abril 11, 2006

Capítulo 192 – Na trilha dos mortos

Capítulo 192 Na trilha dos mortos

Enquanto todos dormiam, para repor as energias perdidas naquela exaustiva batalha, o capitão Glorin e Nailo passaram a noite acordados, jogando baralho para passar o tempo e impedir que o sono e o cansaço os abatessem. Por volta das quatro horas da manhã Legolas acordou para trocar o turno de vigia com seu capitão, mas, o anão recusou-se a dormir e permaneceu de vigia até o nascer do sol.

A manhã do dia 13 de Lunaluz começou com nuvens pesadas cobrindo o céu e anunciando a possibilidade de chuva. Os heróis se levantaram assim que o sol surgiu, desceram para a taverna para se alimentar, e se preparar para o dia que começava.

_ Bem rapazes! Agora que já amanheceu eu vou descansar! Vocês cuidarão de tudo enquanto eu durmo! Tentem investigar e descobrir tudo que puderem sobre esses mortos-vivos! E vejam se está tudo bem com os moradores! Acordem-me na hora do almoço! – disse Glorin aos soldados, se espreguiçando.

_ Capitão, eu não vou dormir! Quero investigar também, vou seguir as pegadas dos zumbis! – disse Nailo, já a caminho da porta.

_ Eu sabia que você ia dizer isso! Faça como quiser então! – resmungou Glorin

_ Nailo, eu vou com você! Capitão, eu vou procurar pelo cemitério da cidade! Acho que os mortos devem vir de lá! – disse Squall, juntando seu equipamento e indo atrás do ranger.

_ Está certo, mas tome cuidado! – concluiu o anão entre um bocejo e outro.

Os dois aventureiros saíram da estalagem, deixando seus amigos para trás. Montaram em seus cavalos e rumaram para o norte da vila, seguindo a pista dos zumbis. Abandonaram Carvalho Quebrado, cruzando o pequeno riacho através de uma rústica ponte de madeira em arco. Passaram entre os campos cultivados da vila e seus pomares, até que finalmente penetraram na floresta. Uma mata extremamente fechada composta por pinheiros, de variados tipos e tamanhos, e alguns carvalhos esparsos. Já no início da mata, com o chão ainda coberto de neve, os dois avistaram dois morros altos, cada um de um lado da pequena trilha na qual estavam. No da direita havia uma caverna baixa e escura que Nailo descartou como esconderijo dos zumbis. Subiu no morro da esquerda, sobre o qual havia uma enorme rocha plana. De lá de cima, era possível ver quase todas as casas de Carvalho Quebrado. O orvalho congelado misturado ao musgo sobre a pedra, a transformava num piso traiçoeiro e escorregadio.

Nailo desceu do mirante, e os dois continuaram seguindo o caminho estreito entre as árvores. A trilha seguia para o norte e depois virava para o oeste, subindo uma pequena colina. Após alguns metros, a trilha se dividia em duas, seguindo para a esquerda através de um arco formado entre as árvores, e para a direita, continuando mais estreita e esburacada, como se fosse uma trilha há muito abandonada.

Os dois seguiram pelo caminho da esquerda, e deram de cara com o cemitério local. Vasculharam cada uma das cerca de cinqüenta lápides de pedra que se alinhavam deforma irregular sobre o gramado do solo. Não encontraram ali nenhum sinal de violação, nenhuma cova aberta, nenhum buraco, nada. Retornaram e seguiram desta vez pela estrada velha, onde Nailo conseguiu identificar os rastros da horda de mortos-vivos. Temerosos, os dois resolveram usar os olhos de Cloud para localizar possíveis inimigos que estivessem espreitando naquela mata.

O falcão, familiar de Squall, voou acima das copas das árvores e começou a fazer o reconhecimento do local, relatando tudo o que via mentalmente para seu mestre. Lá do alto, Cloud tinha uma visão perfeita da vila, do cemitério e até da estrada que levava até Follen. Não havia nenhuma criatura próxima que pudesse oferecer perigo aos dois aventureiros. Mas havia algo de estranho. Cloud viu uma casa muito grande, e distante, ao norte dali. Squall ordenou que seu familiar voasse na direção da casa, e assim ele fez. O pássaro voou para o norte, sumindo da vista de Squall, até que os dois perderam o contato mental que possuíam. Squall não sabia onde Cloud estava, nem seu estado. Sabia apenas que ele estava vivo.

Sem hesitar, os dois cavalgaram rápido pela trilha, que se estreitava cada ver mais, sendo coberta pela vegetação rasteira e pelas árvores, formando um túnel verde e muito escuro. Cavalgaram em passo acelerado naquele solo acidentado por quase meia hora, até que finalmente Squall conseguiu fazer contato com seu amigo novamente. Os dois já tinham se afastado quase dois quilômetros de Carvalho Quebrado. Cloud informava Squall sobre o que via. Uma casa muito grande com torres, feira de pedras e cercada por muros muito altos. Um castelo. Um castelo isolado de tudo, no meio da floresta. Poderia estar abandonado, mas uma ovelha solitária que pastava ao redor da construção, foi vista por Cloud, revelando que deveria haver alguém morando ali. Talvez o criador dos mortos-vivos. Talvez mais uma vítima deles.

Nailo e Squall continuaram seu caminho por mais meia hora, até que finalmente avistaram o tal castelo. Era uma construção pequena, se comparada aos palácios das grandes cidades, onde habitavam os reis de Arton, mas mesmo assim era um castelo grande e majestoso. Ficava numa depressão cercada por árvores muito altas, que deixavam o ambiente escuro e úmido. Era cercado por muralhas de doze metros de altura, com uma torre em cada canto nas quais podia se ver várias seteiras. Uma outra torre sem janelas, ainda mais alta que as outras, se elevava a partir do prédio principal do castelo. Um campo gramado separava a construção da floresta. A relva alta, e o mórbido silêncio que imperava no lugar, davam a impressão de que o lugar estivesse abandonado. Mas a ovelha vista por Cloud, momentos antes, bem como os rastros deixados pelos zumbis, que terminavam diante da porta do castelo, não deixavam dúvidas. Alguém vivia ali dentro.

Squall desceu do cavalo, e caminhou vagarosamente até o castelo, chamando Cloud que pousou suavemente em seu ombro. Enquanto isso, Nailo aguardava a distância, com seu arco preparado para protegê-lo de qualquer ameaça. O feiticeiro parou diante do imenso portão de madeira, tentando olhar através de alguma fresta para ver o que estava atrás dele. Não conseguiu. Resolveu então usar sua magia para tentar localizar os mortos-vivos. Squall se concentrou e, com a mão estendida, começou a analisar a construção. Não sentiu nenhuma aura mágica, nada que pudesse revelar a presença dos zumbis ou outro tipo de perigos. Retornou então para a borda da mata, onde Nailo o aguardava.

Então, os dois foram surpreendidos enquanto conversavam. Ouviram passos ao lado deles, tão próximos, que seria impossível se esquivar de um ataque da criatura. Quando se viraram, viram uma pequena ovelha que caminhava na direção dos dois aventureiros.

Refeitos do susto, os dois voltaram sua atenção para a ovelha. Nailo já estava se aproximando do singelo animal, quando algo de muito estranho aconteceu. O maxilar inferior, e uma das orelhas da ovelha caíram no chão. Estava podre. Era uma ovelha morta-viva. Nailo e Squall ficaram horrorizados com a cena. O ranger disparou uma flecha no animal. Mesmo ferida, a ovelha continuava avançando na sua direção. Ele então atacou novamente. Uma, duas, três vezes, até que a ovelha finalmente caiu no chão, com o corpo todo perfurado. Mesmo assim, após tantos ataques, que lhe arrancaram uma perna e um dos olhos, o animal putrefato continuava rastejando na direção dos dois, como se quisesse comê-los.

Assustados, os dois começaram a chutar e golpear o animal com suas espadas, até que ele finalmente se calou. Nailo retirou e enterrou as flechas no solo, para não levantar suspeitas. Os dois montaram e partiram de volta para a vila. Antes de saírem, Squall deu um grito em direção ao castelo, para ver se alguma criatura sairia de lá. Ao invés disso, a voz do feiticeiro apenas chamou a atenção de mais ovelhas mortas vivas, que passaram a persegui-lo e a Nailo. Os dois esporearam os cavalos e partiram em disparada, rumo a Carvalho Quebrado, para contar aos seus amigos a sua estranha descoberta.

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