fevereiro 26, 2009

Anix com o Capeta no corpo!

ANIX OLHO DE BEHOLDER

D100

ATAQUE

TESTE

RM

EFEITO

1 – 10

Sono Profundo

Von

S

Criatura de até 10 DV dorme. Acordar com ação padrão e só na porrada.

11 – 25

Enfeitiçar Pessoas

Von

S

Dep. Idioma. Enfeitiça um humanóide. Ordens requerem testes resistidos de Car. Recebe +5 no teste de Von se for ameaçada pelo conjurador ou aliados. Ameaçar alvo cancela efeito.

26 – 40

Medo

Von

S

1 rod./NC. Se passar fica abalado (-2 atk, TRs, perícias, Habilid.), se falhar fica assustado (foge usando todos os recursos para isso, ou luta, se não puder fugir, com as penalidades de abalado). Se estiver assustado e for encurralado, fica aterrorizado (sem ações e Des ma CA, atacantes ganham +2).

41 – 60

Infligir Ferimentos Moderados

-

S

Dano 2d8 + 1/niv. (máx. +10)

61 – 70

Lentidão

Von

S

Só 1 ação padrão OU de movimento por rodada. Deslocamento cai pela metade, distância de salto é afetada, -1 na CA e Reflexos.

71 – 80

Telecinésia

Von (obj)

S (obj)

Força contínua: move criat. Ou obj 12,5kg/niv. (más. 187,5kg) (TR / RM anula). 1 rod./niv. (Conc.)

Manobra de combate: Encontrão, Desarme, Agarrar, Imobilização. Sem AdO, NC = BBA, Mod. Car ao invés Mod. For. (Sem TR) (RM anula) 1 rod./niv.

Empurrão violento: arremessa até 12,5kg/niv. (máx. 187,5kg) a até 3m/niv. Dano: 1 pto./12,5kg (coisas não perigosas – barril) 1d6/12,5kg (objetos densos – pedra). Criaturas arremessadas (RM / TR anula) sofrem dano de queda de 3m.

81 – 90

Enfeitiçar Monstro

Von

S

Dep. Idioma. Enfeitiça uma criatura qualquer. Ordens requerem testes resistidos de Car. Recebe +5 no teste de Von se for ameaçada pelo conjurador ou aliados. Ameaçar alvo cancela efeito.

91, 92, 93, 94

Desintegrar

Fort

S

Dano 2d6/niv. (máx. 40d6). Se pv chegar a 0 desintegra. Se passar no teste sofre só 5d6 de dano (desintegração ainda funciona com 0 pv)

95, 96, 97

Carne para Pedra

Fort

S

Alvo vira pedra

98, 99, 100

Dedo da Morte

Fort

S

Falha = morte. Sucesso = dano 3d6 + 1/niv. (máx. +25)

· Nível de Conjurador (NC) = NC Anix

· CD para resistir = 10 + ½ DV Anix + Mod. Car. Anix

· Alcance dos raios = 45m

· Todos os ataques exigem jogada de ataque de toque à distância (Ataque à distância que ignora armadura, escudo, armadura natural, etc.)

· Cada ataque gasta uma ação padrão.

· Cada uso drena 1 ponto de Constituição do Anix. (temporário, recuperação normal, 1 ponto por dia)

· Se Anix ficar inconsciente por ao usar poderes, Beholder assume controle do corpo automaticamente.

· Se Anix ficar inconsciente por qualquer outro motivo (receber dano, dormindo, etc), Beholder tem 10% de chance de assumir controle


Esses são os poderes novos de Anix. Agora ele tem um beholder dentro de si (uuiii!!!) e pode usar seus poderes em seu benefício. Porém, Anix não tem controle total sobre a coisa dentro dele, por isso os poderes são usados de forma aleatória. E, quanto mais ele utilizar estes poderes, mais forças dará para o beholder (com pontos de Constituição). Pode ser que um dia o monstro ganhe poder suficiente para assumir o controle de vez, mas, enquanto isso não acontece, ele só pode dominar quando o Anix fica inconsciente.

A coisa funciona assim. Se Anix estiver dormindo e o Beholder dominar, terá controle sobre o corpo de Anix, com todos os seus pvs. Mas o Anix poderá ser acordado e acabar com a festa. Quanto mais tempo o Anix permanecer dormindo, mais forte o bichão ficará, até que o Anix não poderá mais acordar. A cada vez que tentar despertar (todas as manhãs) o Beholder deve fazer um teste de Vontade com CD = 15 + mod. de Vontade de Anix. A dificuldade diminui em 1 ponto acada 24 horas que o beholder estiver no controle, até zerar. Quanquer coisa que possa fazer Anix despertar (como ver um ente querido, uma situação nostálgica para o mago, etc) obrigará o observador a fazer um novo teste. Se Anix cair incosciente por ferimentos e o beholder dominar, ele despertará com a quantidade de pvs que Anix deu a ele (mod. de Constituição que foi para o beholder vezes o nível do Anix) e fugirá para recuperar os restantes e voltar à ativa com tudo. Nesse caso é preciso deixar o beholder inconsciente também para que o Anix possa reassumir. O mesmo se aplica caso Anix fique inconsciente por gasto de energia ao usar o olho, a diferença é que nesse caso o beholder assume o controle automaticamente (sem necessidade de testes).

fevereiro 25, 2009

Capítulo 340 – Caçadoras


A noite já se fazia presente na floresta. A escuridão dominava as profundezas do abismo sem que este revelasse seu fim. Os heróis caminhavam há horas, já ansiosos por encerrar aquele dia e descansar. Subitamente se viram cercados, presos em uma armadilha. Uma rede despencou do alto das árvores, silenciosa demais até para os ouvidos de Nailo. Era feita de finos fios brancos, leves como plumas, mas resistentes como o melhor tecido. Era uma intrincada rede confeccionada com fios de teias de aranha. O objeto se precipitou rapidamente, carregado para o chão por pesos feitos de pedras. Num instante ela já cobria o grupo, prendendo-os em posição desconfortável. Após a rede, vieram as dragoas.

Dezenas de criaturas bípedes desceram pelas árvores, rastejando sobre elas com destreza incomum. Eram baixas e esguias, de corpos bem torneados apresentando curvas generosas. O couro que revestia seus corpos variava o tom entre o marrom e o avermelhado, por vezes lembrando o bronze. Olhos amarelados e luminosos, com pupilas verticais como as de leoas, fitavam os prisioneiros. Uma crista de cores vivas descia da cabeça até a base do pescoço de cada criatura e uma longa e fina cauda escamada, de cor semelhante à da crista, agitava-se na extremidade de cada corpo. Usavam roupas simples, tangas, saiotes ou tiras de couro, mais por ornamento que para esconder a intimidade e, por mais que lembrassem répteis, por algum motivo desconhecido todas possuíam seios firmes e belos sempre à mostra. Imediatamente os heróis se lembraram dos avisos de Tork e souberam onde estavam. Suas captoras eram as dragoas caçadoras.

As dragoas desciam como uma enxurrada, carregando lanças, arcos, estranhas espadas que pareciam serem feitas de vidro negro e longas hastes de madeira em cujas extremidades havia grilhões repletos de espinhos para prenderem os novos escravos do bando.

Squall tentou uma solução diplomática, propondo a paz no idioma dos dragões. Mas, as caçadoras não compreendiam uma palavra. Falavam em um idioma estranho, próprio, que não era conhecido por nenhum dos heróis. Várias delas já estavam ao alcance de uma espada, prontas para imobilizar os aventureiros quando o grupo se deu conta que não adiantaria conversar. Era preciso lutar.

Legolas apanhou seu arco e começou a disparar freneticamente, derrubando uma fileira de inimigas. As flechas zuniam cortando o ar e deixando rastros de gelo e neve. Nailo postou-se ao lado do amigo, deixou as espadas descansando em suas bainhas e começou a atacar também com seu arco.

As caçadoras revidaram. Uma saraivada de flechas cobriu a pequena clareira onde o combate ocorria. Vinha do alto das árvores onde dezenas de outras dragoas atacavam com mira mortal. Os heróis foram alvejados, perfurados pelas setas e além dos ferimentos normais, sentiram veneno corroendo suas carnes e invadindo seus corpos.

Lucano comandou Dililiümi enquanto conjurava um feitiço e suas forças se esvaiam pela ação do veneno. Duas esferas de chamas explodiram ateando fogo em uma dúzia de dragoas. Mesmo assim, elas continuavam avançando, sacaram suas armas e partiram para o combate corporal com os heróis.

Orion ergueu sua espada e a chama de sua lâmina abriu uma fenda na rede de teias por onde ele passou e correu até as inimigas. Foi logo cercado por uma dúzia de caçadoras, que o atacavam com suas espadas vítreas e dardos envenenados. O guerreiro golpeava ao redor de si com sua espada, formando pilhas de corpos mutilados cada vez mais altas.

No centro da clareira, Anix usou o poder mágico de seu cajado e tal qual um dragão, começou a cuspir fogo sobre as adversárias. Ao seu lado Squall despejava feitiços de ataque nas dragoas, mas nada parecia capaz de fazê-las desistir do combate. Os cadáveres aumentavam a cada instante, mas as caçadoras continuavam avançando, atacando com suas clavas, com suas espadas, com dardos e flechas gotejando veneno.

Legolas continuava atirando sem parar. Suas flechas precisas perfuravam e congelavam às dezenas. Nailo desistiu do arco e fez suas espadas beberem o sangue das dragoas. Ao seu lado Lucano usava Dililiümi para retalhar as inimigas que se aproximavam numa torrente. Afastado do grupo, Orion girava ao redor de seu próprio eixo, partindo corpos ao meio com sua Lâmina flamejante. Squall lançava magias sem conta sobre as dragoas e viu ao seu lado seu irmão apelando para seus novos poderes. Anix retirou a bandana que cobria sua testa e seu terceiro olho começou a disparar raios mágicos em suas inimigas.

Uma nova saraivada de flechas choveu das árvores. Sabendo não ser capaz de resistir a mais aquele ataque, Lucano se fez invisível e afastou-se do caminho dos projéteis. Anix fez diversas inimigas explodirem numa bola incandescente enquanto seus amigos atacavam com espadas e flechas, dando cobertura para Squall realizar sua transformação. As flechas chegaram do alto, sedentas de sangue. O chão tornou-se espinhento, coberto por setas envenenadas. Os heróis foram atingidos várias vezes, ficando cada vez mais fracos, tanto pela gravidade dos ferimentos, quanto pela ação das toxinas das inimigas. Anix fora o mais prejudicado pelo ataque e não resistiu. O mago tombou.

No chão não restavam inimigos em pé, apenas corpos mutilados de incontáveis dragoas caçadoras. Mesmo assim a situação era alarmante. Anix tombara, gravemente ferido, e a situação dos demais não era muito melhor que a do companheiro moribundo. Cloud também jazia no chão, ferido e sem forças para voar devido ao veneno que invadia seu corpo. Acima de suas cabeças dezenas de caçadoras retesavam seus arcos para mais uma rajada mortal e, como se isso não bastasse, os gritos de guerra de várias outras dragoas emergiam das profundezas da mata, aproximando-se cada vez mais da clareira. Poucos metros à frente Galanodel despencou dos céus, presa em uma rede de fios de seda branca. Um grupo de dez dragoas surgiu das árvores correndo na direção da coruja gigante, prontas para matá-la. Outras tantas inimigas começavam a surgir, cada vez mais numerosas, em pontos esparsos da mata, vindo na direção do grupo.

Orion correu até Galanodel, protegendo-a de suas algozes. Sua espada mais uma vez retalhava os corpos esguios e belos de suas inimigas, agora com maior fúria. No curto período de tempo em que tinham estado juntos, Orion sem perceber desenvolvera um forte sentimento pela ave e agora com ela em perigo o guerreiro se dava conta disso. Mas sua fúria não bastou para intimidar as caçadoras e em segundos o humano estava cercado por uma dezena delas, obrigando-o a combater com maior eficiência.

Nailo avançou pelo flanco esquerdo, barrando a aproximação de mais inimigas com suas espadas. Legolas formava barreiras instransponíveis para das dragoas com suas flechas, enquanto Lucano usava seus poderes para trazer Anix de volta da beira da morte. O mago se ergueu e voltou ao combate. Seu terceiro olho brilhou e um raio atingiu uma das dragoas. A expressão da guerreira se transformou e pela primeira vez os heróis viram uma delas sentir medo. Mesmo assim a mulher continuava a lutar, ainda que hesitante. O medo mágico instilado por Anix não era capaz de sobrepujar os instintos mais primitivos, o senso de superioridade e a confiança inabalável da dragoa caçadora. Anix, que por pouco escapara da morte, voltou a ficar debilitado após usar o olho mágico e ter suas forças drenadas por ele.

Squall fundiu seu corpo ao de Cloud e, unidos num só, os voaram dois de encontro às dragoas que os alvejavam das copas das árvores. O elfo alado flutuava diante das inimigas, tentando chamar para si a atenção delas, mas sua tentativa foi em vão. As nativas atacaram uma vez mais, despejando uma chuva de setas nos que combatiam no solo. Anix voltou a cair, novamente à beira da morte.

Squall, agora Scloud, ergueu o indicador direito. Acima do dedo uma esfera rubra de energia girava e aumentava de tamanho velozmente. O feiticeiro sorriu com seu bico de falcão e proferiu uma palavra mágica. A pequena esfera de energia explodiu numa enorme bola de chamas que queimaram as dragoas até os ossos, encerrando suas vidas de batalhas. Os corpos chamuscados despencavam das árvores enquanto a figura alada de Scloud emergia sorridente das chamas.

No solo Orion passava por situação desesperadora. As inimigas se acumulavam ao seu redor cada vez mais numerosas. O guerreiro as derrubava aos montes, mas sua espada não era capaz de matar mais rápido do que as caçadoras chegavam. Duas das mulheres conseguiram se manter fora do alcance do humano e, armadas de espadas vítreas, avançaram sobre a indefesa Galanodel. Presa na rede, a coruja era uma vítima fácil, as dragoas iriam matá-la facilmente antes que Orion conseguisse alcançá-las.

Então uma brisa fria soprou na direção de Orion, cada vez mais forte até se transformar num turbilhão de vento e neve. O ar congelado matou todas as dragoas que cercavam o humano, mas, assim como Galanodel, ele também foi ferido. Orion desvincilhou-se dos corpos congelados que o agarravam, atirando-os ao chão e deixando-os se estilhaçarem no solo. O guerreiro virou-se, fez um gesto agradecendo a ajuda de Legolas que ainda tinha o arco apontado em sua direção, e correu até a coruja inconsciente. Pegou um frasco em sua mochila e despejou o líquido espesso e esverdeado pela garganta da ave. A coruja despertou.

_ Galanodel! Sente-se melhor? Pode voar? – perguntou Orion.

_ Sim! – respondeu o pássaro.

_ Voe para segurança. Proteja-se! – disse o humano enquanto libertava sua amiga das amarras com sua espada. Galanodel bateu as asas e buscou a proteção das árvores. Orion ergueu-se e correu de volta para seus companheiros.

No alto, Scloud voava em grande velocidade, jogando seu corpo sobre as adversárias com toda força, atropelando-as. Três delas despencaram de uma altura de quase quinze metros. Apesar disso, ainda eram capazes de se levantar e continuar lutando, provando que os alertas de Tork sobre as dragoas eram verdadeiros.

Nailo barrava as dragoas que chegavam com movimentos já decorados. Esquivava, aparava com uma espada, cortava com a outra e recuava um passo para deixar o corpo adversário cair livremente. Lutava sem emoção, apenas instintivamente. Sua mente estava longe das espadas. Preocupava-se com Anix, caído no chão frio, sangrando abundantemente. Seu olhar se voltava constantemente para o amigo enquanto suas espadas faziam seu trabalho como se tivessem vida própria.

Lucano também temia pelo amigo e correu até ele. Dililiümi, nas mãos do clérigo, lançava bolas de fogo nas inimigas dos elfos com a mesma ferocidade com que atacaria goblinóides enquanto o elfo se concentrava em alcançar o amigo. Lucano pousou a mão sobre o peito do amigo para curá-lo com uma bênção, entretanto, para seu espanto, não precisou.

Anix se ergueu do chão levitando magicamente. Abriu seus olhos, todos os três. Estavam tingidos de um tom roxo, brilhante como três chamas fantasmagóricas. Sua boca se abriu num largo sorriso de dentes pontiagudos como setas e algo começou a se mexer em seu ventre. Era como uma serpente se agitando de um lado para outro, enroscando-se nas vestes do mago até conseguir agarrá-las e rasgá-las por dentro. Pedaços de tecido despencaram do rasgo que se formara, deixando surgir à luz uma cena bizarra. Havia um enorme olho cheio de ódio e maldade no estômago de Anix. Sob ele uma bocarra exibia dentes afiados e um sorriso jocoso, maligno. O simples abrir do olho fez com que as espadas de Orion e Nailo e o arco de Legolas perdessem seus poderes mágicos e se tornassem armas mundanas. A própria Dililiümi se calou. O mal despertara por completo, aquele que estava diante de Lucano não era mais seu amigo Anix. Era uma criatura maligna, terror de camponeses, monstros e heróis. Era uma aberração cheia de maldade cujos muitos olhos agora observavam suas próximas vítimas. Era um observador, um beholder, que pelo poder mágico de Galrasia voltara à vida após ser reduzido a um único olho em decomposição que fora implantado em Anix meses atrás, em Vectora.

Anix, possuído pelo beholder, flutuava para longe do grupo. Seus olhos brilhavam mirando Lucano, prestes a disparar. O clérigo lançou uma prece sobre si para se proteger do ataque iminente. Orion correu para ajudar, mas Nailo foi mais veloz e em um piscar de olhos já estava sobre Anix, golpeando-o com as costas de suas espadas para atordoar sem ferir o corpo do amigo. O beholder resistiu aos golpes por pouco. O olho na testa do elfo-monstro se projetou para fora, suspenso por uma haste fibrosa. Estava pronto para disparar um raio mortal em Nailo quando Squall desceu do céu num mergulho ultra veloz e atingiu a nuca de Anix com um poderoso chute. O corpo de Anix encontrou o chão uma vez mais, desmaiado. Seus olhos se fecharam, o olho em sua testa retornou para dentro de sua cabeça e seu ventre retornou à normalidade, sem olho, sem boca. Era Anix novamente, dormindo. As armas voltaram a brilhar, transbordando poder mágico. Há alguns metros dali, Legolas era o único que ainda combatia as dragoas caçadoras, tentando impedir seu avanço. Mas já era tarde. Uma multidão cercou a clareira, talvez centenas de mulheres, apontando suas espadas, zarabatanas e flechas para os invasores. Eram muitas. Por mais que os heróis fossem poderosos, não havia como vencer aquele exército. Havia apenas duas opções a escolher: a rendição ou a morte.

fevereiro 13, 2009

Capítulo 339 – O menestrel e a deusa


Despertaram. Era o 20º dia de Lunaluz, o mês de Lena, Deusa da Vida. O sol quente invadia a fenda do abismo, inundando com sua luz e calor, fazendo a floresta despertar enquanto as criaturas noturnas começavam a se deitar. Um a um os heróis foram se levantando, retomando sua vida de aventura e tormento. Liam grimórios, oravam aos deuses, abriam mentes e corpos para dar vazão à magia, afiavam lâminas. Legolas permanecia imóvel, ainda catatônico. Anix estava perto, se alimentando, quando Nailo se aproximou dos dois e começou seu sermão:

_ Como se sentem? Espero que estejam bem apesar dos ferimentos de ontem. O que vocês fizeram não foi correto. Lembrem-se, somos amigos, somos irmãos. Temos que permanecer unidos, temos uma missão a cumprir. Há outras pessoas que dependem de nós, do nosso sucesso. E para atingirmos nosso objetivo, temos que permanecer juntos. Vocês tentaram se matar ontem e por pouco não conseguiram. Quero que pensem no que fizeram, que pensem no que está em jogo e que não repitam os erros de ontem – Nailo falava com calma, mas num tom severo como um pai que ensina a um filho as lições da vida. Aquele era um grupo sem líderes. As decisões eram tomadas em conjunto, as escolhas eram feitas por voto de todos, ouvindo a opinião de cada um e decidindo aquilo que atendia aos desejos da maioria. Mas, de tempos em tempos, quando a necessidade obrigava, alguém do grupo assumia o papel de líder, dando rumo às ações do grupo, resolvendo disputas, tomando decisões em nome dos demais. Dessa vez era Nailo quem assumia o cargo, era ele quem se dispunha a restaurar a ordem no grupo.

_ Do que você está falando, Nailo? O que aconteceu? Não estou entendendo nada! – disse Anix com ar de espanto. Envergonhado e confuso com o que acontecera, fingia não se lembrar dos fatos da noite anterior.

_ Talvez até você realmente não se lembre do que aconteceu, Anix – disse Nailo. – Ou talvez esteja apenas fingindo. Mas o fato é que vocês dois tentaram se matar. Você enlouqueceu depois que esse negócio surgiu em sua testa e tentou matar o Legolas. E ele endoidou também e tentou matar você, achando que você estava possuído por alguém, o Zulil provavelmente. O que está feito não tem volta, mas, daqui para frente, antes de darem outro espetáculo como o de ontem à noite, pensem bem no que temos todos nós a perder e no que as pessoas que amamos têm a perder caso nós falhemos em nossa missão, caso enlouqueçamos e nos matemos uns aos outros. Espero que aquilo não se repita. Agora vamos nos preparar e partir, temos um longo caminho pela frente. E você, Legolas, trate de despertar desse transe e voltar para a realidade. Temos um trabalho a fazer.

Anix, ficou pensativo, tentando se justificar, perguntando do que Nailo falava, perguntando o que tinha em sua testa.

_ Ele estava falando disso aqui! – disse Lucano, enfiando um dedo no olho novo de Anix. Junto com a dor vieram as lembranças e o arrependimento, bem como o medo e o desejo de descobrir mais sobre aquilo. Ainda sentindo dor, Anix lembrou de sua máscara e a pegou. Cortou a parte de cima com uma espada, deixando a testa descoberta. Recolocou o objeto e escondeu o terceiro olho com uma tira de pano. O olho estava agora oculto e protegido e ao mesmo tempo poderia ser facilmente descoberto, quando precisasse ser usado. O mago então se levantou e foi até onde estava Legolas.

­_ Legolas – disse Anix, segurando a mão do amigo com firmeza. – Eu não sei bem o que aconteceu ontem, mas quero dizer que sinto muito. Não importa o que tenha acontecido nem o que nos aconteça daqui em diante, quero que saiba que de hoje em diante caminharemos juntos, triunfaremos juntos ou morreremos juntos se for preciso, como irmãos, como elfos.

Legolas piscou. Agarrou a mão do amigo e se levantou, ainda um tanto atordoado.

_ Vamos matar aquele desgraçado do Zulil! – disse ele. Lucano protestou e Nailo, o líder naquela ocasião, interveio:

_ Isso nós vamos ver. Quando o encontrarmos, peço apenas para que nem você, nem o Anix e nenhum de nós se precipitem. Talvez não seja nosso destino matar Zulil, mas se o for, nós o destruíramos. Peço apenas para que vocês não se deixem dominar pelo ódio e pelo desejo de vingança. Quando chegar a hora e nós confrontarmos Zulil, vamos analisar a situação com nossas mentes e corações limpos. E então, se não houver outra opção, nós o mataremos, juntos.

Todos assentiram, ou ao menos fingiram concordar. Prepararam sua partida apressadamente e, quando estavam prontos para sair, Galanodel, que até então apenas os observava, falou:

­_ Vocês pretendem atravessar o abismo? – perguntou a coruja gigante. Os heróis fizeram que sim. – É perigoso. Vejo que vocês não são daqui e não conhecem nada sobre esse lugar – novamente assentiram. – Eu os guiarei até o outro lado. Há monstros voadores escondidos nas árvores, mas sei como evitá-los. Guiarei todos vocês até o outro lado e – olhando para Orion – caso concordem em me ajudar a sair desta ilha e retornar para o continente, irei também acompanhá-los em sua jornada. O que dizem?

Concordaram.

Galanodel se abaixou, deixando que Orion a montasse novamente. Lançaram-se no abismo, voando abaixo das copas das árvores menores, seguidos de perto pelos demais. Squall, transformado em dragão, carregava Nailo e Relâmpago, e era seguido por Cloud. Anix voava sozinho, com auxílio da magia de seu cajado. Legolas ia com Lucano na vassoura mágica e a pequena coruja os acompanhava de perto, sendo aos poucos cativada pelo clérigo. Acima deles dezenas de répteis voadores se desprendiam das copas mais amplas para persegui-los. Galanodel conduzia o grupo por sob as árvores mais baixas em um ziguezague constante para despistar os perseguidores. Minutos depois, o grupo já emergia do outro lado da fenda, subindo a encosta num vôo ligeiro até a segurança da floresta além do abismo. Após uns instantes de planejamento, decidiram seguir ao lado do abismo, até o fim deste quando então se afastariam rumo ao sul e ao leste, em direção ao seu objetivo.

Foram três horas de viagem tranqüila. Conseguiram avançar um longo trecho já que podiam voar livremente na borda da garganta. Quando o poder do anel de Squall se esgotou e sua metamorfose encerrou, o grupo prosseguiu a jornada a pé. Galanodel voava de uma árvore para outra, onde aguardava pela passagem do grupo e avançava adiante em mais um vôo curto. Pouco a pouco o cansaço começou a se abater sobre o grupo. As lembranças dos fatos trágicos pelos quais tinham passado começaram a surgir nas mentes e o desânimo começou a tomar conta de todos. Percebendo isso, Nailo pensou em algo para animar a pequena tropa:

_ Vamos cantar alguma coisa, para espantar o cansaço! – sugeriu Nailo. Mas foi Anix quem começou a cantoria, logo acompanhado por todos. Era uma canção antiga que lhes trazia lembrança de outros tempos de aventura e glória:

“Marchando pelo campo, levamos nosso semblante

Lutando em todo canto, nós seguimos adiante

Os inimigos não têm chance contra os nossos poderes

Com espadas em nossas mãos mataremos todos eles

Nós não sentimos medo de nada

Conosco está o espírito de batalha!”

Era a canção que Sam entoara quando o grupo lutava para invadir as minas de Khundrukar e que cantara muitas outras vezes depois durante sua estada nos subterrâneos dos domínios do anão Durgedin. O grupo se animou por um breve instante, quando então a saudade os dominou. Tomados de saudade e tristeza, os elfos silenciaram por um momento, mas a música continuou. Ela vinha da direção de Orion.

O grupo interrompeu a marcha abruptamente, todos os olhos se voltavam para o colar de Orion, onde o bardo Sam Rael cantava sua canção.

_ Sam! É Você mesmo? – gritou Nailo, eufórico. Se pudesse abraçaria o amigo naquele momento.

_ Sim, sou eu mesmo, Nailo! Como você está amigo? – respondeu o bardo com alegria.

_ Estou bem. Mas, e você? Como está?

_ Bem também, um pouco confuso ainda. Não sei bem onde estou, acho que estou preso em algum lugar.

_ Que lugar é esse, Sam? – perguntou Legolas.

_ Legolas, amigo! Que saudade! Não sei direito que lugar estranho é esse. Parece uma caverna, mas não há entradas nem saídas. As paredes são lisas e parecem feitas de algum tipo de vidro ou cristal meio roxo, ou rosado.

_ Mas como você está ai dentro? E como você está falando com a gente? Você não estava morto? – perguntou Anix.

_ Morto? Eu? Ora Anix, que brincadeira é essa, meu amigo? E que troço é esse na sua cara? Uma máscara? Claro que não estou morto! Se estivesse não poderia estar falando com você agora. Mas felizmente eu posso falar com você, velho amigo.

_ E você está bem mesmo? Não sente nenhuma dor ou alguma outra coisa estranha? – perguntou Lucano.

_ Lucano! Você também está ai? Que alegria! Não, não sinto nenhuma dor. Aliás, isso é algo meio estranho, não sinto nada – o bardo silenciou. Todos puderam ver através do colar quando Sam ergueu um dos braços e o beliscou com força. Sem reação. – Não sinto nada. Estranho isso.

_ É porque você morreu. O Zulil matou você. Não lembra de nada disso? – disse Squall.

_ Squall? Que bom vê-lo novamente, amigo. Você está diferente. O que lhe aconteceu? Bom, isso não importa agora. Já que você falou de Zulil, eu lembro dele sim. Era aquele elfo que conhecemos em Malpetrim. Eu o encontrei outro dia em Valkaria – pausa – numa taverna. Eu estava feliz, tinha acabado de receber a notícia de que ia ser pai quando o encontrei.

Pausa.

_ E a Lana? Vocês sabem dela? Ela está bem? Está ai com vocês? – perguntou Sam.

_ Ela está em segurança, lá em Tollon, Sam. Termine de contar o que aconteceu – disse Nailo.

_ Certo. Lembro que encontrei o Zulil numa taverna. Eu estava feliz e o convidei para uma bebida, para comemorarmos a vinda do meu filho. Conversamos um bom tempo. Ele me perguntou sobre vocês, onde estavam, o que tinham feito. Perguntou sobre suas famílias, quis saber de onde cada um tinha vindo.

Pausa.

_ Fiz questão de contar tudo. Cantei seus feitos, a Balada da Forja da Fúria. Ele ficou contente, interessado. Quis saber cada vez mais e...

Longa pausa. Todos em absoluto silêncio.

_ E quando eu sai da taverna, senti uma dor na cabeça...acho que desmaiei. Acordei amarrado, sem minhas roupas, em algum porão sujo. Um bando de goblins cruéis começou a me machucar – o semblante de Sam tornou-se sombrio, seu rosto estava pálido e seu olhar distante. Continuou, falando cada vez mais lentamente. – Eles me cortavam, me espetavam, me queimavam. Enfiavam agulhas em baixo das minhas unhas, depois as arrancaram com um grande alicate. Me bateram e depois colocaram minhas...minhas “coisas”, vocês me entendem, as jóias da família em uma morsa. E eles apertaram e apertaram até minhas coisas explodirem.

Mais uma pausa. A própria floresta pareceu se calar. Com lágrimas nos olhos, Sam continuou:

_ Então apareceu o Zulil. Ele sorria enquanto eu sangrava. Fez um gesto para os goblins, com o polegar apontando para o pescoço. Um deles pegou um grande machado. Colocaram minha cabeça numa mesa. Não sei o que aconteceu depois – Sam levou uma mão ao pescoço. Ao redor dele formou-se uma marca vermelha, como uma cicatriz. Um corte. – Eu morri. Depois disso eu só lembro de ter visto vocês fugindo de um tiranossauro atroz e comecei a gritar para vocês correrem. Não lembro de mais nada entre uma coisa e outra. Eu morri.

Sam estava pálido como um cadáver que era. Estava em choque. Ainda confuso, começou a dispara perguntas para os amigos:

_ Mas e vocês? Onde estão? Estão em Galrasia, não é? Estão bem? O que aconteceu com vocês? O que estão fazendo ai?

_ Calma Sam. Vamos lhe explicar tudo o que aconteceu. – Disse Nailo, calando o bardo e começando o relato de sua tragédia.

Os elfos contaram a Sam tudo que acontecera. Contaram do confronto com Zulil em seu castelo e de sua derrota. Contaram sobre o reencontro com Lana, sobre o retorno e a vingança de Zulil e sobre o que acontecera depois.

_ E agora nós estamos aqui em Galrasia – disse Anix. – À procura daquele traidor maldito para fazê-lo pagar por tudo que nos fez e para recuperar as jóias com as almas. Aliás, falando nisso, como é mesmo o lugar em que você está?

_ É como se fosse uma caverna de cristal. Tem oito paredes que se inclinam em direção ao teto e ao chão onde se encontram em octógonos. São de um tom roxeado, como uma ametista, mas não são transparentes, eu não consigo ver nada além. Consigo ver e falar com vocês por uma pequena janela em uma das paredes. Parece um portal mágico.

_ Ametista! – exclamou Nailo. – A última jóia que o Zulil pegou na prateleira era uma ametista. É onde o Sam está.

_ Não se precipite, Nailo. Há algo estranho nisso tudo, pois para nós o Sam agora está dentro do colar de Orion.

_ Ou talvez esse não seja o Sam. – murmurou Legolas para si mesmo. Voltou-se em direção ao colar imaginando se não seria um truque do inimigo. – Sam, lembra-se quando estávamos dentro da montanha, quando você começou a tocar uma música usando cogumelos como tambores? Que bichos eram aqueles mesmo que nos atacavam?

_ Sim, me lembro disso. Eram Gricks, meu amigo. Por que quer saber? – respondeu o bardo.

_ Lembro que naquele dia nós não estávamos conseguindo ferir os monstros com nossas armas, mas você entoou uma balada de glórias e vitória que nos fortaleceu, nos deu mais coragem e aumentou nossas forças. Você lembra qual era? – continuou Legolas.

_ Claro que lembro.

_ Poderia cantá-la para nós agora, como daquela vez, como se estivéssemos lutando agora contra aqueles monstros?

Sam soltou a voz enquanto tamborilava as paredes de sua prisão com as mãos. A música encheu os corações dos elfos de saudade e emoção, e fez mais que isso. Todos, inclusive Orion, foram tomados por um sentimento de confiança, de esperança. A melancolia de momentos atrás, quando Sam narrara sua morte, desapareceu por completo, dando lugar à coragem. Mesmo com Sam morto e sua alma aprisionada, fosse no colar, fosse na ametista de Zulil, sua magia ainda funcionava.

_ Seus poderes funcionam, Sam. Mesmo você estando preso, sua magia ainda chega até nós, assim como sua voz – comemorou Legolas.

_ Mas como isso é possível? – perguntou Anix, confuso.

_ Isso eu explicarei! – uma nova voz surgiu, vinda do colar. No pingente de Orion uma nova imagem se formava. O rosto de uma senhora idosa surgiu, envolto em mantos e exalando sabedoria. Era a mesma velha que tinha presenteado Orion com o amuleto. O desejo por conhecimento, uma curiosidade inexplicável tomou conta de todos, atordoando-os. Lucano imediatamente curvou-se ao reconhecer a figura que estava diante de todos. Era Tanna-Toh, a Deusa do Conhecimento.

A imagem da Deusa atordoava a todos. Sua presença emanava sabedoria, conhecimento, resposta para tudo que se desejasse entender. Mas também os contagiava com uma ânsia pela descoberta, o desejo de compreender desde a mais ínfima receita de bolo ao mais elaborado cálculo matemático. Sentiam vontade de largar tudo para trás para estudar, compreender e prever os padrões de crescimento de folhas de cada árvore que os cercavam. Desejavam conhecer quantos grãos de poeira estavam sob seus pés, queriam conhecer os padrões de movimento das estrelas do céu. Ansiavam por saber o que compunha a água em seus cantis, bem como os próprios cantis, suas roupas, armas e eles mesmos. Mas havia outras coisas mais importantes a saber. Agarraram-se aos seus objetivos como um leão que segura sua presa e ouvira o que a deusa tinha a lhes dizer:

_ Eu poderei lhes explicar esse mistério, se desejarem. Estou aqui para ajudá-los, para presenteá-los com o maior dos presentes, o Conhecimento. Mas, como já do saber de vocês, minha ajuda será restrita, limitada por regras que estão além de sua compreensão no momento. Poderei responder apenas três perguntas a vocês. Portanto, pensem muito bem no que desejam saber.

Os heróis se olharam e começaram a confabular. Depois de alguns instantes, chegaram a uma conclusão. Nailo disparou a primeira pergunta.

_ Senhora Tanna-Toh, gostaríamos de entender o mistério que envolve o nosso amigo Sam. Ele fala conosco como se estivesse vivo, mas nós o vimos morto. Desejamos saber se ele está realmente morto, assim como nossas esposas.

_ Bem, meu jovem – começou a deusa. – Seu amigo está de fato morto, mas não como suas esposas. Graças a meu poder, sua alma está desperta e pode se comunicar com vocês. Ele esteve todo esse tempo em suspensão, num tipo de transe. Não sentia nada, não via nem ouvia nada, assim como suas esposas, até despertar nessa ilha.

A resposta trouxe um pouco de paz aos heróis. Seu amigo estava morto, assim como suas mulheres. Mas, durante todo o tempo que passou, não tinha sentido nada, como se o tempo não tivesse existido. Da mesma forma suas esposas estavam num sono profundo e não sofriam. Anix se aproximou e fez a segunda pergunta:

_ E também queremos entender como ele se comunica conosco através desse pingente. Qual é o objetivo real desse colar?

_ Bem, esse colar é um presente meu para Orion e para vocês. Orion foi escolhido por mim para ajudá-los e para ser ajudado por vocês e por isso ele é o portador do colar. Assim como vocês, ele enfrentou grandes desafios e sofreu grandes perdas em sua vida. Ele os auxiliará em sua jornada, além de ser o portador do pingente e no final seus feitos ajudarão Orion a cumprir seu próprio destino e encerrar seu ciclo de sofrimento. Quanto ao colar, ele serve para permitir que vocês consigam contato com seu estimado amigo Sam. Isso foi possível porque Sam sempre foi um devoto leal a mim. Por isso eu conectei esta jóia à gema onde a alma de Sam está aprisionada, para que vocês possam conversar com ele. No entanto, o uso desse poder é limitado, vocês só poderão utilizá-lo apenas cinco vezes ao dia, sendo que a cada vez que o utilizarem poderão falar com ele por um período de dez minutos.

Restava ainda uma última pergunta. Os heróis ponderaram por um breve momento, discutindo qual seria a melhor pergunta a fazer para a deusa. Concordaram em usar a última pergunta para esclarecer sobre o futuro, para saber que perigos enfrentariam e com o que deveriam se preocupar realmente. Decidiram finalmente o que desejavam saber e coube a Anix novamente a tarefa de perguntar:

_ Senhora Tanna-Toh – disse o mago. ­– Queremos saber a verdade por trás das visões de Enola. Quem de fato é o nosso inimigo, sobre o qual ela nos alertou quando nos conhecemos?

_ Bem, se querem saber quem de fato é o inimigo de fala mansa com o qual vocês devem se preocupar, então lhes respondo. Ele sempre foi e sempre será aquele para cuja punição vocês foram escolhidos: Teztal. No entanto, a visão de Enola era para lhes avisar sobre a traição de Zulil, mas, por obra de Hyninn todas as visões foram distorcidas para se tornarem enigmáticas, para terem duplo sentido. Dessa forma, o inimigo de fala mansa sobre o qual a jovem Enola lhes avisou era Zulil, mas também era Teztal. E muitas outras pessoas com essa descrição vocês encontraram em sua jornada, amigos e inimigos, de forma que vocês sempre ficassem em dúvida sobre quem era o real inimigo. As traquinagens do Deus da Trapaça não pararam por ai, pois todas as visões foram bagunçadas por ele. Da mesma forma que o pequenino que trazia a chave para a libertação era o anão Guiltespin, também foi o espírito da anã que vocês encontraram em Khundrukar, assim como o seu amigo Glorin. O despertar da fúria foi o despertar faminto do Destruidor de Mundos, mas também foi a explosão de ódio de Legolas, quando ele chacinou a aldeia orc, foi também o surgimento do ódio e desejo de vingança em Zulil, quando vocês o derrotaram, e também foi o acordar dos poderes dracônicos de Squall, assim como a ira de Glorin, quando soube da morte de seu companheiro goblin. Mas, se desejam saber a quem temer em meio a essas profecias difusas, eu lhes digo que Zulil é apenas um infeliz fantoche nas mãos dos servos de Sszzaas. Seu maior inimigo sempre foi e sempre será aquele que atende pelo nome de Teztal.

Estava feito. Tanna-toh havia respondido as três perguntas como prometido, fornecendo como ajuda a elucidação de grandes mistérios nas mentes dos heróis. Entretanto, restavam ainda muitas questões a serem respondidas.

_ Senhora, antes que se vá, diga-nos o que aconteceu com Guiltespin, já que a senhora o citou – pediu Anix. A imagem da deusa começava a se desfazer no pingente.

_ O anão está bem, foi viver a vida dele. É possível que vocês o reencontrem algum dia.

_ E quanto ao Sairf, Tanna-Toh? Ele está vivo? Está feliz? – perguntou Legolas.

_ Sim, o mago está vivo e feliz. E vocês o reencontrarão no futuro.

A imagem da deusa sumiu, junto com sua voz. Restava apenas o rosto de Sam, emocionado com o que presenciara.

_ Bem meus amigos. Parece que temos novamente a tarefa de salvar não uma, mas cinco belas damas desta vez. Como disse a Mãe da Palavra, minha ajuda será limitada, então não podemos desperdiçá-la. Deixarei que vocês decidam quando minha presença será necessária. Chamem-me sempre que precisarem de mim.

Sam se despediu dos amigos e pouco tempo depois os dez minutos se esgotaram e a imagem do bardo desapareceu. Restava apenas o pingente como ele sempre fora. De posse de novos conhecimentos, o grupo prosseguiu sua jornada.

fevereiro 08, 2009

Capítulo 338 –...Novos poderes e um novo inimigo


O ninho tornou-se um acampamento provisório para o grupo. A coruja-mãe vigiava os visitantes e os arredores da borda de sua outrora tranqüila moradia. Seus novos inquilinos eram pessoas estranhas, embora não parecessem muito ameaçadores naquele instante. Um deles vestia roupas de tecido vistoso, portava um bastão incomum, repleto de espinhos grossos e afiados, como presas das feras que habitavam a ilha. Além disso ele escondia seu rosto. Usava uma tira rígida como pedra por cima da face, na qual estava desenhado um rosto simples, apenas dois olhos ornamentados com traços estranhos, nos quais havia aberturas para que seu dono pudesse enxergar. Ele agora dormia após ter sido atacado por outro dos visitantes, o mais assustador de todos, o dragão. Agora ele tinha a forma de um elfo, como os demais, mas antes tinha a aparência de um dragão. Magia, diziam os outros, mas esta magia também alterara o comportamento do elfo, pois, se antes ele se comportava de forma selvagem e cruel como um dragão verdadeiro, agora era alguém amigável, quase dócil. Atacara o estrangeiro que dormia, o qual chamava de irmão, com as garras dracônicas e fizera-o desmaiar, um comportamento anormal para dois irmãos de verdade. O dragão era constantemente acompanhado por um pássaro e trouxera o homem das espadas em suas costas. Outro elfo de hábitos assustadores. Saltara das costas do monstro com suas espadas em punho e um enorme e ameaçador lobo ao seu lado, avançara ameaçadoramente em direção a ela falando como um animal irracional, numa linguagem que ela própria não entendia muito bem, mas que sabia que era o linguajar usado pelas aves mais simples. Havia também o arqueiro. Era um elfo taciturno que trazia um arco em suas costas. Pouco falava com seus amigos e nenhuma palavra dirigira a ela. Ficava calado encostado na borda do ninho com uma face de carranca e olhar duro e frio como gelo. Tinha uma aura ao redor de seu corpo que parecia congelar as gotículas de umidade que se formavam de tempos em tempos e era um dos mais assustadores de todos, pois se todos naquele bando eram loucos ou perigosos de alguma forma, aquele elfo fazia o papel do louco calado aquele de quem nunca se sabe o que esperar ou o que temer. O último dos elfos, o que primeiro viera ao ninho, também a assustava. Dissera que o humano não era de confiança, justo ele que parecia o menos ameaçador do bando, e passava um longo tempo conversando com sua espada que, por mais estranho que aquilo parecesse, respondera a ele. Além disso ele caminhara no ar, como se andasse pelo solo, sem auxílio de asas, usando apenas magia. Aumentava e diminuía seu tamanho, também por magia. Ela conhecia magia, já a tinha visto diversas vezes em ação, mas ainda assim era algo misterioso a ela. Além do mais, o elfo rugira como a maior das feras da ilha, como se estivesse falando com ela, como se fossem aliados. O dragão também o fizera pouco antes de virem todos ao seu ninho, com a justificativa de tentar afugentar os predadores que rondassem a árvore. Por último havia o humano. Nenhum dos elfos parecia confiar nele, especialmente o carrancudo do arco, mas de todos no grupo ele parecia ser o mais normal. Era apenas um humano comum que trajava uma armadura e portava uma espada cuja lâmina ardia em chamas constantemente sem nunca derreter. Não rugia como os monstros, não tinha aparência ou comportamento de monstro, não congelava aquilo que tocava, não escondia seu rosto, não voava, não usava a enigmática magia. De todos era o mais normal, sua única estranheza era a espada em chamas, mas com a qual não conversava. Se havia alguém naquele estranho bando em quem ela pudesse confiar ou ao menos temer menos que os outros, esse alguém era o humano.

A ave despertou de seus pensamentos, não era hora para devaneios. O elfo desmaiado acordava.

Anix despertou ainda zonzo. A dor na cabeça havia diminuído bastante e quase desapareceu logo após ele ingerir uma poção mágica para curar suas feridas. Ao seu redor estavam seus amigos, fartando-se em um banquete criado magicamente por Lucano. Também havia uma gigantesca ave, uma coruja branca tão grande quanto um troll, com a qual Orion iniciava uma conversa. Para seu espanto, ambos conversavam em valkar. Sentia a fome e o cansaço naturais de quem viajava, mas não queria nem comer nem descansar. Desejava apenas tirar aquela dor de dentro de sua cabeça, entender o que lhe acontecia e descobrir o que era aquela imagem daquele olho que martelava sua mente de tempos em tempos.

_ Vou dar uma volta. Retornarei em breve – disse Anix. Sentia vontade de se isolar, se afastar do barulho de conversa dos companheiros.

_ Onde você vai, Anix? – perguntou Squall. – Vou com você.

_ Não! – negou o mago de súbito. – Não precisa, vou apenas dar uma volta, tomar um pouco de ar. Não irei longe.

_ Tem certeza que não quer que alguém o acompanhe? Você não parece muito bem – disse Legolas.

_ Estou bem, não se preocupem.

Partiu. Levava apenas sua bolsa com os componentes que utilizava para realizar suas mágicas e o seu cajado. Em instantes, desapareceu na escuridão.

_ Vou segui-lo – Squall ergueu-se resoluto. Apanhou um pergaminho, murmurou palavras mágicas e desapareceu. Invisível. Seguiu o irmão.

Anix caminhou pelo galho até encontrar o tronco volumoso da árvore em que estavam. Era uma coluna de madeira viva tão grande quanto uma casa. Sentou-se e apoiou as costas no tronco. Tirou a máscara do rosto, apoiou a cabeça sobre as mãos e aquietou-se. Não longe dali, Squall o observava de um outro galho, invisível.

No ninho Orion conversava com a coruja. Tentava tranqüilizá-la, ganhar sua confiança e desfazer a má impressão que seu grupo lhe causara. Seu nome era Galanodel, um nome élfico arcaico que significava Sussurro da Lua. A mais nova, sua filha, saíra a poucos dias do ovo e por isso ainda não tinha nome. Lucano simpatizara com o filhote e a acariciava ao juntar-se à conversa. Junto com Orion, contaram o que tinha acontecido, o que Zulil havia feito. Explicaram que vinham do continente e que estavam ali para encontrar o traidor, fazê-lo pagar por seus crimes e resgatar as almas de suas esposas e amigo. Galanodel demonstrava grande interesse no relato e parecia sensibilizada com a dor que os heróis sentiam. Orion percebeu isso em seu rosto e fez-lhe um convite.

_ Não gostaria de ir conosco? Acompanhar-nos em nossa missão? – perguntou o humano.

_ E por que eu iria? – indagou Galanodel.

_ Para nos ajudar – respondeu o guerreiro. – Além disso, você e sua cria estariam em segurança em nossa companhia. Você mesma viu que podemos lidar com os monstros que existem aqui.

_ Entendo. É uma proposta interessante – disse a coruja. – Mas vocês são tão estranhos, assustadores até. Não sei se seria prudente acompanhá-los ou mesmo confiar em vocês. Porém não lhe responderei agora. Esperarei a aurora e então tomarei uma decisão.

Orion disse estar de acordo e retomou a conversa, quando foi interrompido por um grito:

_ Squall! Eu sei que é você! Onde você está? Saia daí! – era a voz de Anix, distante, gritada.

Legolas e Nailo levantaram de prontidão, pegaram as armas, montaram na vassoura mágica e voraram em direção à voz. Lucano os seguiu logo depois dizendo a Orion para permanecer protegendo Galanodel e sua filha. Encontraram Anix sem dificuldade. Estava assustado, descontrolado. E havia algo muito estranho com ele, algo que nunca tinham visto ou imaginado antes. Um olho. Brotava da testa de Anix um olho amarelado que os encarava de forma perturbadora.

Entre os gritos incongruentes de Anix os demais elfos conseguiram compreender em parte o que acontecera. Anix havia retirado a máscara, sentia uma dor em sua cabeça que o incomodava constantemente desde que tinha saído do círculo de pedra eiradaan. Também tivera sonhos estranhos naquela noite, imagens que se emaranhavam, olhos que surgiam aqui e ali e se juntavam até formar um gigantesco olho amarelo envolto por trevas. Anix havia se afastado do grupo para se concentrar naquilo. Acreditava que com sua magia poderia entender o que lhe acontecia. Concentrou-se em tirar aquela dor de sua cabeça e sentiu que algo de fato saia de dentro dela. A imagem do olho formou-se em sua mente outra vez, dessa vez acompanhada de um sorriso ardiloso de dentes pontiagudos. Sentiu algo saindo de si, uma aura mágica que reconheceu como uma magia de encantamento, para enfeitiçar criaturas. Sentiu também seu corpo ficando fraco, suas forças se esvaindo e uma tontura dominando-o. Segurou a cabeça, esfregou os olhos e percebeu que, embora de olhos fechados, ainda enxergava, em preto e branco.

Anix ficou em pânico quando Legolas lhe mostrou o seu reflexo na lâmina da espada, quando viu seu terceiro olho pela primeira vez. O arqueiro mencionava que vira documentos descrevendo sobre experiências com olhos de beholder quando Anix havia sido seqüestrado, assustando-o ainda mais. Estava confuso e perturbado, queria fugir dali, queria fugir de seus amigos. Queria ficar sozinho, já que não poderia fugir de si mesmo, e tentar dominar aquilo com sua mente. Já que sua concentração havia feito aquilo surgir, deveria ser capaz de fazê-lo desaparecer, ou então ao menos compreender o que era aquilo.

_ Vão embora daqui! Deixem-me sozinho! – gritava o mago agitando a mão expulsando os amigos.

_ Nós não vamos, Anix! Você não está bem! Vamos ficar e ajudá-lo! – disse Lucano usando magia para descobrir se alguma mágica estava agindo sobre o amigo. Anix recusava a ajuda, gritava enlouquecidamente mandando todos embora e ameaçando-os. Não parecia o Anix de sempre. De fato aquele não era o Anix que conheciam. Legolas sentiu que algo estava errado.

_ Quem é você? O que fez com o Anix? Desgraçado, pare de controlá-lo! Solte-o! – vociferou Legolas apontando seu arco carregado para o novo olho do companheiro. Na mente do arqueiro idéias começavam a se formar. Anix só podia estar dominado por alguém e ele já tinha escolhido um culpado: Zulil. – Largue-o! Vá embora, maldito!

Vendo a reação de Legolas, Nailo preparou suas espadas para atacar, ainda que relutante. Lucano tentava em vão descobrir que magia fizera aquilo a Anix, Legolas estava quase disparando a primeira flecha, quando ouviram uma voz em suas mentes. Era Squall:

_ Eu estou aqui atrás e vi tudo o que aconteceu. Esse olho apareceu na testa do Anix, veio de dentro dele, e usou um poder mágico para invadir minha mente e tentar me controlar. Cuidado – disse o feiticeiro dentro das mentes dos companheiros. Todos permaneceram estáticos por um momento, Anix tentava convencê-los de que estava bem:

_ Parem com isso! Já disse que estou bem! Só quero ficar sozinho! – gritava o mago. – Eu sou o Anix de sempre, e posso provar. Seus nomes, Legolas, Nailo e Lucano. Nailo, seu pai se chama Nailox e sua mão se chama Esparta. Como eu saberia disso se não fosse eu?

_ Cala a boca, desgraçado! Você dominou a mente dele e consegue ver os pensamentos e memórias do Anix! Não vou ser enganado por você! Vá embora e deixe meu amigo em paz! – gritava Legolas.

Squall tentou acalmá-lo, usando sua mágica para conversar telepaticamente com os amigos, mas, temendo estarem caindo em uma armadilha, não confiaram naquilo que ouviram.

_ Saia da minha mente, desgraçado! – gritou Legolas. Squall continuava tentando acalmar Legolas, provar que era ele mesmo. Em suas tentativas, foi ouvido por Nailo.

_ Folhas atendam ao meu comando e prendam meus inimigos! – gritou Nailo. Os ramos e folhas da árvore se moveram e engolfaram Squall num abraço sufocante. Todas as atenções se voltaram para o prisioneiro de Nailo. O ranger foi até ele, pronto para atacá-lo. – Muito bem, agora você não poderá fugir. Diga quem é você ou então eu vou retalhá-lo!

_ Nailo, sou eu, Squall, seu idiota! Solte-me!

O Guardião reconheceu a voz do amigo e sua forma por trás das folhas e vinhas. Legolas ainda não se convencera e Lucano, sentindo que não havia motivos para se preocupar, já começava a retornar para o acampamento no ninho. Vendo a distração dos amigos, Anix se jogou no abismo.

_ Anix! – Legolas subiu na vassoura mágica e se jogou atrás do amigo. Anix já flutuava, seis metros abaixo, graças à sua mágica. – Solte o Anix! – bradou o arqueiro.

_ Eu já disse pra me deixar em paz! Vá embora daqui! – gritou Anix. E foi inevitável. Uma agulhada na testa lembrou-o de seu novo olho e por impulso seus pensamentos se moveram para ele. Um raio serpenteante de energia negra foi disparado do olho maligno e atingiu o corpo de Legolas. O peito do arqueiro pretejou envolto em uma aura de trevas e uma dor aguda se manifestou enquanto a vida de Legolas diminuía como que por uma lâmina afiada cravada em seu peito. Anix sentiu suas energias se esvaindo novamente, mas não se importava mais com isso.

Metros acima, Nailo finalmente libertava Squall após reconhecê-lo. Mas, como o feiticeiro permanecia invisível, o Guardião mantinha uma lâmina apontada para seu pescoço por precaução.

_ Já disse que sou eu, seu idiota. Agora vire essa espada para lá – irritado, Squall deu um tapa na espada, afastando-a de si e ao mesmo tempo provocando a dissipação de sua magia de invisibilidade. Com todas as dúvidas desfeitas, ambos correram para o lugar onde Legolas e Anix tinham saltado. Lucano também se aproximava, retornando após ouvir os gritos e ameaças de Legolas e Anix. E o que os três viram deixou-os perturbados.

_ MALDITO!!! – urrou Legolas. Seus olhos tornaram-se brancos, sem pupilas, e uma aura gélida se espalhou pela árvore, espalhando pânico entres as pequenas criaturas que nela habitavam, chegando até os companheiros acima e deixando-os transtornados. Tomou impulso na ponta da vassoura mágica e saltou sobre Anix, agarrando-o.

Os dois se enroscaram empurrando-se e socando-se. Anix perdeu o controle do vôo e afastou-se mais e mais do local de onde saltara. Conseguiu agarrar Legolas pelo pescoço e mirou seu olhar frio e aterrorizante com seus três olhos. Concentrou-se no olho em sua testa, sentiu sua vitalidade sendo drenada por ele e sentiu prazer nisso.

_ SAAAAAAAIIIIIIIIII!!! – Anix berrou ainda mais alto enquanto estrangulava Legolas, seu olho maligno disparou um novo raio direto sobre a cabeça do arqueiro. Uma aura o envolveu por completo e Legolas sentiu seus membros enrijecendo, seus músculos e ossos pesados, lentos. Era o fim.

Legolas sentia-se estranho, como nunca havia acontecido antes. Estava confuso e catatônico. Tinha apenas uma certeza, Zulil vencera, da pior forma possível. Dominara um de seus amigos e o voltara contra ele. Essa era a pior traição que poderia existir. Legolas soltou-se de Anix e se atirou no abismo que se abria abaixo. Não havia mais volta, só o fim. Era inútil continuar lutando.

O arqueiro despencou rapidamente. Retomando a consciência e percebendo o que fizera, Anix se lançou atrás dele, desesperado. Mais acima, Squall transformou-se em dragão e se atirou atrás dos dois. Lucano, que acabara de retornar, também saltou atrás dos amigos. No alto da árvore, a esperança residia em Nailo. Sério, calmo, com a mente em prontidão e os pensamentos claros como vidro, o ranger evocou o nome de Allihanna.

_ Natureza, atenda ao meu comando! – gritou Nailo. Ramos, folhas e galhos da árvore obedeceram, juntando-se num emaranhado abaixo dos companheiros e formando uma grande rede. Legolas chocou-se na armadilha de Nailo e foi agarrado por ela. Anix veio em seguida, pousando sobre o amigo, tentando acordá-lo ao mesmo tempo em que era agarrado pelas plantas. Squall chegou em seguida, agarrando os dois com suas poderosas garras e sendo agarrado pelas folhas. Lucano caiu próximo a eles, e também foi embrulhado num manto de folhas vivas. Nailo desceu até próximo ao grupo, recolheu a espada de Legolas da rede de folhas e tentou colocar ordem na situação:

_ O que vocês pensam que estão fazendo? O que pensam da vida? Somos um grupo! Parem de brigar entre si. Temos uma missão a cumprir, há pessoas que dependem de nós. Por isso não podemos nos dar ao luxo de falhar na missão. Agora recomponham-se e vamos voltar ao acampamento. Amanhã teremos um longo dia pela frente.

_ Nailo! Eu acho que matei o Legolas! Ele não responde! Eu o matei! Glórienn, não! – choramingou Anix, antes de desmaiar.

Nailo dissipou a magia sobre a árvore e os galhos recuaram. Squall segurou os dois amigos e voou com eles de volta ao ninho. Nailo chamou pela vassoura mágica e com ela resgatou Lucano que estava pendurado em um ramo. E finalmente o grupo voltou a se reunir no acampamento. Após mais um tormento em suas vidas, conseguiram finalmente dormir. Na mente inconsciente de Anix, uma criatura maligna sorria. Graças a Galrasia e ao poder mágico do mago, finalmente o observador despertara.