agosto 31, 2006

Capítulo 225 – Uma carroça à beira da estrada

Capítulo 225 Uma carroça à beira da estrada

Enquanto isso, a quilômetros dali, no castelo, Squall e Glorin aguardavam pelo retorno dos companheiros. Os dois esperavam sentados sob a sombra das árvores, do lado de fora da fortaleza. Glorin observava a lâmina da espada elétrica de Dekyon, e Squall com sua curiosidade aguçada, atormentava o capitão perguntando sobre seu passado, sobre o que ele carregava em sua bolsa, sobre seus segredos. Glorin se esquivava e evitava falar sobre si mesmo. O anão repreendia o feiticeiro, recriminando sua curiosidade. Squall rebatia dizendo que, depois das estranhas declarações de Velta a respeito do anão, Squall não podia confiar totalmente nele enquanto fizesse todos aqueles segredos. Glorin sempre encontrava alguma justificativa para não falar de si mesmo, e quando não encontrava, escapava dizendo que seus assuntos pessoais não eram da conta de ninguém. Vez ou outra, o anão arranjava uma oportunidade para colocar em dúvida a masculinidade do elfo e a utilidade de sua raça. Assim eles passavam o tempo conversando e, apesar de todos os segredos do anão, os dois iam se conhecendo melhor. Então, a conversa foi subitamente interrompida.

_ Ouviu isso, Squall? – disse o anão, levantando-se de sobressalto com a espada em posição de ataque.

_ O que capitão? – perguntou o elfo, a princípio calmo.

_ Parece uma ovelha! Vamos ver! – Glorin correu em disparada, circundando a muralha de pedra.

_ Ovelha! Ah, não! Espera capitão! – murmurou o elfo, desta vez com a voz trêmula.

Os dois correram até os fundos do castelo. Glorin ia mais à frente e Squall bem a trás, assustado. Atrás do castelo havia uma grande clareira gramada, onde uma dezena de ovelhas pastava tranqüilamente. Glorin parou e começou a observá-las. Squall chegou logo em seguida e seu medo aumentou ao ver aqueles animais.

_ Veja, garoto! São os suprimentos do maldito que está criando esses mortos-vivos! Poderíamos acabar com todas elas e deixá-lo sem comida! – falou o anão em tom de brincadeira, tentando acalmar o companheiro.

_ Capitão! Acho que o senhor ainda não entendeu! Isso não é comida não! – respondeu o feiticeiro com hesitação. Glorin não entendia porque o elfo tremia tanto. Mas compreendeu quando uma das ovelhas notou a presença dos aventureiros e começou a caminhar na direção deles. O animal deu alguns passos na direção dos dois e, enquanto caminhava, um de seus olhos despencou da sua face e caiu no chão. O animal continuou andando, como se nada tivesse ocorrido. Era mais um morto-vivo.

_ Mas que droga! Essas ovelhas estão todas mortas! Vamos destruí-las, garoto! – gritou o anão, espantado ao ver a condição dos animais, e correu na direção das ovelhas brandindo sua espada eletrificada.

_ Ai não! De novo não! – suspirou o feiticeiro, soltando sua mochila improvisada no chão e sacando sua espada da bainha.

Glorin correu até o centro da clareira, e num golpe só degolou uma das ovelhas. O animal tombou no chão sem a cabeça, suas patas ainda se mexiam como se tentassem continuar caminhando. Os outros bichos começaram a se deslocar e a cercar o anão.

Squall correu e golpeou o animal que estava mais próximo dele, jogando-o no chão, também sem a cabeça. Outras duas ovelhas flanquearam o feiticeiro e o atacaram. A primeira cravou seus dentes na coxa do elfo e, ao tentar uma nova mordida, parte do maxilar da criatura se desprendeu e ficou presa à perna do conjurador. A segunda ovelha ciscou o chão com sua pata dianteira e investiu contra Squall, dando uma forte cabeçada nele. Squall perdeu o equilíbrio e por pouco não caiu no chão, mas continuou firme e lutando, apesar de estar muito assustado.

Glorin não teve a mesma sorte do feiticeiro. Estava cercado por seis ovelhas, que avançavam sedentas de sangue, enquanto partes de seus corpos apodrecidos despencavam no chão. A primeira veio pela direita, tentando derrubar o anão no chão. Glorin girou o corpo para o lado ao mesmo tempo em que desceu a lâmina da espada sobre o pescoço do animal decapitando-o. A segunda chegou pela esquerda pouco antes da primeira cair morta. Glorin deu um salto curto para trás e desferiu um forte golpe na cabeça da criatura. A Lâmina atravessou o crânio do animal e cortou-lhe o pescoço. A ovelha caiu já sem se mexer mais. O terceiro ataque veio pro trás do anão. Glorin girou o corpo rapidamente e apontou a espada para a cabeça do inimigo, cravando sua lâmina elétrica profundamente no crânio da ovelha. O corpo da criatura pendeu para o lado, já em vida, forçando a espada para baixo. Glorin apoiou o pé na cabeça do animal e puxou a espada, mas não a tempo de se defender do quarto ataque. Vindo pelo lado oposto, uma das ovelhas deu uma forte cabeçada no anão, que tropeçou num dos corpos no chão e caiu. As outras ovelhas aproveitaram a vantagem e conseguiram atacar o anão. Uma delas pisou na mão que portava a espada, impedindo que Glorin pudesse atacar novamente, e mordeu o seu ombro com violência. A outra ovelha cravou seus dentes no pescoço do anão, que esguichou uma grande quantidade de sangue, arrancando gritos de dor do anão. A ovelha que o derrubara, estava agora sobre o peito de Glorin, em cima do escudo que ele usava para se defender. Glorin estava totalmente desprotegido.

Squall, vendo a situação séria em que se encontrava seu capitão, resolveu ajudá-lo, mesmo estando também cercado de inimigos. Concentrou seu poder mágico e disparou seus raios de energia nos monstros que atacavam o capitão. Dois deles caíram mortos. O primeiro, que pisoteava a mão de Glorin, tombou, com parte de seu pescoço destruído pela explosão mágica. O segundo, que estava na esquerda do anão, teve o pescoço atravessado pelo dardo energético, era possível enxergar através do corpo do animal que caiu e não mais e mexeu. Restava apenas uma delas, a que estava sobre Glorin. O míssil mágico explodiu em sua face, destruindo parte do focinho do animal e espalhando pedaços de carne podre sobre o anão. A ovelha caiu sentada no chão com a força do impacto, deixando Glorin livre para atacar. Para ajudar ainda mais, Cloud saltou do ombro de seu mestre num vôo rasante e arrancou um dos olhos da ovelha com suas garras.

O anão pegou sua espada, enquanto o animal tentava mordê-lo na região entre as pernas, girou no chão junto com a arma e passou a lâmina faiscante no pescoço do animal. Glorin rolou mais alguns centímetros no chão antes de finalmente se levantar. A cabeça da ovelha acompanhava o movimento do anão, girando no ar, até cair no chão, onde suas mandíbulas continuavam a se mexer, como se tentassem continuar atacando. Com um pontapé violento, Glorin estraçalhou o que sobrava da cabeça cortada e silenciou pra sempre o animal. Restavam apenas duas ovelhas.

Um dos inimigos atacou Squall, tentando acertá-lo com uma cabeçada. Squall foi mais rápido e o atingiu com a espada primeiro. A lâmina cortou o pescoço da criatura em diagonal e a ovelha foi ao chão, inerte. A outra também tentou acertar o feiticeiro, mas novamente ele conseguiu se esquivar. O contra golpe veio de forma violenta. Com as duas mãos, Squall desceu a espada sobre o crânio da ovelha, partindo-o em dois. O morto-vivo deu ainda alguns passos desgovernados, com as duas metades da cabeça presas ao pescoço e caiu, morto-morto.

_ Obrigado, garoto! Você salvou minha vida! Fico te devendo uma! – disse o anão, rasgando um pedaço de pano e amarrando ao pescoço ensangüentado.

_ Não precisa agradecer, capitão! Só fiz o que era certo! – respondeu o feiticeiro.

Glorin soltou seu escudo e sua espada no chão e cuidou de seu ferimento. Squall arrancou da perna a mandíbula da ovelha que estava fincada em sua carne e recolheu suas coisas do chão.

_ Capitão! Posso dar uma olhada nessa espada? Quero ver se descubro como desativar esses raios ao redor dela!

_ Tudo bem, faça isso, garoto! Assim essas faíscas não denunciarão nossa presença aos inimigos quando voltarmos para o castelo!

Squall passou a observar atentamente a espada. Sua lâmina, cada detalhe de seu cabo e de sua guarda, nada passaria despercebido pelos seus olhos de elfo. Descobriu o que buscava sob a guarda da espada. Era um amontoado de runas cunhadas em baixo relevo com grande esmero. E ele sabia a qual idioma aqueles símbolos pertenciam. Era anão. Além disso, havia uma grande runa, maior que as outras que se destacava. Era uma letra “D”, escrita com o alfabeto comum, toda estilizada e cheia de detalhes rebuscados. Squall já tinha visto aquele símbolo, mas não se lembrava onde.

O feiticeiro devolveu a espada para o anão, contando-lhe sobre a sua descoberta. Glorin virou a espada para baixo e começou a ler as inscrições. Nesse momento, Squall finalmente lembrou onde tinha visto aquele símbolo.

_ Durgedin!!! Essa espada foi feita por ele! Agora me lembro! É o mesmo símbolo que estava na forja dele! – gritou Squall, eufórico.

_ Ahá! Eu sabia! Uma espada tão boa assim só podia ter sido feita por anões! – gargalhou o anão – Bem, vamos testar então! Rere!!! – gritou o anão. A palavra usada, que traduzida para o valkar significava raio, fez com que as faíscas desaparecessem e a lâmina se tornasse comum como qualquer outra. Glorin sorriu e reativou a espada com a mesma palavra para testar. Depois, desativou-a novamente.

_ Grande espada! Gostei disso! Até que vocês elfos não são tão inúteis assim! – riu o anão.

_ Claro que não, capitão! Os elfos... – Squall começava a se gabar, mas foi bruscamente interrompido pelo capitão.

_ Rere! – a espada voltou a faiscar. – Olhe aquilo lá Squall! – o anão parecia assustado. Estava apontando para o norte, para a direção oposta ao castelo.

Na borda da clareira, no local apontado por Glorin, havia uma estrada que rumava para o norte. Era uma estrada larga com espaço suficiente para a passagem de uma carroça ou mais. Algumas árvores, cortadas a machado recentemente, revelavam que se tratava de uma trilha aberta há pouco tempo. Era a estrada usada pelo dono do castelo para chegar até ali. Mas, o que mais espantada, era o que estava ao lado da estrada, na borda da mata. Uma pilha enorme de corpos amontoados, não só de pessoas, mas também de animais e monstros. Havia muitos corpos de orcs, todos com marcas de ferimentos de flechas, espadas e machados. Todos os outros corpos pertenciam a animais e pessoas, humanos, elfos e anões. Nenhum desses outros corpos apresentava marcas de ferimentos. Pareciam ter sido mortos por magia ou algo do gênero. E, entre todos eles, havia o imenso corpo de um troll das florestas.

Os dois heróis se aproximaram cautelosamente dos cadáveres. Squall confirmou que estavam todos realmente mortos e suspirou aliviado. Glorin examinou os corpos, e chegou a uma conclusão:

_ Parece que esses corpos são matéria-prima pras experiências do maluco que mora no castelo! Ou, ou então, esses corpos são as experiências que não deram certo! Seja o que for! Vamos cortar todas as cabeças, Squall! Assim, mesmo que esses cadáveres se levantem para nos atacar, sem suas cabeças e olhos, não poderão nos ameaçar! Vamos lá!

Os dois gastaram cerca de uma hora decapitando os corpos. Ao final do trabalho, tinham uma pilha de cabeças a seus pés.

_ Vamos jogar essas cabeças no meio do mato! Assim será mais difícil de encontrarem-nas! – disse o anão.

Os dois saíram pela estrada, arrastando dezenas de cabeças mortas pelo chão. A estrada fazia uma curva para a esquerda, e depois voltava a seguir para o norte. Logo após a curva, jogaram as cabeças no meio da mata e, quando estavam retornando, Glorin notou algo parado à beira da estrada.

Era uma carroça, um carroção de madeira, coberto por um toldo de tecido branco. A traseira era fechada por uma lona também branca, assim como a parte da frente. Estava parada, sem cavalos, na beira da estrada, sob as árvores, como se tivesse sido estacionada ali. Como se estivesse à espera de seu dono, que deveria ser o mesmo que morava no castelo. No chão havia marcas da carroça, que seguiam para o norte e para o castelo.

Os dois se aproximaram lentamente. Glorin foi pelo fundo, enquanto Squall foi pela parte dianteira da carroça. Squall tinha a estranha impressão de já ter visto uma carroça daquele jeito, mas não sabia onde nem quando. Olharam dentro da carroça. Ela exalava um cheiro de carniça indescritível. Lá dentro havia um monte de moscas que voavam frenéticas. No piso da carroça, havia poças de sangue seco e pedaços de pele e carne apodrecida. Aquele carroção era utilizado para trazer os mortos para o castelo, para que fossem transformados em mortos-vivos. Numa das poças de sangue havia uma pegada impressa. Era uma marca de um pé pequeno como o de uma criança que estava gravada sobre o sangue ressecado.

Os dois ficaram intrigados com tudo aquilo. De fato alguém tentava criar uma enorme legião de mortos-vivos e estava reunindo matéria-prima para isso com uma ou talvez mais carroças. E, ao que parece, até crianças estavam envolvidas naquele plano bizarro. Seria a pobre Tábata, já transformada em zumbi pelo sombrio mestre de Dekyon? Isso, só o tempo lhes diria. Cheios de perguntas em suas mentes, os dois heróis retornaram para a entrada da fortaleza, para esperar pelo retorno dos companheiros. Enquanto caminhavam, Squall mais uma vez interrogava seu líder.

_ Capitão, o senhor tem algum animal como eu?

_ Não! Não sou chegado a animais! Prefiro que fiquem no zoológico!

_ E um grupo? O senhor deve ter um grupo com pessoas tão forte como o senhor, certo?

_ Af....! Lá vem você de novo com suas perguntas! Sim, eu tenho um grupo sim!

_ E como eles são? Quantos são? Quais seus nomes? Que habilidades eles possuem? Tem algum feiticeiro no grupo? Algum deles é elfo?

_ Ora, Squall! Não me amole! Quando chegarmos ao Forte Rodick você irá conhecer cada um deles! Agora pare com tantas perguntas idiotas e vamos comer alguma coisa! O sol já está a pino!

_ Diga pelo menos o nome de um deles capitão! Por favor!

_ Tá bom, desde que você fique quieto depois! Kuran! Kuran Namino, o plantador de florzinha! Ele é um tipo de druida! Agora cale-se de uma vez por todas e trate de comer!

Assim, os dois se sentaram à sombra de uma bela árvore, pegaram suas rações de viagem e puseram-se a comer. E Squall finalmente se calou. Ao menos por algum tempo.

agosto 30, 2006

Capítulo 224 – De volta à vila

Capítulo 224 De volta à vila

O grupo desceu as escadas, apreensivo. Legolas teve a preocupação de impedir as crianças de chegarem perto das armaduras, temendo que elas pudessem voltar a atacar. Atravessaram o longo corredor até chegarem ao quarto no qual passavam as noites no castelo. Todos juntos, verificaram o alojamento para ter certeza de que não haveria nenhuma armadilha esperando pelos três aventureiros que ficariam no castelo. Atravessaram a pesada porta onde duas flechas de Legolas repousavam, cravadas firmemente na madeira. Chegaram ao portão, tomando o cuidado para que as crianças não percebessem o cão infernal morto por eles no meio do salão de entrada. Não queriam que as crianças ficassem ainda mais traumatizadas. Nailo abriu a pesada porta de madeira que dava acesso ao exterior e, como tudo parecia seguro, o grupo passou pela abertura sem perder mais tempo. O ranger, que ia à frente do grupo, olhou ao redor para ver se tudo estava realmente seguro e teve uma surpresa. Havia um cavalo do lado de fora do castelo.

Era um cavalo de pelagem marrom escuro, que estava amarrado em uma árvore próxima da entrada da fortaleza. Os rastros do animal vinham da trilha na floresta, a mesma trilha que levava ao vilarejo de Carvalho quebrado. Um rastro de pegadas partia do local onde estava o animal e seguia até o portão. Eram marcas de pés calçados, talvez de um elfo ou humano pequeno e leve, como verificou Nailo. Dentro da construção, os rastros se desapareciam no solo rochoso, tornando impossível saber para onde a pessoa havia ido. Mas, pelo formato e posição das pegadas, o ranger deduziu que ele tinha ido para o fundo do castelo. Ao lado do cavalo havia marcas na grama, como se o animal tivesse se deitado para descansar. Talvez estivesse ali há mais de um dia.

Nailo usou os poderes concedidos pela deusa da natureza e começou a se comunicar com o cavalo. Todos olhavam, espantados, o ranger conversando com o animal através de gestos, relinchos e grunhidos estranhos. Após alguns minutos, o rastreador revelou o que descobrira. O animal tinha chegado ali na noite anterior e tinha vindo de Carvalho Quebrado, carregando uma mulher em seu lombo. Alguém tinha vindo do vilarejo até ali, durante a noite e entrado no castelo. Não sabiam quem era a pessoa, nem quais eram suas intenções, e não havia tempo para pensar nisso. O mais importante era levar as crianças até a vila, onde estariam seguras. Esquecendo-se disso, o ranger saltou no lombo do animal e pediu que ele o levasse até o lugar de onde ele tinha vindo.

_ Desça daí Nailo! Coloque essas crianças em cima do cavalo! Elas são pequenas e leves, o cavalo conseguirá carregá-las! Assim, elas estarão seguras e não atrasarão vocês na estrada! – ordenou Glorin.

_ Não capitão! Eu vou com o cavalo na frente, e o Legolas e o Lucano vão levando as crianças pela estrada a pé! Quando eu chegar na vila, eu pego o restante dos cavalos e volto para encontrá-los no meio do caminho! Indo a cavalo sozinho eu chegarei mais rápido na vila! Assim a gente gastará menos tempo! – argumentou o ranger.

_ Pode até ser mais rápido dessa forma! Mas do jeito que eu disse as crianças estarão mais seguras! – respondeu o anão.

_ Capitão! Se quiser eu posso tentar teletransportar as crianças até a vila! – disse Anix.

_ Que droga garoto! Por que não disse antes que você tinha esse poder! Faça logo então! – falou o capitão.

_ É que eu terminei de desenvolver essa magia há pouco tempo, dentro do castelo! E ainda não a testei! Mas acredito que dá pra levar as crianças pelo menos até a metade do caminho! Economizaríamos um bom tempo! – explicou o mago.

_ Ótimo! Você transporta todo mundo até onde conseguir, e depois o grupo segue o resto do caminho a pé, com as crianças em cima do cavalo! – enquanto Glorin pensava e dialogava com Anix, Nailo montou no cavalo e saiu em disparada pela estrada, ignorando as ordens do superior. Glorin apenas suspirou de desgosto e continuou. – Elfos....! Bem, esqueça aquele imbecil do Nailo! Anix, leve as crianças até o mais longe que você puder! Legolas e Lucano irão com você, e eu ficarei aqui com Squall! Estaremos esperando aqui fora! Não é prudente ficar lá dentro, principalmente agora que sabemos que há mais alguém ai! Partam agora!

_ Sim capitão! Todos vocês, toquem em meu ombro! tümgi liolarjoürin! – e Anix chamou a todos, que rapidamente seguraram em seus ombros. O mago fechou os olhos e se concentrou. Tocou a testa com dois dedos da mão direita, esticados e juntos, e pronunciou as palavras mágicas. Todos desapareceram diante dos olhos de Squall e Glorin. Quando Anix abriu os olhos novamente, estava no meio da floresta.

Estavam na estrada, cercados de árvores, a um quilometro do ponto de onde partiram, o castelo. Olharam em volta, procuraram a posição do sol, semi oculto atrás das copas das árvores, e começaram a caminhar em direção ao sul. Legolas ia à frente, seguido pelas crianças, Lucano e Anix na retaguarda. Caminhavam em fila yudeniana, como um pelotão organizado. O mago ensinava a pequena Tulana a contar além do cinqüenta. Após cerca de meia hora, Nailo passou por eles, a cavalo. O ranger diminuiu sua velocidade apenas para se certificar se todos estavam bem e prosseguiu em disparada rumo à vila. O grupo prosseguiu, em sua lenta marcha, embalados pelas brincadeiras da pequena garotinha.

Tulana era a primeira criança do grupo, logo atrás de Legolas. A menina seguia contando, sorridente, os números de um a sessenta, dez a mais do que sabia antes, graças a Anix. O mago estava encantado pela pequenina. Talvez visse nela a aparência dos filhos que desejava ter com Enola, sua amada ninfa. Legolas, já não suportava mais ouvir os mesmos números se repetindo sucessivas vezes.

_ Ô Tulana! Por acaso você já ouviu falar em lobo mau? – perguntou o elfo, interrompendo a marcha e fazendo uma cara de irritado para a garota. Provavelmente tinha intenção de assustar a menina com alguma estória para fazê-la se calar.

_ Lobo? Que nem aquele lá? – a jovem sorriu ao responder com outra pergunta e apontou para as árvores na beira da estrada, onde um par de lobos espreitava com olhares famintos.

_ Lobos!!! Gritou o arqueiro, retesando o fio de seu arco. Era tarde. Os dois animais já avançavam como bestas selvagens na direção do grupo.

Um deles cercou Legolas, rosando para o elfo enquanto preparava um bote. O outro saltou sobre a indefesa Tulana, mordendo-lhe o ombro direito. As presas do animal dilaceraram a carne da garotinha, partiram-lhe alguns ossos, e quase a levaram à morte. Tulana caiu no chão pesadamente com os olhos fechados. Seu rosto estava pálido como a neve e uma poça de sangue começou a se formar no solo da trilha.

Legolas pegou uma flecha mas, antes que ele pudesse colocá-la na corda do arco, o outro lobo saltou sobre ele. A fera abocanhou o joelho do arqueiro, perfurando-o com seus fortes dentes, e deu um puxão violento, desequilibrando o elfo. Legolas caiu de costas no chão. O outro lobo avançou na barriga do arqueiro, abrindo uma ferida funda. Legolas resistiu à dor e não soltou nem o arco, nem a flecha. Forçou as costas contra o chão, pegando impulso, e deu um salto, levantando-se do chão rapidamente. Com a mesma velocidade que levantou, Legolas disparou a flecha na nuca do lobo que atacara a menina. O animal se encolheu e deu um ganido abafado, tentando se afastar do elfo.

Era a chance que Lucano esperava. O clérigo correu até onde estava a garota e deslizou de joelhos pelo chão até ela. Invocou o nome de sua deusa e lançou suas bênçãos sobre o corpinho ferido. Tulana despertou, gritando de medo, ao ver o imenso lobo ao seu lado, bufando de ira e dor. Lucano tentou acalmá-la, mas era impossível. Felizmente o animal tinha como único objetivo no momento fugir daquele lugar. Mas, Anix não permitiu. Correu desde o fim da fila até perto dos animais e disparou raios de energia neles. O lobo que estava ferido pela flecha caiu inconsciente e quase morto. O outro encolheu sua cauda entre as pernas e tentou uma fuga desesperada.

Mas, o grupo não estava disposto a deixá-lo fugir. Talvez Nailo, se estivesse com eles, poderia deixar o animal ir embora pacificamente. Talvez poderia evitar aquele combate sangrento, ou até mesmo evitar que Tulana se ferisse, caso ela estivesse sobre o cavalo como sugeriu Glorin. Mas, Nailo não estava, e Tulana estava gravemente ferida, o lobo não seria perdoado. Até mesmo o jovem Ramits se engajou no combate, saltando sobre o animal com sua adaga. A fera escapou por pouco do ataque do garoto e correu para o meio das árvores. Legolas avançou um pouco na direção do animal e disparou duas flechas certeiras, tirando-lhe a vida.

Tudo voltou a normalidade, ou quase. Tulana já não sangrava, graças à ajuda de Lucano. Mas, sua clavícula estava quebrada, e o trauma sofrido pela menina demoraria a ser superado. Anix a pegou em seus braços e a acariciou até que ela finalmente se acalmasse e parasse de chorar. Enquanto isso, Legolas agia como um selvagem, tomado pela raiva que sentia pelos animais derrotados. Com sua faca de caça, o elfo abriu a barriga dos lobos a sangue frio (um deles ainda estava vivo) e começou a retirar as peles dos dois.

Legolas gastou mais de meia hora para tirar o couro dos dois animais. Ao final do trabalho, estava todo sujo de sangue. Anix e Lucano aproveitaram para deixar que as crianças descansassem enquanto aguardavam o arqueiro. Durante esse tempo, tentavam distrair as crianças, para que elas não ficassem ainda mais traumatizadas ao ver a atitude de Legolas. Quando ele finalmente terminou, colocou as peles sobre os ombros como se fossem mantos e o grupo retomou a caminhada. Mais uns dez minutos andando e eles avistaram Nailo, que vinha de encontro trazendo os cavalos.

O ranger havia chegado na vila há mais de trinta minutos. Conforme havia instruído, o cavalo o levou de volta ao local de partida, a casa de Casso Belanus, o ferreiro. Norgar, o taverneiro confirmou que o cavalo pertencia ao ferreiro. Nailo deixou o animal no celeiro de Casso e pegou os cavalos de seu grupo. Reuniu os moradores na saída norte da vila. Todos já estavam de partida, conforme haviam combinado com Glorin e, se tivesse demorado algumas horas mais, certamente Nailo encontraria uma cidade abandonada.

Nailo explicou aos moradores tudo o que havia acontecido no castelo. Disse que haviam destruído a maioria dos mortos-vivos e que a situação estava sob controle. Segundo ele, restavam apenas alguns poucos detalhes a serem investigados no castelo.

Disse também que já haviam resgatado as crianças, e que seus amigos as estavam trazendo para a vila, menos uma garota. Nailo contou que uma das meninas estava ferida e não podia ser removida do lugar. Mas, disse que ela estava bem e sob cuidados médicos de um clérigo. Entretanto, ele se confundiu com os nomes das meninas, não lembrava mais se era Tábata ou Tulana quem havia ficado no castelo, e deixou as famílias das duas completamente desesperadas. Sem perder mais tempo, o ranger foi até a casa de Torkel, o líder local, pegou seu companheiro Relâmpago e partiu ao encontro dos demais com seu lobo e os cavalos.

Após vinte minutos na estrada, o ranger encontrou seus amigos. Ficou sabendo do ataque dos lobos e rapidamente tampou os olhos de Relâmpago para que ele não visse Legolas banhado no sangue dos lobos e carregando suas carcaças nas costas. Cada um dos heróis montou em seu cavalo, cada um levando ao menos uma das crianças. Mais vinte minutos e eles finalmente adentraram em Carvalho Quebrado.

Os heróis foram recebidos com festa pelos moradores. Pais e mães abraçavam seus filhos emocionados, com os olhos cobertos de lágrimas. Anix entregou Tulana a sua mãe e a avisou sobre a fratura. A mulher agradeceu aos prantos.

_ Sua filha é muito encantadora, senhora! E também muito inteligente! Ela disse que sabia contar até cinqüenta, e eu a ensinei a contar até sessenta! Ela aprendeu com facilidade! – disse o mago.

_ Eu agradeço muito senhor Anix! Mas não compreendo do que o senhor fala! Tulana sabe contar muito mais do que cinqüenta! Ela deve tê-lo enganado, é uma menina muito peralta! Peço desculpas, e novamente agradeço! – respondeu a mulher, deixando Anix confuso.

Ramits mostrava a seu pai a adaga que trazia consigo e contava com orgulho sua participação na luta contra os lobos. Dilan e Kilone abraçavam seus pais e contavam, emocionados, tudo que haviam passado. Lucano se ajoelhou diante dos pais de Nolin, Legolas e Anix observavam ao seu lado.

_ Conforme prometi, seu filho está de volta! – disse o clérigo, sua voz era pura e suave.

_ Muito obrigado padre! O senhor e seus amigos chegaram na hora que mais precisávamos! Agradeço a Glórien por isso! – respondeu o pai do menino. Tanto ele quanto sua esposa ajoelharam-se diante de Lucano, ficando com as cabeças abaixadas como se reverenciassem o sacerdote. Lucano os levantou do chão gentilmente.

_ Toma, Nolin! Pra você se lembrar do tio Legolas! – disse o arqueiro ao entregar uma flecha ao garotinho. Nolin sorriu feliz ao receber o presente. Para ele a para as outras crianças, aqueles aventureiros eram os maiores heróis de todo o mundo.

Anix desfez o mal entendido causado por Nailo e explicou que Tábata tinha ficado no castelo com Glorin e Squall, e que eles a trariam de volta o mais rápido possível. Enquanto o mago conversava, Legolas se afastou do grupo, e galopou até a casa de Torkel, à procura da enigmática Velta. Ao abrir a porta doa casarão, um pássaro saiu lá de dentro voando. Era Heart, o familiar de Anix, que voou até o ombro de seu mestre.

Legolas entrou na mansão e procurou pela velha, mas não a encontrou em lugar algum. Decidiu ir até o casebre onde ela vivia. Quando saia da casa, encontrou Nailo, e os dois foram até a casa de Velta. Lá chegando, bateram à porta, e como ninguém respondeu, arrombaram a pontapés. A porta velha e de má qualidade se desfez em vários pedaços com um chute do arqueiro. Os dois invadiram a sinistra casa da anciã e começaram a procurar por ela. Entre vidros com olhos imersos em algum tipo de líquido, penas, animais mortos empalhados, esqueletos de animais e outras esquisitices, Nailo encontrou um livro, que continha receitas de estranhas poções usadas pela mulher. Sem se preocupar com nada, o ranger roubou o livro e o guardou em sua mochila.

Desistindo de encontrar a mulher, Legolas pegou seu berloque mágico e começou a conversar com sua esposa, Liodriel. A bela dama falou sobre como estavam as obras da casa dos dois, e da casa de Nailo também. O casal trocou juras de amor e palavras carinhosas, enquanto Nailo observava a conversa apaixonada dos dois. O ranger aproveitou para mandar mensagens para sua noiva, Darin, por intermédio de Liodriel e os dois casais ficaram felizes, sonhando com o dia em que os dois elfos deixariam o exército e retornariam para os braços de suas amadas.

Enquanto isso, Anix e Lucano descobriam algo curioso. Os moradores conferiram uma a uma suas esposas e filhas. Nenhuma das mulheres estava ausente. Todas estavam ali, presentes no meio da rua, junto com seus pais e seus maridos. Como o cavalo não era capaz de mentir para Nailo, já que os animais não tinham necessidade de fazer esse tipo de coisa, só havia uma conclusão a se chegar. A mulher que havia deixado o cavalo na porta do castelo deveria ser de fora de Carvalho Quebrado. Mas, o que os dois não sabiam é que havia uma única mulher que estava ausente na vila. Velta, a misteriosa vidente, não havia sido encontrada por Legolas e Nailo. A enigmática e assustadora velha não estava em lugar algum da vila porque havia saído na noite anterior, levando consigo um do cavalos do ferreiro e ido até o castelo amaldiçoado, onde um exército de mortos-vivos estava sendo criado. Com que intenções ela havia feito isso, ninguém sabia.

agosto 29, 2006

Capítulo 223 – Tábata em perigo

Capítulo 223 Tábata em perigo

_ Quem são vocês? Estão do lado daquele esqueleto, não é? Não vão nos pegar sem luta! – disse o mais velho dos garotos. Era um jovem já formado, por volta dos seus quinze anos de idade. Tinha cabelos castanhos curtos e espetados. E segurava em suas mãos uma adaga prateada muito brilhante, tingida de sangue, o sangue de Nailo.

_ Calma! Nós viemos ajudá-los! Viemos aqui para salvá-los! – disse Squall.

_ Eu não caio nessa! Não pense que vai nos enganar, seu maldito! – respondeu o garoto.

_ Capitão! É com o senhor! – falou Anix, abrindo passagem para o pequeno homem. Glorin avançou quarto adentro, olhou cada uma das crianças e começou a falar.

_ Ora, ora! Deixa de besteira e abaixa essa faca, moleque! Eu sei quem é você, e você deveria se lembrar de mim também! Eu sou Glorin, do exército, está lembrado? E você é Ramits Kilnore, filho de Tomas e Luona, os coureiros da vila! Você é aquele garoto que comia ranho! E ai, parou com essa mania ou ainda não? – disse o anão, apontando para mais velho dos meninos. Junto com ele havia mais quatro crianças. Uma menina de aproximadamente 10 anos, de longos cabelos louros, dois outros garotos, ambos humanos e que aparentavam ter entre 10 e 12 anos de idade, um deles de cabelos curtos e negros e o outro de cabelos louros e lisos, cortados na altura das orelhas. Por fim, havia um garoto elfo, de cabelos azulados, que aparentava ter uns 12 anos também. Era o garoto que havia sido raptado no dia em que os heróis haviam chegado à vila de Carvalho Quebrado. Glorin continuou falando, nomeando cada uma das crianças.

_ Você é Tulana Therala, filha de Gerard e Raíssa, agricultores! O de cabelo escuro é Kilone Nalmak, filho de Darjak, o cesteiro, e Gila! Você é aquele miserável que amarrou o rabo do meu cavalo, seu moleque safado! E você é o filho de Henry e Cora Garippa, que fazem sapatos! Seu nome é Dilan, e você também é um garoto muito arteiro! E o elfo é Nolin, filho do joalheiro Anmil Zaian e sua esposa Lívia, dois dos melhores elfos que eu já conheci!

_ Tio Glorin!!!! – gritaram as crianças em coro, correndo para abraçar o anão.

A tensão se dissipou, Nailo cuidou da ferida aberta pela adaga de Ramits e todos entraram no quarto. A porta foi fechada e eles puderam conversar em paz.

_ Vamos lá! Digam tudo o que vocês sabem! – falou Nailo, apressado.

_ Eu sei contar até cinqüenta! – a pequena Tulana deu um passo à frente e respondeu à pergunta com ar de inocência. Anix imediatamente se encantou com a pureza da pequenina, lembrou-se de sua amada Enola ao ver o jeito singelo da garota. Nailo, entretanto, ficou irritado.

_ Ai droga! Não é isso que eu quis dizer! Contem o que aconteceu com vocês! E sem perder tempo! – continuou o ranger.

_ Calma! Está tudo bem! Contem como vocês vieram parar aqui, desde quando estão nesse lugar, e...espere! Não está faltando alguém? Não eram seis crianças raptadas? – Glorin interveio, explicando calmamente o que Nailo queria dizer. Então ele se espantou e notou que faltava uma criança.

_ Sim tio Glorin! Nós éramos seis! Mas aquele esqueletão levou a Tábata embora ontem! Ele disse que o mestre dele ia transformar a Tábata numa caveira também, igual a ele! – respondeu Ramits com a voz carregada de tristeza.

_ Ai não! Pelos deuses! Como que é essa tal Tábata? Quantos anos ela tem? – perguntou Nailo, assustado. O ranger parecia suspeitar de alguma coisa.

_ Bem, ela tem a minha idade e... – Ramits começou a responder, mas foi bruscamente interrompido por Nailo.

_ Essa não, 15 anos mais ou menos! E ela é bonita? – Nailo ouviu aquilo que ele temia ouvir. A menina era praticamente uma mulher formada, e, pela idade, com certeza era virgem ainda. Era uma vítima perfeita para um sacrifício.

_ Ora, não pergunte essas coisas senhor Nailo! – respondeu, encabulado, o garoto. Seu rosto ficou levemente corado ao ser perguntado sobre a beleza da menina.

_ Ahá! Você gosta dela, não é? – perguntou Nailo, apontando o dedo como um inquisidor para o garoto. Ramits não teve tempo para responder.

_ Ih! Olha só! Não é que o come ranho está apaixonado! Hahahaha! Por essa eu não esperava! O come ranho está amando! – Glorin se intrometeu na conversa, fazendo chacota e irritando o garoto. Todos os outros acompanharam o anão, e começaram a rir enquanto provocavam o menino.

_ Parem com isso! Não é nada disso! Vocês não sabem o que estão falando! – gritou o menino enfurecido. Seu rosto estava ainda mais rubro que antes. Era verdade, ele estava apaixonado.

_ Ah droga! Vamos parar com essa enrolação! O namoro dele e daquela menina não tem importância agora! Deixem de piada! Vamos lá come ranho..oops, quero dizer, vamos logo Ramits, conte tudo o que sabe! – retrucou Nailo, interrompendo as gargalhadas.

_ Eu sei contar até cinqüenta! – respondeu a pequena Tulana, deixando Nailo com cara de bobo no meio de todos.

As risadas pararam aos poucos, até se extinguirem totalmente. Os heróis retomaram sua postura séria de antes e todos pararam para prestar atenção no relato dos garotos. Ramits começou finalmente a falar:

_ Nós estamos aqui há mais ou menos uma semana! Eu fui o primeiro a chegar aqui! Fui o primeiro a ser pego por eles! Depois vieram Tulana, Kilone, Dilan, Nolin e Tábata! – os olhos do jovem brilharam quando ele pronunciou o último nome. Os heróis seguraram o riso.

_ E como você foi capturado? – era Nailo.

_ Bem, os monstros tinham atacado a vila três vezes! Eu Decidi então acabar com todos eles e preparei algumas armadilhas para pegá-los! Cavei alguns buracos no chão, amarrei umas cordas nas árvores! Mas, eles me pegaram desprevenido, no início da noite, enquanto eu preparava as armadilhas! Fui pego por um bando de esqueletos, mas nenhum deles era como aquele outro que falava!

_ E você achou mesmo que ia conseguir vencer todos aqueles mortos-vivos sozinho? Você é só um moleque que nem sabe lutar! E ainda por cima come ranho! – era Legolas.

_Mas eu sou muito corajoso e esperto! Até consegui ferir o senhor Nailo com minha adaga! Além disso, quando eu era menor fiquei sozinho em casa e uns ladrões tentaram invadi-la! Eu os coloquei pra correr sozinho! Um deles deve ter até hoje na testa a marca do balde d’água que o atingiu! – gabou-se o garoto, exibindo sua adaga.

_É seu moleque! Mas os mortos conseguiram te pegar! E nós matamos quase todos eles, inclusive aquele esqueleto falante! – resmungou o ranger, segurando sua ferida.

_ Bem, eu fui trazido pra cá e depois os outros foram chegando um a um! Aquele esqueletão vinha todos os dias aqui pra nos atormentar! Falava que o mestre dele ia nos usar pra fazer experiências e que nós iríamos ficar iguais a ele, se sobrevivêssemos! Ele sempre nos batia, e nos davam pouca comida e água!

Anix o interrompeu abriu sua mochila, de onde retirou algumas rações de viagem. Os outros rapidamente seguiram o gesto do mago e deram comida e água às crianças que devorava tudo como animais famintos. Ramits continuou falando, mesmo com a boca cheia, e, inconscientemente, passava o dedo no nariz e logo depois na boca. Os heróis olhavam enojados, mas resistiram ao desejo de repreender o garoto e deixaram que ele prosseguisse em seu relato.

_ Bom, uma vez a gente tentou pegar o esqueletão, mas ele escapou da armadilha e chutou minha boca! Ela dói até hoje!

_ E você viu quem é o mestre dele? – perguntou Squall, segurando sua boca e compartilhando a dor do menino.

_ Sim, eu já o vi uma vez! Mas foi só de relance, por uma fresta da porta! Ele estava conversando com o esqueleto, mas falava numa língua estranha, que eu nunca tinha ouvido antes! – respondeu Ramits.

_ Diga se ele falava desse jeito...! – Nailo pronunciou uma frase em idioma silvestre, depois em dracônico. Entretanto, segundo Ramits, não era a mesma linguagem que ele ouvira. Depois cada um dos heróis falou nos idiomas que conhecia, inclusive Glorin, que conhecia a língua dos dragões e a dos gigantes, além do valkar e anão. Nenhum dos idiomas era o que o garoto mencionara.

_ E como ele era, Ramits? – perguntou Anix.

_ Bem ele tinha uma voz muito calma! Parecia ser uma pessoa muito inteligente e sábia! Tinha um cabelo comprido e claro, não sei se era branco, prateado ou azulado, só sei que era claro! E ele vestia roupas brancas, um tipo de túnica ou manto branco! Foi tudo que eu consegui ver dele! – continuou o rapaz.

_ E o que mais você sabe? – era Nailo.

_ Fique quieta Tulana! Nós já sabemos que você conta até cinqüenta! – Ramits tapou a boca da pequena menina, impedindo-a de se pronunciar. Depois prosseguiu. – Bom, eu sei também que ele tem outros ajudantes! Eu ouvi outras vozes além do esqueletão! E um desses ajudantes era alguém que falava muito! Ele não parava de falar um instante sequer! Bom, nós ficamos aqui por quase uma semana, então ontem aquela caveira veio aqui e levou a Tábata! – seus olhos brilharam novamente. – Levou ela embora e disse que o mestre dele ia fazer uma experiência com ela! Ia tentar criar outros como ele, outros esqueletos falantes! Depois a gente preparou uma armadilha pra pegar a caveira, e vocês chegaram! Isso é tudo que posso dizer! – completou o garoto.

Ramits voltou a comer e se calou. Os aventureiros então começaram a pensar no que fazer. Legolas brincava com o garoto elfo.

_ Nolin! O que você vai ser quando crescer? – perguntou o arqueiro.

_ Quero ser um artista, como meu pai! – respondeu o menino.

_ Não, não faça isso! Seja um arqueiro como o tio Legolas aqui! Você vai ser muito forte e todas as meninas vão se interessar por você! – continuou o arqueiro, exibindo seus músculos e fazendo pose com o arco.

_ Nada disso! Melhor vocês todos virarem feiticeiros! Vocês poderão fazer coisas incríveis! Magia é muito legal! Vou demonstrar! Akorfia!! – Squall se intrometeu na conversa, se exibindo tanto quanto Legolas e usou sua varinha mágica para tornar o pequeno elfo invisível. Nolin desapareceu, envolto em sombras negras, assustando todas as crianças. Ramits se irritou.

_ AH! O que você fez com ele! Devolva o Nolin! Eu sabia que era um truque! Vocês não vieram nos salvar coisa nenhuma! – Ramits sacou sua adaga novamente, engoliu as pressas o que tinha na boca e ameaçou Squall. O feiticeiro tentou acalmá-lo, mas era inútil. Então Legolas resolveu a situação.

_ Calma, calma! Não precisa ficar nervoso! Nolin, dê um tapa aqui na mão do tio Legolas! – disse o arqueiro, sorrindo.

O pequeno elfo bateu na mão do arqueiro e reapareceu. Era óbvio, a magia de invisibilidade servia apenas para proteção. Se seu usuário atacasse alguém de qualquer forma, dissiparia o efeito mágico. Ao bater na mão de Legolas, o pequeno Nolin perdeu a camuflagem mágica e voltou a ser visível. Ramits respirou aliviado, e voltou a comer.

_ E você come ranho? Vai ser arqueiro, não é! Assim a Tábata vai querer casar com você! – provocou Legolas.

_ Ora! Não diga essas coisas! Já falei que não é nada disso! E eu não sou come ranho coisa nenhuma! – bufou o rapaz.

_ Não se preocupe, Ramits! Quando a gente voltar pra vila eu vou te dar um presente, uma poção mágica! É uma poção do amor! Você só precisa dar ela para a Tábata beber e ela ficará caidinha por você! – falou Nailo.

_ Sério mesmo senhor Nailo? Nossa, obrigad...quer dizer...não precisa disso...já disse que não estou apaixonado!!! – os olhos de Ramits brilharam mais forte ainda. Quando ia agradecer ao ranger, percebeu que estava se revelando e tentou corrigir, mas já era tarde demais.

_ Há!!! Te peguei moleque! Agora não adianta mais tentar esconder! – riu Nailo.

Todos riram e Ramits ficou vermelho. Seus sentimentos já não eram mais segredo para ninguém, ele amava Tábata. E a menina corria um grande perigo. Era preciso fazer alguma coisa rápido para salvá-la. Com exceção de Glorin, todos sabiam onde a jovem deveria estar: na torre. E era pra lá que eles deveriam rumar o quanto antes. Porém, não poderiam deixar as outras crianças sozinhas, e levá-las junto com eles seria arriscado demais. Nailo sugeriu de deixar Cloud tomando conta das crianças, mas ainda assim era perigoso. Os outros ajudantes do criador dos mortos-vivos poderiam chegar de fora do castelo e pegar as crianças desprotegidas, enquanto os heróis se dirigissem para a torre. Então, Glorin tomou uma decisão.

_ Ei, Nailo! Você não disse que queria ir até a vila, pra buscar seu lobo? Pois então essa é a sua chance! Você irá até a vila junto com Legolas e Lucano para levar as crianças embora! Anix, Squall e eu ficaremos aqui, vigiando o castelo até vocês retornarem! Nós esperaremos pela volta de vocês, mas não percam tempo! A vida de Tábata corre perigo, e só nós podemos salvá-la! Qualquer segundo é precioso, não podemos perder mais tempo, ou poderemos chegar tarde demais!

E, dizendo essas palavras com a autoridade de um verdadeiro capitão, Glorin convocou seus soldados. O grupo reuniu suas coisas e deixou o quarto, retornando para o andar inferior do castelo, onde novas surpresas os aguardavam.

agosto 28, 2006

Capítulo 222 – Pequenos prisioneiros

Capítulo 222 Pequenos prisioneiros

_ Bem, ouçam todos! Nossos recursos estão terminando, não podemos mais bobear, nem desperdiçar os poucos recursos que restam! Devemos ser prudentes e cautelosos! Nada de gracinhas daqui pra frente! Ainda tenho essas poções de cura comigo, são as últimas! Cada um ficará com uma delas, para usá-las em caso de emergência! As que restarem, eu guardarei na minha mochila! Tenho também estas outras que servem para proteger do fogo! Se aparecer algum outro monstro com um ataque especial de fogo semelhante ao desta espada elétrica, usem esta poção! Ficarei com uma, as outras ficam com vocês! Legolas, já que você pode atacar à distância com este arco, será o único a ficar sem uma destas! Essas outras servem para multiplicar a força do usuário! Nailo e Legolas ficarão cada um com um frasco e eu guardarei os outros dois comigo! Temos muitos lugares a investigar ainda e muitos inimigos a derrotar, com certeza! – Glorin falava com sofreguidão. Era visível o cansaço que o anão sentia, após batalhas tão difíceis. Mesmo assim ele não se entregava e sempre tentava manter a moral do grupo em alta. Tomou algumas poções mágicas para ganhar um pouco mais de vigor e dividiu o que restava em sua mochila com os companheiros de jornada. Entregou a Squall um saco de pano para que o elfo guardasse suas coisas, já que sua mochila havia sido destruída no último combate. Olhou em volta e viu as muitas portas que restavam a serem exploradas no castelo. O anão deu um suspiro de impaciência e ansiedade, desejava resgatar as crianças o quanto antes e partir de uma vez daquele lugar amaldiçoado.

Os elfos concordaram com as ordens do capitão sem hesitar. Não podiam mais perder tempo com bobagens, deveriam resgatar as crianças o quanto antes. Sob as ordens de Glorin, Legolas disparou a flecha iluminada magicamente por Lucano em direção à frente do castelo. O projétil percorreu os quase quarenta metros do enorme corredor, iluminando tudo que nele se encontrava, até terminar sua trajetória numa pesada porta dupla no final do corredor. Além dela, existiam outras sete portas, três à esquerda e quatro à direita. Atrás dos heróis, havia outras cinco portas, duas em cada parede lateral e uma outra na parede do fundo, bem à esquerda do grupo. Uma delas já estava aberta, a porta arrombada por Legolas e de onde havia saído o bando de carniçais famintos. Os heróis estavam ansiosos para entrar no aposento e ter certeza de que não sairia mais nenhuma ameaça de lá de dentro.

_ Bem! Esse esqueleto maldito prometeu mostrar onde estavam as crianças se fosse derrotado! Sua mão aponta para trás! Ou ele apontou para o nosso objetivo, ou ele apontou para outra coisa, para nos enganar! É bem provável que seja uma armadilha deste bastardo! Bem, vamos cair na armadilha então! Mesmo sendo arriscado, é a única pista que temos sobre o paradeiro das crianças! Vamos para o fundo! – Glorin coçou a barba, pensativo e concluiu o que tinha que fazer, anunciando sua decisão em voz alta para o grupo. Anix usou seu poder mágico e desapareceu, invisível, dos olhos de seus amigos. Protegido por sua camuflagem mágica, o elfo entrou no quarto dos carniçais, enquanto seus amigos o vigiavam da porta.

O gigantesco quarto tinha quase vinte metros de profundidade e quinze de largura. O aposento se abria à frente e à esquerda da porta arrombada pelo arqueiro. Na esquerda havia sete camas alinhadas paralelas umas às outras, todas com as cabeceiras encostadas na parede. Eram todas feitas de madeira e sobre elas repousavam colchões e lençóis ainda arrumados eras atrás. Entre as camas havia pequenas cômodas de madeira, todas com suas gavetas abertas com desleixo. Ao fundo existiam duas grandes penteadeiras, de onde pendiam várias teias de aranhas para o chão e para a parede atrás delas. Alguns objetos como pentes e escovas dividiam o espaço sobre os dois móveis com a poeira e as teias. Dois grandes espelhos de aço polido já sem brilho algum jaziam presos às penteadeiras. Atrás delas, três grandes janelas eram ocultadas por tábuas de madeira recente. Na direita, dois enormes armários dividiam espaço, encostados na parede. Suas portas estavam entreabertas, e apresentavam sinais de arrombamento. Um grande tapete grosso e todo colorido ocupava todo o centro do cômodo, coberto por uma grossa camada de pó que se erguia do chão a cada passo de Anix. Várias almofadas se amontoavam recostadas na parede onde ficava a porta. Espalhados pelo chão, três cadáveres permaneciam intocados por centenas de anos, seus corpos já totalmente secos e grudados ao piso estavam cobertos de pó e teias.

_ Está tudo seguro! Podem entrar! – disse Anix.

O restante do grupo invadiu o quarto cautelosamente. Começaram a vasculhar o local em busca de tesouros e pistas, mas não havia praticamente nada ali que pudesse ser encontrado. O dormitório já tinha sido violado há muito tempo atrás. Os criados-mudos ao lado das camas estavam quase vazios, apenas itens sem valor como pentes e maquiagens restavam em suas gavetas. Nos armários só havia restos de vestidos rasgados por quem quer que tivesse saqueado aquele local. Alguns sapatos velhos e roupas íntimas já apodrecidas também restavam nos guarda-roupas. Aos poucos Anix reuniu o que tinha sobrado no quarto sobre uma das camas, enquanto Legolas se olhava no espelho, já entediado naquele lugar. Squall enrolou o tapete para procurar pistas embaixo dele, mas não havia nada além do próprio piso. Nem mesmo um alçapão ou compartimento secreto foi encontrado pelo feiticeiro. Apenas Nailo encontrou algo de importante no local, uma pista reveladora. Havia rastros pelo chão, marcas de botas ou sapatos cobertos de lama que vinham de fora do quarto em direção aos armários, às penteadeiras e depois às camas, passando por cima do tapete. Os rastros estavam secos e estavam ali há muito, muito tempo mesmo. Era impossível seguir as pegadas do lado de fora do aposento, e do lado de dentro elas desapareciam ao passar por cima do tapete que provavelmente limpou os pés do invasor. Pelas posições dos rastros, Nailo foi capaz de deduzir que o invasor entrou no cômodo e o saqueou. Outro detalhe igualmente revelador chamou a atenção do grupo. Os corpos no chão possuíam marcas de graves ferimentos. Um peito aberto, outro com a cabeça decapitada e o outro irreconhecível. Isso deixava claro que as pessoas que ali estavam tinham sido brutalmente assassinadas e tiveram seus bens roubados por alguém. Suas camas estavam todas arrumadas, o que significava que não estavam dormindo quando a chacina ocorreu. Provavelmente as pessoas que ali estavam se arrumavam para participar do banquete envenenado no andar inferior do castelo. Além disso tudo, Nailo encontrou uma outra pegada, deixada sobre uma das almofadas no chão. Um pé de tamanho médio, talvez um humano ou um elfo, calçando uma bota ou outro tipo de sapato, que estivera ali há pouco tempo, alguns poucos dias no máximo. E a marca na almofada não pertencia aos pés do esqueleto Dekyon, como confirmou o ranger ao comparar a pegada com a nova bota de Legolas.

Nailo usou magia para verificar se os corpos do aposento também estavam envenenados. Enquanto isso, Lucano usava sua mágica para sentir a presença de mortos-vivos dentro do quarto e além. O clérigo checou os corpos caídos e constatou que estavam completamente mortos, diferentemente de outros cadáveres do castelo que estavam animados por magia. Depois deixou Nailo examiná-los e circundou todo o ambiente, apontando sua magia para as paredes em busca de mortos-vivos que estivessem além delas. E não detectou nada. Nenhuma aura, nenhum sinal que denunciasse a presença dessas criaturas das trevas. Nailo também não encontrou vestígios de veneno nos corpos nem qualquer outra coisa que pudesse ser importante. Então eles tomaram um susto.

Legolas deu um grito abafado, e caiu de costas no chão, inconsciente. Seu peito se mexia com dificuldade. Suas mãos estavam sujas do pó que recobria os espelhos. Anix correu até o amigo caído e começou a esbofetear seu rosto, tentando fazê-lo despertar e perdendo sua invisibilidade. Lucano correu também para ajudar, abandonando a magia na qual estava concentrada, e começou a invocar uma prece para curar o amigo. Mas, antes que o clérigo pudesse terminar sua conjuração, Legolas abriu os olhos e começou a rir freneticamente. Tudo não passava de uma brincadeira, o arqueiro havia pregado uma peça nos companheiros.

_ Grunf! Seu idiota! Isso não é hora para brincadeiras! Acabei de falar que não tínhamos que ser prudentes e economizar recursos, e você faz com que Lucano e Anix dissipem suas magias para ajudá-lo! Que essa seja a última brincadeira estúpida de vocês! Hunf...elfos...!!! – ralhou Glorin, extremamente irritado com a brincadeira do elfo. – Bem, não há nada aqui pra se olhar! Vamos seguir em frente! – continuou.

O grupo deixou o quarto, certos de que não havia mais nada a ser visto naquele lugar, e seguiram para o fundo do castelo. Antes de sair, Nailo quebrou todas as tábuas que bloqueavam as janelas e permitiu que a luz do sol voltasse a iluminar aquele lugar. Já era por volta das 10:00 da manhã. O elfo arrastou as penteadeiras e as posicionou de modo que seus espelhos fossem capazes de juntos refletirem a luz solar até a entrada do quarto. Limpo o aço dos espelhos o melhor que pode e conseguiu fazer com que um reflexo fraco do sol iluminasse a entrada do aposento. Dessa forma, esperava ele, nenhum morto-vivo voltaria a entrar naquele quarto, e eles teriam um local seguro para se esconder caso precisassem fugir. Já do lado de fora, Squall, o feiticeiro, apontou para uma das portas, a que ficava à direita, e sugeriu que começassem por ela.

_ Vamos abrir essa porta! Tenho certeza que as crianças estão aqui! – disse o feiticeiro.

_ E como você pode ter certeza disso, Squall? – perguntou Anix.

_ Minha intuição me diz que as crianças estão aqui! – respondeu o elfo.

_ Bem, vamos confiar na intuição de Squall, então! Nunca se deve ignorar esse negócio de intuição! Principalmente de alguém que possuía sangue de dragão correndo nas veias! – bradou o anão, tomando a dianteira e rumando para a tal porta.

_ Não seja precipitado! Antes de fazer isso use essas suas orelhas pontudas pra variar! – resmungou Glorin, repreendendo Nailo que estava preste a arrombar a porta sem sequer tentar verificar o que se escondia atrás dela.

O ranger obedeceu ao seu líder e encostou seu ouvido esquerdo na porta. Atrás dela havia completo silêncio. Parecia que estava tudo tranqüilo, mas também podia ser mais uma armadilha. Pensando na segunda hipótese, os heróis se posicionaram para o combate e deram o sinal para que Nailo arrombasse a porta. Com um forte chute o ranger quebrou a madeira ao redor da tranca e a porta se abriu. Abriu à direita, batendo em uma parede à qual ela estava próxima e retornou quase até a metade do caminho. Nailo arremessou o pedaço de madeira brilhante para dentro do aposento e todos apontaram suas armas esperando um ataque que não aconteceu. Tudo permanecia em silêncio.

Nailo deu um passo à frente, e viu um enorme quarto, tão grande quanto o anterior, mas que abrigava apenas uma cama muito grande. Havia uma cômoda ao lado da cama, e ambas estavam encostadas na parede mais ao norte. Um grande armário ocupando uma grande porção da parede sul, à esquerda de Nailo. Ao fundo também havia outros móveis e janelas lacradas por tábuas, tal qual os outros cômodos do castelo. Sem perder tempo, Nailo se abaixou, já dentro do quarto, e começou a analisar o piso, em busca de outras pegadas enlameadas ou parecidas com a encontrada por ele na almofada do aposento ao lado. E então, o ataque que todos esperavam finalmente aconteceu.

A porta se fechou violentamente, atingindo Nailo com força. O elfo foi ao chão e, antes que ele pudesse reagir, uma criatura saltou das sombras atrás da porta sobre ele. Ao mesmo tempo, as portas do guarda-roupas se abriram e um enorme tapete animado por mágica saltou sobre Nailo, envolvendo-o e ao monstro que o atacara. Quatro outras criaturas saíram do armário e começaram a golpear Nailo com clavas. O ranger tentava se defender a todo custo, e sentiu o ferrão afiado do monstro atravessando sua armadura e perfurando seu estômago profundamente. Então, subitamente os ataques cessaram. Nailo se desenroscou do tapete e viu que as cinco criaturas estavam paradas, observando o grupo com apreensão. Squall os iluminou com sua lanterna e todos tiveram uma surpresa. Não eram monstros, mas sim as crianças raptadas da vila.

agosto 24, 2006

Capítulo 221 – Carniceiros

Capítulo 221 Carniceiros

_ As crianças!!!exclamou Legolas, correndo em direção à porta que estava mais próxima. Todos os outros ainda tentavam recuperar o fôlego após a difícil luta travada, quando Legolas girou a maçaneta da porta. Trancada. Sem hesitar, o arqueiro deu um forte chute na madeira, destruindo a tranca que a fechava e arrombando a porta.

A porta se abriu à direita, batendo numa parede próxima e retornando lentamente. Havia um salão, que se abria para frente e para a esquerda do arqueiro. Legolas esticou seu braço esquerdo iluminando o ambiente com seu arco, e deu uma espiada dentro da sala. Uma criatura de formato humanóide, com a pele ressecada e decomposta colada sobre os ossos desprovidos de carne, saltou sobre o aventureiro repentinamente. Legolas tentou se defender do ataque do monstro, que o agarrava e tentava devorá-lo, mas a criatura conseguiu ser mais ágil e abocanhou o pescoço do elfo.

Legolas cambaleou, sentiu suas pernas fraquejarem enquanto tentava recuar para o corredor. Seu pescoço jorrava sangue, enquanto o ser repugnante o mastigava. Seus músculos começaram a enrijecer lentamente, até que Legolas não conseguiu mais se mover. Estava à mercê da fera insana que o devorava como um abutre sobre a carne morta. Era um carniçal.

Um carniçal, uma criatura não viva totalmente bizarra que devorava carne. Um morto-vivo extremamente perigoso que possuía a capacidade de paralisar as vítimas de suas mordidas para devorá-las sem resistência. Um ser cuja monstruosidade era contagiosa e passava para aqueles que morriam sob suas mãos, transformando-os em novos carniçais dias depois da morte. Um terrível carniçal estava a devorar Legolas.

Glorin correu para socorrer Legolas, temendo perder um aliado e ganhar um novo inimigo. O escudo de aço se chocou contra o corpo do arqueiro, jogando-o no chão. O monstro saltou para o lado, soltando o corpo paralisado do elfo, e voltou suas atenções para o anão. Outros dois monstros saíram de dentro do quarto, movendo-se rapidamente e investindo contra os heróis que chegavam para ajudar.

O primeiro deles Tentou revidar o encontrão de Glorin. O anão protegeu seu corpo cansado com o escudo, escapando do ataque do inimigo. Enquanto o escudo do anão era arranhado e mordido, o segundo carniçal saltou sobre Squall, que se aproximava para ajudar o capitão. Os dentes podres e afiados da criatura se cravaram profundamente no ombro do feiticeiro. Squall tentou em vão repelir o ataque da criatura. Disparou seus poderosos projéteis de energia, ferindo gravemente o inimigo, mas já era tarde. Seus músculos endureceram, e ele também parou de se mexer. Já o monstro, continuava a atacar com suas presas.

À distância, Lucano disparava flechas sem parar, mas estas não conseguiram impedir os ataques das criaturas. A terceira delas corria para atacar Anix, que derramava uma poção de cura mágica na boca de Nailo, resgatando o amigo da beira da morte. Rapidamente, Anix disparou uma flecha, detendo o avanço da criatura temporariamente.

Nailo despertou, ainda zonzo, em meio à confusão e entendeu que a luta ainda não havia terminado. Rapidamente tomou outra poção mágica, enquanto Lucano lançava sobre ele uma magia de cura. O ranger assistia ao seu capitão combatendo freneticamente com a espada elétrica de Dekyon, cortando a carne ressecada dos carniçais que o cercavam. Viu Anix eletrocutar outro dos monstros com sua mágica, momentos antes de ser atacado por suas mandíbulas pestilentas e de ficar imóvel. Viu seus amigos Squall e Legolas completamente indefesos, da mesma forma que ele próprio já estivera ao enfrentar o verme dentro do banheiro do castelo. Era uma situação crítica. Sem perder tempo, mesmo não estando totalmente recuperado, o ranger se levantou do chão e golpeou a criatura que devorava Anix com sua espada bastarda. O monstro cambaleou para trás, com um largo rasgo em seu peito. Nailo sorriu, mas sabia que era cedo para comemorar ainda.

Exausto da luta contra o esqueleto, Glorin já não conseguia evitar os ataques dos monstros. As mandíbulas e as garras das criaturas rasgavam a carne do guerreiro e espalhavam seu sangue pelo piso de pedra. Os heróis viram o destemido capitão ser obrigado a recuar, tamanha era a gravidade de seus ferimentos. Lucano dava cobertura com suas flechas, enquanto seu comandante engolia rapidamente uma poção mágica entre um ataque e outro dos inimigos. Nailo também não se encontrava em situação melhor que a de seu líder. Ferido pelo carniçal, o ranger sabia que não resistiria por muito tempo ao poder paralisante da saliva repugnante da criatura. E sabia que, assim como ele, Glorin também não conseguiria resistir por muito mais tempo.

O anão já parecia fraco demais para continuar lutando, quando um dos inimigos caiu ao seu lado, com uma flecha cravada em suas costas. Era Legolas. O arqueiro já conseguia se mexer, mesmo com dificuldade, e sem hesitar já usara seu arco para liquidar com um dos inimigos. Glorin voltou a atacar, rasgando a barriga do carniçal que restava em pé ao seu lado. O monstro se contorceu e tentou recuar, mas Lucano disparou uma flecha certeira no olho da criatura, eliminando-a. O último inimigo caiu, segundos depois, empalado pela espada bastarda de Nailo. E enfim todos puderam descansar.

Com os inimigos mortos, o silêncio voltou a dominar o gigantesco corredor do castelo. Os aventureiros sentaram seus corpos cansados no chão, e sorveram um longo gole de seus cantis. Estavam exaustos. Pouco a pouco foram recolhendo suas coisas abandonadas no meio do chão. Lucano fazia curativos nos amigos, cobrindo os ferimentos com bandagens improvisadas. Repousaram pro quase trinta minutos, mesmo assim, ainda precisariam de uma longa noite de sono e de uma farta refeição para se recuperarem completamente. De todos, o que estava menos ferido era Anix. Mesmo assim era visível em seu rosto o cansaço que sentia. Além do descanso, Nailo aproveitou o tempo disponível para destruir o que restava do corpo do terrível Dekyon. Um a um o ranger destruiu todos os ossos que compunham o corpo esquelético do guerreiro. No final sobrou apenas uma pilha de ossos triturados (Legolas sorriu ao lembrar do que dissera ao monstro no início do combate) e seu equipamento mágico.

Todos os objetos portados pelo esqueleto possuíam poderes mágicos. Os heróis começaram a testar todos os itens, que agora eram seu tesouro. Legolas calçou as botas e se sentiu mais leve. O arqueiro correu e saltou e compreendeu que as botas o tornaram mais veloz e mais ágil para saltar. Legolas contentou-se com as botas e pôs-se a lustrá-las com esmero. Squall colocou o medalhão e sentiu seu corpo enrijecer rapidamente. Ele inicialmente ficou assustado, achando que ficaria novamente paralisado, mas depois percebeu que sua pele se modificava, tornando-se mais áspera, mais grossa. Como o feiticeiro já possuía um colar semelhante, deixou que Nailo ficasse com o novo colar. Lucano foi quem testou o anel. Ao colocá-lo em seu dedo, uma aura mágica translúcida se formou ao redor de seu corpo, revelando os poderes do anel. Era algo que todos ali já conheciam, o anel criava uma armadura mágica ao redor do usuário, para aumentar sua proteção. Lucano deixou o anel com Anix, que não utilizava armaduras ou escudos para se proteger, e decidiu pegar para si a armadura de Dekyon. Anix pegou o anel e o pendurou no pescoço, amarrado a um cordão, rejeitando os seus benefícios mágicos. Lucano vestiu a armadura, abandonando sua velha e castigada brunea. Era um camisão de anéis trançados, uma cota de malha, feita de um belo e resistente metal prateado conhecido por Mithral. O clérigo percebeu ao redor da vestimenta o mesmo tipo de aura que o anel possuía, indicando que ela possuía uma melhoria mágica em suas defesas. Além disso, ele sabia que uma aura mágica de transmutação envolvia a armadura, conforme disse Squall. Só restava saber que poder oculto ela possuía. Nailo ficou com o par de manoplas usado pelo esqueleto. Ao colocar as manoplas em suas mãos, o ranger sentiu-se mais forte do que realmente era. Não estava tão forte quanto há pouco, quando a magia de Squall lhe ampliara a força, mas sabia que, por menor que fosse aquele aumento na sua força, ele duraria indefinidamente enquanto o ranger estivesse usando as manoplas. Por fim, restavam a espada e o escudo. Como seu estimado machado havia ficado em pedaços, Glorin ficou com a espada para si. Sua lâmina faiscava como o céu no meio de uma tempestade, brilhando como um relâmpago. O anão também ficou com o escudo, já que ele parecia se melhor que aquele que ele possuía. Ao redor do escudo também existia uma tênue camada mágica de proteção, e uma aura de abjuração emanava com força do item, aguçando a curiosidade dos aventureiros. Mas, não havia tempo para perder com esses detalhes naquele momento. Precisavam encontrar as crianças e sabiam que não seria uma tarefa simples. Dekyon havia apontado pro fundo do castelo ao cair morto. Poderia estar apontando para as crianças, como prometera, ou para uma armadilha mortal. De qualquer forma, eles teriam que checar todos os cantos da fortaleza até encontrarem as crianças raptadas. Além disso, todos sentiam que o tão esperado encontro com “aquele de fala mansa” estava cada vez mais perto de acontecer. Finalmente iriam entender o que significavam as palavras de Enola e conheceriam a verdadeira face do inimigo. Desejavam que não fosse o temível Teztal, temiam que o quase invencível inimigo tivesse voltado dos mortos para se vingar. Também temiam que o capitão estivesse com razão ao suspeitar que o dono do castelo e dos mortos-vivos fosse um lich, ou um vampiro. Mesmo com suas mentes cheias de dúvidas e temores, os corajosos aventureiros se levantaram e, de posse de seus novos itens, partiram novamente, rumo ao perigo.