abril 20, 2007

Campanha B - Capítulo 19 – Cilada

Capítulo 19 Cilada

Os aventureiros ainda dormiam quando o sol raiou no dia seguinte. Somente no final da manhã é que eles foram enfim despertar de seu merecido descanso. Kallas voltou às suas pesquisas numa biblioteca próxima, enquanto Nirvana trabalhava na joalheria, lapidando a jóia que tinha encontrado durante a investigação, para conseguir um melhor preço por ela quando fosse vendê-la. Enquanto isso, Susrak surpreendia e assustava seus pais com sua transformação. O casal se encheu de alegria ao ver que o filho finalmente retornava de suas viagens, porém, a alegria durou pouco, apenas até perceberam no que o filho deles havia se transformado, um servo das trevas. Susrak gargalhava, debochando da reação de seus pobres pais, tolos mortais que não conheciam o verdadeiro caminho, pensou ele. Mas, apesar de sentir prazer em deixá-los espantados, os laços afetivos ainda eram fortes e impediam-no de fazer-lhes qualquer mal, ao menos por enquanto.

Em outra parte da tumultuada metrópole, Lohranus e Serena ajudavam Myrian na busca por seu amigo. O minotauro as levou até o local onde tinha soltado o animal na noite anterior. Começaram a buscar por pegadas dele e Serena pôs toda sua experiência de rastreadora à disposição para localizar o animal. Assim, em pouco tempo, a elfa conseguiu encontrar os rastros do lobo, já quase apagados pelos passos das muitas pessoas que por ali circulavam durante o dia. Seguiram-nos até um beco, onde o lobo teria se alimentado de restos, depois retornaram para a rua e as pegadas desapareceram. Myrian chegou a ficar preocupada, temendo que Grandwolf, se é que era ele o lobo que rastreavam, pudesse ter sido novamente capturado. Mas, Serena não desistiu facilmente, e observando o terreno ao redor, começou a deduzir o que poderia ter acontecido. Havia circulação de carroças no local, e o animal poderia ter subido em alguma delas em busca de comida. Também havia locais como muretas e parapeitos, por onde ele poderia ter passado, sem deixar marcas no chão. Além disso, já estavam quase na metade do dia, logo, era possível que os rastros da fera tivessem sido destruídos pelo movimento de pessoas, cavalos e carroças que por ali transitavam. Avançaram por um quarteirão inteiro, procurando às cegas, até que Serena avistou novas pegadas, que conduziam a um beco. Seguiram os passos, acelerados, e avistaram um grande lobo dormindo no fundo da viela. Era Grandwolf.

Myrian se aproximou silenciosamente, mas, talvez pelo seu cheiro, o animal despertou e correu ao seu encontro, abanando a cauda freneticamente. A elfa abraçou seu amigo com emoção, e todos puderam retornar para a taverna e se alimentar.

A noite caiu, para alegria de Susrak e seus irmãos de fé. Assim, o “escolhido de Thyatis” , como ele mesmo se chamava, foi ao encontro de seus amigos, ou, daqueles mortais que o ajudariam a alcançar seu objetivo, antes de serem descartados como lixo. Encontraram-se diante do posto da milícia, onde tudo havia começado, e foram em busca de sua prometida recompensa. O capitão os recebeu com alegria, entregando o ouro prometido, mil moedas, e agradecendo-os pelos serviços prestados à cidade de Valkaria.

Logo após, foram todos convidados a visitar os pais de Nirvana e a saborear o delicioso jantar que a mãe da feiticeira tinha preparado. Courtney, a mãe de Nirvana, demonstrava preocupação em saber que sua filha agora andava com aventureiros e temia que coisas ruins pudessem acontecer a sua querida filha. Nirvana, entretanto, estava ansiosa por participar de novas aventuras e por conhecer o mundo. Já o pai da moça, o senhor Kurt, parecia despreocupado e até feliz pelos grandes feitos de sua filha e entusiasmado com as possibilidades que o futuro reservava a ela. E, durante o jantar, em meio a conversas e histórias, Kurt e Susrak fizeram grande amizade, e o homem chegou a sugerir que o clérigo seria um bom pretendente para sua filha. Mal sabia ele quais segredos obscuros a mente enlouquecida de Susrak ocultava. A noite terminou tranqüila e todos, com exceção de Susrak, foram dormir.

Na noite seguinte, a 13ª do mês, voltaram a se reunir, dessa vez para acompanhar a operação na taverna Bom Aroma. Várias pessoas foram presas consumindo Achbuld, e o líder da quadrilha apareceu, conforme as informações arrancadas do refém de Serena e Nirvana, e foi capturado. Todos foram levados para a prisão, e o capitão da milícia deu o caso por encerrado. Quanto ao grupo de aventureiros, só lhes restou esperar pelo dia seguinte e irem em busca de outras chances de aventuras.

Já pouco antes do dia 14 de Cyd nascer, Susrak retornou para casa e foi se deitar. Orou a Tenebra, como sempre fazia, pedindo por sua proteção. Mas, naquela manhã em especial, ele pediu algo mais. Intrigado com as palavras de Nirvana, Susrak se questionava agora se sua vingança pela morte de sua irmã deveria ou não se concretizar. Pediu então à sua deusa que lhe mostrasse qual o caminho a ser seguido, o que de fato ele deveria fazer. E assim Tenebra o fez, ou pelo menos, era isso o que Susrak acreditava. Sonhou com o dia da morte de sua irmã, quando ele entrou em casa e encontrou sua mãe aos prantos, segurando o corpo de sua irmã já sem vida, enquanto os assassinos fugiam. Em seu sonho, Susrak olhou para os criminosos, mas não pode ver seus rostos, de modo que ele talvez jamais fosse capaz de reconhecê-los. E, uma dúvida ecoava em sua mente, à medida que o sonho ia se desenrolando. “Vingança contra quem?”, essa pergunta martelava o cérebro do jovem rapaz, deixando-o ainda mais afastado da sanidade. Quando despertou, já no crepúsculo, Susrak tomou uma decisão: iria acabar com toda a humanidade. Sim, todos os humanos eram culpados pela morte de sua irmã, e de outras pessoas inocentes. Essa era a mensagem de Tenebra, de acordo com o ponto de vista insano do clérigo. Todos os seres humanos seriam mortos por suas mãos e, no final, aqueles de quem ele se apiedasse, teriam a honra de retornar à vida como mortos-vivos, para servi-lo a para servir a Tenebra. Decidido a por seu plano em prática, Susrak partiu uma vez mais de sua casa, para conseguir todos os recursos para cumprir sua missão. E nada poderia fornecer mais recursos, fossem eles financeiros, mágicos ou conhecimentos, do que a vida de aventureiro. Assim, ele foi ao encontro de seus amigos, que num futuro distante, poderiam ter a honra de se tornarem seus servos zumbis.

Então, todos se reuniram novamente na mesma taverna em que tudo havia começado. Começaram a discutir sobre o futuro, sobre quais aventuras viveriam. Susrak lhes contou de sua “missão divina”, deixando todos alarmados, Nirvana em especial. A feiticeira tentou argumentar e convencer o rapaz a deixar de lado suas idéias de vingança, mas não obteve êxito e calou-se, confiante, pois sabia que caso fosse necessário, sua adaga poderia arrancar partes importantes do corpo de Susrak e impedi-lo de fazer barbaridades ainda maiores do que as que já aconteciam no mundo.

Depois foi a vez de Myrian lhes contar sobre seu passado e seus objetivos. Falou da tragédia que tinha acontecido com seu pai e de como seguira os rastros do assassino até Valkaria. E todos concordaram em ajudá-la no que fosse possível para recuperar os livros de Aesis e capturar o seu assassino. Mas, embora todos estivessem dispostos a ajudar, nem mesmo Myrian sabia como seria possível realizar aquela tarefa, já que Valkaria era por demasiado grande e os rastros da criatura tinham há muito desaparecido em meio a outros milhares de rastros.

Lohranus teve então a idéia de procurar entre os anúncios que decoravam a parede da taverna algo que pudesse ser utilizado por eles como oportunidade para iniciarem sua carreira como exploradores, aventureiros, heróis. Quando ele se levantou, porém, foi impedido de continuar por um brutamontes que invadia a taverna.

_ Ei você! Não fuja não! Venha me enfrentar! Tenho certeza que hoje eu o derroto! – desafiou o estranho quase aos gritos. Era um homem corpulento e alto cheio de músculos e pêlos espalhados por todo o corpo. Vestia apenas roupas simples, praticamente trapos velhos e caminhava a passos pesados e desajeitados. Seu rosto era rústico e deformado, monstruoso até, deixando evidente que se tratava de um mestiço, filho de orcs com humanos ou outra raça semelhante. Um cruzamento que, embora relativamente comum, era abominado em todo o território do reinado. O meio-orc sentou-se diante de uma mesa, e colocou seu braço sobre ela, chamando por Lohranus com a mão. – Venha! Da outra vez eu estava bêbado! Mas hoje estou sóbrio, vou vencer você!

_ Vamos lá então! Vamos ver quem é o mais forte! – respondeu Lohranus, aceitando o desafio.

Dois tibares de ouro rolaram pela mesa, tilintando até pararem sobre a superfície de madeira. Lohranus e seu desafiante agarraram-se um na mão do outro, e a um sinal do taverneiro a disputa começou.

Propositalmente, Lohranus fingiu ser mais fraco e deu uma vantagem ao seu adversário. Entretanto, ele esperava para vencer de um golpe só assim que o adversário se achasse vitorioso, no momento em que a mão do minotauro estivesse quase tocando a mesa. Mas, Lohranus sentiu algo estranho, era como se uma força mágica empurrasse sua mão para cima, ajudando-o a vencer a força do oponente. Magia! Sem hesitar, ele olhou para o lado e percebeu um comportamento estranho de Nirvana. A mulher olhava fixamente para os dois lutadores, e parecia concentrada em seus braços, como se estivesse fazendo alguma magia para ajudar seu amigo de Tapista. Então, quando chegou o momento esperado, Lohranus colocou toda sua força no braço e tombou o membro do oponente na mesa, quase o jogando ao chão.

_ Parabéns! Você é melhor do que eu, realmente! Mas ainda irei vencer você! – disse o meio-orc, ao se levantar da mesa e caminhar em direção à porta.

_ Você também é muito forte, e lutou com honra! Até a próxima! – despediu-se o minotauro.

O desafiante derrotado deixou a taverna de cabeça erguida orgulhoso de seu desempenho, mesmo apesar de ter perdido. Segundos após ele ter saído, entrou um homem de cabelo curto e castanho, muito bem penteado e limpo, repartido ao meio com precisão milimétrica. Seu rosto era limpo, sem um fiapo de barba sequer, e afilado. Possuía orelhas arredondadas e pequenas, e olhos atentos que percorriam, rapidamente, cada canto da taverna, até encontrar o que desejava, Lohranus.

_ Saudações novamente, meu amigo! Como tem passado? – cumprimentou o homem.

_ Vou bem, obrigado! Bom você ter aparecido aqui nessa hora! Não era você quem procurava pessoas fortes para trabalharem como gladiadores? – disse o minotauro.

_ Oh! Que maravilha! Sou eu sim! Por acaso você vai me dizer que pensou melhor na minha oferta e decidiu aceitá-la?

_ Não, não é isso! É que acaba de sair daqui um homem que pode interessá-lo!

_ Ah! Bem...ótimo! E como eu faço para encontrá-lo?­ – o homem parecia decepcionado.

_ Ele acaba de sair! Se você correr, poderá vê-lo ai na rua! Espere, tenho uma idéia melhor! Eu irei com você! – respondeu o minotauro.

_ Ora, mas que ótimo! – sorriu o homem.

Os dois saíram, Lohranus pediu a seus amigos que aguardassem um momento até que ele retornasse. Quando chegaram à rua, viram o meio-orc já dobrando uma esquina distante.

_ Lá está ele, acaba de entrar naquela rua! – apontou Lohranus.

_ Ótimo! Vamos até lá então! Venha, eu tenho um cavalo aqui! – respondeu o homem, apontando para um beco ao lado da taverna.

_ Eu não monto em cavalos! Vá você pegar o cavalo, eu vou atrás do homem antes que ele desapareça de vez! – respondeu, secamente, o minotauro.

_ Ora, que coisa! Está bem! Só peço que me espere, para que não nos separemos e...Nossa!!! Meu cavalo sumiu! Ajude-me a encontrá-lo, por favor! Deve estar no fundo do beco! – continuou o homem, correndo para o fundo da viela. – Venha, venha! Ajude-me antes que ele fuja! – pediu ele.

Então, Lohranus desconfiou que havia algo estranho naquilo, mas foi em direção ao homem mesmo assim, pois queria saber do que se tratava aquilo tudo. Antes, porém, deu uma batida na janela da taverna, fazendo um sinal para seus amigos, para que eles ficassem de alerta. O minotauro foi até caminhou, atento, na direção do homem. Quando se aproximou dele, ele correu para trás da taverna, fora do alcance dos olhos de Lohranus, dizendo que o animal estava fugindo. Lohranus ficou ainda mais ressabiado com a atitude estranha que o homem tomara, mas decidiu continuar para descobrir o que acontecia. Aproximou-se com cautela da extremidade do prédio da taverna e sacou a espada. Já armado, deu um passo adiante, entrando no estreito beco formado pela traseira da estalagem e outra casa. E caiu na cilada. Uma saraivada de flechas ligeiras veio na direção de Lohranus, que tentava se defender com a espada. Mas, por mais veloz que Lohranus fosse ao manejar sua espada, as flechas, disparadas por um numeroso bando goblin, eram ainda mais velozes e várias delas o atingiram, ferindo-o. Apesar de alvejado, os ferimentos não eram graves a ponto de fazer o minotauro recuar, mesmo estando em menor número. No entanto, com aqueles poucos ferimentos em seu corpo, Lohranus sentiu suas forças se esvaindo. A espada pesou em suas mãos e sua armadura parecia feita de chumbo, algo estava errado, e ele sabia disso. Tentou se afastar dos inimigos, ganhar tempo para recobrar o fôlego e contra-atacar, mas suas pernas o traíram, ele tropeço em si mesmo e foi ao chão. Seu corpo todo o traiu e já não respondia mais à sua vontade, permanecendo imóvel. Lohranus sentiu sua cabeça girando como numa vertigem, e suas pálpebras ficaram pesadas e sua visão difusa. A última coisa que viu, foi o homem, rodeado de goblins, gargalhando diante dele, enquanto dizia: “Agora você será nossa isca!”. Assim, Lohranus adormeceu, vítima da cilada de seus inimigos, longe de seus companheiros e totalmente indefeso.

abril 19, 2007

Campanha A - Capítulo 274 – De volta ao lar

Capítulo 274 De volta ao lar

A multidão se dispersou, muitos voltaram para a taverna, outros foram para seus alojamentos repousar, apenas Squall e seus amigos permaneciam, acompanhados de Seelan. O mago capitão se aproximou de Squall, ajudou-o a se levantar delicadamente e quis saber se tudo estava bem com ele. O feiticeiro mostrou a todos o ferimento que tinha no peito, um rasgo comprido e largo, e muito profundo também, do qual se esvaia grande quantidade de sangue. Por pouco os ossos não se partiram e o coração de Squall atingido pela lâmina de Glorin e, como todos puderam constatar, bastaria mais um golpe do anão para que a vida do elfo se encerrasse definitivamente no mundo de Arton. Sentindo que, ao contrário de seu sangue, a dor não lhe deixava, Squall pediu a Seelan que lhe cedesse uma poção mágica de seu laboratório, para aliviar seu sofrimento e curar aquele ferimento.

_ Pois é! Infelizmente não tenho mais nenhuma poção pra lhe arrumar, amiguinho! – disse Seelan, sorrindo. Depois se virou para os demais com uma expressão preocupada. – Vocês conseguiram acabar com todo o nosso estoque em suas missões e, sem o Lars aqui, não temos mais como conseguir nenhuma poção de cura! Pois é, acho que terei que dar um jeito nisso por meus próprios meios! Farei uma visita até Valkaria, e comprarei poções novas para nós lá! – continuou em tom preocupado e pensativo. Então, ele se voltou para Anix, sorridente, e continuou, dessa vez, afinando a voz e acenando delicadamente com a mão. – Tenho uma idéia! Não quer ir comigo Aniiiix? Vamos dar um passeio em Valkaria, só nós dois!

Ao contrário do que era esperado, nesse momento Anix não recusou a proposta de Seelan, nem gritou com ele como de costume. Alegrava-lhe a idéia de viajar, e conhecer Valkaria. Mas Seelan tinha outros planos em mente, que agradariam Anix ainda mais.

_ Melhor ainda! Já que vamos comprar poções mágicas há um lugar no mundo muito melhor do que a própria Valkaria! – gritou Seelan, entusiasmado.

_ Vectora? – indagou Nailo.

_ Sambúrdia, bem pertinho da minha casa? – perguntou Lucano, rezando para ouvir um sim e ter a chance de ir junto e rever sua família.

_ Não! – exclamou Seelan.- Há um lugar em Arton que é muito melhor do que esses outros! Um lugar que emana magia da própria terra! Um lugar com a maior concentração de fabricantes de poções do mundo e também com os melhores preços, já que a concorrência é alta por lá! Iremos para Wynlla!

_ Wynlla! Minha terra Natal! Eu vou Seelan, eu vou! – gritou Anix, eufórico.

_ Também quero ir, Seelan! Quero rever minha família também! – pediu Squall.

_ Ah! Então também quero ir, oras! – exigiu Nailo.

_ É! É sempre assim! Pra Darkwood ninguém me leva, nem me deixam ir ver minha esposa! Eu casei há pouco tempo e nem pude ficar com Liodriel! Agora, ir pra Wynlla ver a família deles, todo mundo pode! – resmungou Legolas.

_ Meninos! Não precisam ficar bravos! Acho que posso dar um jeito nisso! Vocês todos trabalharam com afinco nos últimos meses! Acho que merecem uma folguinha! Façamos o seguinte! Eu conversarei com o general e, se ele permitir, iremos até Wynlla para comprar as poções e para o Anix e o Squall reencontrarem seus amigos e parentes! Depois daremos uma passada em Sambúrdia, pro Lucano rever sua família, ai iremos para Darkwood e você poderá ficar com sua amada! –sugeriu Seelan.

_ É, e pra Vectora? A gente não vai não? – perguntou Nailo.

_ Vectora? Aquele lugar é muito chato! Não gosto de lá não! Aquele Vectorius é muito ranzinza! Mas, se você quiser realmente, podemos dar uma passadinha rápida por lá! Mas ficaremos menos de um dia por lá! Bem, preparem suas coisas, vou falar com o general! – respondeu Seelan. Depois saiu apressado e foi ao centro de comando do forte. Todos os outros correram apressados para seus quartos, onde pegaram todas as suas coisas, incluindo todo o outro que tinham juntado até o momento, dos muitos tesouros conquistados, nas muitas aventuras que tinham vivido. Minutos depois, voltaram a se reunir, já preparados para partir.

_ Já acertei tudo com o general! Partimos amanhã cedo! – anunciou Seelan.

_ Vamos agora, Seelan! Pra que perder tempo? – argumentou Anix.

_ Bem, se vocês preferirem, tudo bem! Em que lugar de Wynlla você mora?

_ Ab’ Dendriel! É uma vila costeira, perto de Kresta!

_ Acho que sei onde é! Vamos pra lá, então! Passaremos a noite na sua casa e, na manhã seguinte eu irei até Sophand ou Kresta mesmo para comprar as poções mágicas para o forte enquanto vocês matam a saudade de casa!

_ Não! Vamos primeiro pra Darkwood! – pediu Legolas.

_ Isso! Boa idéia! Assim a gente aproveita e vai buscar a Enola! Quero que meus pais a conheçam! – entusiasmou-se Anix.

_ Ai! Tá bom, então! Mas isso vai me fazer gastar mais magias de teletransporte! Elas são cansativas e caras! – queixou-se Seelan.

_ Seelan! Posso levar meu cavalo? – pediu Legolas.

_ Que coisa! Vocês estão abusando! Magia de teleporte cansa! Mas está bem! Mas só o seu e chega! E vamos logo! E espero que em Darkwood tenha uma janta gostosa esperando por nós! – concluiu o mago.

Legolas correu ao estábulo e buscou seu amigo, Rassufel. Todos se reuniram e, a pedido de Seelan, tocaram em seus ombros e todos ficaram em contato uns com os outros, fosse diretamente, fosse usando o mago como intermediário. Seelan fechou os olhos, levou a mão direita à cabeça e tocou-a com os dedos médios e indicados unidos. Pronunciou algumas palavras mágicas e eles desapareceram de Forte Rodick.

Num piscar de olhos, estavam diante da entrada de Darkwood, a mesma entrada onde, meses atrás, tinham tido a primeira visão do futuro, revelada por Thyatis e entregue a eles por Allihanna. Entraram na vila, Legolas e Nailo estavam eufóricos. O arqueiro pegou seu berloque mágico e chamou por sua esposa amada.

_ Liodriel? Você está bem, amor? Onde você está?

_ Estou aqui em casa, Legolas! Estou com saudade!

_ Eu também estou! Te amo muito! Bom, agora vou ter que desligar, vem vindo gente aqui! Boa noite, amor!

_ Tchau, querido! Eu te amo!

_ Também te amo! Adeus!

Legolas desligou o dispositivo mágico, saltou no lombo de Rassufel e partiu a galope acelerado, rumo à casa dos pais de sua amada. Todos os outros correram para acompanhá-lo e, quando chegaram, tiveram uma surpresa. O pai de Liodriel atendia à porta.

_ Legolas! Rapazes! Que bom vê-los! – disse o sogro de Legolas.

_ Fale baixo! Quero fazer uma surpresa pra Liodriel! Onde está ela? – sussurrou o arqueiro.

_ Ora, ela está na casa nova de vocês, onde mais? Ela não lhe contou que a casa ficou pronta, pois queria lhe fazer uma surpresa!

_ Ótimo, vou pra lá, então!

_ Pai? Quem é que está ai? Quem veio bater a essa hora? – uma voz feminina veio de dentro da casa, todos esticaram seus pescoços e viram uma bela elfa caminhando em direção à entrada. Era Lioniel, a cunhada agressiva de Legolas.

_ Ah! Legolas?! Vocês também?! Nossa que surpresa agradável! – Lioniel saudou-os com um simpático sorriso. Algo estava errado, pensaram todos, Lioniel não era elfa de sorrisos, algo estava muito errado. Então, o mistério foi revelado. – Amooor! Venha ver quem voltou! Corra até aqui! – gritou ela.

Então, um elfo muito alto e corpulento caminhou em direção à entrada. Os heróis o reconheceram imediatamente, era Nevan.

_ Amigos! Sejam bem vindos! – disse Nevan, sorrindo.

_ Nevan! – gritaram os outros, e saltaram em cima dele, abraçando-o todos ao mesmo tempo. Caíram todos no chão rindo como amigos que há muito não se viam.

_ Ah! Esses garotos! – suspirou Lioniel.

Legolas não perdeu mais tempo, cumprimentou a todos rapidamente e correu em direção ao rio, em direção ao seu amor. Nailo o seguiu, correndo veloz junto com Relâmpago. Então, os dois viram o resultado dos meses de trabalho e de cada tibar investido por eles. Às margens do riacho Aurora havia duas enormes casas, as maiores casas da vila, erguidas com o suor e trabalho de todos que ali viviam, em homenagem aos dois heróis que tinham surgido naquela pequena vila, Nailo e Legolas.

Ambas as casas tinham telhados de quatro águas, cobertos com telhas de madeira e palha, e ornamentados com estátuas de animais. Suas paredes eram construídas de toras de madeira Tollon cuidadosamente empilhadas e encaixadas com precisão umas nas outras. Eram troncos de diferentes tamanhos e formatos, apanhados na floresta de árvores caídas pela ação da própria natureza, exigência de Darin, a noiva de Nailo. As duas se elevavam do chão cerca de um metro, suspensas por palafitas. Uma delas, a mais à direita, tinha parte de sua estrutura sobre o riacho. Uma larga escada de madeira circundava a lateral da casa e avançava sobre a água, terminando em uma bela varanda que ficava exatamente sobre o curso d’água, donde Nailo poderia pescar o alimento de sua família. Uma torre circular feita de madeira se elevava quase vinte metros acima do telhado, terminando em uma guarita coberta, de onde o ranger poderia observar a natureza e ver muito longe, além das copas das árvores. Pra finalizar, havia uma cocheira coberta, e um cercado onde Nailo poderia criar seus animais e guardar suas ferramentas.

Como a de Nailo, a casa mais à esquerda também possuía um estábulo grande e confortável, para Rassufel passar suas noites. No fundo, existia aquilo que tinha sido uma idéia de Sairf, e que faria parte do presente de casamento que ele daria ao amigo. Era uma piscina, como diria o mago. Na verdade, consistia em um lago artificial, profundo, com quase três metros em sua parte mais funda. Tinha chão e paredes revestidos por pedras de granito. Uma escada feita do mesmo material emergia do fundo até a superfície, no lado mais próximo do riacho, por onde a água escoava de volta para seu curso natural. E um canal escavado na terra desviava parte da água do riacho para dentro do buraco da piscina, passando antes por uma pequena roda d’água, que agitava o líquido e o jogava por entre pedras estrategicamente posicionadas para formar uma pequena corredeira e fazer com que a água entrasse na piscina borbulhando.

_Quem é? – era Liodriel, após Legolas bater na porta.

_ Sou eu, Darin! – respondeu Legolas, afinando a voz.

_ Nossa! Sua voz está tão diferente! O que aconteceu?

_ É que eu estou meio resfriada!

_ Ué?! Mas nós conversamos ainda há pouco e você estava bem! Tem certeza de que é você, Darin?

_ Claro que sou eu!

_ Então prove! Sobre o que conversávamos dez minutos atrás?

_ Ora, abra logo essa porta! – Legolas se cansou daquela enrolação e gritou, furioso.

_ Aiiii! Quem é você? Vá embora, ou vou chamar meu marido!

_ E onde ele está? Está ai com você?

_ Sim! E eu vou chamá-lo! Legolas! Tem algum estranho aqui na porta! Prepare-se pois meu marido vai lhe expulsar a flechadas!

_ Há, há, há! Essa eu quero ver! – então, Legolas escutou o som dos passos de Liodriel se afastando da porta, assustada, e ele desejou brincar mais com ela. – Pois diga a seu marido que não tenho medo dele, e vou invadir essa casa!

_ Pois então invada, se tiver coragem! E receberá uma flecha certeira em seu coração! – disse Liodriel, já sem temor algum na voz.

Legolas abriu a porta e entrou, e lá dentro encontrou sua amada, sozinha, recostada em uma mesa, suas pernas longas e belas cruzadas uma sobre a outra, trajando apenas um fino e transparente vestido de seda, que permitia ao arqueiro ver cada detalhe de seu corpo escultural.

_ Seja bem vindo, senhor bandido! – disse Liodriel, pouco antes de Legolas a tomar nos braços e os dois finalmente se calarem num longo, apaixonado e ardente beijo.

Perto dali, Nailo tentou imitar Legolas, e fingiu ser Liodriel ao chamar por Darin. Da mesma forma, a moça inicialmente estranhou, e depois, ao descobrir que a voz que a chamava não era da amiga, se assustou. Mas, depois, conforme foi falando a voz de Nailo foi sendo aos poucos reconhecida e Darin, desconfiada e curiosa tal qual seu noivo, abriu a porta para ver quem a chamava.

_ Nailo! Meu amor! – exclamou, feliz, a moça.

_ Darin, querida! Mas que perigo! Você não podia ter aberto essa porta assim, sem saber quem era! E se fosse algum bandido ou algum monstro? Tem que tomar mais cuidado! Mas eu vou resolver isso! – Nailo falava e gesticulava, enquanto Darin o beijava e abraçava, ou, ao menos tentava. O elfo foi até a cozinha, pegou uma faca afiada e com ela abriu um pequeno orifício na porta de madeira. – Pronto! A partir de hoje, toda vez que alguém bater à porta, você vai olhar por este furo antes de abrir. Assim você só abrirá a porta se conhecer a pessoa, e não correrá perigo! – completou ele.

_ Ai, Nailo! Se eu não te amasse tanto, juro que batia agora! Ao invés de me beijar e abraçar, você foi fazer esse buraco na nossa porta! Mas, eu sei que fez isso porque se preocupa comigo e porque me ama! Então, pare de falar e trate de me dar um beijo logo! – bufou Darin, e os dois se beijaram. E tudo estava em paz. Legolas e nailo estavam em casa novamente, e em breve seria a vez de Lucano, Anix e Squall fazerem o mesmo, e Glórien desejou que aqueles momentos felizes durassem para sempre.

abril 18, 2007

Campanha A - Capítulo 273 – Duelo ao pôr-do-sol

Capítulo 273 Duelo ao pôr-do-sol

O crepúsculo enfim chegou. O céu tornou-se rubro, com algumas poucas nuvens alaranjadas moldando figuras que se transformavam a cada instante conforme os caprichos do vento. As atividades de Forte Rodick já tinham se encerrado, e os soldados, exceto os que estavam em postos de vigia, se descontraiam com jogos, brincadeiras e bebedeiras na taverna. Glorin saia da taverna, após muitas canecas de cerveja, e parecia já estar embriagado. Foi quando ele encontrou Squall, que chegava para se divertir também, assim como todos ali.

_ Ah! Então ai está você novamente, Squall! Quer lutar, não é mesmo? Pois então vamos resolver isso agora! Prepare-se! – resmungava o anão com dificuldade, cuspindo gotas de cerveja no peito do feiticeiro.

_ Eu estava pensando em deixar isso pra outro dia, mas já que o senhor está disposto, vamos lutar então! – respondeu Squall. – Bem, vá se preparar então, capitão! O senhor tem cinco minutos para se preparar pro combate, eu farei o mesmo nesse tempo!

Então, Squall concentrou sua mente e evocou um feitiço. Começou a falar, e o som de sua voz era alto como o rugido de um leão, e sua parecia estar em todos os lugares, era algo fantasmagórico. E ele gritava para que todos no forte pudessem ouvir: “Duelo na taverna! Squall contra Glorin!”. Isso chamou a atenção de todas as pessoas, e uma pequena multidão começou a se formar em frente à taverna.

Glorin foi embora, sem dizer uma palavra sequer. Enquanto isso, os amigos de Squall o preparavam para o combate. Nailo e Lucano conjuraram diversas magias sobre o companheiro, deixando-o mais forte, mais ágil, mais vigoroso e mais resistente ao poder congelante do anão. Também emprestaram seus itens mágicos para Squall, tornando-o ainda mais poderoso, e nesse momento, ele sentiu que tinha chances de vencer facilmente seu capitão. Bastava manter-se distante de Glorin, e atacá-lo com magias de fogo para vencê-lo em pouco tempo. E, caso tudo mais desse errado, Squall tinha uma estratégia em mente.

Alejandro juntou-se a Anix, e começou a recolher apostas para a grande batalha. E, em sua maioria, os soldados apostavam em Glorin, já que conheciam, ao menos por histórias, o poder do anão. Poucos eram os que apostavam em Squall, somente seus amigos e alguns poucos soldados confiavam em sua vitória. Ainda assim, alguns deles dividiam seu dinheiro e apostavam nos dois, por precaução. E o dinheiro era depositado todo no carrinho construído por Anix, e ele foi se enchendo de moedas aos poucos, e a multidão ao redor da arena também foi aumentando. Chegaram Seelan, Todd, Jonathan Wilkes e até Kuran, para assistir à luta. Até mesmo o general Wally Dold apareceu e fez sua aposta. Olhou ao redor, e viu os companheiros de Squall fortalecendo-o, e viu que os companheiros de Glorin estavam ali, sem se preocupar em aumentar os poderes do anão. E, vendo que Squall ficava cada vez mais forte, enquanto Glorin se mantinha o mesmo, o general apostou trezentas moedas de ouro no elfo.

Os cinco minutos tinham quase se esgotado quando Glorin surgiu novamente. Parecia o mesmo de antes, as únicas coisas diferentes nele eram um grande cinto dourado que trazia à cintura e um par de luvas que tinha nas mãos. Squall sentiu ainda mais confiança em sua vitória. Os dois ficaram distantes um do outro quase vinte metros, como Squall desejava, a multidão se formou ao redor dos dois, cercando-os numa grande roda. Os dois se encararam uma vez mais, e a luta começou.

Squall agiu primeiro, lançando no centro da arena a esfera peluda que retirara da bolsa emprestada de Legolas. A esfera tocou o solo e começou a se contorcer e a crescer, até se transformar num enorme e feroz carcaju. Glorin praguejou e disse estar decepcionado com a covardia de Squall em mandar um animal lutar em seu lugar. O anão segurou então seu machado com força e correu na direção de Squall a toda velocidade.

O carcaju atacou Glorin com suas presas, mas sequer conseguiu alcançá-lo a tempo de mordê-lo. O capitão passou veloz pelo animal e, num piscar de olhos, estava diante de Squall, com o machado acima de sua cabeça. A arma desceu veloz e certeira como um relâmpago sobre o peito do elfo, abrindo um enorme ferimento. Squall sangrou abundantemente e sentiu que o sangue jorrava de modo incomum, parecia que uma de suas artérias havia sido rasgada. Sua visão escureceu por um breve instante diante de toda aquela dor, mas Squall agarrou-se à consciência e manteve-se firme para continuar lutando.

Mas, enquanto a multidão comemorava os primeiros ataques, Squall sentiu que algo estava errado. Toda a força extra que seus amigos haviam lhe concedido com suas magias se esvaia de seu corpo. Temeu ser um efeito do machado de gelo eterno de Glorin, mas, sua mente lhe revelou o que havia acontecido, Squall tinha cometido um erro grave. O tempo dado por ele para que Glorin se preparasse tinha sido demasiado longo, e as magias conjuradas por seus amigos perdiam seus efeitos naturalmente. Vendo a derrota próxima, Squall decidiu que era o momento de apelar para seu plano secundário.

_ Calma, capitão! Ela vai voltar algum dia! Eu sei pra onde o senhor vai nesse fim de ano! O senhor vai vê-la, não é mesmo? – disse Squall, maliciosamente.

E o plano de Squall funcionou, pois Glorin interrompeu seus ataques, confuso.

_ Do que você está falando, garoto? O que você quer dizer com isso? – perguntou o anão.

Enquanto falava, Glorin deu tempo para que o carcaju corresse até ele. O animal saltou de boca aberta e dentes à mostra na direção do anão, mas, suas presas não pareciam afiadas o suficiente para penetrar na poderosa armadura que Glorin vestia, era como se o animal tentasse derrubar uma parede sólida com seus dentes.

_ Não se finja de inocente, capitão! Eu sei que vai até as Uivantes para vê-la! Mas, não se preocupe, ela vai voltar algum dia! – insistiu o feiticeiro. Glorin continuava tentando entender do que ele falava, e exigia explicações. Distraído, o anão sequer percebeu quando Squall pegou sua varinha mágica, que antes pertencia a Zulil, e disparou um raio mágico enfraquecedor no corpo do anão. Mas, Glorin era como uma parede sólida, e nem mesmo aquela magia foi capaz de abalá-lo. Vendo que sua tática não surtira efeito, Squall decidiu tentar ganhar mais tempo.

_ Ora capitão! Eu sei que o senhor a perdeu, e por isso está mal nesses dias! Mas ela vai voltar algum dia! Aquela que o senhor tanto ama voltará! – prosseguiu o elfo, confiante. Mas, algo saiu errado.

_ Aquela que eu amo? Seu...seu...MALDITOOOOOO!!!! – então, a parede ruiu. A fúria de Glorin explodiu, ainda mais assustadora e devastadora do que na ocasião em que lutaram contra Dekyon. Seus olhos tornaram-se brancos como a neve e sua pele empalideceu e foi cercada de uma aura gélida. Glorin ergueu seu machado, e atacou a cabeça de Squall urrando como um monstro selvagem. Squall fechou os olhos, e sentiu que aquele era seu último momento de vida. Anix e Nailo tentaram correr para ajudá-lo, mas já era tarde, o sangue de Squall se derramaria pela última vez. Mas, a lâmina fria parou a um centímetro dos olhos de Squall, estática, como uma pedra de gelo.

_ Muito bem, moleque! A vitória é sua! – disse Glorin.

O anão virou as costas e partiu para o lado oposto, na direção de seu alojamento, cabisbaixo. Squall levou a mão à cabeça, e finalmente se deu conta do erro que havia cometido.

_ Seu linguarudo! Trate de dar uma poção pra aquele moleque logo! – disse o anão para Seelan, ao passar perto dele. Seelan sentiu-se culpado pelo que havia acontecido. Glorin continuou. – Alejandro, pague as apostas! Squall é o vencedor! – foram suas últimas palavras. Glorin desapareceu após a multidão, sem dizer mais uma palavra sequer.

Parte da multidão cercou Alejandro, em busca de seus lucros. O general era o mais feliz, dono de uma quantia de novecentas moedas douradas. O restante dos soldados saltou sobre Squall, formando uma pilha de corpos que se amontoava para saudar o vencedor. Esmagado sob dezenas de pessoas, Squall pensava apenas no que tinha feito, e se arrependia amargamente.

Lucano, que até então estava escondido, decidiu dispersar aquela multidão para também cumprimentar o amigo. Abriu seu livro mágico e gritou em élfico “Apareça Dragão!”, e a imagem de um enorme dragão vermelho se formou no ar, fazendo com que todos os soldados se dispersassem, assustados. Legolas, que, assim como Nailo, conhecia o truque do clérigo, gritou para que o dragão desaparecesse, se não quisesse ser morto. Então Lucano fechou o livro e o dragão se desfez instantaneamente. E assim terminou o esperado duelo entre Squall e o capitão Glorin. Squall foi sagrado campeão, mas em seu íntimo ele sabia que a vitória não cabia a ele e que não havia nada para comemorar.

abril 17, 2007

Campanha A - Capítulo 272 – Confusões no forte

Capítulo 272 Confusões no forte

Lucano dispensou seus soldados e foi ao encontro de Glorin. Devolveu-lhe o broche de folha de carvalho e relatou tudo que tinha acontecido. Acrescentou ao relato que Alejandro e Wood tinham se portado mal durante a viagem, contando da insubordinação de Wood, da agressão que ele fez aos netos de Laurelin e da briga que tivera com Alejandro. Contou também da deserção do guerreiro mascarado após o incidente do chicote na caverna de Laurelin. Glorin ouviu toda a história com displicência, como se sua mente estivesse em outro lugar, parecia distraído, distante. Apenas disse a Lucano que queria conversar com os dois soldados assim que possível, e suas palavras eram carregadas de insatisfação, pois ele talvez estivesse prevendo uma nova discussão, como a que ocorrera quando Nailo retornou de sua missão. Então, Lucano mostrou a Glorin sua nova espada e o amuleto que recebera de presente de Laurelin. O anão olhou os objetos sem interesse algum. Disse apenas que, apesar de ser um elfo, Laurelin tinha um bom coração, e por isso dera os presentes a Lucano.

_ Mas, capitão! Somente o broche foi presente de Laurelin! A espada não foi presente dele, mas sim de Glórien! – explicou Lucano, tentando conter o orgulho que sentia.

_ Ah! Tá certo, entendi! Mas quem é essa tal de Glórien? Namorada nova do Laurelin? – perguntou o capitão, como se nunca tivesse ouvido aquele nome que Lucano venerava.

_ Não capitão! Glórien é a deusa dos elfos anões! Digo, é a deusa dos elfos! Anões....pfftt! – Lucano sentiu-se ofendido com o descaso do anão e gritou descontroladamente, tropeçando nas próprias palavras. Então, lembrou que aquele na sua frente era seu capitão, e se preparou para a reação explosiva que viria a seguir.

_ Ah! Tá! É verdade! Tinha esquecido! Bom, vamos achar aqueles soldados encrenqueiros e resolver a situação! – Glorin permanecia pacato, mesmo após os berros do elfo e seu deboche para com a raça dos anões. Parecia distraído, pensativo, e Lucano achou isso estranho.

O clérigo permaneceu parado, enquanto o anão se afastava sem nem se dar conta de sua ausência, e assim, os dois se separaram. Enquanto isso, não muito longe dali, Wood Croft reencontrava seu mestre e tutor, o capitão Todd Flathead.

_ Licença, capitão! Acabo de chegar da missão com o sargento Lucano! Tenho uma coisinha pra mostrar pro senhor! – disse o goblin mais jovem ao entrar no alojamento de seu mestre.

_ O que é? Mostre logo, porque eu estou ocupado, Wood! – respondeu o capitão. E realmente parecia ocupado, já que havia se demorado a atender à porta, e Wood ouvira o ruído de coisas sendo guardadas às pressas assim que batera à porta.

_ Bem, é o seguinte! Olha o que eu consegui! – respondeu o goblin, despejando uma bolsa de moedas de ouro sobre a cama do capitão.

_ Nossa, quantas moedas, Wood! Onde conseguiu isso? Matou algum monstro por ai, ou foi em alguma masmorra cheia de tesouros? – indagou Todd Flathead, admirado.

_ Bem, não foi bem assim, capitão! Na verdade, quando estávamos fora, o sargento Lucano, aquele elfo orelhudo, ia entrar sozinho numa caverna, e ele me entregou essa bolsa! Disse que tinha três mil tibares de ouro ai, e me pediu para entregar pros amigos dele, pra que eles dividissem as moedas entre eles, caso o sargento não voltasse vivo da caverna! Bom, só que ele voltou vivo, e não pediu as moedas de volta, e nem disse o que fazer com elas, se ele voltasse vivo! Então eu vi esse monte de moedas esquecidas e não resisti à tentação! O senhor sabe bem como é isso, não é? Ai eu peguei e trouxe aqui, pra gente dividir, capitão! – explicou Wood.

_ Ah, entendi! Você roubou isso dele, então! Venha até aqui, seu ladrãozinho miserável! Eu vou te ensinar uma lição! Você vai aprender a jamais roubar um companheiro de grupo na sua vida! Seu vermezinho imprestável! – Todd ralhou e avançou sobre o ladino. Wood ainda tentou fugir, em vão, pois a adaga de Todd chegou ao seu pescoço mais rápido do que suas mãos na direção da porta.

Os dois saíram para o pátio do forte, onde Flathead chamou os soldados que estavam mais próximos, e ordenou que prendessem Wood e o levassem para uma cela. Entre esses soldados, estava Alejandro, que, ao descobrir o motivo da prisão de Wood, lembrou-se do seu chicote.

_ Desgraçado! Então você aprontou de novo! Tinha certeza que você tinha pegado meu chicote! Seu filho de uma cadela! – Alejandro gritou, acusando o goblin, enquanto ajudava a prendê-lo e o chutava com raiva.

Assim, Wood foi levado até a prisão do forte, e trancafiado numa cela escura, enquanto implorava por misericórdia ao seu mestre. Todd, por sua vez, ordenou que o deixassem preso até segunda ordem, para aprender a não roubar companheiros de grupo, e foi embora. Recolheu todas as moedas e as colocou de volta na bolsa. Então, foi ao encontro de Glorin.

Nesse momento, Glorin conversava com Legolas, enquanto esperava por Lucano. Legolas avisava ao seu capitão que havia pedido alguns dias de dispensa no fim do ano para visitar sua esposa. Glorin, irritou-se ao ver outra vez a hierarquia sendo quebrada, e advertiu Legolas para que se reportasse diretamente a ele para qualquer coisa. Então, Anix apareceu, para atormentar ainda mais o anão.

_ Capitão, quando o senhor corta a barba, o que costuma usar como ferramenta? – perguntou inocentemente o mago.

_ Hunf! Legolas, tire-o daqui! – o anão bufou, irado, enquanto apertava firme o machado entre seus dedos.

_ Mas capitão, só quero saber que ferramenta o senhor usa, porque eu inventei um dispositivo aqui que pode... – Anix continuou insistindo, mas foi interrompido pelo capitão.

_ Legolas! Tire esse imbecil da minha frente! Depois eu converso com o general pra você! Mas agora, tira logo esse idiota de perto de mim! – ordenou o anão, já quase gritando.

_ Tá bom! Vem Anix, vamos embora daqui, antes que seja tarde demais! – Legolas puxou seu amigo mago e o levou para longe de Glorin. Sem entender o que havia se passado, Anix mostrou a Legolas o que havia criado. Era uma lâmina, extremamente afiada, que ele havia prendido a um cabo curto. A lâmina era curva e, segundo ele, se ajustava à curvatura do rosto, para raspar a barba com precisão. Anix a chamava de lâmina de barbear.

_ Venha Legolas! Vou lhe mostrar meu novo invento! Fiz uma carroça em miniatura, pra gente se divertir um pouco! – disse Anix, puxando o colega em direção ao laboratório do forte.

Glorin continuou andando a esmo pelo forte, como se estivesse perdido. Foi quando encontrou Squall.

_ Capitão! Não se esqueça! O final do ano já está chegando! Lembre que quando estávamos no castelo o senhor prometeu que iria me enfrentar num duelo! Eu quero desafiar o senhor, pra testar minhas forças, e mostrar que também sou forte! Mais forte que o senhor até! E eu quero lutar sem regras! Vai valer tudo, o senhor pode usar qualquer ataque e eu também! Só que vamos começar distante um do outro! – falava Squall, empolgado.

_ Ai não! Mais um! Tá bom! Quer lutar, então vamos lá! Moleque folgado, quer ficar de longe só mandando magias em mim! Tudo bem, então! Vamos acabar logo com isso! Prepare-se, eu vou contar até dez, pra você se afastar! Um...dois...três...

_ Calma capitão, não á agora não, a luta é pra ser no último dia do ano... – Squall ficou desesperado. A contagem de Glorin já chegava a sete.

_ Parece que você está tendo um dia cheio hoje, não é meu amigo? – era Seelan, que acabava de chegar.

_ Ai não, outro! – resmungou Glorin.

_ Ora, não seja rabugento, meu amigo! Eu sei porque você está assim! Está chegando a data, não é? Já faz três anos! Mas, não deve desanimar, amigo! Tudo ficará bem! – disse o mago, pousando a mão sobre o ombro do anão. – Squall, não vai haver luta! Glorin não costuma lutar no fim do ano!

Seelan estava quase resolvendo tudo, quando foi interrompendo. Ao lado deles passaram Legolas e Anix, dentro de um grande caixote com rodas, que se deslocava velozmente pelo chão do forte. Os dois passaram rápido por eles e foram em direção à horta do forte, gritando como loucos e sorrindo como crianças. Ao vê-los, Seelan correu atrás deles, querendo também dar uma volta no brinquedo de Anix.

_ Bom, se o senhor não luta no fim do ano, então vamos lutar hoje! Hoje á noite! Eu o desafio, capitão!

_ Squall, deixa disso! A gente só vai se machucar à toa!

_ Ora, vamos lá! Se o senhor ganhar, eu lhe pago um mês de cerveja grátis!

_ Bem, acho que eu estou precisando tomar algumas cervejas extras nesses dias mesmo!

_ E se o senhor perder, o que me dá? Que tal esse anel? Ou esse broche!

_ Ah! Não me enche, garoto! Eu vou embora daqui! E se você algum dia me derrotar, eu te darei meu broche!­ – Glorin começou a se afastar, já cansado de toda aquela ladainha. Squall tentou segui-lo, mas foi detido por Seelan.

_ Deixe-o, Squall! – a voz do elfo não tinha mais o tom infantil e afeminado de sempre. Era séria, austera. – Glorin não está bem nesses dias! Faz três anos que alguém muito importante pra ele morreu!

_ Quem Seelan? – perguntou o feiticeiro.

_ A companheira dele! Três anos atrás, estávamos em uma missão nas Montanhas Uivantes! Glorin, se você não sabe, foi um dos servos de Belugha, a grande rainha dos dragões brancos, uma dragonesa muito poderosa que vive naquelas montanhas e as governa! Lá ele conheceu uma anã, por quem se apaixonou! Um dia, enquanto explorávamos uma masmorra, como qualquer grupo de aventureiros, ela se afastou do grupo! Quando Glorin a encontrou, ela estava morta! Tinha sido assassinada! Quando chegamos, encontramos Glorin com ela nos braços! E, acredite, esse anão duro como uma rocha que você conhece, estava em frangalhos! Glorin não viu quem a matou e não conhece o rosto do assassino! Só o que ele sabe, é que foi um elfo quem fez isso a ela! Justamente por isso ele tem tanto mágoa dos elfos! Ele não confia em nenhum deles mais, pois não sabe quem foi o elfo que matou sua amada!

_ Nossa, por isso ele está tão estranho nesses dias! Não é Seelan?

_ Sim! Nesses dias ele costuma se isolar de todos, e chorar suas mágoas sozinho! Ele se culpa pelo que aconteceu a ela, acha que foi culpa dele, por tê-la deixa se afastar dele! Mas, o pior de tudo, é que Lars não pode trazê-la de volta! Nenhum tipo de ressurreição foi capaz de fazê-la retornar! E ninguém sabe o porquê! Agora, se quer um conselho, deixe-o afogar suas mágoas com cerveja, será melhor assim!

_ Está bem, Seelan!

Squall e Seelan se despediram e foram cuidar de seus afazeres. Squall encontrou seus amigos retornando da horta semi destruída pelo carrinho de Anix. Legolas ainda tinha alguns pedaços de alface presos ao cabelo. Os três pegaram o veículo e foram se divertir mais um pouco com ele. Perto dali, Glorin encontrava mais aborrecimentos.

_ Glorin! Isto pertence a um dos seus amiguinhos! É do Lucano! O Wood tinha roubado! Quer fazer o favor de devolver? – era Todd Flathead, em suas mãos estava a bolsa com as moedas de Lucano.

_ Tá bom! Deixe comigo! – respondeu o anão, secamente.

_ E como você está? – perguntou o goblin.

_ Hunf! Não me enche! Dá essa bolsa logo! – Glorin bufou, aborrecido, tomou o saco de dinheiro das mãos de Wood e foi embora.

Pouco tempo depois, ele encontrou Lucano e entregou-lhe o dinheiro roubado. Lucano então lembrou do que tinha acontecido, e tentou inocentar Wood Croft, dizendo que ele estava tomando conta das moedas a seu pedido. Glorin, cansado de tanta confusão com os soldados, resolveu tirar tudo a limpo. Junto com Lucano, foi ao encontro de Todd Flathead. No caminho, encontrou com Alejandro, e ordenou que os acompanhasse, para dar explicações sobre sua deserção e para servir de testemunha sobre no caso de Wood.

Todd explicou como a bolsa de moedas tinha ido parar em suas mãos, e contou quais eram as intenções de Wood Croft. Alejandro contou o que tinha acontecido com seu chicote e acusou Wood de tê-lo destruído de propósito. Então, Glorin decidiu que Wood deveria permanecer em detenção, para ser punido por ter tentado roubar Lucano. A Alejandro o anão deu apenas uma advertência verbal, ordenando que ele nunca mais abandonasse seu grupo, para própria segurança. Depois mandou o espadachim ir até o depósito do forte e pegar um chicote novo e esquecer o assunto, a menos que ele tivesse como provar que Wood era realmente o culpado. Glorin os convocou para deixarem Todd em paz e, quando o goblin foi se despedir deles, algo misterioso aconteceu. Dililiümi, a espada de Lucano, começou a trepidar e a vibrar, parecia que iria saltar de sua bainha para atacar, para atacar Todd. Então, Lucano lembrou das palavras de Laurelin Ramo de Carvalho, de que a espada tinha sido forjada para caçar e exterminar os inimigos dos elfos, entre eles os goblins, e Todd era um goblin. Lucano explicou a todos o que se passava, enquanto tentava manter a espada dentro de sua bainha, e deixou o quarto rapidamente, antes que a situação piorasse ainda mais.

Os três deixaram o alojamento do goblin, e Glorin achou que enfim fosse ter paz naquele dia. Deixou o soldado e o sargento para trás, e foi até a taverna do forte. Lucano foi ao encontro de seus amigos, para lhes contar tudo que tinha passado nos últimos dias, e Alejandro foi buscar seu chicote novo. Mas, ao contrário do que imaginava o anão, as confusões daquele dia estavam longe de terminar, pois Alejandro, de posse de sua nova arma, foi até a prisão de forte Rodick, para infernizar a vida do prisioneiro que ele mais detestava, Wood Croft. Assim, o jovem mascarado passou a estalar seu chicote próximo ao goblin cativo, durante grande parte do dia e teve, enfim, sua vingança.

abril 16, 2007

Dililïümi tmigailïi, a caçadora prateada


Dililïümi – A caçadora prateada

Essa espada foi construída mais de uma centena de anos atrás por um grande ferreiro elfo chamado Lennon Auraniel, ainda durante a infinita guerra dos elfos contra os hobgoblins, justamente para fortalecer o exército de Lenórienn no combate a essas criaturas.
Aparência: espada de lâmina longa prateada (mitral), lâmina de dois gumes. Lâmina contém inscrições em élfico com o seu nome dililïümi tmigailïi (caçadora prateada). Próximo ao cabo fica o brasão de seu criador, um falcão em chamas voando para o alto. O cabo é todo prateado e possui o formato de um falcão, sendo que a cabeça com o bico aberto seguram a lâmina, as asas abertas são a guarda da espada e as pernas formam saliências que se entrelaçam ao redor do cabo, culminando em duas garras de falcão que seguram uma pedra da lua.

Campanha A - Capítulo 271 – Presentes

Capítulo 271 Presentes

_ Pois bem, Lucano! Pelo que parece você finalmente conseguiu resgatar o artefato de Glórien na caverna, não é mesmo? – Laurelin Ramo de Carvalho pôs a mão no ombro de Lucano e sorriu, logo após os dois terem curado todos os feridos com suas magias. Os elfos negros eram apenas uma lembrança ruim que jamais seria esquecida, mas tudo estava em paz agora.

_ Não, Laurelin! Não encontrei artefato algum lá dentro, acho que falhei na missão! – lamentou Lucano.

_ Não meu jovem, você não falhou! Você conseguiu reaver um bem muito precioso para nossa deusa, e que estava perdido! VOCÊ! Lucano, você reencontrou sua fé e ela é agora maior do que antes! Sua missão foi cumprida! Agora Glórien está mais feliz, por tê-lo de volta como instrumento de seu poder e sua vontade, para o progresso e o bem de todos os elfos! – explicou o velho. – Bem, agora vamos retornar para minha casa! Vamos descansar um pouco e conversar, pois hoje foi um dia muito difícil para todos! E eu os convido a ficarem comigo pelo menos até amanhã, assim terão tempo para recuperarem as suas forças!

E todos acompanharam o velho elfo até sua morada sob a terra. O eremita lhes serviu uma saborosa refeição e todos aproveitaram o restante do dia para descansar. Laurelin conversou longo tempo com Lucano, dando-lhe conselhos e transmitindo a ele sua experiência. O jovem clérigo lhe contou tudo que tinha acontecido dentro da caverna, com grande emoção. Alejandro brincava com as crianças e as fazia sorrir como nunca. Ao final do dia, o pequeno Tallos já imitava o humano, dando cambalhotas e vestindo uma capa e uma máscara que ele próprio fez com um pedaço de pano velho. Já de noite, todos foram dormir tranqüilamente, tendo belos e agradáveis sonhos. Na manhã seguinte, o 21º dia de Áurea, todos se levantaram bem cedo e fizeram os preparativos para a viagem de volta a Forte Rodick. Enquanto os soldados colocavam os seus equipamentos nos cavalos, ajudados pelas crianças, Laurelin chamou Lucano para uma conversa particular no fundo da caverna. Os dois entraram no abrigo, sozinhos, e foram até a parte mais profunda do lugar, onde havia um enorme baú de madeira.

_ Lucano, eu quero lhe dar um presente! Quero que fique com isto! Este amuleto o ajudará em sua jornada, lhe dando maior vigor físico, para que você possa resistir melhor a doenças e ferimentos! É um amuleto mágico, guarde-o bem! – Laurelin falava ao mesmo tempo em que revirava o conteúdo do baú. Tirou de lá de dentro uma pequena caixa de madeira e a abriu. Havia um medalhão prateado, preso a uma corrente também prateada, e o medalhão era cunhado com a figura de um belo urso. Ramo de Carvalho entregou o medalhão a Lucano, que o pendurou no pescoço e agradeceu. Imediatamente, Lucano se sentiu mais forte, como se tivesse terminado de descansar por horas e tivesse energia para correr por quilômetros antes de se cansar.

_ Obrigado Laurelin! – disse o herói.

_ E também, quero que fique com isto! – Laurelin tirou do baú um comprido embrulho envolto num tecido antigo. Colocou o objeto nas mãos de Lucano e começou a desenrolar o pano lentamente, até revelar seu conteúdo. Era uma espada, uma espada de lâmina longa prateada, feita do fino e precioso metal chamado de mitral. Sua lâmina emitia um tênue brilho argentado e continha inscrições em élfico em toda a sua extensão, que traziam as palavras: Dililiümi Tmigailii. Próximo ao cabo havia um brasão, que pertencia ao seu criador, um falcão em chamas voando para o alto em grande velocidade. Seu cabo, todo prateado, possuía o formato de um falcão, sendo que a cabeça com o bico aberto seguravam a lâmina, e as asas abertas do falcão formavam a guarda da espada. Já as pernas do falcão formam saliências que se entrelaçam ao redor do cabo, culminando em duas garras robustas de falcão que seguravam uma majestosa pedra da lua na extremidade do cabo.

_ Esta é Dililiümi Tmigailii, a Caçadora Prateada! Esta espada foi forjada há muito tempo em Lenórienn, por um famoso ferreiro chamado Lennon Auraniel! Ele criou esta espada ainda no tempo em que os elfo travavam a infinita guerra contra os robgoblins, e é a caçadora dos inimigos dos elfos! Esta espada já participou de muitas batalhas, e venceu muitos goblinóides para orgulho de nossa deusa! Quando a guerra terminou, e nosso reino foi desgraçadamente invadido pelos malditos goblinóides, esta espada me foi passada por um grande guerreiro de nosso povo! E agora, eu a passo a você, Lucano! Mas esse não é um presente meu, como você pode estar pensando! É um presente de nossa deusa, de Glórien! A mãe de todos os elfos falou comigo em sonho, e me pediu que eu desse-lhe esta espada! Cuide bem dela, meu amigo, pois ela é uma espada muito preciosa, e ela lhe ajudará em seu caminho! Agora vá, pois seus amigos o esperam, e seu destino o aguarda! – Laurelin completou seu discurso, e deu um forte abraço em Lucano. O sargento se despediu do ancião, emocionado, e partiu. Lucano e seus soldados deram adeus a Laurelin Ramo de Carvalho e a seus adoráveis netos, e, cinco dias após sua partida, eles entraram novamente no Forte Rodick. Era o 25º dia de Áurea, e essa era a última semana do ano de 1397.

Campanha A - Capítulo 270 – Elfos negros

Capítulo 270 Elfos negros

Então, todos viram um vulto negro que descia pela encosta rochosa, sobre a entrada da caverna. E antes que pudessem detê-lo, o vulto desceu veloz e deu um salto mortal em direção ao solo. E virou-se para todos e disse “Olê!”, e entrou correndo na caverna. Era Alejandro. Mas, o espadachim encontrou Lucano e as crianças, que retornavam do fundo da caverna, alegres e tranqüilos, e soube que estava tudo bem. Então ele saiu do túnel, e seus companheiros já o cercavam para tirar satisfações sobre seu sumiço e seu reaparecimento repentino. E Lucano chegou com as crianças, e Laurelin o saudou, assim como os soldados.

_ Pelo que eu vejo você conseguiu passar no teste! – disse o ancião.

_ Sim! - Lucano sorriu.

E então, um vento gélido soprou veloz entre as árvores, e o ventou vinha carregado de maus pressentimentos, e todos puderam perceber isso. E junto com o vento veio uma nuvem negra como a noite, que encobriu o sol brilhante num instante. E todos sentiram temor, mas foi Laurelin quem o expressou na forma de palavras.

_ Bem, Lucano, você passou no primeiro teste! Espero que consiga passar no segundo também! A hora se aproxima! E que Glórien tenha piedade de todos nós! – disse o velho elfo, e suas palavras eram carregadas de pavor.

Então, o céu tornou-se totalmente negro, e o manto da escuridão se abateu sobre a terra, e todos ficaram na penumbra. E do meio da mata escura surgiram quatro vultos igualmente negros, de aparência e de coração. E esses vultos chegaram ligeiros à clareira e cercaram todo o grupo, e sua aparência foi revelada. Eram elfos. Mas esses elfos eram diferentes de Lucano, Laurelin e as crianças. Tinham um ar de nobreza e eram distintos, vestidos com roupas nobres, de ótima qualidade. E tinham cabelos escuros como a nuvem que encobria o céu, e seus olhos , também escuros, mostravam ódio e amargura. E sua pele era negra, como se fossem sombras, mas eram de carne como qualquer um ali. E a cor de sua pele não se devia a sua linhagem, ou a algum fator ambiental o mágico, era um presente de Tenebra, a deusa das trevas, para identificar aqueles que decidiram por livre e espontânea vontade seguir seus ensinamentos. Era o que diferenciava um filho de Glórien daqueles que, por rancor pela perda dos amigos e parentes na queda do reino élfico de Lenórienn, haviam renegado sua deusa e dedicado sua devoção a Tenebra. Era a marca que os identificava por aquilo que eles haviam se tornado, os elfos negros. Elfos cujos corações estavam na escuridão, que culpavam Glórien por sua tragédia, e que haviam sucumbido ao ódio e a dor e se tornado criaturas das trevas. E dentre os quatro que se apresentaram, um despertava mais atenção e medo. Era um elfo negro de grande estatura e cabelos longos, e que vestia roupas negras bordadas com fios de ouro. E trazia uma enorme espada em suas costas, que emanava uma aura sinistra. E em suas mãos, assim como nas dos outros três, havia estranhas armas, lâminas que formavam um arco afiado que circundavam as mãos, e cujas extremidades eram presas nas pontas do cabo segurado pelas mãos negras. E essas armas eram letais, e chamadas de ajis, pelos elfos negros. E esse elfo se aproximou ameaçadoramente do grupo, e quem o olhava sentia um calafrio percorrendo a espinha. E Laurelin rapidamente mandou que as crianças entrassem na caverna e ficou diante da entrada, protegendo-a dos elfos negros. E o que parecia ser o líder deles começou a falar.

_ Finalmente eu o encontrei, velho! Agora você conhecerá o poder de minha fúria! – gritou o líder dos elfos negros.

_ Não Berforan! Você não vai fazer nada, pois o poder de Glórien me protege! – respondeu Ramo de Carvalho.

_ Ora, Glórien não protege ninguém! Não o fez quando mais deveria, e agora que ela está fraca o faz menos ainda! Vocês todos serão testemunhas de que o poder dela não existe mais! – e o elfo negro gargalhou e comandou, com a cabeça, os seus soldados, e eles prepararam suas armas para matar.

E os soldados de Lucano agiram com mais rapidez, ou talvez maior imprudência, e atacaram primeiro. O machado de Lycan se chocou contra o peito de Berforan, e a armadura resistiu ao impacto e apenas um ferimento superficial foi feito na pele escura do elfo negro. E Wood arremessou uma adaga no mesmo alvo, sem desconfiar do tamanho da sua tolice, e errou, pois a arma foi rebatida pela aji brilhante facilmente. E o goblin se escondeu atrás de uma árvore, mas de nada adiantou sua estratégia.

_ Saia de trás dessa árvore, seu goblin imundo! Eu estou vendo-o claramente! – gritou o elfo caído.

E depois foi a vez de Alejandro. Deu uma série de saltos e cambalhotas para chegar ao lado do inimigo de surpresa, mas seu florete sequer chegou a tocar o adversário, pois ele se esquivou com desprezo da arma do mascarado. E, impressionado com o inimigo, Lucano desejou saber quem ele era.

_ Ele é Berforan, o Alma Negra, líder de todos os elfos negros! Ele já foi no passado um Espada de Glórien, era o líder de todos eles! Mas, após a queda de Lenórienn, ele culpou nossa deusa pela desgraça ocorrida com os elfos e se voltou contra ela! – explicou Laurelin.

E então foi a vez dos elfos negros atacarem. Berforan com suas duas ajis golpeou quatro vezes o corpo de Alejandro. E o espadachim foi retalhado e seu corpo desabou no chão já quase sem vida. Então, a única mulher que havia no grupo de Berforan atacou Lycan pelas costas. E suas ajis rasgaram-no com violência, e o guerreiro sentiu que sua vida se esvaia e tentou recuar. Wood tentou acertar novamente os inimigos com suas facas, mas isso só os deixava mais irritados.

Então, Arcany atacou com sua magia, e atingiu um projétil mágico na mulher que ameaçava Lycan, e ela se enfureceu.

_ Matem o mago! – gritou ela, e seus outros dois companheiros miraram suas armas no feiticeiro, mas Berforan os impediu.

_ Entrem na caverna! Há crianças lá! Matem todas! – ordenou o líder doa elfos negros. E Lucano e Laurelin tentavam impedir o avanço dos inimigos sem lutar contra eles, pois, apesar de toda sua maldade, ainda eram elfos.

Então, Berforan segurou as duas ajis com apenas uma das mãos, e com a mão direita sacou a espada que estava em suas costas, e ela tinha uma aura negra de trevas.

_ Sinta o poder de Diamante das Trevas! – gritou Berforan. E enterrou vários centímetros da lâmina maldita no ventre de Lycan. O guerreiro empalideceu e caiu, à beira da morte. – Alevandra! Cuide do mago! – ordenou ele.

E Alevandra, a elfa negra, correu até Arcany e abriu seu pescoço com a lâmina curvada de sua aji. E o feiticeiro foi o terceiro a tombar em combate. E os elfos negros tentaram atacar Lucano, mas se detiveram diante dele ao ver seu símbolo sagrado pendurado em seu pescoço. E o amaldiçoaram, dizendo “outro maldito clérigo!”. E contra ele nada fizeram.

_ Lucano! O poder de Glórien nos protege! Eles não podem fazer nada contra os servos da deusa! Use seu poder! – gritou o ancião.

Mas Berforan se aproximou dele, e Laurelin não conseguiu detê-lo. Wood saiu de seu esconderijo e o atacou, mas Diamante das Trevas entrou em seu peito, e o goblin foi o quarto a ser vencido. E Lucano invocou o nome de Glórien e o poder da deusa dos elfos fluiu novamente pelo seu corpo, e ele conseguiu conter um dos inimigos, tirando dele toda a raiva e acalmando seu coração. E então Berforan disse.

_ Malditos servos de Glórien! Posso não tocá-los, mas ao menos ceifarei as vidas inúteis desses humanos e a desse goblin asqueroso! E aquelas crianças também pagaram, pois os devotos da traidora da raça élfica devem ser punidos tanto quanto ela!

E Berforan avançou em direção da entrada da caverna, onde Lucano tentava deter os inimigos usando seu corpo como escudo. E então Laurelin gritou o nome de sua deusa e suas preces foram atendidas. Um círculo de luz mágica se formou ao redor do ancião e se expandiu, até envolver os soldados caídos e os elfos negros. E Berforan e seus comandados, que tinha os corações negros de maldade, não puderam suportar o poder do círculo mágico e se afastaram.

_ Berforan! Hoje nenhuma vida será tirada! Nem mais uma gota de sangue será derramada nesses campos! Em nome de Glórien eu lhe ordeno que vá embora daqui, imediatamente! – gritava Laurelin Ramo de Carvalho, ostentando um amuleto de madeira com o símbolo de sua deusa entalhado.

_ Velho maldito! Eu irei embora! Mas não pense que acabou! Ainda nos encontraremos de novo algum dia! E quando esse dia chegar, não conseguirá mais escapar! – respondeu Berforan com ódio. E os elfos negros retornaram para a mata em saltos ligeiros e desapareceram tão furtivos quanto haviam chegado. E o vento soprou mais uma vez, e a nuvem negra foi levada embora. E o sol voltou a brilha novamente. E Lucano agradeceu a Glórien por estarem todos vivos e por ter sido aceito novamente como um de seus servos. E jurou nunca mais desonrar o seu voto para com a deusa.