agosto 15, 2006

Capítulo 217 – Leitura Noturna...os livros mágicos

Capítulo 217 Leitura Noturna...os livros mágicos

_ Lembro-me de meu mestre! Certa vez, ele foi picado por uma serpente venenosa, e um ranger o curou com o próprio veneno da serpente! Talvez os tentáculos do monstro sejam a chave! – Legolas se levantou de sobressalto, anunciando com entusiasmo a idéia que acabara de ter. Correu até o corpo de um dos monstros e cuidadosamente cortou um dos seus tentáculos. Usou o membro decepado para fazer um tipo de compressa em Squall. Mas o feiticeiro continuava imóvel.

Já haviam empregado todos os meios para tentar desparalisar Squall, Nailo e Lucano, mas os três continuavam imóveis. Glorin abrira forçosamente a boca de Squall para depositar nela um líquido que, segundo ele, era um poderoso antídoto e poderia neutralizar os efeitos da secreção pegajosa da criatura. O líquido desceu com dificuldade pela garganta de Squall, mas o feiticeiro continuou imóvel. Como de costume, Anix esbofeteou o rosto do irmão desesperadamente, tentando tirá-lo daquele transe sobrenatural à força. Mas o feiticeiro continuou imóvel. Legolas usou o tentáculo do próprio monstro, numa tentativa de “combater fogo com fogo”. Esfregou o órgão gosmento nos amigos caídos, mas os três continuaram imóveis. Lembraram das canções dos bardos, nas quais a princesa sempre despertava após receber um beijo de seu príncipe encantado, mas decidiram descartar a idéia. Eles até poderiam se considerar príncipes, mas com certeza os três paralisados não tinham nada de princesas. E os três permaneceram imóveis.

_ Bem, vamos embora desse lugar! Vamos retornar ao quarto onde estão nossas coisas, lá é um lugar seguro! Aí poderemos pensar com calma no que fazer com esses três! – Glorin, outrora o confiante e destemido líder do grupo, agora parecia inseguro e sem saber o que fazer naquela situação.

O anão agarrou o corpo enrijecido de Lucano e o colocou sobre seus ombros. Legolas segurou as pernas de Nailo e Squall e começou a arrastá-los para fora do banheiro. E os três voltaram a se mover.

_ Vocês estão bem? – perguntou o capitão.

_ Sim capitão! Estamos feridos e cansados, mas fora isso já estamos normais! – respondeu Nailo.

_ E sujos! Preciso de um banho urgente! – completou Squall, fazendo uma cara de nojo e derramando o conteúdo de seu cantil sobre seu corpo imundo.

_ Está certo! Vamos encerrar as atividades por hoje! Já são mais de cinco horas, creio eu, vamos retornar ao acampamento e descansar! Lá existe uma tina, que poderemos usar para tomar banho! Lucano a enchera de água usando aqueles pergaminhos encontrados na cozinha! Vamos! – continuou o anão, indo na direção do corredor.

Os aventureiros retornaram para o imenso quarto onde haviam passado a noite. Tiraram suas armaduras e armas e se entregaram ao sono e ao cansaço. Legolas trouxe, junto com Anix, a tina do quarto em frente. Nailo os dois recipientes com o que restava de água em seus cantis. Lucano pegou os pergaminhos e começou a recitar as palavras mágicas. Um brilho cálido se formou diante do sacerdote e da luz começou a jorrar água potável. A água foi vertendo dentro da tina de madeira, enchendo-a até a metade. Lucano usou os outros pergaminhos para terminar de encher os dois recipientes e os cantis do grupo. Enquanto a água jorrava, o clima de descontração tomou conta do grupo.

_ Cuidado, Lucano! Não encha totalmente a tina, ou o capitão não conseguirá alcançar o fundo com os pés! – disse Legolas rindo.

_ É verdade! Não vá matar nosso capitão afogado! – continuou Anix, já vermelho de tanto rir.

_ Grunf! Podem rir seus inúteis! Só por causa disso eu vou ser o primeiro a tomar banho! E não se preocupem, porque eu sei nadar muito bem, seu bastardos! – rosnou Glorin, irritado.

_ É verdade! Esqueci que fezes não afundam! – cochichou Legolas no ouvido de Anix, tomando cuidado para que o anão não ouvisse.

Glorin foi o primeiro a se banhar na tina d’água já cheia. Nailo ocupou a segunda vasilha de água, enquanto os demais arrumavam suas roupas e armas. Squall, o mais sujo de todos, estava impaciente.

_ Anda logo capitão! Eu estou fedendo, preciso tomar um banho logo pra me livrar dessa imundície! Além de aquele monstro ter me ferido e babado em mim, ele ainda me arrastou pra dentro daquela fossa nojenta! Meu corpo está coberto de fezes! Pare logo de brincar com esse patinho de madeira ai e deixe-me tomar banho também! – reclamava o feiticeiro com agitação.

Glorin olhou para a água, para o tal patinho de madeira e seu rosto corou levemente. Deu um sorriso malicioso e respondeu com ironia:

_ Primeira coisa! Você vai ser o último a tomar banho para não contaminar a água da banheira! Segundo! Isso aqui não é nenhum patinho de madeira! Isso aqui é o meu...bem...você sabe...e nem pense em tocá-lo! Pare de já olhar para minhas partes íntimas, sua gazela! Elfos...hunf!!! – o anão resmungou e se levantou, deixando à mostra o tal “patinho” que pendia de seu corpo. - Eu já terminei meu banho! Próximo!!!

Um a um, os jovens se lavaram, lavaram suas roupas castigadas pelas batalhas e foram descansar. Passaram alguns momentos de pura descontração, quase esquecendo do perigo que os cercava naquele castelo assombrado. Nailo aproveitou para dar algumas aulas de esgrima para Squall, usando suas espadas devidamente protegidas por tiras de pano. Anix ajudava Lucano a preencher seu grimório, ainda quase todo em branco, com magias arcanas que o mago conhecia muito bem e com outras que Lucano mesmo conseguiu criar por esforço próprio. Glorin e Legolas cuidavam de suas armas, amolando, polindo, limpando espadas, escudos, armaduras e flechas. Uma hora após o anoitecer, fizeram uma rápida refeição, devorando em poucos segundos suas rações. Todos eles já estavam cansados de ter que comer aquelas rações intragáveis e ansiavam por sair logo daquela fortaleza amaldiçoada para poderem dormir em camas quentes e confortáveis e para terem uma comida decente para apreciarem. Após o jantar, Nailo retomou as lições dos seus alunos, ensinando-os a linguagem dos povos silvestres. Infelizmente, não poderiam mais aprender a língua dos povos aquáticos, já que o mago Sairf há muito deixara o grupo para seguir atrás de sua amada sereia Narse. Por isso mesmo eles se dedicavam ao máximo durante as aulas de Nailo. Junto com as lembranças de Sairf, também vieram as de outro amigo querido, Sam Rael. Nesses momentos o alegre bardo sempre tocava alguma coisa para embalar o sono de seus amigos. Squall pegou então o seu alaúde, que fazia parte da antiga orquestra do castelo, e começou a tocá-lo, relembrando os dias de aventura ao lado de Sam. Anix tentou acompanhá-lo com uma flauta que havia pegado no salão de baile, mas foi vaiado pelo grupo e interrompeu sua desastrosa performance, aborrecido.

Legolas terminou seu trabalho com as armas, deitou-se em seu saco de dormir e pegou um livro em sua mochila, um livro que contava a história das religiões e deuses de Arton, e começou a lê-lo. Então, os heróis se lembraram dos misteriosos livros mágicos que tinham encontrado na biblioteca do castelo e decidiram que aquele era um bom momento para averiguá-los.

Squall foi o primeiro. Abriu seu livro, o Código de Arnlaug, e começou a folheá-lo. As paginas estavam todas amareladas e deterioradas por umidade. Algumas delas tinham as inscrições borradas e praticamente indecifráveis. As primeiras páginas estavam escritas em linguagem comum. Traziam um linguajar mais rebuscado e arcaico, mas ainda assim era possível entender o que diziam. Era um tipo de tratado sobre armaduras, que descrevia seus vários tipos e benefícios, formas de usar, vestir e construir. As páginas finais eram escritas com runas complexas, e demorariam algum tempo para serem decifradas completamente. Squall sabia que eram magias escritas naquelas páginas finais e por isso pediu ajuda a seu irmão para decifrá-las. Entretanto, algo curioso chamava a atenção do jovem feiticeiro. As últimas folhas antes das magias davam uma ênfase exagerada a um tipo de proteção mundano, as manoplas. Um longo trecho do livro era dedicado a descrever o funcionamento das manoplas, explicando os benefícios de proteger as mãos com este tipo de utensílio.O mais estranho é que, a última página escrita em valkar estava totalmente malfeita. Além de apresentar marcas de umidade e mofo, algumas letras do texto tinham sido mal impressas, com os tipos desalinhados e tortos. Algumas letras apareciam até de ponta cabeça, parecia que a folha havia sido impresso com total desleixo. Squall parou justamente nesta página, observando com grande curiosidade a bagunça formada no livro. As letras tortas eram apenas algumas poucas, em um grande texto que descrevia as vantagens de se usar uma manopla com cravos. Squall atentou para essas letras e começou a pensar. As letras eram T, que aparecia na palavra tensão (...e a tensão no braço não deve ser muito forte para...), R, que aparecia na palavra rechaçar (...rechaçar golpes de espada...), A de agarrar (...podendo agarrar o seu inimigo com maior força...), N de não (...prender arma na manopla de segurança para não cair...), S de socar (...excelente para socar inimigos sem ferir a mão...), M que aparecia na palavra manopla (...o uso deste tipo de manopla...), U da palavra unhas (...para usá-la é melhor manter as unhas bem curtas...), T de torta (...se a manopla for mal colocada poderá ficar torta durante o combate...) e por fim a letra E, que aparecia na palavra evitar (...manopla ajuda a evitar ferimentos nas mãos...). Então, de repente:

_ Transmute! – gritou Squall, juntando todas as letras distorcidas para formar uma palavra.

Todos voltaram suas atenções para o feiticeiro. Se tivesse algum inimigo por perto, certamente já teria ouvido o feiticeiro gritando. Não só isso, além do berro do feiticeiro, outra coisa chamava a atenção. O livro brilhou por um breve instante e começou a se mover, como se fosse vivo. Em uma fração de segundo o misterioso livro se desfigurou todo, como se derretesse, e foi aos poucos envolvendo a mão direita do feiticeiro até cobri-la totalmente junto com o antebraço. E quando o processo assustador terminou, o livro havia se transformado numa manopla de metal, cheia de cravos.

Squall, mais que todos os outros, estava admirado e surpreso com a transformação da manopla. Além de ter envolvido seu braço como uma proteção e uma arma eficaz, o livro tinha lhe dado outro benefício. Talvez fosse apenas impressão, mas Squall se sentia mais forte que antes de “vestir” a manopla mágica. O feiticeiro testou o poder do item, dando um forte soco na parede que estava ao lado, e confirmou sua suspeita. A manopla realmente tinha ampliado sua força magicamente. Squall continuou a olhar para o item, impressionado com seus poderes, e não conteve a emoção:

_ Caraca!!! – exclamou o feiticeiro. Então a ponta da manopla começou a ficar lentamente avermelhada e Squall começou a sentir um forte calor na mão. Assustado, ele afastou a mão do corpo o mais longe possível, imaginando que ele fosse explodir e arrancar-lhe a mão. Mas, ao invés disso, o item simplesmente disparou um leque de chamas contra a parede, muito parecido com uma magia que Squall costumava utilizar.

Todos ficaram ainda mais espantados. Aquele simples livro era muito mais útil do que parecia. Todos se reuniram ao redor de Squall para analisar a manopla, menos Nailo, que correu até sua mochila e pegou nas mãos o outro dos três livros mágicos que eles haviam encontrado.

_ Destransmute! – disse Squall, revertendo a transformação da manopla que voltou a ser o livro novamente.

_ Me deixa ver isso!!! – Legolas, ansioso e entusiasmado com o poder do livro tomou-o da mão de Squall para também experimentar seus efeitos. – Transmute!!! – gritou, mas o livro permaneceu imutável. Todos riram por um segundo do fracasso de Legolas. Squall tinha em sua mente a certeza de que somente alguém capaz de fazer magias poderia acionar o poder do livro, e Legolas não era esse tipo de pessoa. Então eles ouviram um grito agoniante que os assustou. Era Nailo.

_ O que foi Nailo? O que aconteceu? – perguntou Glorin, assustado.

O ranger nada respondeu. Permaneceu parado com o olhar vazio e uma palidez perturbadora em sua face. Seu livro estava caído no chão, diante dele. Anix deu um safanão no rapaz que finalmente despertou para a realidade e começou a balbuciar algumas palavras com dificuldade.

_ Eu...eu...! Nossa...o que aconteceu...estou zonzo...minha cabeça dói...! – Nailo falava lentamente, parecia que se perdia nas palavras, parecia que as tinha esquecido, esquecido como falar.

Os heróis colocaram Nailo sentado em seu saco de dormir, serviram-lhe um gole d’água e o acalmaram até que ele finalmente se recuperou e explicou o que acontecera.

_ Eu estava tentando ler o livro, mas não conseguia por causa das runas estranhas que existem nele! Também era difícil de ler por causa do contraste das páginas vermelhas com a tinta preta, cheguei a ficar com dor de cabeça por causa disso! Então eu lembrei do que o Lucano fez para identificar os pergaminhos, aquela magia que ele usou, e decidi fazer a mesma coisa pra decifrar esse livro! Depois que usei a magia eu comecei a ler o livro, mas senti uma forte pontada na cabeça e fiquei completamente atordoado! Por um instante eu até me esqueci quem eu era e onde estava, foi muito estranho! – explicou Nailo, ainda falando pausadamente e com dificuldade.

_ Tudo bem, garoto! Agora que você já está bom, guarde este livro e trate de descansar! Teremos um longo dia amanhã! – Glorin falava agora não como o enérgico e arrogante comandante, mas era mais parecido com um pai dedicado que cuidava do filho.

Anix recolheu o livro do chão e olhou rapidamente para seu interior. Suas páginas vermelho sangue e suas runas negras e complexas deixaram o mago um tanto assustado. Anix devolveu o livro para Nailo, que o guardou em sua mochila e depois se deitou, assim como os demais. Squall e Anix ainda permaneceram mais algum tempo acordados, pesquisando o misterioso código de Arnlaug e decifrando os encantamentos que ele continha.

Eram dez feitiços ao todo, alguns deles já conhecidos pelos dois conjuradores. O primeiro servia para conceder ao usuário uma capacidade maior de resistir a encantamentos e venenos, aumentando as resistências naturais da pessoa por um breve período de tempo. A segunda magia tinha a capacidade de criar magicamente uma esfera cáustica que podia ser usada para atacar ou simplesmente corroer amarras e coisas do tipo. O feitiço seguinte permitia que o usuário conseguisse decifrar qualquer inscrito mágico que desejasse durante a duração da magia. Era a mesma magia usada por Lucano nos pergaminhos do grupo e por Nailo no misterioso livro vermelho. A quarta magia era um capricho para os magos, criava uma assinatura personalizada que poderia ser visível ou não, dependendo da vontade do utilizador. Mas não só isso, o mago poderia usar essa marca em conjunto com outras magias para conseguir efeitos poderosos. A quinta magia seria de grande utilidade para o grupo. Com ela eles poderiam descobrir mais facilmente os poderes mágicos secretos dos itens que eles possuíam, poupando um considerável tempo com experiências e testes muitas vezes arriscados, como provara Nailo. A próxima magia era pra ser usada em casos de emergência, caso alguém despencasse de grandes alturas. Ela tinha a capacidade de diminuir a velocidade da queda e fazer a pessoa pousar suavemente no solo. O sétimo feitiço era o mais poderoso e perigoso do livro. Criava uma névoa venenosa capaz até de matar quem respirasse seu ar mortal. Depois uma magia que tinha a ver com seres de outras dimensões, outros mundos. Com ela era possível aprisionar um ser invocado, impedindo-o de retornar ao seu mundo de origem. Anix lembrou-se de Idalla, a súcubo que estava aprisionada dentro da forja do anão Durgedin e pensou que talvez a mulher demônio tivesse sido vítima daquele tipo de feitiço. A penúltima magia pertencia ao elemento fogo, e era capaz de transformar uma simples chama numa luz extremamente brilhante ou em uma grande quantidade de fumaça. Por fim, o último feitiço do livro tinha o poder de espionar as pessoas, mesmo que elas estivessem a milhas de distância, e revelar o local onde se encontravam. Uma magia melhor usada por alguém que possuísse uma bola de cristal e uma das mais poderosas do livro.

Anix e Squall demoraram algumas horas para conseguir decifrar todos os escritos. Já era bem tarde quando conseguiram finalmente terminar o árduo trabalho, mas valera a pena todo o esforço. Agora eles poderiam contar com novos recursos para enfrentarem os novos desafios que estavam por vir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário