agosto 29, 2006

Capítulo 223 – Tábata em perigo

Capítulo 223 Tábata em perigo

_ Quem são vocês? Estão do lado daquele esqueleto, não é? Não vão nos pegar sem luta! – disse o mais velho dos garotos. Era um jovem já formado, por volta dos seus quinze anos de idade. Tinha cabelos castanhos curtos e espetados. E segurava em suas mãos uma adaga prateada muito brilhante, tingida de sangue, o sangue de Nailo.

_ Calma! Nós viemos ajudá-los! Viemos aqui para salvá-los! – disse Squall.

_ Eu não caio nessa! Não pense que vai nos enganar, seu maldito! – respondeu o garoto.

_ Capitão! É com o senhor! – falou Anix, abrindo passagem para o pequeno homem. Glorin avançou quarto adentro, olhou cada uma das crianças e começou a falar.

_ Ora, ora! Deixa de besteira e abaixa essa faca, moleque! Eu sei quem é você, e você deveria se lembrar de mim também! Eu sou Glorin, do exército, está lembrado? E você é Ramits Kilnore, filho de Tomas e Luona, os coureiros da vila! Você é aquele garoto que comia ranho! E ai, parou com essa mania ou ainda não? – disse o anão, apontando para mais velho dos meninos. Junto com ele havia mais quatro crianças. Uma menina de aproximadamente 10 anos, de longos cabelos louros, dois outros garotos, ambos humanos e que aparentavam ter entre 10 e 12 anos de idade, um deles de cabelos curtos e negros e o outro de cabelos louros e lisos, cortados na altura das orelhas. Por fim, havia um garoto elfo, de cabelos azulados, que aparentava ter uns 12 anos também. Era o garoto que havia sido raptado no dia em que os heróis haviam chegado à vila de Carvalho Quebrado. Glorin continuou falando, nomeando cada uma das crianças.

_ Você é Tulana Therala, filha de Gerard e Raíssa, agricultores! O de cabelo escuro é Kilone Nalmak, filho de Darjak, o cesteiro, e Gila! Você é aquele miserável que amarrou o rabo do meu cavalo, seu moleque safado! E você é o filho de Henry e Cora Garippa, que fazem sapatos! Seu nome é Dilan, e você também é um garoto muito arteiro! E o elfo é Nolin, filho do joalheiro Anmil Zaian e sua esposa Lívia, dois dos melhores elfos que eu já conheci!

_ Tio Glorin!!!! – gritaram as crianças em coro, correndo para abraçar o anão.

A tensão se dissipou, Nailo cuidou da ferida aberta pela adaga de Ramits e todos entraram no quarto. A porta foi fechada e eles puderam conversar em paz.

_ Vamos lá! Digam tudo o que vocês sabem! – falou Nailo, apressado.

_ Eu sei contar até cinqüenta! – a pequena Tulana deu um passo à frente e respondeu à pergunta com ar de inocência. Anix imediatamente se encantou com a pureza da pequenina, lembrou-se de sua amada Enola ao ver o jeito singelo da garota. Nailo, entretanto, ficou irritado.

_ Ai droga! Não é isso que eu quis dizer! Contem o que aconteceu com vocês! E sem perder tempo! – continuou o ranger.

_ Calma! Está tudo bem! Contem como vocês vieram parar aqui, desde quando estão nesse lugar, e...espere! Não está faltando alguém? Não eram seis crianças raptadas? – Glorin interveio, explicando calmamente o que Nailo queria dizer. Então ele se espantou e notou que faltava uma criança.

_ Sim tio Glorin! Nós éramos seis! Mas aquele esqueletão levou a Tábata embora ontem! Ele disse que o mestre dele ia transformar a Tábata numa caveira também, igual a ele! – respondeu Ramits com a voz carregada de tristeza.

_ Ai não! Pelos deuses! Como que é essa tal Tábata? Quantos anos ela tem? – perguntou Nailo, assustado. O ranger parecia suspeitar de alguma coisa.

_ Bem, ela tem a minha idade e... – Ramits começou a responder, mas foi bruscamente interrompido por Nailo.

_ Essa não, 15 anos mais ou menos! E ela é bonita? – Nailo ouviu aquilo que ele temia ouvir. A menina era praticamente uma mulher formada, e, pela idade, com certeza era virgem ainda. Era uma vítima perfeita para um sacrifício.

_ Ora, não pergunte essas coisas senhor Nailo! – respondeu, encabulado, o garoto. Seu rosto ficou levemente corado ao ser perguntado sobre a beleza da menina.

_ Ahá! Você gosta dela, não é? – perguntou Nailo, apontando o dedo como um inquisidor para o garoto. Ramits não teve tempo para responder.

_ Ih! Olha só! Não é que o come ranho está apaixonado! Hahahaha! Por essa eu não esperava! O come ranho está amando! – Glorin se intrometeu na conversa, fazendo chacota e irritando o garoto. Todos os outros acompanharam o anão, e começaram a rir enquanto provocavam o menino.

_ Parem com isso! Não é nada disso! Vocês não sabem o que estão falando! – gritou o menino enfurecido. Seu rosto estava ainda mais rubro que antes. Era verdade, ele estava apaixonado.

_ Ah droga! Vamos parar com essa enrolação! O namoro dele e daquela menina não tem importância agora! Deixem de piada! Vamos lá come ranho..oops, quero dizer, vamos logo Ramits, conte tudo o que sabe! – retrucou Nailo, interrompendo as gargalhadas.

_ Eu sei contar até cinqüenta! – respondeu a pequena Tulana, deixando Nailo com cara de bobo no meio de todos.

As risadas pararam aos poucos, até se extinguirem totalmente. Os heróis retomaram sua postura séria de antes e todos pararam para prestar atenção no relato dos garotos. Ramits começou finalmente a falar:

_ Nós estamos aqui há mais ou menos uma semana! Eu fui o primeiro a chegar aqui! Fui o primeiro a ser pego por eles! Depois vieram Tulana, Kilone, Dilan, Nolin e Tábata! – os olhos do jovem brilharam quando ele pronunciou o último nome. Os heróis seguraram o riso.

_ E como você foi capturado? – era Nailo.

_ Bem, os monstros tinham atacado a vila três vezes! Eu Decidi então acabar com todos eles e preparei algumas armadilhas para pegá-los! Cavei alguns buracos no chão, amarrei umas cordas nas árvores! Mas, eles me pegaram desprevenido, no início da noite, enquanto eu preparava as armadilhas! Fui pego por um bando de esqueletos, mas nenhum deles era como aquele outro que falava!

_ E você achou mesmo que ia conseguir vencer todos aqueles mortos-vivos sozinho? Você é só um moleque que nem sabe lutar! E ainda por cima come ranho! – era Legolas.

_Mas eu sou muito corajoso e esperto! Até consegui ferir o senhor Nailo com minha adaga! Além disso, quando eu era menor fiquei sozinho em casa e uns ladrões tentaram invadi-la! Eu os coloquei pra correr sozinho! Um deles deve ter até hoje na testa a marca do balde d’água que o atingiu! – gabou-se o garoto, exibindo sua adaga.

_É seu moleque! Mas os mortos conseguiram te pegar! E nós matamos quase todos eles, inclusive aquele esqueleto falante! – resmungou o ranger, segurando sua ferida.

_ Bem, eu fui trazido pra cá e depois os outros foram chegando um a um! Aquele esqueletão vinha todos os dias aqui pra nos atormentar! Falava que o mestre dele ia nos usar pra fazer experiências e que nós iríamos ficar iguais a ele, se sobrevivêssemos! Ele sempre nos batia, e nos davam pouca comida e água!

Anix o interrompeu abriu sua mochila, de onde retirou algumas rações de viagem. Os outros rapidamente seguiram o gesto do mago e deram comida e água às crianças que devorava tudo como animais famintos. Ramits continuou falando, mesmo com a boca cheia, e, inconscientemente, passava o dedo no nariz e logo depois na boca. Os heróis olhavam enojados, mas resistiram ao desejo de repreender o garoto e deixaram que ele prosseguisse em seu relato.

_ Bom, uma vez a gente tentou pegar o esqueletão, mas ele escapou da armadilha e chutou minha boca! Ela dói até hoje!

_ E você viu quem é o mestre dele? – perguntou Squall, segurando sua boca e compartilhando a dor do menino.

_ Sim, eu já o vi uma vez! Mas foi só de relance, por uma fresta da porta! Ele estava conversando com o esqueleto, mas falava numa língua estranha, que eu nunca tinha ouvido antes! – respondeu Ramits.

_ Diga se ele falava desse jeito...! – Nailo pronunciou uma frase em idioma silvestre, depois em dracônico. Entretanto, segundo Ramits, não era a mesma linguagem que ele ouvira. Depois cada um dos heróis falou nos idiomas que conhecia, inclusive Glorin, que conhecia a língua dos dragões e a dos gigantes, além do valkar e anão. Nenhum dos idiomas era o que o garoto mencionara.

_ E como ele era, Ramits? – perguntou Anix.

_ Bem ele tinha uma voz muito calma! Parecia ser uma pessoa muito inteligente e sábia! Tinha um cabelo comprido e claro, não sei se era branco, prateado ou azulado, só sei que era claro! E ele vestia roupas brancas, um tipo de túnica ou manto branco! Foi tudo que eu consegui ver dele! – continuou o rapaz.

_ E o que mais você sabe? – era Nailo.

_ Fique quieta Tulana! Nós já sabemos que você conta até cinqüenta! – Ramits tapou a boca da pequena menina, impedindo-a de se pronunciar. Depois prosseguiu. – Bom, eu sei também que ele tem outros ajudantes! Eu ouvi outras vozes além do esqueletão! E um desses ajudantes era alguém que falava muito! Ele não parava de falar um instante sequer! Bom, nós ficamos aqui por quase uma semana, então ontem aquela caveira veio aqui e levou a Tábata! – seus olhos brilharam novamente. – Levou ela embora e disse que o mestre dele ia fazer uma experiência com ela! Ia tentar criar outros como ele, outros esqueletos falantes! Depois a gente preparou uma armadilha pra pegar a caveira, e vocês chegaram! Isso é tudo que posso dizer! – completou o garoto.

Ramits voltou a comer e se calou. Os aventureiros então começaram a pensar no que fazer. Legolas brincava com o garoto elfo.

_ Nolin! O que você vai ser quando crescer? – perguntou o arqueiro.

_ Quero ser um artista, como meu pai! – respondeu o menino.

_ Não, não faça isso! Seja um arqueiro como o tio Legolas aqui! Você vai ser muito forte e todas as meninas vão se interessar por você! – continuou o arqueiro, exibindo seus músculos e fazendo pose com o arco.

_ Nada disso! Melhor vocês todos virarem feiticeiros! Vocês poderão fazer coisas incríveis! Magia é muito legal! Vou demonstrar! Akorfia!! – Squall se intrometeu na conversa, se exibindo tanto quanto Legolas e usou sua varinha mágica para tornar o pequeno elfo invisível. Nolin desapareceu, envolto em sombras negras, assustando todas as crianças. Ramits se irritou.

_ AH! O que você fez com ele! Devolva o Nolin! Eu sabia que era um truque! Vocês não vieram nos salvar coisa nenhuma! – Ramits sacou sua adaga novamente, engoliu as pressas o que tinha na boca e ameaçou Squall. O feiticeiro tentou acalmá-lo, mas era inútil. Então Legolas resolveu a situação.

_ Calma, calma! Não precisa ficar nervoso! Nolin, dê um tapa aqui na mão do tio Legolas! – disse o arqueiro, sorrindo.

O pequeno elfo bateu na mão do arqueiro e reapareceu. Era óbvio, a magia de invisibilidade servia apenas para proteção. Se seu usuário atacasse alguém de qualquer forma, dissiparia o efeito mágico. Ao bater na mão de Legolas, o pequeno Nolin perdeu a camuflagem mágica e voltou a ser visível. Ramits respirou aliviado, e voltou a comer.

_ E você come ranho? Vai ser arqueiro, não é! Assim a Tábata vai querer casar com você! – provocou Legolas.

_ Ora! Não diga essas coisas! Já falei que não é nada disso! E eu não sou come ranho coisa nenhuma! – bufou o rapaz.

_ Não se preocupe, Ramits! Quando a gente voltar pra vila eu vou te dar um presente, uma poção mágica! É uma poção do amor! Você só precisa dar ela para a Tábata beber e ela ficará caidinha por você! – falou Nailo.

_ Sério mesmo senhor Nailo? Nossa, obrigad...quer dizer...não precisa disso...já disse que não estou apaixonado!!! – os olhos de Ramits brilharam mais forte ainda. Quando ia agradecer ao ranger, percebeu que estava se revelando e tentou corrigir, mas já era tarde demais.

_ Há!!! Te peguei moleque! Agora não adianta mais tentar esconder! – riu Nailo.

Todos riram e Ramits ficou vermelho. Seus sentimentos já não eram mais segredo para ninguém, ele amava Tábata. E a menina corria um grande perigo. Era preciso fazer alguma coisa rápido para salvá-la. Com exceção de Glorin, todos sabiam onde a jovem deveria estar: na torre. E era pra lá que eles deveriam rumar o quanto antes. Porém, não poderiam deixar as outras crianças sozinhas, e levá-las junto com eles seria arriscado demais. Nailo sugeriu de deixar Cloud tomando conta das crianças, mas ainda assim era perigoso. Os outros ajudantes do criador dos mortos-vivos poderiam chegar de fora do castelo e pegar as crianças desprotegidas, enquanto os heróis se dirigissem para a torre. Então, Glorin tomou uma decisão.

_ Ei, Nailo! Você não disse que queria ir até a vila, pra buscar seu lobo? Pois então essa é a sua chance! Você irá até a vila junto com Legolas e Lucano para levar as crianças embora! Anix, Squall e eu ficaremos aqui, vigiando o castelo até vocês retornarem! Nós esperaremos pela volta de vocês, mas não percam tempo! A vida de Tábata corre perigo, e só nós podemos salvá-la! Qualquer segundo é precioso, não podemos perder mais tempo, ou poderemos chegar tarde demais!

E, dizendo essas palavras com a autoridade de um verdadeiro capitão, Glorin convocou seus soldados. O grupo reuniu suas coisas e deixou o quarto, retornando para o andar inferior do castelo, onde novas surpresas os aguardavam.

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