todos estavam confiantes. Acreditavam que, com suas habilidades, conseguiriam destruir todos os mortos-vivos e seu líder, se é que existia um. Tinham também a certeza de que os aldeões estariam em segurança. Se Nailo tivesse rastreado corretamente as pegadas dos zumbis, então não haveria como eles chegarem até a vila sem passar pelos heróis. E se tentassem isso, seriam impedidos à força. Além disso, tinham deixado instruções claras para os camponeses fugirem a qualquer sinal de problemas e, caso o grupo não retornasse em três dias, todos os moradores deveriam abandonar a vila e rumar para o oeste, de encontro ao forte Rodick, e comunicar o ocorrido ao exército. Caso os heróis não sobrevivessem, mandariam o familiar de Squall retornar até Carvalho Quebrado e bicar três vezes o ombro de algum dos moradores, avisando que os heróis haviam fracassado. Entretanto, apesar de todas as precauções tomadas para um eventual fracasso do grupo, todos tinham a certeza de que tais instruções não seriam necessárias. Confiavam no seu destino, no seu futuro e em suas habilidades. Mas não tinham confiança total numa coisa. As previsões de Velta enchiam-nos de dúvidas, principalmente quanto a Glorin, que, segundo ela, era cercado por uma sombra negra de maldade.

Anix era o mais desconfiado quanto à verdadeira identidade de Glorin. Indagou o capitão diversas vezes, tentando saber o significado das palavras da velha vidente. O anão sempre desviava o assunto, dizendo que Velta não passava de uma maluca e que ele não sabia do que ela falava. Entretanto, seu semblante sério, cada vez que se tocava no assunto, deixava transparecer que ele escondia algo. Não convencido das palavras de seu superior, Anix usou sua magia para ler os pensamentos de Glorin.

_ O que será que existe neste castelo? Quem será que comanda esses mortos? Espero que não seja nenhum vampiro! E aquela velha maldita, será que ela sabe alguma coisa sobre Sejê? Não, não pode ser! E mesmo que ela saiba, não poderá fazer nada... – eram os pensamentos de Glorin.

_ Não se preocupe capitão! Não deve ser nenhum vampiro não! – disse Anix, em tom irônico ao anão.

_ Do que você está falando? – perguntou Glorin, espantado.

_ Você estava falando, pensando se seria um vampiro a controlar os mortos! Eu acho que não seja vampiro não! – respondeu Anix, encarando-o.

_ Estranho, não me lembro de ter dito nada! – comentou Glorin, confuso.

_ E não disse! Eu estava lendo seus pensamentos através da minha mágica! – disse Anix com firmeza, encarando-o como se o desafiasse.

_ Ora, seu rato! E quem deu permissão para você invadir meus pensamentos! Pare com isso já! – gritou Glorin.

_ Ninguém me deu permissão! Fiz isso porque estava desconfiado e confirmei minhas suspeitas! Não foi só sobre o vampiro que eu descobri! Você está nos escondendo algo! É melhor nos contar agora o que a visão da Velta significava e o que é essa tal de Sejê! – bradou Anix com um olhar inquisidor.

_ Ora! Eu não lhe devo satisfação da minha vida pessoal! Pare com essa besteira e não ouse voltar a invadir minha mente! Tenha santa paciência, tenho mais o que fazer do que ficar com essas besteiras! – respondeu Glorin, com descaso.

Anix parou seu cavalo. Squall ficou confuso com a atitude de seu irmão. Ele explicou que não confiava no anão, e que sabia que ele escondia alguma coisa muito grave. Enquanto Anix explicava a situação ao seu irmão, o grupo ia se distanciando deles.

_ Ei! O que aconteceu com vocês dois ai atrás? Vamos logo! – gritou Glorin, virando-se para trás.

_ Eu não vou com você! Não confio em você! Você está escondendo alguma coisa, e enquanto eu não souber o que é, não saio daqui! – Respondeu Anix aos berros, enquanto cruzava os braços.

_ Ótimo, então fique ai! Eu não sei quanto a vocês, mas eu vou até um castelo matar uns mortos e salvar algumas pessoas raptadas! Façam o que preferirem! – Glorin sacudiu os ombros e respondeu com displicência, como se não se importasse com os dois.

Anix manteve sua decisão, enquanto via os outros dois cavalos se afastando lentamente até sumirem após uma curva. Esperou mais um instante, mas ninguém, nem mesmo Legolas, Nailo ou Lucano voltaram, muito menos o capitão. Sem ter outra opção, o mago esporeou o cavalo e correu para alcançar os demais.

Assim, após pouco mais de 1 hora de viagem lenta e tensa, os heróis finalmente chegaram ao castelo. Silenciosamente, os jovens desmontaram e retiraram seus equipamentos dos cavalos. Nailo usou suas habilidades de ranger para falar magicamente com os cavalos, e mandou que retornassem para a vila, pelo mesmo caminho que vieram. Os animais partiram como ordenado, deixando os aventureiros à própria sorte.

Nailo procurou pelo corpo da ovelha destruída por ele e Squall, mas não encontrou nenhum sinal do animal. Procurou pelo local onde tinha enterrado as flechas que usara na criatura, e elas estavam lá do mesmo jeito que ele as havia deixado na manhã anterior, revelando que possivelmente ninguém havia descoberto que a ovelha havia sido morta por suas mãos.

Caminharam então até o portão de entrada. Fizeram isso cautelosamente, para que não fossem notados pelos habitantes do castelo e para não ser surpreendidos por quem quer que estivesse escondido na floresta. Chegaram sem nenhum problema até a entrada, onde começaram a buscar uma maneira de entrar.

O portão era muito bem reforçado e não havia frestas por onde olhar ou introduzir um pé de cabra. Também não havia fechadura, nem um buraco para chave ou coisa parecida, indicando que o portão só podia ser fechado e aberto pelo lado de dentro. As muralhas ao redor tinham cerca de 12 metros de altura. Suas pedras se encaixavam perfeitamente, quase não deixando espaços para apoiar mãos e pés para uma escalada. Só havia duas opções claras para entrar: usar uma corda para escalar a muralha, ou arrombar o portão.

Rapidamente, os heróis ataram uma corda a um arpéu para tentar uma escalada. Lucano arremessou o gancho sobre a muralha uma, duas, três, quatro vezes, mas por algum motivo o arpéu não se fixava na muralha. Desistindo da idéia da escalada, Glorin golpeou o portão com seu machado. Mesmo com toda a força do capitão, a pesada porta de madeira sequer estremeceu.

Ousado e indisciplinado como sempre, Nailo ignorou seus companheiros, largou sua mochila no chão e agarrou a muralha com suas mãos. Pouco a pouco, o ranger foi subindo, galgando cada centímetro com dificuldade até que, cinco minutos depois, ele finalmente chegou até o alto da muralha. Nailo estava em um corredor de pedra, cercado por amuradas pelos dois flancos. Atrás dele estavam seus amigos. Na sua frente, o interior do castelo.

Era uma construção impressionante, possuía dois andares e uns 70 metros de comprimento. De onde estava Nailo podia ver as torres que cercavam o castelo e a muralha que as ligava. À sua esquerda havia um grande jardim, formado por árvores que impediam-no de ver o chão abaixo delas, que se estendia ao longo de todo o castelo. Logo à sua frente existiam dois telhados mais baixos do que o muro, e um corredor entre eles.

Sem perder tempo, Nailo tratou de prender a corda arremessada pelos companheiros, passando-a ao redor de um dos pontos elevados da muralha, e entendeu porque o arpéu não conseguia se fixar ao ser arremessado. A mureta era construída de forma a impedir que o gancho se prendesse a ela. Possuía uma inclinação e era completamente lisa, fazendo com que o arpéu escorregasse por ela até cair lá embaixo novamente.

Desta vez, entretanto, Nailo laçou a mureta e segurou a corda com força, pressionando-a para baixo e aumentando a tensão que prendia. Um a um os heróis finalmente chegaram ao topo da muralha.

_ E então rapazes! Temos dois caminhos! O que vocês sugerem? Esquerda ou direita? – indagou Glorin.

_ Que a moeda decida! – respondeu Nailo, lançando um tibar ao alto e se confundindo com coroa e não-coroa.

Legolas já caminhava para a esquerda, quando o ranger anunciou o controverso resultado da moeda: esquerda.

Todos seguiram o arqueiro, cautelosos e apreensivos. Legolas entrou na torre, retirando as teias que cobriam a entrada com a ponta de seu arco. A torre era uma construção de pedras de formato octogonal e com quase quinze metros de uma parede a outra. O chão de madeira estava todo sujo, coberto de pó, entulho, teias, dejetos e carcaças de pequenos animais mortos. À direita da entrada existia uma outra passagem que conduzia por cima da muralha até a outra torre no fundo do castelo. No extremo oposto à entrada, havia uma escada que descia em forma de caracol para o piso inferior. Era possível ver parte de um corpo, aparentemente humano, oculto na escada.

Legolas correu na direção do cadáver, com seu arco já pronto para atacar. Alguns passos atrás estava Nailo. O ranger viu seu amigo atravessar a câmara apressadamente e o seguiu. Quando estava no centro da construção, um estranho objeto caiu sobre ele. Era uma rede. Uma estranha e pegajosa rede branca, que o cobria da cabeça aos pés, impedindo-o de se mover. Nailo olhou para o alto, tentando descobrir de onde caíra aquela rede. Então Nailo viu uma das coisas que ele mais temia, aranhas. Aranhas monstruosas, gigantescas, despencaram do teto atacando os aventureiros. A maior delas, bem ao lado do indefeso Nailo.

Rapidamente Legolas se virou e lançou duas flechas numa das criaturas, matando-a congelada. Enquanto isso, os demais monstros atacavam seus amigos, ferindo Nailo, Anix e Squall.

Anix se afastou da aranha que o atacava, disparando dardos mágicos nela. Ao mesmo tempo, Glorin correu, esquivando-se entre os inimigos, para ajudar Nailo. Com uma poderosa machadada, o capitão quase eliminou a maior das aranhas, que atacava Nailo com suas peçonhas.

Squall lançou um jato de chamas, afastando a aranha que lhe atacava, enquanto Nailo recuava, fugindo da sua inimiga, para poder se livrar da teia que lhe prendia. Lucano girou a espada na mão, e cravou sua lâmina no corpo peludo da aranha ferida por Anix, exterminando-a. Legolas lançou suas flechas infalíveis na aranha maior, matando-a também.

Perto da porta, Anix recuava lentamente, enquanto disparava seus mísseis mágicos nas aranhas que o cercavam. Glorin correu e se colocou entre as duas criaturas. Girou seu machado, atingindo a que estava diante dele. A lâmina de madeira negra atravessou o corpo do aracnídeo e continuou sua trajetória a te atingir a aranha que estava atrás do anão. Glorin aproveitou o impulso dado pelo giro e atingiu com grande força a cabeça da aranha, decepando-a.

Com a última aranha morta, todos voltaram suas atenções para o teto, temendo um novo ataque. Felizmente, as únicas aranhas no teto eram pequenas e inofensivas.

Refeitos do susto, os heróis prosseguiram em sua jornada. Nailo aproveitou para curar suas feridas com a varinha mágica de Laura e Legolas jogou o cadáver para fora do castelo, através de umas das várias seteiras que se espalhavam pela torre, após se certificar que o defunto não portava nada de valor. Os heróis se organizaram em fila única novamente e prosseguiram.

Mapa do Encontro


Mapa com o caminho para o Encontro Internacional de RPG deste ano. No topo do mapa está a Marginal Tietê, na parte de baixo o local do evento, o Colégio Arquidiocesano, em frente à estação Santa Cruz do metrô (em vermelho no mapa). Não vejo muitas complicações para chegar lá esse ano.

abril 14, 2006

Capítulo 195 – Rumo ao castelo dos mortos

Capítulo 195 Rumo ao castelo dos mortos

Anix retornou e se reencontrou com Glorin, Lucano e Legolas. Algum tempo depois, Squall e Nailo também se juntaram ao grupo. Todos os moradores foram reunidos na casa de Torkel. Nenhum deles se opôs à idéia de deixar suas casas. Estavam todos assustados, temiam o retorno dos mortos, e tinham certeza que eles voltariam. Já fazia dez dias desde o primeiro ataque quando apenas alguns poucos zumbis surgiram atacando os animais da vila. Logo depois os ataques se tornaram mais freqüentes e mais intensos, os animais desapareceram, pessoas foram raptadas, até culminar no imenso exército de mortos que invadira Carvalho Quebrado na noite passada.

A única pessoa a relutar em deixar sua casa era Velta. Dizia não temer os mortos, pois eles não poderiam lhe fazer nada além de lhe tirar a vida. E como ela já estava bem velha, não tinha mais nada a perder. Legolas foi até a casa da velha feiticeira, tentar convencê-la a ir para a casa de Torkel. A mulher o tratou da mesma forma que a Anix. Sempre com um ar misterioso e desafiador. Disse a Legolas que ele também era o portador da desgraça, encarando-o com seu olho vazio. Da mesma forma que Anix, Legolas se arrepiava só de olhar para aquilo, mas não conseguia desviar seus olhos. Com muito esforço, após uma demorada negociação, ele finalmente a convenceu a partir e a levou para a mansão de Torkel. Lá,o espetáculo sinistro de Velta se repetiu.

_ Eu vejo um futuro sombrio para vocês! Vocês são os portadores da desgraça! Vejo morte em seus caminhos! Mas também vejo glória! – repetia a mulher, insistentemente, para os heróis.

_ Não vê coisa nenhuma! Eu é que vejo! Vejo um fim trágico pra você se não parar com esse charlatanismo! – disse Lucano, com firmeza, desafiando a mulher.

_ Eu olho pra você e só vejo dor! Vejo uma cabeça degolada, sobre uma bandeja! – a velha respondeu à altura ao desafio de Lucano.

_ Eu vejo o despertar da fúria! E também vejo o coração negro pulsando! E aquele que pode matá-los! – prosseguiu a mulher, com um sorriso maquiavélico.

Aquelas palavras deixaram todos assustados. Parecia não se tratar de uma charlatã, mas sim de alguém que podia de fato ver o futuro. As previsões de Enola, que já tinham até se confirmado, quase com as mesmas palavras. Velta sabia de mais. Além disso, aquele seu olho cego parecia possuir poderes estranhos. Os jovens continuaram a conversar com a velha, tentando arrancar dela o maior número de detalhes possível. Entretanto, suas respostas eram sempre evasivas e enigmáticas.

_ E quanto ao nosso capitão? O que você vê sobre ele? – perguntou Anix, para ter certeza de que não se tratava de um complô contra ele e seus amigos.

_ Nele eu vejo....ah! Eu vejo uma grande sombra negra por trás desse homem! Uma sombra poderosa e maligna! – Velta se assustou ao fitar Glorin com seu olho cego. Disse suas palavras misteriosas gaguejando e depois se calou. Novas perguntas não foram respondidas, ela apenas pediu para se recolher e foi para um quarto onde Legolas havia depositado seus estranhos objetos. Torkel e os outros moradores tentaram acalmar os heróis, dizendo que Velta não gozava de plenas faculdades mentais. Ela realmente devia ser louca, mas mesmo assim, algo de sobrenatural e assustador havia naquela mulher.

Sem Velta para incomodar com seus mistérios, os jovens começaram a se preocupar com um plano de defesa. Os soldados lideravam cada um uma pequena equipe de moradores, que cuidavam de tarefas como fazer flechas, reforçar portas e janelas com madeira, tirar possíveis armas de perto da casa de Torkel e cercá-la com palha para criar uma barreira de fogo e impedir a aproximação dos mortos-vivos. Com tudo pronto, os heróis se prepararam para esperar a chegada dos inimigos. Estavam todos de vigia, observando através das janelas da mansão, esperando que os mortos-vivos voltassem para atacar novamente. Mas nada. Nenhum zumbi ou caveira foi visto. Nem mesmo os misteriosos mastins de Thyatis apareceram. Ficaram de vigília a noite toda, revezando com os moradores os turnos de vigia. Uma chuva fina caiu durante toda a noite. Relâmpagos riscavam o céu, iluminando a noite escura e nublada. Mas, felizmente, os mortos não apareceram naquela noite.

A manhã do dia 13 chegou, uma manhã coberta de pesadas nuvens negras. Todos se levantaram cedo, avaliando a situação ao redor da casa de Torkel. Não havia nenhum sinal dos mortos. Todos estavam confusos. Não entendiam porque os mortos-vivos não haviam retornado para atacá-los. Então o capitão Glorin, que até então se mantinha calado e isolado de todos, ordenou a Squall que fizesse uma contagem dos zumbis destruídos por eles. Squall retornou depois de alguns minutos anunciando um número aproximado. Cinqüenta. Cinqüenta zumbis eliminados na noite em que chegaram em Carvalho Quebrado.

_ Matamos 50 deles! Eu calculo que eles eram, no total, aproximadamente uns 100 a 200 mortos-vivos! Isso significa que destruímos de um quarto a até metade deles! Eles não vieram ontem à noite porque estão se recompondo! Quando estiverem novamente com um número mínimo de mortos-vivos, voltarão a atacar! – resmungava Glorin, andando de um lado para outro. – Isso significa uma coisa! Esse é o momento para nós atacarmos, e destruirmos todos eles enquanto estão fracos!

_ Boa idéia capitão! Mas como faremos isso? – perguntou Squall.

_ Bem, você e o Nailo encontraram um castelo, no qual terminavam os rastros dos mortos-vivos! Vamos até esse castelo! Lá nós os destruiremos! – continuou Glorin.

_ Eu sei que castelo é esse! Ele é da época da fundação de Tollon! Um lorde recebeu as terras ao redor dele e o construiu há muito tempo atrás! Parece que todos que moravam nele morreram, mas não sei de que maneira! – exclamou Torkel.

_ Está decidido! Vamos entrar neste castelo! Arrumem seu equipamento, vamos partir imediatamente! – bradou Glorin.

Os heróis começaram a arrumar suas coisas rapidamente. Legolas e Nailo foram conversar com Velta, para pedir a ela algumas poções mágicas para ajudá-los em sua jornada. A misteriosa mulher prometeu ajudá-los com poções, mas desapareceu logo depois que Legolas e Nailo a deixaram. Procuraram pela mulher, mas não a encontraram mais. Como não podiam perder tempo, desistiram de encontrá-la e se aprontaram para partir.

Com tudo finalmente pronto, era a hora de partir para mais uma jornada de aventuras e perigos. Anix deixou Heart, seu familiar, sob os cuidados de Torkel. Nailo pediu ao homem que cuidasse de Relâmpago e Tentacute. Além disso, os cavalos também ficariam sob os cuidados dos moradores. Eles partiriam com apenas 3 cavalos, e os mandariam de volta para a vila assim que chegassem no castelo. Desta forma, os animais não correriam risco de vida ficando próximo ao covil dos mortos-vivos. Num cavalo iriam Glorin e Legolas, no outro Squall, Cloud e Anix. Por fim, Lucano e Nailo viajariam juntos no terceiro animal. Assim, na manhã de 13 de Lunaluz, kalag, o grupo de heróis aventureiros partiu rumo ao norte, em direção ao desconhecido, prontos para enfrentar os perigos que os esperavam no misterioso castelo.

abril 12, 2006

Capítulo 194 – A velha sombria

Capítulo 194 A velha sombria

Legolas e Lucano relataram a Glorin sobre o rapto do menino. As ordens do capitão foram: reunir toda a população da vila na maior e mais resistente casa e reforçar as portas e janelas do local para impedir a entrada dos mortos-vivos. Os dois saíram pelas ruas, chamando todas as pessoas com a ajuda de Norgar, e levaram todos para a casa de Torkel Sundagger, um homem de idade avançada, considerado como um líder local por sua sabedoria e bondade. Torkel vivia numa casa tão grande quanto a estalagem Urso Branco. Era o morador mais antigo da vila, presente ali quase desde a sua fundação. Tinha uma grande e resistente casa, e uma boa quantia em dinheiro também, fruto dos longos anos de trabalho na lavoura, que utilizava agora para se manter na aposentadoria. Torkel recebeu Legolas e os moradores de braços abertos, mostrando-se muito prestativo e gentil.

Enquanto isso, Anix batia na porta de uma pequena casa no fim da vila, já quase dentro da plantação. Era uma casa pequena de formato circular, feita de madeira rústica e mal acabada, telhado de madeira e palha. Após bater, Anix esperou alguns segundos até alguém responder de lá de dentro.

_ Quem ééééééééééé??? – perguntou uma voz aguda e estridente.

_ Sou eu! – respondeu Anix com firmeza

­_ Eu? Não pode ser eu! Eu estou aqui! Como eu posso estar ai fora se eu estou aqui dentro? – continuou a voz.

_ Eu sou Anix senhora! Sou do exército de Tollon! Gostaria de conversar com a senhora! – Anix desfez o mal entendido.

_ Ah sim, Anix, do exército de Tollon! Sabia que não era eu ai fora! Já vou abrir, um momentinho! – respondeu a mulher.

A porta se abriu, revelando uma mulher de idade bastante avançada. Tinha a mesma altura de um anão, embora fosse uma humana. Era corcunda e vestia um vestido de chita esfarrapado. Tinha um grande nariz, meio torto para a esquerda, e seu rosto trazia, além das rugas, várias verrugas purulentas. A mulher se apoiava numa bengala torta de madeira para andar. Não tinha o olho esquerdo e mantinha suas pálpebras sempre fechadas sobre a cavidade ocular vazia. Ela olhou para o mago com o olho que lhe restava e, com um gesto, o convidou a entrar.

Anix deu um passo em direção à porta, e foi surpreendido por uma dezena de gatos magros e sujos que passaram correndo por entre suas pernas. Heart, seu falcão, alçou vôo, fugindo do alcance dos felinos. Refeito do susto, o elfo entrou na choupana e a mulher fechou a porta logo em seguida. Sentaram-se um de frente para o outro. Anix sobre a cama rústica da mulher. Ela, em uma velha cadeira de balanço com uma das pernas já por quebrar. O ambiente era sombrio e assustador. Pendurados pelo teto havia morcegos empalhados, ossos, colares de contas e dentes de animais, ervas estranhas. O cheiro de mofo imperava, soberano.

_ E então, Anix! Sobre o que veio conversar? – Velta sorriu para Anix, exibindo seus dentes podres e amarelados, enquanto acariciava um gato deitado sobre seu colo, a quem ela carinhosamente tratava por Satanás.

_ A senhora viu os mortos-vivos ontem à noite? Pode me dizer alguma coisa sobre eles? – perguntou Anix.

_ Sim, eu os vi! Mas não sei muita coisa sobre eles! A não ser que eles não são mortos-vivos comuns! – respondeu a mulher pausadamente.

_ E eles podem estar sendo controlados por alguém? – continuou o mago.

_ Sim, alguém deve estar controlando-os! Mas eu não sei quem seria! Talvez um vampiro, talvez um lobisomem! – prosseguiu Velta.

­_ Eu vi uma criatura ontem à noite, uivando sobre um telhado! Ele tinha olhos vermelhos e parecia um cão quase tão grande quanto um cavalo! Eu tenho um desenho aqui feito por mim! Não está muito bem feito, mas deve dar uma noção do que eu estou falando! Por favor diga-me se a senhora conhece este animal! – pediu o mago educadamente, desenrolando um pergaminho que trazia consigo.

_ Pode ser um Mastim de Thyatis! Um cão dos infernos, que cospe fogo! Uma criatura muito maligna! Deve tomar muito cuidado com ele, meu jovem! – disse a velha.

_ Diga-me uma coisa senhora! Não tem medo de ficar aqui sozinha? Não tem medo que eles a peguem? – perguntou Anix.

_ Nããão! Por que eu teria? Já sou uma velha, tenho mais de cem anos! O que eles podem me fazer? Me matar? Eu já estou no fim da vida mesmo! – respondeu a mulher com um sorriso.

_ Desculpe-me! – sorriu novamente a mulher, ao se ouvir um som flatulento.

_ A senhora é a curandeira daqui, certo? O que a senhora sabe fazer? – perguntou Anix.

_ Faço alguns remédios com minhas ervas, umas preces, e curo as pessoas! – respondeu Velta.

_ E por que a senhora tem esses gatos? – perguntou o elfo.

_ E por que você tem aquele pássaro? Eu gosto dos gatos, você do seu pássaro, não vejo problema nisso! – respondeu Velta com arrogância.

_ Está certo! Bom, eu acho que não seria prudente a senhora ficar aqui sozinha, isolada da vila! Os mortos podem voltar e fazer-lhe mal! – afirmou Anix.

_ Não se preocupe, eu já vivi bastante, nada do que eles podem fazer me assusta! – Velta parecia muito tranqüila, mesmo com a ameaça dos zumbis.

_ A senhora fica se gabando que já viveu bastante, mas eu sou muito mais velho que a senhora!­ – disse o mago, em tom irônico.

_ Sim, afinal você é um elfo! É mais velho, porém não é mais sábio! Além do mais, será que você viverá tanto quanto eu para os padrões élficos? – retrucou a mulher.

_ Claro que sim! – Anix estufou o peito, orgulhoso da longevidade de sua raça, e respondeu, como se desafiasse a velha.

_ Eu não teria tanta certeza disso! Vejo um futuro sombrio para você! Você atrai a desgraça! Vejo morte em seu caminho! – Velta falava lentamente, como se lamentasse pelo futuro de Anix. Firmou o olhar em sua direção e fechou o olho direito, abrindo as pálpebras esquerdas, onde não havia nada além de um buraco.

Anix olhou para o buraco no olho da mulher e sentiu algo estranho. Foi tomado por uma estranha dor, uma sensação que incomodava. Mesmo assim, não conseguia desviar o olhar, sentia-se atraído por aquilo. Anix não podia parar de olhar para aquela cavidade ocular. Era algo estranho e místico. Anix sentia-se enfeitiçado. Para ele, aquele buraco no rosto da mulher era como se fosse um céu negro, cheio de estrelas brilhantes, girando como uma galáxia. Somente quando a mulher fechou aquele olho bizarro e diabólico é que Anix conseguiu voltar a si. A mulher jogou seu gato, Satanás, em no colo de Anix. O animal olhou para o mago e saiu correndo, apavorado, como que confirmando as afirmações da mulher. Ela continuou.

_ Vejo um futuro de dor e glória para você, e para seus amigos! Mas, bem, chega de conversar! Já é hora de você voltar para seus amigos! Afinal,vocês têm uma missão a cumprir! – disse a mulher, já voltando a sorrir maliciosamente, enquanto conduzia Anix até a porta.

_ Espere ai! De que a senhora está falando? Que missão é essa? E que futuro é esse, o que a senhora viu no meu futuro? Tem a ver com minha descendência dracônica? – perguntava Anix, transtornado.

_ Em breve você descobrirá! Adeus! – Velta acenou para Anix e fechou a porta, deixando-o do lado de fora, confuso.

Anix estava realmente transtornado com as palavras daquela estranha mulher. Temia que ela tivesse razão no que dizia e temia que suas palavras tivessem alguma coisa a ver com as previsões de Enola. Anix estava assustado, mas mesmo assim não se entregou ao medo. Subiu em seu cavalo e retornou para a estalagem. Ao menos numa coisa a mulher tinha razão. Ele tinha uma missão a cumprir. Ele e seus amigos tinham que ajudar as pessoas daquela vila a se defender dos mortos-vivos.

Capítulo 193 – Rapto

Capítulo 193 Rapto

Enquanto isso, na vila de Carvalho Quebrado, Anix e os faziam suas próprias investigações. Legolas tratou de levar o menino resgatado na noite anterior para seus pais, enquanto seus amigos se preparavam.

O arqueiro saiu com o garoto, já mais calmo, e o levou para a casa que ficava atrás da taverna, onde residia a família Morfik. Os pais do menino, Ordin e Teela Morfik, receberam seu filho Sammy emocionados. Agradeceram muito a Legolas por ter resgatado seu adorado filho. Legolas, com ar arrogante, ralhou com os dois, advertindo-os para que tomassem conta melhor do garoto. O casal agradeceu novamente e pediu desculpas ao arqueiro pelo transtorno causado. Legolas deixou a criança sob os cuidados de seus pais, e retornou para a estalagem.

Enquanto isso, na estalagem, Anix e Lucano dedicavam seu tempo a preparar as magias que usariam no dia que começava. Sendo um mago, Anix era obrigado a passar cerca de uma hora todos os dias estudando seu tomo de magias, memorizando os feitiços, para que pudessem ser utilizados quando necessários apenas com a pronúncia de algumas poucas palavras para finalizar a conjuração. Lucano já não necessitava disso. Sendo um clérigo, tudo o que precisava fazer era orar para sua deusa, agradecendo pelas bênçãos concedidas e suplicando que ela lhe concedesse o poder para utilizar as magias escolhidas. Entretanto, Anix se surpreendeu ao ver Lucano terminar suas orações e pegar um livro parecido com seu grimório na mochila. Então ele se deu conta, Lucano também estava estudando as magias arcanas. O clérigo estava se tornando um mago também. Entusiasmado com a idéia de ter mais um companheiro mago, Anix se dispôs a ajudar Lucano em seu aprendizado, e ofereceu-lhe o grimório de Isaulas emprestado para que, assim como ele, Lucano também pudesse ter acesso aos conhecimentos mágicos do elfo morto por Escamas da Noite. Quando terminaram os estudos, os dois foram para a rua, investigar, como Glorin havia ordenado. Além disso, Anix desejava encontrar algum curandeiro que pudesse fornecer cura mágica ao grupo, poupando assim as magias de Lucano. Perguntou a Norgar, o estalajadeiro, que lhe indicou uma casa, no extremo nordeste da vila, onde vivia Velta Limine, a curandeira local.

Ao saírem, os dois deram de cara com Legolas, que voltava da casa dos Morfik. Cumprimentaram-se rapidamente, e estavam prontos a seguirem seus caminhos quando o som de um grito de mulher os interrompeu. Alguém gritava, de forma desesperada não muito longe dali. O som parou a vila. As pessoas, que só agora começavam a sair de suas casas, fugiram apressadas, temendo ser um novo ataque. Os três heróis montaram em seus cavalos e seguiram rapidamente na direção do som.

Chegaram a um casebre, já no limite oeste do vilarejo, com as portas abertas, como se tivesse sido invadido. Os três entraram de armas em punho, preparados para o combate. Vasculharam cada canto da casa, até que chegaram a um quarto, onde uma elfa chorava aflita, enquanto dava socos no peito de um elfo que tentava confortá-la.

_ O que está acontecendo aqui? Por que essa gritaria? – perguntaram os heróis, com os olhos percorrendo rapidamente o cômodo em busca de ameaças.

_ Nosso filho! Levaram nosso filhinho!!! – respondeu o elfo com uma voz melancólica.

_ Quem o levou? Pra onde? – perguntou Anix.

_ Foram os mortos! – respondeu o elfo, soltando o pranto.

_ Ah! Droga! E por que vocês deixaram ele sair? Não sabiam que era perigoso? – gritou Legolas, culpando o casal pela própria desgraça.

_ Mas nós não deixamos! Ele estava bem aqui ontem à noite! Agora pela manhã quando vim ver se estava tudo bem com ele, encontrei a janela arrombada! – justificou o homem, com lamúria.

Os heróis olharam na direção da janela, e viram que ela estava toda quebrada. Os pedaços se espalhavam por cima do colchão de palha da cama, deixando evidente que ela havia sido arrombada de fora para dentro. Anix e Lucano se entreolharam, sensibilizados com a tristeza do casal. Legolas, entretanto, continuava irritado. Parecia que o fato de pertencer ao exército tinha lhe subido à cabeça.

_ Mas que droga! Isso que dá vocês viverem aqui, quase no meio do mato, afastados do centro da vila! – reclamou Legolas – Agora nós é que vamos ter que resgatar esse garoto!

Legolas saiu da casa, irritado, e foi até a estalagem para comunicar ao capitão do rapto do menino. Enquanto isso, Anix e Lucano tentavam obter mais detalhes sobre o caso e confortar a família.

Seus nomes eram Anmil e Lívia Zaian. O garoto raptado, Nolin, era um jovem elfo de apenas doze anos, pequeno e magro. Tinha um cabelo azulado cortado na altura das orelhas, e vestia roupas verdes quando fora visto pela última vez.

Anix partiu para procurar a tal curandeira da vila, deixando o casal sob os cuidados de Lucano. O clérigo procurou dar paz aos corações dos dois, usando toda sua sabedoria e os ensinamentos de sua deusa para tal. Ao descobrirem que Lucano era um representante de Glórien, os dois se ajoelharam, entregues às lágrimas, e imploraram que o sacerdote salvasse a vida de seu pobre menino. Encabulado, Lucano prometeu fazer todo o possível para salvar o menino, e saiu, indo em busca de seu capitão, assim como Legolas.

abril 11, 2006

Capítulo 192 – Na trilha dos mortos

Capítulo 192 Na trilha dos mortos

Enquanto todos dormiam, para repor as energias perdidas naquela exaustiva batalha, o capitão Glorin e Nailo passaram a noite acordados, jogando baralho para passar o tempo e impedir que o sono e o cansaço os abatessem. Por volta das quatro horas da manhã Legolas acordou para trocar o turno de vigia com seu capitão, mas, o anão recusou-se a dormir e permaneceu de vigia até o nascer do sol.

A manhã do dia 13 de Lunaluz começou com nuvens pesadas cobrindo o céu e anunciando a possibilidade de chuva. Os heróis se levantaram assim que o sol surgiu, desceram para a taverna para se alimentar, e se preparar para o dia que começava.

_ Bem rapazes! Agora que já amanheceu eu vou descansar! Vocês cuidarão de tudo enquanto eu durmo! Tentem investigar e descobrir tudo que puderem sobre esses mortos-vivos! E vejam se está tudo bem com os moradores! Acordem-me na hora do almoço! – disse Glorin aos soldados, se espreguiçando.

_ Capitão, eu não vou dormir! Quero investigar também, vou seguir as pegadas dos zumbis! – disse Nailo, já a caminho da porta.

_ Eu sabia que você ia dizer isso! Faça como quiser então! – resmungou Glorin

_ Nailo, eu vou com você! Capitão, eu vou procurar pelo cemitério da cidade! Acho que os mortos devem vir de lá! – disse Squall, juntando seu equipamento e indo atrás do ranger.

_ Está certo, mas tome cuidado! – concluiu o anão entre um bocejo e outro.

Os dois aventureiros saíram da estalagem, deixando seus amigos para trás. Montaram em seus cavalos e rumaram para o norte da vila, seguindo a pista dos zumbis. Abandonaram Carvalho Quebrado, cruzando o pequeno riacho através de uma rústica ponte de madeira em arco. Passaram entre os campos cultivados da vila e seus pomares, até que finalmente penetraram na floresta. Uma mata extremamente fechada composta por pinheiros, de variados tipos e tamanhos, e alguns carvalhos esparsos. Já no início da mata, com o chão ainda coberto de neve, os dois avistaram dois morros altos, cada um de um lado da pequena trilha na qual estavam. No da direita havia uma caverna baixa e escura que Nailo descartou como esconderijo dos zumbis. Subiu no morro da esquerda, sobre o qual havia uma enorme rocha plana. De lá de cima, era possível ver quase todas as casas de Carvalho Quebrado. O orvalho congelado misturado ao musgo sobre a pedra, a transformava num piso traiçoeiro e escorregadio.

Nailo desceu do mirante, e os dois continuaram seguindo o caminho estreito entre as árvores. A trilha seguia para o norte e depois virava para o oeste, subindo uma pequena colina. Após alguns metros, a trilha se dividia em duas, seguindo para a esquerda através de um arco formado entre as árvores, e para a direita, continuando mais estreita e esburacada, como se fosse uma trilha há muito abandonada.

Os dois seguiram pelo caminho da esquerda, e deram de cara com o cemitério local. Vasculharam cada uma das cerca de cinqüenta lápides de pedra que se alinhavam deforma irregular sobre o gramado do solo. Não encontraram ali nenhum sinal de violação, nenhuma cova aberta, nenhum buraco, nada. Retornaram e seguiram desta vez pela estrada velha, onde Nailo conseguiu identificar os rastros da horda de mortos-vivos. Temerosos, os dois resolveram usar os olhos de Cloud para localizar possíveis inimigos que estivessem espreitando naquela mata.

O falcão, familiar de Squall, voou acima das copas das árvores e começou a fazer o reconhecimento do local, relatando tudo o que via mentalmente para seu mestre. Lá do alto, Cloud tinha uma visão perfeita da vila, do cemitério e até da estrada que levava até Follen. Não havia nenhuma criatura próxima que pudesse oferecer perigo aos dois aventureiros. Mas havia algo de estranho. Cloud viu uma casa muito grande, e distante, ao norte dali. Squall ordenou que seu familiar voasse na direção da casa, e assim ele fez. O pássaro voou para o norte, sumindo da vista de Squall, até que os dois perderam o contato mental que possuíam. Squall não sabia onde Cloud estava, nem seu estado. Sabia apenas que ele estava vivo.

Sem hesitar, os dois cavalgaram rápido pela trilha, que se estreitava cada ver mais, sendo coberta pela vegetação rasteira e pelas árvores, formando um túnel verde e muito escuro. Cavalgaram em passo acelerado naquele solo acidentado por quase meia hora, até que finalmente Squall conseguiu fazer contato com seu amigo novamente. Os dois já tinham se afastado quase dois quilômetros de Carvalho Quebrado. Cloud informava Squall sobre o que via. Uma casa muito grande com torres, feira de pedras e cercada por muros muito altos. Um castelo. Um castelo isolado de tudo, no meio da floresta. Poderia estar abandonado, mas uma ovelha solitária que pastava ao redor da construção, foi vista por Cloud, revelando que deveria haver alguém morando ali. Talvez o criador dos mortos-vivos. Talvez mais uma vítima deles.

Nailo e Squall continuaram seu caminho por mais meia hora, até que finalmente avistaram o tal castelo. Era uma construção pequena, se comparada aos palácios das grandes cidades, onde habitavam os reis de Arton, mas mesmo assim era um castelo grande e majestoso. Ficava numa depressão cercada por árvores muito altas, que deixavam o ambiente escuro e úmido. Era cercado por muralhas de doze metros de altura, com uma torre em cada canto nas quais podia se ver várias seteiras. Uma outra torre sem janelas, ainda mais alta que as outras, se elevava a partir do prédio principal do castelo. Um campo gramado separava a construção da floresta. A relva alta, e o mórbido silêncio que imperava no lugar, davam a impressão de que o lugar estivesse abandonado. Mas a ovelha vista por Cloud, momentos antes, bem como os rastros deixados pelos zumbis, que terminavam diante da porta do castelo, não deixavam dúvidas. Alguém vivia ali dentro.

Squall desceu do cavalo, e caminhou vagarosamente até o castelo, chamando Cloud que pousou suavemente em seu ombro. Enquanto isso, Nailo aguardava a distância, com seu arco preparado para protegê-lo de qualquer ameaça. O feiticeiro parou diante do imenso portão de madeira, tentando olhar através de alguma fresta para ver o que estava atrás dele. Não conseguiu. Resolveu então usar sua magia para tentar localizar os mortos-vivos. Squall se concentrou e, com a mão estendida, começou a analisar a construção. Não sentiu nenhuma aura mágica, nada que pudesse revelar a presença dos zumbis ou outro tipo de perigos. Retornou então para a borda da mata, onde Nailo o aguardava.

Então, os dois foram surpreendidos enquanto conversavam. Ouviram passos ao lado deles, tão próximos, que seria impossível se esquivar de um ataque da criatura. Quando se viraram, viram uma pequena ovelha que caminhava na direção dos dois aventureiros.

Refeitos do susto, os dois voltaram sua atenção para a ovelha. Nailo já estava se aproximando do singelo animal, quando algo de muito estranho aconteceu. O maxilar inferior, e uma das orelhas da ovelha caíram no chão. Estava podre. Era uma ovelha morta-viva. Nailo e Squall ficaram horrorizados com a cena. O ranger disparou uma flecha no animal. Mesmo ferida, a ovelha continuava avançando na sua direção. Ele então atacou novamente. Uma, duas, três vezes, até que a ovelha finalmente caiu no chão, com o corpo todo perfurado. Mesmo assim, após tantos ataques, que lhe arrancaram uma perna e um dos olhos, o animal putrefato continuava rastejando na direção dos dois, como se quisesse comê-los.

Assustados, os dois começaram a chutar e golpear o animal com suas espadas, até que ele finalmente se calou. Nailo retirou e enterrou as flechas no solo, para não levantar suspeitas. Os dois montaram e partiram de volta para a vila. Antes de saírem, Squall deu um grito em direção ao castelo, para ver se alguma criatura sairia de lá. Ao invés disso, a voz do feiticeiro apenas chamou a atenção de mais ovelhas mortas vivas, que passaram a persegui-lo e a Nailo. Os dois esporearam os cavalos e partiram em disparada, rumo a Carvalho Quebrado, para contar aos seus amigos a sua estranha descoberta.

Capítulo 191 – A noite dos mortos-vivos

Capítulo 191 A noite dos mortos-vivos

A porta foi fechada, deixando a multidão de mortos do lado de fora da estalagem. A ação de resgate executada pelos heróis, foi suficiente para chamar a atenção de todo o bando de zumbis para a estalagem. Em pouco tempo, um exército de criaturas das trevas estava diante da taverna, tentando invadi-la a socos e pontapés.

_ Vamos lá rapazes! Bloqueiem as portas e janelas com as mesas e cadeiras! Depois disso vamos todos para o segundo andar! Lá é mais seguro! – gritou Glorin, exaltado.

_ Capitão! E o garoto, o que eu faço com ele? – perguntou Anix.

_ Deixe-o com a família de Norgar! Agora vamos depressa para cima! – respondeu o anão, já galgando os degraus da escada, rumo ao segundo andar.

Squall, Lucano e Anix o acompanharam, mas Legolas e Nailo não.

_ Capitão, eu vou tentar acalmar os cavalos!!! – gritou Legolas, que andava de um lado para outro com Rassufel, tentando tranqüilizar o animal. Todos os cavalos estavam agitados com toda aquela barulheira produzida pelos mortos. Seus gemidos agonizantes, o rastejar de seus pés putrefatos, as batidas secas dos pés e das mãos dos esqueletos na varanda e nas paredes da estalagem, tudo se juntava para criar um clima de pavor nos animais e nos heróis.

_ Eu também não vou subir! É melhor ficar aqui para combatê-los, caso eles consigam entrar! Ficar lá em cima é perda de tempo! – retrucou Nailo, ignorando as ordens do capitão.

_ Façam como quiserem então! – respondeu Glorin. O anão tinha uma expressão séria. Sua voz era rouca e baixa, e demonstrava toda a insatisfação de Glorin com a insubordinação dos dois elfos. O anão se virou e subiu a escada, decidido a deixá-los para trás.

_ Depressa, vamos para as janelas! Vamos atacá-los daqui de cima! Squall, use suas magias para atingi-los daqui de cima! Anix, deixe o garoto com Norgar e venha ajudar com suas magias também! Lucano, se você não souber usar magias, use suas flechas para detê-los! Temos que mantê-los afastados da estalagem até o sol nascer! – gritava Glorin, avançando pelo corredor da estalagem.

_ Capitão! Quanto falta pra isso? Pro sol nascer? – perguntou Squall, entrando num quarto ao lado do quarto em que Glorin entrara. Lucano já corria para o fundo do corredor, posicionando-se diante de uma janela que dava para um telhado anexo logo abaixo dela.

_ Faltam ainda umas dez horas! Que os deuses nos ajudem! – respondeu o capitão, já a postos na janela.

Lá fora, uma horda gigantesca de cadáveres animados ocupava a rua principal da vila e se aglomerava em frente à estalagem. O cheiro de carne podre preenchia o ar, chegando às narinas dos que estavam no andar de cima. Os mortos se atiravam com violência contra as portas e janelas da estalagem, e até mesmo contra as paredes. Seus gemidos e gritos de agonia aterrorizavam a todos, deixando evidente o sofrimento que devia ser estar morto e vivo ao mesmo tempo.

Da janela, Glorin disparava virotes com uma pesada besta de madeira, alvejando os zumbis e derrubando-os, um pó um. No quarto ao lado, Squall lançava suas bolas de fogo, incinerando os cadáveres que caminhavam, criando clareiras no meio da multidão que eram rapidamente preenchidas por novos inimigos. Para cada criatura vencida, duas novas surgiam para tomar seu lugar. Era uma batalha injusta. Lucano estava vigiando a janela do corredor. Com suas flechas, o clérigo impedia que os poucos zumbis que davam a volta na casa conseguissem escalar o barracão abaixo dele e chegar até a janela do segundo andar.

Anix chegou para ajudar seus companheiros, após deixar o garoto resgatado em segurança na companhia do estalajadeiro e sua família. O mago entrou num dos quartos que davam para a frente do estabelecimento, indo até a janela e pôs-se a conjurar uma magia. Squall arregalou os olhos, assustado, pois já conhecia aquelas palavras e seus efeitos. Então, chamas brotaram magicamente do chão, sob os pés dos mortos-vivos, formando uma linha com quase cinqüenta metros de comprimento, diante da taverna. As chamas se ergueram com violência, atingindo os seis metros de altura, e consumindo os mortos-vivos em seu caminho com sua fúria.

A enorme muralha de fogo destruiu muitos inimigos e retardou os que restaram. Os mortos eram obrigados agora a dar a volta por trás da barreira para poder chegar até a estalagem. Squall e Glorin continuaram atacando sem piedade, os que estavam mais próximos, enquanto Anix mantinha os demais afastados com sua magia. Durante algum tempo a situação se manteve tranqüila, até o momento em que os heróis ouviram o barulho das janelas no andar de baixo sendo quebradas.

_ Squall, continue atacando! Anix mantenha essa magia enquanto puder! Eu vou lá pra baixo! – Glorin, atraído pelo som de vidros sendo estilhaçados, deixou as ordens para seus subordinados e correu para baixo.

O anão se espremeu na escada, passando ao lado dos cavalos que subiam apavorados. Pegou seu machado de guerra e correu até uma das janelas, por onde os mortos-vivos se espremiam para tentar entrar na taverna.

_ Não fiquem ai parados! Ataquem! – gritou Glorin, enquanto a lâmina de seu machado arrancava pedaços dos mortos, formando uma pilha de carne podre sob a janela.

Legolas sacou seu arco e começou a disparar na direção das outras janelas arrombadas. Nailo atacava com sua espada, cortando os cadáveres que penetravam pela janela.

_ Minhas magias estão acabando!!! – gritou Squall.

_ Estou quase sem flechas!!! – gritou Lucano.

_ Capitão! Não vou conseguir manter a magia por muito mais tempo! – gritou Anix.

A situação se complicava. As magias e flechas já se esgotavam, mas os mortos-vivos não paravam de avançar. Lucano enfrentava problemas tentando defender a janela que ocupava. Como a frente da estalagem estava bloqueada pela muralha de chamas de Anix, os zumbis que dava a volta encontravam o telhado de um pequeno depósito de ferramentas, e tentavam subir por ele para chegar até onde o clérigo estava. Suas flechas e suas magias já não eram capazes de dar conta de tantos inimigos.

Para auxiliá-los, Nailo pegou todo o óleo que tinha e começou a encher os frascos vazios de poções que possuía. Fechou os vidros com pedaços de pano e chamou por Squall, enquanto Legolas lhe dava cobertura. O feiticeiro desceu correndo, pegou os frascos e subiu de volta para continuar os ataques. Squall jogou sua aljava para Lucano e começou a acender os panos dos frascos que trazia consigo. Todos acesos, o feiticeiro passou então a arremessá-los sobre os mortos-vivos que andavam na rua. Com um arremesso, Squall conseguiu repelir os mortos que subiam no telhado protegido por Lucano. A palha presente sobre a pequena cobertura de madeira se incendiou, afugentando os mortos por um tempo.

Anix se esforçava para manter a concentração e continuar alimentando as chamas de sua muralha com sua energia. Mas o som dos gemidos e gritos dos mortos, bem como os uivos aterrorizantes dos vultos negros que corriam pela cidade, impediam-no de se concentrar totalmente.

Lá embaixo, Glorin, Nailo e Legolas travavam uma feroz batalha, para impedir que os zumbis invadissem a casa. Pedaços de carne podre voavam por todos os lados, espalhando o odor dos mortos pelo ar. Mas, por mais bizarra que a situação já fosse, algo de muito estranho aconteceu. Uma mulher morta-viva tentou entrar na estalagem por uma janela. Com sua espada, Nailo cortou-lhe ao meio. A parte de cima do cadáver caiu dentro da estalagem, e continuava a se mexer. Pelas experiências anteriores com mortos-vivos, Nailo sabia que aquele ferimento era suficiente grande para eliminar um zumbi daquele porte. Mas, a mulher continuava a se mexer, rastejando na direção de Nailo, gemendo e suspirando, como se desejasse comê-lo. Nailo a destruiu completamente com golpes de espada e, enquanto continuava a lutar, olhou para Glorin.

O anão lutava bravamente com seu machado, golpeando simultaneamente os invasores em duas janelas paralelas. Pilhas de pedaços de cadáveres se formaram embaixo das janelas defendidas pelo guerreiro. Mas, mesmo aos pedaços, os monstros continuavam avançando. Cabeças decepadas continuavam com seus murmúrios tenebrosos, enquanto que as mãos cortadas dos zumbis rastejavam pelo chão em busca de um alvo para agarrar.

Algumas dessas mãos agarraram as pernas de Glorin, derrubando-o no chão. Nailo correu para ajudar o capitão, arrancando de suas pernas as mãos que estavam parcialmente congeladas.

Mesmo caído, Glorin continuava a atacar, demonstrando todo o seu poder. Deitado no chão, enquanto Nailo corria para ajudá-lo, Glorin fechou os olhos por um instante e se concentrou. Apontou a mão para a janela, onde uma verdadeira parede de carne se formava e soltou um grito furioso. Um raio branco saiu de sua mão, atingindo os mortos e congelando-os imediatamente. Glorin repetiu o ataque outras duas vezes, ganhando tempo até ele se levantar novamente.

_ Nailo, me ajude aqui! – ordenou o capitão.

Os dois soldados começaram a atacar na mesma janela, abrindo um espaço vazio no meio dos mortos-vivos. Glorin então colocou seu corpo pra fora, enquanto Nailo lhe dava cobertura, e, com um novo grito, fez com que uma violenta rajada de vento partisse de suas mãos e arrastasse os zumbis para longe da janela. Alguns deles atravessaram a muralha de fogo, sendo imediatamente carbonizados. Legolas ficou admirado com o poder de seu comandante, e se sentiu inspirado para lutar com mais afinco, como se estivesse sob os efeitos mágicos da música de seu amigo Sam Rael.

Mesmo assim, os mortos continuavam a avançar, e os heróis já demonstravam sinais de cansaço. Parecia apenas questão de tempo até que aqueles monstros invadissem a estalagem e os devorassem um a um. Então, eles ouviram um uivo. O uivo de um animal das trevas, um uivo ainda mais tenebroso e assustador do que os que eles já haviam ouvido antes.

Lucano olhou pela janela, e viu um vulto negro de uma besta quadrúpede correndo velozmente entre as casas. Anix e Squall olharam pelas janelas e viram também alguns vultos semelhantes. Então, os dois olharam para o norte, na direção do pequeno riacho que cortava a vila. Sobre o telhado de uma das casas distantes dali estava uma enorme fera. Era um monstro de quatro patas, quase tão grande quanto um cavalo, uivando como um lobo do alto do telhado da casa. A luz da lua tornava a cena ainda mais assustadora, mas não iluminava o suficiente para que pudessem ver os detalhes daquele monstro. O uivo da criatura ecoava por toda a vila, chamando a atenção de todos, inclusive dos zumbis. O exército de mortos-vivos interrompeu seu ataque e voltou sua atenção para a fera. Um a um, os zumbis começaram a se afastar e a seguir na direção da criatura. Squall e Anix a viram saltar do telhado e correr para além dos limites da cidade, seguida pelo exército de mortos-vivos e pelos outros animais que os acompanhavam. Os olhos vermelhos como fogo, bem como aquela pelagem escura, jamais sairiam das mentes dos dois irmãos. Os heróis suspiraram com alívio, agradecendo aos deuses por aquele fato, ainda que não entendessem o que acontecera ali.

_ Capitão, eu vou segui-los! – disse Nailo, aos berros, enquanto abria a porta da estalagem.

_ Não faça isso garoto! É perigoso, não vá se arriscar! – retrucou Glorin.

_ Estou indo! – Nailo ignorou novamente o capitão e saiu da taverna, falando de maneira desafiadora.

Glorin suspirou e balançou a cabeça negativamente. Quando viu que Nailo havia de fato saído, ignorando suas ordens novamente, se levantou.

_ Vamos lá Legolas, me ajude! Squall, Anix, Lucano! Desçam aqui! Temos que trancar as portas novamente! Vamos fechar tudo o mais rápido possível! Esqueçam do Nailo! Temos que garantir a segurança dos que estão na casa! – ordenou o capitão com pesar.

_ Sim capitão! Norgar, precisamos de madeira, pregos e martelos! – gritou Legolas.

_ No barracão de ferramentas, ao lado da casa! – respondeu com um grito o dono da estalagem.

Legolas e Anix correram para fora e foram até o barracão indicado. O teto do lugar ardia em chamas, devido ao óleo atirado por Squall para impedir a subida dos zumbis. Lucano abafava as chamas com um saco de pano, enquanto Legolas e Anix pegavam o material para lacrar a casa. Os dois correram para dentro e junto com os outros começaram a trabalhar, pregando tábuas nas janelas para impedir que fossem invadidas. Nailo chegou minutos depois, quando restava somente a porta a ser lacrada. O ranger retornou após ver para qual direção os mortos caminhavam.

_ Capitão! Eu vou pegar palha e colocar em volta da casa, para fazer uma barreira de fogo quando os mortos retornarem! – gritou Nailo ao entrar.

_ Está louco rapaz? Quer nos matar queimados e sufocados? – bradou Glorin.

_ Não capitão! Vou deixar o fogo longe da casa, apenas para afastas os mortos. Se eles voltarem, a gente acende a palha com flechas incendiárias! – explicou Nailo.

_ Está certo, faça como desejar então! – Glorin respondeu com descaso, dando de ombros e virando as costas para o ranger.

Nailo correu até a entrada da cidade, onde havia montes de feno e palha armazenados. Carregou os fardos com seus companheiros e criou uma barricada ao redor da estalagem. Todos entraram e fecharam a porta novamente, bloqueando-a com tábuas e mesas.

_ Bom pessoal! Vai ser uma longa noite! Não sabemos se e quando eles voltarão, mas temos que ficar atentos! Eu ficarei de guarda durante a noite! Enquanto isso vocês aproveitem para descansar! E fiquem preparados! Se acontecer alguma coisa, eu os chamarei! – disse glorin, com ar de cansado, recostando-se numa cadeira.

_ Eu também não vou dormir capitão! Vou ficar acordado! – anunciou Nailo.

_ Hunf! Vai ser uma longa noite! – pensou Glorin, contrariado.