agosto 29, 2007

Campanha A - Capítulo 291 – Latnemeleangus

Capítulo 291 Latnemeleangus

O elemental bloqueou a saída do grupo com seu corpanzil líquido. Sua voz rugiu como uma tempestade, chacoalhando as paredes da caverna, criando turbilhões na água que a preenchia. Urrava em uma língua estranha e incomum, mas que os elfos presentes já haviam ouvido antes. Squall entendeu a mensagem, parte dela ao menos.

_ Ele está querendo saber quem somos nós! – disse o feiticeiro, usando o conhecimento do idioma aquan transmitido pelo mago Sairf nos poucos meses em que estiveram juntos.

_ Fale com ele, Squall! Diga que somos amigos, que não queremos fazer mal! – responderam os demais.

Squall tentou. Mas, seu domínio do idioma submarino era pequeno ainda, já que havia muito tempo que seus estudos tinham sido interrompidos devido à partida de Sairf. O elemental estava impaciente. Nailo, então, através de gestos, pediu ao ser aquoso que aguardasse por um instante. Pegou em sua mochila um pergaminho mágico e, sob o olhar atento e ameaçador do monstro, entregou-o a Lucano.

_ Tome Lucano! Faça esta magia, você conseguirá se comunicar com ele depois disso! – Disse Nailo.

Lucano tomou o pergaminho em suas mãos, pronunciou as palavras mágicas tal qual o ranger havia instruído (recebera essa informação na ocasião em que comprara o pergaminho) e a magia se fez. Lucano começou a falar no idioma da criatura da água, como se o conhecesse há eras. Entretanto, não havia um consenso entre o grupo sobre o que seria dito e eles discutiam entre si, conversando no idioma comum, o que seria dito ao monstro. Decidiram por bem não falar nada sobre o amuleto dos planos e assim foi feito. Lucano foi aos poucos traduzindo ao elemental o que era decidido pelo grupo.

_ Quem são e o que vieram fazer aqui? Como descobriram esse lugar? – perguntava o elemental em sua voz de tormenta.

_ Somos pessoas boas! Estávamos perseguindo essa bruxa! Ela transformou nossa amiga em pedra e estamos em busca de uma cura para ela! – respondia Lucano. – E você? Quem é?

_ Sou Latnemeleangus! Sou o guardião deste local! Ele é proibido para vocês!

_ E o que você guarda? – Lucano traduziu a dúvida de Squall.

_ Eu guardo a passagem! A passagem para o reino de Oceano! E agora que vocês encontraram esse lugar, não poderão mais ir embora! Ficarão prisioneiros aqui ou morrerão! Vocês decidem!

_ Não pode nos matar! Prometemos não contar a ninguém sobre esse lugar! Iremos embora em paz! Deixe-nos partir! – eram as palavras de Legolas e Anix traduzidas.

_ Não posso! Terei que matá-los! Recebei essas ordens de meu mestre! Não posso descumpri-las!

_ E quem é o seu mestre? – todos desejavam saber a mesma coisa.

_ Quem mais seria ele, senão o grande deus, Oceano? Eu sirvo ao Grande Oceano!

_ E você por acaso já viu seu deus? – dessa vez era de Nailo a pergunta feita por Lucano.

_ Claro que sim! Foi ele pessoalmente quem me deu esta missão!

_ Bem, nós também já vimos vários deuses! Somos escolhidos dos deuses! Então pode nos deixar ir embora! – o clérigo continuava a traduzir as palavras do ranger, que tinha um sorriso de vitória nos lábios. Mas a vitória não viria tão fácil assim.

_ Se puderem provar suas palavras, talvez eu possa deixá-los ir embora!

Nailo nadou até a parede, onde os peixes se escondiam em tocas escavadas. Convenceu alguns dos animais a acompanhá-lo. Diante do elemental, pediu a Lucano traduzisse suas palavras.

_ Viu só! Os peixes são a prova de que somos boas pessoas, enviadas dos deuses!

_ Ora, isso não prova e não significa nada! – respondeu o monstro com desdém.

_ E por que você não nos prova que viu seu deus? – novamente as palavras de Nailo saiam da boca de Lucano, tentando vencer a irredutibilidade da criatura.

_ Não tenho que provar nada a vocês! Vocês devem fazê-lo, se desejam viver!

A conversa se desenrolou por um longo tempo. Os heróis tentavam dissuadir o elemental de todas as formas possíveis e, enquanto ele prestava atenção a Lucano, Squall recolheu o que podia do corpo de Silmara, enquanto que Nailo conseguiu se apoderar da caixa onde, pensavam, estava o amuleto dos planos. Latnemeleangus se enfureceu.

_ O que vocês pegaram? O que tem nessa caixa? Digam a verdade agora!

Nailo pediu a Lucano que não dissesse nada sobre o amuleto dos planos, inventou uma estória, de que a caixa conteria cartas escritas por Deedlit, e Lucano traduziu palavra por palavra, a mentira criada por ele.

_ Bem, agora você já sabe de tudo! Não queríamos vir a este lugar, e não iremos contar sobre ele a ninguém! Apenas seguimos a bruxa, para encontrar uma cura para nossa amiga, e para recuperar as cartas dela.

_ MENTIRA!!! Parem já de mentir, e contem toda a verdade! – a voz do elemental rugiu como um maremoto e desta vez todos puderam entender. Ele estava usando o idioma comum, o valkar, falado por todos os povos do reinado. O elemental não só conhecia a língua dos heróis, como havia ouvido e entendido tudo aquilo que eles haviam dito entre si, acreditando estarem ocultando informações preciosas e que poderiam pesar contra eles, inclusive sobre o amuleto dos planos. O gigante de água continuou gritando, enfurecido. – Contem toda a verdade! Digam o que querem com o amuleto dos planos! Eu sei de tudo que vocês diziam entre si, enquanto pensavam que eu não os entendia! Digam agora ou eu os matarei!

_ Você é um grande imbecil! Nos fez perder tempo à toa! Poderia ter dito logo no início que falava valkar! Estou ficando irritado com você! Você não conseguirá nos matar! – eram as palavras de Anix, arrogante.

_ Sim, eu o farei, essa é a minha missão!

Começou então uma discussão. Os aventureiros estavam temerosos e ao mesmo tempo irritados por terem sido enganados pelo elemental. Latnemeleangus, por sua vez, parecia mais impaciente e descontente com as explicações dos heróis.

_ Chega de mentiras! O Grande Oceano me deu a missão de guardar este local e eliminar qualquer intruso! Contem-me toda a verdade imediatamente, provem-me que são enviados dos deuses e eu os deixarei vivos! Ou então, morrerão! – rugiu o monstro.

_ Você só fica falando desse seu deus, o tempo todo! Por que você não nos prova que é enviado dele? – desafiaram os heróis.

Orion retirou seu pingente de dentro de sua armadura e o mostrou ao monstro, mas, antes que pudesse fazer qualquer coisa que pudesse selar a paz entre eles, foi surpreendido pelo ataque do elemental.

Cansado de esperar, Latnemeleangus avançou em direção ao humano de súbito. Agarrou o seu corpo como um menino que segura um brinquedo e o ergueu facilmente. A outra mão envolveu a cabeça de Orion, agarrando-a de forma assustadora. Latnemeleangus começou a inclinar a pequena cabeça em sua mão, quase a separando do seu corpo frágil. Legolas disparou seu arco, mas suas flechas resvalavam na criatura sem lhe causar dano algum. Squall pegou a arma do goblin engenhoqueiro que havia levado consigo e disparou-a na direção do inimigo. Uma rajada em forma de cone se formou diante do feiticeiro, atingindo o adversário com gelo e neve, algo muito semelhante ao que Sairf costumava fazer, lembrou Squall. Mas nem isso foi capaz de ferir ou intimidar o monstro. Ele continuou esmagando Orion com suas poderosas mãos aquosas, sem dar-lhe chance sequer de respirar. Então, quando estava prestes a arrancar a cabeça do guerreiro, o elemental parou.

Latnemeleangus ficou parado a observar Orion, atônito. Nailo ouviu uma voz, e notou que ele conversava com alguém, chamava Orion de senhora. Orion, em sua prisão sabia que o seu captor falava alguma coisa, embora não pudesse entender qualquer detalhe da conversa. Nailo observava atentamente com seus ouvidos e olhos focados no monstro, enquanto seus companheiros permaneciam como que paralisados, sem saber o que fazer. Foi nesse instante que ele notou algo estranho. Havia uma mancha escura no interior do corpo do elemental, algo sutil demais, que apenas uma visão apurada como a dele poderia notar. Pensou ser aquilo o coração do monstro, ou algum tipo de ponto fraco, como um órgão ou algo semelhante. Mas, antes que ele pudesse pensar em comunicar seus amigos e atacar a suposta fraqueza da criatura, Latnemeleangus abriu suas enormes mãos e soltou Orion.

_ Agora eu entendo tudo, e acredito em suas palavras! Estão livres para ir embora! Mas, jamais devem revelar a existência desse lugar! A ninguém vocês poderão falar sobre este lugar! Somente a pessoas em quem puderem confiar de verdade, somente a outros escolhidos, assim como vocês, é que poderão contar sobre este local! – disse Latnemeleangus, sua voz rugia como uma tempestade que se distanciava e dissipava, toda a fúria havia cessado.

_ Ufa! Até que enfim! Agora você acredita que nós vimos outros deuses, certo? Bem, mas o que foi que convenceu você? Com quem você falava! – falou Nailo.

_ A senhora do conhecimento me mostrou a verdade! Ela me contou tudo sobre vocês, Nailo! – respondeu o enorme ser.

_ Como você sabe meu nome?

_ Agora eu sei de muitas coisas sobre todos vocês! Sei que estavam em busca do Amuleto dos Planos, para impedir que esta bruxa o usasse para destruir Arton! Mas fiquem tranqüilos, pois já faz muito tempo que o amuleto está em segurança! – e dizendo essas palavras, Latnemeleangus contorceu seu corpo liquefeito e seu peito se abriu, como uma cascata que se dividisse ao meio. De lá de dentro ele retirou um medalhão atado a uma corrente prateada, mostrou-o aos heróis e o guardou novamente. Seu peito se fechou e fez sólido outra vez.

_ Mas então, ele estava com você esse tempo todo? Mas afinal, quem é você, e o que é esse lugar? Como conseguiu o amuleto? – indagou Anix.

_ Eu sou o guardião da passagem para Pelágia, o reino de meu senhor, o reino de Oceano! Além daquele túnel há um portal que conduz ao reino do senhor dos mares. Eu sou o guardião dessa passagem! Eu a protejo de invasores há eras! Ela existe nesse lugar desde muito tempo atrás, e existirá ainda por longo tempo! Eu recolhi este amuleto do navio lá fora, anos antes de vocês chegarem aqui, e o guardo, assim como o portal, a mando de meu mestre! – explicou o elemental.

Nailo resolveu, então, olhar a caixa que, achavam, continha o amuleto dos planos. Olhando a imagem esculpida em sua tampa, o ranger viu que se tratava de uma pessoa, diante de uma mesa oval, segurando um maço de cartas em sua mão, com ambos os braços estendidos para o alto. Aquilo que achavam ser uma pessoa abrindo um portal, na verdade era um jogador e suas cartas. A caixa continha um baralho. Mas, deveria ser um baralho muito especial para estar guardado daquela forma tão cuidadosa, de modo que Nailo resolveu guardá-lo para averiguar depois.

_ Vocês podem partir agora, e levar a bruxa e seus pertences com vocês! – disse o elemental. Legolas agarrou o corpo de Silmara e partiu, sozinho.

_ Espere, por favor, talvez você possa nos ajudar! A namorada de meu irmão foi transformada em pedra! Diga-nos o que fazer para que ela volte ao normal! Se você é tão poderoso e antigo quando aparenta, deve saber de algo que possa nos ajudar! – pediu Anix.

_ Não! Eu não tenho esse conhecimento nem esse poder! Mas me foi revelado, e eu lhes digo, que Deedlit voltará ao normal! Sigam seu caminho, e o destino se encarregará de solucionar esse problema! – respondeu Latnemeleangus. – Mais uma última coisa! A vocês foi concedido o direito de ver a passagem que eu guardo! Se desejarem vir comigo, poderei lhes mostrar aquilo que guardo!

Nailo, Squall e Orion aceitaram a proposta. Anix e Lucano decidiram aguardá-los no local onde estavam, enquanto Legolas se dirigia ao Trinidade, em busca de tesouros submersos. Assim, Latnemeleangus, o guardião, Nailo, Squall e Orion entraram pelo túnel de onde o elemental tinha surgido e desapareceram na escuridão.

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