agosto 31, 2007

Campanha A - Capítulo 293 – O último truque centenário de Léo Seis Dedos

Capítulo 293 O último truque centenário de Léo Seis Dedos

Cloud voou até o alto da torre do farol e, pela sua agitação, Squall soube que algo grave acontecia. O medalhão dado por Oceano, e que Squall havia colocado em seu familiar, tornou-se líquido e desapareceu, fundindo-se ao corpo da ave. A mesma coisa aconteceu com os outros pingentes, quando cada um dos escolhidos saiu de dentro da água. Os heróis foram rapidamente para a pequena praia onde haviam atracado no dia anterior. Ao chegar lá, outra desagradável surpresa, o bote que tinham usado para chegar à ilha também não estava mais lá.

Diferente de seus amigos, Nailo preferiu escalar o paredão rochoso onde antes estava ancorado o navio. Galgou os metros que separavam a água do solo da ilha e correu em direção à entrada do farol. Em seu trajeto, o ranger percebeu diversas marcas de pés espalhadas pelo chão. Eram pegadas de humanos ou elfos, mais de uma dezena delas, que iam do navio à entrada da torre. E eram pegadas recentes, que haviam sido feitas enquanto ele e seus amigos estavam lutando contra a bruxa nas profundezas do mar. Nailo apressou o passo, preocupado.

O grupo se reuniu novamente diante da entrada da torre do farol. Legolas carregava o baú cheio de ouro que encontrara nos destroços do navio e os itens que pertenciam à bruxa. O corpo da mulher maligna jazia agora na areia da praia, aos pedaços. Entraram. Subiram velozmente os degraus que conduziam ao topo do farol, até atravessarem o pequeno alçapão que se abria para o exterior. Lá em cima, no último andar da construção, tiveram a última e pior das surpresas. Não havia sinal de Léo Seis Dedos em lugar algum. Silfo e Rael jaziam amarrados e amordaçados dentro da câmara do farol, e a estátua de pedra, que na verdade era Deedlit, havia desaparecido.

Após serem desamarrados, Silfo e Rael contaram, com pesar, o que havia ocorrido. Um pequeno barco havia chegado à ilha com os seguidores de Léo Seis Dedos a bordo. Eram trinta piratas armados, que estavam seguindo o navio da bruxa Silmara para poderem resgatar seu desprezível capitão. Os piratas invadiram o farol, sem dar chance de Silfo e Rael reagirem. Os dois foram rendidos e feitos prisioneiros. Os piratas fugiram, levando consigo todo o tesouro e todas as embarcações que existiam na ilha. Levaram Deedlit e os pertences dos heróis, incluindo o grimório de Anix e tudo mais que eles haviam deixado na ilha.

Irado, o mago amaldiçoava o nome do pirata, enquanto Nailo saia em busca de ajuda no mar para perseguir o navio. Squall o chamou de volta e, usando um dos pergaminhos de Deedlit, fez Nailo voar. O ranger subiu aos céus rapidamente, ganhando cada vez mais altitude. Lá do alto, a dezenas de metros de distância do chão, Nailo finalmente foi capaz de avistar o navio, muito distante.

Nailo desceu rapidamente, saltando de cima da escada no meio da descida para economizar tempo. Sem hesitar, atirou-se ao mar e mergulhou (a magia do pergaminho ainda estava ativa, e ele ainda era capaz de respirar normalmente), o pingente de Oceano voltou a aparecer em seu pescoço, e ele nadou em busca de animais que pudessem ajudá-lo.

Havia um cardume de golfinhos que coincidentemente nadavam pelas redondezas. Ao ver Nailo, os animais nadaram em sua direção com tamanho entusiasmo que ele chegou a pensar que seria atacado. Mas, um dos golfinhos passou por baixo de Nailo e nadou para cima até erguê-lo e o carregou em suas costas.

_ Vamos! Nós iremos ajudá-lo! – disse o golfinho na língua dos animais, que Nailo era capaz de compreender graças ao poder recebido de Allihanna.

_ Como vocês me encontraram? Como sabem que eu preciso de ajuda? – perguntou o ranger, intrigado.

_ Fomos mandados pelo senhor da água, para ajudar vocês! – respondeu o animal. Oceano voltava a interferir no mundo dos mortais para ajudar os filhos de Glórien e seus amigos.

Nailo buscou seus amigos na torre e um a um, todos subiram nos golfinhos e foram carregados mar adentro. Nailo apontou aos animais a direção que deviam tomar e eles partiram.

Já eram passados mais de trinta minutos quando avistaram o navio pirata. Em letras vermelhas, talvez desenhas com sangue, puderam ler o nome agourento da embarcação: Infortúnio.

Os golfinhos se dividiram em dois grupos. Nailo, Anix, Orion e Silfo foram para a direita, Squall, Lucano, Legolas e Rael pela esquerda. Cavalgavam os golfinhos ao lado do Infortúnio e puderam ouvir o que se passava dentro do navio.

_ Então eu me deixei capturar por eles, e aqueles idiotas caíram no meu truque e me deixaram sozinho com aqueles dois panacas! Eles nem imaginavam que eu já sabia que vocês chegariam naquele momento, homens! Aqueles imbecis caíram num truque de mais de duzentos anos, como são tolos! Agora temos o navio da bruxa, muito melhor que o nosso antigo navio, temos todo o tesouro daquela velha asquerosa e temos todas as coisas que aqueles panacas possuíam! Foi um grande trabalho homens! Fizemos aqueles elfos e aquela bruxa lutarem entre si, enquanto nós roubávamos suas coisas! Esse truque, tem algumas centenas de anos, mas sempre tem algum idiota que ainda ai nele! E desta vez foram dois bandos de idiotas! Hahahahahaha! Como sou esperto! Agora, homens, vamos torrar todo esse ouro com mulheres e bebida, e quando ele tiver acabado, venderemos aquela estátua e as coisas daqueles elfos e continuaremos nossa farra por muito tempo! Hahahahahaha!

Léo Seis Dedos enaltecia a si mesmo e zombava dos heróis, sem suspeitar que eles ouviam cada palavra que saia de sua boca desdentada. Anix se enfurecia.

_ Pessoal! Vocês podem fazer o que quiserem lá em cima! Mas eu peço apenas uma coisa a vocês! Deixem Léo Seis Dedos comigo! Aquele desgraçado vai me pagar por tudo que fez, principalmente por ter roubado meu grimório! Quero matá-lo com minhas próprias mãos! – disse o mago.

_ Não, Anix! Eu aprendi com meus erros nesse tempo em que estivemos no forte! Agora somos a lei, devemos manter a ordem! Ao invés de matá-los, vamos levar todos eles presos para o forte! Isso é a coisa mais certa que temos a fazer! – discordou Nailo.

_ Não diga bobagens, Nailo! Eles são criminosos, bandidos! E são perigosos! – retrucou Anix.

_ Mas são humanos! Não são elfos, mas são quase gente como nós! Eu não quero mais matar pessoas! Minhas espadas só matarão monstros daqui por diante! – respondeu o ranger.

Então, Nailo, Anix e Orion começaram a discutir entre si sobre o que deveriam fazer com os piratas. A discussão se acalorou e o som das vozes exaltadas atraiu a atenção dos piratas.

_ O que foi isso? Homens! Às armas! Tem alguma nau inimiga nos seguindo! – gritou o capitão pirata.

Os piratas desembainharam suas armas e procuraram pelos inimigos. Sob o comando de Nailo, os golfinhos mergulharam e todos ficaram escondidos. Os animais se soltaram dos aventureiros e nadaram para o fundo do oceano, para logo em seguida subirem em alta velocidade. Suas cabeças empurraram os pés dos heróis e os jogaram para fora d’água com violência. Os golfinhos saltaram vários metros acima da água e impulsionaram os heróis ainda mais alto com suas cabeças. Os aventureiros saltaram para dentro do navio e surpreenderam os inimigos.

Nailo, Legolas, Squall e Silfo caíram dentro do navio, de armas na mão e atacaram. Anix, Orion, Lucano e Rael agarraram-se ao guarda-corpo da embarcação e ficaram pendurados do lado de fora. As flechas voaram e as espadas cortaram o ar e a carne como se fossem feitos da mesma matéria. Um pirata caiu, quase morto, com o pescoço jorrando sangue no convés. Nailo viu o que tinha feito e se arrependeu.

_ Ataquem! Matem todos! – gritou o capitão de seis dedos. Foi sua última ordem.

Os piratas avançaram, cercando os heróis. Aproveitavam-se da vantagem numérica e atacavam vários ao mesmo tempo, impossibilitando que os heróis se defendessem adequadamente. Suas armas, espadas de lâmina longa reta e já desgastada, rasgavam a carne dos escolhidos, ferindo-os em pontos estratégicos para causar maior dor e estrago.

Nailo e Squall eram os mais atingidos. Protegidos apenas por armaduras leves ou nenhuma armadura, as lâminas inimigas alcançavam com facilidade seus corpos, bebendo seu sangue. Orion, amparado pela densa couraça de metal que vestia, raramente era ferido, os golpes encontravam a resistência de sua armadura e não conseguiam atravessá-la. Legolas e Silfo, mais distantes da multidão de inimigos, aproveitavam a chance para atacá-los com seus arcos.

Anix e os outros, pendurados no casco do navio, nada podiam fazer para ajudar. O mago, então, se atirou ao mar após localizar seu alvo, pegou um pergaminho em seu porta mapas e conjurou sobre si um feitiço. E conforme sua vontade, Anix flutuou acima da água e voou para a popa do Infortúnio.

No convés, Nailo revidava os ataques com suas espadas, porém, não atacava com o fio da lâmina, como havia prometido, para não matar nenhum dos adversários. Seus golpes iam atingindo uma a um os piratas que o cercavam, deixando-os desacordados no chão. O único dano letal causado por ele vinha das faíscas de sua espada elétrica, mas ainda assim era insuficiente para matar num único golpe. Aos poucos foi se formando uma pilha de bandidos desmaiados ao redor de Nailo, fulminados por seus golpes piedosos.

Em contraste, Orion lutava impiedosamente. Sua enorme espada rasgava os inimigos que o cercavam um a um em seqüência, até que não sobrasse um só inimigo em pé. A cada golpe, pedaços humanos voavam e cascatas de sangue formavam lagos rubros no chão do convés. O guerreiro não se movia de seu lugar, eram os inimigos que choviam sobre ele como um enxame. A cada homem caído, o guerreiro aproveitava a força restante no golpe para derrubar outro pirata, e mais outro e mais outro, até que só restaram retalhos de seres humanos espalhados pelo piso ao redor dele.

Squall enfrentava dificuldades, cercado por diversos inimigos e gravemente ferido, o feiticeiro se viu obrigado a fugir. Foi salvo pelo pergaminho de sua amada, que lhe concedeu o poder de voar e escapar das lâminas dos adversários. Squall esperava poder retribuir o favor que Deedlit lhe fizera mesmo sem poder se mexer, e libertá-la de sua prisão de pedra o quanto antes. Do alto, o feiticeiro pôs-se a lançar bolas de fogo explosivas sobre as cabeças dos piratas, que saltitavam de um lado para outro, tentando sobreviver às chamas que ardiam no convés. Os corpos carbonizados foram se amontoando até tornarem-se numerosos.

Os poucos inimigos que restavam optaram por não lutar, e se atiraram ao mar, em uma tentativa desesperada de fuga. Léo Seis Dedos tentou fazer o mesmo, mas foi impedido.

_ Não vai escapar, maldito! – Anix surgiu de trás do navio, carregado pela brisa fresca do mar, e agarrou o capitão pirata. Léo tentou se defender, atacando Anix com sua espada, mas o mago escapou da lâmina da arma e segurou o inimigo por trás. – Agora nós vamos dar um passeio, seu desgraçado!

Segurando o pirata, Anix alçou vôo. Os dois subiram até ficarem a quase duzentos metros de altura. Lá no alto, Anix virou Léo de frente para ele e o encarou.

_ Agora diga, seu desgraçado! Onde estão a estátua e o meu grimório? – rugiu o mago.

_ Eu não sei, senhor! Não sei do que fala! Por favor, não me machuque! Eu serei bonzinho! – choramingou o pirata.

_ Não tente me enrolar! Desta vez suas lágrimas não irão me enganar! Diga logo o que fez com a Deedlit! Onde está a estátua da elfa?

_ Está no navio! No porão, senhor! Perdão!

Sem que Anix percebesse, Léo Seis Dedos sacou uma adaga escondida em suas costas e, enquanto implorava por piedade, cravou-a nas costas do elfo.

_ Maldito, o que você fez?

_ Hahahaha! Idiota, caiu num truque com mais de trezentos anos! Agora você vai morrer! A adaga está envenenada! Você já era, paspalho! – riu o bandido, pela última vez.

_ Não! Quem vai morrer é você! Agora já sei onde a Deedlit está, não preciso mais de você! É o seu fim, seu maldito!

Anix virou-se para baixo, junto com o pirata, e começou a descer em uma velocidade assustadora. Léo tentava se agarrar à adaga fincada nas costas do mago, mas era tarde. Quando estavam a uns vinte metros de altura, Anix empurrou o pirata com força para o convés do navio, desviou sua trajetória e voou para longe do impacto.

_ MORRAAAA!!! MALDITOOOO!!! – gritou Anix, encolerado.

_ Nããão Anix!!! – gritou Nailo, correndo em direção ao pirata.

_ AAAAAAAAAAAAA!!! – as últimas palavras de Léo Seis Dedos.

Nailo saltou até o pirata. Tentou segurá-lo, mas foi em vão. Léo Seis Dedos bateu em Nailo com força, jogando-o para trás, ferido pelo impacto, e se chocou com o chão violentamente. Um estrondo igual ao de uma explosão ecoou, um enorme buraco se abriu no convés, o corpo de Léo continuou caindo até o andar inferior, onde explodiu ao se chocar contra o segundo piso. Pedaços do pirata se espalharam por todo o porão, tingindo chão, paredes de objetos com o sangue desprezível do pirata. Estavam encerrados para sempre os dias de pilhagem e vilania do capitão Léo Seis Dedos. Seus famosos truques de “mais de trezentos anos” jamais seriam usados de novo no mundo de Arton.

agosto 30, 2007

Campanha A - Capítulo 292 – Encontro com o Senhor dos Mares

Capítulo 292 Encontro com o Senhor dos Mares

Latnemeleangus, o guardião, tornou-se um com a água que inundava o túnel, desfazendo-se de sua forma humanóide e se unindo ao mar para formar um turbilhão. A forte corrente envolveu e arrastou os três escolhidos que o acompanhavam, numa velocidade estonteante, percorrendo diversos túneis tortuosos e escuros. Os três tentavam com esforço entender e memorizar o caminho que percorriam, ainda que isso fosse dificultoso pela velocidade e escuridão. Mas logo as trevas foram quebradas por uma forte luz que se fazia presente no final do caminho e envolvia todo o perímetro do túnel. Latnemeleangus e os três aventureiros atravessaram a luz, e num instante estavam em outro lugar, em outro mundo.

_ Olhem jovens escolhidos! Este é Pelágia, o reino de Oceano! – disse o elemental, imponente.

Nailo, Orion e Squall olharam ao redor. Estavam dentro de um imenso oceano, de dimensões incalculáveis e impressionantes. Havia enormes corais e algas que cresciam no fundo, muitos metros abaixo dali. Um sol tímido e difuso brilhava acima de suas cabeças, centenas de quilômetros acima de suas cabeças, mostrando que naquele lugar, além de mares infindáveis, também havia céu. Atrás deles havia apenas um disco luminoso, flutuando sob a água e emitindo uma luz alva. O portal. Não havia sinal de montanha ou caverna ali, o portal permanecia, imóvel, suspenso na água.

Um gigantesco molusco passou ligeiro, nadando diante dos heróis, causando pequenos maremotos enquanto se deslocava. Um peixe com mais de trezentos metros de comprimento, de presas do tamanho de prédios e olhos do tamanho de casas, perseguia o molusco, tentando devorá-lo. Tudo enorme e fantástico, e no entanto, os três não sentiam o pavor que deveria ser esperado, frente àquela grandiosidade toda. Ao contrário, sentiam-se muito bem, confortáveis naquele lugar. A água, apesar de estarem em profundezas maiores que a mais funda fossa de Arton, era quente e aconchegante, e transmitia um bem estar e confiança, como o abraço de alguém muito querido era capaz de fazer.

_ Então esse é o reino do seu deus? Incrível!!! – admirou-se Orion.

_ Fantástico! E, me diga, aqui existe a Tormenta? – perguntou Squall

_ Claro que não! Aqui é um lugar abençoado, protegido pelo Grande Oceano! – respondeu Latnemeleangus.

_ Falando em seu deus, será que você poderia levar uma mensagem minha até ele? Eu tenho uma pergunta para fazer! – pediu Nailo.

_ Pois então faça sua pergunta, Nailo! O Grande Senhor das Águas está ouvindo! – disse o elemental, estendendo seu braço adiante, com reverência.

_ E onde está ele? – indagou o ranger.

_ Está bem aqui, agora, neste lugar, em todos os lugares! Ele é este lugar! – explicou o guardião. Todos ficaram boquiabertos e finalmente entenderam porque tinham aquela sensação boa ao entrar em contato com aquelas águas. Aquele mar todo era o deus Oceano. Ele os rodeava, os envolvia, tocava e preenchia, ele estava em tudo e todos.

_ Ó Grande Oceano! Tenho uma pergunta a lhe fazer! O senhor que conhece tudo que se passa nos mares, diga-me se meu amigo Sairf está aqui? – perguntou Nailo.

_ Não! O mago Sairf Ridlav não está aqui! Ele está muito distante daqui, em Arton, e muito distante do reino onde vocês estavam! – uma voz que parecia vinda de todos os lugares e lugar nenhum ao mesmo tempo, ecoou como uma trombeta por todos os lados.

_ E o que ele faz? Ele irá nos trair? – perguntou novamente o ranger. Squall estranhou a pergunta, mas Nailo lhe explicou que, após a traição de Zulil, sua confiança nas outras pessoas, especialmente as que se separavam deles, estava abalada.

_ Se Sairf irá traí-los ou não, isso será ele quem decidirá! Mas no momento ele não trai nenhum de vocês, neste momento ele apenas persegue o seu próprio destino! E, não se preocupe, pois vocês irão revê-lo um dia, e esse dia está se aproximando! – a voz de Oceano novamente voltava a preencher todo o lugar.

_ Grande Oceano! Saberia me dizer o que é esse amuleto que eu carrego? – perguntou Orion, mostrando o pingente para o mar.

_ Quando chegar o devido momento, você descobrirá o que este objeto faz! Não posso lhe revelar isso neste momento!

Orion guardou seu amuleto, conformado e confiante.

_ Senhor! Somente as criaturas aquáticas vivem aqui? Não existe ninguém como nós, do mundo seco, vivendo por aqui? – indagou Nailo.

_ Sim, há pés secos aqui! Eles vivem lá em cima, na superfície! Da mesma forma que acontece com as criaturas aquáticas, aqueles do mundo seco que são fiéis a mim, vêm para cá depois que suas vidas em Arton terminam!

_ Senhor! Tenho um pedido a lhe fazer! Poderia nos dar alguma coisa, alguma prova de que falamos com o senhor? Alguma prova para que se, algum dia, encontrarmos algum dos seus servos, nós sermos reconhecidos como aliados e não como inimigos, assim como aconteceu com o guardião? – pediu Squall.

_ Isso não é necessário! Quando chegar o momento de retornarem aqui, e vocês voltarão a esse lugar algum dia! Quando esse dia chegar, Latnemeleangus não os impedirá! Mas vocês receberão algo, será a única ajuda que lhes darei! Vocês até agora provaram seu valor, e se continuarem a fazê-lo, superando as dificuldades cada vez que eu os testar, receberão novamente minha ajuda!

Então, seis pequenos redemoinhos se formaram diante dos heróis. As águas giravam cada vez mais rápido, condensando os pequenos redemoinhos mais e mais, reunindo grandes quantidades de água em pequenos pontos, até que pararam de girar. Seis gotas d’água, do tamanho de polegares, se formaram diante do grupo. Eram feitas de água, e pareciam sólidas e líquidas ao mesmo tempo. Da extremidade mais fina de cada uma saia uma corrente de gotas de água trançadas magicamente para formar um colar magnífico.

_ Peguem cada um de vocês um pingente e levem os que sobrarem para os que os aguardam em Arton! – ordenou Oceano.

_ Sim, senhor! Por acaso isso nos concederá o poder de respirar na água? – disse Nailo.

_ Não! Agora vão e cumpram seu destino! E um dia nos encontraremos novamente, quando vocês retornarem a meu reino! Adeus! – despediu-se o deus. Os três temeram que o dia do reencontro fosse o dia de suas mortes, já que somente os que morriam em Arton iam para os reinos dos deuses. Mas não tiveram tempo de perguntar mais nada. Uma forte onda os empurrou para além do portal, através do túnel, até a câmara onde Anix e Lucano aguardavam. Nailo e os outros contaram o que havia acontecido e entregaram aos amigos os colares dados por Oceano. Um turbilhão d’água invadiu a câmara logo depois. Era o guardião.

_ Partam em paz, filhos de Glórien! Mas antes, trago-lhes uma última mensagem de meu mestre! Essa será uma das poucas vezes que ele interferirá e lhes dará ajuda, portanto aproveitem-na sabiamente! O Grande Oceano em pessoa mandou avisar-lhes para que abrandem seus corações para com o humano que os acompanha! Ele também é um escolhido, assim como vocês, e nele vocês podem confiar! Ele se juntou a vocês todos para ajudá-los em sua missão! Agora partam! Não revelem a ninguém a existência desse lugar! E nos encontraremos em breve! Adeus! – Latnemeleangus falou com sua voz de tempestade e partiu, retornando pelo túnel que levava até Pelágia. Lucano, Orion, Anix, Nailo e Squall foram reunir-se com Legolas, nos destroços do Trinidade.

O arqueiro carregava um baú e o corpo de Silmara, e já nadava em direção à superfície. Os outros se juntaram a ele, Orion o ajudou a carregar o pesado fardo, e todos retornaram à superfície. Lá em cima, fora dos domínios de Oceano, uma terrível surpresa os aguardava. O navio pirata, do qual Legolas pretendia se apossar, não estava mais lá. Enquanto estiveram submersos, algo muito ruim acontecera fora da água.

agosto 29, 2007

Campanha A - Capítulo 291 – Latnemeleangus

Capítulo 291 Latnemeleangus

O elemental bloqueou a saída do grupo com seu corpanzil líquido. Sua voz rugiu como uma tempestade, chacoalhando as paredes da caverna, criando turbilhões na água que a preenchia. Urrava em uma língua estranha e incomum, mas que os elfos presentes já haviam ouvido antes. Squall entendeu a mensagem, parte dela ao menos.

_ Ele está querendo saber quem somos nós! – disse o feiticeiro, usando o conhecimento do idioma aquan transmitido pelo mago Sairf nos poucos meses em que estiveram juntos.

_ Fale com ele, Squall! Diga que somos amigos, que não queremos fazer mal! – responderam os demais.

Squall tentou. Mas, seu domínio do idioma submarino era pequeno ainda, já que havia muito tempo que seus estudos tinham sido interrompidos devido à partida de Sairf. O elemental estava impaciente. Nailo, então, através de gestos, pediu ao ser aquoso que aguardasse por um instante. Pegou em sua mochila um pergaminho mágico e, sob o olhar atento e ameaçador do monstro, entregou-o a Lucano.

_ Tome Lucano! Faça esta magia, você conseguirá se comunicar com ele depois disso! – Disse Nailo.

Lucano tomou o pergaminho em suas mãos, pronunciou as palavras mágicas tal qual o ranger havia instruído (recebera essa informação na ocasião em que comprara o pergaminho) e a magia se fez. Lucano começou a falar no idioma da criatura da água, como se o conhecesse há eras. Entretanto, não havia um consenso entre o grupo sobre o que seria dito e eles discutiam entre si, conversando no idioma comum, o que seria dito ao monstro. Decidiram por bem não falar nada sobre o amuleto dos planos e assim foi feito. Lucano foi aos poucos traduzindo ao elemental o que era decidido pelo grupo.

_ Quem são e o que vieram fazer aqui? Como descobriram esse lugar? – perguntava o elemental em sua voz de tormenta.

_ Somos pessoas boas! Estávamos perseguindo essa bruxa! Ela transformou nossa amiga em pedra e estamos em busca de uma cura para ela! – respondia Lucano. – E você? Quem é?

_ Sou Latnemeleangus! Sou o guardião deste local! Ele é proibido para vocês!

_ E o que você guarda? – Lucano traduziu a dúvida de Squall.

_ Eu guardo a passagem! A passagem para o reino de Oceano! E agora que vocês encontraram esse lugar, não poderão mais ir embora! Ficarão prisioneiros aqui ou morrerão! Vocês decidem!

_ Não pode nos matar! Prometemos não contar a ninguém sobre esse lugar! Iremos embora em paz! Deixe-nos partir! – eram as palavras de Legolas e Anix traduzidas.

_ Não posso! Terei que matá-los! Recebei essas ordens de meu mestre! Não posso descumpri-las!

_ E quem é o seu mestre? – todos desejavam saber a mesma coisa.

_ Quem mais seria ele, senão o grande deus, Oceano? Eu sirvo ao Grande Oceano!

_ E você por acaso já viu seu deus? – dessa vez era de Nailo a pergunta feita por Lucano.

_ Claro que sim! Foi ele pessoalmente quem me deu esta missão!

_ Bem, nós também já vimos vários deuses! Somos escolhidos dos deuses! Então pode nos deixar ir embora! – o clérigo continuava a traduzir as palavras do ranger, que tinha um sorriso de vitória nos lábios. Mas a vitória não viria tão fácil assim.

_ Se puderem provar suas palavras, talvez eu possa deixá-los ir embora!

Nailo nadou até a parede, onde os peixes se escondiam em tocas escavadas. Convenceu alguns dos animais a acompanhá-lo. Diante do elemental, pediu a Lucano traduzisse suas palavras.

_ Viu só! Os peixes são a prova de que somos boas pessoas, enviadas dos deuses!

_ Ora, isso não prova e não significa nada! – respondeu o monstro com desdém.

_ E por que você não nos prova que viu seu deus? – novamente as palavras de Nailo saiam da boca de Lucano, tentando vencer a irredutibilidade da criatura.

_ Não tenho que provar nada a vocês! Vocês devem fazê-lo, se desejam viver!

A conversa se desenrolou por um longo tempo. Os heróis tentavam dissuadir o elemental de todas as formas possíveis e, enquanto ele prestava atenção a Lucano, Squall recolheu o que podia do corpo de Silmara, enquanto que Nailo conseguiu se apoderar da caixa onde, pensavam, estava o amuleto dos planos. Latnemeleangus se enfureceu.

_ O que vocês pegaram? O que tem nessa caixa? Digam a verdade agora!

Nailo pediu a Lucano que não dissesse nada sobre o amuleto dos planos, inventou uma estória, de que a caixa conteria cartas escritas por Deedlit, e Lucano traduziu palavra por palavra, a mentira criada por ele.

_ Bem, agora você já sabe de tudo! Não queríamos vir a este lugar, e não iremos contar sobre ele a ninguém! Apenas seguimos a bruxa, para encontrar uma cura para nossa amiga, e para recuperar as cartas dela.

_ MENTIRA!!! Parem já de mentir, e contem toda a verdade! – a voz do elemental rugiu como um maremoto e desta vez todos puderam entender. Ele estava usando o idioma comum, o valkar, falado por todos os povos do reinado. O elemental não só conhecia a língua dos heróis, como havia ouvido e entendido tudo aquilo que eles haviam dito entre si, acreditando estarem ocultando informações preciosas e que poderiam pesar contra eles, inclusive sobre o amuleto dos planos. O gigante de água continuou gritando, enfurecido. – Contem toda a verdade! Digam o que querem com o amuleto dos planos! Eu sei de tudo que vocês diziam entre si, enquanto pensavam que eu não os entendia! Digam agora ou eu os matarei!

_ Você é um grande imbecil! Nos fez perder tempo à toa! Poderia ter dito logo no início que falava valkar! Estou ficando irritado com você! Você não conseguirá nos matar! – eram as palavras de Anix, arrogante.

_ Sim, eu o farei, essa é a minha missão!

Começou então uma discussão. Os aventureiros estavam temerosos e ao mesmo tempo irritados por terem sido enganados pelo elemental. Latnemeleangus, por sua vez, parecia mais impaciente e descontente com as explicações dos heróis.

_ Chega de mentiras! O Grande Oceano me deu a missão de guardar este local e eliminar qualquer intruso! Contem-me toda a verdade imediatamente, provem-me que são enviados dos deuses e eu os deixarei vivos! Ou então, morrerão! – rugiu o monstro.

_ Você só fica falando desse seu deus, o tempo todo! Por que você não nos prova que é enviado dele? – desafiaram os heróis.

Orion retirou seu pingente de dentro de sua armadura e o mostrou ao monstro, mas, antes que pudesse fazer qualquer coisa que pudesse selar a paz entre eles, foi surpreendido pelo ataque do elemental.

Cansado de esperar, Latnemeleangus avançou em direção ao humano de súbito. Agarrou o seu corpo como um menino que segura um brinquedo e o ergueu facilmente. A outra mão envolveu a cabeça de Orion, agarrando-a de forma assustadora. Latnemeleangus começou a inclinar a pequena cabeça em sua mão, quase a separando do seu corpo frágil. Legolas disparou seu arco, mas suas flechas resvalavam na criatura sem lhe causar dano algum. Squall pegou a arma do goblin engenhoqueiro que havia levado consigo e disparou-a na direção do inimigo. Uma rajada em forma de cone se formou diante do feiticeiro, atingindo o adversário com gelo e neve, algo muito semelhante ao que Sairf costumava fazer, lembrou Squall. Mas nem isso foi capaz de ferir ou intimidar o monstro. Ele continuou esmagando Orion com suas poderosas mãos aquosas, sem dar-lhe chance sequer de respirar. Então, quando estava prestes a arrancar a cabeça do guerreiro, o elemental parou.

Latnemeleangus ficou parado a observar Orion, atônito. Nailo ouviu uma voz, e notou que ele conversava com alguém, chamava Orion de senhora. Orion, em sua prisão sabia que o seu captor falava alguma coisa, embora não pudesse entender qualquer detalhe da conversa. Nailo observava atentamente com seus ouvidos e olhos focados no monstro, enquanto seus companheiros permaneciam como que paralisados, sem saber o que fazer. Foi nesse instante que ele notou algo estranho. Havia uma mancha escura no interior do corpo do elemental, algo sutil demais, que apenas uma visão apurada como a dele poderia notar. Pensou ser aquilo o coração do monstro, ou algum tipo de ponto fraco, como um órgão ou algo semelhante. Mas, antes que ele pudesse pensar em comunicar seus amigos e atacar a suposta fraqueza da criatura, Latnemeleangus abriu suas enormes mãos e soltou Orion.

_ Agora eu entendo tudo, e acredito em suas palavras! Estão livres para ir embora! Mas, jamais devem revelar a existência desse lugar! A ninguém vocês poderão falar sobre este lugar! Somente a pessoas em quem puderem confiar de verdade, somente a outros escolhidos, assim como vocês, é que poderão contar sobre este local! – disse Latnemeleangus, sua voz rugia como uma tempestade que se distanciava e dissipava, toda a fúria havia cessado.

_ Ufa! Até que enfim! Agora você acredita que nós vimos outros deuses, certo? Bem, mas o que foi que convenceu você? Com quem você falava! – falou Nailo.

_ A senhora do conhecimento me mostrou a verdade! Ela me contou tudo sobre vocês, Nailo! – respondeu o enorme ser.

_ Como você sabe meu nome?

_ Agora eu sei de muitas coisas sobre todos vocês! Sei que estavam em busca do Amuleto dos Planos, para impedir que esta bruxa o usasse para destruir Arton! Mas fiquem tranqüilos, pois já faz muito tempo que o amuleto está em segurança! – e dizendo essas palavras, Latnemeleangus contorceu seu corpo liquefeito e seu peito se abriu, como uma cascata que se dividisse ao meio. De lá de dentro ele retirou um medalhão atado a uma corrente prateada, mostrou-o aos heróis e o guardou novamente. Seu peito se fechou e fez sólido outra vez.

_ Mas então, ele estava com você esse tempo todo? Mas afinal, quem é você, e o que é esse lugar? Como conseguiu o amuleto? – indagou Anix.

_ Eu sou o guardião da passagem para Pelágia, o reino de meu senhor, o reino de Oceano! Além daquele túnel há um portal que conduz ao reino do senhor dos mares. Eu sou o guardião dessa passagem! Eu a protejo de invasores há eras! Ela existe nesse lugar desde muito tempo atrás, e existirá ainda por longo tempo! Eu recolhi este amuleto do navio lá fora, anos antes de vocês chegarem aqui, e o guardo, assim como o portal, a mando de meu mestre! – explicou o elemental.

Nailo resolveu, então, olhar a caixa que, achavam, continha o amuleto dos planos. Olhando a imagem esculpida em sua tampa, o ranger viu que se tratava de uma pessoa, diante de uma mesa oval, segurando um maço de cartas em sua mão, com ambos os braços estendidos para o alto. Aquilo que achavam ser uma pessoa abrindo um portal, na verdade era um jogador e suas cartas. A caixa continha um baralho. Mas, deveria ser um baralho muito especial para estar guardado daquela forma tão cuidadosa, de modo que Nailo resolveu guardá-lo para averiguar depois.

_ Vocês podem partir agora, e levar a bruxa e seus pertences com vocês! – disse o elemental. Legolas agarrou o corpo de Silmara e partiu, sozinho.

_ Espere, por favor, talvez você possa nos ajudar! A namorada de meu irmão foi transformada em pedra! Diga-nos o que fazer para que ela volte ao normal! Se você é tão poderoso e antigo quando aparenta, deve saber de algo que possa nos ajudar! – pediu Anix.

_ Não! Eu não tenho esse conhecimento nem esse poder! Mas me foi revelado, e eu lhes digo, que Deedlit voltará ao normal! Sigam seu caminho, e o destino se encarregará de solucionar esse problema! – respondeu Latnemeleangus. – Mais uma última coisa! A vocês foi concedido o direito de ver a passagem que eu guardo! Se desejarem vir comigo, poderei lhes mostrar aquilo que guardo!

Nailo, Squall e Orion aceitaram a proposta. Anix e Lucano decidiram aguardá-los no local onde estavam, enquanto Legolas se dirigia ao Trinidade, em busca de tesouros submersos. Assim, Latnemeleangus, o guardião, Nailo, Squall e Orion entraram pelo túnel de onde o elemental tinha surgido e desapareceram na escuridão.

agosto 16, 2007

Campanha A - Capítulo 290 – Batalha nas profundezas

Capítulo 290 Batalha nas profundezas

Mergulharam. A água era fria e turva, enegrecida pela proximidade com a ilha e pela agitação das ondas. Partículas boiavam na água, dificultando a visão, a ausência do brilho de Azgher naquele dia chuvoso também contribuía para camuflar a inimiga no leito do Grande Oceano. Diversos animais marinhos rodeavam o casco do navio, alimentando-se de pequenos crustáceos que se prendiam à madeira. Nailo encontrou um peixe adequado e foi até ele, lentamente, tentando não espantá-lo. Conseguiu se aproximar o suficiente, pode até passar a mão no pequeno animal, mas preferiu não perder tempo e começou a falar.

Nailo conversava com um peixe prateado, favorecido pelo poder que Allihanna lhe concedera muitos dias atrás. O pequeno animal, apesar de entender o que o elfo dizia, estava mais preocupado em comer os pequenos caranguejos que caminhavam no casco do navio, chegou até a oferecer a Nailo uma porção de seu pequeno banquete.

Os demais olhavam espantados para a cena, sem entender o que acontecia. Enquanto esperavam, Legolas colocou dois brincos dentro de suas guelras, criadas pela magia dos pergaminhos de Deedlit, para ver o que aconteceria com eles quando o tempo de duração da magia terminasse.

Nailo a perguntar ao peixe sobre Silmara. Mas o animal, apesar de entender as palavras de Nailo, não era capaz de compreender muitos conceitos mencionados por ele, de modo que o elfo levou algum tempo para explicar ao animal quem era a bruxa que ele procurava. Mas, quando a pequena criatura finalmente entendeu do que o ranger falava, o medo tornou-se visível na expressão impassível do animal.

Por pouco o peixe não fugiu, apavorado, temendo que Nailo fosse devorá-lo, da mesma forma que a bruxa já havia feito com muitos dos seus iguais. Mas o elfo foi astuto ao oferecer comida, rações de viagem, ao peixe e conseguiu provar que não era amigo de Silmara, acalmando o animal. Em troca da comida, que o peixe devorava avidamente, Nailo pediu que o animal o avisasse, no fundo do mar, caso ele visse a bruxa em algum lugar. Assim Nailo firmou o pacto com a pequena criatura, colocando-a para comer em segurança em uma toca aberta com a lâmina de sua espada. Caso Silmara passasse perto daquele local, Nailo seria avisado. O peixe ainda os ajudou, apontando para qual direção Silmara tinha ido, momentos antes de os heróis mergulharem na água.

Então todos mergulharam seguindo a direção apontada pelo animal cada vez mais fundo, em busca da detestável adversária. Nadaram um longo tempo, sempre em direção ao fundo, quando finalmente avistaram, a cerca de trinta metros de onde estavam, os destroços daquilo que outrora fora uma admirável caravela.

O Trinidade jazia no leito oceânico aos pedaços. Rombos enormes em seu casco de madeira apodrecida, enormes algas que cresciam ao redor e sobre ele, denunciavam a enorme quantidade de tempo que a embarcação permanecera abandonada naquele local. O fundo do mar era pedregoso, recoberto de cascalho grosso e areia. Enormes algas cresciam ao redor do navio, dentro e sobre ele, criando uma pequena floresta subaquática. Um enorme paredão de pedra, a extensão submersa da pequena ilha do farol, cercava um dos flancos do Trinidade, para o qual estava voltado seu casco esburacado. Os mastros estavam partidos e podres, não havia qualquer sinal de suas velas, de tesouros, ou de sua antiga tripulação. O local era só desolação. Partículas em suspensão, bem como a escuridão, quebrada apenas pela luz fornecida pelo arco de Legolas, dificultavam a visão de todos. Ainda assim, Nailo foi capaz de enxergar uma caverna no paredão de rocha, para onde a bruxa pudesse talvez ter ido. E havia algo mais, que todos conseguiram ver, ainda que com dificuldade. Nadando próximo ao navio, como se o vigiasse ou esperasse por algo, um enorme selako cinzento se fazia presente e assustador. De súbito, o animal notou os heróis, ergueu seu corpo cartilaginoso, dobrou a cauda para tomar impulso, e os atacou.

O animal avançou velozmente pela água, e Nailo pode ver com detalhes seus olhos vermelhos, brilhantes como fogo, e as estranhas manchas negras que ornamentavam seu corpo musculoso.

Uma saraivada de flechas atingiu o animal. Cada uma deixava um rastro de água congelada ao se deslocar, formando uma fina barra de gelo que se quebrava em minúsculos pedaços assim que o alvo era atingido. O monstro continuou avançando com voracidade, embora os ataques de Legolas o tivessem debilitado. Abocanhou a perna de Anix, arrancando um naco de carne e espalhando uma cortina vermelha pela água. Dois outros monstros surgiram de dentro dos destroços do Trinidade, atacando com a mesma violência do anterior. Orion só não teve sua carne rasgada graças à suas armadura. Já Nailo não teve a mesma sorte, que o humano, sentindo na carne o quão afiadas eram as presas do monstro. Em meio ao combate que se iniciava, Nailo ouviu um voz vindo de dentro da embarcação naufragada, que entoava estranhas palavras num padrão constante e ritmado.

_ Esses selakos não são normais! Tem alguma coisa estranha neles, eles não são deste mundo! Tomem cuidado! E tem uma voz, alguém falando uma língua estranha dentro do navio! Deve ser a bruxa! – alertou Nailo.

_ Nailo tem razão, esses animais não são de nosso mundo, mas sim de algum outro plano de existência maligno! – completou Lucano.

_ Devem ser criaturas invocadas! – sugeriu Anix, sua voz era carregada de dor.

_ Impossível, se a bruxa está no navio, eles estão fora do alcance da magia dela, deveriam ter desaparecido, como acontecia com as criaturas que o Sairf invocava! – corrigiu o ranger.

Orion, que não desejava perder tempo conversando, tratou de golpear o monstro ferido por Legolas com sua espada. A lâmina abriu o corpo da criatura ao meio e o sangue jorrou farto, tingindo toda a água ao redor dele. Com um segundo golpe o guerreiro arrancou a nadadeira dorsal de outro selako, deixando-o quase à beira da morte. O animal abatido desapareceu diante de todos, como se tivesse sido transportado por mágica.

Então Nailo ouviu novamente a voz dentro dos destroços e avisou seus companheiros. Desta vez, surgiu um enorme crocodilo, também de olhos avermelhados e pele recoberta de manchas negras, que avançou na direção dos heróis.

Anix usou seu poder mágico, fazendo surgir uma espécie de rede sobre o crocodilo. O animal se enroscou nos fios pegajosos, e afundou, ficando preso no fundo do oceano. Com suas espadas Nailo eliminou os selakos restantes, fazendo-os também desapareceram, exatamente igual ao que acontecia com as criaturas que Sairf e Lucano invocavam para ajudar seu grupo.

Restava apenas o monstruoso réptil que lutava contra a armadilha de Anix no leito oceânico. Legolas avançou contra ele, disparando suas flechas e pousou sobre o casco do Trinidade. Squall acompanhou o arqueiro, e entrou por uma abertura no casco do navio, descendo em seu interior escuro. Legolas entrou logo atrás dele, usando seu arco para iluminar o ambiente. Os demais concentravam seus esforços em atacar o crocodilo. Orion e Nailo, com cortes precisos conseguiram destruir a criatura, que também desapareceu, retornando ao seu plano de origem. Dentro do navio, a situação se complicava.

O interior do Trinidade era tomado por entulho, enormes algas e formações de corais. Squall e Legolas buscavam com seus olhos por sinais de Silmara em meio àquela desordem, quando foram surpreendidos por um outro selako, que espreitava por entre as algas. O animal atacou Squall com seus dentes de faca, espalhando o sangue do feiticeiro por todos os lados. Os dois elfos reagiram rápidos, prostrando-se em posição de combate, mas, antes que pudessem fazer qualquer coisa, foram novamente surpreendidos.

_ Dare bia natha!!! – e voz de Silmara ecoou em um grito abafado e distorcido pela água. Uma pequena esfera brilhante partiu do dedo da bruxa em grande velocidade e explodiu sobre os dois elfos. E ao invés de chamas, ondas de eletricidade os envolveram, eletrocutando-os perigosamente. O selako que atacava os dois elfos sucumbiu ao poder elétrico de Silmara e desapareceu. Squall, Legolas e até Cloud ficaram seriamente feridos e espantados com a habilidade da bruxa.

Squall avançou recitando um verso arcano e gesticulando. Iria usar sua mais poderosa magia, que se fazia em forma de uma explosão chamas ardentes. Mesmo embaixo d’água, conseguiu concluir com sucesso os componentes verbais e gestuais que ativavam o feitiço, mesmo embaixo d’água, a bruxa sentiria o calor de suas chamas, ainda que fosse na forma de uma bolha de vapor ou algo parecido. Mas nada aconteceu. Silmara gargalhava sem sofrer qualquer efeito da magia de Squall. Nem sinal de bola de fogo, nem sinal de chamas, nem sequer vapor ou qualquer rastro de energia mágica. A horrenda mulher parecia ser imune à magia.

Atraídos pelo som da batalha, Orion e Nailo entraram no navio destroçado. Protegida por sua camuflagem de algas, a feiticeira não podia ser localizada pelos heróis. Somente Legolas conhecia sua localização exata e tentava revelá-la aos companheiros. Com sua visão apurada, Nailo percebeu rapidamente onde Silmara se escondia. Invocou o poder de Allihanna e as algas que cresciam no chão arenoso o obedeceram. As plantas começaram a se mover freneticamente, como se tentassem laçar umas às outras, pedaços do navio e o próprio Nailo e seus amigos. Mas, no centro da agitação das algas, havia um recanto de calmaria, um local, um círculo de mais de um metro, onde as algas não se moviam, continuando em seu estado estático, sendo agitadas apenas pela corrente marítima.

_ Ela está lá! – gritou Nailo –Naquele lugar onde as algas não se movem!

_ Amigos da vagabunda! Vou matar todos vocês! – a bruxa revelou sua presença, afastando as algas com a mão. Estava envolta por uma esfera translúcida e de brilho tênue, algum tipo de campo de energia que a protegia das magias dos heróis. Com gestos rápidos e palavras arcanas, Silmara criou uma nova explosão de eletricidade sobre os heróis.

As faíscas se espalharam por toda a área do navio, quase chegando a Legolas, que estava mais distante, e a Anix, que estava fora da embarcação. Orion e Squall convulsionavam, tendo espasmos, afetados pela eletricidade que atingia e feria seus corpos. Nailo e Cloud contraíram seus corpos, reduzindo a área por onde a energia poderia ser conduzida e conseguiram sair ilesos do ataque.

A bruxa nadou para cima, escapando do alcance das algas animadas, e para fora do navio. Todos correram para impedir sua fuga, perseguindo-a fora do navio. Squall usou sua varinha mágica e destruiu parte da força física da inimiga, enquanto Lucano usava o poder de Glórienn para curá-lo. Mesmo assim, a bruxa se afastava do grupo, indo em direção ao paredão rochoso próximo ao Trinidade, em direção à caverna.

Orion a cercou, ganhando alguns segundos para que Anix a alcançasse e a atacasse com seu novo poder. Anix recitou as palavras de sua nova magia, a mesma que usara contra a medusa da chuva, e um raio negro saiu de sua mão, atingindo Silmara com precisão. A bruxa ficou ofegante e amaldiçoou o mago, mas não revidou. Sabia que estava mais fraca, que seus poderes eram agora menores do que antes.

Com medo, a mulher fugiu para a caverna, nadando acima de Nailo que bloqueava a abertura na rocha. Nailo desferiu um corte limpo na bruxa com sua espada comprida, mas nem isso a impediu. Enquanto nadava montanha adentro, todos puderam ver algo que os deixou apavorados. Amarrada às costas da bruxa havia uma caixa pequena, toda branca como o marfim. Era decorada com detalhes rebuscados e em sua tampa havia um entalhe em alto relevo. Era uma figura oval, como um espelho, ou um portal mágico. Diante do detalhe havia a figura de uma criatura, um humano talvez, que tinha os braços estendidos para o alto, como se comandasse a abertura do suposto portal e segurava algo em suas mãos. Algo pequeno como um medalhão ou amuleto. O Amuleto dos Planos.

Silmara estava com a caixa que continha o amuleto mágico e desaparecia rapidamente na escuridão da caverna, sem que os heróis pudessem fazer qualquer coisa para impedi-la. O prazo para deter a bruxa e a destruição do mundo se esgotava rapidamente.

Sem perder tempo o hesitar, o grupo penetrou pela abertura na rocha, perseguindo a mulher que desejava dar fim a toda a existência. Orion acionou sua espada de fogo, as labaredas lutavam ferozmente contra a água do mar, conseguindo com muito esforço permanecerem brilhando. Nailo evocou uma magia de proteção contra as magias elétricas da bruxa e acionou sua espada, ficando a salvo das faíscas que corriam desordenadas pela lâmina anã. Anix ficou invisível e todos usaram suas poções mágicas e a ajuda de Lucano para se curarem o dano causado a seus corpos pela bruxa e seus monstros.

Estavam em uma fenda natural que separava duas porções de rocha igualmente gigantescas. Algo, como um terremoto talvez, deveria ter feito as duas montanhas submarinas desabarem uma na direção da outra, escorando mutuamente e deixando uma pequena caverna no espaço que restava entre as duas. A água se tornava cada vez mais escura e fria, à medida que afundavam naquelas trevas. Não havia sinal de vida por ali, nenhum peixe, nenhuma alga ou crustáceo. Nada, nem mesmo sinal da inimiga. Enquanto avançavam, nailo preparava com cuidado os frascos de limo corrosivo que recolhera da medusa da chuva, amarando suas rolhas em um pedaço de corda fina, de forma que pudessem ser retiradas com um puxão. Nadaram por cerca de duzentos metros montanha adentro, sempre descendo cada vez mais, até que avistaram uma luz.

Faíscas serpenteavam logo à frente do grupo, bloqueando aquilo que parecia ser o fim do túnel. Nailo passou no meio dos pequenos relâmpagos sem ser ferido. Os demais foram obrigados a nadar rente ao teto do túnel, para conseguirem passar por cima das faíscas e evitar serem eletrocutados.

Estavam agora em uma ampla caverna circular. Seu teto tinha mais de uma dezena de metros de altura e suas paredes brilhavam de forma estranha. Pequenos furos nas paredes emitiam uma luz fantasmagórica de tom esverdeado. Eram pequenos peixes abissais, com apêndices luminosos sobre suas cabeças e dentes afiados que iluminavam o lugar e se escondiam em suas tocas, apavorados. Havia três outros túneis. Um à esquerda, um à direita e um que seguia em frente. E bloqueando o caminho que seguia adiante estava ela, a bruxa. Quatro bruxas, na verdade.

_ Agora vou matar todos vocês, malditos! – as quatro bruxas estavam a menos de dois metros uma da outra. Moviam-se e falavam de forma idêntica, como se fossem reflexos em um espelho.

Nailo correu e atacou. Sua espada fez um arco longo e atingiu uma das bruxas no peito. A mulher se partiu em milhares de pedaços como se fosse feita de vidro e desapareceu. As três bruxas restantes conjuraram um feitiço, e uma esfera de faíscas elétricas despencou sobre Legolas, Orion e Squall.

Os heróis avançaram, livrando-se dos relâmpagos que faiscavam na entrada da grande gruta. Projéteis de energia pura saíram das mãos de Squall e atingiram uma das bruxas. Todas as três gritaram e se contorceram, como se todas elas tivessem sido afetadas pela magia.

Nailo pegou a corda em sua cintura e arremessou com toda a força os quatro frascos de visco de medusa numa pedra entre duas das bruxas. Os frascos explodiram e chamas azuladas espirraram de dentro deles, atingindo duas das bruxas. Uma delas desapareceu imediatamente, como já tinha acontecido antes. A outra permaneceu. Era a verdadeira.

Silmara olhou ao redor e escolheu Orion para ser o primeiro a morrer. Seus olhos fitaram os do guerreiro por uma fração de segundo. Orion emudeceu e empalideceu, sua espada caiu de suas mãos e seu corpo afundou lentamente até repousar no solo, inerte. Parecia sem vida.

_ Desgraçada! Tome isso! – Anix estendeu as mãos na direção da inimiga e ondas de energia escura a atingiram. Silmara perdeu o fôlego e ficou ofegante, como se tivesse corrido por horas sem parar. No chão, um brilho no peito de Orion despertou a atenção de todos. O medalhão que o jovem havia recebido da velha na estrada brilhava como uma estrela. Seu brilho era alvo e poderoso, sendo visto até através da armadura metálica do guerreiro. Os olhos de Orion piscaram, quebrando o estranho transe em que ele estava, ele agarrou a espada e se levantou.

Squall transferiu seu poder mágico para sua espada e atacou. Nailo veio pelo outro flanco e os dois rasgaram a carne da criatura quase ao mesmo tempo. O ataque de Squall abriu uma ferida enorme na mulher, deixando seu braço esquerdo inutilizado e suas tripas à mostra. Silmara estava agora cercada por todos os lados. A bruxa tentou um último ataque, visando enfraquecer Nailo, mas já era tarde. O ranger resistiu á magia maligna da feiticeira. Anix surgiu de trás dele num salto, com a mão direita tomada de uma energia brilhante. Desferiu um soco no seio direito da mulher e sua magia explodiu em forma de faíscas elétricas. Todos que estavam ao redor, com exceção de Nailo, sentiram um potente choque, mas resistiram. Já Silmara, foi eletrocutada até a morte.

A bruxa emitiu um último e desesperado grito, afogado pela água salgada, que ecoou por toda a caverna, e encerrou seus dias de vilania para sempre. Seu corpo tocou o solo suavemente, carregado pelos braços de Oceano. Então, tudo tremeu.

O teto, as paredes e o chão começaram a tremer a desabar. Um estrondo ensurdecedor veio do túnel da esquerda, arrastado por uma violenta corrente de água que arrancava pedaços da rocha bruta como se fosse feita de papel. Um enorme redemoinho se formou diante dos heróis, bloqueando o caminho de saída. As águas giraram velozmente e se moldaram até formar uma criatura. Era um humanóide gigantesco, tão alto que quase precisava se curvar para não bater no teto da caverna. E seu corpo era composto única e exclusivamente de águas revoltosas que pareciam sólidas e capazes de tocar e segurar qualquer tipo de coisa. Era uma criatura viva feita de água, uma criatura mágica que vinha do reino do deus Grande Oceano. Um elemental da água.

agosto 13, 2007

Capítulo 289 – Reencontro com a bruxa

Capítulo 289 Reencontro com a bruxa

Os jovens heróis curavam seus corpos feridos com magia, enquanto Squall subia a escadaria do farol apressado. Nailo recolhia o muco do monstro em pequenos potes vazios de poção mágica para utilizar mais tarde, em combate. Estavam todos apreensivos, ansiosos por saber o que acontecia no alto da torre. Embora temessem pela segurança de Deedlit e de seus tesouros, todos tinham certeza de que Squall seria capaz de cuidar sozinho de Léo Seis Dedos. Mas eles subestimavam a astúcia do pirata, pois ele já tinha colocado seu plano secreto em prática.

Squall chegou ao alto da torre, mas não viu sequer o menor sinal do pirata, ele havia desaparecido. O feiticeiro correu para o parapeito, para avisar seus companheiros, quando ouviu uma risada diabólica e assustadora.

_ Eu consegui!!! O amuleto é meu!!! Encontrei!!! Eu vou dominar tudo!!! O mundo será meu!!! – Silmara, a bruxa, nadava nas águas turbulentas após o navio, rindo e gritando, eufórica, anunciando sua descoberta. Deu um salto pra fora d’água, como se fosse um golfinho, expondo todo o seu corpo horrendo. Legolas disparou uma flecha, que perfurou um dos seios nojentos da criatura. – Malditos! Amigos da vagabunda! Vou destruir vocês! – Silmara os encarou com seu olhar frio e maligno. Legolas, Anix e Silfo sentiram como se suas energias lhes fossem arrancadas à força, e caíram no chão, enfraquecidos. Silmara mergulhou e desapareceu sob as ondas.

Anix estava deitado no chão molhado, a chuva despencava sobre seu corpo imóvel tornando sua respiração ainda mais dificultosa. Estava fraco como uma criança. Legolas tentava em vão retesar a corda de seu arco e Silfo tinha dificuldades para erguer sua clava e até para se manter em pé.

Squall chegou do alto, impulsionado pelo poder de vôo de um dos pergaminhos mágicos de sua amada, Deedlit. Trazia em suas mãos uma das estranhas armas de Grinch, o goblin. Contou aos amigos da fuga do pirata e convocou-os a perseguir a bruxa.

_ Temos que pegá-la depressa, antes que ela use o amuleto! Não podemos deixar que ela o use, ou nosso mundo será destruído!

Rael, o jovem clérigo de Ab’ Dendriel, reforçava os apelos do velho amigo, dizendo que caso a mulher conseguisse usar o artefato, poderia fazer com que a Tormenta invadisse e destruísse Arton em instantes.

Nailo saiu em disparada para a entrada do farol. Estava disposto a encontrar o pirata onde quer que ele estivesse. Rael usava o poder de Wynna para restaurar a força de seus amigos, enquanto era apresentado a todos eles por Anix.

Nailo desceu até a pequena praia, onde haviam ancorado o barco que os trouxera até a ilha, para conferir se a embarcação ainda permanecia lá. Avistou-a mais de uma centena de metros mar adentro, sendo remada com frenesi por Léo Seis Dedos. Rapidamente Nailo usou seu poder e clamou por um dos filhos de Allihanna. Um grande selako cinzento emergiu das profundezas do mar e foi até o ranger. Nailo conversou com o animal numa língua que somente os dois compreendiam, e saltou em suas costas. Assim, cavalgando o selako, Nailo alcançou o barco e o pirata.

_ Ei você! Volte! – gritou Nailo.

_ A bruxa! A bruxa! A bruxa! – respondeu Léo, aos prantos.

Nailo saltou sobre ele, abandonando sua montaria, e começou a golpeá-lo com toda força no rosto. Léo tentava se defender com golpes de remo, mas Nailo era mais rápido e se esquiva, revidando com socos certeiros. O combate durou poucos segundos, até que Léo Seis Dedos terminou desacordado no casco do bote. Nailo remou o barco e voltou para a ilha, seus amigos o aguardavam na praia, ansiosos.

Léo foi amarrado e amordaçado. Pediram a Silfo para tomar conta do pirata, o que deixou Rael assustado, já que ele não sabia que Léo era um inimigo. Com tudo explicado, o clérigo se ofereceu para permanecer no farol e ajudar a tomar conta do prisioneiro e de Deedlit. Com tudo decidido, Squall pegou os pergaminhos que pertenciam a Deedlit e, com a ajuda de Rael, começou a lançar sobre si e seus companheiros as magias que lhes permitiriam respirar e se movimentar normalmente sob a água. Até Cloud foi incluído no grupo que mergulharia atrás de Silmara. Assim, eles finalmente se atiraram na água para tentar impedir a perversa bruxa de usar o amuleto dos planos e destruir todo o mundo conhecido.