novembro 08, 2005

Capítulo 132 - A última visão

Enquanto os heróis cuidavam de suas feridas, se alimentavam e coisas do tipo, Sam, já com seu alaúde recuperado, pôs-se a tocar uma agradável melodia para entreter seus amigos.
_ Que saudades de ouvi-lo tocar para nós Sam! – suspirou Squall.
_ É meu amigo! Eu que o diga! – respondeu Sam.
Sam tocou por cerca de uma hora, finalizando o repertório com uma balada típica de sua terra natal, Sambúrdia, o reino florestal de Arton. O bardo encerrou sua música, contando um pouco de suas origens aos seus amigos. Contou sobre seu reino, e sobre os lugares por onde havia passado até finalmente chegar em Malpetrim e encontrar os heróis na grande feira. De forma semelhante, cada um deles compartilhou com os demais as boas lembranças que tinham de seus lares e das pessoas queridas de quem tinham tanta saudade. Assim, o grupo passou a conhecer um pouco mais sobre a história de seus companheiros, o lugar de onde cada um deles vinha, suas famílias e amizades, inclusive seus amores. Cada um foi capaz de perceber que, além de aventureiros cheios de habilidades excepcionais, seus companheiros eram pessoas comuns, com sonhos, medos, sentimentos e fraquezas como qualquer pessoa do mundo. Então, cansados da longa jornada, eles finalmente adormeceram.
Embalados pela melodia de Sam, o sono de cada um dos heróis começou com lembranças das pessoas e lugares amados. Legolas sonhava com sua amada, Liodriel, já livre e ao seu lado vivendo uma vida feliz. Nailo andava de mãos dadas com Darin, sua namorada de Darkwood. Sairf usava seu poder mágico para congelar uma montanha, enquanto abraçava sua querida Narse. Anix respirava profundamente o perfumado ar do Bosque de Allihanna, acompanhado da exuberante Enola. Squall passeava pelas ruas de sua vila natal, de mãos dadas com Deedlit, sua amada. Lucano liderava o maior dos templos de Glórien, como seu sumo-sacerdote, e tinha a felicidade de ver sua amada deusa novamente com todo o seu poder e liderando os outros deuses do panteão. Eram momentos felizes que eles desejavam que nunca tivessem fim. Mas, como já era de costume, os bons sonhos logo deram lugar a pesadelos e visões atormentadoras.
As pessoas amadas desapareceram e em seus lugares estavam os outros heróis, inclusive Sam. A sensação de paz e felicidade que sentiam foi substituída por tremores, calafrios e suor. Os heróis olharam em volta e viram que estavam de volta ao interior do dente de pedra. Desta vez, no entanto, estavam em um gigantesco salão, todo decorado, de teto alto suportado por várias colunas majestosas de pedra. Atrás das colunas havia várias sombras, pequenas como anões, que espreitavam os aventureiros.
Novamente, independente da vontade dos heróis, seus corpos se moveram de encontro à parede e a atravessaram. O grupo atravessou por incontáveis paredes e salas, onde havia dezenas de corpos de criaturas mortas e despedaçadas. Alguns desses cadáveres se levantavam sobrenaturalmente para atacá-los. Os heróis continuaram passando pelas salas, através de paredes de rocha sólida, até atingiram um cômodo onde reinava a tristeza. Dentro da sala, encolhida num canto, uma jovem mulher derramava seu pranto melancólico enquanto implorava por ajuda. A bela dama viu os heróis e foi em sua direção, pedindo para que eles a libertassem. Mas os heróis continuaram sua jornada astral, abandonando a jovem presa dentro da sala à própria sorte. Apesar da forte emoção que carregava em seu peito, Legolas sentia que aquela não era a mulher que ele buscava resgatar. Havia outra prisioneira vítima da crueldade insana dos orcs. Mais alguém além de Liodriel e do grupo de Draco para resgatar.
Enquanto suas mentes filosofavam sobre a pobre mulher, a crueldade dos orcs e sobre os horrores que ainda veriam, o grupo viajou pelas paredes até um salão com um tipo de poço ou fonte e seu centro. Um a um, os heróis se viraram para a parede mais distante do poço e foram em sua direção. Atravessaram a parede que dava para um túnel estreito e baixo. No final do túnel, uma nova parede foi transposta e após ela havia um abismo imenso que descia para a escuridão, incontáveis metros abaixo. Um riacho escorria pela lateral do abismo e muito distante dali, acompanhando o fluxo do rio, era possível ver chamas acesas como tochas ou fornalhas, que se agitavam sob a melodia do tilintar de martelos se chocando com ferro. Todos desceram pela cratera do abismo, muitos metros, até chegar a um lago onde um coração negro pulsava sobre sua superfície. Então eles despertaram.

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