Caminharam mais um longo tempo, sempre em direção ao oeste, sob as copas fechadas das árvores. A luz do sol ma conseguia penetrar por entre a folhagem densa e atingir o chão. O ambiente era desagradável, especialmente para Legolas e Nailo, acostumados ao clima frio de Tollon, a floresta era de um calor sufocante, um lugar apertado e abafado, capaz de incomodar mesmo aquele grupo de elfos. Depois de muito caminharem com mato na altura da cintura, a vegetação começou a rarear gradativamente, as árvores começaram a ficar mais distantes, o mato tornou-se uma grama alta e a luz solar já alcançava os exploradores.
Alguns metros adiante havia uma clareira sem árvores onde a luz do sol era abundante. Na borda oposta uma formação rochosa elevava-se vários acima do solo gramado e atingia facilmente os dez metros de altura, formando uma colina rochosa que avançava mata adentro a norte e a sul por uma extensão desconhecida. Havia uma fenda larga e alta na pequena montanha de pedra que penetrava em seu interior formando uma caverna profunda e escura.
Nailo parou na entrada da clareira, examinando o chão e murmurando consigo mesmo. Pediu a todos que ficassem parados e deixou a floresta. Andou de um lado para outro sobre a grama alta que cobria a clareira, seus olhos atentos fixos no chão. Depois retornou para a borda da mata onde seus amigos aguardavam.
_ Os rastros dos trolls ficam confusos neste ponto – disse Nailo. – Há várias pegadas indo e vindo por aqui várias vezes. E os rastros se dividem em dois. Um deles conduz para dentro da caverna de volta para fora dela. O outro segue para a esquerda, para o sul.
_ Com sua experiência, qual caminho acha que devemos tomar, Nailo? – perguntou Seelan.
_ Minha intuição me diz para irmos pelo sul. As pegadas também são mais recentes nessa trilha. Acho que é pra lá que devemos ir.
_ Fiquem aqui! Esperem por mim um pouco! – disse Legolas, interrompendo os outros dois.
O arqueiro montou em sua vassoura mágica e, sem dar qualquer explicação, voou em direção ao centro da clareira. Depois, virou-se para a direita e entrou na floresta. Avançou para o norte cerca de vinte metros mata adentro, parou e olhou para trás. Ficou ali parado, flutuando poucos metros acima do solo, olhando para o sul como se tentasse descobrir algo. Como não teve sucesso, retornou.
Legolas, passou em frente à caverna lentamente, olhando para seu interior com atenção. Depois, acelerou e voou velozmente para o sul. Lá, parou novamente a vassoura, virou-se para trás e se pôs a olhar atentamente na direção da clareira.
_ Esqueça aquele louco – disse Seelan. – Então, você acha que o caminho da esquerda é o correto, certo Nailo?
_ Sim, isso mesmo – respondeu o ranger.
_ Então está decidido. Vocês seguirão por esse caminho. Eu ficarei aqui e irei explorar essa caverna, assim estaremos nos dois lugares ao mesmo tempo e não deixaremos que os trolls escapem. – disse Seelan, sua voz era serena e confiante.
_ Mas pode ser perigoso, capitão. Eu ficarei também – disse Squall.
_ Não! Prefiro que vocês fiquem juntos. Eu sei como lidar com trolls e se encontrar algum pelo caminho estarei bem preparado. Se tiver alguma coisa lá dentro realmente perigosa, eu posso simplesmente me teletransportar para fora de lá num piscar de olhos. Não se preocupem. Sigam em frente com Nailo, pois provavelmente estarão no caminho correto e encontrarão o inimigo, logo, precisarão de todo o poder de combate de que dispõem.
_ Está decidido, então – disse Nailo. – Não se esqueçam que o Seelan é nosso capitão e que ele é mais poderoso do que todos nós. Não precisam se preocupar. Até logo Seelan!
_ Adeus, amigos. Cuidem-se! Ah, moça, não gostaria de ficar comigo aqui? – disse Seelan.
_ Não, não vou ficar com um afeminado como você! – respondeu Luise, afastando-se do mago.
_ Tudo bem, então – respondeu Seelan. - Bom, detesto ter que me separar de você, mas daqui a pouco nós vamos nos ver novamente, Orion. Então, até logo mais.
Orion não respondeu, apenas se virou para o sul e seguiu atrás de Nailo junto com os outros.
Encontraram Legolas pensativo, ao lado de uma árvore jovem caída no chão. Seu tronco havia sido quebrado ao meio por alguma pancada extremamente forte. Nailo analisou as marcas e concluiu que fora um soco dado por um troll que havia destruído o tronco. Havia outras marcas, galhos quebrados, mato amassado e pegadas que indicavam que todos estavam na trilha certa.
Seguiram em frente, após explicar a Legolas a decisão de Seelan. À medida que avançavam, notaram que as árvores que encontravam eram cada vez maiores. Seriam precisos várias pessoas para abraçar seus grossos troncos, suas raízes emaranhavam-se por todo o solo, formando obstáculos naturais e dificultando cada vez mais o caminho. No alto, as copas das árvores formavam uma densa cobertura que impedia a entrada do sol, deixando todos na penumbra. Cipós pendiam dos galhos distantes e chegavam até o solo, formando tranças que podiam ser confundidas com troncos de árvores. Musgo brotava farto nos troncos e raízes, assim como enormes cogumelos coloridos. O ar ficava cada vez mais denso e difícil de respirar, filetes de névoa serpenteavam ao redor das árvores e o calor aumentava de forma insuportável. E, como se não bastasse tudo isso, havia um silêncio mórbido naquele lugar. Não se ouvia o ruído de qualquer criatura viva, fosse ela um pássaro, um inseto ou um réptil.
_ Essa floresta é velha, muito velha! – disse Legolas.
_ Sim, é possível ver e sentir isso – concordou Nailo.
_ Há algum tipo de força mágica nesse lugar, alguma coisa viva e estanha. E poderosa. – continuou o arqueiro.
_ Sim. Muito poderosa. Sinto como se minhas forças estivessem sendo drenadas aqui. Não consigo respirar direito e me sinto extremamente cansado e fraco, como se tivesse corrido um dia inteiro e passado a noite em claro. – disse Anix, Lucano e Luise repetiram suas palavras.
_ Acho que sei onde estamos – disse o senhor Anakin. – Esse deve ser o Bosque de Livara.
_ Bosque de Livara? O que é isso? – perguntou Nailo.
_ Bem, é um lugar lendário, cantado pelos bardos. Já ouvi algumas canções a respeito disso. Dizem que Livara Austini foi uma druida sábia e poderosa, que amava a natureza acima de tudo. De acordo com a lenda, ela teria tentado defender um antigo bosque da destruição durante as guerras na época em que Sambúrdia e Trebuck se separaram. Dizem que ela morreu defendendo esse bosque, e que no lugar onde seu corpo caiu, brotaram duas rosas idênticas. São chamadas de Rosa Gêmeas de Livara. Eu não sei muita coisa mais a esse respeito, mas sempre duvidei que essa história fosse apenas repertório de bardos. Acho que esse bosque é o que as lendas contam.
Todos ficaram maravilhados com a história, apesar de não conhecerem-na em todos os detalhes, e ao mesmo tempo apreensivos. Sentiam uma presença poderosa naquele lugar, algo sobrenatural e assustador.
Continuaram andando, seguindo os rastros indicados por Nailo, e a cada passo a jornada se tornava mais complicada. O ar se tornava mais e mais pesado, o simples ato de respirar tornava-se uma tarefa dolorosa e difícil. Galhos, cipós e raízes se entrelaçavam à frente e ao redor deles, como se tentassem impedi-los de seguir adiante. A névoa se adensava a cada metro e o brilho do sol tornava-se uma lembrança cada vez mais distante e apagada. E o calor imperava, cada vez mais intenso, drenando as energias e o ânimo do grupo. O silêncio só foi quebrado quando o berloque de Legolas brilhou fraco e tocou como um sino. O arqueiro pegou o objeto mágico e conversou com sua amada, que se encontrava na casa de Lucano, banhando-se enquanto conseguia notícias de seu amado e de sua busca. Enquanto conversava, Legolas caminhava com seus companheiros e no momento em que se despedia de Liodriel, o berloque pareceu parar de funcionar, como se o poder daquele lugar ancestral interferisse no funcionamento do objeto. Legolas o guardou e a jornada continuou.
Já tinham avançado bastante dentro daquela mata antiga, quando avistaram um vale à frente. Era uma depressão circular muito ampla, como uma enorme cratera no meio da mata, cercada pelas gigantescas e antigas árvores de tal forma que parecia não haver meios de circundar aquele fosso. Nas árvores ao redor havia uma névoa densa que impedia que se enxergasse além da borda do buraco. E dentro dele, a neblina era tão espessa que era quase impossível enxergar a ponta do próprio braço se esticado. A bruma preenchia a cratera quase até a borda, assemelhando-se a um lago no inverno coberto pela cerração antes do nascer do sol. As pegadas dos orcs conduziam para dentro do buraco e desapareciam na névoa.
_ É, parece que teremos que descer ali! – disse Nailo com a voz cheia de dúvida.
_ Isso está muito estranho. Essa névoa não é normal. Tem algo errado ai. – disse Anix.
_ Vou verificar – disse Nailo. Sacou então a espada mais comprida e desceu alguns passos na encosta íngreme que conduzia para dentro da cratera nebulosa. Então, subitamente, ele escorregou no chão liso e coberto de limo e caiu no chão, deslizando para dentro da névoa e desaparecendo através dela. Todos se assustaram e gritaram por Nailo, mas de dentro da bruma não veio resposta alguma.
Desesperado, Anix pegou a vassoura voadora de Legolas e entrou na neblina atrás do companheiro. Legolas foi logo atrás, descendo o barranco escorregadio sentado sobre o escudo de Orion, usando-o como trenó. Os que ficaram lá em cima, gritaram pelos companheiros, mas não escutavam resposta. Uma sensação de medo e insegurança se instalou em todos.
_ Uma corda! Arrumem-me uma corda! – gritou o senhor Anakin. Orion tirou a corda que tinha em sua mochila e a amarrou numa árvore. O pai de Lucano amarrou a outra ponta ao redor de sua cintura e começou a descer cuidadosamente para dentro do vale. Orion ia soltando a corda aos poucos, sempre pronto a puxar o elfo de volta caso algo desse errado. Anakin penetrou na névoa e desapareceu.
Orion sentiu a corda ficar leve de repente e puxou-a de volta com força. O laço e o nó continuavam lá, tal qual Anakin havia feito, mas ele havia desaparecido. Sem hesitar, o guerreiro saltou no barrando e desceu escorregando para dentro da névoa.
Depois, como nem Orion nem qualquer um dos outros retornavam, foi a vez de Squall, Lucano e Luise enfrentarem a bruma misteriosa. Os três trançaram os braços uns nos outros, deixando Luise no meio, de forma que se alguma coisa lhes acontecesse, todos estariam juntos e teriam mais chances de sobreviver. Seguraram-se à corda de Orion, que ainda permanecia amarrada na árvore, e começaram a descer. Seus pés escorregavam, suas mãos suavam e queimavam em atrito com a corda e seus corpos tremiam de pavor. Mesmo assim os três desceram para as profundezas desconhecidas daquela estranha neblina e desapareceram. Lá no alto, na borda da cratera, apenas Relâmpago permaneceu, olhando atento para o fundo do buraco, aguardando o retorno de seu companheiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário