Capítulo 265 – Punição...lágrimas de uma deusa
Vários dias tinham se passado desde que Nailo retornara com seu grupo da missão em Forte Novo. Era final de primavera, o 13º dia de Áurea, um morag, uma suave brisa soprava para secar o suor dos corpos dos soldados que treinavam arduamente no forte Rodick. Reinava a paz no lugar, sem que nenhum incidente nas redondezas tivesse exigido os serviços do exército. Lucano, assim como seus companheiros, instruía seu pelotão, composto de soldados ainda jovens, e sem toda a experiência que o clérigo acumulara nas muitas aventuras que vivera com seus amigos.
Tudo parecia estar bem no forte, apesar da morte recente de Jack, e da partida de Lars. Mas, apesar das aparências, Lucano sabia que nem tudo estava certo. Havia algo errado, ele sentia isso. Era algo que apenas ele percebia, algo que afetava apenas a ele. Em suas orações diárias, o jovem elfo sentia que sua deusa parecia distante. A presença de Glórien já não era forte e evidente como antes, era como se ela estivesse em algum lugar muito distante, onde seu poder não pudesse alcançar Lucano.
Entretanto, apesar da dúvida que pesava em seu coração, Lucano seguia sua vida, dedicando suas orações a Glórien, estudando magia arcana com a ajuda de Anix, treinando suas habilidades no forte, ensinando seus soldados aquilo que ele sabia.
Naquela manhã em especial, treinavam a arte da arquearia. Lucano, Anix e os demais transmitiam seus conhecimentos para os novatos. Legolas, o mais habilidoso com o arco, transmitia dicas secretas para os soldados, para que todos pudessem se aperfeiçoar no manejo da arma. E foi durante esse treino que Lucano finalmente descobriu o que havia de errado. Enquanto treinava, um dos soldados atirou distraidamente e, por acidente, acabou por atingir o pé de Lucano com sua flecha.
Foi um instante de tensão e apreensão para todos. Lucano mancava, com a flecha cravada em seu pé, enquanto todos observavam com espanto. O clérigo se sentou no chão e, com um forte puxão, arrancou a flecha, causando-lhe ainda mais dor. Resistindo ao sofrimento, Lucano estendeu sua mão sobre o ferimento e sussurrou uma prece a Glórien. E nada aconteceu. O clérigo tentou novamente, uma ,duas vezes e o resultado foi o mesmo. Suas magias de cura, que por vezes foram a salvação sua e de seus companheiros, não mais funcionavam. Um frio cortante percorreu a espinha de Lucano. Desesperado, o clérigo se levantou e correu até onde estava seu superior, Glorin. Legolas, que estava mais próximo e viu tudo o que aconteceu, contou a Anix e a Seelan, que acabavam de chegar do laboratório do forte, tudo que se passava. O arqueiro, sem perda de tempo, correu atrás de Lucano, para tentar ajudá-lo, enquanto Anix e Seelan resolveram conversar com outra pessoa, Kuran.
_ Capitão! Eu preciso de sua ajuda! – disse Lucano, suplicante.
_ Fale garoto! O que você quer? – perguntou o anão.
_ Minhas magias de cura! Elas não estão funcionando! – respondeu o clérigo.
_ Ah, não? E o que você quer que eu faça? Eu não entendo de magia, garoto! Hunf...elfos! – debochou Glorin.
_ Eu quero que o senhor me ajude! O senhor é meu capitão, e é tem muito mais experiência que eu, precisa me ajudar! – pediu o elfo.
_ Está bem! Venha comigo! Vamos falar com quem entende do tipo de magia que você usa! Vamos até o Kuran! – respondeu Glorin.
Glorin e Lucano foram até o jardim onde Kuran costumava ficar. Legolas os acompanhou e, os três entraram no jardim. Glorin caminhava despreocupadamente, pisando nas plantas que cresciam naquele lugar. Idor, um sprite que costumava auxiliar e fazer companhia a Kuran, tentava repreender o anão. Mas Glorin era inflexível e teimoso como um anão deveria ser, e nem deu importância às reclamações da pequena fada. No fundo da pequena mata que se formava no forte, encontraram Kuran, sentado sob a sombra de duas árvores, com as pernas dobradas uma sobre a outra entrelaçando-se. Kuran se levantou, abandonando sua meditação, cumprimentou os três que estavam chegando e pediu a Glorin que tomasse mais cuidado com suas plantas. Depois, foi até o local onde o anão tinha pisado e amassado a relva e as flores e, com um simples movimento de mão e o murmurar de uma prece, fez com que as plantas voltassem a se eriçar, belas e viçosas. Seelan e Anix chegaram nesse momento e, maravilhados com a habilidade de Kuran, juntaram-se aos demais.
_ Digam-me! Por que vieram me procurar? O que está acontecendo? – disse Kuran. Sua voz era suave e tranqüila como o vento que agitava seus longos cabelos prateados.
_ É esse fresco do Lucano! Ele está com algum problema com seu poder mágico! Fale pra ele garoto! – respondeu Glorin, com sua voz rouca e seu falar debochado.
_ Um dos soldados atingiu meu pé com uma flecha por acidente, Kuran! Eu tentei usar minha magia para tratar o ferimento, invoquei o nome de Glórien, mas nada aconteceu! – falou o jovem clérigo, receoso.
_ Estranho isso acontecer! Só as magias de cura estão assim? Ou as outras também? Faça um teste com outra magia qualquer! – disse Kuran.
E Lucano tentou usar outro tipo de mágica, mas nada aconteceu novamente. E Kuran lhe deu um pergaminho que trazia na cintura, e explicou-lhe como ativá-lo. E novamente, Lucano não conseguiu realizar a magia. Kuran ponderou por alguns instantes, sua expressão era sábia e calma, e depois falou com uma voz mansa como a água de um lago:
_ Lucano! Além do fato de você não conseguir mais realizar magia alguma, você tem notado algo de estranho com você? Algo que pudesse explicar esse fato?
O elfo pensou por um breve momento, e lembrou-se dos últimos dias, de sentir a presença de sua deusa distante e fraca e contou ao druida e aos seus amigos aquilo que sentia. E Kuran, após meditar um pouco, falou:
_ Só há uma explicação! Busque em sua mente e em seu coração, Lucano, e pergunte a si mesmo se você fez alguma coisa recentemente que poderia desagradar Glórien!
Lucano emudeceu e se concentrou, buscando em sua mente quando fora a última vez em que ele tinha utilizado seus poderes. Kuran, Legolas, Seelan, Anix e Idor observavam-no ansiosos. Glorin sentou-se em uma pedra e permaneceu calado. Lucano continuou concentrado, até que Glórien tocou em seu coração e lhe mostrou a verdade que ele buscava.
_ Já sei! – disse o clérigo, consternado – Só agora eu fui perceber! A última vez em que eu usei minha magia, foi quando nós enfrentamos o Zulil, naquele castelo cheio de mortos-vivos! O que está acontecendo é resultado daquela batalha! Eu ataquei o Zulil, e colaborei para a morte dele! Por isso Glórien se afastou de mim! Eu fiz mal a um elfo! – explicou.
_ Sim! Agora as coisas fazem sentido! Você violou seus votos sagrados, e por isso Glórien ficou magoada com você! O poder que você recebeu dela era para ajudar os elfos, não para lutar contra eles! Por isso ela os tirou de você! Agora, da mesma forma que Lars Sween, você deverá novamente provar o seu valor a Glórien! Deverá mostrar que é digno de receber os poderes dela! – explicou Kuran.
_ Mas como ele fará isso? – perguntou Anix.
_ Primeiramente ele deverá encontrar um sacerdote de Glórien, acima dele na hierarquia clerical! E então, esse sacerdote lhe dirá o que deve ser feito! – respondeu Seelan.
_ E onde nós iremos encontrar um clérigo de Glórien no meio de reino de Tollon, que só tem anões e humanos? – era Legolas, revoltado.
_ Eu sei! – Glorin finalmente quebrou seu silêncio – Nas minhas andanças por esse mundo, eu encontrei um elfo, ao sul daqui! Ele deve ser um clérigo, ou um druida, não sei ao certo! Ele é um eremita, e provavelmente poderá ajudar! – complementou o anão.
_ Ótimo! Então, nos diga onde esse eremita vive! Vamos partir o quanto antes! Vou avisar o Squall e o Nailo! - disse Legolas.
_ Creio que isso não será possível! Assim como Lars, Lucano deverá ir sozinho! É ele quem deve provar seu valor, não vocês! – falou o anão.
_ Mas é muito perigoso! Ele não pode ir sozinho! – a voz de Anix tinha tom de súplica.
_ Glorin está certo! Ninguém poderá ajudar Lucano dessa vez! No máximo, para que ele não vá sozinho, ele levará seus soldados, já que eles são todos ainda fracos e inexperientes, não estariam ajudando Lucano! Certo Glorin? – era Seelan.
_ Façam como quiserem! – respondeu o anão.
Lucano estava cabisbaixo, triste e decepcionado por tudo que acontecia. Anix para Seelan e Glorin, suplicando para que o deixassem acompanhar o amigo. E Legolas tinha os olhos brilhantes, cheios de ódio e mágoa, pelo que estava acontecendo.
_ Não é justo! O Zulil era um desgraçado, chamou Glórien de prostituta! Mas quem recebe o castigo é o Lucano! Isso não está certo! – reclamava o arqueiro.
_ Não questione os desígnios dos deuses, Legolas! Não conhecemos as motivações deles, portanto não devemos julgá-los! Ao invés de revolta, você deve ter fé e acreditar em seu amigo e sua deusa! Façamos o seguinte, procurem-me amanhã de manhã! Até lá, eu já saberei a resposta de Glórien, e direi se vocês poderão ou não acompanhar seu amigo na jornada que ele deverá fazer! – disse Kuran, com toda a serenidade de sua fala, acalmando o arqueiro.
_ Como assim? Você vai falar com Glórien? – indagou Anix, surpreso.
_ Sim, por intermédio de Allihanna! – respondeu Kuran.
Ainda que relutantes, Legolas e Anix concordaram com a decisão do manipulador de vegetais. Deixaram o jardim, que era quase como um paraíso, e cada qual seguiu seu caminho.
Lucano, amargurado, foi com Glorin até o alojamento do capitão. Com suas mãos firmes de fortes, o anão traçou num mapa uma rota e explicou cada um dos detalhes ao clérigo, para que ele pudesse encontrar e chegar ao seu destino. Lucano saiu de lá e descansou pelo restante do dia, preparando-se para a jornada que faria na manhã seguinte.
Legolas, revoltado e triste, necessitava de um afago, de algumas palavras doces que trouxessem acalanto ao seu coração tempestuoso. Liodriel. O berloque da comunicação distante fez seu ruído característico e, do outro lado do reino de Tollon, a bela dama élfica atendeu ao chamado de seu adorado marido.Os dois deleitaram-se ouvindo a voz do ser amado. Graças ao bom Sam, ainda que estivessem distantes, eles podiam ficar mais próximos com aquele dispositivo mágico. Mas, como a conversa entre os dois não poderia durar para sempre, Legolas se despediu de sua esposa, e a solidão voltou a abater seu coração. Entretanto, agora ele estava fortalecido pelo amor de Liodriel.
Pois foi esse amor que o levou a conversar com o general Wally Dold. O ano já findava e, junto com o novo ciclo vinha também um breve período de comemorações em todo reinado, para festejar a mudança no calendário. Legolas desejava passar o feriado com sua amada, e pediu ao general que o dispensasse do serviço por uma semana, tempo suficiente, acreditava, para ir visitar sua amada e retornar às suas obrigações no forte. O general coçou seu queixo, enquanto ouvia ao pedido do elfo, e prometeu que pensaria no assunto.
Legolas saiu da sala do general esperançoso. Foi até seu alojamento, e pegou em seu armário os itens que estavam ali guardados. Vários tesouros que ele e seus soldados haviam recolhido após derrotarem o homem-serpente nas Montanhas Uivantes. Levou cada um dos objetos para a única pessoa do forte que seria capaz de descobrir para que eles serviam, Seelan. O arqueiro deixou os tesouros sob os cuidados de Seelan, e pediu que o mago os estudasse e desvendasse os segredos de cada um deles. E então, o arqueiro finalmente voltou à sua rotina normal.
Já Anix e Seelan, retornaram para o laboratório, onde retomaram seus trabalhos e suas pesquisas. Enquanto tudo isso se desenrolava, Nailo treinava seus soldados, sem desconfiar da desgraça de Lucano. Já Squall, deixara um de seus soldados responsável pelo seu grupo, e agora vagava pelo forte.
_ Major! Posso falar com o senhor! – perguntou o feiticeiro a Jonathan Wilkes, que saboreava uma caneca de cerveja na taverna do forte.
_Sim, sargento! Fale o que quer! – respondeu o homem, sempre com seu jeito bem humorado e debochado.
_ Eu gostaria que o senhor me desse uma dica! – pediu o elfo.
_ Claro! Mantenha sua espada sempre bem afiada! – sorriu Wilkes, sacando a arma da bainha.
_ Não, não era isso! Eu queria que o senhor me desse uma dica para que eu possa me relacionar bem com os soldados! – explicou o elfo.
_ Ah, bom! Agora entendi! Quer se dar bem com os seus subordinados? Isso é fácil! Seja duro com eles, e não deixe que sua autoridade seja abalada! Mas, saiba ser amigável com eles, para não parecer um tirano! – respondeu o homem, entornando a caneca.
_ Era isso que eu queria ouvir! Obrigado Major! – Squall agradeceu e se retirou. Ao invés de retornar ao treinamento dos seus soldados, foi até o laboratório, onde Seelan e Anix trabalhavam em suas pesquisas mágicas. Atravessou a entrada e pôs-se a observar o comportamento de Seelan que bolinava seu irmão. Squall sabia que Seelan apenas fingia ser afeminado para caçoar dos novatos e divertir a todos no forte. Mas, passados alguns meses, Seelan continuava enganando Anix, expondo-o ao ridículo diante de todos os soldados. E, o pior de tudo, parecia que Anix gostava do modo como era tratado por Seelan, já que ele, embora tentasse resistir, arrepiava-se todo, ruborizava e sorria encabulado cada vez que Seelan o tocava ou fazia um gracejo. Squall já começava a duvidar da masculinidade de seu irmão e pensava se não deveria revelar toda aquela farsa. Enquanto divagava sobre o comportamento suspeito de seu irmão, a presença de Squall foi notada, então ele decidiu tratar do assunto que o levara até aquele lugar.
_ Seelan! Preciso falar com você um instante! Quero perguntar algumas coisas para você! E é uma conversa particular! – disse o elfo com seriedade.
_ Claro que sim, amiguinho! Vamos conversar sim! Vamos lá pra fora, para ficarmos um pouco a sós! Quero dizer, isso se você não se importar, Anix! – Seelan sorriu, como de costume e foi até Squall, colocando seu braço por cima do ombro do rapaz. Depois alisou o peito de Anix com a ponta do indicador, enquanto falava com sua voz aguda e afeminada.
_ Claro que não me importo! Só não entendo o que o Squall teria a esconder de mim! – respondeu Anix.
_ Não importa, Anix! Isso é assunto meu! Depois eu quero ter uma conversa séria com você também! Você está me causando vergonha, com esse seu jeito! Depois a gente conversa! Agora vamos Seelan, e tire essa mão do meu ombro, pois isso não funciona comigo, eu sei seu segredo e se você não parar com essa frescura, eu vou revelá-lo! – respondeu Squall. Seu tom de voz era carregado de um desprezo que ele sentia pelo irmão naquele momento. Depois sua voz inflamou-se em cólera com a ousadia de Seelan.
_ Segredo? Ué?! Que segredo é esse que vocês estão falando? Eu quero saber! – perguntou Anix.
_ Não é nada! Bobagens! Depois eu te conto! Vamos Squall! Vamos lá fora conversar! – respondeu Seelan, arrastando o feiticeiro para fora.
Saíram os dois, deixando um Anix desconfiado dentro do laboratório. Não agüentando de curiosidade, e desconfiando que os dois tramavam algo, talvez algum plano para expô-lo ao ridículo ainda mais, Anix utilizou sua mágica para ficar invisível e seguiu os dois silenciosamente.
Enquanto caminhavam em direção à entrada do forte, afastando-se do laboratório, Squall perguntava a Seelan sobre algo que era tabu no território do reinado, armas de fogo. Durante o tempo em que estivera perdido no Mar Negro, Squall havia ouvido vários rumores sobre aquele tipo exótico de arma e, por uma única vez, pode testemunhar uma delas funcionando, no dia em que o navio onde ele estava fora atacado e abalroado por piratas. Depois daquele dia, Squall vagou longo tempo à deriva no mar, até que finalmente foi encontrado pelos homens que tripulavam o Lazarus, sob o comando do já falecido capitão Arthur Tym. Entre esses homens, estava Anix, seu irmão, que demorou dias para reconhecê-lo, devido à desidratação e às queimaduras do sol. Os infortúnios que vieram a seguir, sequer deram tempo a Anix e Squall para comemorarem o seu reencontro, após longo tempo. Junto com seu irmão e seus novos amigos, Squall viveu grandes aventuras, enfrentou perigos e se emocionou. Mas, mesmo após todo esse tempo, a imagem daquele pequeno artefato de metal explodindo em fogo e fumaça, perfurando os corpos dos marinheiros, causando morte e destruição sem auxílio de magia, jamais saiu de sua mente. Mesmo sabendo que aquele tipo de utensílio era proibido em todo o território do reinado, Squall pediu a Seelan que lhe conseguisse uma arma de fogo para que ele pudesse satisfazer sua curiosidade.
Seelan tentou desviar o assunto e fingir que nada sabia sobre as tais armas. Mas Squall sabia que no forte havia armas de fogo, capturadas de criminosos presos pelo exército, e que agora estavam guardadas em segurança. E Squall sabia que Seelan tinha conhecimento disso e o advertiu. Sem ter como escapar, o mago concordou com o pedido do feiticeiro e prometeu que faria uma demonstração para que todos os soldados pudessem conhecer os perigos que o uso da pólvora escondia. E novamente, no meio da conversa, o braço de Seelan envolveu Squall num abraço.
Squall empurrou Seelan e reclamou. Exigiu que ele parasse com aquilo, pois ele sabia de toda a verdade, sabia que Seelan apenas estava fingindo para enganar Anix. E Anix ouviu tudo e se surpreendeu com o que acabara de descobrir. E Seelan pediu desculpas, enquanto sua mão deslizava pelas costas de Squall. Vendo aquilo, Anix não se conteve e riu, e seu riso foi ouvido, e Squall e Seelan descobriram seu disfarce.
Anix se revelou, dissipando a camuflagem mágica que o tornava invisível. E encarou os dois e pediu explicações, sobre por que todos o enganavam daquele jeito. Squall se retirou, apenas dizendo a seu irmão: “Agora você já conhece a verdade! Então comporte-se como um elfo, não como um maricas!”. Anix encarou Seelan com fúria nos olhos, era o momento da verdade.
_ Por que você me enganou esse tempo todo? Por que você me fez de idiota na frente de todos? Por que ficou me dizendo que era um maricas, um veado? – perguntou Anix, cheio de rancor.
_ Mas eu nunca disse que era veado, maricas ou coisa parecida! E não fiz nada por maldade! Nunca tive a intenção de humilhar você! Só queria brincar! Desculpe se eu te magoei! E, sinto muito, mas infelizmente, nossa relação é impossível! Espero que você não fique muito triste com isso! – respondeu Seelan. Sua voz não tinha mais o tom afeminado de antes, era grave e ao mesmo tempo suave, preenchia todo o espaço à sua volta.
_ Ainda bem! Achei que você queria me namorar ou algo assim! Menos mal, mas ainda assim estou zangado com toda essa história! – respondeu Anix.
_ Ora, não fique assim! Quer que eu te leve para dar uma voltinha no forte, pelado, novamente? - sorriu Seelan.
_ Nem vem com graça! Mas, se você me levasse pra dar uma volta voando, eu bem que ia achar legal! – retrucou Anix.
_ Ótimo, então vamos! – gritou Seelan, agarrando a mão de Anix e levantando vôo com o auxílio de sua mágica. Assim, Anix ficou sabendo do segredo que Seelan escondia dele, e os dois voltaram a conviver em paz.
Na manhã seguinte, Lucano e seus amigos procuraram por Kuran, como haviam combinado antes. O druida explicou que falara com Allihanna em suas preces, e que a deusa dissera que Glórien estava muito triste com o uso que Lucano havia feito dos poderes concedidos por ela. E disse que Lucano deveria partir sem seus amigos para a jornada em que ele deveria provar o seu valor. Legolas ficou enfurecido, pois Lucano tinha apenas ajudado ele e seus amigos, todos elfos, enquanto que Zulil renegava o nome da deusa. Em uma explosão de fúria, o arqueiro começou a gritar palavras ofensivas para a deusa e, por um instante, o céu pareceu estremecer. Anix agarrou firme o pescoço de Legolas, e os dois por pouco não se enfrentaram. Felizmente, Glorin interferiu e impediu que os amigos brigassem entre si.
_ Parem já com isso garotos! Como Kuran disse, não se deve questionar as intenções dos deuses! Não sabemos o que eles pensam ou quais suas motivações, então, não adianta ficar discutindo! Lucano irá procurar o elfo que eu falei sem vocês, mas não irá sozinho! Ele irá com os soldados dele, que não representarão grande ajuda, já que são todos mais fracos e inexperientes! E, Anix, largue já o pescoço do Legolas, e tire essa pena da sua mão! Você está ainda mais aveadado com isso do que de costume! – disse o anão.
E ouviram e concordaram com as palavras de Glorin, embora não estivessem contentes com aquela situação. E Anix soltou Legolas e se desculpou por tê-lo agredido, e viu que em sua mão havia uma pequena pena branca presa. Anix retirou a pena da mão e a guardou, e ficou intrigado com aquilo. Mas, como estavam no jardim de Kuran, era possível que algum pássaro a tivesse deixado cair. Legolas pensou até que ela fazia parte do colar que ele e seus soldados tinham ganhado em Cold Valley, mas, contatou que seu colar estava intacto ao conferi-lo e não se importou com aquele fato.
E Lucano, foi e reuniu seus soldados, e juntaram equipamentos e selaram os cavalos e se prepararam para partir. E Glorin e todos os outros se reuniram com eles para se despedir e desejar boa sorte.
_ Ouçam com atenção, soldados! Vocês irão acompanhar Lucano numa missão! Deverão cumprir as ordens dele, como de costume, mas não deverão ajudá-lo nesta viagem! Se enfrentarem algum perigo, protejam apenas as suas vidas! Em hipótese alguma vocês poderão ajudar Lucano, mesmo que a vida dele dependa disso! Em outras palavras, vocês estão indo com ele apenas para fazer-lhe companhia, para adquirirem experiência e, caso ele não sobreviva, para carregar seu corpo de volta ao forte! Agora partam sem demora, e tenham boa sorte! – disse Glorin aos soldados, que ouviam atentamente as ordens do capitão. Embora não estivessem entendendo tudo o que estava acontecendo, pelo tom sério do anão, sabiam que não deveriam ignorar aquelas palavras.
_ Lucano! Leve isto com você! – disse o anão, entregando um pequeno broche de madeira em forma de folha de carvalho – Quando encontrar Laurelin Ramo de Carvalho, mostre isso a ele e diga Mão Gelada o enviou até ele! Assim você o encontrará mais facilmente!
_ Está bem, capitão! Obrigado! – Lucano agradeceu, prendendo o broche à roupa.
_ E leve isto também! São nossas últimas poções mágicas de cura! Vocês acabaram com todas em suas missões! Se Natanael não vier pra cá nos próximos dias, eu terei que dar um jeito de conseguir mais! – disse Seelan, entregando ao clérigo oito pequenos recipientes.
_ E Lembre-se! Você estará sendo testado por Glórien! Jamais desista e jamais deixe de confiar nela, pois, apesar de tudo, ela está olhando por você! – completou Kuran.
E depois foi a vez de Squall, Anix, Legolas e Nailo se despedirem do grande amigo e desejarem-lhe boa sorte. E Lucano montou em seu cavalo e ele e seus soldados deixaram o Forte Rodick. E quando eles já se tinham ido, Kuran suspirou e falou: “A provação que ele enfrentará será ainda maior do que ele imagina!”. E todos ficaram em silêncio.
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