março 07, 2008

Capítulo 309 – Enfim...trolls!

Foi somente após o desaparecimento da névoa que Nailo pode finalmente encontrar a trilha verdadeira deixada pelos trolls. Um sapato de criança e algumas pegadas de seu dono revelaram que outra tentativa de fuga tinha acontecido e que, conseqüentemente, as crianças estavam vivas quando por ali passaram. Deixaram para trás o túmulo florido de Livara Austini, no fundo da cratera que fora criada, muitos anos antes, no local onde ela sucumbira e espalhara sua essência de vida por todo o bosque para protegê-lo da guerra e da destruição.

Os rastros seguiam, como dissera Livara, apenas pela borda da antiga floresta, apenas avançando mais para o interior de seu território no momento da perseguição à criança que tentara fugir. Caminharam por mais vários minutos, deixando para trás a antiga mata protegida pela druidisa Livara, até que encontraram uma pequena colina.

Era um morro rochoso baixo e extenso cercado por todos os lados pela floresta de Sambúrdia. Ramos de trepadeiras cresciam ao redor da encosta que se elevava cerca de dez metros do solo numa inclinação suave. Na face que se voltava para o leste, havia a entrada de uma grande caverna arredondada. As pegadas dos trolls conduziam para lá.

_ É aqui, tenho certeza! – exclamou Nailo animado. – Dessa vez pegamos eles. Os trolls entraram nessa caverna com certeza. Vamos!

Entraram. A caverna era um túnel circular de grande largura e altura, suficiente para que dois trolls andassem lado a lado sem precisar se abaixar. As paredes eram de rocha no início, para depois dar lugar à terra batida. O piso era de terra fofa e inclinava-se suavemente para baixo. Um cheiro de carne apodrecida vinha do fundo do túnel, tornando-se mais forte à medida que avançavam. De repente, Anix pisou em algo escondido sob a terra macia, talvez um galho ou osso, quebrando-o e produzindo um estalido agudo. Todos pararam alarmados, ficando em completo silêncio. Então, da escuridão adiante vieram urros enfurecidos e ensurdecedores. Eram trolls.

Três enormes monstros, de grossas peles verde amarronzadas, gosmentos e musculosos, correram de dentro da escuridão, armados de machados gigantescos. Os heróis se prepararam para o combate, sacando suas armas e posicionando-se. Anix lançou uma bola de fogo antes que os inimigos pudessem alcançá-los mas, por algum motivo estranho e desconhecido, o fogo parecia afetá-los muito pouco, e como todos sabiam, as chamas eram uma das fraquezas dos trolls.

_ Senhor Anakin! Fuja daqui com sua filha e proteja-a! – gritou Nailo.

_ Não, meu amigo! Ficarei e lutarei, usando as espadas que você me deu para ajudá-lo! Rere! Chaga! – gritou Anakin, ativando as espadas mágicas em suas mãos.

_ Eu também não irei embora! Também posso lutar! – vociferou Luise, desembainhando sua arma e avançando.

_ Que seja, então! Lutaremos todos juntos! – disse Nailo. E então sentiu algo estranho. Palavras formavam-se em sua mente, como se sussurradas dentro dela por uma voz muito distante, a voz de Livara Austini. – Lïajismüdhaf!!! – gritou Nailo, no idioma dos elfos, a palavra “desabrochem”. As Rosas Gêmeas brilharam e faiscaram como um céu de tempestade. Nailo avançou.

Squall já acabara de disparar sua engenhoca goblin nos monstros, liberando um ciclone de ar congelado que pouco efeito produzira nas criaturas. Os monstros contra-atacaram com seus machados, ferindo com grande força Nailo e Squall que estavam mais à frente. Um dos inimigos estendeu a mão sobre o outro e murmurou algo em seu idioma grotesco. Era uma magia de proteção, que os impediria de serem feridos por fogo, como percebeu Anix.

_ Precisamos de ácido! – gritou Nailo ao tomar conhecimento da magia que protegia os trolls. – Eles também são vulneráveis a ácido!

Mas, os heróis não estavam preparados para aquilo, não traziam ácido consigo, de modo que se viram forçados usar a força bruta para vencer aquele desafio.

As Rosas Gêmeas rasgavam a carne fétida dos trolls com violência, causando mais ferimentos do que o poder de regeneração dos monstros podia curar. Entretanto, mesmo assim, as feridas começavam a se fechar imediatamente após serem abertas, em velocidade assombrosa. A espada flamejante de Orion também abria largos cortes, fazendo o sangue escuro jorrar farto no solo da caverna. Entretanto, a chama de sua arma nada fazia aos inimigos que contavam com farta proteção mágica. Mais atrás, Legolas fazia chover flechas no inimigo que passara pela linha de frente de seu grupo e que era cercado e retalhado pelas espadas de Anakin, Lucano e Luise. No meio dos combatentes, Anix atacava com magias poderosas, drenando a vitalidade dos inimigos e tornando-os mais vulneráveis aos ataques de seus amigos. À frente, Squall ajudava Nailo e Orion, disparando rajadas de energia mágica nas criaturas até que a primeira delas tombou para trás inerte.

Mas não houve tempo para comemoração, pois o monstro despertou de seu sono de morte logo em seguida, restaurado pelo poder sobrenatural de cicatrização de se corpo, e voltou a atacar. Os machados desceram como raios sobre Squall e Orion, e ambos ficaram em situação desesperadora, pois não suportariam outra vez ataques daquela magnitude. Mesmo assim, todos continuaram atacando, cortando, queimando, furando, até que os outros dois monstros caíram, um rasgado pela lâmina da espada forjada por Durgedin, outro pela lâmina de fogo de Orion. O guerreiro ainda girou o corpo antes de terminar o ataque, atingindo com força o inimigo que restava em pé. O monstro resistiu ao golpe com dificuldade, conseguindo-se manter em pé agarrado a um mero fiapo de vida. Mas o pouco que energia que lhe restava para manter-se consciente lhe foi arrancado por uma rajada de dardos mágicos disparada por Anix.

O último dos inimigos tombou no túnel. Os heróis comemoraram a vitória, mas não puderam seguira adiante. Mesmo cortados, os pedaços dos corpos dos monstros que jaziam no chão começaram a se mexer. Estavam se regenerando.

março 06, 2008

Capítulo 308 – As Rosas Gêmeas de Livara Austini

_ Vocês passaram! E têm permissão para atravessar o meu bosque - repetiu a voz.

_ Quem é você? – perguntaram os heróis.

_ Sou Livara Austini, a guardiã deste lugar. – respondeu a bola de luz.

_ Senhora, eu gostaria de fazer-lhe uma pergunta – disse Anix, a esfera de energia flutuou até ele. – De que teste está falando? E por que quando as árvores me atacaram eu vi a mulher que eu amo me atacando junto com elas?

_ Eu estava testando os seus corações, para ver se vocês eram dignos de entrarem nesta floresta sagrada. Fiz vocês confrontarem seus piores temores e observei suas reações. E a maioria de vocês passou no teste. Alguns, passaram mais por sorte do que por competência – e dizendo essas palavras, a esfera se voltou na direção de Squall e Lucano. – Outros foram aprovados com mérito, ainda que suas atitudes não tenham sido as que eu mais desejasse ver – e nisso a esfera se voltou para Anix e para Anakin. – E há ainda aqueles que passaram com louvor no teste, e provaram serem merecedores de meu respeito e minha confiança, pessoas que respeitam a criação de Allihanna, a natureza, que eu protegi e continuo protegendo com minha própria vida – e então a luz se aproximou de Nailo e de Legolas. – E há alguns dentre vocês que não passaram no teste, mas cujas vidas eu poupei por não ter encontrado maldade em seus corações, e por estarem em companhia de vocês – dessa vez a esfera se movia para perto de Luise e Orion, desmaiados no chão. Lucano e Anakin começaram imediatamente a cuidar dos dois feridos.

_ Não entendo como minha atitude me fez ser aprovado em eu teste. Poderia me explicar? – pediu Anix.

_ Você, assim como seus companheiros, teve que enfrentar seus piores medos. E, apesar disso, você respeitou a obra de Allihanna e não atacou as árvores, embora tivesse poder para tal tarefa. Escolheu perder a vida a ter que atacar alguém que ama. E, embora sua decisão não tivesse a ver com as árvores que o atacavam, a bondade em seu coração me comoveu e eu o aprovei no teste – continuou a voz dirigindo-se ao mago.

_ Quanto aos demais, – dessa vez, indo em direção a Lucano e Squall, a voz prosseguiu – Vocês apenas tentaram se defender, sem desejar ferir as criaturas da Deusa, por isso eu os aprovei. Já você, ainda que hesitante e quase tarde demais, demonstrou o respeito e o amor esperado pela natureza – agora a esfera flutuava próxima a Anakin. – Os dois que estão caídos mostraram desprezo pela magnífica obra de Allihanna, e pagaram por isso. Mas, como não são criaturas malignas e por estarem na companhia de vocês, eu os poupei até este momento. Se algum de vocês se responsabilizar por suas ações, eu os deixarei prosseguir com vocês.

_ Eu farei isso – disse Anakin. – Esta é minha filha e eu assumo a responsabilidade por ela. O outro é amigo de meu filho e está nos ajudando a procurar as crianças de nossa vila. Eu tomo para mim a responsabilidade pelos atos dele também.

_ Então está decidido. Eles poderão continuar e você será o responsável por eles. Mas, que fique bem claro, eles jamais poderão retornar a este lugar sem a sua companhia, ou a natureza não terá clemência da próxima vez – a voz era agora firme como um oficial se dirigindo às suas tropas antes do início de uma batalha que decidiria a guerra. Anakin fez uma reverência e voltou a tratar dos ferimentos de sua filha e de Orion.

_ Quanto a vocês dois – continuou a voz, dessa vez com a esfera se aproximando de Legolas e Nailo. – Você estava pronto a atacar e vingar a morte dos seus entes queridos, mas no último momento voltou atrás e ao invés de se voltar contra a natureza, pediu a ajuda dela e entregou seu destino nas mãos da Deusa – a esfera voltara-se para Legolas. – Sua devoção e respeito por Allihanna e sua criação lhe garantiram sua vida. E não tema, pois aqueles que ama estão em segurança – então a esfera voltou-se na direção de Nailo. – Já você, teve a atitude mais bela e altruísta de todas. Não só decidiu não atacar os filhos de Allihanna, como ofereceu sua vida em troca da salvação de um deles a quem você estima. Por esse ato de amor pela Natureza, você obteve meu respeito e admiração.

_ Obrigado, senhora – disse Nailo, emocionado.

_ Dentre vocês, que conquistaram meu respeito e confiança, há alguém que seja um defensor das criaturas de Allihanna? Alguém que dedique sua vida a protegê-las ou que esteja disposto a abrir mão de tudo para fazê-lo? – perguntou a voz. Nailo e Anakin se apresentaram, por serem rangers, caçadores de monstros que já dedicavam suas vidas a proteger os filhos da Deusa da Natureza. Legolas e Anix se calaram, tinham outras coisas que amavam mais do que árvores e animais para cuidar proteger. Lucano também permaneceu mudo, já que apenas por sorte escapara do mesmo destino de Orion, e Squall se calou, tentando esconder a sombra negra em seu coração, mas desejando avidamente para si, com olhos gananciosos, aquilo que ele supunha que viria a seguir: recompensa. A voz tornou a falar, dirigindo-se aos dois que se apresentaram. – Vocês, quais são seus nomes?

_ Eu sou Nailo Beliondil! – respondeu Nailo.

_ E eu me chamo Anakin, senhora!

_ Anakin e Nailo, algum de vocês aceitaria continuar minha missão? Tornar-se um Guardião e dedicar sua vida a proteger a natureza? – perguntou a voz.

_ Senhora, eu já me dedico a cuidar das criações de nossa Deusa e me sinto honrado com tal oferta – disse Anakin. – Entretanto, tenho família para cuidar e preciso reeducar essa minha filha para que, se surgir outra ocasião, ela possa passar no teste da próxima vez. Além disso, não me sinto digno o suficiente, já que hesitei e quase falhei no teste. Acredito que o jovem Nailo seja mais digno do que eu. Ele demonstra um amor incondicional pelas obras da Deusa e é muito mais forte e mais competente do que eu mesmo. E ele também possui a juventude que já me abandona, que lhe permitirá assumir essa missão por mais tempo e em melhores condições do que eu poderia.

_ Suas palavras são sábias, Anakin. E eu as respeito! – disse Livara. – E quanto a você Nailo, aceita minha proposta?

_ Bem, senhora. Se a missão da qual fala for continuar defendendo os animais e as árvores como já faço desde menino, e não matar pessoas sem necessidade, então será uma grande honra receber essa missão que me passa! – disse Nailo.

_ Então que seja feito! Eu, Livara Austini, nomeio você, Nailo Beliondil, meu sucessor e herdeiro. Assim como eu fui uma Guardiã em minha vida, você será um Guardião, e protegerá a criação de Allihanna e lutará para que ela seja respeitada pelos povos que caminham por Arton, até que todos aprendam a conviver em paz com os filhos da Deusa! – o brilho na esfera aumentou a intensidade de forma impressionante, sem que sua luz alva ferisse os olhos dos heróis. A voz soava alta e vibrante e preenchia os corações de todos com coragem e esperança. A esfera desceu lentamente no centro do círculo formado pelos heróis até tocar o solo. Então, seu brilho se expandiu até tomar conta de tudo e desapareceu. No lugar onde a esfera sumira, havia dois botões de rosa, prateados e brilhantes, como se fossem feitos da própria prata, que brotavam do chão.

_ Agora, Nailo, tome minhas rosas, minhas Rosas Gêmeas, e use-as em defesa da Natureza! – a voz de Livara ecoava pela floresta.

Nailo hesitou por um instante, depois se abaixou, fez uma reverência e segurou as duas rosas que brotavam. Puxou-as do chão, temeroso, e viu que as duas rosas na verdade eram os punhos de duas belas espadas. Eram espadas gêmeas, perfeitamente idênticas. Seus cabos tinham o formato de ramos de roseira que se entrelaçavam com precisão. Suas guardas eram rosas vermelhas abertas, feitas de uma preciosa pedra esculpida, e os pomos tinham o formato de botões de rosa fechados, prateados tal qual suas lâminas. E as lâminas eram prateadas e reluzentes, perfeitamente polidas e limpas, como se tivessem acabado de ser feitas. Eram compridas, tão longas quanto a da espada anã de Nailo, mas tinham uma curvatura suave que terminava em uma longa e afiada ponta. Um palmo antes da extremidade, o fio sobressaia em relação ao restante da parte cortante da espada, formando uma saliência pontuda e afiada que lembrava um espinho. E ambas eram surpreendentemente leves para armas daquele tamanho, tão leves que Nailo podia segurá-las e manejá-las com e mesma facilidade com que lutava com sua espada mais curta, o que comprovava aquilo que todos já suspeitavam: ambas eram feitas de mithral, um dos mais nobres, belos e resistentes metais já criados pelos ferreiros de Arton.

Nailo fez uma reverência e agradeceu o belo presente. Depois, guardou as Rosas Gêmeas em suas bainhas conforme foi possível, e recolheu as suas duas espadas do chão.

_ Tome, senhor Anakin. Desejo que o senhor fique com estas espadas de agora em diante e que faça bom uso delas. Com elas eu ajudei meus amigos diversas vezes, defendi as vidas deles e a minha própria e lutei em defesa da justiça e das belas criações de Allihanna. Que estas espadas lhe sirvam bem e lhe garantam longos dias de felicidade. – disse Nailo, entregando suas antigas espadas ao pai de Lucano. Anakin o agradeceu e prometeu usá-las em prol dos mesmos ideais que elas tinham defendido nas mãos de Nailo.

_ Se me permite, senhora, tenho mais uma pergunta a fazer. – disse Nailo.

_ Sim, eu sei – respondeu a voz da floresta. – Os Trolls não vieram a este lugar. Eu jamais deixaria que eles pisassem neste solo. Mas passaram pelo bosque, ainda que apenas pela sua borda. Retornem pelo caminho que vieram e irão reencontrar os rastros deles. Agora partam e vivam em harmonia com a Natureza!

A voz desapareceu, o sol voltou a invadir a parte mais baixa da floresta em raios difusos, o som do canto de pássaros e os ruídos de outros animais voltaram a ser ouvidos. A exaustão que sentiam tinha passado por completo, no lugar dela, restava uma sensação boa de felicidade e esperança. Sob seus pés, diversas rosas de variadas cores brotaram e floresceram, formando um pequeno jardim retangular do tamanho de uma mesa. Squall se abaixou para pegar uma das rosas.

_ Não faça isso meu jovem – disse Anakin. – Deixemos o túmulo da senhora Livara intocado. A melhor lembrança que podemos levar conosco são nossas memórias. Hoje somos abençoados meus amigos!

_ Tem razão, senhor. Não tinha a intenção de fazer mal a este lugar. É melhor deixá-lo belo como está. Vamos embora então – respondeu Squall. Depois, voltou-se para Nailo. – Vamos, Nailo? Tudo bem com você?

_ Não poderia estar melhor. Há algo novo em mim, sinto-me, como disse o senhor Anakin, abençoado. Agora sou Nailo, o Guardião, o sucessor de Livara Austini, eu não poderia estar melhor. Vamos! – respondeu o Guardião. E subindo a pequena encosta, acompanhado de seus amigos, ele se reencontrou com seu companheiro, Relâmpago, e todos juntos novamente puderam retomar a busca.

março 05, 2008

Capítulo 307 – Dentro da névoa


Squall não enxergava nada, nem mesmo os companheiros ao seu lado, no meio daquela densa névoa. Apenas sentia o braço de Luise laçado ao redor do seu. Nem mesmo as vozes da elfa e de seu irmão ele ouvia, mesmo tendo dirigido-lhes a palavra algumas vezes. E como não obtivera resposta, decidiu aproveitar-se da situação, da neblina cegante, para abusar da irmã de seu amigo. Assim, Squall se aproximou furtivamente de Luise e, sabendo estar oculto pela neblina, beijou-lhe a boca.

Mas havia algo errado ali. Ao invés dos lábios macios e quentes que ele esperava encontrar, Squall sentia algo áspero, frio e de um gosto amargo em contato com sua boca. Sentia um cheiro asqueroso ao invés de perfume e Luise não reagira, fosse para agredi-lo, fosse para se deixar envolver pelo beijo.

Squall tentou esfregar os olhos com uma das mãos, como se aquilo fosse suficiente para afastar a neblina que o impedia de ver além do se próprio nariz. Ainda assim, a névoa diminuiu sua intensidade, talvez por coincidência, talvez por ter vida própria, e Squall pode enfim enxergar uma distância um pouco maior. E, para sua surpresa, ao invés de Luise, diante dele estava uma árvore muito grande, de casca grossa e coberta de musgo. E no lugar de um braço feminino, era em um galho retorcido da mesma árvore que Squall estava agarrado.

Assustado, ele recuou, chamando pelos dois que até momentos antes estavam com ele. Percebeu que a corda que usara para facilitar sua descida tinha desaparecido. Estava agora em um local de solo plano, talvez o fundo da cratera, e o chão era pegajoso e estranhamente macio, como se ele pisasse na língua de um enorme monstro, como se estivesse dentro da própria boca deste monstro imaginário.

Squall deu alguns passos à frente, adentrando ainda mais no misterioso vale e em sua névoa sinistra, em busca de seus amigos. Após uma curta caminhada, notou que a bruma se dissipava, abrindo caminho a sua frente como se tivesse vida própria. Filetes de névoa se espiralavam ao redor dos troncos das árvores e desapareciam atrás deles, como se brincassem com o visitante. Em poucos segundos, abriu-se um espaço circular no meio do vale, uma clareira com algumas poucas árvores e sem névoa. Ao redor dessa clareira, ao longo de sua borda, uma fila de árvores formava uma cerva viva e além dela, um oceano de brumas a cercava ameaçadoramente.

Squall entrou na clareira, cauteloso, e caminhou em direção ao centro. Num tropeço quase foi ao chão, equilibrando-se com dificuldade. Quando olhou para o chão, viu que uma raiz tomava vida e enrolava-se com força em suas pernas.

Tentou reagir mas antes que pudesse fazê-lo, ouviu um gemido aterrorizante que parecia ecoar de todos os lugares à sua volta. Olhou ao redor e viu que as árvores caminhavam em sua direção, tomando formas humanóides, fazendo galhos e ramos de braços e mãos, e usando as raízes como pernas e pés. Em seus troncos formavam-se expressões malignas e assustadoras e elas se moviam na direção do feiticeiro, agitando seus braços em ameaça. E, como se não bastasse, seus corpos eram translúcidos, sendo possível enxergar além deles a borda da clareira. Pareciam fantasmas, espíritos em forma de árvores antigas que se moviam para atacar Squall.

_ Fantasmas de árvores! – pensou Squall. Fantasmas e mortos-vivos eram as coisas que o feiticeiro mais odiava e temia na vida, e ele estava cercado por um batalhão deles, preso, sozinho e indefeso. Tentando não sucumbir ao medo e perder os sentidos, Squall gritou desesperado, evocando seus poderes arcanos e criando um círculo de chamas ao redor de seu corpo para proteger-se do perigo. As árvores avançaram e se atiraram sobre Squall, com suas mãos gigantescas e cheias de garras para matá-lo. Squall se encolheu dentro de sua proteção e fechou os olhos desejando que aquilo não estivesse acontecendo.

· · · · · ·

Anix terminou sua descida ao fundo do vale muito antes do que esperava. A ponta da vassoura raspou o chão coberto de musgo, obrigando-o a manobrar repentinamente para não cair. Parou e desceu procurando por Nailo com os olhos. Nada. Chamou por ele e novamente não escutou resposta.

Tudo era névoa. Era impossível ver o que estava a um metro de distância e o ar naquele lugar era ainda mais pesado e estranho. Anix usou sua mágica e sentiu uma aura muito poderosa emanando ali, uma aura que ele não conseguia identificar e que cobria toda a extensão do vale.

Uma risada aguda e sombria quebrou sua concentração e a magia. Parecia uma mulher maligna rindo de forma enlouquecida no meio da cerração que tudo ocultava. Seria outra bruxa?

Anix começou a avançar, na direção da risada, desejando encontrar Nailo antes que a dona daquela gargalhada o fizesse. Ia tateando o chão e as árvores com a ponta da vassoura mágica e chamando pelo nome do amigo quase num sussurro. Subitamente a névoa se desfez diante dele, afastando-se como se fosse viva, recuando para trás das árvores até que um espaço circular sem bruma e quase sem árvores restasse diante do mago. A névoa cercava o local e entre ela e a clareira que se formara havia uma cerca de árvores dispostas num grande círculo ao redor da borda da clareira.

A risada retornou, desta vez mais forte e mais perto, vinha de além da clareira. Anix avançou até o centro do círculo, tropeçou e caiu. Viu que raízes surgiam do chão para enroscar-se em seu corpo e amarrá-lo e esmagá-lo. Então, a floresta tremeu. Como o ribombar de gigantescos tambores tudo se agitou. O barulho ensurdecedor fazia tudo tremer e o coração disparar. Ao redor dele, gigantescas árvores caminhavam com passadas poderosas que causavam tremores por todo o lugar. A risada diabólica veio novamente, desta vez muito perto, quase ao lado de Anix. As árvores o cercaram e se inclinaram sobre ele, seus dedos em forma de estacas afiadas prontos para perfurá-lo. Sobre o que seria o ombro de uma das árvores, Anix viu a dona da voz que zombava às gargalhadas. Era uma mulher vestida de verde, descalça e de uma cabeleira dourada como o sol da manhã. Um vento sinistro soprou, esvoaçando seus cabelos e revelando seu rosto. Seus olhos eram malignos como os de um demônio, cercados por manchas negras circulares que lembravam algum tipo de maquiagem sinistra. Seu sorriso era cheio de malícia e de maldade e seus belos dentes brancos pareciam ansiar por banhar-se em sangue fresco. Apesar dessas diferenças assustadoras e inesperadas, Anix conseguiu reconhecer aquele rosto corrompido e mau. Era Enola.

_ Matem-no! – gritou a Ninfa para as árvores, como se as comandasse. Todas atacaram ao mesmo tempo. Anix percebeu que era incapaz de atacar alguém que amava, apenas pensar em fazê-lo era algo que o transtornava. Fechou os olhos e esperou pela morte certa. Uma lágrima solitária escorreu em sua face antes do fim.

· · · · · ·

Orion se levantou após atingir o fundo do vale. Não tinha deslizado mais que três metros no barranco inclinado e apesar disso, não havia sinal de seus amigos naquele lugar estranho. Tentou retornar para onde estava Squall, mas, ao invés de um declive, encontrou uma parede de pedra, alta, plana e lisa, impossível de ser escalada. Decidiu então seguir em frente, para dentro da névoa.

Assim ele fez, até que a névoa começou a se mover, afastando-se dele como se tivesse vida própria e escondendo-se atrás de um círculo de árvores que cercavam uma pequena clareira. Orion continuou andando e sentiu algo o prendendo. Olhou e viu que as raízes se erguiam do solo para laçar suas pernas.

Sacou sua espada para cortar as amarras, mas ela quase lhe foi tirada das mãos quando tudo tremeu semelhante a um grande terremoto. Orion viu árvores gigantescas e antigas erguendo-se do solo, transformando seus galhos em braços e mãos com garras afiadas e caminhando na direção dele. Sem hesitar, libertou suas pernas e se preparou para o combate, estava sozinho, mas sua espada flamejante lhe garantiria vantagem na luta contra as árvores. Foi então que veio a risada.

Uma voz gutural ecoava num gargalhada desafiadora e maligna. Orion olhou para cima de uma das árvores que caminhavam, e viu o que mais odiava. Era um orc, mas não um orc comum como tantos que já enfrentara em sua vida. Aquele era o maldito orc que tinha tirado a vida de seus pais, transformando Orion em um órfão e condenando-o a uma vida de tormento. Para piorar, a árvores trazia em suas mãos um cavalo. Era Raylux, o companheiro de Orion, que relinchava de dor e medo.

A árvore esmagou o corpo do animal, reduzindo-o a uma massa disforme e grotesca, o sangue jorrou farto e o orc riu novamente, estava se divertindo com aquilo. As raízes paralisaram novamente as pernas de Orion, colocando-o em desvantagem, as árvores o cercaram e se prepararam para atacá-lo. Era o fim. Orion seria exterminado naquele lugar, de forma humilhante, pelo inimigo a cuja destruição ele dedicara toda sua vida. Em desespero, Orion mirou sua espada de fogo no galho que suportava seu inimigo e a arremessou. Acertou o alvo e a árvore explodiu em chamas. O orc desapareceu, logo após seus olhos brilharem de forma fantasmagórica e Orion foi atacado. As raízes o amarraram por completo e o esmagaram. As árvores o golpeavam com chicotes de cipós, estocadas perfurantes de seus dedos afiados e marteladas de suas gigantescas mãos. Antes que pudesse pensar em algo ou mesmo emitir um grito, Orion tombou. Seu sangue tingiu de vermelho o chão da floresta que relutava em permitir que o líquido penetrasse em suas entranhas.

· · · · · ·

Legolas levantou-se, frustrado por seu passeio sobre o escudo de Orion na encosta que descia até o fundo do vale ter terminado mais cedo do que imaginava. Também estava preocupado pois descera rápido deslizando pelo barranco e não encontrara qualquer sinal de Anix ou de Nailo. Estava agora no fundo do vale, cercado pela neblina que o impedia de enxergar ao redor, mesmo com a ajuda da luz de seu arco mágico.

Pensou em frente quando ouviu um relincho distante. Imediatamente ele reconheceu a qual cavalo pertencia aquela voz. Era Rassufel. Legolas andou o mais rápido que a visibilidade e o caminho cheio de árvores traiçoeiras lhe permitia. Tropeçou em algo no chão e parou para olhar, no momento em que outro relincho chegava a seus ouvidos.

Seus pés e pernas estavam enredados por raízes e cipós, que o prendiam com força esmagadora. A névoa se afastara para trás de uma fileira de árvores que formavam um círculo em cujo centro ele se encontrava agora. O chão tremeu e o som de pisadas gigantes chegou aos seus ouvidos como tambores retumbando brados de guerra. Árvores gigantescas caminhavam como homens, entrando no círculo onde ele estava, com mãos de galhos e ramos prontas para perfurá-lo, espancá-lo e estrangulá-lo. Pés de raízes e troncos avançavam velozmente para pisar-lhe como a uma mosca. E o relinchar de Rassufel ficava cada vez mais próximo, vindo junto com as árvores assassinas.

Então Legolas viu seu amigo, preso nas garras afiadas e cheias de farpas de uma grande árvore. O cavalo relinchava, agonizando sob um aperto esmagador. Ao lado dele, quase totalmente enrolada em cipós espinhosos, estava uma elfa de corpo escultural e cabelos ruivos. Era Liodriel, amarrada e amordaçada pelos ramos das árvores, esmagada e rasgada pelos espinhos. As árvores se aproximaram até cercarem Legolas por todos os lados. Seus olhos viram Liodriel e Rassufel serem triturados pela cruel árvore e viu o sangue daqueles que mais amava se transformar em uma cascata rubra de dor e morte.

O ódio subiu à cabeça do arqueiro, ao mesmo tempo em que as lágrimas desciam pelo seu rosto. Legolas retesou o arco e puxou três flechas da aljava, já as levando à corda, pronto para matar. Não importava mais quem tinha feito aquilo, se deus ou demônio, iria pagar pela morte dos dois. Lembrou-se com tristeza da última conversa que tivera com ela, poucos minutos antes através do presente mágico de Sam Rael e no momento em que ia atacar, sua mente despertou para a verdade. Liodriel havia acabado de dizer que estava na casa de Lucano, junto com Enola e Darin, tomando banho e aguardando pelo retorno do marido. Ela não poderia estar ali e nem Rassufel.

Legolas guardou as flechas e baixou o arco. Ergueu os olhos, encarando as árvores que o atacavam e na língua dos elfos ele disse os seguintes versos:

Senhora das Florestas e dos Animais,

Acolha em teu poder este teu servo.

Dai-me forças para

continuar a viver

respeitando tua bela obra.

Assim seja!

As árvores recuaram e ficaram imóveis, a névoa desapareceu como se soprada por um tufão e um brilho ofuscante surgiu diante do arqueiro. Ele tinha passado no teste.

· · · · · ·

De forma semelhante, Lucano, seu pai e sua irmão tiveram visões atormentadoras e foram atacados, cada um isolado de todos os outros, pelas árvores do bosque. O que viram não será relatado aqui, basta apenas que se mencione que Anakin conseguiu algo próximo do feito de Legolas e que Lucano escapou por sorte da fúria da floresta. Quanto a Luise, ela teve o mesmo destino trágico de Orion.

De todas as histórias vividas por eles dentro daquele bosque, o feito de Legolas pode ser considerado um dos mais belos e uma atitude que lhe garantiu o sucesso para si e para os amigos. Rivaliza com esse feito apenas o ato de Nailo que, embora não tenha tido palavras tão belas, ficou marcado por um gesto cuja grandiosidade suplanta qualquer verso já escrito pelos bardos.

Da mesma maneira que seus amigos, Nailo se viu sozinho no meio da névoa no fundo do vale, sem condições de enxergar ao seu redor e muito menos de retornar para cima. Caminhou para frente, seguindo seus sentidos apurados, em busca de uma explicação para aquele estranho fenômeno e chegou à clareira onde, assim como com os outros, a neblina se abriu diante dele. Suas pernas também foram laçadas pelas raízes da floresta e as árvores caminharam em sua direção demonstrando clara intenção de matá-lo. Nailo sacou as espadas para se defender e notou que uma dessas árvores carregava o lobo Relâmpago que sofria e agonizava ante o aperto esmagador da mão da árvore. Mas, antes que o corpo de seu amigo, fosse ou não uma ilusão, pudesse ser rasgado e esmagado até a morte, Nailo atirou suas espadas ao chão, pôs-se de joelhos no solo coberto de folhas caídas e musgo e, quase às lágrimas, falou às árvores:

_ Por favor! Façam o que quiserem comigo, tirem-me a vida, rasguem meu corpo, matem-me da maneira que preferirem! Mas poupem a vida de meu amigo Relâmpago! Eu ofereço minha vida em troca da dele!

Então, tal qual aconteceram com Legolas, Nailo viu as árvores recuarem e ficarem estáticas, a névoa foi dissipada e um brilho surgiu diante de seus olhos e os cegou. Quando sua visão retornou, Nailo estava na floresta, no fundo de uma pequena depressão onde árvores brotavam. Todos os seus amigos estavam juntos, ao lado dele, todos vivos e bem, exceto Orion e Luise, que jaziam no chão sangrando abundantemente.

Os heróis formavam um círculo e no centro dele uma esfera de luz mágica flutuava. Era uma bola de luz e energia muito intensa que tranqüilizava ao invés de ofuscar e dela, bem como de toda a floresta, ecoou uma voz de mulher.

_ Sejam bem vindos ao meu bosque. Eu sou Livara Austini! Vocês passaram em meu teste!

março 04, 2008

Capítulo 306 – O bosque

Caminharam mais um longo tempo, sempre em direção ao oeste, sob as copas fechadas das árvores. A luz do sol ma conseguia penetrar por entre a folhagem densa e atingir o chão. O ambiente era desagradável, especialmente para Legolas e Nailo, acostumados ao clima frio de Tollon, a floresta era de um calor sufocante, um lugar apertado e abafado, capaz de incomodar mesmo aquele grupo de elfos. Depois de muito caminharem com mato na altura da cintura, a vegetação começou a rarear gradativamente, as árvores começaram a ficar mais distantes, o mato tornou-se uma grama alta e a luz solar já alcançava os exploradores.

Alguns metros adiante havia uma clareira sem árvores onde a luz do sol era abundante. Na borda oposta uma formação rochosa elevava-se vários acima do solo gramado e atingia facilmente os dez metros de altura, formando uma colina rochosa que avançava mata adentro a norte e a sul por uma extensão desconhecida. Havia uma fenda larga e alta na pequena montanha de pedra que penetrava em seu interior formando uma caverna profunda e escura.

Nailo parou na entrada da clareira, examinando o chão e murmurando consigo mesmo. Pediu a todos que ficassem parados e deixou a floresta. Andou de um lado para outro sobre a grama alta que cobria a clareira, seus olhos atentos fixos no chão. Depois retornou para a borda da mata onde seus amigos aguardavam.

_ Os rastros dos trolls ficam confusos neste ponto – disse Nailo. – Há várias pegadas indo e vindo por aqui várias vezes. E os rastros se dividem em dois. Um deles conduz para dentro da caverna de volta para fora dela. O outro segue para a esquerda, para o sul.

_ Com sua experiência, qual caminho acha que devemos tomar, Nailo? – perguntou Seelan.

_ Minha intuição me diz para irmos pelo sul. As pegadas também são mais recentes nessa trilha. Acho que é pra lá que devemos ir.

_ Fiquem aqui! Esperem por mim um pouco! – disse Legolas, interrompendo os outros dois.

O arqueiro montou em sua vassoura mágica e, sem dar qualquer explicação, voou em direção ao centro da clareira. Depois, virou-se para a direita e entrou na floresta. Avançou para o norte cerca de vinte metros mata adentro, parou e olhou para trás. Ficou ali parado, flutuando poucos metros acima do solo, olhando para o sul como se tentasse descobrir algo. Como não teve sucesso, retornou.

Legolas, passou em frente à caverna lentamente, olhando para seu interior com atenção. Depois, acelerou e voou velozmente para o sul. Lá, parou novamente a vassoura, virou-se para trás e se pôs a olhar atentamente na direção da clareira.

_ Esqueça aquele louco – disse Seelan. – Então, você acha que o caminho da esquerda é o correto, certo Nailo?

_ Sim, isso mesmo – respondeu o ranger.

_ Então está decidido. Vocês seguirão por esse caminho. Eu ficarei aqui e irei explorar essa caverna, assim estaremos nos dois lugares ao mesmo tempo e não deixaremos que os trolls escapem. – disse Seelan, sua voz era serena e confiante.

_ Mas pode ser perigoso, capitão. Eu ficarei também – disse Squall.

_ Não! Prefiro que vocês fiquem juntos. Eu sei como lidar com trolls e se encontrar algum pelo caminho estarei bem preparado. Se tiver alguma coisa lá dentro realmente perigosa, eu posso simplesmente me teletransportar para fora de lá num piscar de olhos. Não se preocupem. Sigam em frente com Nailo, pois provavelmente estarão no caminho correto e encontrarão o inimigo, logo, precisarão de todo o poder de combate de que dispõem.

_ Está decidido, então – disse Nailo. – Não se esqueçam que o Seelan é nosso capitão e que ele é mais poderoso do que todos nós. Não precisam se preocupar. Até logo Seelan!

_ Adeus, amigos. Cuidem-se! Ah, moça, não gostaria de ficar comigo aqui? – disse Seelan.

_ Não, não vou ficar com um afeminado como você! – respondeu Luise, afastando-se do mago.

_ Tudo bem, então – respondeu Seelan. - Bom, detesto ter que me separar de você, mas daqui a pouco nós vamos nos ver novamente, Orion. Então, até logo mais.

Orion não respondeu, apenas se virou para o sul e seguiu atrás de Nailo junto com os outros.

Encontraram Legolas pensativo, ao lado de uma árvore jovem caída no chão. Seu tronco havia sido quebrado ao meio por alguma pancada extremamente forte. Nailo analisou as marcas e concluiu que fora um soco dado por um troll que havia destruído o tronco. Havia outras marcas, galhos quebrados, mato amassado e pegadas que indicavam que todos estavam na trilha certa.

Seguiram em frente, após explicar a Legolas a decisão de Seelan. À medida que avançavam, notaram que as árvores que encontravam eram cada vez maiores. Seriam precisos várias pessoas para abraçar seus grossos troncos, suas raízes emaranhavam-se por todo o solo, formando obstáculos naturais e dificultando cada vez mais o caminho. No alto, as copas das árvores formavam uma densa cobertura que impedia a entrada do sol, deixando todos na penumbra. Cipós pendiam dos galhos distantes e chegavam até o solo, formando tranças que podiam ser confundidas com troncos de árvores. Musgo brotava farto nos troncos e raízes, assim como enormes cogumelos coloridos. O ar ficava cada vez mais denso e difícil de respirar, filetes de névoa serpenteavam ao redor das árvores e o calor aumentava de forma insuportável. E, como se não bastasse tudo isso, havia um silêncio mórbido naquele lugar. Não se ouvia o ruído de qualquer criatura viva, fosse ela um pássaro, um inseto ou um réptil.

_ Essa floresta é velha, muito velha! – disse Legolas.

_ Sim, é possível ver e sentir isso – concordou Nailo.

_ Há algum tipo de força mágica nesse lugar, alguma coisa viva e estanha. E poderosa. – continuou o arqueiro.

_ Sim. Muito poderosa. Sinto como se minhas forças estivessem sendo drenadas aqui. Não consigo respirar direito e me sinto extremamente cansado e fraco, como se tivesse corrido um dia inteiro e passado a noite em claro. – disse Anix, Lucano e Luise repetiram suas palavras.

_ Acho que sei onde estamos – disse o senhor Anakin. – Esse deve ser o Bosque de Livara.

_ Bosque de Livara? O que é isso? – perguntou Nailo.

_ Bem, é um lugar lendário, cantado pelos bardos. Já ouvi algumas canções a respeito disso. Dizem que Livara Austini foi uma druida sábia e poderosa, que amava a natureza acima de tudo. De acordo com a lenda, ela teria tentado defender um antigo bosque da destruição durante as guerras na época em que Sambúrdia e Trebuck se separaram. Dizem que ela morreu defendendo esse bosque, e que no lugar onde seu corpo caiu, brotaram duas rosas idênticas. São chamadas de Rosa Gêmeas de Livara. Eu não sei muita coisa mais a esse respeito, mas sempre duvidei que essa história fosse apenas repertório de bardos. Acho que esse bosque é o que as lendas contam.

Todos ficaram maravilhados com a história, apesar de não conhecerem-na em todos os detalhes, e ao mesmo tempo apreensivos. Sentiam uma presença poderosa naquele lugar, algo sobrenatural e assustador.

Continuaram andando, seguindo os rastros indicados por Nailo, e a cada passo a jornada se tornava mais complicada. O ar se tornava mais e mais pesado, o simples ato de respirar tornava-se uma tarefa dolorosa e difícil. Galhos, cipós e raízes se entrelaçavam à frente e ao redor deles, como se tentassem impedi-los de seguir adiante. A névoa se adensava a cada metro e o brilho do sol tornava-se uma lembrança cada vez mais distante e apagada. E o calor imperava, cada vez mais intenso, drenando as energias e o ânimo do grupo. O silêncio só foi quebrado quando o berloque de Legolas brilhou fraco e tocou como um sino. O arqueiro pegou o objeto mágico e conversou com sua amada, que se encontrava na casa de Lucano, banhando-se enquanto conseguia notícias de seu amado e de sua busca. Enquanto conversava, Legolas caminhava com seus companheiros e no momento em que se despedia de Liodriel, o berloque pareceu parar de funcionar, como se o poder daquele lugar ancestral interferisse no funcionamento do objeto. Legolas o guardou e a jornada continuou.

Já tinham avançado bastante dentro daquela mata antiga, quando avistaram um vale à frente. Era uma depressão circular muito ampla, como uma enorme cratera no meio da mata, cercada pelas gigantescas e antigas árvores de tal forma que parecia não haver meios de circundar aquele fosso. Nas árvores ao redor havia uma névoa densa que impedia que se enxergasse além da borda do buraco. E dentro dele, a neblina era tão espessa que era quase impossível enxergar a ponta do próprio braço se esticado. A bruma preenchia a cratera quase até a borda, assemelhando-se a um lago no inverno coberto pela cerração antes do nascer do sol. As pegadas dos orcs conduziam para dentro do buraco e desapareciam na névoa.

_ É, parece que teremos que descer ali! – disse Nailo com a voz cheia de dúvida.

_ Isso está muito estranho. Essa névoa não é normal. Tem algo errado ai. – disse Anix.

_ Vou verificar – disse Nailo. Sacou então a espada mais comprida e desceu alguns passos na encosta íngreme que conduzia para dentro da cratera nebulosa. Então, subitamente, ele escorregou no chão liso e coberto de limo e caiu no chão, deslizando para dentro da névoa e desaparecendo através dela. Todos se assustaram e gritaram por Nailo, mas de dentro da bruma não veio resposta alguma.

Desesperado, Anix pegou a vassoura voadora de Legolas e entrou na neblina atrás do companheiro. Legolas foi logo atrás, descendo o barranco escorregadio sentado sobre o escudo de Orion, usando-o como trenó. Os que ficaram lá em cima, gritaram pelos companheiros, mas não escutavam resposta. Uma sensação de medo e insegurança se instalou em todos.

_ Uma corda! Arrumem-me uma corda! – gritou o senhor Anakin. Orion tirou a corda que tinha em sua mochila e a amarrou numa árvore. O pai de Lucano amarrou a outra ponta ao redor de sua cintura e começou a descer cuidadosamente para dentro do vale. Orion ia soltando a corda aos poucos, sempre pronto a puxar o elfo de volta caso algo desse errado. Anakin penetrou na névoa e desapareceu.

Orion sentiu a corda ficar leve de repente e puxou-a de volta com força. O laço e o nó continuavam lá, tal qual Anakin havia feito, mas ele havia desaparecido. Sem hesitar, o guerreiro saltou no barrando e desceu escorregando para dentro da névoa.

Depois, como nem Orion nem qualquer um dos outros retornavam, foi a vez de Squall, Lucano e Luise enfrentarem a bruma misteriosa. Os três trançaram os braços uns nos outros, deixando Luise no meio, de forma que se alguma coisa lhes acontecesse, todos estariam juntos e teriam mais chances de sobreviver. Seguraram-se à corda de Orion, que ainda permanecia amarrada na árvore, e começaram a descer. Seus pés escorregavam, suas mãos suavam e queimavam em atrito com a corda e seus corpos tremiam de pavor. Mesmo assim os três desceram para as profundezas desconhecidas daquela estranha neblina e desapareceram. Lá no alto, na borda da cratera, apenas Relâmpago permaneceu, olhando atento para o fundo do buraco, aguardando o retorno de seu companheiro.

março 03, 2008

Capítulo 305 – Armadilha de Troll

Por mais algumas centenas de metros eles avançaram floresta adentro, seguindo os invisíveis rastros que somente Nailo era capaz de detectar e compreender. Num local onde a vegetação se abria num pequeno vazio oval, ouviram um chamado, uma voz firme que vinha do alto.

_ Ei vocês! Ajudem-me aqui! Depressa! – era uma voz feminina, mas de tom rude que mais exigia do que pedia por auxílio. Todos se voltaram para cima, e puderam ver uma elfa jovem pendurada de cabeça para baixo com uma das pernas presa a uma corda que subia ruma às copas das árvores. – Parem de ficar ai só olhando. Tirem-me logo daqui! – gritou novamente. Seu corpo balançou para um lado, exibindo suas formas. Era um corpo belo, bem esculpido e bem cuidado, metido em uma armadura de escamas metálicas que se moldava com graça a cada curva do corpo. Uma vasta cabeleira cor de mel esvoaçava a cada movimento de sua dona.

_ É a minha irmã. Uma chata. – sussurrou Lucano para seus companheiros.

_ Eu ouvi isso, seu idiota! – berrou a elfa.

Legolas bufou, irritado, e preparou seu arco. Orion se posicionou sob a irmã de Lucano com os braços preparados para pegá-la.

_ Esperem! – gritou Seelan. Gesticulou com os dedos e murmurou palavras arcanas. Seus olhos emitiram um brilho suave, quase imperceptível. – Agora sim, Legolas. Pode cortar a corda.

A flecha zuniu no ar, gotejando flocos de neve e cristais de gelo. A corda se partiu e a jovem caiu, suavemente. Desceu como uma pluma que, solta, flutuasse com graça nas correntes de ar, ziguezagueando de um lado para outro até pousar delicadamente nos fortes braços de Orion. Seelan suspirou alto e sorriu para o guerreiro.

_ Ponha-me no chão, seu abusado! – a jovem saltou dos braços do guerreiro, quase o agredindo. Conferiu uma espada em uma bainha que pendia do cinto e gritou ordens para o grupo. – Vamos logo! Não fiquem parados ai! Temos que encontrar logo os trolls e resgatar as crianças!

_ Já sabemos disso e já estaríamos nos calcanhares deles se não tivéssemos tido que perder tempo para ajudar alguém sem educação e muito mal agradecida. Antes de qualquer coisa, diga-nos o seu nome. – disse Anix, com rispidez.

_ O nome dela é Luise, é minha irmã. – respondeu Lucano.

_ Eu posso falar por mim mesma, sua besta. E até que enfim você retornou para cuidar de sua mulher, seu maricas. Eu sou Luise, como você já sabe. E vocês, seus inúteis, quem são?

_ Inútil não! Olha como fala comigo, tenha mais respeito! Meu nome é Anix e esses são meus amigos, Nailo, Legolas e meu irmão Squall. Aquele é Orion e esse é Seelan, nosso capitão!

_ Grande porcaria! - debochou Luise.

_ Ah é?! Grande porcaria é você que caiu nessa droga de armadilha de troll. Só os idiotas caem nesse tipo de armadilha! – retrucou Anix.

_ Bem...eu...é....ora, vamos parar de perder tempo aqui! Temos crianças a salvar, vamos parar com essa conversa toda e vamos agir! – o rosto da elfa ficou ligeiramente corado, ela gaguejou por um momento, mas logo depois voltou a gritar. Todos sorriram como se tivessem vencido uma batalha.

Luise parecia odiar tudo e todos, ou quase. Apenas seu pai escapava de sua fúria, e de ser retalhado por sua grosseria. Squall tentou acalmá-la, usando Cloud para tentar sensibilizá-la mas, ela se assustou com o pássaro e quase o atacou. Legolas tentou intimidá-la, usando seu falso título de general e a ajuda de Seelan, mas também não teve sucesso. Seelan usou toda sua diplomacia e seu ar de nobreza, adquirido no convívio com Vectorius, mas apenas teve sua masculinidade questionada. Apenas Nailo pareceu ganhar, senão respeito, ao menos a indiferença da jovem. Desistindo de tentar torná-la menos desagradável, ou pelo menos fazê-la retornar para a vila, o grupo seguiu adiante, com uma nova e indesejada integrante.

Pouco mais à frente, Nailo parou para decifrar os rastros deixados pelos trolls. Todos, em especial o senhor Anakin, prestavam atenção ao trabalho do rastreador. Anix, na retaguarda do grupo, afastou-se dos demais enquanto esperava. Enquanto caminhava, pisou em algo, um galho talvez, que estalou e se partiu. E num piscar de olhos, sua perna esquerda foi laçada e seu corpo puxado para o alto. Era outra armadilha, dessa vez era Anix quem estava pendurado de cabeça para baixo.

_ Ajudem-me! – gritou Anix. Squall correu para ajudar o irmão, ficando sob ele com os braços abertos. Legolas cortou a corda com um disparo de seu arco e o mago despencou sobre o irmão. Ambos se levantaram, limpando-se e levemente atordoados. Luise se aproximou lentamente, como uma serpente preparando o bote.

_ Sabe, - disse ela rindo ao mago – até que você fala alguma coisa que preste de vez em quando. Os idiotas sempre caem nessas armadilhas ridículas. Quero só ver qual de vocês será o próximo.

_ Cala essa boca, sua vaca! Ou eu vou explodi-la em pedaços! – disse Anix enfurecido.

_ Quietos! Parem com isso já! – disse Nailo. – Já sei pra que lado os trolls foram. Sigam-me! – A discussão terminou e todos seguiram adiante.