janeiro 24, 2008

Capítulo 301 – Jantar com o arquimago

Capítulo 301 Jantar com o arquimago

_ Soldado! Avise o mestre Vectorius que Seelan e seus amigos estão aqui para visitá-lo! – pediu o capitão. Um dos homens que vigiavam a entrada do palácio pediu licença e entrou na construção, voltando minutos depois.

_ Por favor, senhores. O mestre Vectorius irá recebê-los, me acompanhem.

O soldado os guiou pelo interior do castelo, uma magnífica obra de engenharia, e de feitiçaria. Paredes de mármore polido refletiam as imagens dos convidados como se fossem espelhos. Da mesma forma, o chão era igualmente belo e limpo, sendo possível encontrar um único grão de poeira, se ele existisse, no piso do castelo. Caminhavam deslumbrados por um corredor de proporções assustadoras, eram mais de 6 metros de uma parede à outra e o teto alcançava fácil os oito metros de altura. Pinturas, afrescos, esculturas e outras obras de arte magníficas decoravam os corredores gigantescos.

Chegaram a um salão ainda mais majestoso. Ultrapassava os trinta metros de largura e comprimento, e devia ter uns vinte metros de altura. No alto, suspenso por magia, havia um enorme lustre, do tamanho de uma sala, que iluminava o ambiente com luzes mágicas de cor suave. Ao fundo, havia uma escadaria de incontáveis degraus largos, que subia em forma de caracol até algum andar acima. Seus degraus não eram presos a paredes ou pilares, flutuavam magicamente a uma distância fixa uns dos outros, deixando mais do que claro que o senhor daquele palácio era de fato um dos maiores magos do mundo.

O soldado fez uma mesura e se despediu, pedindo que seguissem para a escada. Seelan avançou pelo salão, logo seguido pelos demais, e começou a subir a longa escadaria. Logo nos primeiros degraus da subida, uma voz firme e ao mesmo tempo serena preencheu o lugar todo.

_ Há quanto tempo não o vejo. Seja bem vindo, Seelan, meu antigo discípulo. – no alto da escada, um homem de aparência imponente, metido em robes luxuosos, observava os visitantes. Era Vectorius.

O arquimago recebeu o grupo com cordialidade e frieza. Cumprimentou um por um com gentileza e educação, mas sem um sorriso sequer. Vectorius tinha um semblante sério, seu olhar era penetrante e ele falava com a firmeza de um general que se dirigia às suas tropas, sem, entretanto, se exaltar ou elevar o tom da voz. Era todo disciplina, em seus cabelos perfeitamente alinhados, robes cuidadosamente colocados sobre seu corpo combinando cores e cortes, em sua voz sempre no mesmo tom de ausência de sentimentos, e em sua fala mansa e meticulosa de palavras calculadas uma a uma.

Um bater de palmas de Vectorius fez surgir um servo que sob suas ordens levou relâmpago para ser alimentado e tratado. Nailo não ficou satisfeito em ter de se separar de seu amigo, mas consentiu, ainda que a contra gosto. Então, guiados pelo admirável anfitrião, os heróis subiram o restante da escadaria mágica e chegaram à sala de jantar.

Aliás, sala de jantar era apenas um nome formal para aquele pedaço do castelo. A tal “sala” devia ser tão grande quanto a recém construída casa de Legolas. Nela não havia outros móveis além de uma mesa tão comprida quando uma dezena de cavalos em fila e tão larga quanto uma cama de casal. Era coberta por toalhas bordadas com maravilhosos fios de ouro que se trançavam para formar formas geométricas e desenhos de flores e animais. Sobre ela estava a comida, apenas os petiscos segundo Seelan. Eram dezenas de pratos contendo todo tipo de guloseima jamais sonhado pelos aventureiros. Canapés, torradas, biscoitos e todo tipo de iguaria, suficiente para alimentar um pequeno batalhão, havia ali. Enquanto degustava, Seelan conversava com seu antigo mestre animadamente. Seus amigos se esbaldavam.

_ Nossa, é caviar de Esturjão do Rio dos Deuses? Maravilhoso! Há tempos não comia isso. E então, como estão as coisas, Vec!­ – disse Seelan com entusiasmo. Vectorius pareceu erguer uma sobrancelha em desaprovação.

_ Vec?! Tenha mais respeito, afinal, fui seu mestre. Bem, as coisas vão bem. Os negócios prosperam e a cidade passa por cada vez mais lugares. Já são vários os mundos além de Arton que nós visitamos. E você Seelan? O que tem feito? – respondeu Vectorius sem alterar o tom da voz.

_ Bem, muitas coisas. Até entrei para o exército, em Tollon. Esses rapazes são todos meus subordinados. – continuou Seelan.

A conversa prosseguiu com mestre e aprendiz narrando os feitos do tempo em que estiveram separados. Vectorius falava pouco, apenas perguntava vez ou outra alguma coisa a Seelan, e observava com certo desagrado os modos ingênuos e atrapalhados dos demais. Squall e Silfo eram os que davam maior trabalho, constrangendo todo o grupo por estarem totalmente desacostumados àquele requinte. Todos os outros tinham maior astúcia e sempre observavam Seelan antes de pegar um talher, cortar um petisco ou levar algo à boca, repetindo os gestos do capitão.

Mais um bater de palmas do arquimago fez com que várias servas entrassem no gigantesco salão trazendo bebidas. Eram jarros de vinho tinto e branco e de cerveja clara e escura, oferecendo opções para todos os gostos, ou quase.

_ Não tem rum? – perguntou Legolas ao ser servido por uma das mulheres, todas jovens e de bela aparência.

_ Samantha! Traga rum para o cavalheiro! - disse Vectorius para a moça. - Alguém mais gostaria de algo exótico? - depois se dirigindo aos convidados. Darin ergueu uma mão, insegura.

_ Eu, senhor Vectorius. Onde fica a latrina? – perguntou a elfa.

_ Stephens, por favor, conduza a senhorita até o toalete! – ordenou o arquimago. Alguém que o conhecesse muito teria dito que ele esboçou um sorriso.

Nailo e Darin se retiraram, seguindo o servo até o banheiro. Legolas fez outro pedido.

_ Vectorius. Eu sei que você é um homem rico e cheio de poderes, portanto deve ter alguns outros vinhos diferentes em seu castelo. Será que eu poderia prová-los? – perguntou o arqueiro. Seelan prendeu a respiração.

_ Claro. Endora, Samantha, providenciem uma degustação de vinhos. – Vectorius parecia irritado, mas atendeu ao pedido do elfo.

Os servos se retiraram, levaram também Cloud e Heart para serem tratados junto com Relâmpago. Logo em seguida, retornaram trazendo diversos jarros com variados tipos de vinho para serem degustados.

Enquanto isso, no banheiro, Nailo se espantava com as maravilhas tecnológicas e mágicas que existiam naquele castelo. Com muito custo, descobriu que devia urinar na enorme peça de porcelana onde, oculta por uma tampa de madeira nobre, havia uma poça d’água. Surpreendeu-se ao descobrir que com o fechar da tampa a água suja era trocada por água limpa através de diversos furos pequenos que se ocultavam nas reentrâncias da peça. Não entendeu, no entanto, para que servia a outra bacia de cerâmica de onde esguichava um jato de água após se girar uma peça circular de metal. Intrigado com tudo aquilo, deixou o local, passando a vez para sua noiva.

Darin entrou finalmente no banheiro, maravilhada com todo o luxo e requinte e quase explodindo por ter tido que esperar pela saída no noivo. Nailo a aguardava do lado de fora, encostado na porta, quando ouviu um rugido fraco lá dentro. O rugido foi seguido por um grito da mulher.

Sem hesitar, ele arrombou a porta com um chute e invadiu o banheiro, encontrou Darin, em pé, diante da bacia de urinar. Estava sorrindo.

_ Amor, você viu isso? É lindo, eu quero um desses na nossa casa... – Darin matraqueava sem parar enquanto Nailo já imaginava seus preciosos tibares voando pela janela. Ela ainda o ensinou o funcionamento da outra bacia com o esguicho de água e de uma outra enorme onde cabia uma pessoa inteira. Tudo parecia muito natural para ela.

Na saída, encontraram o servo que os conduzira até ali. O homem examinava, intrigado, a tranca destruída da porta. Nailo tranqüilizou-o, dizendo que estava tudo bem com eles. Pelo homem Darin descobriu os nomes dos objetos que desejava comprar, o vaso sanitário e o bidê. Retornou apressada para a sala de jantar, arrastando o noivo pelo braço, repleta de ansiedade e desejo de contar às amigas o que descobrira. E naquela noite não voltaram a ver o homem que os levara ao toalete.

Todos reunidos novamente, o jantar foi finalmente servido. Diversos pratos com iguarias nunca imaginadas pelos heróis, junto com montes de talheres e pratos e copos diferentes. Servos trouxeram bacias de metal cheias d’água e as ofereceram aos convidados. Legolas encheu um copo, agradecendo ao homem, enquanto Silfo entornava toda a água de sua bacia sem cerimônia, aplacando sua sede. Seelan lavava as mãos na água com a face tomada de rubor pelo vexame causado por seus amigos. Tardiamente, todos os outros, à exceção de Silfo, imitaram o gesto do mago.

Durante o jantar conversavam. Nailo começou a contar ao arquimago as aventuras de seu grupo e foi logo ajudado por todos. Vectorius mostrou grande interesse na história, especialmente no colosso de pedra construído por Teztal e no encontro que tiveram com o lendário Tarrasque. Squall, tentando se exibir e mostrar superioridade (já revelando traços da personalidade dracônica que invadia sua existência élfica), fez um desenho do monstro e exibiu-o com orgulho dizendo que nem Vectorius seria capaz de derrotar aquele monstro. O mago reconheceu o poder colossal da criatura, mas em momento algum concordou com a opinião do feiticeiro.

A narrativa continuou, contaram do encontro com Sam, da chegada a Darkwood e do rapto de Liodriel. Squall usou magia para fazer chegar até si uma garrafa de vinho, encheu sua taça, trocou a cor da bebida e ergueu novamente a garrafa com mágica, oferecendo-a de modo desafiador a Vectorius. O anfitrião agradeceu dizendo que ele mesmo se serviria, estalou os dedos e o líquido desapareceu de dentro da garrafa e surgiu na sua taça. No relato, os heróis já entravam em Khundrukar e já testemunhavam com pesar a morte de Loand. A saga nos salões do esplendor foi narrada até o fim, os servos já recolhiam os pratos dos convidados satisfeitos quando Legolas e Liodriel finalmente se beijavam nas profundezas da mina de Durgedin.

_ Já ouvi essa estória – comentou um dos serventes. – É a balada da Forja da Fúria. Muito bonita.

O homem ia saindo após recolher pratos e talheres quando foi detido quase com violência.

_ Volte aqui! O que você disse? – era Anix.

_ Disse que já ouviu essa canção, senhor. É a Balada da Forja da Fúria e eu gosto muito dela.

_ E onde você ouviu essa balada? Quem te contou? Em que lugar? Como era essa pessoa? – as perguntas choviam sobre o homem, feito setas.

_ Bem, em uma taverna aqui na cidade, na Ogro Selvagem, foi um bardo que costuma tocar lá quem cantou a balada numa noite em que eu estava de folga. – gaguejou o rapaz. Havia medo e espanto em seu rosto.

_ E qual era o nome desse bardo? Por acaso não era um bardo com alaúde e chapéu de três pontas? – era Nailo.

_ Não, ele não usava chapéu. E seu nome era, se bem me lembro, James Sulivan.

_ Pode nos levar até lá? – desta vez era Legolas.

_ Sim, eu os levarei senhores. Se desejarem hoje mesmo, após o jantar.

Estava decidido. Após o jantar todos iriam à tal taverna conversar com o bardo e, quem sabe, encontrar uma pista do amigo Sam, talvez até ele mesmo em pessoa.

Após a refeição, Vectorius levou todos para conhecerem o palácio. Andaram por incontáveis corredores e salas, a própria morada do arquimago era quase uma cidade. Terminaram o passeio no topo de uma das torres que se elevavam sobre a cidade. Da sacada podiam vislumbrar todo o comércio pulsante da metrópole voadora, o horizonte se descortinava, cidades podiam ser vistas ao longe, brilhando na noite como chamas de velas distantes. O mar era algo próximo, suas águas escuras banhando a costa artoniana eram um espetáculo ainda mais belo visto do alto. A história dos aventureiros terminou de ser contada por Nailo. Uma breve pausa. Depois, o arquimago falou sobre sua cidade de forma orgulhosa, apontando seus bairros, contanto suas histórias, suas peculiaridades.

Todos se distraíam olhando a cidade, a paisagem. Squall aproveitou e se afastou do grupo. Em segredo e em silêncio, retirou de sua roupa um dos pergaminhos mágicos que ele havia pegado na bolsa de Deedlit e que nunca havia devolvido. Era um pergaminho de vôo. Furtivo, conjurou a magia sobre si, escondeu o papel já vazio e foi sentar-se no parapeito da torre.

_ Squall, desça daí, você pode cair! – advertiu Anix, preocupado e envergonhado com os modos do irmão.

_ Não se preocupe, não tem perigo! – respondeu Squall com arrogância. Fingiu perder o equilíbrio e atirou-se para fora da torre, fingindo desespero.

_ Squall!!! – Anix gritou, assustado, e pulou atrás do irmão.

Seelan se esticou até o parapeito, onde evocou um encantamento sobre os dois que despencavam. Squall e Anix começaram a cair lentamente, como plumas soltas ao vento. Seelan soltou um lamento de desgosto. Vectorius apenas observava.

Súbito, Squall agarrou o irmão e alçou vôo, rindo de todos. Deixou Anix em segurança na sacada e retomou seu passeio aéreo, se exibindo com rodopios e zombaria.

Squall voava. Seelan olhava cheio de frustração enquanto Anix estava irritado. Nailo e os demais olhavam com desprezo e Legolas encostou-se em um canto, farto daquela futilidade. Vectorius tinha o olhar distante, mirado no céu de sua cidade.

_ Elfo do céu! – exclamou o arquimago como se um pensamento lhe escapasse pelos lábios.

Todos olharam para o alto, e viram um elfo alado que voejava com suas asas emplumadas sobre o céu de Vectora. Squall foi até ele.

_ Ah não, lá vai meu irmão aprontar outra das suas! – suspirou Anix.

Todos ficaram observando do chão da torre. Squall e o outro elfo eram meros pontos distantes no firmamento. Viram o pontinho que era Squall se aproximar do outro que tinha asas. Os dois pararam próximos, como se conversassem, então o pontinho alado avançou sobre o que era Squall e o agarrou. Pareciam estar se beijando. E estavam.

_ Olhem lá! Squall está beijando o elfo do céu! Mas é uma fêmea mesmo! – exclamou Nailo. Os pais do feiticeiro quase entraram em choque, Lady Valkyria entrou em desespero e abraçou seu marido engolindo o pranto. E todos assistiram, horrorizados, Squall se agarrando e beijando um elfo do céu. Viram quando o elfo o levou para um amontoado de árvores nas montanhas atrás do castelo, de mãos dadas, e desapareceu com ele entre a folhagem. Todos viram Squall traindo a elfa que ele amava com sordidez e pederastia. Somente os olhos apurados de Nailo viram que não era um elfo, mas sim uma elfa do céu. Nailo guardou aquela informação em segredo e se juntou aos outros. Todos retornaram para dentro do castelo e encerraram a noite de gala no castelo de Vectorius.

· · · · · ·

No céu.

_ Olá bonitão! Quem é você? – perguntou a elfa. Suas asas batiam devagar e ela pairava diante do recém chegado, olhando-o com curiosidade e entusiasmo. Seus olhos brilhavam e seu sorriso era largo e parecia brilhar também.

_ Olá! Sou Squall! – sorrindo e se exibindo.

_ Muito prazer! – mal falou e avançou sobre o outro. Beijou-lhe a boca como se quisesse sugar-lhe a alma. Squall ficou atordoado e completamente entregue. – Não quer passar a noite comigo bonitão?

_ Claro! – Squall quase não tinha fôlego.

_ Venha! – a elfa alada puxou-o pela mão e o levou para trás do castelo, sobre as montanhas, onde árvores teimavam em se crescer. Lá, os dois ficaram nus e se entregaram à luxúria e ao prazer. Quando acordou pela manhã, Squall não viu sinal da elfa. Nem de sua roupa de baixo. Não sabia quem era ela, nem ao menos seu nome, e ela o tinha abandonado sem nem deixar um bilhete ou dizer adeus. E ainda levara suas cuecas.

· · · · · ·

Nas ruas, ainda na noite, o grupo era guiado pelo criado de Vectorius. A cidade fervilhava como se o dia não tivesse fim, como uma festa que não se acabava. Foram levados a uma loja onde Nailo comprou o tal vaso sanitário e o tal bidê para Darin. Pressentindo encrencas, Legolas levou Liodriel discretamente para bem longe da loja enquanto o amigo gastava seus preciosos tibares.

Depois foram até a taverna, o criado arranjou-lhes uma mesa num canto distante da multidão, onde poderiam ter privacidade. Depois de alguns momentos de busca e perguntas, encontrou o tal bardo e o levou até a mesa dos aventureiros. O criado se despediu e partiu. Restava apenas o bardo.

_ Cante! – pediu um dos heróis, empurrando algumas moedas douradas para o menestrel.

_ Claro que sim amigos! – entusiasmou-se o bardo – O que gostariam de ouvir? Uma balada de amor? Uma canção de guerra? Uma cantiga de escárnio?

_ Queremos ouvir a Balada da Forja da Fúria. Do início ao fim. Não esqueça nenhum detalhe.

E o bardo cantou. Em versos rimados, acompanhados do som doce de uma lira, toda a história dos heróis sob a montanha do dente de pedra foi contada. O sonho premonitório, a chegada a Darkwood, o enterro de Smeágol, a fuga, a partida. A jornada pelas matas de Tollon, o encontro com a montanha, a batalha em seu portão vigiado por orcs. A luta pelo primeiro nível da mina, as várias batalhas contra os orcs, a morte de Loand, a chacina de Legolas, o resgate de Seelan. A descida para a escuridão, guiada pelas visões, o ataque dos stirges, o inferno nauseabundo nas mãos dos trogloditas, a morte de Sam e de Nailo. A amargura, a vingança, a ajuda de Nevan e a conquista do segundo nível. A alegria de encontrar os amigos vivos. O terror no terceiro nível, mortos, aparições, monstros gosmentos. Sam feito refém. A procura pelo tributo para libertar o amigo, o encontro com a anã morta, a libertação do bardo. O quarto nível, a luta contra estátuas, os anões gigantes, os mortos-vivos. Idalla. A passagem secreta, a escadaria para as trevas, o rio e o lago sob a montanha. O Ninho de luxúria. Escamas da Noite. E Draco. A batalha com a dragonesa, a revelação sobre Squall. A luta contra o elfo traidor, a súplica de Liodriel. A derrota de Draco, o reencontro com a bela dama e a aparição da deusa. A redenção de Draco, o adeus aos amigos, o retorno de Escamas da Noite. A vitória, tão aguardada e duramente conquistada, a volta para casa e o casamento. Tudo era narrado de forma prodigiosa pelo menestrel, causando emoção naqueles que ouviam. Qualquer um teria pensado “são apenas estórias de bardos”, mas não eram. Era uma história real e eles estavam ali, vivos e presentes, para confirmar tal fato. Enquanto a canção descrevia de forma magistral e elfa aprisionada, o bardo olhava para Liodriel, como se não acreditasse. Interrompeu a balada para confirmar o que seus olhos lhe diziam. Era verdade. Estava diante dos heróis cuja história ele cantava. Tomado de um novo entusiasmo, o trovador concluiu sua apresentação.

_ É uma imensa honra. Nunca imaginei que tal história fosse de fato verdade, quanto mais que teria a chance de encontrá-los pessoalmente. Sinto-me abençoado! – o bardo parecia prestes a explodir de emoção.

_ Sim, cada verso desta balada é verdade. Ficamos honrados em ter nossos nomes cantados por você. Agora, conte-nos onde a aprendeu!

O poeta lhes contou de suas andanças e que um outro bardo havia lhe ensinado a balada em uma taverna de Bielefeld. Infelizmente para os personagens da balada, esse bardo não era Sam. Entretanto, embora sem conhecer seu paradeiro, isso significava que Sam estava vivo e trabalhando incansavelmente, espalhando a história que vivera com seus amigos aos quatro ventos de Arton.

Permaneceram na taverna até altas horas, bebendo comendo e conversando com seu novo amigo bardo. Nailo contou a ele sobre Carvalho Quebrado, sobre a traição de Zulil e todos os perigos que passaram naquela ocasião. Explicou tudo com detalhes, para que uma nova canção fosse composta por James Sulivan, uma canção que já tinha até um nome.

_ Agora, você vai escrever uma nova canção baseada no que lhe contei. E assim com Sam, espalhará essa história pelo mundo. E o nome dessa nova balada será: Mais que um capitão, um amigo inesperado!

_ Sim, já sinto os versos pulsando em minha mente, ávidos por saírem e tomarem forma em papel e melodia. Vou começar a trabalhar agora mesmo e, se Tanna-Toh assim permitir, um dia nos encontraremos novamente e eu cantarei novamente para vocês, meus amigos!

Assim, James Sulivam se despediu de seus ídolos e, agora, amigos. Os heróis voltaram para a estalagem e esperaram a manhã chegar, quando então dariam adeus à maravilhosa cidade voadora.

· · · · · ·

Era o 28º dia de Aurea, o ano findava. Os heróis levantaram de suas camas e deixaram a estalagem onde tinham passado parte da noite. Despediram-se de Sara e Luana, ambas agradecendo com os olhos cheios de lágrimas. No ancoradouro da cidade, nenhum sinal de Squall.

As horas passavam e a manhã já quase acabara quando ele finalmente chegou, sem fôlego.

_ O que aconteceu? Onde você estava? Esqueceu que temos que ir embora? – perguntaram todos.

_ Calma, tive alguns problemas. Vou contar tudo.

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Squall se levantara pela manhã, assim que os primeiros raios de Azgher vieram lhe tocar o rosto. Estava nu, deitado na relva, sozinho. Sua companheira, bem como suas roupas de baixo, tinha desaparecido, sem rastros. Felizmente para ele, nada além de suas cuecas havia sido roubado. Pegou em suas coisas outro pergaminho mágico de vôo que havia roubado de Deedlit, a quem ele havia também traído promiscuamente. Assim ele retornou para as ruas de Vectora.

Squall tinha um compromisso e se lembrava disso. Deveria encontrar seus amigos e familiares no ancoradouro principal, de onde se despediriam da cidade. Mas ele traiu a confiança deles também, mais parecia devoto de Sszzaas do que um filho de Glórien ou mesmo de Megalokk. Ao invés de ir ao encontro dos companheiros, decidiu procurar por Tião, o guia, pois queria retornar à casa de jogos de Gorco para vender suas engenhocas goblinóides.

Mas, o que Squall tinha de arrogante e desonrado, também tinha de estúpido. Chegou à prisão onde Tião agora residia tentando ditar ordens, exigindo ver o prisioneiro, proclamando-se capitão do exército de Tollon, como se isso importasse naquela cidade. Como lhe foi negado ver o prisioneiro pelo capitão da milícia (que nunca tinha visto Squall antes), o feiticeiro insistiu de todas as formas, chegando a dizer ser amigo pessoal de Tião e que por isso precisava vê-lo. Esse foi seu grande erro.

Era óbvio e qualquer criança saberia que um amigo de um criminoso bem poderia ser cúmplice deste. Logo, o capitão deu voz de prisão e Squall foi enjaulado. Preso, tentou ainda usar magia para dominar as mentes dos milicianos para ser libertado, tentou pedir ajuda a Cloud mas, depois de algemado e amordaçado, só lhe restou esperar até o meio-dia, quando o turno dos soldados terminou e o grupo do dia anterior, responsável pela prisão de Tião e dos outros bandidos, chegou para trabalhar. O Tenente Alber Rhino reconheceu o elfo atrapalhado de imediato, o mal entendido foi desfeito e Squall libertado. Assim, com horas de atraso e sem conseguir conversar com o guia aprisionado, Squall finalmente decidiu se juntar aos amigos quando estes já começavam a procurá-lo.

E todos se reuniram finalmente na praça de entrada da cidade voadora. O admirável passeio chegava ao fim. A encomenda de Legolas seria entregue no forte, quando estivesse pronta, por um mensageiro, de forma que não precisariam aguardar mais tempo ali. Tinham passado apenas um único dia no Mercado nas Nuvens, mas o pouco que haviam estado ali lhes garantiria incontáveis lembranças para o resto de suas vidas. Tinham feito compras, visto coisas fantásticas e inimagináveis, tinham conhecido uma das mais importantes figuras de todo o mundo, tinham vivido aventuras e aprendido muitas coisas e, acima de tudo, tinham ouvido uma maravilhosa canção que eles mesmos tinham criado e que era um sinal de que seu amigo Sam Rael estava vivo e de que o reencontro com o estimado bardo estava cada ver mais próximo.

Assim, Seelan evocou seus poderes mágicos e pôs todos a voar de volta para a superfície de Arton. Legolas ia em sua vassoura mágica, carregando sua amada e guiando seu companheiro eqüino. Estava em êxtase. Orion tentava se desgrudar de Seelan, já farto daquela bolinação. Lucano e Rael conversavam sobre os deuses e seus desígnios, enquanto que os pais de Anix viviam uma segunda lua-de-mel. Nailo carregava itens especiais que comprara, para os quais tinha grandes planos, e em sua bolsa mágica ainda havia espaço para transportar seu vaso sanitário e bidê. Anix tinha Enola nos braços, Silfo às costas sempre a lhe vigiar e um segredo a descobrir. O que teriam feito com ele? E Squall tinha dentro de si a imundície da traição e a leveza na consciência que somente os piores vilões conseguiriam ter após se comportarem da maneira que ele se comportava. Os dados rolavam, os deuses observavam atentos, e os grãos da areia do tempo chegavam pouco a pouco perto do fim. O momento prometido estava próximo.

janeiro 14, 2008

RPG no jornal

O jornal Tribuna Impressa publicou neste domindo, dia 13 de janeiro, uma matéria de duas páginas e meia dedicadas inteiramente ao RPG.
Escrita por Luciana Mendonça, a matéria aborda os conceitos do jogo, explicando de forma resumida e clara tudo que envolve o hobby e seus praticantes.]
A reportagem também conta com declarações de jogadores, mostrando os atrativos e benefícios que o hobby propicia a quem o pratica.
Também é dado destaque especial para o uso pedagógico do RPG e mostra as experiências bem sucedidas do professor Eduardo Augusto Küll, pioneiro do uso do RPG pedagógico na cidade, organizador do Encontro de RPG de Araraquara e que está em vias de publicar um livro sobre o assunto.
Há também indicações de livros escritos por pedagogos para quem quiser saber um pouco mais sobre o hobby.
Se você ainda não adiquiriu seu exemplar, corra até seu jornaleiro e compre seu jornal agora mesmo. Não perca a chance, vale a pena.

janeiro 09, 2008

300......de Arton

Emfim chegamos ao 300º capítulo. Até agora foram ao todo 611 páginas em formato A4, divididas em quatro volumes (um de 96, um de 122, um de 189 e outro de 204 ainda em construção). O dobro de páginas se considerarmos o formato livro (1222).
Um feito e tanto para um grupo de garotos desacreditados, desprezados e subestimados por todos, especialmente jogadores veteranos. Um feito incrível para um mestre sem grande experiência (que ainda não passou do 10º nível em aventuras mestradas ou jogadas), sem pretenção de ser escritor e que sempre declarou odiar língua portuguesa, redação, etc.
Tudo bem, eu sei que a coisa tá mal escrita, contém dezenas de milhares de erros de gramática, digitação, etc. Mas, se levarmos em consideração que tudo foi escrito às pressas durante intervalos no horário de trabalho e que o texto nunca passou por uma revisão (eu mesmo nunca leio depois de escrito) e que tudo isso foi feito em apenas 3 anos, tendo que dividir espaço com dezenas de outras atividades, de trabalho a família, incluindo ai a organização do Encontro de RPG de Araraquara e todos aqueles montes de problemas pessoais que todo mundo tem, acho que dá pra dizer que isso tem algum mérito.
Se não como obra literária, ao menos por coisas paralelas.
Muita coisa mudou no grupo. Eram então um bando de moleques desacreditados, zoados por todos, rebeldes e desconfiados uns dos outros, que começaram tímidos, praticamente apenas trocando dados de dano. Hoje o grupo evoluiu, amadureceu. A timidez sumiu (ou ao menos diminuiu muito), dando lugar a interpretações memoráveis e inesquecíveis. O diário, por sua vez, me serve de exercício de escrita (acho que agora encaro qualquer redação de vestibular sem grilo) me ajuda a manter a prática de escrever e a desenbolvê-la. mantém minha mente alerta. Serviu também de estímulo para os jogadores se tornarem grandes leitores. Começaram lendo suas próprias aventuras e hoje são consumidores de leitura de diversas fontes.
Muitas lições foram passadas para eles e para mim ao longo dessa campanha. Um medo irracional (e ridívulo) de dinossauros foi vencido, rebeldia foi transformada em ponderação e sabedoria, brigas e implicância deram lugar a grandes amizades. Eu próprio me tornei uma pessoa melhor, após ser influenciado pelas palavras de Lars Sween "não há mal que não possa ser desfeito, e não há pessoa que não mereça uma segunda chance". Tomei para mim a frase de meu clérico NPC, e minha vida melhorou. Passei para meus jogadores muitas de minhas experiências e lições de vida e de sabedoria através de meus NPCs, e isso é recompensante. Aprendi com eles também e crescemos todos juntos, junto com nossos personagens e a história que construímos.
Muito foi conquistado e muito há ainda a ser conquistado. Mas posso dizer pelo que passou, que valeu e vale muito a pena. Nos divertimos muito e demos boas risadas, nos emocionamos e até choramos juntos (a morte de Sam foi inesquecível), aprendemos muitas coisas e nos tornamos pessoas melhores do que éramos. Valeu a pena chegarmos até aqui juntos, e prosseguiremos assim, enquanto a vida nos permitir. Mas, se um dia nos distanciarmos, teremos a certeza de que construímos algo bom juntos, e não nos lamentaremos, mas seremos eternamente gratos pelo tempo que nos foi dado juntos (essa frase eu tirei do filme A Vila, hehehe).

Bem, um futuro promissor se abre à frente dos personagens e dos jogadores que começaram adolescentes e hoje entram na fase adulta. É difícl prever o que acontecerá no futuro, mas dá pra garantir que teremos muita aventura, diversão e aprendizado. E, mesmo não se comparando nem aos micróbios dos pés de qualquer obra de um grande escritor como Tolkien, tenho certeza que esse diário servirá ao menos para passar o tempo, distrair e divertir, ao menos um pouco, além é claro, de ser o registro das lembranças desses tempos maravilhosos.

E quando, no futuro, tudo tiver terminado, e eu olhar para meu grupo e disser, "hoje é o primeiro dia do resto de nossas vidas", saberei que terá valido a pena.

É isso ai. Ainda que um pouco tardio, feliz 2008 a todos, e, vamos em busca de mais 300 capítulos de aventura e diversão!

Capítulo 300 – Médicos e monstros

Capítulo 300 Médicos e monstros

Anix despertou. Seus olhos abriram mas nada enxergaram. Tudo estava escuro. Estava deitado sobre pedra fria, vestia apenas uma roupa de tecido fino com uma grande abertura nas costas. Sua cabeça doía a cada movimento que executava. Havia uma dor latejante na testa, que ficava fraca quando ele permanecia imóvel e que aumentava quando se movia. E existia outra dor, no alto e na parte de trás da cabeça, que incomodava sempre que Anix tocava aquela região que parecia um pouco inchada.

O elfo se levantou vagarosamente e percebeu que estava em um tipo de cama feita de pedra fixada na parede, como uma prateleira de livros. Começou a andar, tateando a parede, em busca de uma saída dali. Foi quando tropeçou em algo.

Era muito grande, maior que ele mesmo e macio e quente. Anix pensou se não poderia ser algum animal, e um rugido o convenceu que era pior do que isso. Era um monstro. Um hálito quente e fedegoso embriagou o mago. O chão estremeceu quando a criatura se levantou, arfante. Anix estremeceu e se afastou rapidamente, mas uma garra afiada como uma navalha e grande como uma espada cortou-lhe o peito antes que pudesse sair do alcance da criatura. O monstro caminhava seguindo o elfo, como se pudesse enxergá-lo na escuridão, enquanto Anix fugia o mais rápido que podia, às cegas. E novamente ele tropeçou em algo que estava no chão e caiu.

Um cheiro asqueroso invadiu suas narinas. Suas mãos estavam mergulhadas em algo mole, pegajoso e fedido. Anix ouviu grunhidos acima de sua cabeça, logo após o monstro soltar um urro ensurdecedor e reconheceu rapidamente o grunhido. Eram morcegos. Sem hesitar, pegou um punhado daquele algo pegajoso, mole e fedido e moldou uma pequena esfera, uma bola de fezes de morcego. Anix calculou a distância que havia percorrido até chegar onde estava, concentrou sua mente, murmurou algumas palavras arcanas e arremessou a esfera de guano. Ela explodiu numa grande bola de fogo, envolvendo o monstro em suas chamas mágicas, revelando sua aparência e a do local ao redor.

O monstro tinha um tronco humanóide, porém gigantesco. Devia ser algum tipo de ogro ou troll, mas com algo diferente. Em lugar de uma mão de ogro ou de troll, havia uma enorme presa a um membro articulado semelhante a uma pata de inseto. A garra era óssea e curva e toda serrilhada, algo que Anix nunca vira antes.

Na sala havia outras daquelas camas-prateleiras penduradas nas paredes. Havia um monte de excremento de morcego, sobre o qual estava Anix, e uma abertura pequena no alto da parede sobre a cabeça dele, por onde os morcegos fugiam voando assustados. À esquerda, exatamente no meio da parede, havia uma porta de madeira, velha e apodrecida.

Sem hesitar, Anix correu para a porta, tentando arrombá-la com outra bola de fogo. Mas havia algo errado, sua magia falhou inesperadamente. Talvez aquelas dores em sua cabeça o estivessem afetando, ou talvez o fato de usar guano, ao invés do costumeiro enxofre, como componente material para a magia estivesse atrapalhando a conjuração, pensava Anix. Mas, a verdade era que em Vectora, magias daquele tipo eram muito difíceis de serem realizadas devido ao campo mágico que envolvia a cidade para proteger seus cidadãos e visitantes de serem feridos, ferir, serem enganados ou enganar. Dessa forma Vectorius mantinha a ordem em sua cidade voadora, limitando o poder dos magos, tornando-os mais fáceis de controlar. Desesperado, Anix começou a bater na porta, tentando arrombá-la. O monstro caminhava em sua direção, ficando cada vez mais próximo. O tempo se esgotava. Mas, o som de correntes se movendo e se estivando foi um alívio para o mago. A criatura estava acorrentada à parede e suas amarras se esticaram antes que ele pudesse alcançara o mago e trucidá-lo. Sem risco de ser atacado, Anix conseguiu trabalhar com calma e arrombar a porta apodrecida não representou grande dificuldade.

Anix saiu para um corredor longo e estreito, de paredes de rocha entalhada e chão de terra batida. Parecia estar em uma caverna, uma masmorra subterrânea. Perto dali, uma tocha tremulava pendurada na parede, iluminando, ainda que precariamente, a porção do corredor onde Anix se encontrava. Havia também outras portas, como a de onde Anix saíra. Eram outras celas. Anix usou seu poder mágico para ficar invisível, e precisou se concentrar muito e gastar muita energia para conseguir fazer a magia funcionar. Começou a caminhar lentamente pelo corredor, quando ouviu o monstro urrando dentro da cela. Depois ouviu o som das correntes se esticando novamente e um novo urro. Então veio um estalido agudo, as correntes haviam se partido, o monstro estava solto.

A criatura grotesca surgiu no corredor, bufando, urrando e esmurrando paredes e chão. Começou a correr na direção do mago, enlouquecido. Anix não sabia se ele o estava vendo, ou se corria para fugir dali, assim como ele próprio fazia. Sem desejar descobrir a resposta, Anix atacou, arremessando um punhado de fezes de morcego no monstro e recitando o feitiço da bola de fogo. As energias mágicas se dissipavam com facilidade, de modo que foi preciso muito esforço para reuni-las e convertê-las em fogo. Mas, no final, Anix teve êxito e a magia funcionou. O fogo explodiu e se alastrou pelo corredor apertado, quase chegando a Anix. Enfurecido e chamuscado, o monstro correu ainda mais rápido, e desta vez Anix não tinha dúvida, ele era o alvo da criatura.

O mago correu o mais que podia, acompanhando a curva que o corredor fazia para direita e para cima, terminando em um lance de degraus de pedra e uma porta, desta vez bem reforçada. Encostou-se na porta, a uma distância segura da curva do corredor, e se concentrou ao máximo. Quando o monstro surgiu pela curva, uma nova bola de fogo o atingiu, explodindo seu peito e tirando-lhe a vida. Anix nem teve tempo para comemorar a vitória.

No alto da porta uma pequena janela de madeira foi aberta pelo lado de fora. Atrás das grades de metal que bloqueavam a passagem pela abertura, havia o rosto de um homem, emoldurado em um capuz escuro.

_ O quê??! As cobaias estão soltas? Vou dar o alerta! – o homem estava surpreso por ver Anix fora de sua cela. Virou-se para correr e gritar por reforços e teve uma nova surpresa. – Quem é você? Como chegou até aqui? Vai morrer por isso, seu idiota!

Anix olhou pela abertura da porta e viu um elfo não muito distante apontando um arco para o vigia. Da ponta da flecha pingavam flocos de neve. Era Legolas.

· · · · · ·

Na superfície.

Após ir de um bairro a outro e penetrar por ruas estreitas, escondidas da maioria das pessoas, Nailo chegou a uma praça. Era um largo onde várias pequenas vielas terminavam, circundado por muitas lojinhas pequenas e tavernas sujas. E havia um pequeno chafariz no meio do largo, onde os pássaros não se arriscavam a beber.

_ Onde é? Onde os homens maus iam levar você? – perguntou Nailo ao lobo, latindo e rosnando como tal.

O animal apontou com o focinho para o lado oposto do beco onde estavam. Lá, além de lojas sem nome e de portas fechadas, havia uma escadaria que descia abaixo do solo, para algum estabelecimento instalado num porão, um lugar perfeito para um esconderijo de criminosos.

_ Esperem aqui! – disse o ranger ao animal e ao amigo. Andou até o meio da praça, deu uma olhada em volta e viu um homem saindo de uma taverna onde alguns bêbados cantarolavam algo de maneira desafinada. Foi até ele.

_ Boa tarde amigo! – disse Nailo.

_ Boa tarde – respondeu sem entusiasmo o homem, já encostado numa parede e com as mãos nos bolsos da calça.

_ Olha amigo, eu preciso de uma informação. Eu tenho umas coisas pra comprar e pra vender e gostaria de saber se aqui é o mercado negro da cidade – perguntou Nailo em tom meio debochado, tentando imitar o jeito dos freqüentadores do local.

_ Olha, não sei de nada disso não. Pergunte para outro – respondeu o outro secamente.

Lucano se aproximou dos dois.

_ Não se preocupe, pois nós não somos da milícia. Precisamos de algumas informações – era o clérigo.

O homem olhou desconfiado para os dois, olhou em volta, tentou se afastar e finalmente falou.

_ Olhem, não sei de nada. Deixem-me em paz e...olhem lá! O que é aquilo??? – algo chamou a atenção do homem, deixando-o espantado. Ele apontou para trás assustado.

Nailo e Lucano olharam, mas nada viram de estranho. Quando se viraram novamente para o homem, ele já não estava mais lá. Caminhava já a metros dali, acelerado.

_ Ei você! Espere ai! – o grito de Nailo alarmou o homem que correu e entrou num beco. Nailo e Lucano o seguiram rapidamente. Entraram no beco, era uma viela estreita e sem saída, cercada por casarões altos, e não havia portas ou janelas por onde o suspeito pudesse fugir e, no entanto, ele não estava lá. Tinha desaparecido.

Nailo investigou o local, procurou por passagens secretas, rastreou as pegadas do suspeito, mas não encontrou sinal do que havia acontecido a ele. Suas pegadas desapareciam abruptamente no meio do beco sem saída, como se ele tivesse sumido dali por mágica. Sim, teletransporte ou algo parecido, somente isso explicava o sumiço do homem, não adiantava mais procurar por ele. Mas, sua atitude revelara o que Nailo desejava saber. Estavam em um local secreto da cidade, acessado por poucos e longe dos olhos da milícia. Um lugar onde criminosos se encontravam para negociar produtos ilegais, para planejarem seus atos sórdidos, para dividirem seus espólios e para torturar animais.

Voltaram até a entrada da praça e pegaram o bandido desmaiado que haviam deixado encostado numa parede como se fosse um bêbado adormecido. Carregaram-no como se transportassem um amigo bêbado. O lobo os seguiu, tentado ser furtivo. E, num lugar como aquele, conseguiu. Esconderam o prisioneiro no beco sem saída, junto a uma pilha de lixo. Colocaram uma garrafa vazia ao lado dele e esconderam as mãos amarradas sob o lixo para não levantarem suspeitas. Nailo ordenou ao lobo que se escondesse no beco e que aguardasse até ele voltar e assim o animal fez. Lucano e Nailo caminharam de volta para o largo e, ao se aproximarem da saída do beco, perceberam que algo estava errado. Pessoas corriam, se escondiam em lojas que eram rapidamente fechadas. Do outro lado do chafariz, um homem de manto escuro, como o que haviam capturado, conversava com um bando de homens suspeitos em uma taverna.

Um enorme grupo de humanos de olhar sério, faces marcadas por cicatrizes, corpos cobertos por couro batido e espadas em punho tomo conta da praça, sem no entanto se dirigir para onde Lucano e Nailo estavam. Eles iriam atacar, mas o alvo era outra pessoa. Nailo esticou a cabeça para fora do beco e viu o alvo da gangue. Eram Squall e Orion.

Após perseguirem o assaltante que tinha escapado, Orion e Squall chegaram ao largo do chafariz. Seelan saíra para buscar a milícia ao ver o assaltante entrando numa taverna, seu possível esconderijo. Squall e Orion ficariam para vigiar o lugar. Mas, ao invés de se esconder, o criminoso saiu da taverna com reforços. Foi com alegria e surpresa que Squall e Orion viram Nailo e Lucano se juntarem a eles naquele lugar. Sem demora, a batalha começou.

Squall usou um dos pergaminhos de Deedlit e ganhou altura, voando para longe das espadas de seus inimigos. Do alto, disparava raios e bolas de chamas em seus adversários, queimando-os aos montes.

No chão, Orion e Nailo foram cercados. As espadas dos inimigos rasgavam seus corpos vez ou outra, mas os dois guerreiros levavam a melhor sobre os adversários. Orion atacava com golpes fortes que derrubavam os inimigos um a um. A cada oponente caído, a espada do humano continuava sua trajetória em arco para atingir e cortar um novo corpo, amontoando os inimigos mortos ao redor de Orion. Já Nailo, fazia uma chuva de lâminas cair sobre os seus inimigos, desferia golpes rápidos com suas espadas eletrificadas, derrubando um inimigo após o outro.

Lucano fornecia apoio mágico ao grupo, ofuscava os inimigos, queimava-os com raios ardentes iguais aos de Squall e contaminava seus corpos com doenças e venenos mágicos.

Os inimigos reagiam com suas espadas, vez ou outra ferindo um dos heróis, apelavam para suas armas imbuídas em veneno quando se viam já quase sem vida, alvejavam Squall com chuvas de flechas, mas, apesar de seu empenho e da vantagem numérica, iam perdendo a batalha pouco a pouco.

Não longe dali, no subsolo, outra batalha ocorria. Anix tentava lançar bolas de fogo no adversário, mas sua magia falhava devido ao campo de proteção de Vectora. Legolas disparava suas flechas no inimigo que revidava com magia, tentando fazer os dois caírem num sono profundo ao invés de tentar feri-los. Por fim, Anix deu um basta no combate, lançando uma teia mágica sobre o adversário, enredando-o e impedindo-o de reagir.

Legolas se aproximou lentamente, cortando os fios pegajosos com sua espada. O vigia tentou gritar por socorro, mas o arqueiro foi mais veloz e o silenciou com um corte na garganta.

_ Venha Anix. Vamos sair daqui – Legolas arrombou a porta e libertou o amigo. Montados na vassoura voadora, os dois seguiram adiante pelo corredor até uma outra porta, enquanto lá em cima, na superfície, Squall se desviava de uma saraivada de flechas e cegava um dos inimigos com fogo mágico.

Os dois passaram sem dificuldade pela porta, subiram uma escada e chegaram a outro corredor. Cinco metros à frente deles havia duas portas, uma em frente à outra. Mais cinco metros à frente havia outras duas, iguais às anteriores e igualmente dispostas. No fim do corredor, à esquerda, havia uma última porta por cujas frestas penetrava a reconfortante luz do sol. Metros acima, Nailo aparava dois golpes de espada e revidava, fazendo tombar dois criminosos ensangüentados e eletrocutados.

Legolas e Anix caminharam em direção à saída, porém, seus passos eram por demais ruidosos. Uma voz masculina ecoou por detrás da primeira porta.

_ Jonny? É você?

_ Sim – respondeu Legolas, tentando disfarçar a voz.

_ Sua voz está estranha. O que está acontecendo? – o homem por trás da porta se levantou, empurrando uma cadeira. Legolas e Anix voaram na vassoura velozmente até a saída. O homem surgiu no corredor e os viu.

_ Malditos! Não escaparão! – uma bola de fogo explodiu no corredor, atingindo Legolas e Anix. O mago arriscou um feitiço, rezando para que não falhasse desta vez. Funcionou. Uma rajada nefasta irrompeu pelo corredor, saída das mãos de Anix e atingiu o homem. Envolto em uma onda de energia negra, o inimigo sentiu suas forças desaparecendo, seu próprio fôlego sendo tomado. Percebendo o poder dos inimigos, ele correu de volta para dentro da sala onde estava. Fora dali, na praça, Orion trespassava três adversários com um único golpe de sua espada, os corpos caíram no chão, partidos e queimados.

_ Vamos Anix! Vamos pegá-lo agora! – gritou Legolas.

_ Não Legolas! Estou fraco, sem minhas coisas e minhas magias não funcionam direito. Vamos sair daqui. – pediu o Anix.

_ Vá você, então. Encontre os outros e traga-os aqui. Eu não vou deixar esse verme fugir – Legolas desceu da vassoura e arrombou a porta de saída com um pontapé. Sacou sua espada e voltou correndo pelo corredor, atrás do inimigo.

Anix controlou desajeitadamente a vassoura voadora para fora dali. Passou por um lance de escada e chegou à superfície. Estava em uma praça, que mais parecia um cenário de guerra. Mais de uma dezena de corpos caídos, sangue e morte. Em pé apenas alguns homens que fugiam, aliados vencidos dos que estavam caídos. Perseguindo-os, Nailo, Lucano, Orion e Squall, voando.

_ Anix! Irmão! – berrou Squall. Seu irmão rodopiava sem jeito e sem roupa agarrado à vassoura mágica, até se jogar dentro da água do chafariz. A vassoura continuou mais alguns metros em queda até atingir o solo.

Nailo e Orion rasgaram ao meio os últimos criminosos que tentavam fugir. Nenhum escapara. Nesse instante chegou Seelan, acompanhado de vários soldados da milícia Vectoriana. Os soldados se espalharam pelos corpos no chão, conferindo o resultado do combate: estavam todos mortos.

_ Maravilha! Belo serviço, rapazes. Especialmente você, Orionzinho – Seelan caminhava sorridente por entre os cadáveres, aplaudindo. Alisou as costas de Orion. – Mas vocês podiam ter deixado ao menos um deles vivo para ser interrogado! – irritou-se por fim.

_ E deixamos! – exclamou Nailo. Correu até um beco próximo e retornou em seguida carregando um homem amarrado e acompanhado de um lobo gigante. – Esse cara estava com eles. Ele e seu bando estavam maltratando esse lobo indefeso, e queriam trazê-lo para cá à força. Eu e Lucano os impedimos e chegamos até aqui com a ajuda do lobo. Pelas roupas e modo de lutar, todos eles devem estar envolvidos.

_ Tem mais um vivo, capitão! – era Anix, saindo de dentro do chafariz.

_ Anix!!!! – alegrou-se Seelan. – O que aconteceu com você?

_ Não sei direito. Fui capturado por bandidos que assaltaram uma garotinha. Acordei em uma prisão subterrânea, sem minhas roupas e com uma dor de cabeça infernal – explicou o mago.

_ E onde fica essa prisão?

_ Descendo aquelas escadas. Tive que matar um monstro esquisito e um vigia. O Legolas me ajudou. Ele está lá embaixo agora, perseguindo um dos bandidos.

_ Vamos para lá, depressa! Tenente, reúna seus homens! – bradou Seelan.

_ Certo Seelan. Vamos, pessoal! Rápido! – gritou o oficial no comando da milícia.

Lá embaixo, Legolas invadira a sala para onde o criminoso havia se refugiado. Lá dentro, encontrou apenas uma escrivaninha com suas cadeiras, estantes e papéis para todos os lados. Em cima da mesa, folhas de papel com desenhos e anotações estranhas. Eram esboços de partes de corpos, braços, pernas, e outras, desenhados como um projeto de uma casa, com anotações sobre a função de cada parte, cada veia, cada osso. Legolas deu uma olhada numa das estantes, onde havia pilhas e pilhas de papéis separados em caixas de madeira. Os papéis continham nomes de pessoas, descrição de alguma cirurgia de nome grotesco, como implante de membro de troll, além de contratos, termos de responsabilidade e outros documentos cheios de assinaturas. Alguns destes papéis também dividiam espaço sobre a escrivaninha. Num deles podia se ler: processo de implante de membro anterior de ogro convalescendo. No outro, anotações sobre uma tal “experiência com oculares beholderianas”.

Legolas não perdeu muito tempo com aqueles papéis bizarros. Procurou pelo homem, sem encontrar vestígios do mesmo. Deveria ter desaparecido por teletransporte, pensou logo o arqueiro, já ficando acostumado àquele meio de viajar. Começou então a investigar as outras salas. Encontrou depósitos de ferramentas mundanas, de vassouras a serrotes, e de ferramentas no mínimo exóticas (se é que podiam ser chamadas de ferramentas). Eram facas de todos os formatos e tamanhos, serras, alicates, tubos de vidro com ponta de agulha, amarras e outras bizarrices. Por fim, na última porta Legolas encontrou um homem, dormindo tranqüilamente. Não estava amarrado, nem parecia estar drogado ou enfeitiçado. Apenas dormia. Vestia uma roupa semelhante àquela com a qual ele encontrou Anix. E os braços do homem eram de alguma forma incomuns. Eram membros gigantescos, desproporcionais ao restante do corpo e de coloração diferente. Parecia que aquele braço não pertencia àquele corpo, como se tivesse sido colocado no lugar do braço original daquele homem, pensou Legolas. E finalmente ele entendeu onde estava.

_ Acorde! Quero conversar com você! Acorde!!! – com a lâmina da espada pressionando a garganta do homem, Legolas o tirou de seu sono à força.

_ Pelos deuses, moço! Eu não fiz nada! Não me machuque! – implorou o acamado, estava em pânico.

_ Não vou lhe fazer mal. Fique calmo. Sei o que fizeram com você. Agora vou guardar minha espada. Promete se comportar bem? – disse o elfo.

_ Sim – respondeu o semi-humano.

Legolas mal retirou a espada do pescoço do homem e foi atacado por ele. Seus braços enormes golpeavam com força sobrenatural e suas garras rasgavam como facas.

_ Mutante! Aberração! Morra!!! – Legolas gritou em fúria, a espada enterrada até o cabo no peito do homem, que tombou inerte. – Verme! – um último xingamento antes de embainhar a espada. Depois, passos vindos do corredor. A arma voltou às mãos do arqueiro.

_ Legolas, tudo bem? – era Seelan.

_ Tudo.

· · · · · ·

Os pertences de Anix foram finalmente encontrados, não faltava uma moeda sequer. O esconderijo dos bandidos foi revirado e tudo que nele havia foi apreendido. O Tenente Alber Rhino, comandante da operação, explicou que aqueles bandidos pertenciam à guilda dos médicos monstros, uma organização de loucos que costurava partes de monstros nos corpos das pessoas, na maioria das vezes, com o consentimento e pagamento delas. Noutras vezes, raptavam pessoas nas ruas para usar em experiências para vender seus resultados a quem estivesse disposto a pagar para ter um braço de troll ou uma asa de dragão ou olho de beholder. Anix provavelmente tinha sido vítima de uma dessas experiências, ou ia se tornar uma, se não tivesse fugido a tempo. O monstro que encontrou na masmorra era uma dessas cobaias e o lobo salvo por Nailo também seria se o ranger não o tivesse salvado. O prisioneiro capturado por Nailo, bem como Tião, seria preso e interrogado. E as investigações continuariam para desmantelar aquela quadrilha bizarra.

Nailo se ofereceu para ficar e ajudar nas investigações, mas Seelan não permitiu, já que eles deveriam retornar a Forte Rodick o quanto antes. Foi quando Legolas revelou que tinha encomendado uma espada e precisaria ficar mais tempo na cidade voadora, deixando o capitão extremamente irritado. Nailo então deixou o lobo sob a guarda da milícia para ajudar nas investigações, com a promessa de que ele fosse solto, tão logo a investigação terminasse, em alguma floresta em Arton. O seria de grande ajuda, já que podia identificar os homens que o haviam capturado e que pertenciam à guilda.

_ Bem garotos, chega de aventuras por hoje. Vamos até uma boa estalagem alugar uns quartos e tomar um bom banho. Depois vamos sair para jantar. E amanhã veremos o que fazer com essa sua história da espada, Legolas – disse Seelan, após se despedirem dos soldados da milícia.

_ Eu já encontrei uma estalagem muito boa, Seelan. Vamos para lá, a Liodriel está nos esperando. – respondeu Legolas.

Foram. No meio do caminho, apanharam Darin e Relâmpago, a família de Anix e Rael. Levaram também Luana e sua filha Sara. Anix lhes pagou um quarto na estalagem pelos dias que faltavam para a cidade chegar sobre Valkaria, assim elas não teriam mais problemas e poderiam recomeçar suas vidas em paz.

Já era noite quando todos se reuniram de banho tomado na taverna da estalagem. Já se preparavam para pedir o jantar, quando Seelan chegou, vestido em belos mantos aveludados, e os impediu.

_ Não jantaremos aqui hoje. Iremos a outro lugar, um lugar especial – disse o capitão, todo cheio de pompa.

_ E que lugar é esse? – perguntou um dos heróis.

_ Verão quando chegarem lá.

Saíram da estalagem e caminharam vagarosamente, apreciando a vista. Vectora era ainda mais bela à noite, com todas aquelas luzes multicoloridas e o som de melodias ecoando aqui e ali nas muitas tavernas. Seelan ia lhes contando os detalhes da cidade, apresentando cada rua importante, cada loja famosa, a sede do conselho da cidade. Explicava o funcionamento do campo de levitação, do campo de restrição que impedia certas magias de funcionar, sanando várias dúvidas de Anix. Atravessaram, distraídos, toda a porção norte da Avenida das Estrelas, que sempre apontava para o norte, não importava onde a cidade estivesse. Já não havia mais lojas ao redor, tinham ficado todas para trás. Somente havia a Avenida Circular que se estendia indefinidamente à esquerda e á direita. E à frente deles, uma enorme muralha, vigiada por vários guardas armados diante de um deslumbrante portão de metal. Além dele, um majestoso palácio. Pararam.

_ Bem, rapazes. É aqui que iremos jantar esta noite. Bem vindos ao palácio de Vectorius! Vou apresentá-los a um dos maiores magos viventes do mundo, o meu antigo mestre e fundador desta cidade, o grande arquimago Vectorius! – a voz de Seelan soou como uma música para os heróis. Em poucos segundos, estariam diante de uma das maiores e mais poderosas personalidades do mundo, Vectorius, o mago.

janeiro 08, 2008

Capítulo 299 – Contratempos

Capítulo 299 Contratempos

Nailo, Lucano e Darin retornavam para as vias principais da cidade, a fim de reencontrar seus amigos, quando um som chamou a atenção dos heróis. Era um ruído distante, abafado pelo burburinho constante das ruas movimentadas. Mas isso não era suficiente para disfarçá-lo aos ouvidos apurados de Nailo. Era um animal em perigo, um cão ou lobo ganindo de dor e de medo, não distante dali.

_ Darin, fique aqui, eu volto logo para buscá-la! Não saia dessa loja! – deixando a noiva e seu lobo em segurança numa pequena loja de capas mágicas, Nailo correu, acompanhado de Lucano, em direção aos ganidos.

Poucos metros dali havia um beco que se contorcia por entre as casas e estabelecimentos comerciais e terminava abruptamente, nas costas de um sobrado alto. Ali havia três homens encapuzados, suas cabeças e corpos cobertos por mantos negros. Cada um deles segurava uma ponta de corda de cânhamo, usada para prender um enorme lobo cinzento, maior que um lobo comum, que rosnava e se debatia, tentando fugir de seus captores. Vez ou outra o animal era golpeado com uma vara e gania. Seu pescoço sangrava, a pele esfolada pelas amarras.

_ Ei, vocês! Parem já com isso! Soltem esse lobo! – gritou Nailo, assim que chegou ao beco, revoltado com o que via.

_ Ora, cale-se! E vá embora daqui! Isso não é de sua conta, garoto! Suma ou irá se arrepender! – retrucou o mais alto dos homens.

Nailo deu um passo beco adentro, atento aos homens e com as mãos perto das espadas. Sua boca emitia grunhidos, rosnados e latidos iguais aos de um cão. Como em resposta, o lobo o imitou enquanto se debatia.

_ Agora já sei que são maus. Soltem o lobo ou irão se arrepender! – Nailo sacou as espadas após gritar com autoridade. Na mão direita, a velha espada forjada nas minas de Durgedin faiscava como um céu de tempestade. Na mão esquerda, uma espada nova, recém adquirida na cidade voadora, soltava descargas elétricas, tentando se igualar à sua rival de maior tamanho.

_ Idiota. Acaba de selar sua própria morte. – resmungou o homem alto. – Matem-no! – gritou por fim.

Os três homens avançaram sobre Nailo com espadas em punho. O ranger se esquivou dos ataques e revidou com suas lâminas carregadas de eletricidade. O primeiro dos inimigos tombou já sem vida.

_ Vocês são muito fracos. Rendam-se! Será melhor para vocês – zombou Nailo.

Entretanto, os dois encapuzados não se intimidaram com o poder de Nailo. Estavam em vantagem numérica, era certo que venceriam, pensavam eles. Voltaram a atacar. Desta vez uma das espadas tocou superficialmente o corpo de Nailo, causando não mais que um raspão, mas foi o suficiente para elevar a moral dos criminosos. Lucano chegou nesse momento e engajou-se na batalha, flanqueando um dos oponentes que cercavam seu amigo.

Então surgiu um quarto homem, também envolto num manto negro. Vendo o que se passava ali, correu para fora do beco em busca de reforços. Mas Lucano o seguiu e, usando o poder concedido por Glórienn, cegou-o magicamente. Impossibilitado de ver, o bandido interrompeu sua fuga e tentou lutar, em vão.

Dentro do beco, o líder dos criminosos encontrava-se em grande dificuldade. Já havia recebido vários golpes das espadas de Nailo, assim como seu comparsa, e, percebendo que não conseguiria vencer aquele combate, decidiu apelar para seu último truque sujo. Desembainhou uma adaga, cuja lâmina gotejava um líquido viscoso e amarelo, de cheiro forte. Tentou golpear as costas de Nailo, mas o elfo se esquivou facilmente do ataque. Tentou então fugir correndo, mas, ao passar perto do lobo que torturava momentos antes, foi atacado com violência e ódio. Por fim, a lâmina longa do ranger terminou por ceifar a vida do homem antes que ele pudesse completar o primeiro passo de sua fuga desesperada.

Na entrada do beco, o homem cego se debatia, tentando fazer com que sua lâmina encontrasse o corpo de Lucano. Desesperado, sacou também uma adaga envenenada e, quando o clérigo tentava desarmá-lo, cravou a lâmina gotejante em seu braço. Mas Lucano era forte e protegido pelo poder da deusa dos elfos. Tomado de cólera, vingou-se com um corte limpo na garganta do inimigo que tombou inerte. O veneno entrara em seu corpo, mas em quantidade insuficiente para causar-lhe qualquer mal.

O último dos criminosos sentiu a lâmina faiscante de Nailo perfurar-lhe o estômago, suas pernas fraquejarem e seus olhos escurecerem antes de ser atingido com força na cabeça e desmaiar. Nailo amarrou o homem desmaiado e tratou suas feridas apenas o suficiente para que ele não morresse de hemorragia. Depois, conversou com o lobo.

Usando o poder que Allihanna lhe concedera, Nailo descobriu que os homens eram pessoas más, que maltratavam animais, e que o lobo poderia levá-lo até o esconderijo daquela gangue maligna. Colocou o bandido desmaiado sobre os ombros e, guiado pelo novo amigo, deixou o beco com Lucano.

Já de volta às ruas, o enorme lobo, bem como o fato de Nailo carregar um homem ensangüentado e amarrado nas costas, causou espanto geral na população. A milícia foi avisada e de heróis eles passara a fugitivos. Assim, fugindo dos soldados e seguindo o lobo, Nailo e Lucano corriam pelas vias de Vectora, entrando pouco a pouco em Mucro, o bairro das armas.

Sem que pudessem imaginar, não distante deles estavam Seelan, Orion e Squall, fazendo o caminho inverso, rumo à saída da vila dos armeiros, conduzidos por Tião entre ruas estreitas e tortuosas e por becos onde a luz do sol não conseguia chegar.

Squall fazia planos para vender as armas de Grinch em outro lugar, já que agora entendia o funcionamento delas e tinha uma noção do preço que elas valiam. Precisava apenas encontrar outra pessoa interessada e pedir um valor acima do proposto por Gorco, o qual ele tinha certeza de que era muito abaixo do que as armas realmente valiam. Orion sentia-se inseguro dentro das paredes de aço que eram sua armadura. Assediado por Seelan, sequer desconfiava que todo aquele flerte não passava de uma traquinagem que o mago sempre fazia com os soldados novatos. Tião tagarelava sem parar, mostrando cada rua, cada loja como se fosse única. Sempre tinha alguma história, algum detalhe a mencionar sobre cada lugar. Talvez tivesse apenas uma boa imaginação que fizesse valer a pena o dinheiro gasto em sua contratação.

Subitamente, em um trecho onde várias ruas estreitas se encontravam num pedaço de uma rua larga e quase deserta, o grupo foi cercado por quinze homens de aspecto suspeito, todos envoltos em mantos escuros e encapuzados. E estavam todos armados.

_ Assalto! – gritou um deles, ameaçando com uma espada. – Entreguem tudo que têm sem reagir ou morrerão!

Squall iniciou a conjuração de um feitiço, murmurando os primeiros versos e movimentando os braços. Orion sacou sua espada flamejante, furioso. Tião se encolheu entre os heróis. Seelan apenas deu um sorriso.

_ Calma, não façam nada. É melhor não reagirmos. Vou entregar todo o dinheiro que trago na mochila, será melhor assim. – disse Seelan, detendo os outros dois. Depois abaixou, tirando a mochila das costas e colocando-a no chão. De dentro dela tirou uma pequena bolsa de cor bronze. Colocou a mão na bolsa vagarosamente e agarrou alguma coisa. – Tomem! – gritou após arremessar para os bandidos uma pequena bola de pêlos do mesmo tom da bolsa. A esfera se transformou num enorme rinoceronte ao tocar o solo. Sob o comando de Seelan, o animal atacou os assaltantes, empanando um deles com seu chifre gigantesco. A batalha começou.

Rapidamente os outros assaltantes se atiraram sobre os heróis. Squall se viu cercado por vários deles, que atacavam com força e precisão. Sentiu seus sabres rasgando sua roupa e sua carne, e perfurando-lhe em locais onde doía muito, como se enxergassem os pontos fracos do feiticeiro. Squall viu seu sangue tingindo o chão enquanto seu corpo, em contraste, empalidecia rapidamente.

A um passo dali, Seelan apenas se esquivava das várias espadas que tentavam morder-lhe. Uma delas raspou em seu ombro, provocando um corte raso que tirou um lamento em tom de desprezo da boca do mago.

_ Que droga! Olhem o que fizeram, seus mal educados! Agora vocês irão me pagar por isso!

Orion não encontrava dificuldades. Os poucos golpes que sua espada não conseguia aparar encontravam a couraça de metal que o protegia, sem lhe causar dano algum. Mas, cercado por todos os lados, não pode evitar que um dos atacantes encontrasse uma abertura em sua armadura e golpeasse com extrema precisão. A dor intensa mostrou ao guerreiro que os inimigos não eram tão fracos quanto pensava, e que não estavam ali para brincar.

Encolhido, com as mãos protegendo a cabeça, Tião era ignorado pelos atacantes. Melhor assim, pensaram os heróis. Dessa forma somente os bandidos perderiam a vida naquele combate. Mas logo mudaram de opinião, quando um dos assaltantes empurrou o guia para tirá-lo do caminho e gritou com ele.

_ Sai da frente Tião! Não atrapalhe! – gritou o bandido sem pensar nas conseqüências de suas palavras. Uma verdade oculta foi revelada, aquilo era uma cilada,Tião estava do lado dos assaltantes.

Seelan mantinha-se calmo. Fitava os inimigos um a um enquanto pensava na melhor estratégia. Estava em Vectora, como bem lembrou, logo, não poderia cometer erros. Viu que Squall se encontrava em apuros e decidiu começar a atacar por ali.

_ Desculpe, Squall! – gritou ele. – Mas eu prometo que isso não vai doer nada!

E veio um feitiço. Após os sinistros versos de Seelan, sua mão tornou-se negra como a mais escura das noites, e um raio igualmente negro saiu dela e se abriu num leque de trevas, atingindo Squall e todos os que o cercavam.

Squall sentiu o fôlego desaparecer, estava cansado como se tivesse corrido por quilômetros sem parar. Seus inimigos estavam em igual condição. Erguiam suas espadas com dificuldade e desferiam ataques bambos que sequer se aproximavam do feiticeiro.

Seelan gritou para Squall se proteger e se curar, mas foi ignorado. Squall tentava lutar e atacar seus oponentes com sua mágica. Cloud o ajudava, cuspindo fogo sobre os inimigos de seu mestre. Mesmo fracos, os inimigos eram em grande número, e essa vantagem os tornava letais contra o enfraquecido e ferido Squall.

_ Ah, moleque teimoso. Parece que está querendo morrer. – resmungou Seelan, se esticando até Squall.

Veio então um segundo feitiço. Dessa vez, a mão de Seelan tocou o braço de Squall, enquanto desviava dos assaltantes que tentavam detê-lo. Squall foi envolvido por uma fumaça mágica e seu corpo se desmanchou e se mesclou àquela névoa até que o feiticeiro se não passasse de uma mera nuvem de fumaça alaranjada.

_ Orion! Agora é com você. Divirta-se! – Seelan deu um sorriso e foi se afastando dos inimigos entre um golpe e outro.

Orion também sorriu, as palavras de Seelan eram tudo que ele queria ouvir. Golpeou com sua espada e a primeira leva de inimigos tombou ao seu redor, cinco homens rasgados e queimados. Avançou até perto de Tião, e mais dois inimigos tombaram mortos. Com mais um golpe, desta vez desferido com o cabo da espada, o guia também caiu, desmaiado. Sua espada continuava limpa, o sangue de seus inimigos fervia e evaporava cada vez que a lâmina se banhava de vermelho após um ataque certeiro. Mais um passo, desta vez ele estava onde Squall se transformara em vapor. Mais cinco golpes, outros cinco inimigos tombados.

Restava apenas um inimigo, que tentava lutar contra o rinoceronte. Assustado e sozinho, ele largou sua espada e correu em disparada.

_ Vamos segui-lo – disse Seelan. – Squall desça aqui para eu dissipar a magia! – gritou em direção à fumaça que subia.

Orion já corria atrás do fugitivo carregando Tião nas costas. Seelan recolheu o rinoceronte de volta para sua bolsa mágica e fez outra magia em Squall, transformando-o de volta em elfo. O feiticeiro tomou uma poção mágica para se curar e os dois correram atrás de Orion, perseguindo o homem pelos estreitos becos de Mucro.

Acima deles estava Legolas, voando em sua vassoura mágica, sem desconfiar dos desafios enfrentados por seus amigos. Do alto, avistou os pais de Anix, Enola e Silfo, os únicos dentre seus amigos que circulavam pela vasta avenida das estrelas, que cortava a cidade no sentido norte sul. Legolas inclinou sua montaria encantada e desceu para se encontrar com os amigos.

_ Oi gente! E então, aproveitando o passeio? – perguntou ele, sorrindo.

_ Legolas, que bom vê-lo! Sim, estamos aproveitando muito – respondeu o senhor Ragnarok.

_ E onde estão Anix e Rael?

_ Bem, eles foram ajudar uma garotinha que estava em apuros. A mãe dela está doente e parece que elas são bem pobrezinhas. Eles foram ajudá-las. Você sabe que o Anix tem coração de manteiga mesmo.

_É, eu sei. E pra onde ele foi? Vou até lá ver se precisam de mim – disse Legolas.

Ragnarok indicou ao arqueiro o caminho que seu filho e o amigo haviam tomado. Legolas montou na vassoura e decolou, causando assombro em todos. Voava em baixas altitudes, quando viu Rael correndo por uma rua estreita. Sem hesitar, ele desceu ao encontro do rapaz.

_ Legolas, que bom! Preciso de ajuda – o clérigo conseguiu arrancar dos pulmões o pouco ar que lhe restava após a corrida para falar. – O Anix, ele precisa de ajuda. A garota foi assaltada. Anix foi atrás dos bandidos e desapareceu.

_ E pra onde ele foi? Diga logo, Rael! – gritou Legolas. O humano lhe apontou, à distância, o beco onde o mago desaparecera. – Depressa, vá avisar aos outros. E tente encontrar o Nailo e o Squall!

Legolas montou em sua vassoura e em segundos chegou ao beco. Olhou as três porta com desconfiança por um breve instante e chutou a que estava à esquerda.

Era uma casa pequena e simples com móveis velhos e remendados. Uma mulher de idade bastante avançada, que ia e vinha em uma cadeira de balanço emudeceu e ficou pálida ao ver sua casa invadida.

_ Desculpe, senhora. Errei de casa, perdão – Legolas saiu constrangido, fechando a porta, e correu para a que ficava no fundo do beco. Um pontapé a abriu com violência e barulho. Lá dentro, outra surpresa.

_ Ei, quem é você? Vá embora! Não vê que estou ocupado? – gritou um homem nu que devia pesar mais de cem quilos e estava sobre uma cama velha e suja, montado em uma mulher de meia idade, rosto cheio de maquiagem e roupa nenhuma.

Furioso e sem tempo a perder, Legolas apontou o arco, já carregado, para o sujeito. Ia perguntar de Anix, mas não teve tempo.

_ Espera! Calma aí, cara! Eu paguei, tá! Sem violência! – o homem agitava os braços em desespero, suava e tremia. Sua voz era quase um choro implorando por piedade.

_ Cala essa boca, seu verme! – gritou Legolas, tomado de ira. – Suma da minha frente antes que eu o transforme em peneira! Saia daqui! Verme!!!

O homem vestiu sua roupa, chorando e pulando até a porta e saiu correndo. Legolas olhou a mulher assustada deitada sobre a cama, uma humana ainda jovem, mas castigada pela vida, como era evidente em seu corpo e rosto. Virou as costas e saiu, apressado. Restava apenas uma porta, tinha que ser a certa. Não havia outra opção. Atirou seu corpo todo contra a madeira e entrou já quase disparando o arco. E não encontrou nada.

Estava em um cubículo, um quarto quadrado, escuro, sujo e baixo. Havia algumas cadeiras velhas e uma pequena mesa dentro do cômodo, e mais nada. Legolas procurou por pistas. Encontrou um alçapão oculto sob um tapete antigo e empoeirado. Abriu-o. Havia um fosso circular que descia muitos metros abaixo do solo. Uma das laterais do fosso possuía uma escada feita de barras de ferro dobradas e cravadas na terra batida. Sem perder tempo, Legolas agarrou-se à sua vassoura e pulou no buraco, descendo suavemente até o fundo. Lá, encontrou um longo túnel, escavado nas entranhas de Vectora para algum propósito maléfico. Sob seus pés, abandonado no chão, havia um pedaço de pano rasgado, retirado de alguma roupa que Legolas conhecia bem, o manto de Anix. A poucos metros dele, havia a luz de uma tocha presa em um suporte na parede. Sob a tocha, sentado em uma cadeira encostada na parede, havia um homem, um vigia.

_ Desgraçado! O que fizeram com meu amigo? Onde está o Anix??? – gritou Legolas, cheio de cólera. Duas flechas partiram de seu arco quase juntas e enterraram-se no peito do vigia.

O homem se levantou semi atordoado, levando uma mão ao ferimento que encharcava de vermelho o couro de sua armadura. Agarrou uma lança curta que repousava encostada na parede e disparou em direção a Legolas. Naquele espaço apertado, o herói não podia mover a espada ou mesmo o arco com liberdade, estava em desvantagem contra aquele tipo de arma. A lança perfurou o estômago do arqueiro, bebendo seu sangue. O homem gargalhou, confiante na superioridade de sua arma naquele tipo de terreno. Legolas não podia se afastar do inimigo para usar o arco a uma distância segura, nem podia usar a espada com eficácia para combater corpo a corpo. Mas ele ainda tinha um trunfo. Agarrou a vassoura com uma das mãos, enfiando-a com força por baixo do ombro da armadura do inimigo. Mentalmente, comandou o item para que voasse velozmente para frente e o soltou. A vassoura obedeceu e decolou, levando o vigia consigo, pendurado pela armadura.

O homem sacolejava de um lado para outro, batendo contra as paredes, e o chão. Seu peso o forçava para baixo, para fora da armadura, ficando pendurado pelo pescoço, quase asfixiado. Enquanto tentava se libertar da armadura para encerrar seu vôo forçado, Legolas o alvejava com o arco, como uma criança brincado de tiro ao alvo.

_ Verme! Quero ver você dar risada agora! – zombou o elfo. Mais duas flechas foram disparadas e o homem perdeu os sentidos. Sem ninguém para comandá-la, a vassoura voou por mais alguns metros e depois despencou no chão. Legolas correu até ela, conferiu se o homem estava realmente morto e montou em sua vassoura. Voou pelo túnel o mais rápido que podia, percorrendo centenas de metros em poucos segundos. Sem que soubesse, havia passado de um bairro a outro através do subterrâneo. Assim como seus amigos, Legolas estava agora no bairro de Mucro, vários metros abaixo dele. No final, aqueles contratempos que pareciam atrapalhá-los e impedi-los de cumprirem seus objetivos, acabaram servindo para reunir todo o grupo novamente. Faltava pouco agora para que todos voltassem a se encontrar.