novembro 28, 2005

Férias Forçadas

O Crônicas Artonianas tirou uma semana de férias forçadas. Pois é, época de provas finais da escola, os jogadores estão com problemas de comparecimento às sessões de jogo.
Creio que no próximo sábado tudo se normalize e nós finalmente possamos terminar a saga Forja da Fúria.

novembro 18, 2005

Outras versões










Olhai outras versões menos monstruosas (e mais tentadoras) da Idalla.
Ah! Legolas, ela tinha cabelos vermelhos, a mesma cor dos da tua noivinha huahahaha
O que será que este mestre caótico e malvado fez com ela, hein???

BWAHUAHUAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

Nova novela: O beijo do capeta ^_^


O Anix se f..., lá lá lá lá lá lá
O Anix se f..., lá lá lá lá lá lá
hiuaheiuaheiauheiauheiuaehiuae
É issai, se ferrou mermão, beijou o capeta, agora teu bilau vai cair, adeus Juca Bala
hihaeiuahieuahieuhaieuahieuhaieuhaiueahe

Olha aí a figuraça!

Capítulo 143 - Boneco assassino

Momentos antes, Legolas havia saído para investigar as outras salas, enquanto Anix caia inocentemente nas garras de Idalla. Seu coração doía por saber que sua noiva ainda estava em outro lugar, perdida e desamparada. Legolas se sentou sobre a mureta do poço, segurando as lágrimas e meditou por alguns instantes. Quando não agüentou mais a ansiedade, abriu a porta que estava à sua frente. Lá dentro, havia restos do que antigamente foram móveis. Pedaços de cadeiras e de uma mesa destruídos e profanados pelos orcs se espalhavam pelo piso. Legolas revirou a sala em busca de uma passagem secreta ou de uma pista que o levasse até sua amada. Só o que encontrou foi uma bela taça de ouro, ornamentada com pequenos rubis, que pertencera ao império de Durgedin. Legolas guardou o tesouro em sua mochila, aqueles objetos recolhidos seriam úteis no futuro para pagar a recuperação do grupo e os estragos causados pelos orcs na vila, e seguiu para a porta ao lado. Na outra sala, somente os cadáveres despidos e retalhados de um bando de orcs, mortos na batalha contra Durgedin e seu clã.
Sairf passou pelo salão, indo em direção ao corredor. Legolas o seguiu pois sabia que sozinho aquele mago poderia arranjar problemas. Pouco depois chegaram Nailo e Sam para ajudar. Sairf entrou na sala já visitada por Nailo e viu os corpos do humano e do duergar. Na porta em frente, os outros três se reuniram. Nailo soltou todo o peso de seu pé na porta, rompendo o trinco enferrujado e abrindo-a. Os três entraram em uma sala quadrada de nove metros de lado. Fileiras de suportes de armas vazios e dezenas de estantes para armaduras, também vazias, distribuíam-se por todo o lugar, indicando tratar-se de um arsenal há muito saqueado. Alguns escombros recobriam o assoalho - pedaços da laje, estantes destruídas, manequins de armas destroçados. Legolas e Nailo caminharam lentamente pelo salão, observando cada canto, cada estante, cada suporte, cada manequim. Legolas foi surpreendido ao passar ao lado de um manequim de madeira, construído para se fazer reparos em armaduras. O manequim ergueu sua mão de carvalho acima da cabeça de Legolas e o bateu com força.
Nailo correu para ajudar o amigo, tirando uma lasca do boneco com sua espada. Legolas guardou o arco e pegou sua espada, atacando o ponto atingido por Nailo. Sam entrou na sala e tocou sua melodia para inspirar os dois heróis que combatiam fervorosamente. Sairf correu e deu o alarme para seus companheiros.
Nailo sacou sua espada curta e atacou com todas as armas o boneco. Ao lado dele, Legolas atacava com igual vontade. O manequim recebeu vários golpes, mas a dureza de seu corpo o resguardava dos ferimentos de seus oponentes.
Contra-atacou Nailo, golpeando-o no pescoço. O ranger recuou com a força do manequim, mas Sairf chegou para auxiliá-lo. O mago evocou uma de suas magias e transformou o solo abaixo do boneco numa área traiçoeira e escorregadia. O boneco caiu no chão, escorregando na gosma sob seus pés, dando oportunidade para Nailo e Legolas atacarem. Os dois arrancaram pedaços do boneco com suas espadas, uma mão inclusive, quando os outros finalmente chegaram para ajudar. Lucano disparou uma flecha no estranho inimigo, mas quase feriu Legolas com ela. O manequim começou a se levantar lentamente para atacar os heróis e, mesmo sem uma das mãos, parecia não sentir qualquer dor ou cansaço. Todos ficaram boquiabertos e admirados com a resistência da criatura, mas Squall pôs um fim à suas existência. Da porta de entrada, o feiticeiro disparou uma rajada energética no alvo. Seus poderosos mísseis mágicos explodiram a cabeça da criatura de madeira, eliminando mais uma ameaça.
Ao mesmo tempo, longe dali na biblioteca, Anix revirava o quarto em busca de alguma pista sobre o paradeiro ou a real origem de Idalla. Mas nada encontrou. Da mesma forma, o restante do grupo buscava por pistas dentro da sala de armas, mas nada foi encontrado. Todos sabiam que deviam encontrar um corredor secreto, mas não sabiam, ou não lembravam, onde procurá-lo. Restavam ainda algumas salas para investigar, então, a esperança de salvar Liodriel ainda estava viva.

Capítulo 142 - Anjo ou demônio?!

Sem a presença do atrapalhado Sairf, a moça se acalmou e, aos poucos foi começando a contar sua história. Seu nome era Idalla. Vinha de uma vila nas redondezas do dente de pedra, uma vila tão pequena que nem nome possuía. Idalla havia sido capturada por um mago cruel que a desejava talvez pelo fato de ainda ser pura. Anix percebia essa pureza enquanto olhava profundamente dentro dos olhos da jovem e segurava suas mãos para confortá-la. O mago, cujo nome era desconhecido, aprisionara a pobre donzela naquela sala, dentro daquele complexo recheado de monstros terríveis e criaturas medonhas. Nailo se lembrou neste instante do que havia visto numa das salas do corredor, antes de chegar à biblioteca. Uma sala onde havia dois corpos, um anão semelhante aos duergar, mas nas proporções normais de um anão, e um humano, com uma longa barba, de aparência frágil. Os dois estavam completamente nus. Talvez aquele homem fosse o tal mago que Idalla temia, pensou ele. Segundo ela, o mago deixava sempre monstros a vigiando do lado de fora da sala, para impedir que ela pudesse tentar fugir. Mesmo sendo mentira, Anix e Nailo disseram que haviam matado esses monstros, ganhando ainda mais a confiança da jovem. Nailo tentava se aproximar dela, mas aparentemente, Idalla havia simpatizado mais com Anix do que com ele. Seus olhos negros fitavam os de Anix enquanto ela segurava suas mãos com delicadeza. Idalla estava transtornada e a todo tempo pedia para que os heróis a levassem embora dali. Tinha medo de que o terrível mago voltasse. Pelo pavor que ela expressava ao mencioná-lo, era fácil supor o quão cruel ele deveria ser. Idalla revelou que o mago tinha aliados. Um metamorfo, uma criatura estranha com a habilidade de mudar sua aparência conforme sua vontade, vivia num lugar chamado Salão do Esplendor e, segundo ela, era subordinado ao mago. Uma outra criatura também seguia as ordens deste mago. Era um imenso dragão que segundo ela, habitava o andar inferior das cavernas junto de seu mestre. A história de Idalla coincidia com os elementos que haviam sido revelados aos heróis em sonho e com suas próprias suposições. . Idalla também disse algo mais sobre o clã de Durgedin. Segundo o mago havia lhe contado, o pobre anão havia perecido nas mãos dos orcs e estes, rogado maldições sobre o pequeno para que sua alma não descansasse jamais. Além disso, um grande guerreiro orc havia ficado incumbido de vigiar o corpo de Durgedin por toda a eternidade para impedir que ele pudesse se levantar novamente.
Nailo serviu um pouco de sua ração de viajante para Idalla e um pouco de água. A jovem se saciou, como se não comesse há muito tempo e continuou sua trágica história. O mago sempre a ameaçava e a maltratava. Era ele o responsável por ter rasgado o vestido da donzela. Aparecia somente de vez em quando, para lhe trazer comida e já fazia dois dias que ele não retornava. Durante esse tempo, quase um ano trancada ali dentro, Idalla se distraia lendo os livros da biblioteca que em sua maioria tratavam da história do povo anão e do clã de Durgedin. Idalla dormia numa cama que ficava na saleta ao lado, onde Sairf havia ido há pouco. Neste instante inclusive, sua narrativa foi interrompida pela passagem do mago que se retirou e foi ao encontro de Legolas, fora da sala. Lucano também já estava de volta, recém saído de dentro do guarda-roupa e ouvia ao triste relato.
Nailo jogou sobre os ombros da donzela a sua capa, num gesto de carinho e ternura. Idalla agradeceu o ato bondoso do ranger, mas, mesmo assim, era para o mago que seus olhos brilhavam mais forte. Anix e Nailo perguntaram sobre Liodriel, mas Idalla não soube responder onde a dama elfa estava, já que nunca havia saído daquele lugar. Além disso, havia chegado até ali com os olhos vendados pelo seu captor. Então Nailo tomou uma decisão. Ficariam ali aguardando o retorno do mago para surpreendê-lo e derrotá-lo. Depois seria a vez do dragão. Dessa forma, atacando cada um em separado, seria mais fácil obter a vitória, resgatar Liodriel e retornar em segurança para a superfície. Mas, Idalla não concordava.
_ Não! Não podemos ficar aqui! É perigoso, o mago é muito poderoso! Temos que ir embora! Temos que fugir! Eu não quero ficar mais aqui! Deixe-me sair desse lugar! Leve-me daqui! Deixe-me ir! – a moça gritava desesperada. Seus olhos, já tomados pelas lágrimas, fitavam os de Anix como se implorassem pela liberdade.
_ Não se preocupe Idalla! Nós vamos tirar você daqui! Mas não agora, antes precisamos salvar a noiva de nosso amigo! Depois nós a levaremos embora! – Anix tentava confortá-la.
_ Por favor Senhor Anix, tire-me desse lugar! Deixe-me ir embora! – Idalla abraçou forte o mago.
_ Não posso deixá-la sair assim sozinha! É perigoso! – explicou Anix enquanto suas mãos desciam pelas costas da donzela.
_ Então ao menos deixe que eu vá embora daqui junto de vocês! Só não quero mais ficar aqui! – Idalla olhava para Anix com ternura.
_ Não, é perigoso! Além do mais nós precisamos de um lugar para descansar antes de enfrentar o mago que pegou você! – respondeu Nailo.
_ Então pelo menos vamos sair daqui! Vamos para um outro lugar que seja mais seguro! Deixe-me sair daqui! – insistiu Idalla.
_ Mas esse lugar é o mais seguro Idalla, só tem uma entrada e a gente pode deixá-la fechada para impedir a entrada de monstros! E quando o mago voltar, nós o pegaremos de surpresa! – explicou novamente o mago.
_ Não! Isso é loucura! Temos que sair daqui! Aquele mago colocou uma magia poderosa aqui! Aqui dentro seus poderes são duplicados! Não há como vencê-lo aqui! Leve-me daqui senhor Anix! Deixe-me ir embora desta prisão! – abraçada ao mago, Idalla tentava empurrá-lo para fora da sala. Estava em total desespero.
Anix sacou sua varinha mágica e, enquanto abraçava Idalla, ativou seu poder de detecção. Estranhamente, Anix não sentiu nenhuma aura mágica dentro do lugar. Ou Idalla havia mentido, ou ela havia sido iludida pelo mago, ou então o tal mago era muito mais poderoso do que se podia supor.
_ Vamos embora daqui, por favor! Não me deixe presa aqui por mais tempo! Há quase um ano eu espero pela oportunidade de sair desse lugar! Aquele mago malvado disse que se eu não me comportasse, iria mandar o dragão me comer! Ele me batia, tentava me violentar naquela cama, me deixava sem comida ou água por vários dias, era tortura demais! Por favor Anix, eu quero ir embora! Deixe-me sair daqui, eu irei com vocês, ou me esconderei em outro lugar, mas por favor, deixe-me sair daqui!!! – Idalla ora sacudia Anix, ora o abraçava.
Era visível o estrago que o mago havia causado naquela pobre jovem de aparência angelical. Deixá-la ali dentro por mais tempo seria ser tão cruel quanto aquele homem que a havia aprisionado. Seria ser tão cruel quanto o maldito que controlava os orcs, o dragão e que havia raptado Liodriel. Pensando nisso, Anix finalmente resolveu atender ao apelo da dama.
_ Está certo, você tem razão Idalla! Nós iremos embora daqui! Tome, vista isso! – Anix retirou seu manto e o colocou na jovem que se vestiu enquanto exibia suas deliciosas curvas para o mago, como se o provocasse.
Nailo recolheu sua capa, já decepcionado. Parece que o único que conseguia maiores intimidades com as mulheres que o grupo encontrava era Anix. Era ele quem havia conquistado o coração de Enola. Era ele quem havia flertado com a irmã de Liodriel. E agora era ele quem fazia o coração de Idalla bater mais forte. Nailo se levantou e caminhou para a porta. Anix, abraçado com Idalla, foi seguindo o ranger alguns segundos depois.
_ E então Anix! Finalmente eu poderei sair desse lugar! Posso ir embora daqui agora? – o coração de Idalla pulsava forte. Ela parecia não acreditar que seria finalmente libertada e precisava ouvir a resposta para crer no que acontecia.
_ Sim Idalla! Você pode ir embora daqui agora! Você está livre finalmente! – respondeu Anix.
Nesse momento, idalla empurrou Anix para trás, livrando-se de seu abraço e olhou-o nos olhos.
_ Verdade? Posso ir embora mesmo?
_ Sim!
Idalla deu um passo em direção a Anix e o agarrou com força pelos cabelos. Seus lábios se tocaram e o mago provou o mais doce e caloroso beijo que já provara em toda sua longa vida élfica. Suas línguas se entrelaçaram freneticamente, girando dentro de suas bocas e deixando Anix atordoado e sem fôlego. Após poucos segundos, que pareciam uma eternidade, Idalla largou Anix, que a olhava sem fôlego.
_ Esqueci, tenho que pegar uma coisa! – Idalla correu até a porta do quarto aberto por Sairf. – E lembre-se Anix! Tome muito cuidado aqui dentro! Nem tudo é o que parece ser! – seus olhos fitaram os de Anix maliciosamente e depois brilharam por uma fração de segundo.
Anix se assustou e não entendeu o que Idalla queria dizer com aquilo, então correu até o quarto. Lá dentro, Anix viu uma criatura deslumbrante despindo-se de seu manto e atirando-o sobre a cama. Seus cabelos, agora vermelhos como o fogo, agitavam-se enquanto ela terminava de se despir. Ela se virou para Anix, exibindo seus belos seios, fartos e perfeitamente redondos, bem como todo o resto de seu corpo escultural. Toda aquela beleza tentadora de Idalla possuía também um aspecto macabro. Duas enormes asas de morcego, presas as costas da moça, balançavam com graça. Uma cauda lisa partia de trás de jovem e se projetava para frente, dançando diante de Anix num movimento hipnótico, enquanto sua ponta, que terminava numa seta, alisava seus belos seios de forma maliciosa.
_ Ah! Finalmente estou livre! Obrigada Anix! Adeus! – seus olhos emitiram um brilho sinistro antes que Idalla desaparecesse diante dos olhos de Anix.
Assustado, o mago usou sua varinha para tentar localizá-la magicamente. Não conseguiu. Buscou em sua memória os estudos mágicos que fazia e concluiu que ela havia usado uma magia que estava além de seu alcance no momento. Teletransporte.
Anix retornou para a biblioteca, bestificado com o que acabara de presenciar. Seus olhos não acreditavam no que haviam visto, e sua mente não compreendia o que se passara ali. Sam, Nevan e Lucano o indagaram sobre o que havia acontecido. Tudo o que Anix respondia é que Idalla havia se teletransportado para fora dali. Foram confirmar e não encontraram nenhum sinal da jovem. Anix se sentou, olhando para o vazio enquanto dúvidas permeavam sua mente. Nevan tentou reanimá-lo, mas parecia impossível. Tentou convencê-lo a ir ajudar Sairf, Legolas e Nailo que haviam saído para explorar o corredor, mas não conseguiu. Anix ficou invisível, e decidiu permanecer ali sozinho. Nevan se recusou a deixá-lo, mas Sairf o obrigou a mudar de idéia.
_ Nevan! Anix! Lucano! Squall! Corram aqui depressa, tem um manequim atacando Legolas! Venham rápido! – gritava Sairf.
Nevan correu, deixando Anix perdido em seus pensamentos. Era o inicio de mais uma batalha pela salvação de Liodriel.

novembro 17, 2005

Capítulo 141 - A bela dama

Após a porta, Sairf encontrou um aposento repleto de livros empilhados em estantes que ocupavam todas as paredes. O local cheirava a mofo, e uma fina camada de poeira se agitava conforme Sairf deslocava o ar com seu movimento. À esquerda e ao fundo havia duas portas de madeira simples, sem reforços, sem proteções. Sobre uma grande mesa circular no centro da grande biblioteca havia pilhas e mais pilhas de grossos tomos empoeirados e embolorados. Sentada sobre uma cadeira, diante da mesa, havia uma bela jovem, de longos e sedosos cabelos negros como o manto de Tenebra. Seu vestido tinha um tom lilás desbotado e deixava à mostra todas as belas curvas da moça por entre os rasgos que possuía em seu tecido envelhecido.
_ Ah! Quem são vocês? O que querem? Por favor não me façam mal! – implorou a jovem com sua voz doce e trêmula enquanto chorava e soluçava. Seus belos olhos negros, grandes e arredondados, tinham lágrimas que escorriam pela sua tez branca e macia.
_ Calma! Não viemos lhe fazer mal! Viemos ajudar! – respondeu Sairf se aproximando da moça.
_ Vocês vieram me salvar? Vieram me tirar daqui? Quer dizer que finalmente eu posso sair daqui? – os olhos da jovem brilharam de felicidade.
_ Não! Não é bem assim! Na verdade nós não viemos salvar você! Nós viemos... – Sairf tentava se explicar.
_ Então vocês são amigos daquele mago malvado? Por favor não me façam mal! Eu só quero ir embora daqui! Me deixem sair, por favor! – implorava a moça, completamente transtornada.
Os outros chegaram e invadiram a biblioteca, apressados. Alguns desejavam apenas saber o que se passava ali dentro. Outros desejavam somente continuar a exploração, enquanto que alguns queriam apenas cair nas graças daquela donzela exuberante. Todas aquelas pessoas deixaram a pobre ainda mais assustada, enquanto Sairf tentava acalmar a situação.
_ Pelos deuses! Quem são vocês? O que vão fazer comigo? – perguntou a jovem.
_ Calma! Não vamos fazer nada! Eu sou um mago e estou atrás da namorada do meu amig... – Sairf foi novamente interrompido.
_ Ah! Um mago! Outro mago, socorro! Não me faça mal! Eu só quero ir embora! – gritou a moça.
_ Sim, ele é um mago muito poderoso! Eu também sou! Todos nós somos magos muito fortes! – Nailo complicou ainda mais a situação.
_ Calma moça! Nós somos magos sim! Mas não viemos lhe fazer mal! Estamos aqui para ajudar! A grande deusa Allihanna nos mandou aqui! – Anix tomou segurou a mão quente e macia da moça e começou a desfazer a confusão.
_ Allihanna! Eu sou devota dela! Então ela mandou vocês virem me libertar! – as lágrimas da garota agora eram de felicidade.
A moça começou a se acalmar e a conversar com Anix e Nailo. Irritado por ter perdido sua chance, Sairf decidiu se retirar. O mago atravessou a porta que estava diante da jovem e passou a revistar o aposento atrás dela. Era um pequeno quarto, com uma cama, uma escrivaninha e uma cômoda. Ao abrir a porta, Sairf sentiu seus olhos e seu nariz irritados pela poeira que ali se encontrava. Parecia que aquele quarto não era aberto há uma centena de anos. Lá dentro, Sairf encontrou uma pedra preciosa, muito bela, que lembrava um olho felino. Ainda irritado, o mago apanhou um tomo, jogou-se sobre a cama empoeirada e começou a lê-lo.
Lucano Também não queria perder tempo conversando. O clérigo foi até a outra porta, oposta à entrada da biblioteca, e encontrou um armário cheio de roupas nobre e decoradas. Todas aquelas vestes já estavam apodrecidas e roídas por traças e pelo tempo. Ao menos contato, aqueles tecidos caríssimos se esfarelavam, indicando que estavam ali há um século ou mais. Lucano entrou no guarda-roupa, tapando seu nariz para não espirrar, enquanto a conversa se desenrolava do lado de fora. Lá dentro, além das roupas apodrecidas, Lucano encontrou um belo par de botas de couro, bordada com fios de ouro e feita para pés anões, ainda em bom estado.
Legolas sentia um misto de tristeza e revolta ao ver que não era sua amada que estava ali. Amargurado, o arqueiro saiu para o salão e foi revistar as outras salas, em busca da passagem que levaria até sua noiva.

Capítulo 140 - Campo de batalha

Anix seguia à frente do grupo, invisível, e iluminando o corredor com uma vela fornecida por Sairf. Era um corredor extenso, três metros de largura e uns vinte de comprimento. Quatro portas de madeira, todas fechadas, distribuíam-se, igualmente espaçadas, pela parede da esquerda. Na parede oposta, outras três portas, também fechadas, despertavam a curiosidade e a desconfiança dos heróis. O chão estava coberto de poeira, terra e entulho e, assim como as paredes, estava manchado com sangue. As paredes velhas e desgastadas apresentavam marcas de pancadas e cortes, como se tivessem sido golpeadas há muitas eras atrás.
A cada porta, Anix parava e encostava seu ouvido na madeira para espreitar o que se escondia por trás dela. Um pouco mais atrás, Sairf repetia o movimento de seu companheiro para terem certeza de que não seriam surpreendidos por nada. Legolas, que vinha em seguida, checava cada uma das portas, verificando se alguma delas estava destrancada. Para espanto do arqueiro, todas as portas à esquerda estavam destrancadas, e a porta central do lado esquerdo também. As outras duas estavam trancadas a chave.
Anix chegou ao final do corredor. Legolas e Sairf estavam logo atrás dele, a menos de dois passos de distância e os demais já adentravam pelo corredor, vários metros atrás dos três. A visão que se seguiu não agradou os olhos de Anix. Dezenas de corpos espalhavam-se pelo piso de um grande salão retangular. Em seus doze metros de comprimento havia pelo menos sete combatentes anões, largados nos mesmos pontos onde caíram há centenas de anos. Cada um deles estava cercado por cerca de uma dezena de guerreiros orcs, retalhados pelas lâminas de Durgedin. Saqueadores que estiveram ali antes dos heróis haviam tido o trabalho de retirar todas as armas e armaduras, deixando apenas restos de armas, armaduras e escudos quebrados e enferrujados pelo chão. Manchas de sangue, mão e pés decepados, expressões de dor na face dos combatentes, tudo se juntava para decorar o ambiente, outrora uma grande sala de estar do povo de Durgedin, de uma forma macabra e arrepiante. À esquerda de Anix, centralizado nos nove metros de largura do salão, havia mais um poço ou fonte, cercado por uma mureta baixa de pedra, toda danificada e repleta de rabiscos em idioma orc. Na parede oposta ao corredor haviam duas portas, e mais uma no centro da parede da direita, que estava a três metro de onde se encontrava Anix.
Após averiguarem a condição dos cadáveres, e constatar que nenhum deles estava em condições de se levantar para atacá-los, os três heróis se dividiram. Anix foi ouvir a porta esquerda, Legolas a central e Sairf a que ficava na parede da direita. Seus companheiros não ouviram qualquer ruído suspeito, mas o familiar de Sairf sim. Ho-oh avisou seu mestre de que havia alguém do outro lado da porta. Uma criança ou uma mulher chorava angustiada após aquela porta.
_ Pessoal! Ho-oh ouviu alguém atrás da porta! É uma voz de mulher ou de criança! – Sairf avisou seus amigos.
Legolas estremeceu completamente. Uma voz de mulher. Poderia ser Liodriel atrás daquela porta. Ansioso por reencontrar sua amada, o elfo correu até onde Sairf estava. Anix também foi até o local rapidamente, e junto com ele Sam, que acabara de chegar ao salão.
_ Salvem a bela dama! – gritou o bardo correndo até a porta – E se essa não for a bela dama de Legolas, eu é que a carregarei!
Sim, Sam estava correto. De acordo com o último sonho premonitório que tiveram, não era Liodriel atrás daquela porta, mas uma outra prisioneira. Com medo de perder a chance de salvar uma donzela e receber a devida recompensa por isso, Sairf abriu a porta, que pra sua surpresa estava destrancada.

novembro 14, 2005

Capítulo 139 - Câmara secreta

Todos respiraram alguns instantes e adentraram nas quatro salas para investigar. Numa delas havia somente entulho acumulado que se desprendera das paredes e do teto ao longo dos anos. O lugar de onde os esqueletos haviam saído tinha várias camas empilhadas num canto e queimadas. Parecia ser um alojamento anão destruído pelos orcs invasores. No cômodo invadido por Legolas não havia mais nada além dos dois cadáveres que o elfo havia espedaçado a pontapés. O aposento restante tinha restos de móveis, como cadeiras ou mesas, totalmente destruídos e quase irreconhecíveis. Nem sinal de Liodriel ou do caminho para encontrá-la. Nem sinal da outra mulher que chorava e pedia por ajuda. Já disposto a voltar, Sam recolheu sua maça do chão, sob o olhar vigilante de Nailo. Quando o elfo olhou para a marca deixada na parede pela arma, notou algo estranho.
_ Pessoal! Dêem uma olhada nessa parede! – disse Nailo se aproximando do fim do corredor.
Todos olharam para a parede, mas somente Anix foi capaz de perceber a quase imperceptível fenda que traçava um retângulo do tamanho de uma passagem na parede. Ao ouvir a descrição do que os amigos viam, Squall quis empurrar a parede de imediato. Anix discordou e, como não conseguiu convencer o irmão do contrário, retirou-se para continuar a exploração do outro lado.
Squall empurrou com todas as forças a parede, na esperança de abrir alguma passagem secreta. Entretanto, o feiticeiro estava debilitado devido ao confronto contra o estrangulador e não tinha força suficiente para tal tarefa.
Em seu lugar, Nevan começou a forçar a parede para frente, fazendo-a se mover. Uma área de setenta centímetros de largura e um metro e meio de altura avançou parede adentro cerca de uns dez centímetros. Então todos ouviram um som abafado de uma pancada. Pedras se chocando. Nevan continuou empurrando e a porta secreta começou a levantar do chão, girando em algum tipo de mecanismo na parte superior. A passagem finalmente se abriu, revelando uma câmara quadrada de três metros de lado, sem portas, sem janelas, e completamente vazia. Somente havia uma fina camada de poeira dentro do lugar, revelando que há muito tempo ele não era usado por ninguém.
Desconfiado, Squall começou a atirar pedras dentro da sala, obviamente esperando ativar alguma armadilha. Nada. As pedras não ativaram nenhum mecanismo, não despertaram nenhum perigo adormecido, nem abriram outra passagem secreta.
Enquanto Legolas e Sairf se distanciavam para acompanhar Anix para que ele não ficasse sozinho e corresse perigo, Lucano entrou, um pouco trêmulo, dentro da câmara. O lugar era baixo, arquitetura típica para anões, e muito escuro. Lucano vasculhou todas as paredes, o teto e o piso, mas não encontrou nada. Não havia nenhuma porta secreta que conduzisse adiante, nenhum compartimento secreto ou tesouro escondido. Parecia mais que o lugar servia apenas como um esconderijo secreto para os anões em caso de perigo. Mas se era um esconderijo, por que os anões haviam morrido em batalha ao invés de se esconder em segurança? Orgulho? Falta de oportunidade ou tempo? Lucano não sabia. Sem ter as respostas que martelavam em sua mente como as forjas dos anões, o clérigo retornou para o corredor, se juntou aos seus companheiros e todos correram para alcançar Anix e os demais.

Capítulo 138 - Anões esqueléticos

Já eram doze horas. Sam explicava a seus amigos que fantasmas, como aquele que eles haviam enfrentado, só podiam ser afetados por magia ou armas que contivessem poder mágico dentro de si. Nailo, sentado perto da porta por onde haviam chegado, comia e dava de comer a Relâmpago.
Os conhecimentos de Sam despertaram a dúvida em Lucano. Como ele saberia de tantos detalhes? Perguntava a si mesmo o clérigo. E quem, na verdade, seria Nevan? Com essas dúvidas na mente, e com a ameaça de grandes perigos desconhecidos, o clérigo usou sua magia de forma inesperada.
_ Por Glórien, eu ordeno! Que a cada palavra dita, toda a verdade seja revelada! – gritou Lucano, segurando seu símbolo sagrado no meio de seus amigos.
Com a conjuração da magia, todos ao redor de Lucano agora se encontravam dentro de uma zona da verdade. Nenhum deles poderia mentir sobre qualquer coisa que lhes fosse perguntada.
_ Nevan. Quem é você? E você Sam! Quem é você? – perguntou Lucano, desconfiado.
_ Oras, Lucano, eu sou o Nevan! – respondeu o guerreiro.
_ Meu amigo, por acaso está com febre? Eu sou Sam, o bardo! Lembra-se? – Sam respondeu com ironia.
Todos ficaram confusos com a desconfiança do clérigo. Mas também ficaram aliviados ao ter a confirmação de que os dois não estavam mentindo, nem eram inimigos disfarçados.
_ Bem meus amigos! Após esse breve interrogatório, iremos por qual lado? – perguntou Sam sorrindo.
_ Sam, você viu a cachoeira não é? Então nos diga você! Para qual lado devemos ir? Esquerda ou direita? – continuou Nevan.
_ Bem, a tal cachoeira ficava mais pra frente daqui, indo pela direita! – respondeu o bardo.
_ Bom, vamos pela direita então! – concluiu Nevan, já tomando o caminho certo junto com seus amigos.
Todos se levantaram e pegaram suas coisas. Um a um, caminharam em direção ao corredor indicado por Nevan. Sam deu dois passos e parou subitamente.
_ Esperem! Lembrei de uma coisa! Não podemos ir por ai ainda! – Sam parecia confuso.
_ Por que não Sam? Esse não é o caminho certo? Vamos embora então! – exclamou Legolas.
_ Eu sei meu amigo! Esse é o caminho que leva até sua amada! Mas não se esqueça de que existe outra bela dama em perigo aqui dentro! Lembre-se do sonho que tivemos. Temos que vasculhar tudo por aqui para salvar a pobre moça! Não podemos simplesmente tomar o caminho mais curto até Liodriel! Não podemos deixar a pobre moça entregue à própria sorte! – explicou Sam com um tom de voz preocupado.
_ Tem razão Sam! Vamos pela esquerda então, depois a gente volta pra cá! –Legolas, suspirando.
_ Certo! E não se esqueçam! Quem vai carregar essa outra bela dama no colo sou eu! – brincou Sam.
Sairf apagou sua vela e, guiado por Ho-oh, seguiu na frente do grupo. Havia quatro portas, duas de cada lado, antes do final do corredor. O mago parou diante das passagens para reacender sua vela, mas logo os outros chegaram com uma tocha para iluminar o corredor.
Eram quatro portas de madeira entre abertas. Sairf espreitou pelas frestas de duas portas e viu muito entulho à direita e alguns móveis à esquerda. Mais atrás, Legolas viu através das outras portas que havia madeira espalhada pelo chão da sala da esquerda e uma perna na da direita. Enquanto Sairf abria uma das portas, Legolas chutou outra, afoito, temendo que aquela perna fosse de sua amada. Não era. Tratava-se apenas do corpo de um anão, morto há muito tempo na guerra contra os orcs, já sem roupas ou pele. Ao seu lado havia outro cadáver nas mesmas condições. Legolas respirou aliviado, mas sua tranqüilidade durou pouco. Da última porta esquerda saltou o corpo esquelético de um anão armado de um machado de batalha e protegido por um escudo de metal e uma armadura de placas, já enferrujada. O anão morto-vivo avançou sobre Sairf e o golpeou com seu machado. A lâmina penetrou no ombro esquerdo do mago, tingindo-se de vermelho e abrindo um rasgo que descia até a altura do peito. Sairf gritou de dor, chamando a atenção de seus amigos para o perigo. Atrás do primeiro esqueleto saiu outro, de mesma aparência, que atacou e feriu a perna de Nevan.
_ Ai, moleque maldito! – gritou Nevan ao receber o golpe.
Logo após o ataque contra Nevan, mais quatro esqueletos surgiram de dentro da sala, avançando sobre os heróis. Impressionado com o que via, Legolas se lembrou dos dois corpos que havia encontrado e correu para destruí-los, antes que se levantassem também.
Nailo ordenou a Relâmpago que recuasse e se posicionou à frente de Anix. A espada longa do ranger atingiu a cabeça do esqueleto sem sequer arranhá-lo. Como os heróis já sabiam, espadas e outras lâminas não eram efetivas contra aquele tipo de inimigo. Nailo ficou assustado por não ter conseguido causar nada no adversário, mas Anix retribuiu a ajuda dada pelo ranger. Três luzes explodiram na face da criatura, destruindo-a. O esqueleto caiu no chão com o crânio destroçado, sob os pés de Nailo. O ranger girou sua espada no ar para cravá-la no que restava da cabeça da criatura e retirar o que lhe restava de pós-vida.
Squall seguiu o exemplo de seu irmão e atacou os monstros com seus mísseis mágicos. Ao seu lado, Nevan tentava se defender do monstro que lhe ferira, mas a ágil criatura conseguia se esquivar de cada espadada desferida pelo guerreiro. No fundo do corredor, Sam não tinha muitas formas de ajudar seus amigos. Sua magia poderia ferir seus companheiros devido ao espaço apertado em que se encontravam e flechas não fariam nada às caveiras dos anões. O bardo então segurou sua maça com a mão direita, mirou cada um dos adversários e atirou a arma no fundo do corredor. Os esqueletos conseguiram se desviar da arma, deixando que ela se chocasse contra a parede ao fundo, sem ferir ninguém.
Os esqueletos revidaram com fúria. Seus machados trocaram golpes com as espadas dos heróis de forma dramática. Sairf foi levado a nocaute e um dos monstros o arrastou para dentro de uma sala, logo após atirar seu machado na direção de Squall. Nailo conseguiu rebater o machado, salvando o feiticeiro, mas nada pode fazer por Sairf.
Os heróis continuaram lutando com bravura. Legolas avançou, matando um dos esqueletos. Sem a possibilidade de ferir Sairf, Sam usou seu alaúde e com uma explosão sonora, conseguiu destruir dois dos monstros de uma vez. Os mísseis mágicos de Anix e Squall tiravam pouco a pouco a vitalidade das criaturas para Nailo, Legolas, Lucano e Nevan os executassem com suas espadas.
Um dos esqueletos tentou derrubar Nailo, mas o ranger mostrou-se mais forte e derrubou o monstro sobre Sairf. O outro veio por cima dos dois seres caídos e atacou Nailo. Legolas tentou saltar sobre o amigo para chegar até o inimigo e atingi-lo com os pés durante a queda. Mas, a acrobacia era ousada demais, e Legolas se chocou contra o corpo de Nailo e caiu. Nesse instante, Lucano rastejava até Sairf e, sem que os inimigos percebessem, usou sua magia para curar o amigo.
Sairf despertou assustado, ao ver o esqueleto sobre seu corpo, tentando se levantar. O mago sacou sua adaga e tentou cravá-la no seu oponente. Infelizmente não conseguiu, mas seus amigos o ajudavam. O esqueleto em pé teve metade de seu corpo destruído pela espada de Nailo. O que sobrou dele foi explodido por Anix com uma magia. O último inimigo se levantou, saindo de cima de Sairf, mas não teve tempo de fazer nada. Squall, mesmo distante, disparou uma rajada energética no monstro, explodindo seu crânio e encerando o combate.

novembro 11, 2005

Capítulo 137 - Espírito atormentado

Os heróis iluminaram o lugar, revelando uma câmara quadrada de nove metros de lado. Uma fonte ou poço de pedra lapidada, já desgastada pelo tempo, ocupava o centro da câmara. Dois corredores seguiam do centro das paredes laterais para fora da câmara. Antes que pudessem fazer qualquer coisa, os heróis ouviram um som estranho preenchendo o local. Um gemido bizarro que começou lentamente a formar palavras no idioma dos anões. Palavras que foram traduzidas por um Sam trêmulo e assustado. Elas eram lamentos de dor, de desespero. O sussurro se elevou e adquiriu uma intensidade ensandecida, cheia de frases balbuciadas e gritos, enquanto uma criatura fantasmagórica e negra invadiu o aposento atravessando a parede da direita. Sairf imediatamente reconheceu a criatura, que mais parecia um trapo negro composto de sombras que se agitavam como que expostas ao vento. Quando se agitava, era possível ver entra as brumas negras o rosto de um anão que era a mais pura representação da dor e do sofrimento.
_ Cuidado! É um Allip! Tapem os ouvidos, seu gemido é hipnótico! – gritou Sairf para os amigos. Mas, já era tarde.
O gemido do fantasma preencheu os ouvidos dos heróis com lamentos de dor e maldições rogadas sobre os jovens. Sam traduzia cada palavra para seus amigos. Então o monstro viu os heróis e anunciou que os devoraria e atacou.
Legolas sabia que um fantasma horrendo como aquele não poderia ser ferido por flechas comuns. Sabia também que a madeira negra de seu arco tinha propriedades mágicas e decidiu usá-lo de maneira inusitada. Legolas agarrou o arco, saltando sobre o poço tomado de uma água negra, e golpeou a criatura como se tivesse um bastão em suas mãos.
O arco foi atravessando a massa incorpórea da aparição que parecia piscar como uma tocha ao vento. Mas no meio de sua trajetória o arco parou o movimento em algo sólido, arrancando um gemido de dor da criatura e dando a Legolas a certeza de que havia conseguido feri-lo.
Quase ao mesmo tempo do ataque do arqueiro, três luzes explodiram na face deformada da criatura, causando-lhe ainda mais dor. Era Anix, disparando seus mísseis mágicos para dar cobertura ao amigo.
O contra-ataque do inimigo veio tão devastador quanto as investidas dos heróis. A mão disforme da criatura penetrou no peito de Legolas, atravessando sua armadura e sua carne. O elfo empalideceu, como se não tivesse sangue em seu corpo, agora gelado. Legolas sentiu uma forte tontura e sabia que sua mente havia sido afetada pelo monstro. Parte de sua inteligência, de sua sabedoria, havia sido sugada pela aparição. E o pior, o monstro se alimentou da mente de Legolas, para se recuperar dos ferimentos que havia sofrido.
Legolas cambaleou para trás, quase caindo, e despertou a preocupação de seus amigos. O monstro atravessou por dentro do corpo de Legolas e foi na direção dos demais. Nevan tentou impedi-lo, andando para o lado, numa posição onde não poderia ferir seus amigos, e arremessou sua poderosa espada. Entretanto, a arma de madeira atravessou por dentro do espírito atormentado sem lhe causar dano algum e caiu no chão, após se chocar na parede ao lado de Legolas.
Sam tocou mais uma vez seu alaúde de forma explosiva. A violenta onda sonora feriu o monstro um pouco mais, mas não o suficiente para destruí-lo ou atordoá-lo. Squall correu para buscar a espada de Nevan, e deixou seu machado com o guerreiro. Ao mesmo tempo, Sairf deu um passo na direção de seu amigo clérigo.
_ Lucano! Onde está aquela água benta que o Squall lhe entregou? – perguntou Sairf
_ Na minha mochila! – gritou Lucano.
Sairf abriu a bolsa de seu amigo e retirou de lá o único frasco restante, justamente a água abençoada que precisava. Jogou o vidro aberto sobre o fantasma, molhando-o com a água. Infelizmente, a criatura incorpórea conseguiu se desmaterializar rapidamente e escapar do ataque do mago.
Lucano usou uma magia sonora, tentando repetir o efeito de Sam. A onda sonora atingiu a criatura, mas não lhe feriu. Entretanto a magia foi capaz de despedaçar um pedaço do poço, revelando que era efetiva apenas contra objetos ou criaturas sólidos.
Legolas abaixou para pegar a espada de Nevan e foi até abeirada do poço. Viu Anix sendo atacado pelo monstro e esquivando de sua mão fantasmagórica. Anix contra-atacou com um feitiço capaz de romper o corpo de uma criatura morta-viva, tocando no peito do monstro e causando-lhe um grande ferimento. Mesmo ferido, o monstro atacou Nailo, que até o momento estava parado, sem se mover um milímetro. Foi então que todos perceberam. Nailo estava hipnotizado pelo monstro, e foi facilmente atacado por ele.
Mas o ataque do fantasma tirou o ranger de seu transe, permitindo que ele escapasse, no último instante, dos poderes profanos do ser. Nevan tentou afastar o monstro com uma machadada, mas a arma não foi capaz de ferir o fantasma. Foi então que Sam teve uma idéia. Aquele ser maligno era contrário a todo tipo de energia positiva, principalmente as magias do bem. O bardo tocou uma melodia serena e tocou no monstro.
_ Que minha magia cure seu ferimentos! – gritou Sam tocando no fantasma.
Todos ficaram espantados vendo a traição de Sam que tentava ajudar o inimigo. Ficaram mais impressionados ainda ao ver o monstro se contorcendo de dor ao ser tocado pela mão do bardo que parecia queimá-lo. O ser tentou revidar o ataque de Sam, mas não conseguiu atingi-lo.
_ Magias de cura ferem fantasmas! – gritou Sam, enquanto inclinava seu corpo para trás, desviando da mão do Allip.
Squall aproveitou o momento de distração do fantasma e disparou um raio de fogo em sua direção. O monstro abriu seu corpo, deixando que o fogo passasse por dentro da abertura e fosse na direção de Nevan. O guerreiro girou o corpo rápido e escapou das chamas, enquanto Sairf disparava um raio branco que congelou parte do monstro.
Lucano passou correndo, derrubando Squall, e usou sua mais poderosa magia de cura no Allip. A criatura de contorceu de dor, ficando ainda mais distorcida e horripilante. Todos sentiram a vitória próxima. Legolas saltou sobre o poço, mas seus pés o traíram e ele caiu dentro da água turva e densa. Felizmente a construção não passava de uma fonte, rasa o suficiente para permitir que Legolas ficasse em pé dentro dela e golpeasse o monstro com a espada de Nevan. Porém, o fantasma não foi ferido pela lâmina.
Nailo aproveitou a distração criada por Legolas e atacou com o machado mágico que haviam retirado do sepulcro dos anões. O Allip atacou Sairf, já a esmo, e sugou parte de sua mente. Apenas o suficiente para reunir forças para fugir. O monstro tentou atravessar por dentro do corpo do mago atordoado para escapar, mas uma gigantesca lâmina de madeira negra o impediu. Com um golpe avassalador, Legolas consegui destruir o fantasma, espalhando por todo lado, principalmente sobre Sairf, uma estranha secreção pegajosa e transparente. Novamente, as visões dadas por Allihanna haviam se concretizado. Eles estavam na sala com a fonte, e já haviam enfrentado o primeiro morto-vivo, tal qual haviam sonhado. Isso era sinal de que o final de sua jornada estava próximo.

Capítulo 136 - Anões ou Gigantes?

Atrás da porta, encontraram um imponente salão. Um salão que tinha pelo menos uns trinta metros de comprimento e uns quinze de largura.sustentando o teto a dez metros do solo, dez grandes pilares ostentavam imagens fantásticas de dragões e gigantes que se alongavam até a abóbada do teto. Um brilho alaranjado emanava de tochas fixadas em suportes nos pilares a cerca de três metros de altura. No lado oposto à entrada, ficava um orgulhoso trono de pedra, decorado com sedas bordadas a ouro, sobre um balcão de mármore que se elevava quase um metro. Minúsculos fragmentos de azulejos finos tomavam conta do chão nos arredores das paredes onde costumavam ficar. Em seu lugar, apenas os rabiscos contendo ofensas e maldições orcs, haviam resistido aos efeitos devastadores do tempo. Cinco passagens davam acesso para além do salão. Quatro corredores, dois à direita e dois à esquerda, e uma porta de madeira logo atrás do trono.
Mas, não houve tempo sequer para se impressionar com a visão magnífica, pois, diante do trono ardia uma fogueira, rodeada por meia dúzia de colchões de palha e pacotes de suprimentos. O som de martelos golpeando ferro em algum lugar além das portas ao sul foi abafado por uma voz rude que ecoou entre as sombras dos pilares.
_ Voltem para o lugar de onde vieram! Esse é o único aviso que receberão!
Apesar de ouvirem a voz, os heróis não podiam precisar de onde ela partia. Sairf correu em direção da passagem direita mais próxima, mas foi interrompido. Um golpe preciso jogou o mago para trás, cuspindo sangue. Em sua frente surgiu, como que transportado por mágica, um anão de pele cinzenta, calvo e com quase três metros de altura!!! Em suas mãos, um gigantesco martelo de combate, tão grande quanto a cabeça de Sairf.
_ Não ouviram o aviso? Vão embora, antes que seja tarde! – vociferou o anão gigante.
_ Calma! Não queremos brigar! Viemos em paz! – argumentou Sairf, ainda tossindo sangue.
_ O que vocês querem aqui então?
_ Viemos buscar a mulher de meu amigo! Ela foi raptada pelos orcs! – Sairf apontou para Legolas.
_ Não há mulher nenhuma aqui! Não tem nenhuma elfa aqui. Muito menos orcs! – respondeu o gigante. – Agora sumam daqui!
_ Não! Espere! Nós precisamos passar! Temos que chegar até a cachoeira, onde tem um abismo! Nós tivemos uma visão! Temos que salvar alguns anões que estão presos em algum lugar aqui! Eles estão trabalhando como escravos! Se nos deixar passar, poderemos pagar a vocês por isso! – o tilintar da bolsa de moedas de Nailo fez os olhos do anão gigante reluzirem.
_ Não tem nenhum anão escravo aqui! Perderam seu tempo! Podem voltar agora! – enquanto o anão gritava, Squall foi se afastando sorrateiramente.
Da mesma forma que Sairf, o feiticeiro foi fortemente golpeado por um martelo gigantesco. Um outro anão, de proporções avantajadas como o primeiro, surgiu diante de Squall sorrindo. Anix chegou nesse exato instante, a tempo de ver outros dois anões gigantes tornando-se visíveis, bloqueando todas as passagens, menos a que conduzia de volta para a escada. Um dos anões, era na verdade uma mulher. Legolas tinha uma adaga, quase tão grande quanto a espada de Nevan, próxima de sua garganta. Qualquer movimento mal pensado poderia causar a sua morte, trespassado pela adaga da anã gigante.
_ Calma! Não queremos Lutar! Vamos resolver isso através da conversa! Qual o seu nome? – perguntou Anix a um dos gigantes.
_ E que é VOCÊ??? – gritou o gigante, irritado.
_ Eu me chamo Anix!
_ Pois bem, Anix! Eu sou Auren! O que você quer aqui, Anix?
_ Deixe me explicar! Nós recebemos há muito tempo atrás um poder mágico que nos permite ver o futuro durante nossos sonhos! A noiva de meu amigo foi raptada por uns orcs e nós viemos resgatá-la! Desde então a gente tem sonhado com esse lugar! E tem um monstro gigantesco que está com a noiva dele que está em algum lugar por aqui! Nós só queremos passar e ir até o abismo, onde tem uma cachoeira para poder resgatar a pobre moça! – disse Anix.
Os gigantes pensaram por um instante. Squall aproveitou o momento para tentar enfeitiçá-los, como havia feito com Legolas, mas um golpe de martelo frustrou suas intenções.
_ O que você acha Ghared? – perguntou Auren para a mulher.
_ Veremos! – respondeu a anã, afastando-se do lugar e ordenando que os heróis aguardassem.
Irritado, Nailo atirou sua bolsa de moedas pela escada, recebendo um golpe na cabeça, da mesma forma que Squall. Os dois já estavam irritados o suficiente, e desejavam entrar em combate contra aqueles anões gigantescos e arrogantes e calá-los para sempre. Ghared entrou pelo último corredor á direita e retornou após alguns minutos acompanhada de uma comitiva de quase vinte anões gigantes. Entre eles estava uma outra anã, vestida com uma brilhante armadura e portando uma ameaçadora espada de duas lâminas, compatível com seu tamanho.
_ Então vocês estão querendo passar pelo nosso território? Mas afinal, o que vocês querem fazer aqui? Eu, Ninira exijo saber! – exclamou a anã, girando sua espada próxima das cabeças dos heróis.
Anix repetiu a história que havia contado a Auren e por fim mostrou a chave que abrira a porta que dava acesso ao território dos anões.
_ Está vendo essa chave? Reconhece esse homem? – perguntou
_ Não! Quem é ele? – Nimira negou com a cabeça.
_ Ele é Durgedin! É um de vocês! Foi ele que nos deu essa chave para nós virmos até aqui! – explicou Anix.
_ Sim! Nós viemos salvar Durgedin! Ele é seu amigo, não é? Então, deixe-nos passar! – completou Nailo.
_ Um de nós? Amigo? Ora, não nos compare com uma raça inferior como a do verme do Durgedin, aquele anão imprestável! – debochou Nimira.
_ Mas vocês não são anões também? – Perguntou Sairf.
_ Não nos ofenda! Nós somos duergar, e temos muito orgulho disso!
De fato, os tais duergar eram muito diferentes do povo de Doherimm. Isso era visível tanto nos seus traços físicos, quanto na sua personalidade. Enquanto tentavam negociar a passagem, Squall novamente tentou fazer um feitiço, para dominar a líder duergar e conseguir passagem livre para seu grupo. Novamente Squall foi interrompido por uma marretada em sua cabeça. Como desculpa, o feiticeiro argumentou que estava apenas rezando. Mas isso não interessava aos duergar. Qualquer movimento suspeito era repelido a golpes de martelo.
_ Muito bem! Afinal de contas! O que vocês querem realmente aqui? Vieram salvar uma elfa, salvar escravos, salvar Durgedin ou vieram atrás de tesouros? – Nimira apontou a lâmina de sua espada para o pescoço de Anix, intimidando-o.
Com a ajuda de Sairf, Anix contou toda a verdade, sobre o rapto de Liodriel, sobre as visões e sobre a sombra que os perseguia em seus sonhos. Pediram passagem livre para ir até o abismo onde havia uma cachoeira para poderem resgatar Liodriel e perguntaram se os duergar tinham conhecimento sobre uma elfa raptada ou sobre um monstro gigantesco. Perguntaram também o que havia atrás das portas que saíam do grande salão. Nimira ponderou alguns instantes e continuou:
_ Então vocês só querem ir até o abismo? Pois bem, eu lhes darei passagem até o abismo! Vocês terão acesso ao lado norte do complexo, que está repleto de magias malditas e mortos-vivos! É o único caminho para se chegar ao abismo! Mas vocês terão que encontrar o caminho sozinhos, e terão que se viram por lá, com os mortos-vivos! A porta atrás do trono não lhes diz respeito! É o nosso território! As portas do lado sul também estão repletas de magias malditas! Malditos anões! Agora, você do chapéu! Venha comigo! Vou lhe mostrar uma coisa! – Nimira andava de um lado para outro, girando sua espada e falando em tom alto e arrogante. Apontou para Sam e saiu com ele pela última porta à direita.
Todos ficaram tensos, aos ver Sam sendo conduzido no fio da espada por Nimira. Cercados por duas dezenas de gigantes, eles não tinham outra opção senão aguardar o retorno de seu amigo bardo. Alguns minutos depois, os dois estavam de volta.
_ Seu amigo já viu o lugar para onde vocês devem ir! Você, vá buscar a sacola de dinheiro que vocês nos ofereceram! – a líder duergar empurrou Sam para o meio do grupo com a ponta da espada e apontou para Legolas buscar o dinheiro.
Legolas desceu as escadas, pegou a bolsa de Nailo, escondeu algumas moedas consigo e levou o restante para Nimira. A gigante pegou a bolsa e olhou dentro, como se contasse as moedas. Depois deu ordem para que os seus subordinados conduzissem os heróis até a última porta à esquerda.
Squall e Nailo tentavam ainda tirar alguma vantagem da situação. Squall queria de qualquer maneira convencer Nimira a trocar a espada pelo seu machado, mas ela não aceitou. A gigantesca espada de lâmina dupla aguçava a ambição do feiticeiro. Lucano pensou em usar seu machado, iluminado por sua magia para barganhar e fazer a alegria de seu amigo. Mas o clérigo lembrou-se, amargurado, que havia deixado seu machado no salão das estátuas, quando ainda tentavam derrubá-las, e seguiu em frente, cabisbaixo. Nailo tentava convencer Nimira a deixá-lo ir buscar mais moedas para ela. Obviamente ele tinha algum plano em mente para trair o pacto feito com os duergar e subjugá-los. Infelizmente para ele, Nimira não caiu em sua lábia e, com um estalar de dedos, ordenou a expulsão dos heróis. Todos que haviam ficado para trás foram conduzidos a pontapés e marteladas até a porta por onde prosseguiriam em sua jornada. Foram atirados pela porta, numa outra sala. Então a porta se fechou atrás deles bruscamente. O som de martelos e madeiras sendo arrastadas e pregadas na porta foi ouvido durante alguns segundos. Depois tudo ficou em silêncio. Nailo conferiu a porta e constatou que ela havia sido lacrada pelo outro lado. Os duergar haviam abandonado os heróis à própria sorte, numa área infestada de mortos-vivos e magias profanas. E era justamente naquele lugar maldito que eles deveriam estar.

novembro 10, 2005

Capítulo 135 - Guardiões de bronze

Finalmente o grupo estava todo reunido novamente. Todos em bom estado e de posse da chave que abriria a porta para a salvação de Liodriel. Seguiram em fila pelo jardim iluminado pelas flores exóticas que ocupavam o pátio. Anix colocou a chave na abertura da fechadura e a girou com força. O som de engrenagens girando, alavancas se movendo e peças se encaixando dentro da porta foi ouvido por todos. Foi preciso dar oito voltas na chave antes que a porta finalmente se abrisse. Um ar carregado de poeira e mofo se desprendeu por entre as frestas enquanto a pesada porta era empurrada para dentro.
Anix penetrou por entre a porta e foi logo seguido de perto por seus companheiros. Após a porta havia uma pequena sala de não mais que três metros de lado, que se abria numa escadaria íngreme que ascendia nove metros até um salão.
Subiram os degraus cautelosamente, seguindo em duplas para evitar qualquer tipo de surpresa. Seus corações batiam ansiosos por descobrir o que viria a seguir. No final da escada, uma visão majestosa os deixou quase sem fôlego. A escada terminava numa maravilhosa câmara octogonal com algo em torno de dez metros de uma parede a outra. O assoalho era cuidadosamente incrustado com pequenas placas de pedra azul cobertas de poeira. As paredes eram construídas com esmero no mais belo mármore polido que já haviam visto. Duas grandes portas de carvalho, revestido de ferro brilhante, conduziam a noroeste e a nordeste. Diante das paredes norte, leste e oeste, haviam três magníficas estátuas moldadas em bronze, com quase três metros de altura cada e que ainda conservavam seu brilho. Representavam guerreiros anões armados para a batalha. A figura central ostentava em suas mãos dois belos machados de batalha, ricamente ornamentados. As duas laterais portavam cada uma um machado e um escudo tão grandioso quanto os machados. O teto da sala, quase dez metros distante do solo, tinha o formato de domo e era decorado com belíssimas pinturas de anões trabalhando em suas forjas.
Os heróis entraram, encantados com tanta beleza preservada mesmo após tantos anos, e se dirigiram para as duas portas. Era possível ouvir o tilintar fraco de martelos e bigornas em algum lugar distante.
_ Não cheguem perto das portas! Essas estátuas devem ser guardiãs deste lugar! – alertou Legolas aos seus companheiros com a lembrança da armadilha venenosa na qual havia caído ainda viva em sua memória.
Mesmo alertados por Legolas, os aventureiros precisavam passar por aquelas portas e seguir adiante se quisessem realmente chegar até a bela dama. Anix parou diante da porta da esquerda, e seu irmão Squall ocupou a que restava. Fitaram cada detalhe das portas, em busca de armadilhas ou entalhes ocultos. Para ajudá-los, Nailo usou uma magia para detectar armadilhas e concluiu que não havia nada para se preocupar. Talvez as estátuas estivessem ali apenas para dar as boas vindas aos visitantes. Quando finalmente se sentiu seguro, Squall segurou a alça da porta e a puxou.
A passagem se abriu, mas atrás dela havia apenas uma parede e um intrincado sistema de alavancas, engrenagens e ganchos começou a funcionar. As estátuas começaram a se mover rapidamente e desferiram golpes mortais na direção das portas. Squall foi atingido pelos dois machados. Seu corpo foi rasgado pelas lâminas como papel. Por pouco não foi o fim da carreira do feiticeiro. Anix teve mais sorte que seu irmão. O mago se abaixou no momento exato e sofreu apenas pequenos arranhões, nada preocupante.
A porta se fechou automaticamente e Squall se afastou, quase rastejando. Anix abriu a outra porta, imaginando que seria esta a saída correta. Mas ele estava enganado. Novamente os machados vieram em sua direção e ele foi forçado a se esquivar de maneira acrobática para não ver seu sangue espalhado pelo chão azul.
Havia agora duas opções. Ou aquela sala não tinha saídas, ou elas estavam ocultas. Pensando nisso, Legolas convocou seus companheiros a empurrarem as estátuas para procurar passagens secretas embaixo das mesmas. Todos, com exceção de Anix, se juntaram ao redor da figura da direita, e começaram a empurrá-la. Anix observava do local que julgava o mais seguro de todos. O mago subiu sobre a outra estátua, onde seu machado não poderia atingi-lo e ficou olhando o esforço dos amigos.
A estátua foi empurrada em todas as direções, mas sequer se moveu. Nevan tentou destruí-la com sua poderosa espada, mas não conseguiu. Apesar de oca e feita em bronze, havia um esqueleto de ferro maciço dentro da estátua, justamente o sistema que ativava o mecanismo da alavanca. Anix apelou para a magia, e abriu um buraco na carcaça da estátua com um raio ácido, sem no entanto conseguir enfraquecer sua estrutura.
Todos estavam cansados e confusos, já quase retornando pela escada, mas resolveram tentar uma vez mais empurrar o anão de bronze. Foi quando Nailo passou por trás da estátua para tomar posição e sentiu algo de estranho. Havia uma curiosa corrente de ar agitando seus cabelos. O ranger se virou para a parede, seguindo a brisa que lhe tocava delicadamente a face e viu que havia uma minúscula fresta, quase imperceptível, que formava um retângulo do tamanho de uma porta na parede. Guiado por seus instintos, Nailo empurrou a parede com força e ela se moveu.
A porta secreta foi se deslocando para trás, até bater em dois pinos de metal cravados no teto e no piso. Então a placa de mármore girou ficando perpendicular à passagem e abriu caminho para uma nova escada.
Anix permaneceu sobre a estátua, enquanto seus companheiros entravam, um a um, e subiam pela escadaria. Vários degraus acima, algo inusitado aconteceu. Sairf, que ia à frente do grupo, pisou num dos últimos degraus e disparou acidentalmente uma estranha armadilha.
_ Alerta! Alerta! Intrusos se aproximam! Intrusos chegando! – o grito ecoou por todo o lugar, parecendo ter saído do degrau da escada.
Terminaram a subida rapidamente, parando diante de uma nova porta decorada com a figura de um anão irritado. Se houvesse alguém atrás dela, com certeza já saberia da presença dos heróis. Sem ter mais porque esperar, Sairf abriu a porta e eles a atravessaram.

Capítulo 134 - Contra mágica

Enquanto isso, no andar superior, Sairf e seus amigos caminhavam pelo jardim luminoso, onde haviam enfrentado os Gricks anteriormente. Subitamente, o mago, que ia à frente, interrompeu sua marcha.
_ Acho que viemos aqui à toa! – exclamou Sairf.
_ Por que? – perguntaram os demais.
_ A chave da porta! Ela ficou com o Anix! – respondeu.
Sairf estava certo. De nada adiantaria eles avançarem mais, pois teriam que esperar pela chegada de Anix e Nailo. E o pior. Os dois estavam se aventurando sozinhos no andar de baixo. Se algo acontecesse com eles, a esperança de salvar Liodriel e Draco estaria perdida.
O grupo parou por alguns instantes para decidir o que fazer. Legolas olhava, curioso, para o anel que havia recebido do estrangulador. Como eles teriam que esperar os outros, ele resolveu aproveitar o tempo que tinham de forma útil.
_ Squall! Preciso de um favor! Use sua mágica e me diga se esse anel é mágico! – pediu Legolas.
O feiticeiro pegou o anel e lançou sobre ele uma magia de detecção. Squall sentiu uma aura mágica emanando do item, mas não foi capaz de reconhecer qual era a magia que estava incrustada nele. Sem outra opção, ele resolveu colocá-lo em seu dedo.
Ao colocar o anel, uma estranha sensação tomou conta de Squall. Sentia como se o anel tentasse sugar seus poderes mágicos, mas era uma sensação diferente daquela de quando fora atacado pelos stirges e pelos tentáculos do estrangulador. Intrigado com o que estava sentindo, Squall, após hesitar alguns instantes, resolver baixar a guarda e não resistir ao poder do anel.
Squall sentiu que uma de suas mais poderosas magias foi absorvida pelo item. Assustado e ao mesmo tempo irritado, o feiticeiro tentou recuperar a magia perdida, em vão. Squall tentou de todas as formas recuperar sua magia, ou ao menos tentar lançá-la a partir do anel. Mas nenhuma de suas tentativas surtiu efeito. Sem saber mais o que fazer, ele passou o item adiante.
Sairf pegou o anel e começou a analisá-lo. Em seu interior, Sairf conseguiu detectar pequenas inscrições em idioma dracônico. “Contra-ataque” , traduziu Sairf para seus amigos. O mago colocou o anel em seu dedo, mas nada aconteceu. Apontou-o para longe de seus amigos e gritou a palavra mágica inscrita no artefato. Nada. Lançou então uma magia de detecção mas também não conseguiu identificar a magia do item. Sabia apenas que era um tipo de magia usado pelos sacerdotes que estava incrustada no anel.
Lucano pegou então o item. Tentou de todas as formas ativá-lo, mas nada surtiu efeito. Com muito esforço, conseguiu descobrir que a magia do anel servia para transferir poder mágico de uma pessoa para outra. Era o que havia acontecido com Squall. Seu poder mágico havia passado para o anel. Mas como fariam para recuperar a magia drenada pelo anel ou como eles poderia ativar a magia dentro dele? Sem poder responder a essas perguntas, Lucano devolveu o anel para Legolas.
Legolas pegou de volta o seu anel, intrigado com tudo o que havia ocorrido. Desejava entender como aquela peça funcionava, mas não sabia como.
Foi então que a astúcia de Sam se fez valer. O bardo pegou emprestado o anel de Legolas e o colocou no dedo indicador direito. Sam caminhou, afastando-se dos demais, enquanto balbuciava algumas palavras consigo mesmo.
_ Contra-ataque....a bola de fogo de Squall...acho que sei o que isso aqui faz! – resmungava Sam, afastando-se.
Quando estava a uma distância de mais de dez metros do grupo, Sam se voltou para trás, sorridente.
_ Squall! Eu sei como o anel funciona! Ataque-me com uma bola de fogo! – gritou Sam, para espanto de todos.
O feiticeiro hesitou, mas, após a insistência de Sam, evocou a explosiva magia de fogo. A pequena esfera de enxofre foi atirada sobre o bardo e explodiu. Uma explosão violenta seguida de uma outra explosão semelhante. Todos ficaram atônitos ao ver o que aconteceu. A mão de Sam estava estendida para frente. Diante dela, havia duas esferas incandescentes, envoltas em chamas, tentando se repelir. Uma das esferas era a lançada por Squall. A outra, vinha de dentro do anel. As duas bolas de fogo se chocaram e disputaram forças até que, finalmente, As duas se dissiparam sem ferir Sam ou causar dano ao redor dele.
Sam retornou sorridente e jogou o anel de volta para Legolas. O arqueiro pegou seu item, olhou para ele com ar de desconfiado e saltou sobre Sam, agarrando-o pelo pescoço.
_ Sam seu idiota! Gastou minha bola de fogo! Devolve! – gritava Legolas enquanto estrangulava o bardo.
_ Sua bola de fogo? As MINHAS bolas de fogo você quer dizer! Gastei duas magias à toa! Eu é que deveria reclamar! – exclamou Squall, contrariado.
Sairf, Lucano e Nevan observavam, sorrindo, à disputa entre os três. Então, a pequena confusão foi interrompida. Um ruído surgiu atrás do grupo e colocou todos em posição de combate. Com suas armas nas mãos, todos respiraram aliviados, ao ver que quem chegava eram Anix e Nailo, sãos e salvos.

novembro 09, 2005

Capítulo 133 - Água negra

Com o raiar do novo dia, o dia 19 de luvitas, um lanag, os heróis rapidamente se prepararam para seguir em sua jornada, rumo ao resgate das belas damas. Decidiram subir para o segundo andar, o território dos trogloditas, e investigar o que de fato havia atrás da porta de ferro. Entretanto, nem Anix nem Nailo acompanharam seus amigos. Os dois permaneceram para terminar de investigar o pavimento onde estavam. Enquanto os demais subiam as escadas, os dois aventureiros solitários partiram na direção da caverna do estrangulador. Pararam diante da pequena escada que levava a um corredor inundado. Nailo ficou aguardando ali, enquanto Anix se afastava, indo, invisível, até o local do descanso eterno de Garimm Punho de Aço. Sensibilizado com a trágica morte da anã, que padeceu por inanição, Anix lhe deixou uma oferenda, em sinal de respeito. O mago retirou de sua bolsa um frasco d’água e um de seus pacotes de ração de viagem e os deixou ao lado do cadáver. Sabia que aquela comida já não servia para nada, mas tinha esperança que seu gesto ao menos trouxesse um pouco de paz para aquela pobre alma.
Alguns minutos depois, Anix já estava de volta, e junto com Nailo, os dois desceram até o corredor inundado. Nailo empurrou a porta com seu pé, sem tocar na água podre e fétida que tomava todo o local. A porta se abriu, agitando a água que respingou nos dois aventureiros.
Após a porta havia uma pequena sala quadrada, toda tomada por uma água negra e podre que cheirava quase tão mal quanto um troglodita. Na parede oposta à porta havia uma passagem que conduzia a um outro espaço semelhante e que dava acesso a uma terceira sala de iguais proporções. Os dois olharam para dentro do lugar sem localizar qualquer coisa que lhes parecesse perigosa ou importante. Anix usou o poder de sua varinha mágica para investigar o lugar, e sentiu duas auras submersas, emanado da última sala.
Os dois entraram na primeira sala, apreensivos, cobertos de água até a cintura. Mas o lugar parecia perigoso demais para se arriscar ali dentro. Se houvesse algum monstro oculto sob aquela água turva, os dois seriam vítimas fáceis da criatura. Para evitar o perigo, os dois usaram da estratégia e da magia de Anix.
O mago levitou seu amigo, que foi até a última sala, arrastando-se pelo teto. Lá no fundo, Nailo viu a silhueta de uma criatura submersa. O monstro não se mexia, parecia estar dormindo. Anix fez Nailo descer lentamente até a superfície da água, onde ele pudesse ter uma noção mais exata da forma da criatura.
Mesmo próximo, Nailo não conseguia distinguir os detalhes do estranho ser. Ele resolveu então atacar primeiro, e surpreender o monstro, perfurando-o com sua espada. A criatura não se moveu e sua única ação foi soltar uma bolha de ar que eclodiu na superfície escura da água.
Anix usou sua varinha mágica novamente, e percebeu que as auras que havia sentido vinham diretamente da criatura submersa. Já compreendendo do que se tratava, Anix baixou Nailo até dentro da água. O pobre ranger entrou em pânico ao colidir com a criatura. Nailo tentou fugir, mas já era tarde. O monstro começou a se mover e em uma fração de segundo ele emergiu. Sua aparência foi como um alívio para Nailo. O monstro assustador não passava do corpo apodrecido de um orc, morto há séculos durante a batalha contra o clã de Durgedin.
Nailo agarrou o corpo, e Anix fez com que os dois flutuassem. Batendo os pés no teto e nas paredes, Nailo foi para fora, retornando ao salão do rio, junto com Anix. Já do lado de fora, Nailo vasculhou o corpo da criatura, enquanto ainda estava suspenso no ar. De uma bolsa de couro apodrecido, despencaram dois pequenos vidros. Nailo reagiu rápido, tentando agarrá-los, mas somente conseguiu segurar o segundo frasco. Felizmente, o primeiro frasco a cair foi agarrado por Anix. Eram duas poções mágicas. Nailo jogou o outro frasco para o amigo e foi colocado no chão por Anix. Já muito atrasados, os dois limparam seus corpos no riacho e correram ao encontro de seus companheiros.

novembro 08, 2005

Capítulo 132 - A última visão

Enquanto os heróis cuidavam de suas feridas, se alimentavam e coisas do tipo, Sam, já com seu alaúde recuperado, pôs-se a tocar uma agradável melodia para entreter seus amigos.
_ Que saudades de ouvi-lo tocar para nós Sam! – suspirou Squall.
_ É meu amigo! Eu que o diga! – respondeu Sam.
Sam tocou por cerca de uma hora, finalizando o repertório com uma balada típica de sua terra natal, Sambúrdia, o reino florestal de Arton. O bardo encerrou sua música, contando um pouco de suas origens aos seus amigos. Contou sobre seu reino, e sobre os lugares por onde havia passado até finalmente chegar em Malpetrim e encontrar os heróis na grande feira. De forma semelhante, cada um deles compartilhou com os demais as boas lembranças que tinham de seus lares e das pessoas queridas de quem tinham tanta saudade. Assim, o grupo passou a conhecer um pouco mais sobre a história de seus companheiros, o lugar de onde cada um deles vinha, suas famílias e amizades, inclusive seus amores. Cada um foi capaz de perceber que, além de aventureiros cheios de habilidades excepcionais, seus companheiros eram pessoas comuns, com sonhos, medos, sentimentos e fraquezas como qualquer pessoa do mundo. Então, cansados da longa jornada, eles finalmente adormeceram.
Embalados pela melodia de Sam, o sono de cada um dos heróis começou com lembranças das pessoas e lugares amados. Legolas sonhava com sua amada, Liodriel, já livre e ao seu lado vivendo uma vida feliz. Nailo andava de mãos dadas com Darin, sua namorada de Darkwood. Sairf usava seu poder mágico para congelar uma montanha, enquanto abraçava sua querida Narse. Anix respirava profundamente o perfumado ar do Bosque de Allihanna, acompanhado da exuberante Enola. Squall passeava pelas ruas de sua vila natal, de mãos dadas com Deedlit, sua amada. Lucano liderava o maior dos templos de Glórien, como seu sumo-sacerdote, e tinha a felicidade de ver sua amada deusa novamente com todo o seu poder e liderando os outros deuses do panteão. Eram momentos felizes que eles desejavam que nunca tivessem fim. Mas, como já era de costume, os bons sonhos logo deram lugar a pesadelos e visões atormentadoras.
As pessoas amadas desapareceram e em seus lugares estavam os outros heróis, inclusive Sam. A sensação de paz e felicidade que sentiam foi substituída por tremores, calafrios e suor. Os heróis olharam em volta e viram que estavam de volta ao interior do dente de pedra. Desta vez, no entanto, estavam em um gigantesco salão, todo decorado, de teto alto suportado por várias colunas majestosas de pedra. Atrás das colunas havia várias sombras, pequenas como anões, que espreitavam os aventureiros.
Novamente, independente da vontade dos heróis, seus corpos se moveram de encontro à parede e a atravessaram. O grupo atravessou por incontáveis paredes e salas, onde havia dezenas de corpos de criaturas mortas e despedaçadas. Alguns desses cadáveres se levantavam sobrenaturalmente para atacá-los. Os heróis continuaram passando pelas salas, através de paredes de rocha sólida, até atingiram um cômodo onde reinava a tristeza. Dentro da sala, encolhida num canto, uma jovem mulher derramava seu pranto melancólico enquanto implorava por ajuda. A bela dama viu os heróis e foi em sua direção, pedindo para que eles a libertassem. Mas os heróis continuaram sua jornada astral, abandonando a jovem presa dentro da sala à própria sorte. Apesar da forte emoção que carregava em seu peito, Legolas sentia que aquela não era a mulher que ele buscava resgatar. Havia outra prisioneira vítima da crueldade insana dos orcs. Mais alguém além de Liodriel e do grupo de Draco para resgatar.
Enquanto suas mentes filosofavam sobre a pobre mulher, a crueldade dos orcs e sobre os horrores que ainda veriam, o grupo viajou pelas paredes até um salão com um tipo de poço ou fonte e seu centro. Um a um, os heróis se viraram para a parede mais distante do poço e foram em sua direção. Atravessaram a parede que dava para um túnel estreito e baixo. No final do túnel, uma nova parede foi transposta e após ela havia um abismo imenso que descia para a escuridão, incontáveis metros abaixo. Um riacho escorria pela lateral do abismo e muito distante dali, acompanhando o fluxo do rio, era possível ver chamas acesas como tochas ou fornalhas, que se agitavam sob a melodia do tilintar de martelos se chocando com ferro. Todos desceram pela cratera do abismo, muitos metros, até chegar a um lago onde um coração negro pulsava sobre sua superfície. Então eles despertaram.

novembro 04, 2005

Capítulo 131 - A refeição

Sairf e Nevan chegaram, e encontraram Legolas brincando com o seu “cavalinho” novo. Pouco depois chegaram Squall, com o grimório nas mãos, Lucano e Nailo, com um cofre de madeira nas mãos. Já havia se passado cerca de meia hora desde o encontro com o estrangulador. Não havia tempo a perder. Legolas correu com o lagarto para o andar inferior, enquanto os demais abriam o cofre. Dentro da caixa, além de muitas moedas douradas, havia um rubi, que Nailo pegou para si, e vário frascos com poções mágicas. No meio das coisa que estavam sobre o lagarto, Nailo finalmente encontro seu equipamento e o de Sam. Entretanto, parte das coisas havia sido levada pelos trogloditas. O grupo juntou todas as coisas e correu para alcançar Legolas.
Legolas finalmente chegou diante do estrangulador, com o lagarto. Anix observava tudo, invisível. Em pouco tempo, o restante do grupo o alcançou e entrou na caverna. Os longos tentáculos do monstro se esticaram e envolveram os heróis. Não havia como escapar.
_ Saiam todos! – gritou o monstro, mastigando o pescoço de Sam.
Não havia escolha. Um a um, os heróis foram deixando a caverna do estrangulador, até restar somente Legolas e o lagarto.
_ Você fica elfinho gostoso! – rugiu o monstro.
Legolas continuou com um tentáculo em volta de seu corpo. Outro tentáculo agarrou o pescoço do lagarto. Os restantes se entrelaçaram para bloquear o túnel de entrada e impedir a intromissão dos outros heróis.
_ Desça do meu almoço, elfinho gostoso! – ordenou o monstro.
Legolas desceu e assistiu, com lágrimas nos olhos, ao lagarto sendo arrastado para perto da criatura. Com o tentáculo que envolvia Legolas, o monstro retirou Sam de sua boca e o entregou para Legolas. O arqueiro segurou o corpo de seu amigo todo coberto de uma baba gosmenta e se sentiu aliviado ao ver que Sam estava vivo. Legolas fechou os olhos para não ver o pobre animal sendo cruelmente devorado pelo monstro. Em poucos minutos o pobre lagarto foi inteiramente devorado pelo estrangulador.
_ Gostei dessa comida! – sorriu a criatura – Agora você vai ganhar uma recompensa por isso!
O estrangulador começou a tossir e engasgar estranhamente. Legolas pensou que ele podia estar morrendo, mas estava enganado. O monstro vomitou sobre os pés de Legolas uma gosma ocre e fedida. Legolas olhou para baixo enojado, e viu que algo brilhava entre o vômito.
_ Essas coisas pertenciam a um humano que apareceu aqui muuuuito tempo atrás! Pode ficar com elas! Agora me diga! Onde eu encontro mais desses lagartos gostosos para comer? – perguntou a repugnante criatura
Legolas pensou por um instante e falou:
_ Você tem que subir as escadas dois andares pra cima daqui! Lá em cima você vai encontrar um lugar que tem um buraco com uma ponte de cordas! Basta você pular nesse buraco! Lá dentro está cheio de lagartos! É uma criação deles!
_ Um buraco e uma ponte! Entendi! Vou buscar mais lagartos gostosos! Adeus comidinha! – sorriu o monstro, antes de recolher seu tentáculos, saltar dentro do rio e desaparecer na água.
Legolas abaixou e recolheu os itens. Um rubi, duas esmeraldas, três serpentinas e um anel que ele colocou em seu dedo. Os outros chegaram assim que viram os tentáculos sendo retraídos, e o tesouro foi dividido. Parecia que tudo estava finalmente em paz. Sam estava salvo e o grupo estava reunido. Mas eles tiveram um último susto naquele dia. A porta se abriu sozinha, sobrenaturalmente. Os heróis atacaram-na rapidamente e ouviram um gemido. Anix, que estava escondido atrás dela, havia tomado uma portada na cara ao tentar brincar com seus amigos e assustá-los. Todos voltaram a sorrir ao ver o mago com o nariz vermelho. Squall olhou na runa de Gor de Sam, e viu que já era fim de tarde. Cansados, os heróis decidiram para e descansar até o dia seguinte, quando finalmente abririam a misteriosa porta de Durgedin.

Capítulo 130 - Upa, lagartinho! A exótica montaria de Legolas

Enquanto isso, vários metros acima dali, Lucano e os outros se deparavam com uma situação inusitada. Os corpos dos trogloditas que eles haviam matado, já não estavam mais lá. A tristeza tomou conta dos quatro heróis. A esperança de salvar a vida de Sam ruiu como um castelo e cartas de Cavilan. Mas então, em meio ao som da correnteza que atravessava o salão onde estavam, os heróis ouviram uma ruído estranho. Squall apontou sua lanterna na direção do local onde eles haviam enfrentado o urso e todos puderam ver um bando de trogloditas entrando por um túnel, carregando vários objetos. Mais atrás do grupo, um troglodita cavalgava sobre um enorme lagarto subterrâneo, carregado com equipamentos, malas e corpos dos trogs falecidos. Legolas apontou seu arco para o troglodita, rapidamente seguido pelos seus companheiros.
_ Rápido! Fujam! Eu vou segurá-los enquanto isso! – sussurrou o troglodita sobre o lagarto em idioma dracônico para seus companheiros.
Todos correram pelo túnel e desapareceram. O troglodita parou e encarou os heróis de cima de sua montaria exótica.
_ Pare! Renda-se e nós não o mataremos! – vociferou legolas, apontando seu arco para o monstro.
_ Esperem! Não me matem! Nós já estamos indo embora! A toca é de vocês agora! Podem ficar com ela! – o troglodita se encolheu assustado.
_ Nos dê esse lagarto! – ordenou Legolas.
_ Não posso! Nós precisamos dele! – argumentou o trog, suas pernas tremiam.
_ Nos entregue ele agora! E também todas as coisas que vocês tiraram dos meus amigos que saltaram da escada sobre vocês alguns dias atrás! Se não entregar, nós iremos matar você e os outros que fugiram! – Legolas esticou a corda do arco, já quase soltando a flecha.
O troglodita despencou de cima do animal, virou o lagarto na direção do grupo e golpeou a traseira do bicho com sua mão. O lagarto correu na direção dos heróis, enquanto o troglodita fugia pelo túnel.
_ Podem ficar com tudo! Já estamos indo embora! – gritou o trog ao desaparecer pela passagem.
O lagarto veio com hostilidade para cima dos heróis. Legolas e Lucano já estavam prontos para dispararem suas flechas, quando Nailo interveio. O ranger parou entre o grupo e o animal. Começou a caminhar de um lado para outro, imitando os gestos do réptil. O lagarto interrompeu o seu ataque. Nailo tentou se aproximar, mas a criatura estava muito arisca, e não aceitava a aproximação. Legolas e Nailo começaram a jogar comida para o animal, enquanto se afastavam dele. Pouco a pouco, o ranger foi conquistando a confiança do animal, até conseguir se aproximar dele. Legolas saltou sobre o dorso do animal e segurou as rédeas. O lagarto empinou e se contorceu, mas em poucos minutos foi domado pelo arqueiro. Legolas começou a andar pelo salão com sua nova montaria, todo sorridente. Enquanto isso, Squall subiu para buscar o grimório de Isaulas, que Anix havia deixado na sala onde o grupo parava para descansar. Nailo e Lucano também deixaram Legolas para trás, e foram até a toca dos trogloditas, em busca das coisas de Nailo e Sam. Legolas permaneceu próximo da escada, se divertindo com sua nova montaria, enquanto aguardava seus amigos.

Capítulo 129 - A pequenina e a chave da libertação

Legolas, Nailo, Lucano e Squall retornaram, em direção ao andar superior da montanha. Tinham em mente dar alguns trogloditas mortos em combate para o monstro, em troca da liberdade de Sam. Os trogs eram lagartos e um pouco semelhantes com dragões. Talvez servissem para saciar a fome daquele estrangulador terrivelmente forte.
Sairf, Anix e Nevan seguiram em frente, em direção à porta no final da caverna. Eles ainda precisavam encontrar a tal chave para poder salvar Liodriel, e com certeza ela estaria atrás daquela porta. Com a desculpa de que procurariam por um dragão mais à frente, os três conseguiram passar pelo monstro para procurar a chave que poderia libertar Liodriel.
O trio chegou diante da porta. Uma porta de madeira bastante reforçada, e muito, muito antiga. Forçaram a porta para dentro e ela se abriu num longo e tenebroso rangido. A porta dava para um corredor estreito e baixo, com uns quinze metros de comprimento. À direita, uma parede de pedras lapidadas, muito suja e escura. À esquerda, três portas pequenas e sem janelas. As duas primeiras estavam entre abertas. A última, entretanto, estava fechada. Diante dela, a menina ruiva acenava com um sorriso para os heróis. Seus olhos pareciam não ter pupilas. Eram tomados de um branco sobrenatural e brilhante. A criança chamou os jovens e atravessou a porta como um fantasma, desaparecendo através dela. Anix, Nevan e Sairf engoliram a seco e atravessaram o corredor sem pressa. Suas pernas estremeciam e o suor pingava de suas testas, apesar do intenso frio que sentiam.
Com um poderoso golpe de espada, Nevan partiu o cadeado da porta em dois. A porta se abriu devagar, presa pela ferrugem das dobradiças e pelos séculos de abandono. Atrás dela havia uma sala pequena e baixa, repleta de sujeira, entulho e teias de aranha. Ao fundo jazia o corpo já decomposto de uma anã ruiva, vestida com uma armadura de placas, já há muito enferrujada. Ao lado dela um enorme livro, com um corte de espada que o atravessava. Todos compreenderam que a menina na verdade não passava do espírito daquela pobre prisioneira. Com lágrimas nos olhos, Anix recolheu o livro do chão e o abriu. Era um diário, que contava em detalhes o que havia acontecido no salão do esplendor. Khundrukar, salão do esplendor e anão antigo, havia sido invadido por orcs que fugiam da praga que mutilava sua raça no reino vizinho de Lomatubar. Esses seres desprezíveis conseguiram cavar uma entrada para a morada de Durgedin e invadiram a montanha. Uma feroz batalha foi travada entre anões e orcs. No final da luta, os orcs saíram vitoriosos. Garimm Punho de Aço, a anã na cela, foi capturada ainda com vida e trancafiada naquela cela, onde passou quarenta dias sem água e comida, até finalmente perecer de inanição. Os anões de Khundrukar haviam tido um destino triste e trágico que agora seria revelado ao mundo. Anix fechou o livro e fez uma prece para sua deusa pedindo para que ela abençoasse aquela pobre alma.
Muito emocionado, Sairf começou a vasculhar o corpo de Garimm. Por baixo da armadura ele encontrou o que eles buscavam. Uma chave prateada, castigada pelo tempo e pela ferrugem, ostentando um entalhe com a figura de um anão zangado, o próprio Durgedin, brilhou nas mãos do mago. Sairf prometeu que traria descanso para a alma de Garimm de alguma forma, levantou-se e saiu junto com seus amigos. Do lado de fora da sala, os três se viraram, para dar uma última olhada no corpo. Ao lado do cadáver de Garimm, estava a mesma menina que lhes havia indicado o caminho. Os três piscaram, espantados e, ao abrirem novamente os olhos, não viram mais a menina. Em seu lugar estava uma anã de idade já avançada e cujos traços lembravam os da garotinha. Era o espírito de Garimm. A anã curvou-se, como que agradecendo aos heróis e desapareceu em pleno ar.
Anix guardou a chave com sigo e ficou invisível novamente. Nevan e Sairf passaram pelo monstro e foram ao encontro de seus amigos. Sairf ainda tentou oferecer Ghorad para a criatura, na esperança de conseguir libertar Sam. Mas como sua tentativa foi em vão, os dois rumaram para o andar superior, enquanto Anix vigiava, oculto pela sua invisibilidade.

Capítulo 128 - Eu quero comida!

Squall parou na entrada da caverna, buscando a figura da garota com os olhos. Nailo estava logo atrás dele e também parou. Legolas que vinha em seguida, cortou a frente dos dois e foi na direção da porta. Nailo e Squall entraram em seguida, enquanto que Lucano e os demais já estavam bem próximos deles. Então, quando os três já haviam adentrado na câmara, a estranha estalagmite após o riacho se moveu. Um olho vermelho brilhante e uma bocarra repleta de presas afiadas se abriram sobre ela.
_ Muito bem! O jantar está servido! – rugiu o monstro, enquanto lançava seus tentáculos fibrosos sobre os heróis.
Numa fração de segundo, os três foram capturados pelos tentáculos da criatura. Squall sentiu-se sugado pelas ventosas do monstro e viu sua força se esvaindo. Nailo e Legolas conseguiram resistir, mas isso não foi suficiente para livrá-los do perigo. O estrangulador, nome daquele tipo de criatura segundo Nailo, arrastou Legolas para perto de si e abocanhou sua cabeça com sua boca nojenta e cortante. Os três gritaram por socorro, e seus amigos correram para ajudar.
Legolas sacou sua espada, Nailo posicionou sua flecha que ainda ardia em chamas, em seu arco, e Squall concentrou-se num feitiço. Legolas tentou cortar os dois tentáculos que o prendiam, mas o monstro era por demais ágil e conseguia esquivar de cada ataque, mesmo usando todos os seus seis tentáculos para manter os heróis presos.
Nailo disparou a flecha. Ela atingiu o monstro como esperado mas seu efeito não foi o que Nailo planejou.
_ Ai, sua comida estúpida! Isso queima! Para com isso! Fica quietinho pra eu te comer! – vociferou o monstro com um tom de voz fanho e ligeiramente abobalhado.
Apesar de reclamar de dor, o monstro parecia não ter se abalado com o ataque do ranger. Squall decidiu apelar para a magia. Pretendia revidar o ataque e enfraquecer o monstro com seu Toque da Fadiga. Squall tocou num dos tentáculos que o prendiam e proferiu as palavras mágicas. E nada aconteceu. A magia foi conjurada da forma correta, Squall estava certo disso. Mas mesmo assim ela não havia afetado a criatura. Era como se aquele ser tivesse alguma resistência à magia, ou talvez até fosse totalmente imune a qualquer tipo de mágica.
Lucano chegou disparando flechas contra o monstro, sem no entanto atingi-lo. Sam correu, batendo palmas e cantando, mas ele ficou assustado quando viu que sua magia também não funcionava. Sairf chegou até a entrada e lançou uma poderosa magia. Uma forte nevasca começou a cair dentro da caverna, impedindo que se enxergasse um palmo à frente do nariz. O chão foi coberto por uma fina camada de gelo e a própria superfície do riacho chegou a congelar.
_ Ah! Que friozinho gostoso! Agora vou saborear minha comida nesse friozinho agradável! E chega de peixes! Hoje eu vou me deliciar comendo uns elfinhos frescos e suculentos! - exclamou o monstro antes de novamente morder Legolas.
_ Solte-os! – gritou Anix, invisível, mas também sem poder ver o monstro.
_ De jeito nenhum! – respondeu o monstro – Faz tempos que não aparece uma comida diferente por aqui! Não vou perder a oportunidade de comer algo diferente! – continuou ele mastigando Nailo desta vez.
O monstro parecia ser muito estúpido. Todos perceberam que com um pouco de astúcia poderiam enganá-lo e escapar daquela enrascada.
_ Nós lhe daremos uma comida diferente! Tome, isso é muito gostoso! – Anix jogou uma ração de viagem na direção do monstro e a ouviu deslizar pelo gelo até se chocar contra a fera.
_ Eu não gosto disso! Eu quero comida gostosa! Não essa porcaria aqui! – rugiu a criatura, enfurecida. Dessa vez sua voz não parecia tão estúpida.
Enquanto Anix tentava dialogar com o monstro, e convencê-lo a trocar de cardápio, os heróis presos tentavam se soltar desesperadamente. Legolas disparava suas flechas contra o monstro, mesmo sem poder vê-lo por causa das brumas geladas de Sairf. Nailo e Squall tentavam se soltar, mas tudo era em vão. Suas ações só serviam para deixar a criatura ainda mais irritada. Muito nervoso, o monstro arrastou os heróis para cima do rio congelado. A fina camada de gelo começou a rachar lentamente para desespero dos capturados. A criatura também usou seus tentáculos para capturar Sam e Lucano, e arrasta o bardo para cima do rio. Com sua boca, o monstro estraçalhou o arco de marfim que estava com Legolas. O mesmo arco que fora motivo de disputa no grupo, agora jazia no chão, aos pedaços.
Finalmente, os heróis perceberam que apenas a força bruta não seria suficiente para vencer aquele desafio, então eles resolveram apelar para a astúcia. Squall disse que daria comida ao monstro, mas este se recusava a comer qualquer coisa estranha. Desejava comer algo diferente e saboroso, como um elfo, ou um humano, sua comida favorita. Após muita insistência, o ser abriu a boca e Squall aproveitou a chance para jogar uma pelota de enxofre lá dentro e conjurar uma bola de fogo. Mas, a magia não funcionou. Estava claro agora que nenhuma das magias do grupo funcionaria contra aquela criatura estranha. Mesmo assim, Sairf se concentrou e invocou um morcego monstruoso para tentar combater o inimigo. Mas isso também não surtiu efeito.
Irritado, o monstro mordeu Legolas novamente. O arqueiro perdeu as forças, já muito ferido, parecia seu fim. A criatura levantou os heróis com seus tentáculos e bateu os prisioneiros contra o rio. O gelo se partiu e Squall, Sam e Nailo afundaram nas águas geladas. O monstro os empurrava para baixo com seus tentáculos, impedindo-os de respirar, e tinha Legolas ao alcance de suas presas. Não havia meios de vencer aquilo, a única esperança era negociar com ele, e foi o que Anix fez.
Após muita conversa, Anix conseguiu convencer o monstro a tirar todos de dentro do rio, com a promessa de lhe trazer alguma comida diferente dos peixes que ele estava habituado a comer. O monstro pensou por alguns instantes, e decidiu que queria comer um dragão.
_ Mas um dragão? Não temos como conseguir isso! – exclamou Anix – Nós vamos lhe trazer outra coisa, agora solte meus amigos!
_ Não, eu quero comer um dragão, se não eu vou comer seus amigos. Principalmente os humanos, que são muito saborosos! – rugiu o monstro, visivelmente irritado.
_ Aaii! Não! Ele vai me comer! Eu sou um humano! – gritou Sam, enquanto tentava respirar, com quase todo o corpo dentro do riacho.
As palavras de Sam eram justamente o que o monstro desejava ouvir. Sem ver nada por causa da nevasca, Anix e os demais ouviram alguma coisa sendo retirada da água. Os gritos de medo não deixavam dúvidas, era Sam. Depois ouviram barulho de pancadas muito fortes, nas paredes e no chão, seguidas pelos gritos e gemidos de dor do pobre bardo. Sam se calou, mas as pancadas continuaram ainda por algum tempo depois. Quando a magia de Sairf terminou e a neblina finalmente se dissipou, todos puderam ver o que tinha acontecido. Sam estava com o corpo todo dentro da boca da criatura. Somente a cabeça do bardo podia ser vista do lado de fora. Os dentes do monstro, afiados como facas, seguravam firmemente o pescoço de Sam. Bastava um único movimento para que o bardo fosse decapitado. Com a boca cheia de comida, e a mente cheia de maldade, a criatura começou a falar.
_ Muito bem elfinhos! Agora você vai buscar meu dragão! Se você se recusar, eu vou comer esse humano gostoso aqui! Agora vai logo, você tem só uma hora pra trazer o meu dragão!
_ Você quer um dragão então? – indagou Sairf.
_ Sim um dragão! Ou então algum bicho parecido! Pode ser até um lagarto bem suculento! – respondeu a fera.
_ Então espera um momento!,
Nailo gesticulava para Sairf, apontando para o morcego por ele invocado. Sairf compreendeu a mensagem e se retirou junto com o animal. Fora da visão do monstro, Sairf usou uma magia para alterar a forma do morcego e deixá-lo com a mesma aparência de um dragão. Sairf retornou, carregando o falso dragão para tentar enganar o monstro.
_ Eu não quero esse morcego não sua comida estúpida! Eu quero um dragão de verdade, ou um lagarto bem suculento! Agora suma daqui e só volte quando tiver encontrado o que eu quero! Senão, esse humano já era! – gritou o monstro ainda mais irritado, enquanto cravava os dentes em Sam.
_ Tudo bem! Fique calmo! Nós vamos buscar sua comida! Só não mate meu amigo! – gritou Anix – Mas você também tem que ser razoável! Esse lugar está cheio de monstros perigosos! E capturar um dragão não é tarefa fácil. Solte meus amigos e fique comigo como garantia, para que os outros possam ir buscar sua comida!
_ Não tente bancar o esperto, sua comida estúpida! Você não está em posição de negociar comigo! Eu vou deixar seus amigos irem com você sim! Mas esse humano gostoso vai ficar aqui na minha boca! E se tentarem qualquer truque, já sabem! – e apertou novamente o pescoço de Sam com os dentes. O sangue escorreu, e os heróis foram soltos. Sem ter qualquer outra opção, os heróis partiram em busca da comida que salvaria a vida de Sam. Eles só tinham uma hora, e o tempo já estava correndo.

novembro 03, 2005

Capítulo 127 - Um sorriso de menina

O grupo rumava para o armazém de alimentos, a fim de se alimentar. Sairf saia para chamar seus amigos e Legolas se levantava após quase ter se afogado, enquanto Squall entrava no túnel, seguido de perto por Nailo. Tudo estava silencioso. Somente o som da cascata quebrava a monotonia mórbida daquele lugar. Mas um som diferente e assustador surgiu da escuridão, sobressaindo sobre o rugido das águas, e causando arrepios em Nailo e Squall.
O feiticeiro iluminou o túnel à sua frente, que terminava numa ampla caverna, para localizar aquele estranho som que lembrava o riso inocente de uma criança. O que Squall viu, deixou-o ainda mais assustado. Uma pequena menina, de longos cabelos ruivos, atravessou a caverna correndo e soltando um risinho tenebroso. Os que estavam mais distantes também puderam ver garotinha brilhando sob a luz da lanterna. Squall correu, e seus amigos o seguiram, emudecidos e temerosos.
Chegaram a uma caverna comprida, algo em torno de vinte metros, e toda irregular. Quase metade da caverna era ocupada por uma correnteza muito veloz, que se juntava com o riacho formado pela cascata para desaparecer na parede à direita dos heróis. A câmara tinha algo entre quatro e seis metros de largura, e a parede oposta ao túnel de entrada formava uma das margens do rio. À esquerda dos heróis, o rio cruzava pelo centro da caverna, e continuava numa outra câmara maior e semelhante. Desta vez, entretanto, o riacho ficava na parede adjacente ao túnel por onde os heróis haviam acessado o lugar. Por cima do rio havia uma ponte de pedras arqueada, que dava acesso à outra metade da caverna. No limite da visão era possível enxergar uma parede lapidada à direita que se abria num corredor com uma escada que descia para algum outro andar. A caverna continuava ainda mais além.
O grupo avançou, admirado com a beleza do lugar, e temeroso pelo que estava por vir. Chegaram até a ponte. Uma construção sólida. Feita de pedras lapidadas e encaixadas com requinte pelas mãos anãs. De onde estavam era possível ver o final da caverna, muitos metros à frente, que terminava em um túnel sinuoso que virava para a esquerda.
Novamente, ouviram um riso infantil. Squall direcionou a lanterna na direção do som, e Nailo disparou uma flecha incandescente na mesma direção. A luz clareou o lugar, e todos puderam ver uma pequena menina ruiva, usando um vestido vermelho desbotado enquanto olhava para o grupo.
_ Vamos brincar! Venham! Vamos brincar! – disse a menina sorrindo, antes de correr pelo túnel e desaparecer na escuridão.
_ Espere! Eu brinco com você mas me espere! – gritou Squall, já correndo sobre a ponte.
_ Então venha depressa! – respondeu a menina antes de se calar definitivamente.
Squall correu, seguindo a voz da menina. Sentia um calafrio na espinha, como se algo estivesse errado. Mesmo assim, não podia deixar de segui-la. Desejava saber quem era ela, e o que estava fazendo sozinha naquele lugar tão hostil. Squall continuou correndo, o mais que podia para alcançar a garota. Seus companheiros o acompanhavam de perto, mesmo contrariados, pois sabiam que alguma coisa muito estranha estava acontecendo ali. Talvez até tudo aquilo fosse parte de uma armadilha, preparada pelo coração negro que dormia sob a montanha, para acabar com os heróis. Mas nada disso importava para eles. Tinham a confiança de que se tudo aquilo fosse uma cilada, eles cairiam na cilada apenas para surpreender seu inimigo e se livrar dele. Tinham a coragem e a força suficiente para vencer qualquer inimigo e superar qualquer desafio. Infelizmente, eles estavam enganados. O grupo atravessou a caverna correndo. Passaram diante da escada e puderam ver que ela descia alguns metros e terminava numa porta entre aberta. Os últimos degraus da escada, bem como a metade inferior da porta, não podiam ser vistas, pois o lugar estava tomado por uma água escura e mal cheirosa. Sem parar seguiram adiante, até atravessarem todo o túnel que corria por dentro da montanha formando uma letra “s”.
Chegaram a uma nova caverna, semelhante à anterior, mas agora o rio se encontrava à direita deles, separando-os de uma outra plataforma rochosa logo depois do rio. A câmara se estendia ao longo do riacho por cerca de vinte metros e era estreita e sinuosa. Não tinha mais que seis metros de largura nos trechos mais abertos. Pouco antes do fim da caverna, havia a entrada para alguma sala ou corredor oculto por uma porta. O chão era decorado por estalagmites, mantidas intocadas para preservar a beleza natural do lugar. Na plataforma após o rio havia ainda uma enorme estalagmite, que quase tocava o teto a cinco metros do solo, e de aparência muito estranha. A menina, entretanto, já não estava mais lá.

Capítulo 126 - Lembranças do mundo dos mortos

Nailo terminou de comer e se levantou sem falar nada. Sam reclamava de fome e tentava convencer seus amigos a seguir o exemplo do ranger e parar para o almoço. Já passava das duas da tarde, sem que ninguém soubesse disso, e todos estavam famintos e cansados. Enquanto todos discutiam o que fazer, Nailo se afastou lentamente.
_ Aonde você vai Nailo? – perguntou Nevan, apreensivo.
_ Eu vou lá em cima procurar minhas coisas! Tenho que encontrar minha mochila! – respondeu Nailo.
_ Está louco? Vai lá em cima sozinho? Aquele lugar está cheio de trogloditas! – argumentou Nevan.
_ Eu sei disso, mas preciso encontrar minha mochila e a do Sam! – Nailo parou e se virou para falar com o guerreiro.
_ Deixe isso para lá! Você só irá se arriscar à toa indo lá sozinho! Além do mais, nós só descemos aqui para procurar a chave daquela porta de ferro! Assim que nós a encontrarmos, subiremos todos juntos para procurar suas coisas! – Nevan tentava convencer o amigo a desistir daquela idéia arriscada.
_ Mas eu preciso ir lá agora! – Nailo estava irredutível.
_ Por que? – Nevan se esforçava para entender as razões de seu companheiro.
_ Tenho que encontrar a maçã que nós ganhamos de Allihanna! Ela estava nas coisas do Sam, e agora está com aqueles trogloditas nojentos! – a voz de Nailo tinha veio carregada de preocupação.
_ Falando nisso Sam. Onde você colocou a maçã quando o Nailo a entregou pra você? – perguntou Anix ao bardo.
_ Maçã? Que maçã? – Sam parecia confuso.
_ Oras! Como assim que maçã? A maçã de Allihanna Sam! – respondeu Anix, já irritado com o esquecimento do amigo.
_ Ah! Sim, agora me lembro, uma maçã dourada, eu lembro dela. Ela estava na minha mochila! – sorriu Sam.
Todos estranharam a resposta do bardo, pois a maçã que haviam recebido da deusa da natureza era vermelha como um rubi. A que maçã vermelha poderia estar se referindo Sam? Os olhares se voltaram para o bardo. Todos começaram a interrogá-lo e, pouco a pouco, Sam foi se lembrando do que aconteceu e contando aos seus amigos.
_ Quando eu atravessei o portal de luz que brilhava no final do túnel escuro, eu me lembro de ter chegado a um lugar cheio de árvores. Havia animais por todos os lados, borboletas voavam ao redor de minha cabeça, enquanto os pássaros cantavam melodias suaves e agradáveis. Lembro de ter visto uma maçã dourada à minha frente. Eu me senti atraído por aquele fruto e andei até sua direção. Quando eu a toquei, um brilho ofuscante me envolveu. Quando abri os olhos, vi um pequeno cervo na minha frente. Ele me disse que minha hora ainda não havia chegado, e que ela iria me livrar daquele mal. Então o bichinho se transformou numa forma estranha, parecia uma mistura de vários animais. Ela veio até mim e me beijou a testa. Depois disso, tudo que me lembro é de acordar e ver esse maluco do Legolas me esbofeteando!
Estava tudo claro agora. Sam havia de fato partido do mundo dos vivos, mas graças a Allihanna ele estava de volta. A maçã mágica que estava de posse do bardo, permitiu que ele pudesse fazer contato com a deusa e receber uma segunda chance. Como Allihanna havia prometido, a maçã fora capaz de desfazer qualquer mal, inclusive a morte, e trazer Sam de volta à vida.
_ Desculpem amigos, mas parece que eu já gastei a maçã! – sorriu Sam, coçando a cabeça, encabulado.
_ O que importa é que você está vivo! – responderam os outros.
_ Viu só Nailo? Agora já não há mais motivo para tanto desespero. Vamos procurar a tal chave e depois subiremos para procurar suas coisas todos juntos. Afinal de contas, nós teremos que subir de qualquer maneira para atravessar aquela porta de ferro! – concluiu Nevan.
Nailo finalmente aceitou a sugestão do guerreiro e decidiu não se separar do grupo. Juntamente com Squall, começou a explorar o túnel que seguia paralelo ao riacho, enquanto os outros saltavam sobre a correnteza, após o incidente com Legolas.