outubro 28, 2009

2º Pira RPG


A caravana está sendo formada, juntem-se a nós e vamos invadir Pirassununga pra nos divertirmos juntos!

outubro 27, 2009

Voltando aos poucos...

Após um longo jejum sem escrever e sem mestrar vou retomando aos poucos as atividades. A

mudança de emprego teve grande peso nesse jejum, além de outros fatores, inclusive a redução

do fator diversão durante os últimos jogos (que foram bem chatos, por sinal).
A idéia de transformar o diário num podcast, para não deixar o blog morrer, não vingou

infelizmente. Os dois testes que fiz ficaram muito chatos de serem ouvidos, culpa do mestre

e também dos jogadores que só bagunçam (que inveja do pesoal do Novas Crônicas, com sua mesa

organizada). Além disso, fazer a edição disso é muito chato, trabalhoso e dispendioso, algo

inviável para alguém sem tempo como eu. Esse projeto não morreu definitivamente, mas ficará

numa câmara de criogenia por um bom tempo.

Bom, o último capítulo está ai no ar, mal escrito como sempre, mas com coisas interessantes.

Se você consegue ignorar a falta de talento literário deste que voz fala e concentrar-se

apenas na estória, poderá se divertir acompanhando a continuação das aventuras deste grupo

cada vez mais bizarro.

E sábadão teremos revisão de tendências no grupo, os players que se preparem...

Capítulo 359 – Perigo na Cripta

Finalmente os aventureiros e seus novos companheiros alcançaram o segundo nível além do topo da torre. O corpo do gorila ainda jazia aos pés da escada, tal qual na noite anterior, quando havia sido brutalmente assassinado pelo implacável inimigo Gulthias. Avançaram pelo corredor que se abria à esquerda e á direita, terminando em duas portas opostas, uma em cada extremidade da passagem.

_ Minha intuição diz para seguirmos pela esquerda – sugeriu Legolas. Os companheiros seguiram sua sugestão prontamente. Nailo avaliou os riscos que a porta poderia lhes oferecer, acompanhado de perto pelo misterioso Carion. Após terem certeza de que não havia armadilhas para ameaçá-los, os dois cederam espaço para Orion. O humano arrombou a porta com um golpe preciso, saindo do caminho de Squall que veio logo atrás cuspindo chamas através entrada que se abrira. O clarão iluminou uma pequena ante câmara, donde se podia alcançar outras três ocultas atrás de novas portas pétreas.

_ Esquerda novamente! – indicou o arqueiro.

O ritual se repetiu. Nailo e Carion procurando armadilhas, Orion abrindo a porta e Squall cuspindo fogo para eliminar qualquer ameaça antes que esta pudesse pensar em lhes fazer mal. Desta vez as labaredas do Vermelho iluminaram uma saleta quadrada, cujo chão era todo tomado por entulho e sujeira.

_ Abram espaço! Vasculharei esta câmara em busca de tesouros – Disse Mexkialroy com imponência.

O dragão azul vasculhou o chão enquanto um cone de chamas invadia a sala oposta onde mais escombros jaziam pelo solo. O dragão retornou ao corredor onde estavam os demais.

_ Encontrou alguma coisa? – perguntou Squall.

_ Não, nada – respondeu Mex, mentindo. O dragão foi investigar a outra sala aberta pelo grupo.

_ Bem, há mais uma porta em cada uma destas salas, e mais uma aqui no corredor. Qual delas abriremos primeiro? – indagou Nailo.

_ Sempre à esquerda – sugeriu Legolas.

O grupo adentrou a primeira saleta e o ritual de abertura da porta se repetiu outra vez. Desta vez encontraram um altar ao fundo de uma câmara de meditação que ficava na borda da torre. O cômodo tinha forma triangular e a parede que fazia divisa com o exterior exibia uma concavidade suave. Blocos de pedra usados como assentos se enfileiravam ao redor da câmara. Kátia e Lucano deduziram a função que aquele local tivera e a explicaram aos companheiros.

Em seguida, os jovens abriram a porta restante no corredor. Uma sala comprida e estreita se revelou. A parede oposta à entrada também ficava na borda da construção e além de um punhado de entulho e poeira, um pequeno baú decorava o chão no fundo da sala.

_ Tesouro! – murmurou o dragão azul, já de volta de sua exploração carregando uma caneca de prata com a figura de um dragão alado em sua base. Seus olhos brilharam faiscantes.

Orion atravessou o portal e foi em direção ao suposto tesouro. Mas, como era de se esperar, tudo não passava de mais uma armadilha. O chão se abriu sob os pés do guerreiro, tragando-o para a escuridão. O alçapão se fechou logo em seguida, separando o humano de seus amigos.

_ Orion! – gritou Legolas. O arqueiro tomou a vassoura mágica das mãos de Anix e pisou sobre o alçapão, sendo também sugado pelo fosso oculto. Legolas deslizou por um fosso escuro e íngreme. Sentiu seu corpo sendo cortado por navalhas que não conseguia ver. Então uma nova portinhola se abriu diante dele, jogando-o para fora da torre. O elfo despencou por uma das inúmeras bocas que adornavam a espiral maldita, agarrou-se à vassoura e pronunciou a palavra de comando, acionando o poder do objeto. A queda cessou e o aventureiro desceu lentamente rumo ao chão, dezenas de metros abaixo, de onde Orion acabava de se erguer, todo ferido devido à queda que sofrera.

_ Está bem? – perguntou o elfo.

_ Sim, acho que estou. Um pouco zonzo e escoriado, mas bem. – respondeu o humano.

_ Vamos! – Legolas agarrou o braço de Orion e o ajudou a subir na vassoura. Juntos voaram até o topo da torre e entraram novamente na enorme cripta vertical. Em poucos minutos, estavam outra vez reunidos com os amigos explicando-lhes o que acontecera.

Squall, que em sua forma dracônica era grande demais para despencar pelo fosso, invadiu a saleta e recolheu o baú que quase causara a morte de Orion. Para frustração de todos e cólera do humano, a pequena arca estava vazia.

Retornaram para a segunda sala do corredor, onde abriram a porta restante. Além dela mais escombros em uma câmara estreita e após estes, uma nova porta. Tal qual antes, Orion a abriu e Squall a invadiu despejando seu fogo dracônico com ferocidade. Desta vez, no entanto, as chamas queimaram alguma coisa: um tesouro. Pouco restou da gigantesca tapeçaria que ocupava a parede curvilínea oposta à entrada da câmara, a maior do andar até aquele momento. Quase não era possível mais distinguir a multidão de humanóides representada na fina relíquia. Entretanto, a figura de um dragão vermelho incrivelmente enorme sobrevoando o firmamento permanecia ironicamente intocada pelas chamas. Sem mais nada a ocupar o cômodo além de entulho chamuscado, o grupo retornou para o corredor que dava acesso à escada de subida, onde uma última porta lhes reservava um perigoso desafio.

Todo o ritual de abertura foi repetido, todas as precauções foram tomadas para evitar armadilhas e para não serem surpreendidos por inimigos. E, mesmo correndo o risco de destruir outra relíquia preciosa, Squall inundou outra vez o ambiente com suas chamas assim que Orion lhe abriu caminho. Um corredor sombrio se abria de uma ponta a outra da torre, exatamente sobre seu eixo central. Alcovas de três metros de largura ocupavam as duas paredes e nelas, sarcófagos de pedra ou metal, adornados com figuras humanóides diversas, jaziam em pé, intensificando a aura sinistra que permeava o ambiente. À direita, já quase na borda da torre, uma única porta conduzia para além da cripta, e à esquerda, na extremidade do corredor, um sarcófago metálico se distinguia dos demais ostentando a exótica figura de um humanóide com cabeça de chacal entalhado em alto relevo sobre sua tampa. Temerosos, os heróis adentraram a cripta, prevendo o iminente ataque do inimigos que aguardavam a chegada de intrusos havia séculos.

outubro 05, 2009

Fotos Dia D RPG 2009 Araraquara

O evento foi um sucesso. Confira as fotos em:

http://www.4shared.com/file/135983505/6c421f94/Dia_D_RPG_2009.html

ou:

http://picasaweb.google.com.br/jeffersonfrias/DiaDRPG2009#

setembro 22, 2009

Capítulo 358 – Farpas trocadas


Azgher surgiu por trás do horizonte, inevitável, despojando Tenebra de seus domínios e impondo sua supremacia. Anix desceu para a taverna, onde encontrou seus novos companheiros reunidos e já prontos para partir. Luskan estava animado, sorridente e falador como na noite anterior, já Kátia mantinha-se calada e carrancuda, ainda irritada por ter sido derrotada. Carion mantinha um ar sombrio ao redor de si. Pouco falava e mantinha seu rosto o tempo todo oculto por um capuz. Seu corpo e, consequentemente, seus pertences também permaneciam escondidos sob o pesado manto que ele vestia. Já Rafael, o arcano do grupo, ocupava-se com pequenos truques mágicos.

_ Vamos partir? – perguntou Anix, saudando os contratados.

_ Claro! Já estamos todos prontos – respondeu Luskan com um sorriso.

O mago desenrolou um papiro envelhecido e começou a lê-lo. Faíscas surgiram em meio a outras luzes mágicas que envolveram os cinco aventureiros. A paisagem se modificou e numa fração de segundos todos estavam no alto de uma torre cercada por um abismo profundo e por uma gigantesca floresta.

Anix conduziu o grupo torre abaixo, em busca de seus amigos. Encontrou-os despertos, fazendo o desjejum no corredor central do primeiro andar explorado.

_ Dragão! – gritou Luskan exaltado. – Assumam posição de batalha! Depressa! – o guerreiro sacou sua própria espada e a apontou para Mexkialroy.

_ Esperem! Esses são meus companheiros, seus tolos! – redargüiu Anix, detendo-os.

_ Como assim companheiros? Que tipo de pessoas são vocês afinal? – indagou Luskan, ainda espantado. De fato estavam diante de um grupo muito estranho para os padrões normais. Mex, um dragão azul conhecidamente maligno, tinha Squall ao lado, cuja aparência que mesclava feições dracônicas e élficas não causava menos assombro. Legolas mantinha-se afastado dos demais em um canto. Chão, paredes e o próprio ar ao se redor congelavam formando uma paisagem de inverno em meio àquele inferno tropical. Orion era uma muralha de aço e afagava o pescoço de Galanodel, uma coruja maior que um cavalo de guerra. Nailo repetia o gesto, mas suas carícias eram direcionadas para um lobo de aspecto bestial que parecia capaz de devorar a todos ali sem, no entanto, saciar sua fome. Lucano, o de aparência menos incomum, travava um diálogo entusiasmado com uma espada prateada e Anix, o primeiro membro daquele grupo que tinham conhecido, trazia em sua face uma maldição na forma de um olho maligno que tentava todo o tempo dominá-lo.

_ Que tipo de pessoas nós somos? E quem deseja saber? – perguntou Nailo.

_ Esses são Luskan, Kátia, Carion e Rafael! Eu os trouxe aqui para nos ajudar – respondeu Anix.

_ Está louco? – gritou Legolas. – Você os trouxe aqui para morrerem. Acha que eles vão sobreviver por aqui, Anix? Isso foi uma grande irresponsabilidade.

_ Bem, eles ficarão sob minha guarda. Tentarei protegê-los o máximo que puder. Se alguma coisa acontecer a eles, a responsabilidade será toda minha – respondeu Anix.

_ Esperem ai, senhores! – intrometeu-se Luskan, irritado. – Estão nos subestimando demais. Somos mercenários profissionais, estamos acostumados a lidar com situações de risco. Não precisamos de proteção alguma.

_ Olha aqui, Luskan – começou Nailo. – Vocês estão chegando agora e não tem idéia do tipo de perigos que existem aqui. Vocês é que subestimam a torre.

_ Além do mais, vocês não tem nada a ver com nossa luta. Essa batalha é um assunto pessoal nosso, vocês não têm por que estar aqui. É melhor irem embora enquanto ainda podem – completou Legolas.

_ Ora, parem com essa conversa. Sabemos dos riscos, sabemos que aqui há vampiros e outros mortos-vivos aos montes. Avaliamos os desafios e tomamos nossa decisão. Firmamos um acordo com Anix e por isso estamos aqui. Agora essa torre também é assunto nosso – retorquiu Luskan.

_ E que acordo foi esse? – perguntou Nailo.

_ Nosso pagamento será de mil tibares de ouro, para cada um de nós. Metade desse valor será pago agora e a outra metade quando o serviço estiver completo. Além disso dividiremos os espólios encontrados na torre meio a meio. Metade para vocês e metade para nós. Certo, Anix?

_ Errado! – respondeu o mago, para espanto de todos.

_ Como assim? Você deu sua palavra!

_ Não dei não. Eu apenas disse: “Veremos”! Não prometi nada, disse apenas que veríamos o que fazer depois.

_ Entendo, agora percebo tudo. Foi um engodo muito bem arquitetado. Parabéns, Anix! Enganou-nos direitinho! – escarneceu Luskan.

_ Pois esse é mais um motivo para vocês irem embora – sugeriu Legolas.

_ Pois é agora que nós ficaremos. Nós vencemos a Forja da Fúria entre outros desafios, e não vamos nos acovardar diante de um bando de vampiros. Vamos ficar e lutar ao lado de vocês e exigimos nossa recompensa justa por nossos serviços.

_ Forja da Fúria? – espantou-se Nailo.

_ Já disse para vocês pararem com essa história – alertou Anix. – Vocês estão diante dos verdadeiros desbravadores daquele lugar maldito. Essa mentira não funciona para nos impressionar.

_ Ei, Luskan! – voltou a falar Nailo. – Vou lhe dizer umas coisas. Primeiro, se vocês estão ganhando a vida, conseguindo contratos usando nossos feitos, vocês é que nos devem dinheiro. Segundo, vocês não têm obrigação nenhuma de permanecer aqui e pelo seu bem, peço que partam agora. Há muitos perigos aqui, além daquilo que vocês imaginam. Não quero subestimá-los, mas vocês me parecem aventureiros em início de carreira. Bem, nós já passamos desta fase, reunimos grande poder, como podem ver, temos até um dragão, digo, dois, em nosso grupo. E mesmo assim, com toda nossa experiência e todo o poder que conseguimos, o próprio Anix perdeu a vida duas vezes neste lugar. Não fosse pela bênção de Lena, ele não estaria mais aqui entre nós neste momento. Só estamos aqui porque temos motivos muito maiores que simplesmente dinheiro. Vocês não precisam ficar aqui, podem ir viver aventuras em outro lugar, com menos perigos e com gente mais honesta – Nailo olhou com desaprovação para Anix e fez uma pausa antes de continuar. – Por isso peço que reconsiderem e voltem para o lugar de onde vieram.

_ Olha, Nailo! Agradeço sua preocupação. Percebo que você é sincero e honrado e vejo que não fala com arrogância, que não nos subestima. Agradecemos sua preocupação e honestidade, mas nós ficaremos e os ajudaremos. Provaremos àqueles que duvidaram de nossas capacidades o valor que temos. E além de tudo, não exigiremos nada em troca da ajuda. Se depois que sairmos daqui vocês julgarem que nossa ajuda merece alguma recompensa, então seremos pagos. Caso contrário, trabalharemos apenas pela glória e por nossa honra, coisa que infelizmente alguns dos seus amigos parecem não conhecer.

_ Está bem, então. Fiquem se assim quiserem. Me comprometo a tentar protegê-los se disso precisarem, mas saibam que estão por sua conta e risco. Temos inimigos poderosos a combater e devemos agir em grupo, cada um confiando que o outro fará a coisa certa. Não podemos nos preocupar com um salvar o outro de encrencas, ou todos morrerão. Todos têm que ser responsáveis aqui. E, se vocês se provarem valorosos, eu pagarei o dobro do valor que Anix deveria pagar a vocês.

_ Ótimo! Que seja assim! Prometo que não causaremos problemas, já que esta parece ser uma forte preocupação para vocês. Mais que isso, seremos de grade valia em sua missão. Acho que agora finalmente temos um acordo!

_ Certo! Temos um acordo. Agora vamos em frente, temos muito o que fazer.

E com um aperto de mão amigável, os dois grupos selaram o pacto e seguiram em sua jornada.

Capítulo 357 – Recrutas


Momentos antes, Anix terminava de amontoar os tesouros do topo da torre ao redor de si. Garantira recursos suficientes para cumprir sua tarefa. Restava apenas uma coisa, conseguir sair daquele lugar em segurança.

_ Glórienn, sei que nunca fui um bom devoto, assim como Lucano o é. Mas lhe peço nesta hora mais ajuda do que já está nos dando. Assim como não quero morrer novamente, não desejo que qualquer dos meus companheiros morra. Portanto, espero que minha prece seja atendida neste momento. Desejo ir para Malpetrim com este tesouro, para buscar recursos para usarmos contra nossos inimigos. Que assim seja!

Após a prece, o mago empregou toda sua energia para conjurar sua magia mais poderosa. Era uma magia capaz de dobrar a realidade e tornar verdade quase qualquer desejo de seu usuário, um poder que, esperava Anix, seria capaz de vencer a misteriosa aura que cercava a ilha (ou talvez a torre) e que impedira-o de se teletransportar com exatidão no dia anterior. Ele fechou os olhos e completou os gestos finais da conjuração. Quando os abriu novamente, estava em Malpetrim.

O porto fervilhava. Barcos pesqueiros chegavam carregados do mar, assim como navios piratas cheios de espólios, disfarçados para não serem notados pelas autoridades. O clarão do sol ainda podia ser visto ao longe, já muito fraco. Diversos tipos de pessoas adentravam as muitas tavernas em busca de diversão após um dia de árduo trabalho. E foi numa destas tavernas que subitamente surgiu um misterioso elfo sobre uma pilha de ouro e jóias.

_ Rud! Que bom vê-lo, amigo! Estou precisando de ajuda. Lembra-se de mim? – disse Anix ao dono da famosa Estalagem do Macaco Caolho Empalhado.

_ Sim, eu lembro sim – respondeu o taverneiro após pensar por um momento. – Você e seus amigos libertaram um bando de escravos de uma ilha, certo? Desculpe por não lembrar também de seu nome.

_ É Anix! Que bom que se lembrou, amigo. Preciso de ajuda.

_ E que tipo de ajuda precisa, Anix?

_ Tenho que comprar suprimentos. Meus amigos e eu estamos passando por dificuldades em Galrasia. Preciso de equipamento e encontrar pessoas dispostas a irem comigo para a ilha para invadir uma torre cheia de vampiros. Sabe de alguém que pode me ajudar com isso?

Rud deteve-se. Alguém disposto ir a Galrasia enfrentar vampiros seria algo difícil de se encontrar, mesmo num mundo cheio de aventureiros como Arton. Já a outra parte da missão de Anix seria fácil de se resolver, especialmente com aquela montanha de ouro que o mago trazia consigo. Montanha que começava a diminuir rapidamente diante dos olhos cansados do taverneiro. Anix estava sendo roubado.

_ Eu conheço exatamente cada moeda desta pilha. Se alguma delas estiver faltando eu saberei, e transformarei aquele que ousar me roubar em cinzas! – rugiu Anix, amedrontando os curiosos de mãos lotadas de dinheiro roubado, após ser alertado por Rud. – Preciso de alguém que me ajude a carregar este tesouro até um lugar onde eu possa comprar poções e pergaminhos mágicos. Aquele que estiver disposto a me ajudar será bem recompensado.

Diante das ameaças do mago, a maioria dos fregueses da estalagem voltou a seus afazeres etílicos aos resmungos. Apenas dois homens permaneceram onde estavam, diante do tesouro.

_ Eu o ajudo, senhor! – disse o primeiro deles, um homem magro e de aparência cansada. – Sou Manoel, e ficarei honrado em servi-lo!

_ Eu também ajudarei. Sou Inácio, senhor! – disse o segundo homem, um jovem cheio de entusiasmo.

_ Serão bem recompensados por isso. Rud, pode me emprestar alguns barris ou sacos para guardar essas moedas? E se possível também uma carroça para carregar tudo isso.

_ Posso arranjar alguns barris, mas não tenho carroça – respondeu Rud.

_ Eu posso conseguir uma, senhor! – disse Manoel.

_ Ótimo! Vamos guardar o dinheiro nos barris e depois você irá buscar uma carroça, Manoel – disse Anix.

Durante alguns minutos, o mago e seus dois ajudantes se ocuparam em guardar o tesouro dentro das barricas trazidas por Rud. Logo após isso, Manoel saiu apressado e retornou minutos depois com um carroceiro, um homem rechonchudo de nome Guilherme que cobrava uma quantia exorbitante pelo aluguel de sua carroça. Sem tempo para barganha, Anix aceitou o preço e partiu com os ajudantes. No comércio de Malpetrim não foi difícil encontrar uma loja com as coisas que precisava: poções mágicas de cura, pergaminhos com magias para transportá-lo de volta a Galrasia e outras capazes de garantir alguma vantagem contra os mortos-vivos da torre. Em aproximadamente uma hora, Anix tinha cumprido a primeira parte de sua missão. Pagou uma generosa quantia aos ajudantes e só então notou que o tesouro parecia ter encolhido além de suas estimativas. Sem tempo a perder tentando descobrir se havia sido roubado, Anix se despediu de Guilherme e Inácio e retornou à estalagem.

Com a permissão de Rud, Anix pagou a Manoel para pregar cartazes pela estalagem, que anunciavam o que ele buscava: aventureiros dispostos a vencer a torre e seus mortos-vivos. Enquanto o ajudante cumpria sua tarefa, Anix decidiu ir ao porto. Para sua decepção, não encontrou o navio que desejava ver, o Arthur Tym Liberdade, a nau do capitão Engaris Sthrol.

_ O capitão Sthrol saiu para o mar há alguns dias e ainda não retornou, sinto muito garoto – disse um marujo abordado pelo mago.

_ E você sabe me dizer onde posso encontrar alguns aventureiros para me ajudarem? – perguntou Anix. – Preciso de gente corajosa, disposta a ir para Galrasia, enfrentar um bando de vampiros.

_ Procure pelas tavernas, filho. Gaste algum tempo e alguns tibares e você logo encontrará alguns loucos para lhe acompanharem – respondeu o homem.

_ Mas eu não tenho muito tempo. Preciso encontrar esses loucos rapidamente – queixou-se Anix.

_ Então gaste mais dinheiro e conseguirá o que deseja.

Anix se despediu do marinheiro e retornou ao Macaco Caolho Empalhado. Esperava que os deuses lhe ajudassem novamente e que encontrasse ajuda depressa. E qual não foi sua surpresa ao encontrar um grupo de quatro pessoas, aventureiros a julgar pelas vestes, parados diante de um dos seus cartazes fitando-o com interesse.

_ Vampiros? Quem seria louco a ponto de aceitar uma missão destas? – disse Anix em voz alta ao se aproximar do grupo e fingir ler o cartaz.

_ Pois está olhando para eles! – sorriu um dos quatro integrantes do grupo. Era um homem alto, de ombros e sorriso largos e de cabelos fartos e esvoaçantes e negros como a própria noite. Vestia uma armadura de escamas metálicas, trazia uma longa espada presa à cintura e uma pesada mochila nas costas.

_ E quem é você? – perguntou Anix, maravilhado com o entusiasmo do humano. Lembrava de si mesmo anos antes, quando ainda era um aventureiro de baixo nível, antes de Zulil o trair e sua vida se tornar um caos.

_ Meu nome é Luskan! Estes são Carion, Kátia e Rafael. E você, quem seria?

_ Eu sou Anix!

_ Então, Anix! Não gostaria de se juntar a nós nesta empreitada e surrar alguns vampiros com a gente?

_ Vocês estão mesmo dispostos a encarar este desafio? – indagou o mago.

_ Claro que estamos! Por acaso você está com medo? – respondeu uma mulher de tamanho extremamente reduzido, uma halfling. Kátia era seu nome. E trajava um peitoral de aço e portava uma maça-estrela. Em seu peito, sobre a armadura, um medalhão de prata refletia a luz dos lampiões. Nele estava cunhado um escudo sobre o qual um machado, uma espada e um martelo de batalha se sobrepunham. Era o símbolo de Keen, o Deus da Guerra.

_ Medo? Não, nem um pouco. Pra sua informação, fui eu quem colocou este cartaz ai. Estou procurando alguém disposto a me seguir até esta torre em Galrasia para destruir alguns vampiros. O que me dizem? Topam enfrentar este desafio.

_ Claro que topamos! Vamos logo para a batalha! – sorriu Kátia, ávida por lutar.

_ Espere um pouco, minha pequena amiga – interveio Luskan. – Primeiro vamos saber mais sobre a missão e sobre o pagamento que receberemos, depois decidiremos se iremos ou não. Quantos vampiros existem lá, senhor Anix?

­_ Bem, isso eu não sei. Matamos uns vinte, mas com certeza há pelo menos isso ainda por lá!

­_ Matamos? Você e quem mais?

_ Meu amigos e eu. Nos livramos de uns vinte vampiros e com certeza há muitos mais, além de zumbis, aparições e outros mortos-vivos. Quero alguém para nos substituir, caso venhamos a morrer. Os riscos são altos, eu mesmo já morri duas vezes, portanto, se tiverem medo, eu vou entender – disse Anix.

_ Medo? Nós? Nem um pouco! Vamos lá quebrar a cara desses vampiros idiotas! – exaltou-se Kátia.

_ Bem, até que coragem vocês parecem ter. Mas será que tem competência para tal tarefa? – interrogou o elfo.

_ Se temos competência? Ora meu amigo, você já deve ter ouvido falar de nós por ai. Já ouviu os bardos cantando a Balada da Forja da Fúria? Pois somos nós os heróis desta canção. Enfrentamos a morte em suas várias facetas e destruímos um terrível dragão. Acho que somos suficientemente competentes para dar conta de um bando de criaturas que nem vivas estão – rebateu Luskan, irritado.

_ Há! Há! Há! Não me faça rir! Vocês desbravaram o Salão do Esplendor e mataram Escamas da Noite? Por acaso acha que sou algum idiota? Talvez este truque funcionasse com qualquer outra pessoa, mas pra seu azar, eu sou uma das pessoas que inspiraram esta canção. Sou Anix Remo e meus amigos Legolas, Nailo, Lucano e Squall aguardam por mim em Galrasia. E se precisam usar os feitos de outros para se promoverem, começo a realmente duvidar de que sejam adequados para a missão – zombou o mago.

_ Ora, não me importa quem você é ou deixa de ser. Vamos logo até essa torre e você verá o quanto somos capazes – desafiou a halfling.

_ Calma, Kátia! – interveio Luskan. – Provaremos nosso valor, mas no devido tempo e por um preço justo. Se a tarefa é assim tão complicada quanto você alega, vamos querer mil tibares de ouro para cada um. Metade paga adiantada. O que me diz?

_ E o que me diz do seguinte: eu os desafio para uma luta e se eu vencê-los, vocês me acompanham de graça? Se vocês vencerem, pago o dobro. – sugeriu o mago.

_ Ora, pra mim está de bom tamanho! Vamos lá pra fora que eu vou arrebentar sua cara – retorquiu Kátia.

_ Opa, fale por si própria, minha amiga! Anix, se Kátia topar sua proposta, ai é problema dela. A minha continua a mesma.

_ Bem, não tenho como lhes pagar nada agora, mas posso pagar assim que chegarmos na torre. Tenho um tesouro lá me aguardando.

_ Bem lembrado! Pode ser feito desta forma, mas também queremos ter nossa parte nos espólios da torre. Metade para seu grupo e metade para o nosso. Que tal?

_ Veremos! – respondeu Anix.

_ Ótimo! E quando partimos? – perguntou Luskan.

_ Pela manhã! – respondeu o elfo. – Agora tenho uma luta para vencer. Vamos lá para fora!

Anix deixou a taverna acompanhado de seus novos companheiros. Atrás da construção iniciou-se o duelo entre ele e Kátia. A halfling empunhava sua maça com devoção e despejava seu poder mágico sobre o adversário. Anix resistia facilmente a cada encanto, compreendendo que havia uma grande diferença de poder entre ele e sua oponente. O duelo foi curto e, após usar o poder de seu olho maldito e sua mágica poderosa, Anix saiu vencedor ao nocautear a clériga com um simples golpe de seu cajado.

_ Bom, é hora de dormir! – disse Luskan, recolhendo o corpo inconsciente de Kátia do chão. – Nos veremos amanhã Anix. Tenha uma boa noite­ – sorriu ele por fim.

A imagem no espelho tornou-se turva e desfez-se numa névoa acinzentada e caótica. O objeto voltou a refletir apenas as imagens à sua frente, naquele momento, a imagem de Squall. O feiticeiro assistira ao diálogo acalorado de seu irmão com Luskan e seus amigos. Embora não pudesse ouvir o que diziam, Squall fora capaz de entender parte do que acontecia. Vira com certa preocupação o irmão duelar contra a halfling, mas logo sorrira ao vê-lo vencer a adversária com facilidade, apesar da tenacidade em combate da pequenina. Por vim, o Vermelho gastara os últimos momentos da vidência mágica usando um feitiço para avaliar o nível de poder dos desafiantes de Anix. Com seu poder, Squall descobrira não tratar-se de um grupo perigoso, já que possuía pouquíssimos equipamentos mágicos.

Squall sorriu quando a magia finalmente terminou e ele deixou de vislumbrar as ações do irmão. O pergaminho mágico que Anix tinha escrito quando ainda estavam no forte acabara de se provar de grande utilidade. Tranqüilo, mais por saber o que Anix fazia do que por saber que ele estava em segurança, Squall finalmente relaxou. Deitou-se ao lado da espada de Lucano, incumbida de vigiar o sono dos heróis, e fitou-a com interesse.

_ Dililiümi! – começou o Vermelho. – Você foi criada em Lenórienn, certo? Deve ter testemunhado muitas coisas por lá, não é?

_ Sim! Existo há mais de dez séculos e são muitas as batalhas que travei na infinita guerra contra as hordas desprezíveis de goblinóides – respondeu orgulhosa a espada.

_ Pois quero ouvir estas histórias. Conte-me todas! – e assim Squall trocou o sono restaurador pelo relato das fantásticas aventuras vivenciadas pela Caçadora Prateada.

agosto 03, 2009

Capítulo 356 – A aparição do inimigo

Os heróis prosseguiram em sua jornada, explorando cada porta ainda por abrir. Atrás de cada uma delas encontravam armadilhas preparadas pelos seguidores de Zulil e do misterioso Gulthias. Eram dardos venenosos disparados contra seus corpos, espadas e machados afiados que despencavam sobre suas cabeças, tentando arranca-las de seus corpos. Legolas usava os animais de sua pequena bolsa mágica para abrirem as portas e acionarem as armadilhas que eles não conseguiam detectar. Mesmo que viessem a morrer, os animais mágicos apenas retornariam para a bolsa, onde aguardariam até serem convocados novamente. Enquanto investigavam as salas restantes, Anix resmungava, maldizendo o tempo que perdiam ali e desejoso por explorar logo os andares inferiores da torre. Foi somente Nailo quem conseguiu conter a ansiedade do mago que já iniciava uma discussão acalorada com os companheiros.

_ Temos que continuar olhando estas salas, até que não reste lugar inexplorado neste andar. Não podemos nos arriscar a deixar inimigos atrás de nós e, além disso, pode ser que encontremos alguma pista ou recurso que nos ajude a derrotar nossos inimigos mais facilmente – disse Nailo.

Em meio às armadilhas, tal qual Nailo dissera, os aventureiros encontraram alguns pequenos tesouros. Uma espada belamente ornada com jóias foi encontrada sob os escombros de uma das salas, enquanto que uma adaga mágica foi achada em outro cômodo abandonado. Inscrições rúnicas no metal prateado revelaram, com a ajuda da magia de Squall, o poder da adaga. Perfuradora Pálida era seu nome e, como constatou o feiticeiro, a arma poderia ser a ruína dos fantasmas que espreitavam na torre.

_ Ótimo achado! – comemorou o dragão azul. – Ficarei com esta adaga eu mesmo.

_ De jeito nenhum – retrucou Nailo. – Eu guardarei a adaga, para usarmos quando for necessário. Com que direito você exige a posse desta arma, dragão?

_ Ora, elfo. Estou vos ajudando nesta missão e portanto espero ser recompensado por isto. Exijo minha parte nos espólios que encontrarmos aqui nesse mausoléu, e esta adaga me parece um bom começo – redargüiu Mexkialroy.

_ Bem, dividiremos tesouros mais tarde, Mex. Agora temos coisas mais importantes para nos preocupar. Por hora guardarei a adaga comigo, em minha mochila mágica. Aqui ela não pesará e posso pegá-la facilmente quando necessário. Estará segura comigo e assim você poderá usar todos os seus membros para lutar e se mover, ao invés de carregar coisas – disse Nailo.

_ Está certo. Guarde-a por hora então, elfo!

A solução de Nailo serviu para contentar o dragão por algum tempo. O grupo continuou vagando, desta vez pelo corredor onde haviam enfrentado o golem de pedra. Enquanto caminhavam, Legolas iniciou nova conversa com o dragão.

_ Mex, você consegue se transformar em humano, ou em elfo? – perguntou o arqueiro.

_ E por que eu faria tal coisa, elfo? Por que assumiria uma forma inferior? – resmungou Mexkialroy.

_ Há! Pelo visto você não consegue, não é mesmo? Só perguntei por curiosidade mesmo. Ouvi dizer que Belugha e Schar possuem este poder e gostaria de saber se isso era comum na sua raça, mas parece que não – zombou o elfo.

Mexkialroy fez menção de responder às provocações do arqueiro, mas se deteve ao ouvir um estranho ruído. Um pio de coruja ecoava pelos corredores vindo do fosso de entrada, chamando a atenção de todos.

_ Galanodel! – gritou Orion, espantado. O humano correu avidamente em direção à fonte do som, seguido prontamente pelos companheiros. Em segundos estavam sob a entrada, onde a coruja gigante os aguardava.

_ O que aconteceu? – perguntou Orion.

_ Vim avisá-los! O sol se pôs! A noite chegou! – respondeu a ave.

Era a hora mágica para os seres da noite. Vampiros e lobisomens poderiam andar livremente pelo mundo, espalhando terror e chacina. O aviso era mais que bem vindo, pois a partir daquele instante, os heróis deveriam ser mais cautelosos. No entanto, Nailo desconfiou das intenções da coruja e, temendo estar diante de uma ilusão ou de uma mente dominada, fez uma série de perguntas para testar as intenções da coruja. Por fim, satisfeito com as respostas, Nailo subiu para o topo da torre, onde constatou com seus próprios olhos a chegada do crepúsculo.

_ Vamos continuar, mas com mais cautela – disse ele. – O tempo agora está a favor de nossos inimigos.

A exploração prosseguiu cada vez mais rápida à medida que a quantidade de armadilhas diminuía. As salas restantes, todas ocupadas apenas por escombros, pareciam abandonadas pelos ocupantes da torre fosse para uso como cômodo, fosse para abrigar armadilhas mortais. Depois de algum tempo, restava apenas uma porta no corredor onde os heróis tinham enfrentado o terrível golem. A barreira era feita de pedra, tal qual as outras, e também ostentava o símbolo dracônico entalhado sob sua aldrava. Parecia úmida e mais fria que as demais partes da construção, era como se uma aura sombria emanasse de sua estrutura.

_ Vamos logo, esta é a última sala deste andar. Vamos ver o que há atrás dela logo de uma vez – disse Orion, impaciente. Suas mãos são empurravam a porta de pedra quando foi detido por Anix.

_ Espere, Orion! – rugiu o mago. – A mente deve ser mais rápida que as mãos. Esta porta está estranha. Nailo, dê uma checada, por favor!

O ranger olhou ao redor da porta atentamente. Ao contrário do que esperava Anix, não localizou qualquer armadilha. Mas a estranha umidade que tomava conta da rocha denunciava a existência de algum perigo. Após a análise cuidadosa de Nailo, Orion pode finalmente abrir a porta. A sala além dela ficava na borda da torre, por isso a parede diante do humano tinha formato curvo. Era estreita, não mais que metro e meio de largura, mas se estendia por toda a torre em seu comprimento. Dentro não havia móveis ou sequer escombros. Apenas um líquido negro e viscoso borbulhava de forma intrigante por todo o chão.

Sob protestos dos companheiros, Orion decidiu entrar na sala e investigá-la. Foi surpreendido ao descobrir que de alguma forma estranha o líquido estava vivo. A gosma negra subia pelas pernas do humano, tornando seu andar difícil. Orion também sentia dor, como se a gosma fosse ácida, mas, como sua armadura e roupas permaneciam intactas, descartou essa hipótese. O líquido feria seu corpo, mas de alguma forma que ele não compreendia. Com muito esforço, o guerreiro abandonou o cômodo já quase sem fôlego e vida.

Lucano curou o corpo de Orion com sua magia, enquanto seus amigos faziam testes com o líquido. A gosma, quando retirada de seu recinto, murchava e secava até se esfarelar e desaparecer por completo. Se tocada por uma espada ou outro objeto, o agarrava e puxava, tentando envolvê-lo como fizera com Orion.

_ Acho que sei o que é esta coisa. É algum tipo de líquido necromântico. Suas características lembram as dos mortos-vivos. Vou tentar destruí-la com o poder de Glórienn – disse Lucano. O clérigo se postou diante da entrada com seu medalhão sagrado erguido. Evocou o nome de sua deusa por duas vezes e viu o líquido recuar e se agitar até se transformar em pó e desaparecer no ar.

_ Ótimo! Agora podemos dormir aqui – disse Nailo. – Vamos fazer uma barricada nesta sala e descansar aqui.

_ Não acho uma boa idéia, Nailo – discordou Lucano. – Pode ser que aquela gosma se refaça, e não quero estar perto daqui se isso acontecer.

_ Lucano tem razão – replicou Anix. – De qualquer forma não é bom permanecermos aqui enquanto dormirmos. Podemos ser atacados durante o sono. É melhor voltarmos para a caverna encontrada por Mex.

_ Nada disso. Se fizermos isso, os vampiros voltarão a ocupar este andar e teremos que refazer todo o trabalho que já fizemos – redargüiu Nailo. - Devemos ocupar este local e impedir que os nossos inimigos o façam, ou então jamais chegaremos ao final desta torre infernal.

Uma acalorada discussão teve início neste momento, para decidirem qual seria a melhor forma de descansarem seus corpos e recuperarem suas energias sem ficarem à mercê dos inimigos. Ao final do debate, o grupo estava dividido. Anix deixou a torre, dizendo que dormiria na caverna, enquanto Nailo se deitou dentro de uma pequena sala no corredor central para dormir. Os demais trataram de se ajeitar pelos como puderam, revezando-se em turnos de guarda para vigiar as ações dos inimigos e de seus companheiros.

_ Não precisam se preocupar – disse Nailo. – Podem dormir sossegados. Daqui até aquela marca na parede eu coloquei uma magia. Qualquer um que entrar nesta área disparará um alarme e eu acordarei todos. Não há como não notarmos a chegada dos inimigos.

Os heróis decidiram confiar no amigo e prepararam-se para dormir. Lucano conversou mentalmente com Dililiümi, para evitar iniciar uma nova disputa entre seus amigos, e pediu à espada mágica que vigiasse por eles. Fincou a arma no chão próximo a ele e se deitou. Protegido pela magia de Nailo, Orion decidiu dormir perto da escada, onde poderia apanhar rapidamente qualquer inimigo que surgisse. Squall e Mexkialroy ficaram perambulando pelos corredores, dentro da área protegida pela mágica de Nailo, enquanto Legolas, antes de ir dormir, foi para o topo da torre afim de saber como estava Anix.

No lugar do mago, e de uma farta porção do tesouro reunido no alto do pináculo, encontrou apenas um bilhete no qual Anix dizia: Fui para Malpetrim, volto logo.

Malpetrim, o local onde a jornada se iniciara, onde meros viajantes tornaram-se grandes amigos e onde o traidor Zulil havia sido visto pela primeira vez. Legolas se lembrou de todos os amigos que não estavam ali com ele naquele momento, especialmente um que deveria estar ao menos próximo: Sairf. Sentado no que restara da pilha de tesouro, Legolas pôs-se a escrever uma carta.

“Sairf

Amigo, estamos em Galrasia. Sim, a ilha. Espero que você esteja bem ai com sua sereia, pois aqui não está nada bem. Nós nos casamos todos, Eu com Liodriel, Anix com Enola e Nailo com Darin, mas falhamos como maridos. Você deve se lembrar de Zulil, aquele elfo que conhecemos em Malpetrim, que andava com um outro elfo e um halfling. Pois é, ele é um servo de Tenebra. O desgraçado nos enganou, traiu e matou todas as nossas esposas e nosso bom amigo Sam.

Agora estamos numa torre em Galrasia, caçando o desgraçado para vingar a morte de nossas mulheres e amigo. E não sei porque diabos lembrei de você e tive medo que de você também pudesse estar passando por alguma dificuldade, assim como nós.

Escreva-me contando se você está bem.

Seu parceiro,

Legolas Greenleaf – the ice heart

Mal sabia ele que suas suspeitas e temores não eram sem motivo, pois, Sairf também vivia sua aventura e enfrentava perigos terríveis. O arqueiro enrolou a carta e a colocou dentro de um pequeno frasco de poção vazio, assegurando-se de tapá-la bem. Arrancou de seu pescoço o medalhão de madeira que ganhara do povo de Cold Valley e assisti-o transformar-se em um belo pássaro. Entregou a garrafa com a mensagem à ave e sussurrou em seu ouvido mágico a quem a carta deveria ser entregue. Como que guiado por feitiçaria, o pássaro alçou vôo e foi em busca do destinatário da mensagem: Sarif. Certo de que em breve seu amigo receberia a carta, Legolas foi dormir.

O alarme mágico disparou na mente de Nailo, emitindo um aviso estridente que somente ele era capaz de ouvir. O Guardião levantou de armas em punho e alertou seus amigos. Alguém subia as escadas e vinha em direção a eles. Todos correram para o corredor onde os restos mortais do golem de pedra ainda permaneciam empilhados. Da sala da escada uma horda de zumbis surgia cambaleante.

Já transformado em dragão, Squall despejou seu hálito de fogo nos inimigos. Seu medo antigo medo tornava-se menos importante quando tinha aquela aparência. Os corpos mortos foram tomados pelas chamas e transformados em cinzas. A batalha parecia ganha. Mas, um novo inimigo surgiu. Parecia também um zumbi, mas seu corpo era visivelmente constituído por partes dos corpos de outras criaturas. Era também um golem, uma criatura anti-natural, desta vez, porém, feito de carne. Todos o atacaram furiosamente até fazer o inimigo sobrenatural tombar. Apenas Orion fora ferido e superficialmente. Entretanto, durante o tempo perdido na luta contra o golem, os heróis não puderam evitar a chegada de novos inimigos. Um enorme ser de aparência bestial, que se assemelhava a um gorila de quatro braços invadiu o corredor. A criatura avançou ameaçadoramente contra Squall, soltando rugidos apavorantes que faziam estremecer as paredes. Mesmo em forma de dragão, o feiticeiro chegou a temer o ataque da criatura. Mas, subitamente, o monstro se deteve.

_ Mestre! Mestre! – repetia o gorila, enquanto encarava a marca na testa de Squall, a mesma marca que decorava as portas da torre. Finalmente o Vermelho percebeu que poderia tirar vantagem daquele símbolo.

Mas, antes que o discípulo de dragão pudesse se aproveitar da situação, foi surpreendido pela chegada de outro adversário.

_ Malditos profanadores! Destruíram remendos! Hão de pagar com suas vidas! Seu girallon imprestável, trate de destruí-los enquanto eu aviso ao mestre Gulthias! – sibilou o vampiro que acabara de surgir na escada ao ver o amontoado de pedras que fora o golem. O morto-vivo desapareceu na escadaria tão rápido quanto surgiu, retornando para o andar inferior.

_ Depressa! Vamos segui-lo! – gritou Orion.

_ Você, servo! Pegue aquele vampiro – ordenou Squall ao gorila.

_ Mestre? – hesitou o símio.

_ Sim, eu sou seu mestre agora. Agarre aquele monstro pra mim e será bem recompensado! – continuou o Vermelho.

_ Mestre bonzinho? Mestre não machucar nós? – insistiu o macaco.

_ Sim, mestre não vai machucar você se você ajudar mestre! – respondeu Squall. O gorila assentiu com a cabeça, satisfeito, e lançou-se escada abaixo em velocidade surpreendente. Os heróis o seguiram logo depois.

No andar inferior, chegaram a uma pequena câmara que terminava em um corredor que se abria à direta e à esquerda, no qual havia uma porta em cada extremidade. No final da escada puderam ver o vampiro abaixado, como se fizesse reverência a alguém. O gorila saltou sobre o vampiro para agarrá-lo, mas, antes que pudesse alcançar seu alvo, uma voz se fez presente na sala.

_ Estúpido, eles o seguiram! – bradou a voz misteriosa. – Destrua todos eles. E quanto a este símio traidor, eu mesmo me encarrego dele.

Um clarão tomou conta do piso inferior, seguido do grito de agonia do girallon. Quando os heróis finalmente chegaram ao fim da escada, a criatura jazia morta no chão.

_ Livre-se deles, Ou irá se ver comigo, lacaio imprestável! E não se deixe enganar pelos truques dos profanadores, não há herdeiro algum entre eles! – foram as últimas palavras da voz que tinham ouvido enquanto desciam. Olharam para debaixo da escada e viram um vulto sombrio emoldurado em mantos escuros e aveludados desaparecendo magicamente no ar. Imediatamente todos tiveram a intuição de que aquele misterioso ser era o tão falado Gulthias.

O vampiro ergueu-se do chão após a partida de seu mestre. Seus olhos brilharam como brasas incandescentes e suas presas cresceram pontiagudas em sua boca, desafiando os heróis. A resposta foi imediata. Uma chuva de flechas caiu sobre seu corpo, carregadas de frio mágico e fúria. O inimigo desfez-se em fumaça antes que a corda do arco de Legolas terminasse de vibrar após os disparos.

Orion correu, seguindo o vampiro gasoso pelo corredor. Ao fazer a curva para a direita, foi atacado de surpresa. Pequenos arbustos secos que se elevavam do solo pedregoso ergueram-se e saltaram sobre o humano. Orion estraçalhou-os com suas espadas, intrigado com a natureza daqueles estranhos seres. Além de tentar perfurar seu corpo com seus galhos afiados, os ramos secos pareciam tentar sorver o sangue do guerreiro.

A fumaça que era o vampiro subiu para o teto, longe do alcance dos aventureiros, e continuou seu movimento sinuoso escada acima. Os heróis o seguiram até seu sarcófago no andar superior onde o degolaram e queimaram, tal qual haviam feito antes com os outros vampiros. Desta feita tinham a certeza de que aquele inimigo não voltaria a importuná-los. Com aquela ameaça contida, era hora de voltarem a repousar.

_ Vamos voltar a descansar – disse Lucano. – Podem todos dormir tranquilamente, pois Dililiümi vigiará para nós agora que a magia de Nailo foi desfeita. Se alguém se aproximar de nós, ela nos acordará!

Os heróis se reuniram em uma das salas e a transformaram em acampamento. Lucano fincou a espada mágica à sua frente e, assim como seus companheiros, pôs-se a dormir. Squall, diferente dos demais, permaneceu acordado. O feiticeiro retornou à sua forma original e pôs-se a polir um espelho que trazia em sua mochila mágica, enquanto conversava com a espada, ouvindo desta suas histórias do passado em Lenórienn. Enquanto ouvia os relatos das muitas batalhas travadas pela arma, a mente de Squall se voltava para seu irmão.

junho 19, 2009

Subiiiiiu!

Ah, sim. Ia esquecendo. Lucano subiu de nível, virou Teurgista Místico, classe de prestígio megaboga do Livro do Mestre. Agora ele é Clérigo 7 / Mago 5 / Teurgista Místico 1 (total=13). Mas, levando em conta as vantagens da classe de prestígio, é como se ele fosse Clérigo 8 / Mago 6 (total=14). Logo logo ele passa o resto do povo, hehehehe. E agora ele é oficialmente um pdm, já que o jogador desapareceu sem sequer dar uma satisfação por causa de uma discussão com outro membro do grupo e por outros motivos particulares. Paciência........

junho 18, 2009

Capítulo 355 – Os últimos fugitivos

Nailo terminou de subir as escadas e recolheu uma de suas espadas, retornando finalmente para junto dos outros. Parou ao lado de Orion, encarando-o com frieza. Apontou a lâmina para o humano ameaçadoramente, notou que a lâmina tinha se apagado.

_ Nunca mais faça isso de novo, idiota! Quando eu disser pra fugirem, fuja. Eu tinha tudo sob controle, sabia o que estava fazendo. E você quase morreu por conta de sua teimosia. Não fosse por Lucano já teríamos perdido outra das bênçãos de Lena – rugiu o Guardião. Orion permanecia calado.

Nailo recolheu a espada e rumou novamente na direção da escada. Apanhou a outra espada e viu as duas lâminas voltarem a se acender sozinhas ao ficarem próximas novamente. Guardou as armas e voltou para o corredor. Lucano despejava seu poder curativo sobre os amigos.

_ Não entendi uma coisa – disse Orion. – Por que aquele monstro de pedra não desapareceu como o rinoceronte de Legolas?

_ Ele não era uma criatura invocada, Orion, mas sim construída por alguém – respondeu Anix. – No início também pensei que era um ser de outra dimensão, mas depois descobri que estava errado. Ele era um golem de pedra, construído a martelo e cinzel e animado por magia. E presumo que o mago lhe deu vida tenha tanto ou mais poder que eu.

­_ Bom, mas agora ele não passa de um amontoado de pedras inofensivas – escarneceu Mexkialroy. – Não percamos mais tempo aqui, continuemos nossa busca.

_ Daqui a pouco, dragão – disse Lucano. – Primeiro deixe-me terminar de curar essas feridas. Também vou dividir as poções que ainda tenho com vocês. Assim dividimos nosso poder de cura e vocês não ficam dependendo apenas de mim.

_ Enquanto isso vou dar uma olhada no que tem atrás da porta no final do corredor – disse Legolas.

_ Tome cuidado, Legolas – aconselhou Nailo.

_ Ei, Nailo. E o que você viu lá embaixo? – perguntou Squall.

_ Não muita coisa – respondeu o amigo. – Estava escuro e eu não tinha minhas espadas. Mas há uma sala pequena onde a escada termina, parecida com essa aqui em cima. Mas a saída dela segue em direção ao centro da torre.

Legolas já estava afastado do grupo, já fazendo a curva na borda da torre. Empurrou a porta o mais silenciosamente que pode e a abriu por inteira. Novamente se deparava com uma câmara mortuária, cheia de sarcófagos de pedra em pé apoiados nas paredes do fundo e da esquerda.

_ Lucano! Acho que vou precisar de você aqui – chamou o arqueiro. – Tem uma porção daqueles caixões nesta sala.

O servo da Deusa dos Elfos se levantou após tratar dos últimos ferimentos dos amigos. Torcia para que não encontrassem perigos nos caixões, pois seu poder divino, as bênçãos de Glórienn, se esvaiam rapidamente. O dano causado pelos mortos que habitavam aquele mausoléu era demasiado grande e consumia suas magias rapidamente em reparação dos estragos infligidos a seus corpos, mentes e espíritos. Se continuasse assim, em breve não teria mais poderes para protegê-lo e a seus amigos. Felizmente, pensava ele, contava agora com boa dose de poder arcano para ajudá-los. A magia arcana não era capaz de curar como a magia dos deuses, mas era capaz de ferir os inimigos e mantê-los afastados. Era verdade que Lucano não tinha sequer metade do poder que Anix possuía, já que tinha iniciado a cerca de apenas um ano seus estudos arcanos. Lucano ainda era um mago de pouco poder, mas isto, aliado aos seus poderes de clérigo, o tornava um conjurador poderoso e versátil. Magia divida e arcana juntas, assim eram os poderes de Lucano. Havia um nome para aquilo, para aquele modo peculiar de se usar a magia. Teurgia, era assim que aquela arte se chamava. Sim, Lucano era agora um teurgista, um místico que trilhava ao mesmo tempo as duas vertentes mágicas existentes: a magia dos elementos e a dos deuses.

Absorto, Lucano só despertou de seus pensamentos quando parou ao lado de Legolas diante da porta aberta. Nailo vinha logo atrás, enquanto os demais aguardavam no local do último combate.

_ Vou checar pra ver se há veneno nas tumbas – disse Nailo, invadindo o cômodo fúnebre.

_ Ficarei logo atrás de você, Nailo – disse Lucano. – Se algum morto-vivo sair de dentro de alguma delas, usarei o poder de Glórienn para afugentá-los – o teurgista ergueu o disco dourado no qual o arco longo, símbolo da Deusa Élfica, estava cunhado. Alven voava acima de sua cabeça, vigiando ao redor de seu novo mestre.

_ E eu ficarei aqui na porta, com meu arco apontado. Se alguma dessas portas tentar se abrir, minhas flechas voarão – disse Legolas.

Nailo caminhou até o fundo da saleta. A mão estendida irradiava energia mágica invisível, apontada para todas as direções a fim de sentir a presença de qualquer substância tóxica. E, nada. Não havia veneno algum naquele lugar, nenhuma armadilha aguardando para atraiçoá-los. Mais confiante, o ranger caminhou até o fundo da saleta, aproximando-se de um dos caixões. Foi quando uma mão fantasmagórica composta apenas de um borrão negro surgiu de dentro de um sarcófago, penetrou no peito de Nailo, roubando sua vitalidade e, tão inesperadamente quanto surgira, desapareceu dentro da tumba. Desesperado e em dor, Nailo soltou um grito abafado, alto o suficiente para chamar a atenção de seus amigos que estavam no corredor. Legolas não teve tempo de disparar seu arco, como desejava, mas uma nova oportunidade se anunciava. Um redemoinho negro surgiu no chão no canto da cripta, girando hipnoticamente e se expandindo de maneira assustadora, até que de dentro dele saltou um enorme cachorro demoníaco, um cão cuja pelagem se confundia com a própria escuridão. Era um mastim das sombras.

_ Outro mastim! Preparem-se, deve haver mais sombras nestes caixões! – gritou Legolas. Suas flechas voaram ligeiras e cravaram-se no couro enegrecido do animal, um segundo antes da lâmina encantada de Nailo rasgar a carne da criatura.

O animal ganiu e rosnou. Projetou sua mandíbula na direção de Nailo e abriu um profundo corte na perna do elfo. Um sacolejar de cabeça foi o suficiente para jogar o inimigo no chão, sangrando, deixando-o vulnerável aos seus mestres incorpóreos. As sombras surgiram de dentro dos esquifes, roubando a força vital dos três heróis. Lucano gritou o nome de sua deusa e seu medalhão brilhou. As sombras recuaram por um instante, mas, enfraquecido pelo ataque recebido, Lucano não foi capaz de mantê-las afastadas como desejava.

Orion e Anix finalmente chegaram ao campo, ou melhor, cripta, da batalha. O humano desferiu sucessivos golpes de espada no espírito próximo à porta, que atacava Legolas. Viu que seus golpes, embora carregados de força e fúria, eram ineficazes. Mesmo assim, sua espada flamejante foi capaz de transformar o manto de trevas que flutuava a sua frente em pouco mais que um trapo negro e insubstancial. O mago surgiu por trás do homem emoldurado em metal e disparou feixes de energia mística contra a criatura que enfrentava Lucano. Ao contrário dos ataques do guerreiro, a magia composta de energia pura era infalível contra aquelas criaturas.

Legolas disparou em seguida no mesmo inimigo alvejado por Anix. Suas flechas atravessaram a sombra sem feri-la. Vendo o resultado negativo de sua tentativa, o arqueiro voltou sua atenção para o animal, cravando um projétil congelante em seu crânio deformado.

Distraído por um breve momento, o mastim tornou-se presa fácil para Nailo que, mesmo deitado, golpeou o corpo sombrio do cão até fazê-lo tombar. Tal qual os outros como ele, convocados de outro plano, o mastim desapareceu no ar. Nailo jogou as pernas para o ar, pegando impulso e girando o corpo no chão de pedra. Parou sob a sombra alvejada pelos amigos e continuou seus ataques, desta feita, com poucos resultados.

Lucano gritou por Glórienn novamente, trazendo cólera em seus olhos e de seu símbolo sagrado surgiu uma explosão de luz e energia divina. Os espíritos atingidos pela energia pareceram se contorcer de dor e seus espasmos vieram acompanhados de gritos horrendos que ecoavam de dentro dos caixões fechados. Duas nuvens de vapor escaparam de duas tumbas paralelas, flutuando acima dos heróis como se os observassem. Imediatamente todos souberam o que aquilo representava. Eram vampiros.

_ São os vampiros fugitivos que faltavam! – gritou Nailo. Desta vez vou acabar com eles de uma vez! Sol, ilumine! Jün onefora! – gritou ele por fim, batendo suas espadas uma na outra e fazendo-as faiscarem. As lâminas gêmeas foram imediatamente tomadas de um brilho tão intenso quanto o sol, tirando das trevas aquela saleta que nunca antes tinha sido iluminada. Os vapores que eram os vampiros novamente soltaram guinchos de agonia, sua coloração foi mudando do branco para o negro e deste para o cinza, ou, para as cinzas que começaram a despencar como neve num dia de inverno.

Os vampiros fugiram flutuando pelo corredor, enquanto Nailo brandia suas espadas. As duas sombras restantes ainda tentaram um último ataque antes de fugirem também. Orion foi atingido, sentindo suas forças drenadas, mas a Nailo o outro inimigo não conseguiu chegar. Orion revidou o golpe recebido, mas sua espada cortava o ar sem ferir o inimigo não vivo. Foi Legolas que conseguiu ceifar a não vida da criatura com uma flechada certeira. O inimigo restante atravessou a parede direita, indo para o corredor onde Mex e Squall aguardavam.

_ Saiam da frente! – gritou Nailo, correndo porta a fora em perseguição aos vampiros. Alcançou-os no corredor central da torre, o mesmo onde ficava o fosso que usavam de entrada, revelando que os caminhos da construção eram todos interligados. Ergueu as rosas gêmeas, agora dois sóis gêmeos, e viu com regozijo as nuvens de vapor se transformarem em cinzas, para nunca mais se levantarem neste mundo.

No outro corredor, o último espírito sombrio terminava de transpassar a parede de rocha, esperando estar livre dos inimigos que a venciam. Ledo engano. Para sua infelicidade, ao invés de um corredor livre para sua fuga, deu de cara com um sorridente dragão azul.

Sem hesitar Mexkialroy cuspiu uma rajada elétrica, como se ele próprio fosse uma nuvem de tempestade, sobre o fantasma. Mal a sombra se recuperou após o choque, vários disparos mágicos a atingiram naquilo que seriam suas costas. Era Anix.

_ Ai, Mex! Deixei as coisas um pouquinho mais fáceis pra você! – brincou o mago.

_ Obrigado, elfo. Não que eu precisasse... – retrucou o azul. Abriu sua bocarra novamente, lançando uma nova rajada elétrica no inimigo. Desta vez, contudo, o raio atravessou o espírito como se ele não estivesse ali.

_ Parece que não é bem como você disse, dragão – zombou Anix.

_ Cala-te, elfo. Estou apenas a brincar com a comida – redargüiu a fera.

Orion saltou entre os dois, interrompendo as provocações. Sua espada desceu sobre a criatura de trevas, novamente sem feri-la.

_ Maldito fantasma! – praguejou o humano.

Retornando após liquidar os vampiros, foi a vez de Nailo tentar em vão destruir o último inimigo, mesmo com suas espadas banhadas de luz solar. Legolas já preparava seu arco para dar cabo do inimigo quando Anix tomou a frente.

_ Veja como se faz, Mex! – Anix acionou o poder de seu cajado. Seus olhos brilharam como brasas e ele abriu a boca cuspindo fogo sobre o fantasma e seus próprios amigos. Nailo saltou de lado evitando as chamas, Mexkialroy apenas se abaixou, deixando o fogo passar sobre seu corpo. Orion e o espírito foram atingidos em cheio. O guerreiro apesar de ferido, permaneceu em pé, já o fantasma não mais existia neste mundo.

_ Aprendeu, dragão? – provocou Anix.

_ Até que te saístes bem, elfo. Continua assim. Agora vamos, há mais lugares a explorar – respondeu o dragão com soberba, passando altivo ao lado de Anix.