abril 17, 2006

Capítulo 196 – Aranhas, o primeiro desafio

Capítulo 196 Aranhas, o primeiro desafio

O grupo cavalgava seguindo trilhas de caça estreitas, de difícil acesso, há muito abandonadas. Apesar de temerosos, todos estavam confiantes. Acreditavam que, com suas habilidades, conseguiriam destruir todos os mortos-vivos e seu líder, se é que existia um. Tinham também a certeza de que os aldeões estariam em segurança. Se Nailo tivesse rastreado corretamente as pegadas dos zumbis, então não haveria como eles chegarem até a vila sem passar pelos heróis. E se tentassem isso, seriam impedidos à força. Além disso, tinham deixado instruções claras para os camponeses fugirem a qualquer sinal de problemas e, caso o grupo não retornasse em três dias, todos os moradores deveriam abandonar a vila e rumar para o oeste, de encontro ao forte Rodick, e comunicar o ocorrido ao exército. Caso os heróis não sobrevivessem, mandariam o familiar de Squall retornar até Carvalho Quebrado e bicar três vezes o ombro de algum dos moradores, avisando que os heróis haviam fracassado. Entretanto, apesar de todas as precauções tomadas para um eventual fracasso do grupo, todos tinham a certeza de que tais instruções não seriam necessárias. Confiavam no seu destino, no seu futuro e em suas habilidades. Mas não tinham confiança total numa coisa. As previsões de Velta enchiam-nos de dúvidas, principalmente quanto a Glorin, que, segundo ela, era cercado por uma sombra negra de maldade.

Anix era o mais desconfiado quanto à verdadeira identidade de Glorin. Indagou o capitão diversas vezes, tentando saber o significado das palavras da velha vidente. O anão sempre desviava o assunto, dizendo que Velta não passava de uma maluca e que ele não sabia do que ela falava. Entretanto, seu semblante sério, cada vez que se tocava no assunto, deixava transparecer que ele escondia algo. Não convencido das palavras de seu superior, Anix usou sua magia para ler os pensamentos de Glorin.

_ O que será que existe neste castelo? Quem será que comanda esses mortos? Espero que não seja nenhum vampiro! E aquela velha maldita, será que ela sabe alguma coisa sobre Sejê? Não, não pode ser! E mesmo que ela saiba, não poderá fazer nada... – eram os pensamentos de Glorin.

_ Não se preocupe capitão! Não deve ser nenhum vampiro não! – disse Anix, em tom irônico ao anão.

_ Do que você está falando? – perguntou Glorin, espantado.

_ Você estava falando, pensando se seria um vampiro a controlar os mortos! Eu acho que não seja vampiro não! – respondeu Anix, encarando-o.

_ Estranho, não me lembro de ter dito nada! – comentou Glorin, confuso.

_ E não disse! Eu estava lendo seus pensamentos através da minha mágica! – disse Anix com firmeza, encarando-o como se o desafiasse.

_ Ora, seu rato! E quem deu permissão para você invadir meus pensamentos! Pare com isso já! – gritou Glorin.

_ Ninguém me deu permissão! Fiz isso porque estava desconfiado e confirmei minhas suspeitas! Não foi só sobre o vampiro que eu descobri! Você está nos escondendo algo! É melhor nos contar agora o que a visão da Velta significava e o que é essa tal de Sejê! – bradou Anix com um olhar inquisidor.

_ Ora! Eu não lhe devo satisfação da minha vida pessoal! Pare com essa besteira e não ouse voltar a invadir minha mente! Tenha santa paciência, tenho mais o que fazer do que ficar com essas besteiras! – respondeu Glorin, com descaso.

Anix parou seu cavalo. Squall ficou confuso com a atitude de seu irmão. Ele explicou que não confiava no anão, e que sabia que ele escondia alguma coisa muito grave. Enquanto Anix explicava a situação ao seu irmão, o grupo ia se distanciando deles.

_ Ei! O que aconteceu com vocês dois ai atrás? Vamos logo! – gritou Glorin, virando-se para trás.

_ Eu não vou com você! Não confio em você! Você está escondendo alguma coisa, e enquanto eu não souber o que é, não saio daqui! – Respondeu Anix aos berros, enquanto cruzava os braços.

_ Ótimo, então fique ai! Eu não sei quanto a vocês, mas eu vou até um castelo matar uns mortos e salvar algumas pessoas raptadas! Façam o que preferirem! – Glorin sacudiu os ombros e respondeu com displicência, como se não se importasse com os dois.

Anix manteve sua decisão, enquanto via os outros dois cavalos se afastando lentamente até sumirem após uma curva. Esperou mais um instante, mas ninguém, nem mesmo Legolas, Nailo ou Lucano voltaram, muito menos o capitão. Sem ter outra opção, o mago esporeou o cavalo e correu para alcançar os demais.

Assim, após pouco mais de 1 hora de viagem lenta e tensa, os heróis finalmente chegaram ao castelo. Silenciosamente, os jovens desmontaram e retiraram seus equipamentos dos cavalos. Nailo usou suas habilidades de ranger para falar magicamente com os cavalos, e mandou que retornassem para a vila, pelo mesmo caminho que vieram. Os animais partiram como ordenado, deixando os aventureiros à própria sorte.

Nailo procurou pelo corpo da ovelha destruída por ele e Squall, mas não encontrou nenhum sinal do animal. Procurou pelo local onde tinha enterrado as flechas que usara na criatura, e elas estavam lá do mesmo jeito que ele as havia deixado na manhã anterior, revelando que possivelmente ninguém havia descoberto que a ovelha havia sido morta por suas mãos.

Caminharam então até o portão de entrada. Fizeram isso cautelosamente, para que não fossem notados pelos habitantes do castelo e para não ser surpreendidos por quem quer que estivesse escondido na floresta. Chegaram sem nenhum problema até a entrada, onde começaram a buscar uma maneira de entrar.

O portão era muito bem reforçado e não havia frestas por onde olhar ou introduzir um pé de cabra. Também não havia fechadura, nem um buraco para chave ou coisa parecida, indicando que o portão só podia ser fechado e aberto pelo lado de dentro. As muralhas ao redor tinham cerca de 12 metros de altura. Suas pedras se encaixavam perfeitamente, quase não deixando espaços para apoiar mãos e pés para uma escalada. Só havia duas opções claras para entrar: usar uma corda para escalar a muralha, ou arrombar o portão.

Rapidamente, os heróis ataram uma corda a um arpéu para tentar uma escalada. Lucano arremessou o gancho sobre a muralha uma, duas, três, quatro vezes, mas por algum motivo o arpéu não se fixava na muralha. Desistindo da idéia da escalada, Glorin golpeou o portão com seu machado. Mesmo com toda a força do capitão, a pesada porta de madeira sequer estremeceu.

Ousado e indisciplinado como sempre, Nailo ignorou seus companheiros, largou sua mochila no chão e agarrou a muralha com suas mãos. Pouco a pouco, o ranger foi subindo, galgando cada centímetro com dificuldade até que, cinco minutos depois, ele finalmente chegou até o alto da muralha. Nailo estava em um corredor de pedra, cercado por amuradas pelos dois flancos. Atrás dele estavam seus amigos. Na sua frente, o interior do castelo.

Era uma construção impressionante, possuía dois andares e uns 70 metros de comprimento. De onde estava Nailo podia ver as torres que cercavam o castelo e a muralha que as ligava. À sua esquerda havia um grande jardim, formado por árvores que impediam-no de ver o chão abaixo delas, que se estendia ao longo de todo o castelo. Logo à sua frente existiam dois telhados mais baixos do que o muro, e um corredor entre eles.

Sem perder tempo, Nailo tratou de prender a corda arremessada pelos companheiros, passando-a ao redor de um dos pontos elevados da muralha, e entendeu porque o arpéu não conseguia se fixar ao ser arremessado. A mureta era construída de forma a impedir que o gancho se prendesse a ela. Possuía uma inclinação e era completamente lisa, fazendo com que o arpéu escorregasse por ela até cair lá embaixo novamente.

Desta vez, entretanto, Nailo laçou a mureta e segurou a corda com força, pressionando-a para baixo e aumentando a tensão que prendia. Um a um os heróis finalmente chegaram ao topo da muralha.

_ E então rapazes! Temos dois caminhos! O que vocês sugerem? Esquerda ou direita? – indagou Glorin.

_ Que a moeda decida! – respondeu Nailo, lançando um tibar ao alto e se confundindo com coroa e não-coroa.

Legolas já caminhava para a esquerda, quando o ranger anunciou o controverso resultado da moeda: esquerda.

Todos seguiram o arqueiro, cautelosos e apreensivos. Legolas entrou na torre, retirando as teias que cobriam a entrada com a ponta de seu arco. A torre era uma construção de pedras de formato octogonal e com quase quinze metros de uma parede a outra. O chão de madeira estava todo sujo, coberto de pó, entulho, teias, dejetos e carcaças de pequenos animais mortos. À direita da entrada existia uma outra passagem que conduzia por cima da muralha até a outra torre no fundo do castelo. No extremo oposto à entrada, havia uma escada que descia em forma de caracol para o piso inferior. Era possível ver parte de um corpo, aparentemente humano, oculto na escada.

Legolas correu na direção do cadáver, com seu arco já pronto para atacar. Alguns passos atrás estava Nailo. O ranger viu seu amigo atravessar a câmara apressadamente e o seguiu. Quando estava no centro da construção, um estranho objeto caiu sobre ele. Era uma rede. Uma estranha e pegajosa rede branca, que o cobria da cabeça aos pés, impedindo-o de se mover. Nailo olhou para o alto, tentando descobrir de onde caíra aquela rede. Então Nailo viu uma das coisas que ele mais temia, aranhas. Aranhas monstruosas, gigantescas, despencaram do teto atacando os aventureiros. A maior delas, bem ao lado do indefeso Nailo.

Rapidamente Legolas se virou e lançou duas flechas numa das criaturas, matando-a congelada. Enquanto isso, os demais monstros atacavam seus amigos, ferindo Nailo, Anix e Squall.

Anix se afastou da aranha que o atacava, disparando dardos mágicos nela. Ao mesmo tempo, Glorin correu, esquivando-se entre os inimigos, para ajudar Nailo. Com uma poderosa machadada, o capitão quase eliminou a maior das aranhas, que atacava Nailo com suas peçonhas.

Squall lançou um jato de chamas, afastando a aranha que lhe atacava, enquanto Nailo recuava, fugindo da sua inimiga, para poder se livrar da teia que lhe prendia. Lucano girou a espada na mão, e cravou sua lâmina no corpo peludo da aranha ferida por Anix, exterminando-a. Legolas lançou suas flechas infalíveis na aranha maior, matando-a também.

Perto da porta, Anix recuava lentamente, enquanto disparava seus mísseis mágicos nas aranhas que o cercavam. Glorin correu e se colocou entre as duas criaturas. Girou seu machado, atingindo a que estava diante dele. A lâmina de madeira negra atravessou o corpo do aracnídeo e continuou sua trajetória a te atingir a aranha que estava atrás do anão. Glorin aproveitou o impulso dado pelo giro e atingiu com grande força a cabeça da aranha, decepando-a.

Com a última aranha morta, todos voltaram suas atenções para o teto, temendo um novo ataque. Felizmente, as únicas aranhas no teto eram pequenas e inofensivas.

Refeitos do susto, os heróis prosseguiram em sua jornada. Nailo aproveitou para curar suas feridas com a varinha mágica de Laura e Legolas jogou o cadáver para fora do castelo, através de umas das várias seteiras que se espalhavam pela torre, após se certificar que o defunto não portava nada de valor. Os heróis se organizaram em fila única novamente e prosseguiram.

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