O dragão que era Squall pateava o corpo carbonizado do dinossauro enquanto rugia
_ Você está bem? – Nailo grunhia e piava, emitia sons animalescos, que somente as criaturas de Allihanna compreendiam, para tentar se comunicar com a coruja. A ave se assustou ainda mais e refugiou-se atrás de Orion.
O guerreiro abaixou sua espada em sinal de paz, cumprimentou os dois companheiros e se voltou para a coruja:
_ Não se preocupe. Eles não vão feri-la. São meus amigos, estão do nosso lado. Você está bem? – disse o humano, estendendo lentamente a mão direita na direção do pássaro.
_ Estou bem, obrigada – respondeu a coruja. Usava o mesmo idioma que Orion, a coruja falava o Valkar tão bem quanto qualquer um dos presentes. – O que esse monstro faz aqui? Como você pode ser aliado dele? – perguntou por fim.
_ Ele não é um monstro. Ele é um elfo, é parecido comigo – disse Lucano, dissipando a magia e retornando ao tamanho normal. – Ele ficou daquele jeito usando um poder mágico. Magia. Já ouviu falar?
A coruja fez que sim.
Squall rugiu novamente, cuspiu fogo para o alto e dirigiu-se para Nailo:
_ Vamos Nailo! Vamos embora daqui, vamos encontrar os outros! – Squall ainda rugia, falava na língua dos dragões.
Nailo guardou as espadas, agarrou Relâmpago e montou nas costas do dragão. Os dois partiram causando estardalhaço, cada batida de asas, acompanhada de um rugido de desafio, levantava penas, derrubava folhas, galhos e cascas de ovos do ninho. Os dois rumaram para o alto do abismo, onde Legolas e Anix os esperavam.
_ Não se assuste. Vou usar uma magia para curar seus ferimentos. Você não sentirá nenhuma dor – Lucano pousou sua mão sobre o corpo da ave e fez uma prece. O milagre de Glórienn se manifestou e todos os cortes se fecharam. A coruja estava saudável novamente. Vamos Orion. Precisamos encontrar os outros.
Lucano foi até a borda do ninho, derramando uma bênção sobre seu corpo. Aproximou-se da coruja menor que estava pousada ali, observando, e fez uma carícia. Depois deu um passou para fora da árvore e começou a caminhar em pleno ar, como se as mãos de sua deusa apoiassem seus pés enquanto ele andava. Fez um gesto, chamando Orion e com outro convidou a pequena coruja a lhe acompanhar. A pequena ave olhou para a maior, como se pedisse sua aprovação.
_ Preciso chegar até a borda do abismo, onde estão meus amigos, mas não tenho asas. Poderia me emprestar as suas? Poderia me levar até lá em cima? – pediu Orion à coruja gigante.
_ Vocês salvaram minha vida. Estou em dívida com vocês. Mas são estranhos, aliados de monstros. Não sei se posso confiar em vocês – respondeu a ave.
_ Não lhe faremos mal – disse Orion.
_ Ouça, - era Lucano – eu não confio totalmente no humano, mas não há motivos para duvidar do que ele diz. Não temos intenção de feri-la. Caímos aqui e apenas desejamos retornar lá para cima.
_ Por que você não confia nele? – perguntou o pássaro.
_ É uma história longa. Ele não é da mesma raça que eu e meus amigos e eu já fomos traídos por pessoas que se disseram nossas amigas no passado. A lealdade do humano ainda está sendo testada. Mas o que ele diz é verdade, não vamos lhe fazer mal. Confie no que você sabe, no que viu aqui hoje. Faça seu próprio julgamento a nosso respeito e decida se deve ou não confiar em nós – respondeu o clérigo.
A coruja ponderou por alguns instantes. Olhou para Orion, como se o medisse e finalmente tomou sua decisão.
_ Venha humano. Vou levá-lo até seus amigos – disse ela, abaixando-se e abrindo as asas para Orion montá-la. Depois se voltou para a menor e sussurrou para ela alguma coisa em uma língua que o guerreiro não compreendia.
_ Não se preocupe. Não farei mal à ela – disse Lucano, que compreendera a mensagem.
Orion subiu cuidadosamente na coruja gigante, tentando não machucá-la. Sabia que ela não era uma criatura feita para servir de montaria, como um cavalo, e por isso temia feri-la. Mas, estranhamente, a ave parecia estar familiarizada com aquela situação, como se já tivesse sido montada antes.
_ Ela é sua filha? – perguntou o humano.
_ Sim! – respondeu a coruja gigante, tomando impulso e alçando vôo.
● ● ● ● ● ●
Lucano caminhava para cima como se subisse uma escada. A coruja filhote voava em círculos ao seu redor quando ele teve uma idéia. Desejava chamar a atenção de seus amigos, para ser localizado por eles, mas também queria algo mais. Era uma chance perfeita para pregar-lhes uma peça, assustá-los. Era a vontade de Hynnin se manifestando uma vez mais.
Lucano invocou seu poder arcano, ao invés do poder de sua deusa, e sua voz se transformou. O clérigo rugiu e sua voz ecoou pela fenda que rasgava a terra de Galrasia. E no lugar de um elfo, ouviu-se um dinossauro. O tiranossauro atroz.
As corujas se assustaram, a menor voou para junto da mãe, que também se distanciava do elfo. Orion tentava desfazer a confusão gerada por Lucano, explicava que aquele era um sinal de comunicação para chamar seus amigos, mas era tarde. Para alegria de outro deus, o caos se espalhava.
Lá em cima, Squall e Nailo se aproximavam dos companheiros quando viram algo estranho. Legolas controlava o vôo da vassoura mágica, conduzindo-a para baixo em grande velocidade. Junto a ele estava Anix, pálido. O mago segurava a cabeça, apertando a máscara que cobria seu rosto quase a quebrando com a mão nua. Gritava e gemia de dor, e pedia para Legolas levá-lo para o fundo do abismo. O dragão fez a volta e os seguiu. Foi então que ouviram o rugido.
_ É aquele dinossauro gigante! – gritou Nailo. – Aonde vocês vão?
_ Para baixo! O Anix não está bem! – gritou Legolas.
_ Mas o dinossauro está lá! – alertou o ranger inutilmente.
No meio do trajeto encontraram Orion e Lucano. Legolas contou da aflição de Anix e, quando passava por eles em direção ao fundo do abismo, Orion os deteve:
_ Espere Legolas! Há um lugar mais perto e mais seguro. Siga-me! – Orion acenou para o arqueiro e pediu à coruja que os levasse de volta ao ninho. – Meu amigo precisa descansar. Não se sente bem. Podemos ficar em seu ninho?
_ Está certo. Vou levá-lo de volta – disse a ave.
Assim o pássaro fez. Deu a volta e desceu, retornando ao seu ninho. Os heróis a seguiram e lá pousaram. Anix desceu da vassoura e começou a andar de um lado para outro, inquieto, apertando a própria cabeça. Squall foi o último a chegar, junto com Nailo, esperou que o companheiro descesse de suas costas, foi até o irmão e o abraçou com suas patas.
_ Não se preocupe, Anix! – disse ele na língua dos dragões. – Tudo vai ficar bem! – E Squall apertou o corpo do irmão de forma esmagadora, expulsando o ar dos pulmões do elfo enquanto tapava-lhe boca e nariz. Anix desmaiou. Não sentiu mais dor nem viu mais nada. Em sua memória restava apenas uma imagem: um olho amarelo envolto em trevas.
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