abril 16, 2007

Campanha A - Capítulo 268 – A missão de Lucano

Capítulo 268 A missão de Lucano

Laurelin era um elfo de idade bastante avançada, até mesmo para os padrões dos filhos de Glórien. Seu corpo arqueado e cansado, e seu rosto e mãos enrugados, eram como um disfarce para ocultar todo o poder que aquele ancião possuía. Caminhava vagarosamente, não por dificuldade de andar, mas sim por não ter pressa de chegar ao seu destino. Ao seu lado iam as crianças, saltitantes e eufóricas, brincando e cantarolando. Vez ou outra faziam silêncio, como se algo na selva os incomodasse. Olhavam ao redor como se procurassem por algo e aguçavam seus ouvidos. E então voltavam a brincar ao perceber que não havia perigo próximo.

Após alguns minutos de caminhada, chegaram à entrada de uma caverna, cercada por colinas baixas. Laurelin entrou e convidou os soldados gentilmente. Atravessaram uma túnel iluminado por velas rudimentares e, enquanto percorriam-no, os garotos ficaram curiosos quando viram o chicote na cintura de Alejandro. O mascarado fez a arma estalar perto das crianças, deixando-as ao mesmo tempo assustadas e entusiasmadas, e convidou todas para irem para fora brincar com o chicote e seu cavalo, Tornado.

Laurelin colocou um caldeirão para aquecer em uma fogueira o fundo da caverna. Ao redor, havia várias camas de madeira e palha, e no centro uma mesa grande e firme, em torno da qual todos se sentaram. E, enquanto um delicioso aroma da comida preparada pelo ancião se espalhava pelo ar, Lucano contou a sua sina. Contou de quando conheceu Glorin, e de sua missão em Carvalho Quebrado e do castelo assombrado pelos mortos-vivos. E contou de Zulil, e da batalha que haviam tido no topo do castelo. E Laurelin fez um olhar de desaprovação quando soube que Zulil era um elfo. Lucano concluiu sua história contando sobre seus dias no forte e sobre o incidente com a flecha disparada por Arcany. E então foi a vez de Laurelin falar.

_ Meu jovem, pelo que posso perceber, Glórien está muito triste com o uso que você fez dos poderes concedidos por ela a você! Glórien nos dá o poder para que façamos o bem para seus filhos, para que todos possam progredir juntos! Esse poder deve ser usado para promover a união e o bem estar dos elfos, não para a discórdia e a desgraça! Por isso Glórien chora! E ela lhe negará o acesso a esses poderes até que você compreenda a sua missão! Mas, nunca duvide do amor dela por você ou por seus amigos! Tenha certeza de que ela ainda assim o está protegendo, e por isso você deve sempre confiar em sua fé, e jamais duvidar dela! – o elfo falava com seriedade e em voz alta, para que todos pudessem ouvi-lo. Depois deu uma longa pausa e esboçou um sorriso afável, falando desta vez em tom mais brando. – Orarei a nossa mãe, para que ela ilumine minha mente e me mostre o que deve ser feito! Por hora é melhor que vocês comam bem e descansem de sua viagem! Pela manhã conversaremos mais e, se Glórien assim permitir, saberemos qual será o seu destino!

_ Essa deusa de vocês é uma fraca tola! O outro elfo é que deveria ser punido! Ela não sabe o que faz! Por isso que eu prefiro minha deusa! – disse Lycan, em tom de deboche, antes de dar uma gargalhada e se espreguiçar na cadeira.

_ Ora! Não diga bobagens, jovem! Você não sabe o que está falando! Não conhece as motivações dos deuses, então não deve blasfemar dessa forma! - respondeu Laurelin, com rudeza.

_ Ainda assim Valkaria é uma deusa melhor que a sua! – retrucou o guerreiro.

_ Valkaria? Nunca ouvi falar? Quem é? – perguntou o ancião, dando as costas para Lycan e deixando-o desconcertado. Percebendo que travaria um inútil disputa teológica, Lycan se deu por vencido e se calou.

Então Laurelin chamou Alejandro e seus netos para se juntarem para o jantar. As crianças se divertiam do lado de fora da caverna, brincando com o chicote e passeando sobre o lombo de Tornado. E dentre todos, Tallos era o mais habilidoso com o chicote, e despertou a simpatia de Alejandro, que via no garoto um pouco de si mesmo. Todos entraram na caverna correndo, e o ancião revelou em voz baixa aos heróis que os pais das crianças haviam morrido, vítimas de ataques de orcs, tempos atrás. E o espadachim mascarado apiedou-se ainda mais de Tallos, já o considerando quase como um discípulo.

Laurelin serviu uma saborosa sopa de legumes e raízes, acompanhada de pão e frutas. E Lucano dividiu com ele seu vinho, e todos passaram momentos agradáveis antes das provações que viriam. E finalmente foram dormir. Os heróis espalharam seus sacos de dormir pelo chão da caverna, e todas as crianças levaram seus colchões de palha para perto do leito de Alejandro. E dormiram um sono tranqüilo, sem desconfiar das trapaças e traições que eram tramadas na noite.

Ocorre que Wood Croft, inconformado com a punição que recebera por agredir Túrin, o mais velho dos garotos, desejava vingar-se de Lucano e Alejandro. E, enquanto todos dormiam profundamente, ele se levantou sorrateiramente e foi silencioso como uma serpente até o equipamento de Alejandro. Pegou o chicote com o qual havia sido ameaçado, e cortou-o em vários pedaços. E os pedaços ele colocou embaixo das cobertas de Tallos, para incriminá-lo.

Raiou então o 20º dia de Áurea. Era uma manhã quente, e o sol brilhava solitário no céu, sem a companhia de qualquer nuvem que fosse. Os heróis se levantaram cedo e, ao procurar por Laurelin, não o encontraram. Ficaram apreensivos, temendo que algo de ruim pudesse ter acontecido ao ancião, e prepararam suas armas para lutar. No entanto, ao procurar por seu chicote, Alejandro descobriu que ele havia desaparecido.

Imediatamente Alejandro acusou Wood de tê-lo roubado. Acusava-o de querer se vingar por causa do pontapé que recebera do espadachim. Wood, entretanto, permanecia calmo, defendendo-se das acusações como se não soubesse de nada. Lucano também saiu em sua defesa, dizendo para que Alejandro não acusasse sem ter provas contra o goblin. Então as crianças acordaram, e a primeira a despertar foi Lunara, a única menina entre eles, e o último a acordar foi Tallos. E quando ele se levantou os pedaços do chicote surgiram espalhados no meio de sua cama. Alejandro ficou cheio de cólera, mas decidiu não discutir mais. Pegou seu equipamento e os pedaços do chicote e saiu, dizendo que voltaria para o forte sozinho. Lucano tentou impedi-lo, mas havia algo mais importante a fazer, encontrar Laurelin. Então Alejandro abandonou o grupo e desapareceu na mata com seu cavalo.

Pouco depois, os outros soldados saíram da caverna guiados pelo seu sargento. E encontraram Laurelin sentado à sombra de uma árvore, meditando. Lucano se aproximou, sem fazer barulho para não interromper a concentração do ancião, e ficou observando-o. Então, Laurelin abriu sutilmente um dos olhos e falou com ele.

_ Bom dia! Não gostaria de se juntar a mim e orar a nossa deusa?

E Lucano aceitou o convite, sentou-se ao lado de Ramo de Carvalho e pôs-se a rezar. Pediu a Glórien que lhe desse uma nova oportunidade, uma chance de se redimir e receber novamente sua graça. E foi atendido.

Depois de algum tempo, Laurelin se levantou, sereno, e retornou para sua caverna. Lucano se juntou a ele e a todos os outros que aguardavam lá dentro. Enquanto faziam um rápido desjejum com frutas colhidas na mata por Lycan e pelas crianças, o velho elfo revelou a sina do jovem clérigo.

_ Eu orei a Glórien e ela me mostrou uma visão! E nessa visão eu vi seu destino Lucano! Nossa mãe lhe dará uma segunda chance! Você terá que passar numa prova para mostrar seu valor, e não poderá receber ajuda de ninguém! Você deverá ir a uma caverna que fica próxima daqui e entrar nela sem seus soldados! E lá dentro você deverá buscar um artefato que é sagrado para nossa deusa! E se você conseguir resgatar esse artefato, terá sua redenção!

Todos prestavam atenção nas palavras do velho elfo, e entenderam e aceitaram o que elas significavam. E depois de comerem, todos partiram juntos, rumo ao oeste, guiados por Ramo de Carvalho. E andaram por quase uma hora inteira, até chegarem a uma clareira no meio da floresta. Viram o sol pela primeira vez naquela manhã, e pelo seu brilho intenso, parecia que Azgher prestava atenção especial naquele pequeno grupo de mortais. E assim como os demais membros do panteão, o deus sol de fato observava os passos do jovem clérigo rumo ao seu destino, exatamente como dissera Allihanna, na sua aparição sob a forma de cervo branco no bosque onde Enola e Silfo tinham encontrado sua morada.

Atrás deles estava a mata de Bosque Escuro, que fechava também seus flancos a vários metros de distância. À frente, estava um enorme paredão de rocha, que se elevava vinte metros acima do solo e se abria num planalto arborizado. E exatamente no centro do paredão, havia uma enorme caverna natural, que se estendia rocha adentro indefinidamente, até que os raios de sol não pudessem mais alcançar sua porção mais profunda e a escuridão imperasse por todos os lados.

_ É aqui que nos separamos, Lucano! Você deve entrar nessa caverna e resgatar o artefato de Glórien sem nossa ajuda! Mas, lembre-se! Glórien estará olhando por você! Jamais duvide de sua fé, jamais duvide do mor dela por você! Tenha sempre fé em sua deusa e em você mesmo! E lembre-se também que você estará sendo testado! Não se esqueça dos ensinamentos de Glórien, lembre-se de seu dever como clérigo, que é ajudar todos os elfos com o poder concedido por nossa mãe! Lembre-se sempre disso e, se Glórien assim permitir, nos encontraremos aqui quando você retornar! – disse Laurelin, antes de dar um amigável aperto de mão em Lucano.

E Lucano tomou fôlego e coragem, e lembrou das palavras que o velho acabara de dizer, e entrou na caverna. Antes, porém, entregou a Wood uma bolsa que continha todo o tesouro que ele tinha juntado até aquele momento, e pediu ao goblin que entregasse a Legolas e a seus amigos, caso ele não voltasse com vida, para que eles dividissem entre si. Lucano entrou na caverna, e, pouco depois, Laurelin mandou que as crianças fossem junto com ele, para espanto de todos. E quando Túrin preparou seu arco para proteger seus irmãos e primos na escuridão, o sábio avô ordenou que deixassem suas armas, pois não precisariam delas. Mas, Tallos tinha um espírito indomável, e escondeu uma faca sob a manga de sua camisa, e todos entraram na caverna e se juntaram a Lucano em sua jornada.

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