junho 18, 2009

Capítulo 355 – Os últimos fugitivos

Nailo terminou de subir as escadas e recolheu uma de suas espadas, retornando finalmente para junto dos outros. Parou ao lado de Orion, encarando-o com frieza. Apontou a lâmina para o humano ameaçadoramente, notou que a lâmina tinha se apagado.

_ Nunca mais faça isso de novo, idiota! Quando eu disser pra fugirem, fuja. Eu tinha tudo sob controle, sabia o que estava fazendo. E você quase morreu por conta de sua teimosia. Não fosse por Lucano já teríamos perdido outra das bênçãos de Lena – rugiu o Guardião. Orion permanecia calado.

Nailo recolheu a espada e rumou novamente na direção da escada. Apanhou a outra espada e viu as duas lâminas voltarem a se acender sozinhas ao ficarem próximas novamente. Guardou as armas e voltou para o corredor. Lucano despejava seu poder curativo sobre os amigos.

_ Não entendi uma coisa – disse Orion. – Por que aquele monstro de pedra não desapareceu como o rinoceronte de Legolas?

_ Ele não era uma criatura invocada, Orion, mas sim construída por alguém – respondeu Anix. – No início também pensei que era um ser de outra dimensão, mas depois descobri que estava errado. Ele era um golem de pedra, construído a martelo e cinzel e animado por magia. E presumo que o mago lhe deu vida tenha tanto ou mais poder que eu.

­_ Bom, mas agora ele não passa de um amontoado de pedras inofensivas – escarneceu Mexkialroy. – Não percamos mais tempo aqui, continuemos nossa busca.

_ Daqui a pouco, dragão – disse Lucano. – Primeiro deixe-me terminar de curar essas feridas. Também vou dividir as poções que ainda tenho com vocês. Assim dividimos nosso poder de cura e vocês não ficam dependendo apenas de mim.

_ Enquanto isso vou dar uma olhada no que tem atrás da porta no final do corredor – disse Legolas.

_ Tome cuidado, Legolas – aconselhou Nailo.

_ Ei, Nailo. E o que você viu lá embaixo? – perguntou Squall.

_ Não muita coisa – respondeu o amigo. – Estava escuro e eu não tinha minhas espadas. Mas há uma sala pequena onde a escada termina, parecida com essa aqui em cima. Mas a saída dela segue em direção ao centro da torre.

Legolas já estava afastado do grupo, já fazendo a curva na borda da torre. Empurrou a porta o mais silenciosamente que pode e a abriu por inteira. Novamente se deparava com uma câmara mortuária, cheia de sarcófagos de pedra em pé apoiados nas paredes do fundo e da esquerda.

_ Lucano! Acho que vou precisar de você aqui – chamou o arqueiro. – Tem uma porção daqueles caixões nesta sala.

O servo da Deusa dos Elfos se levantou após tratar dos últimos ferimentos dos amigos. Torcia para que não encontrassem perigos nos caixões, pois seu poder divino, as bênçãos de Glórienn, se esvaiam rapidamente. O dano causado pelos mortos que habitavam aquele mausoléu era demasiado grande e consumia suas magias rapidamente em reparação dos estragos infligidos a seus corpos, mentes e espíritos. Se continuasse assim, em breve não teria mais poderes para protegê-lo e a seus amigos. Felizmente, pensava ele, contava agora com boa dose de poder arcano para ajudá-los. A magia arcana não era capaz de curar como a magia dos deuses, mas era capaz de ferir os inimigos e mantê-los afastados. Era verdade que Lucano não tinha sequer metade do poder que Anix possuía, já que tinha iniciado a cerca de apenas um ano seus estudos arcanos. Lucano ainda era um mago de pouco poder, mas isto, aliado aos seus poderes de clérigo, o tornava um conjurador poderoso e versátil. Magia divida e arcana juntas, assim eram os poderes de Lucano. Havia um nome para aquilo, para aquele modo peculiar de se usar a magia. Teurgia, era assim que aquela arte se chamava. Sim, Lucano era agora um teurgista, um místico que trilhava ao mesmo tempo as duas vertentes mágicas existentes: a magia dos elementos e a dos deuses.

Absorto, Lucano só despertou de seus pensamentos quando parou ao lado de Legolas diante da porta aberta. Nailo vinha logo atrás, enquanto os demais aguardavam no local do último combate.

_ Vou checar pra ver se há veneno nas tumbas – disse Nailo, invadindo o cômodo fúnebre.

_ Ficarei logo atrás de você, Nailo – disse Lucano. – Se algum morto-vivo sair de dentro de alguma delas, usarei o poder de Glórienn para afugentá-los – o teurgista ergueu o disco dourado no qual o arco longo, símbolo da Deusa Élfica, estava cunhado. Alven voava acima de sua cabeça, vigiando ao redor de seu novo mestre.

_ E eu ficarei aqui na porta, com meu arco apontado. Se alguma dessas portas tentar se abrir, minhas flechas voarão – disse Legolas.

Nailo caminhou até o fundo da saleta. A mão estendida irradiava energia mágica invisível, apontada para todas as direções a fim de sentir a presença de qualquer substância tóxica. E, nada. Não havia veneno algum naquele lugar, nenhuma armadilha aguardando para atraiçoá-los. Mais confiante, o ranger caminhou até o fundo da saleta, aproximando-se de um dos caixões. Foi quando uma mão fantasmagórica composta apenas de um borrão negro surgiu de dentro de um sarcófago, penetrou no peito de Nailo, roubando sua vitalidade e, tão inesperadamente quanto surgira, desapareceu dentro da tumba. Desesperado e em dor, Nailo soltou um grito abafado, alto o suficiente para chamar a atenção de seus amigos que estavam no corredor. Legolas não teve tempo de disparar seu arco, como desejava, mas uma nova oportunidade se anunciava. Um redemoinho negro surgiu no chão no canto da cripta, girando hipnoticamente e se expandindo de maneira assustadora, até que de dentro dele saltou um enorme cachorro demoníaco, um cão cuja pelagem se confundia com a própria escuridão. Era um mastim das sombras.

_ Outro mastim! Preparem-se, deve haver mais sombras nestes caixões! – gritou Legolas. Suas flechas voaram ligeiras e cravaram-se no couro enegrecido do animal, um segundo antes da lâmina encantada de Nailo rasgar a carne da criatura.

O animal ganiu e rosnou. Projetou sua mandíbula na direção de Nailo e abriu um profundo corte na perna do elfo. Um sacolejar de cabeça foi o suficiente para jogar o inimigo no chão, sangrando, deixando-o vulnerável aos seus mestres incorpóreos. As sombras surgiram de dentro dos esquifes, roubando a força vital dos três heróis. Lucano gritou o nome de sua deusa e seu medalhão brilhou. As sombras recuaram por um instante, mas, enfraquecido pelo ataque recebido, Lucano não foi capaz de mantê-las afastadas como desejava.

Orion e Anix finalmente chegaram ao campo, ou melhor, cripta, da batalha. O humano desferiu sucessivos golpes de espada no espírito próximo à porta, que atacava Legolas. Viu que seus golpes, embora carregados de força e fúria, eram ineficazes. Mesmo assim, sua espada flamejante foi capaz de transformar o manto de trevas que flutuava a sua frente em pouco mais que um trapo negro e insubstancial. O mago surgiu por trás do homem emoldurado em metal e disparou feixes de energia mística contra a criatura que enfrentava Lucano. Ao contrário dos ataques do guerreiro, a magia composta de energia pura era infalível contra aquelas criaturas.

Legolas disparou em seguida no mesmo inimigo alvejado por Anix. Suas flechas atravessaram a sombra sem feri-la. Vendo o resultado negativo de sua tentativa, o arqueiro voltou sua atenção para o animal, cravando um projétil congelante em seu crânio deformado.

Distraído por um breve momento, o mastim tornou-se presa fácil para Nailo que, mesmo deitado, golpeou o corpo sombrio do cão até fazê-lo tombar. Tal qual os outros como ele, convocados de outro plano, o mastim desapareceu no ar. Nailo jogou as pernas para o ar, pegando impulso e girando o corpo no chão de pedra. Parou sob a sombra alvejada pelos amigos e continuou seus ataques, desta feita, com poucos resultados.

Lucano gritou por Glórienn novamente, trazendo cólera em seus olhos e de seu símbolo sagrado surgiu uma explosão de luz e energia divina. Os espíritos atingidos pela energia pareceram se contorcer de dor e seus espasmos vieram acompanhados de gritos horrendos que ecoavam de dentro dos caixões fechados. Duas nuvens de vapor escaparam de duas tumbas paralelas, flutuando acima dos heróis como se os observassem. Imediatamente todos souberam o que aquilo representava. Eram vampiros.

_ São os vampiros fugitivos que faltavam! – gritou Nailo. Desta vez vou acabar com eles de uma vez! Sol, ilumine! Jün onefora! – gritou ele por fim, batendo suas espadas uma na outra e fazendo-as faiscarem. As lâminas gêmeas foram imediatamente tomadas de um brilho tão intenso quanto o sol, tirando das trevas aquela saleta que nunca antes tinha sido iluminada. Os vapores que eram os vampiros novamente soltaram guinchos de agonia, sua coloração foi mudando do branco para o negro e deste para o cinza, ou, para as cinzas que começaram a despencar como neve num dia de inverno.

Os vampiros fugiram flutuando pelo corredor, enquanto Nailo brandia suas espadas. As duas sombras restantes ainda tentaram um último ataque antes de fugirem também. Orion foi atingido, sentindo suas forças drenadas, mas a Nailo o outro inimigo não conseguiu chegar. Orion revidou o golpe recebido, mas sua espada cortava o ar sem ferir o inimigo não vivo. Foi Legolas que conseguiu ceifar a não vida da criatura com uma flechada certeira. O inimigo restante atravessou a parede direita, indo para o corredor onde Mex e Squall aguardavam.

_ Saiam da frente! – gritou Nailo, correndo porta a fora em perseguição aos vampiros. Alcançou-os no corredor central da torre, o mesmo onde ficava o fosso que usavam de entrada, revelando que os caminhos da construção eram todos interligados. Ergueu as rosas gêmeas, agora dois sóis gêmeos, e viu com regozijo as nuvens de vapor se transformarem em cinzas, para nunca mais se levantarem neste mundo.

No outro corredor, o último espírito sombrio terminava de transpassar a parede de rocha, esperando estar livre dos inimigos que a venciam. Ledo engano. Para sua infelicidade, ao invés de um corredor livre para sua fuga, deu de cara com um sorridente dragão azul.

Sem hesitar Mexkialroy cuspiu uma rajada elétrica, como se ele próprio fosse uma nuvem de tempestade, sobre o fantasma. Mal a sombra se recuperou após o choque, vários disparos mágicos a atingiram naquilo que seriam suas costas. Era Anix.

_ Ai, Mex! Deixei as coisas um pouquinho mais fáceis pra você! – brincou o mago.

_ Obrigado, elfo. Não que eu precisasse... – retrucou o azul. Abriu sua bocarra novamente, lançando uma nova rajada elétrica no inimigo. Desta vez, contudo, o raio atravessou o espírito como se ele não estivesse ali.

_ Parece que não é bem como você disse, dragão – zombou Anix.

_ Cala-te, elfo. Estou apenas a brincar com a comida – redargüiu a fera.

Orion saltou entre os dois, interrompendo as provocações. Sua espada desceu sobre a criatura de trevas, novamente sem feri-la.

_ Maldito fantasma! – praguejou o humano.

Retornando após liquidar os vampiros, foi a vez de Nailo tentar em vão destruir o último inimigo, mesmo com suas espadas banhadas de luz solar. Legolas já preparava seu arco para dar cabo do inimigo quando Anix tomou a frente.

_ Veja como se faz, Mex! – Anix acionou o poder de seu cajado. Seus olhos brilharam como brasas e ele abriu a boca cuspindo fogo sobre o fantasma e seus próprios amigos. Nailo saltou de lado evitando as chamas, Mexkialroy apenas se abaixou, deixando o fogo passar sobre seu corpo. Orion e o espírito foram atingidos em cheio. O guerreiro apesar de ferido, permaneceu em pé, já o fantasma não mais existia neste mundo.

_ Aprendeu, dragão? – provocou Anix.

_ Até que te saístes bem, elfo. Continua assim. Agora vamos, há mais lugares a explorar – respondeu o dragão com soberba, passando altivo ao lado de Anix.

Um comentário:

  1. EHUEUHUEHUEHUEHUHUE

    Adorei as partes que o Anix provocava o Mex...

    [...] Deixei as coisas um pouco mais fácil pra você, Mex !....

    Ri muito!!

    Mex 5x4 Anix

    E continua.... xD

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