abril 29, 2005

Capítulo 25 - A chama da justiça volta a brilhar

O sol finalmente raiou e os genasis entraram na mina gritando e dando chicotadas no ar. Todos acordaram, já com as energias repostas e se prepararam para o trabalho. Um a um os escravos iam saindo da cela, recebendo as ferramentas e se dirigindo aos postos de trabalho indicados pelos genasis. Entretanto, quando chegou a vez dos heróis saírem para trabalhar, foram barrados pelos soldados. Yczar também ficou na cela.
_ Vocês, os novatos da ilha, vão ficar dentro da cela junto com esse inútil até segundas ordens! – a notícia dada pelo capataz encheu de temor os bravos corações dos heróis. Todos temiam que algo ruim lhes fosse acontecer, ou que Teztal tivesse descoberto que eles haviam matado o soldado de cobre.
Todos se entreolhavam, confusos, quando perceberam a presença de Teztal dentro da mina, encarando-os.
_ Muito bem, vermes imprestáveis, vocês foram escolhidos para testemunharem a cerimônia do sacrifício. Venham comigo. – Como de costume, Teztal falava pausadamente, demonstrando muita calma e confiança. Entretanto, seu olhar frio e cruel, mostrava que toda aquela calma servia de manto para esconder um monstro sanguinário.
Guiados por uma comitiva de soldados de cobre, os heróis seguiram junto com Yczar para fora da caverna. Ao saírem, viram o pobre Elesin sendo carregado com desleixo pelos outros soldados. Qualquer dúvida restante foi desfeita neste momento. Aquele Morag, dia 03 do mês de Terraviva, seria o dia da morte de Elesin.
Teztal ia bem à frente do grupo, escoltado pelos genasis, subindo a quase interminável escadaria de seu zigurate. Ao chegarem no topo da pirâmide, depararam-se com uma vista maravilhosa da ilha. Era possível enxergar muitas léguas mar adentro, confirmando a previsão de que Teztal poderia eliminar um barco com seus poderes mesmo que este estivesse muito longe. A brisa fresca da manhã soprava nos rostos dos aventureiros enquanto eles admiravam a paisagem. Era possível ver o navio de Guncha e a praia com clareza. Também era possível visualizar o local por onde sairia o Liberdade, quando estivessem partindo de Ortenko. Enquanto apreciavam a vista, os soldados colocavam Elesin sobre um altar de pedra.
_ Vocês, limpem a oferenda, para que ele esteja puro para o sacrifício. – a voz tranqüila de Teztal destruiu a sensação de bem estar causada pela paisagem.
Enquanto Teztal se preparava, Yczar e os heróis limpavam o corpo frágil de Elesin com panos umedecidos entregues pelos soldados. Elesin os olhava com uma expressão de felicidade e gratidão. Estava feliz, pois seu sofrimento terminaria e ele poderia encontrar sua deusa querida. E grato porque, graças aos jovens heróis, ele não sentiria dor alguma. Todos sentiam uma grande tristeza por participarem daquele ato vil. Mas sabiam que não havia nada a se fazer com todos aqueles soldados em volta, e com o próprio Teztal presente. Entre os soldados, um rosto conhecido trazia um pouco de esperança para o grupo. Batloc estava presente, pronto para ajudar os heróis quando fosse necessário.
O altar de pedra tinha uma leve inclinação e terminava nas costas do enorme colosso de pedra construído por Teztal. Canaletas em suas laterais faziam com que as gotas d’água fossem conduzidas na direção da estátua. No final das canaletas havia uma abertura, nas costas da estátua, para receber todo o líquido escorrido.
Elesin foi limpo e teve suas mão e pés acorrentados ao altar. Teztal se aproximou do pobre homem, ficando entre Legolas e Yczar. Fitou cada uma dos presentes com um olhar gélido e, com sua voz calma, disse:
_ Todos vocês, prestem muita atenção ao que vai acontecer aqui neste momento, pois se vocês sobreviverem ao trabalho na mina, um dia vocês também terão a honra de serem sacrificados.
As palavras do genasi de platina causaram temor e revolta em todos, menos em Yczar. O paladino mais parecia um zumbi sem vontade própria e obedecia cegamente às ordens de Teztal.
O algoz elevou suas mão para o alto murmurando uma prece num idioma profano. Em coro os soldados em volta repetiam as mesmas palavras em voz baixa. O sol começou a brilhar ainda mais forte e um raio incandescente desceu do astro incidindo diretamente sobre Elesin. O corpo do pobre homem se contorceu num violento espasmo. As correntes foram esticadas ao máximo e começaram a ferir os pulsos e tornozelos do sacrificado. Uma luz cegante envolvia o corpo de Elesin que ia murchando pouco a pouco, até restar apenas a pele toda queimada, sobre o esqueleto do pobre homem. O sangue do sacrificado escorria pelas canaletas até dentro do corpo do colosso de pedra, alimentando a estátua para que esta pudesse se levantar algum dia. O raio luminoso desapareceu, restando apenas a carcaça ressecada de Elesin sobre o altar. O odor de carne queimada tomou conta do ambiente e o coro dos genasis cessou, dando lugar ao silêncio. Um silêncio que foi quebrado por um grito de fúria que ecoou até o horizonte distante.
_ Maaaldiiiitoooooo!!!!!!!! – Yczar, saia de seu transe após muito tempo, saltando sobre Teztal com o punho fechado brilhando como um raio. – Desgraçado, eu vou matá-lo! Vou punir seus atos em nome de Khalmyr!!!
O punho reluzente do paladino atingiu em cheio o rosto de Teztal. O poder do deus da justiça, evocado por Yczar, fez com que o genasi cuspisse sangue sobre o altar de pedra. Teztal foi ao chão quando Yczar saltou em suas costas golpeando-o. Anix sentiu que era o momento de eliminar o genasi e lançou um míssil mágico no seu rosto. Legolas também aproveitou a chance, sacando a adaga oculta na bota e cortando um pedaço do manto de Teztal.
Os soldados interviram rápido, tirando Yczar de cima de Teztal e surrando tanto o paladino quanto os heróis. Mesmo com Batloc ajudando disfarçadamente os heróis, Anix foi espancado até perder a consciência. Yczar, caído no chão quase desmaiado foi chutado covardemente por Teztal.
_ Seu maldito! Você será o próximo sacrificado, pode começar a rezar, desgraçado!
Aquele foi o único momento em que Teztal pedeu a postura. Sua voz, outrora calma e suave, agora era mais perfeita representação do ódio e da maldade sobre o mundo de Arton. Aos gritos o genasi ordenou que os soldados levassem os escravos de volta para a mina. Assustados, os genasis de cobre obedeceram sem pronunciar uma só palavra. Levaram os heróis até a cela e os atiram dentro da mesma debaixo de socos e pontapés. Anix, desmaiado, foi arremessado dentro da prisão, sem cuidado nenhum, indo de encontro ao chão, aumentando ainda mais suas contusões. Após alguns minutos de agonia e espera, os soldados trouxeram Yczar, arrastando seu corpo quase desfalecido. Jogaram-no na cela da mesma forma que fizeram com Anix. O paladino, levantou seu corpo todo ferido e se encostou na parede, a cabeça baixa como de costume, sem pronunciar uma palavra sequer. Parecia que tudo estava perdido. Yczar tinha voltado ao seu estado de torpor após um breve despertar. Os soldados jogaram baldes d’água na cela, justificando que o grupo precisava esfriar a cabeça. Provocaram Yczar, dizendo que tinham ordens de dobrar as surras dadas no paladino. Yczar permanecia como que em transe, com a cabeça baixa. Então, quando os soldados se foram, o paladino de Khalmyr levantou sua cabeça lentamente, encarando os heróis com olhos brilhantes e cheios de fúria. Moveu seus lábios todos sujos de terra e disse com voz firme:
_ Quando será a nossa fuga??? – Yczar estava de volta.

Capítulo 24 - Um corpo na mata

O amanhecer do Tirag chegou mais cedo do que todos esperavam. Mal haviam adormecido e Enola já os chamava, com o sol quase raiando no horizonte. O 2º dia do mês Terraviva começava com o céu limpo e claro. Os heróis se apressaram em sair e correram floresta adentro em direção a Shinaipa Turud. No meio do caminho encontraram Nailo que dormia sobre uma árvore. Novamente reunido, o grupo retornou rapidamente para o cemitério de navios. Legolas improvisou uma gaiola para o seu coelho dentro do navio. Os heróis guardaram seus equipamentos e retornaram para a mina no exato momento em que o sol raiava e os soldados chegavam para acordar os escravos.
Foi um dia longo e cansativo. Após uma noite cheia de combates e desafios, os heróis estavam exaustos. As poucas horas mal dormidas na morada da ninfa foram insuficientes para restaurar as forças do grupo. Todos desejavam que não tivessem que lutar naquele dia, pois não teriam condições para isso.
Após um penso dia, todos retornaram à cela e, exaustos, tinham em mente apenas um pensamento, dormir. Enquanto os heróis se acomodavam nos desconfortáveis colchões de palha da cela, os outros escravos desciam para o navio, afim de terminar o quanto antes as obras de reparo da nau. Já era noite, pouco antes da hora do “jantar” ser servido, quando uma agitação por parte dos genasis despertou a atenção de todos. Os vigias que guardavam o andar inferior e o andar superior da mina saíram de seus postos e ficaram na entrada da mina, olhando aflitos para o lado de fora. A distração dos soldados permitiu que algo exótico acontecesse na mina. O elevador que conduzia ao andar de baixo do complexo começou a se mover. Todos ficaram curiosos, pois o vigia do andar já não estava mais lá. Quem então estaria subindo para o andar principal? Então a resposta veio junto com a surpresa. Com seus olhos esbugalhados e trêmulos, Vernt, o mineiro louco, subiu ao andar principal e foi direto à cela dos aventureiros, ao encontro de Squall.
_ Eu quero a flecha! Você prometeu que ia me dar, eu quero dormir, me dê!!! – exigia o pequeno homem, todo agitado e eufórico.
_ Depois eu te entrego, agora volta lá pra baixo! Eu dou um jeito de descer lá e te entrego a flecha depois! – Squall tentava acalmar Vernt para que ele saísse dali antes que os soldados o notassem.
_ Não, que quero agora, vou falar pro guarda que você não quer me dar, eu vou gritar!!! – Vernt já estava quase gritando, quando Nailo abriu o túnel secreto para buscar a flecha que tinha em sua mochila. Entretanto, o egoísmo falou mais alto dentro do coração do ranger, fazendo com que ele tomasse uma nova atitude suja e covarde, que poderia por em risco a chance de fuga e a vida de todos naquele local. Quando ia entregar a flecha para Vernt, Nailo voltou atrás e decidiu guardar o objeto para si. O mineiro entrou em desespero, chacoalhando as grades da cela, falando alto e movendo seus olhos freneticamente. Vernt começou a gritar, mas antes que o som pudesse sair de sua boca, recebeu um soco no rosto de um dos heróis, interrompendo sua ação. Cuspindo sangue e dentes, o mineiro preparava-se para chamar os guardas, quando Squall o interrompeu dizendo que lhe entregaria a flecha.
O feiticeiro desceu no túnel, até o local onde tinha deixado seu equipamento. Apanhou a flecha e retornou para a cela rapidamente, entregando o projétil para Vernt.
Os olhos trêmulos do mineiro se fixaram no objeto em suas mão, brilhando e cheios de lágrimas. Era visível a felicidade do homem por conseguir apenas uma chance de ter uma única noite de sono, fato que permitia imaginar os horrores que ele sofria desde o dia em que encontrara com o Destruidor de Mundos.
De posse da flecha, Vernt retornou para o piso inferior da mina saltitante como uma lebre e gritando “Consegui, consegui!!!”, completamente eufórico. Os dois guardas, que vigiavam a entrada da mina, ouviram os gritos e foram averiguar o que estava acontecendo. Foram até a cela dos heróis e com os chicotes prontos para atacar, exigiram explicações sobre a gritaria.
_ Quem é que está gritando ai? Calem-se!!! – disse um dos vigias.
_ Fui eu que gritei! Consegui!!! Consegui!!! – respondeu Legolas, tentando enganar os guardas para que eles não percebessem nada.
_ E por que você está gritando que conseguiu, seu imprestável? Conseguiu o que pra ficar gritando? Acho bom você parar com isso, ou vai levar uma surra!
_ Mas eu consegui! Dois e dois são quatro, consegui!!! – Legolas arregalou os olhos para parecer insano e, enquanto mostrava os dedos para os soldados, fazia a soma, como se aquilo fosse a descoberta do século.
Os genasis, acostumados a ver homens enlouquecendo durante o penoso trabalho escravo na mina, pensaram que Legolas era apenas mais um que havia perdido a sanidade, e ignoraram a atitude do elfo. Mandaram que ele se calasse e dormisse, sem suspeitar da visita de Vernt ao andar.
Os guardas já estavam retornando para a entrada da caverna, quando Nailo chamou um deles, exigindo que fosse levado para o andar superior da mina. O soldado se negou a atender o pedido, obviamente, e ordenou que Nailo fosse dormir. Mais uma vez, o ranger agiu impulsivamente, pondo em risco a sobrevivência de todos os seus companheiros e dos homens escravizados por Teztal. Com a mão fechada, Nailo tentou golpear um dos soldados. Seu golpe não atingiu o alvo, ele recebeu uma chicotada e se calou. Felizmente os soldados pareciam estar preocupados demais com o que se passava lá fora e deixaram que o desacato cometido por Nailo passasse impune desta vez. Não fosse por isso, com certeza o alarme de rebelião seria dado, e os soldados entrariam na cela espancando todos os escravos como de costume. Se isso acontecesse, certamente eles descobririam os bonecos de palha sob os cobertores, que substituíam os trabalhadores que cuidavam dos reparos do navio. Túnel secreto seria descoberto, as chances de fuga iriam por água abaixo, e todos os escravos daquela cela, inclusive Nailo e seu grupo, seriam mortos apara servir de exemplo para os demais. Por sorte, ao menos desta vez, a estupidez do ranger não causou prejuízo àqueles que o cercavam. Entretanto, um dia essa sorte poderia acabar.
Com os soldados mais calmos, após o ato imprudente de Nailo, Anix aproveitou para sondar o que estava acontecendo. Perguntou aos guardas o que se passava lá fora, e recebeu a resposta, dada por Lagunf, de forma rude e apressada.
_ Encontraram um corpo na mata! Um dos nossos amigos! Agora calem-se e durmam, ou levarão uma surra!
Todos já sabiam do que se tratava, restava agora saber se o plano criado por Batloc funcionaria para enganar os homens de Teztal. Sem nada a fazer, a não ser orar aos deuses para que tudo desse certo, os heróis caíram no sono, derrotados pelo cansaço.
Já era madrugada quando Batloc assumiu seu posto na guarda da mina. O único genasi que servia às forças do bem acordou os heróis em sua cela.
_ Pessoal acordem! Tudo bem com vocês? O plano deu certo, eles acreditaram que o Sogmin foi morto em combate com um animal selvagem. Graças a Khalmyr tudo correu bem. Fiquem descansados e se precisarem de alguma coisa, me chamem!
As palavras do soldado eram tudo o que os aventureiros desejavam ouvir. Agora tinham certeza o plano de fuga continuava em segredo. Legolas perguntou a Batloc quando Elesin seria sacrificado por Teztal. Em um ou dois dias, foi a resposta do genasi. Legolas se levantou e foi até a gruta onde os operários trabalhavam no navio. Alimentou o seu coelho e pediu aos trabalhadores que voltassem à mina para que seus amigos pudessem sair. Desceu do navio levando sua adaga escondida dentro de sua bota, prevendo os acontecimentos que estavam por vir. Enquanto os escravos retornavam pelo túnel, viu um deles pintando com betume o nome “Liberdade” no casco do navio. Lembrando emocionado daquele que os conduzira em segurança até a ilha de Ortenko, sugeriu que o nome fosse trocado para Lázarus, o navio afundado do capitão Tyn.
_ Mas senhor Legolas, dá azar batizar um navio com o nome de outro que já afundou!
_ Tudo bem! Então eu sugiro outro nome. Termine de escrever “Liberdade”, mas acrescente o nome “Arthur Tyn” na popa do navio, como homenagem ao capitão que me trouxe até aqui. Com lágrimas nos olhos, Legolas retornou para a cela. O pintor acatou a sugestão do elfo sem objeções, pois sabia que sem Arthur Tym, Legolas e os outros jamais teriam chegado na ilha para libertá-lo e aos seus amigos. O homem desceu do navio e retornou também para a mina.
Os operários do navio entraram na cela e cederam seu lugar para os heróis saírem para o cemitério dos navios. Anix e Sairf abriram seus grimórios e começaram a preparar as suas magias, assim, quando o sol nascesse, em poucas horas, estariam prontos para enfrentar qualquer desafio que surgisse. Squall se encostou na parede do túnel e entrou em meditação profunda. Quinze minutos após, sua mente e seu corpo estavam novamente prontos para lançar magias. Enquanto isso, Lucano orava a Glórien, agradecendo por terem superado os desafios anteriores, e pedindo à deusa dos elfos que lhe concedesse seu poder sagrado.
Depois de cerca de uma hora, todos retornaram para a cela. Lucano e Loand foram os últimos a retornar. O bom clérigo usou os poderes dados pela sua deusa para reparar a espada do paladino. Foi necessário o uso de três feitiços para reparar a lâmina quebrada da bastarda, mas ao final do processo, a espada de Loand estava inteira novamente, pronta para enfrentar os desafios que estavam por vir.
Os heróis voltaram a dormir durante as poucas horas que faltavam para o nascer do sol. Um novo grupo de mineiros descansado desceu pelo túnel para continuar os reparos no navio. Os escravos trabalhavam constantemente, revezando-se em turnos, para que as obras estivessem prontas antes da próxima contagem de escravos, o dia escolhido para a fuga.

abril 26, 2005

Capítulo 23 - Um breve repouso

Vários minutos depois, já podiam avistar a gruta em que Enola e Silfo viviam. Lá eles tiveram seus ferimentos curados pela ninfa e receberam ervas e raízes para comer.
_ Enola, você tem amizade com alguma criatura marinha? – indagou Sairf, enquanto Nailo se retirava do local sem avisar seus amigos.
_ Sim, existe uma baleia que é minha amiga. Por que?
_ Você pode pedir a ela para entregar uma carta a uma pessoa no fundo do mar para mim? É uma sereia que vive numa tribo no fundo do mar. Seu nome é Narse.
_ Escreva a tal carta e eu tentarei entrar em contato com a minha amiga assim que possível jovem Sairf.
Sairf escreveu uma declaração de amor para a pequena sereia e a entregou a Enola para que ela pedisse a baleia que a levasse para sua amada em Atlântida, o nome que Sairf tinha dado ao vilarejo dos tritões quando conheceu Narse.
Enquanto isso, Squall e Anix conversavam com Silfo, o sátiro amigo de Enola. O feiticeiro queria a todo custo a flauta mágica que Silfo usara para adormecer Legolas dias atrás. Anix traduzia o diálogo entre os dois, já que nem Squall falava o idioma silvestre, nem Silfo conhecia a língua dos humanos. Depois de muita negociação, o feiticeiro mostrou todo o conteúdo de sua mochila para Silfo, que se interessou pela lanterna coberta do herói. Desconfiado, Squall pediu para testar o funcionamento da flauta antes de fazer a troca. Legolas foi a cobaia da experiência. Squall tocou a flauta horrivelmente, demonstrando que não tinha nenhuma intimidade com a música. Todos taparam seus ouvidos, menos Legolas, que caiu num sono profundo, enquanto ouvia o som da flauta. Todo sorridente, Squall se apressou em trocar o objeto com o sátiro. Entregou sua lanterna e ficou com a flauta. Quando a troca havia sido efetuada, Legolas levantou do chão dando gargalhadas, para surpresa de todos. Ele havia enganado Squall, que agora possuía apenas uma flauta comum.
Squall e Legolas trocaram flechas com o sátiro, mas logo o elfo percebeu que as flechas do sátiro não diferiam em nada das suas. Eram apenas mais rústicas, mas tinham a mesma qualidade das suas flechas de ponta de metal.
Sairf, Lucano e Loand foram dormir, pois já não agüentavam mais o cansaço daquela noite cheia de batalhas. Enola prometeu acordá-los antes que o sol nascesse, para que pudessem retornar a tempo para a mina. Lucano prometeu ao seu amigo paladino tentar consertar sua preciosa espada com o auxílio de sua magia divina. Loand ficou esperançoso e agradeceu o amigo.
Legolas e Squall saíram para procurar Nailo, enquanto Anix continuou a conversar com Enola. A ninfa lhe contou sobre seu passado obscuro. Ela não tinha nenhuma lembrança ou informação sobre quem foram seus pais. Só o que sabia é que Silfo a havia encontrado abandonada na mata, dentro de um pequeno cesto de vime. À sua volta, um pequeno jardim de flores se formou. Silfo logo se encantou com a criança e cuidou dela como se fosse sua própria filha. O sátiro lhe ensinou a falar a linguagem silvestre, a andar, como encontrar alimento e muitas outras coisas. Enola contou que, quando criança, ela sempre conversava com Allihanna, a deusa da natureza, que sempre aparecia sob a forma de algum animal. A deusa lhe ensinou a falar a língua dos humanos e a usar seus poderes mágicos. Contou sobre a montanha Shinaipa Turud e sobre o prêmio que o deus sol havia colocado no seu topo. Contou sobre a tribo bárbara que vivia na ilha e algumas coisas sobre o mundo além do mar, o continente. Segundo a deusa, Enola teria um importante destino a cumprir no continente, quando chegasse o momento certo. Enola não sabia qual era esse destino nem se preocupava em saber, ela apenas confiava na palavra de sua deusa. Então, um dia, Enola passou a ter visões sobre o futuro. Ela não tinha controle sobre esse poder. Segundo ela, a própria deusa tomava seu corpo para lhe revelar detalhes sobre o que estava para acontecer. A primeira visão que ela teve foi a quatro pessoas num mundo brilhante, cercado de riquezas, recebendo um grande presente. A segunda visão foi a de um homem com o corpo prateado subindo no alto de Shinaipa Turud e espalhando terror por toda a ilha. Depois foi a imagem de quatro figuras brilhantes enfurecidas, que enterravam a desgraça na terra. A outra visão foi a de um homem de vontade inabalável desafiando as trevas sem fim. Então Enola viu a chegada de sete pessoas no meio das chamas e das águas, e viu essas pessoas pisando sobre um corpo prateado. A última visão que teve foi a de um homem pequenino segurando uma enorme chave na qual se via a incrição “liberdade”. Atrás do pequenino ela viu raiva e fúria surgindo do interior da terra. Por último, ela viu, por trás da fúria que despertava, a sombra de um homem. Só era possível ver, com clareza, os lábios do homem se movendo calmamente e dizendo de forma pausada “vou matá-los”. Enquanto falava, o homem apontava para os sete heróis, caídos no chão. Atrás deste homem só havia escuridão.
Enola disse também a Anix que o local onde Silfo a encontrou no passado, ficava ao lado da caverna, em volta da pequena lagoa, aonde os animais vinham para saciar sua sede e para conversar com a ninfa.
Anix terminou a conversa e saiu. Pediu a Silfo que lhe mostrasse o tipo de madeira que ele usava para fazer suas flechas, pois queria fazer algumas para si. O sátiro mostrou uma árvore no meio da selva e pediu ao elfo que usasse apenas os galhos que estivessem caídos no chão. Anix se sentou na entrada da gruta e pôs-se a trabalhar nas flechas, enquanto Squall entrava na caverna para repousar junto com seus companheiros.
Enquanto isso, Nailo, que havia saído sorrateiramente, seguiu até a pequena lagoa perto da gruta. Lá ele rastreou o chão em busca de pegadas que lhe revelassem quais os tipos de criaturas freqüentavam aquela fonte de água. Ao encontrar os rastros de um coelho, o ranger começou a segui-los, e foi em direção à floresta.
Nailo seguiu os rastros por vários metros em um solo úmido e argiloso. Guardou um pouco da terra argilosa na mochila e continuou rastreando até uma pequena colina. Subiu o pequeno morro e viu, na sua encosta, um buraco, parecido com uma toca. Usou seus apurados olhos élficos para calcular a profundidade do buraco, terminou de subir o morro e ordenou que seu lobo cavasse no local onde supostamente estaria o fundo da toca. O animal cavou até uma profundidade de cerca de trinta centímetros, quando o chão cedeu sob seus pés. No fundo do buraco, em meio a terra e pedras, havia seis pequenos coelhos, todos filhotes ainda. O casal adulto, correra para fora da toca quando a terra cedeu e olhavam, assustados, para o ranger a distância.
Nailo ficou com pena dos pobres animais e tentou acalmá-los. Após alguns instantes, o casal de coelhos retornou para a toca e começou a cavar para reconstruir o abrigo. O ranger removeu a terra que havia derrubado na toca, colocou uma fruta dentro do buraco para que os coelhos se a comessem. Então ele cobriu o buraco aberto pelo lobo com galhos e folhas, para esconder os animais de possíveis ameaças. Nailo continuou pela floresta, na direção que estava seguindo, por mais uns cinqüenta metros, até que ouviu um som se aproximando por trás. Nailo rapidamente subiu numa árvore e aguardou, pronto para atacar.
Legolas, que havia saído para procurar pelo ranger, subia a pequena colina onde os coelhos viviam. Momentos atrás, o elfo tinha acendido uma tocha e saído pela floresta, em busca do companheiro. Legolas passou ao lado da lagoa e seguiu em frente, coincidentemente o mesmo caminho tomado por Nailo. Ele subiu o morro, sem se importar com a toca dos coelhos na encosta da colina. Já no alto da elevação, pisou nas folhas e galhos que cobriam o buraco cavado pelo lobo e quase torceu o pé. O gemido emitido pelo arqueiro fez com que Nailo o reconhecesse. O ranger começou a retornar até ter contato visual com Legolas. Então desviou dele e retornou para a gruta de Enola. Lá o ranger recolheu suas coisas e foi para a floresta com seu lobo, onde passou o resto da noite.
Vendo os coelhos assustados, Legolas retirou a terra e os galhos que havia derrubado na toca. Colocou mais uma fruta no lugar, para compensar o estrago feito e apagou sua tocha. Sem a luz forte para assustá-los, os coelhos retornaram para a casa e se acalmaram. Legolas cobriu novamente o buraco com folhas e levou um dos filhotes consigo.
Ao retornar, encontrou Anix absorto em suas flechas e foi conversar com ele. Enquanto falavam, Legolas improvisou uma gaiola com seu saco de dormir e alguns gravetos e colocou o filhote lá dentro. Anix pediu a Silfo algo para dar de comer ao animal e recebeu duas batatas do sátiro. Guardando uma das raízes consigo, o mago alimentou o pequeno animal e todos foram dormir.

abril 25, 2005

Capítulo 22 - Dois gatos malhados

Antes de entrar na selva, Nailo retornou à mina para conversar com Batloc. Na cela, o genasi o alertou para que os heróis secassem as roupas para que os outros soldados não desconfiassem de nada. Nailo pediu a Batloc para que ele conseguisse roupas novas para ele e seus amigos e pediu ao soldado que lhe conseguisse um balde para substituir o recipiente danificado do relógio d’água. Batloc prometeu empenho para conseguir as coisas para o ranger e os dois se despediram.
Já na mata, Nailo e seu lobo iam à frente dos outros, guiando-os por uma trilha praticamente imperceptível para aqueles que não tivessem intimidade com a floresta. A luz da lua penetrava entre as copas das árvores, fornecendo iluminação suficiente para que o grupo pudesse ao menos enxergar por onde pisavam.
Subitamente, o lobo parou, farejando o ar e o chão. O seu rosnado indicava perigo logo à frente. Sairf e Squall fizeram contato mental com seus familiares, ordenando-os para verificar as redondezas. Os dois pássaros sobrevoaram as copas das árvores em círculo e então mergulharam em num vôo rasante, logo à frente do grupo, sumindo entre as árvores. Nailo deu ordem de ataque ao seu companheiro animal, que correu em disparada na direção das aves. Os aventureiros foram logo atrás do animal, com as armas prontas para atacar. Legolas se deslocava em saltos curtos entre uma árvore e outra, sempre se mantendo protegido e oculto. Lucano, seguido por Sairf, saiu da trilha e deu a volta pela floresta, para cercar e surpreender por trás aquilo que o lobo havia farejado.
Após alguns metros de corrida desesperada, todos chegaram simultaneamente a uma clareira. O lobo parado, em posição de ataque, rosnava ferozmente para dois grandes felinos cerca de nove metros à frente do grupo. Sairf e Lucano chegaram por trás das feras, parando a uma distância de três metros das mesmas. A pele alaranjada coberta de manchas negras refletia a luz lunar no meio da clareira. Posicionaram seus corpos esguios de forma ameaçadora e, num salto, avançaram em grande velocidade até o grupo principal.
Os dois guepardos saltaram em direção ao lobo, tentando atingi-lo no pescoço. O alvo conseguiu se esquivar do primeiro ataque, mas não do segundo. Nailo se encheu de fúria ao ver o sangue de seu amigo de infância nas mandíbulas do guepardo e atacou sem piedade. A espada longa do ranger atingiu o tórax de um dos animais, abrindo uma grande ferida.
Sairf veio por trás, com seu bordão, mas não conseguiu surpreender os guepardos e não conseguiu atingir nem mesmo o que já estava ferido. Inconformado, o mago aquático arrependeu-se de se aventurar na selva sem poder contar com seu poder mágico.
Anix, também não podia contar com suas magias para lutar, e teve que apelar para o seu arco. Conhecendo suas limitações, o elfo não quis arriscar e disparou a flecha á queima roupa numa das feras, arrancando-lhe a orelha direita. Porém, o mago se aproximou demais dos guepardos e, antes de poder atacar, foi severamente ferido pelo animal atingido por Nailo. As presas dilaceraram o braço de Anix, atingindo uma artéria e fazendo-o perder muito sangue. Não fosse por esse ferimento, o seu ataque poderia ter sido mais preciso e, ao invés de uma orelha, poderia ter atingido um ponto vital.
Com os animais cercados por todos os lados, Lucano estava impossibilitado de realizar qualquer ataque. O clérigo então se posicionou próximo aos combatentes, aguardando o momento certo de agir, seja lutando ou auxiliando seus amigos feridos. Com espada e escudo nas mãos, o jovem sacerdote fez uma prece à Glórien, pedindo por sua proteção.
Loand correu para ajudar seus companheiros. Sem poder usar sua espada, quebrada na luta anterior com o genasi, o paladino se via forçado a usar outras armas menos eficientes. O jovem seguidor do deus da justiça avançou com sua besta, disparando-a contra a fera atingida anteriormente por Anix. Loand conseguiu, com o virote, decepar a outra orelha do guepardo, fincando-a no chão. A fera soltou um urro de dor que ecoou por toda a floresta.
Bem atrás dos demais se encontrava Legolas. Distante do combate, o elfo precisava encontrar uma forma de atacar sem ferir seus companheiros que estavam bloqueando sua visão. O arqueiro olhou ao redor, nas árvores, e viu um galho logo acima de sua cabeça. Num salto ele alcançou o galho com as mãos e, balançando as pernas, tomou impulso para dar uma cambalhota e apoiar o ventre sobre o galho. Deu mais um impulso com os braços e, em uma fração de segundo, ficou em pé, com as costas apoiadas no tronco da árvore. Preparou uma flecha e a disparou. O projétil passou sobre a cabeça de Nailo, indo de encontro ao corpo do guepardo que enfrentava o ranger.
Enquanto a fera ainda se contorcia de dor, Squall já se deslocava em alta velocidade, contornando o flanco esquerdo de Nailo, com sua espada nas mãos. Gritando enfurecido, o feiticeiro lançou seu corpo contra o animal, cravando a lâmina da espada na altura do coração. O animal recuou com a força do golpe e caiu diante de todos, já sem vida.
Os familiares dos conjuradores atacaram conjuntamente a fera remanescente. A coruja de Sairf e o falcão de Anix conseguiram causar pequenos ferimentos no corpo o animal, ao contrário do lobo de Nailo e do falcão de Squall. Desesperado, e sem seu companheiro, o guepardo tenta fugir para a floresta. Ao dar as costas para os heróis, o animal foi duramente atacado por aqueles que estavam mais próximos. A fera conseguiu se esquivar habilmente de todos os ataques e correu até a borda da selva. Mas para sua infelicidade, Nailo saiu em seu encalço. A espada do ranger alcançou as costas do pobre felino antes que ele pudesse se esconder entre as árvores, ceifando sua vida.
Os heróis recolheram suas armas principais e pararam alguns minutos para descansar. Anix e Legolas sacaram suas adagas e começaram a retirar as peles dos animais. O mago ficou com os pedaços maiores, enquanto o arqueiro guardou consigo apenas a pele que envolvia o pescoço de um dos guepardos. Nailo e Lucano dividiram entre si as presas dos animais, arrancadas com muito esforço pelos dois. Fizeram uma rápida análise do lugar procurando as razões para aqueles animais estarem ali. Nailo encontrou pegadas de pequenos roedores seguindo na direção da trilha e as seguiu. O grupo já se levantava para seguir viagem, enquanto Anix abria o estômago de um dos animais. Ao ver que não havia nada ali, o elfo concluiu que ele e seus amigos seriam a refeição dos felinos. Sairf olhou nas genitálias dos animais e ao ver que se tratava de dois machos, concluiu que a clareira não era nenhum tipo de toca ou ninho. Os dois magos se levantaram e seguiram seus companheiros pela mata.

abril 22, 2005

Capítulo 21 - Descobertos

Os momentos finais da jornada aquática dos heróis foram calmos e sem distúrbios. Entretanto, uma terrível surpresa os aguardava em terra firme. Já dentro da gruta, os aventureiros suspenderam a balestra para dentro do navio com o auxílio de cordas. Nailo encheu um barril com água e alguns pequenos peixes e nele colocou os caranguejos que haviam capturado para que sobrevivessem até o momento de se transformarem em comida. Foi quando todos estavam próximos da entrada do túnel que conduzia até a cela que o pior temor dos heróis se tornou real.
Encontrei vocês afinal! Estavam planejando uma fuga, mas agora eu vou acabar com todos vocês, seus imprestáveis! – uma voz forte e ameaçadora vinha de dentro do túnel, ao mesmo tempo que o pobre Roryn era arremessado para dentro da gruta por alguém ou alguma coisa oculta na escuridão do corredor.
O medo tomou conta de todos e, neste momento, Anix se arrependeu de ter permitido que seus amigos contassem todo o plano de fuga para o anão. Com certeza Guiltespin os havia traído e agora o próprio Teztal estava ali para liquidá-los.
Entretanto, ao invés do temível genasi de platina, quem surgiu na entrada do corredor foi apenas um dos genasis de cobre que espancavam os escravos. Armado de seu mangual, o soldado disse ter surpreendido Roryn e os outros escravos enquanto eles fechavam a entrada do túnel secreto. Com outro soldado de guarda na entrada da cela, o genasi prometia matar os heróis e entragá-los a Teztal. Segundo ele, o soberano de Ortenko lhe daria uma grande recompensa por isso. Após trocas de insultos, os heróis se lançaram naquela que seria a mais terrível luta enfrentada por eles até aquele momento.
Sairf e Lucano usaram seus feitiços remanescentes para invocar um cão dos planos superiores e um escorpião gigante. As criaturas surgiram logo atrás do genasi, bloqueando seu caminho caso ele desejasse fugir do combate. No entanto, os ataques das criaturas eram defendidos com grande habilidade pelo soldado de cobre que, num impulso violento, aproximou-se de Anix e desferiu um forte golpe na cabeça do mago. Severamente ferido, Anix saiu cambaleante, afastando-se o quanto podia de seu inimigo e usando contra ele suas orbes ácidas restantes.
Todos perceberam a imensa força do inimigo, mas não tinham outra opção senão lutar por sua sobrevivência.
Nailo ordenou ao seu companheiro animal que ficasse em guarda e se o genasi se aproximasse que o atacasse sem piedade. O ranger entrou em combate corporal com o soldado e também foi gravemente ferido, tendo que se afastar para recuperar o fôlego.
Loand e Legolas, num movimento conjunto, circundaram o inimigo e o flanquearam levando uma pequena vantagem sobre o mesmo. Legolas, soltando seu arco sobre seus pés, passou a atacar com sua espada pelas costas do genasi, enquanto o paladino o atacava pela frente.
Loand conseguiu desferir um golpe devastador no soldado, deixando-o severamente ferido e acabando com seu ar de superioridade. O contra-ataque veio também de forma assustadora. Com meio abdome aberto pela espada do paladino, o soldado de cobre, segurando seu mangual com as duas mão, lançou a bola de aço com extrema violência na cabeça de Loand. O servo de Khalmyr caiu sob os pé do inimigo completamente inconsciente. Nailo correu para ajudar seu amigo enquanto o genasi se colocava em posição defensiva.
Todos os ataques dos heróis eram defendidos, com extrema habilidade, pelo genasi. Apenas o lobo de Nailo conseguiu atingi-lo com suas presas quando o ranger tentou, em vão, atirar o veneno coletado da serpente na floresta nos ferimentos do genasi para envenená-lo.
Sentindo que ataques com flechas não surtiam efeito, Sairf, Squall e Anix passaram a usar seus últimos truques para ferir o genasi com orbes ácidas e raios congelantes. Mas o inimigo era muito astuto e se desviava dos ataques que, invariavelmente, atingiam Legolas, drenando a vida do elfo aos poucos.
Quando Sairf congelou a parede rochosa ao lado do arqueiro, quase o atingindo, Legolas tomou distância, jogou seu arco para o alto com os pés, o apanhou em pleno ar e cravou uma flecha nas costas do genasi, deixando-o furioso.
Loand, já recuperado graças à ajuda de Nailo, levantou-se num rompante de fúria e evocando o nome de Khalmyr, golpeou o genasi com toda a força de seu corpo e o poder dado pelo seu deus para combater o mal. Bastou o genasi inclinar o corpo levemente para trás para arruinar a intenção de Loand. O paladino atingiu a rocha sólida da caverna com a sua espada, partindo-a em duas partes. Da poderosa espada bastarda passada de geração em geração, restava apenas uma pequena e insignificante adaga bastarda nas mãos de Loand. O genasi ria da desgraça do servo dos heróis e os chamava de patéticos. Irritados com o desrespeito do inimigo, Anix e Lucano prepararam seus últimos feitiços. Anix, que recebera os primeiros socorros do colega clérigo, lançou sua última magia sobre seu próprio arco, encantando-o de forma que não errasse o próximo ataque. Lucano, de forma semelhante, encantou o arco de Legolas com uma magia um pouco menos poderosa que a do mago.
Mas o genasi não se renderia tão facilmente. Voltou-se para Legolas dizendo “você não terá tempo de usar este arco, elfo” e desferiu um golpe que paralisou a todos. O crânio de Legolas foi aberto com o impacto do golpe. O arqueiro caiu pálido, vertendo grande quantidade de sangue no chão, seu peito não se movia. Legolas estava morto.
Nailo fez um sinal para Squall, que correu até o ranger, desembainhando a cimitarra do mesmo para tentar acertar o inimigo. Um novo bloqueio, com o cabo do mangual, parou a lâmina do feiticeiro. Nailo baixou a cabeça, temendo ser aquele o fim de todos e viu o corpo de Legolas dando os últimos suspiros no chão.
_Legolas ainda está vivo!!! – gritou eufórico o ranger. Lucano correu até o amigo e usou sua última prece para impedir sua morte. Com a hemorragia interrompida, o clérigo ministrou uma das poções de cura dadas por Enola para trazer o arqueiro de volta ao mundo dos vivos.
Legolas despertou a tempo de ver Anix disparar a flecha que havia encantado. O projétil percorreu o túnel como que em câmera lenta, diante dos olhares dos heróis. A flecha cortou o ar, iluminada pela fraca luz lunar que penetrava na gruta e atingiu seu alvo, exatamente no coração.
_ Malditos!!! Não posso acreditar que me venceram! Ao menos levarei alguém comigo para o mundo dos mortos, nem que seja este animal! – enquanto caia, já quase sem vida, o genasi desferiu um golpe na cabeça do lobo de Nailo. Felizmente, o ataque já não tinha o mesmo impacto de antes e apenas causou algumas escoriações no animal.
Legolas se levantou, ainda tonto, para desferir um pontapé no genasi e se livrar de toda a raiva que sentia naquele momento. Enquanto era chutado, o soldado murmurou suas últimas palavras, dizendo que seu companheiro se encarregaria de exterminá-los. Um calafrio percorreu suas espinhas. Ainda havia pelo menos um inimigo esperando por eles dentro da mina. Com muita sorte seria somente um, mas era mais provável que o soldado já tivesse dado o alarme de rebelião.
Nailo e Sairf subiram pelo túnel lentamente. O ranger colocou a cabeça para fora do fosso, olhando dentro da cela, e não teve tempo de esboçar qualquer reação quando viu um enorme machado se deslocando em direção ao seu pescoço. Para sua surpresa, o machado interrompeu sua trajetória. O outro genasi era Batloc.
Batloc aguardava que o soldado retornasse para pegá-lo de surpresa e eliminá-lo com as próprias mãos. Por uma infelicidade, o soldado havia descoberto o túnel secreto, mas, para sorte de todos, o soldado a quem ele pedira ajuda era Batloc. O paladino genasi ficou aguardando na cela, orando a Khalmyr para que seus amigos conseguissem sobreviver à fúria do genasi. Felizmente, Khalmyr ouviu suas preces e os dados de Nimb rolaram a favor dos prisioneiros.
Nailo entregou a Batloc o vidro com os pedaços do cogumelo e pediu que ele os entregasse a Elesin. Pediu também que o genasi dissesse ao druida moribundo que escolhesse Yczar e os heróis como testemunhas do sacrifício. Yczar disse ao ranger para que escondessem o corpo do soldado na floresta para que os demais genasis pensassem que ele tinha sido atacado por um animal selvagem.
Os dois retornaram para a gruta e transmitiram as instruções do genasi aos demais. Os heróis escalaram o paredão que dava acesso à floresta, arrastaram o corpo do genasi derrotado para cima e o carregaram mata adentro. Nailo usou o mangual do soldado para deixar marcas de luta nas árvores e no chão. Quebrou alguns galhos e ordenou que seu lobo mordesse o soldado e deixasse marcas de pegadas por todo o local, simulando uma luta entre o genasi e um animal. Fincou uma moita no local para deixá-la como sinal para Batloc encontrar o corpo, e cruzou os dedos para que o plano do genasi funcionasse. Após isso, começaram a debater qual seria a próxima ação do grupo. Nailo queria ir até a cabana de Enola e estava disposto a fazê-lo sozinho, se necessário. Mas seus amigos não permitiram que ele se arriscasse sozinho na selva à noite e ferido, assim todos foram juntos encontrar a dama da floresta.

Capítulo 20 - A pequena sereia

O retorno seguiu tranqüilo, para alívio de todos, até o momento em que os aventureiros se aproximaram do navio em que haviam deixado parte do tesouro encontrado.
Foram surpreendidos pela passagem de uma pequena criatura de aspecto humanóide, composta exclusivamente de água, bem diante de seus olhos. Todos rapidamente assumiram posição de combate, acreditando que seriam atacados pelo ser. Mas, para surpresa ainda maior do grupo, a pequena criatura se aproximou sem demonstrar intenções hostis, como uma criança curiosa.
Com a proximidade, Sairf viu que se tratava de um pequeno elemental da água. O elementarista da água apressou-se em se comunicar com o elemental, tentando evitar um novo combate.
Sairf disse à criatura que seus amigos não eram maus e não tinham intenção de machucar o elemental. De fato, a criatura agia como uma criança, brincando e rindo, enquanto conversava com o mago no seu idioma racial. A pequena Lada, como se apresentou a elemental, mostrou-se amistosa, para alívio de todos.
Então o grupo ouviu um som distante, parecido com o canto de um golfinho, que se tornava cada vez mais próximo do grupo. Sairf, o único que entendia o idioma aquan, reconheceu uma voz feminina suave e doce chamando por Lada. Assustado, o mago perguntou à elemental quem estava vindo e pediu que esta dissesse que os heróis não eram hostis.
Do mar aberto, uma silhueta foi se tornando cada vez mais nítida aos olhos dos jovens. Finalmente eles puderam distinguir a figura de uma pequena seria de longos cabelos azuis. Ela se aproximou chamando por Lada para que ambas retornassem para a vila.
A notícia de que havia uma vila sob o mar naquela região deixou todos espantados. A pequena sereia, na verdade uma criança tritão segundo Sairf, olhava admirada para aqueles estranhos seres do “mundo seco”. Narse, como era chamada pela elemental, examinava cuidadosamente as pernas de Saif. Ela apalpou e apertou o corpo do mago, tocando inclusive nas genitálias do arcano, com a inocência de uma criança curiosa diante de um brinquedo novo. Ao ver isso, os outros aventureiros quiseram se aproveitar da inocência da sereia e diziam a Sairf para pedir beijos, mechas de cabelo, escamas, e para tocar no corpo da pequenina. Sairf lia as mensagens escritas na areia por seus amigos e as transmitia para Narse tomando o cuidado para que a infante não tocasse nem fosse tocada em partes indevidas, preservando sua pureza. Assim, os “pés secos” fizeram contato corporal com a sereia. Ensinaram-lhe cumprimentos usados no reinado, como apertos de mãos e beijos no rosto. Nailo trocou uma mecha do seu cabelo com uma mecha do cabelo de Narse, mas quando a pequena quis trocar escamas, o ranger se negou a retirar uma de suas unhas para dar à criança, alegando que ele sentiria dor se o fizesse.
Sairf traduzia tudo o que os heróis escreviam na areia para Narse e tudo o que a pequena dizia para seus amigos, sempre tomando o cuidado de não ofendê-la ou de abusar dela. Então Anix e Legolas tiveram quase simultaneamente a idéia de pedir para dar um beijo na boca de Narse, justificando como um cumprimento especial do “mundo seco”. O mago da água sorriu e transmitiu a mensagem para a menina, mas disse que quem ensinaria a saudação seria ele. Assim, enquanto todos se descabelavam, morrendo de inveja e raiva, Sairf deu um longo e molhado beijo na pequena sereia. Narse ficou ruborizada. Disse que ensinaria aquela saudação a seu pai e a seus amigos. Sairf, ainda bestificado, disse à pequena que aquele cumprimento só era usado na superfície e que não agradaria aos tritãos. Na verdade o mago sabia que teria problemas se Trohan, o pai de Narse soubesse do que acontecera ali. A menina já havia dito que seu pai não gostava das criaturas da superfície, quando pediram para conhecer a sua aldeia. Sairf ficava com medo de imaginar o que o tritão faria com se descobrisse que ele havia flertado com sua filha, que além de tudo era ainda uma inocente criança. Narse deu outro beijo em Sairf e se despediu, retornando para o mar aberto. Sairf, já apaixonado, passou ao lado de Legolas que lhe apontou os dedos, prometendo enfiá-los nas guelras do mago e testando o efeito em si próprio para saber se aquilo causaria dor ao arcano. O sorriso sarcástico no rosto do elfo mostrou que sim.
Dentro do navio, Sairf pegou o seu manto, no qual estavam embrulhadas as moedas e todos partiram de volta à gruta do cemitério dos navios.

Capítulo 19 - Pânico na água, o retorno das caveiras

Mais alguns minutos de caminhada no fundo do mar, após se refazerem do último desafio, os heróis avistaram o navio de Guncha ancorado no cais. A nau flutuava sobre um solo rochoso. Por todo o solo haviam pequenos caranguejos circulando, peixes nadavam em volta da corrente da âncora que era habitada por diversos mariscos. Os aventureiros fizeram o reconhecimento do local e ficaram assustados ao ver ao longe, no mar profundo, uma imensa mancha negra de aparência ameaçadora. Anix foi em direção à mancha, aproximando-se lentamente, até sumir completamente. Todos ficaram espantados com o fato e elegeram dois batedores para ver o que tinha acontecido com o mago. Legolas e Nailo se aproximaram lentamente do estranho objeto, armas em mãos prontas para qualquer surpresa. Quando, no limite da visão, perceberam que se tratava de um navio afundado, aliviados, fizeram sinais para que os seus companheiros lhes acompanhassem.
Quando estavam bem próximos da embarcação naufragada, puderam ler claramente o nome Lázarus entalhado no casco. Sem dúvida alguma, aquele era o navio em que haviam chegado até a ilha. Dentro da nau, já total mente destroçada, Anix revistava o que havia sobrado dos corpos dos marinheiros com quem havia viajado. O navio já não tinha mais divisões claras de onde ficava a cabine do capitão, a cozinha ou o porão. Em meio aos corpos boiando, espedaçados e carbonizados, o elfo recolheu o que encontrou de útil, as adagas dos marujos. Nada mais podia ser aproveitado ali, as roupas estavam apodrecidas pela ação da água, e o estoque de comida não se encontrava em melhor situação.
Squall e Nailo entraram para ajudar o conjurador na busca por algo que pudesse ter serventia para eles. Enquanto o feiticeiro ajudava Anix, o ranger encontrou, em meio aos escombros no chão, o que havia sobrado da clepsidra do navio. Nailo guardou o que ainda podia ser aproveitado do relógio de água em sua mochila e foi ao encontro de seus amigos no convés no navio.
Do lado de fora, Legolas fazia cálculos e circundava a carcaça tombada da embarcação até que finalmente encontrou o que buscava. A balestra do Lázarus estava caída, semi enterrada no solo arenoso que ficava em volta do navio. O arqueiro examinou a peça com cuidado e se encheu de alegria ao ver que a arma estava em bom estado. Marcou a posição do objeto com um pedaço de madeira e subiu até a superfície cuidadosamente.
Lá em cima, oculto sob as ondas, o elfo viu dois genasis dourados circulando no convés do navio de Guncha. Com a certeza de que não havia sido notado, o elfo retornou ao fundo do mar para junto de seus companheiros, tendo em mente que com soldados de vigia, todas as suas ações teriam que ser muito cuidadosas para não arruinarem a missão.
Nas profundezas, Nailo e Sairf dirigiam-se até a popa do Lázarus em busca de mais alguma coisa de valor que pudesse ser aproveitada. Passaram ao lado do corpo carbonizado do capitão Arthur, que mais parecia um pedaço de carvão do que o capitão habilidoso que fora um dia. Enquanto retornava ao fundo e via essa cena, Legolas se emocionou e suas lágrimas se misturaram com a água do mar.
Nailo ia mais à frente, apressado e impulsivo como sempre. Sairf, um pouco mais atrás, admirado com mundo subaquático, andava lentamente prestando atenção em cada detalhe daquele lugar que tanto admirava.
Mas aquilo que parecia ser um lugar de descanso para os mortos provou ser um lugar perigoso para se aventurar. Nailo começou a caminhar por um solo arenoso e seus pés desapareciam no meio da areia fofa. Ao dar um passo, o ranger sentiu um peso estranho preso a sua perna e o pavor tomou conta de seu espírito ao ver uma mão esquelética agarrada ao sem membro. Junto com a mão, um corpo composto de ossos animados magicamente emergiu da areia e atacou o elfo. Ao mesmo tempo, outros quatro esqueletos se levantaram do chão com orbes brilhantes em suas fossas oculares e garras afiadas em suas mãos ósseas. Instantaneamente os heróis reconheceram os inimigos. Eram as mesmas caveiras que haviam enfrentado em alto mar, ainda no Lázarus. Deviam ser os esqueletos atirados ao mar que provavelmente se agarraram ao casco do navio com suas garras e agora queriam vingança.
Nailo disparou sua besta mágica no crânio do ser que o segurava enquanto este se levantava. O ataque do ranger nada fez ao monstro que revidou com sua garra afiada, rasgando as costas de Nailo.
Todos correram para ajudar o companheiro naquele momento crítico. Sairf foi o primeiro a chegar, invocando dos planos infernais um polvo para ajudá-lo no combate. Entretanto, o pequeno animal nada podia fazer contra os mortos-vivos que rapidamente cercaram os dois combatentes.
Lucano e Loand se aproximaram das criaturas por trás dando apoio aos seus companheiros. Legolas nadou até próximo do combate e, enquanto deixava seu corpo afundar, preparou seu arco para o combate.
De dentro do navio, Squall e Anix notaram que havia algo de errado quando viram um dos esqueletos passando em frente a um dos buracos no convés do navio. Rapidamente os dois correram para auxiliar os amigos com seus feitiços.
Sob as águas, as condições de luta eram ainda piores que no convés do Lázarus. Além de possuírem vantagem contra as armas cortantes e perfurantes, as caveiras eram beneficiadas pelo fato da água desviar as flechas e impedir que os heróis desferissem golpes com toda a potência que podiam. Os únicos ataques que surtiam efeito eram os dardos místicos lançados por Squall e Anix, mas depois de tantos combates, os dois conjuradores já haviam gastado quase todas as suas magias. Quando as magias acabaram, foi a pesada espada de loand que fez a diferença no combate. A arma, uma herança de família, destroçava as costelas dos esqueletos e o paladino agradecia em pensamento aos seus ancestrais por aquele presente. Enquanto o servo de Khalmyr combatia ferozmente com sua arma de família, os demais, apesar das inúmeras dificuldades, iam pouco a pouco minando a resistência dos inimigos.
Legolas, vendo que o combate à distância não surtia efeito, se aproximou dos inimigos e começou a atacar corpo a corpo com seu arco. Disparando á queima roupa, o arqueiro conseguiu desferir um tiro que seria mortal se o inimigo não fosse uma criatura morta-viva. Sua flecha atingiu o crânio do adversário que se não fosse apenas um esqueleto animado por mágica, teria sucumbido ao ataque.
Sem mais magias poderosas e podendo realizar apenas pequenos truques mágicos, Sairf afastou-se do campo de batalha. Conjurou sobre si a última magia preparada que possuía. Seu bordão emanou uma luz fantasmagórica e o mago sabia que não erraria seu próximo ataque. O arcano foi até onde legolas lutava e com um único golpe, espedaçou o monstro que ameaçava o elfo. Estilhaços de ossos atingiram as pernas de Legolas ao mesmo tempo em que seus amigos faziam tombar as últimas caveiras.
Anix certificou-se esmagou o crânio de cada esqueleto com seus pés para ter certeza de que eles não voltassem a ameaçá-los. Com todos refeitos do susto, o grupo retornou ao navio de Guncha, levando consigo um novo tesouro, a balestra do Lázarus.
Já sob a nau da genasi, após uma longa discussão e vários planos e frases riscados na areia do solo, o grupo tomou uma decisão sobre o que fazer. Todos começaram a trabalhar arduamente, arrastando as maiores rochas que encontravam para cima da âncora do navio. Após formar uma enorme pilha de rochas sobre a âncora, começaram a enterrá-la com pedras menores, do tamanho de um punho. Vinte minutos após o início do trabalho, Sairf colocou a esfera de argila encantada por Guiltespin no centro das rochas, em contato com a âncora e as pedras. O mago pronunciou a palavra de gatilho que ativava a magia e uma reação em cadeia se iniciou.
As rochas, tanto as pequenas, quanto as maiores, começaram a se fundir umas nas outras, formando enormes esferas de quase três metros de diâmetro, envolvendo a âncora e sepultando-a para sempre no fundo do mar. Temendo que o efeito se expandisse infinitamente, Nailo correu para abrir uma vala no chão, tirando as pedras mais distantes do contato com a magia. Enquanto isso, seus amigos se esforçavam para segurar a corrente do navio e impedir que ela balançasse com o movimento causado pela magia e despertasse a atenção dos discípulos de Guncha.
Após alguns momentos de tensão, o efeito mágico cessou. A âncora estava enterrada sob uma pequena montanha e suas pontas, firmemente cravadas nas rochas, só poderiam ser libertadas após muitas horas de escavação.
Legolas subiu até a superfície, escondendo-se sob a curvatura do casco do navio e constatou para seu alívio, que a montanha formada não poderia ser notada da superfície, nem mesmo sob o sol do meio-dia.
O elfo juntou-se aos seus amigos e todos iniciaram a jornada de volta à mina. Enquanto caminhava pelo solo arenoso, Legolas pisou acidentalmente em uma arraia camuflada no sob a areia e quase levou uma ferroada na perna. Nailo tentou abater o animal com a lança que trazia com sigo, retirada dos kuo-toas enfrentados no convés do Lázarus, dias atrás. Como não conseguiu, o ranger teve outra idéia para conseguir alimento para o grupo. Capturou diversos caranguejos que caminhavam pela corrente da âncora do navio e os prendeu em sua mochila. Seus amigos o ajudaram, carregando o que conseguiam em suas roupas.

abril 15, 2005

Capítulo 18 - Viagem ao fundo do mar

Rapidamente o grupo retornou à mina, onde Guiltespin os aguardava para conjurar a magia. Batloc os estava esperando perto da cela que dava acesso ao túnel secreto. O genasi paladino havia, de alguma forma, conseguido que os outros soldados ficassem alguns minutos fora da mina. Os heróis tinham não mais que alguns minutos para levar a argila até o anão e retornarem para sua cela.
Enquanto Batloc vigiava a entrada da caverna, próximo ao elevador que conduzia até o andar superior, os aventureiros se apressaram para falar com Guiltespin. Com a ajuda de um dos outros escravos, que possuía algumas ferramentas escondidas num buraco, eles quebraram os grilhões que prendiam o anão na parede da mina.
Guiltespin entoou o feitiço sobre a pequena esfera de argila. Embrulhou-a em um pedaço de pano retirado da roupa calça de Squall e a entregou a Sairf, que havia se oferecido para transportar a esfera.
_ Braxat!!! – bradou o anão em tom firme. A esfera de argila brilhou e o brilho tomou as mãos de Sairf.
_ Quando chegar até o navio de Guncha, enconste esta esfera na âncora e nas rochas que estão no fundo do mar e pronuncie a palavra flemxnaljia! Então as rochas irão se transformar em esferas e selar a âncora no fundo do mar. Não se esqueça, flemxnaljia, lembre-se bem desta palavra. – com um pouco da palha retirada de uma das camas, o anão conjurou uma magia sobre o grupo.
Todos sentiram uma súbita falta de ar por um breve instante. Quando a respiração se estabilizou, puderam perceber que agora eles tinham brânquias, como os peixes.
_ Agora vão, antes que os soldados voltem!
De posse da argila, e prontos para atravessarem o mar, os heróis seguiram o conselho do anão e correram para o elevador. Nailo ainda pediu emprestado o martelo usado pelo escravo para libertar Guiltespin. Quando o ranger chegou ao elevador, este já estava sendo puxado para beixo por Batloc.
Desceram pelo túnel rapidamente e chegaram até o cemitério de navios. Lá chegando, começaram os preparativos para a jornada aquática. Lucano pegou apenas suas armas e saltou na água. Nailo foi logo atrás levando todo o seu equipamento consigo. O ranger deixou para trás apenas seu saco de dormir. Anix foi o próximo, levando consigo seu arco, suas flechas e as amostras do cogumelo que havia pegado na floresta. Legolas pulou na água armado com seu arco de madeira negra, suas flechas, sua espada e sua armadura. Também levou consigo o fruto encantado que havia ganhado de Enola. Loand se mostrou precavido e, além da espada e da armadura, levou também uma das poções mágicas que recebera da ninfa. Sairf saltou na água com todo o seu equipamento sem pensar nas conseqüências. O mago da água começou a afundar e decidiu retornar para livrar-se do excesso de peso. Voltou para a água apenas com seu bordão, o fruto mágico de Enola e a esfera de argila encantada por Guiltespin. Squall foi o último a saltar na água, levando consigo arco e flechas, uma das poções de cura e comendo uma das frutas colhidas na selva. Antes de saltar, o feiticeiro se lembrou do mais importante. Nem ele, nem seus companheiros arcanos estavam levando suas bolsas com os componentes materiais usados para realizar os feitiços. Squall pegou sua bolsa e a de seus companheiros e saltou na água com os outros.
No início, a sensação de respirar na água era estranha e desconfortável. Mas logo os heróis foram se acostumando à situação e passaram a se sentir à vontade dentro da água. As guelras criadas pela magia de Guiltespin funcionavam perfeitamente como esperado. Sem perder tempo, seguiram para a saída da gruta pois, segundo as palavras de Guiltespin, eles teriam menos de três horas para realizar a tarefa. Calculavam que gastariam cerca de uma hora para chegar até o navio, o dobro do tempo que gastavam andando em terra. Deveriam então se apressar, ou correriam o risco de ver o efeito da magia do anão terminar enquanto ainda estivessem submersos.
Assim, os heróis iniciaram sua jornada pelo fundo do mar. Naquele lugar de águas calmas e claras, a lua em escudo fornecia iluminação suficiente para que todos pudessem ver com clareza até uma distância de quase quarenta metros ao redor. Nailo, Lucano e Squall tentaram se deslocar nadando, mas como o esforço para se manter flutuando era muito grande, resolveram acompanhar os demais e caminhar sobre o leito oceânico.
Todos estavam maravilhados com toda aquela beleza que havia em baixo d’água. Estavam numa profundidade de cerca de dez metros, caminhando em meio a corais, algas e cardumes de peixes multicoloridos. Numa brincadeira inocente, Legolas tentou abocanhar um dos peixes que passavam próximos dele. Todos apreciaram a idéia do arqueiro e em pouco tempo todo o grupo estava a caçar peixes com suas bocas. Por um breve momento os heróis se esqueceram de todos os problemas que estavam tendo que enfrentar e dos que ainda estavam por vir. Nailo provou aos outros que era um grande predador e conseguiu capturar um pequeno peixe com seus dentes. O ranger mordeu o animal com força, arrancando um pedaço de sua carne e espalhando um rastro de sangue pela água. Nailo parecia um verdadeiro selako brincando com sua presa. Nesse instante, em Pelágia, Grande Oceano, o deus dos mares se enfureceu com a crueldade que estavam cometendo com suas crias. E o castigo não tardou a vir. Atraídos pelo rastro de sangue, dois selakos atacaram o grupo com ferocidade.
Os dois enormes tubarões encurralaram o grupo contra o paredão de pedra, deixando-os com pouco espaço para se movimentarem. Sob a água, as condições eram desfavoráveis aos heróis. As flechas de Legolas eram freadas pela massa de água e nada causavam aos inimigos. Os golpes de espada desferidos por Lucano e Loand também não surtiam grande efeito, já que a água impedia que os dois golpeassem os animais com toda sua força. Nem mesmo a magia podia ser usada sem dificuldades. Entoar as palavras mágicas para conjurar os feitiços era muito difícil e algumas magias acabavam se perdendo.
Legolas e Anix uniram suas forças contra um dos tubarões, enquanto o restante do grupo concentrou todas as suas forças no outro inimigo. O arqueiro foi duramente ferido e teve seu braço quase arrancado pelo monstro, mas não recuou. Suas flechas não surtiam efeito, mas os feitiços de ataque conjurados com muito esforço por seu amigo iam minando pouco a pouco as forças do selako.
O outro tubarão enfrentava vários oponentes ao mesmo tempo e, apesar de sua força, não resistiu muito tempo. Squall, com as marcas das cinco fileiras de presas afiadas cravadas em seu peito, fazia explodir seus dardos mágicos na face da criatura, enquanto Loand golpeava com a bastarda enfurecido. O paladino também foi ferido, tendo sua cabeça quase esmagada pela mandíbula do animal. À distância, Nailo atacava com flechas, sem conseguir atingir o inimigo, ao mesmo tempo em que Sairf invocava criaturas marinhas para atacar o peixe faminto. O elemental aquático e o tritão evocados pelo mago da água deram tempo para que Lucano ajudasse Squall e Loand curasse suas próprias feridas e voltasse a atacar. O paladino conseguiu abrir o maxilar superior do tubarão com sua espada, deixando-o muito debilitado. Nailo que até então não conseguira acertar um único golpe sequer, conseguiu atingir o ferimento feito por Loand com uma flecha mortal. A abertura feita pelo paladino permitiu que a flecha do ranger atingisse sem dificuldades o cérebro da criatura, extinguindo sua vida por completo.
Todos voltaram suas atenções para o segundo selako que era combatido por Legolas e Anix. A ação conjunta do grupo deixou a fera sem qualquer chance de sobreviver, levando-o à morte pelo foi da espada de Lucano, num golpe fulminante que dividiu a cabeça do animal em duas partes.
O grupo seguiu em sua jornada, caminhando junto à costa de Ortenko, rumo ao navio da genasi de ouro. O ferimento no braço de Legolas deixava um rastro de sangue atrás do grupo. Loand pediu para que Legolas lavasse o braço, sem se lembrar de que os braço do arqueiro não poderia ser mais lavado do que já estava. O temor do paladino logo transformou-se em realidade. Atrás do sangue dos tubarões mortos e do rastro deixado pelo elfo, um numeroso grupo de selakos famintos surgiu. Em poucos segundos, as feras devoraram as carcaças de seus semelhantes e passaram a seguir o rastro deixado pelos heróis. Squall rapidamente rasgou um outro pedaço de sua calça para que Legolas pudesse enfaixar o ferimento, diminuindo assim o sangramento. Mesmo com a idéia do feiticeiro, eles precisavam fugir dali, ou seriam devorados. Ao redor deles só havia algas e pequenas pedras, nada que servisse de esconderijo. Mas um pouco distante dali, no alto mar, uma mancha negra que lembrava uma enorme rocha, parecia o abrigo perfeito para escondê-los dos predadores. Rumaram para a suposta rocha e se surpreenderam ao descobrir que na verdade tratava-se de um navio naufragado há muito tempo.
Era o esconderijo que procuravam. Entraram na nau que estava tombada no leito oceânico e se dirigiram para a popa. Entraram naquilo que devia ter sido uma cabine e fecharam a porta para impedir que qualquer ameaça os alcançasse. Lá dentro, o pouco de luz que penetrava por uma escotilha permitia ver um enorme baú dentro da cabine, junto com restos de uma mesa e algumas cadeiras.
Legolas e Loand forçaram o cadeado com suas espadas. Nailo, com a marreta que tinha pegado do escravo na mina, desferiu um forte golpe na tranca, despedaçando-a. As espadas atravessaram a madeira podre da velha arca e fizeram-na em pedaços. Uma pilha de tesouros se espalhou pelo casco do navio, fazendo com que os olhos dos aventureiros brilhassem como chamas ardentes.
Seguindo a idéia dada pelo paladino, dividiram as armas para utilizarem na jornada submarina e deixaram as moedas ali para pegarem quando voltassem. Squall usou um feitiço para descobrir se algum dos objetos era encantado. Assim eles levaram consigo apenas os tesouros mágicos, deixando as moedas dentro do navio, enroladas no manto de Sairf, para pegá-las depois.
Lucano ficou com o escudo prateado com a figura de um leão entalhada em alto relevo. Nailo pegou a besta leve que também era mágica, assim como o escudo. Loand pendurou em seu pescoço a jóia mágica que o deixava mais sábio. O camisão de cota de malha, feito da liga metálica conhecida como mithral ficou em posse de Legolas. A varinha mágica que servia para invocar criaturas foi para o feiticeiro Squall. Os pergaminhos mágicos, que seriam usados em conjunto, ficaram com Anix. E, finalmente, as poções mágicas, foram divididas de forma justa entre todos. Sairf, que não havia recebido nenhum dos outros tesouros, recebeu duas poções a mais que o restante do grupo. Assim, felizes por terem encontrado seu primeiro tesouro e já livres da ameaça dos selakos, os heróis retornaram para o mar para cumprir a sua missão.
Após uma pausa de aproximadamente dez minutos dentro do navio, os heróis voltaram a caminhar ao redor da costa da ilha. Andaram submersos por quase uma hora e todos sabiam que já estavam próximos do Imperatriz Dourada, o navio de Guncha. Entretanto, chegar até a nau da genasi não era tão fácil quanto parecia. Sairf, que no início da jornada estava maravilhado por conhecer o fundo do mar e estar em contato com as criaturas de seu elemento favorito, já não via com entusiasmo o ambiente em que estava. O mar era um lugar hostil e cheio de perigos, apesar das maravilhas que o habitavam. A água impedia que lutassem com todo o seu poder para defenderem suas próprias vidas. Mas mesmo assim, os heróis não desanimavam, todos tinham confiança de que conseguiriam cumprir a tarefa e escapar do cativeiro na ilha.
Subitamente, do mar aberto uma criatura aproximou-se do grupo em grande velocidade. Era um ser de aparência graciosa que lembrava uma mulher em miniatura. Possuía um par de asas semelhantes às de um morcego, usadas para se deslocar sob a água. Sua pele tinha uma coloração azulada e era recoberta de escamas brilhantes que contrastavam com seus olhos negros e bulbosos. Ficou muito próxima do grupo, tomou fôlego e soprou um cone de um líquido cáustico que feriu aqueles que estavam mais próximos da criatura.
Todos reagiram rápido e, enquanto suas peles queimavam devido ao ácido, começaram a atacar a criatura inimiga. Entretanto, a criatura parecia portar alguma qualidade mágica especial que impedia que os ataques dos heróis a ferissem, embora vários deles tivessem lhe atingido. Somente as magias pareciam surtir efeito na pequenina, que atacava com garras afiadas os corpos frágeis dos heróis.
Squall e Anix conjuravam mísseis mágicos contra a criatura que, enfurecida com os ataques, disparou magicamente uma esfera ácida em Anix. Por sorte o elfo conseguiu se esquivar do ataque e nada sofreu.
Com sua espada, Loand conseguiu atravessar a pele da inimiga, abrindo uma profunda ferida. Entretanto, para espanto de todos, o ferimento começou a se fechar lentamente diante dos olhares dos aventureiros. Além de resistir à maioria dos ataques que recebera, a criatura também podia se regenerar.
Cercada por todos os lados, a pequena mulher começou a entoar palavras mágicas e uma névoa negra se formou ao seu redor. A nuvem se expandiu por todas as direções quase dez metros além da criatura. O cheiro insuportável que a bruma exalava impedia os heróis de realizarem qualquer tarefa dentro dela. A única coisa que conseguiram fazer foi se afastar do alcance da névoa.
Apenas Loand conseguiu resistir aos efeitos nocivos da nuvem fétida. O paladino continuou atacando a criatura sozinho, mas esta se recuperava a cada golpe e revidava com suas garras e seu sopro ácido.
A criatura era muito perigosa e todos tinham consciência disso. Legolas sabia que todos corriam o risco de morrer. Sabia também que se Sairf morresse, a esperança de fugir da ilha estaria acabada, pois o mago da água era o único que podia ativar o feitiço que prenderia o navio de Guncha no cais. Pensando nisso, o elfo segurou o mago pela gola da camisa e o afastou da criatura o mais longe que pode, para só então retornar ao combate.
Os outros aventureiros tentavam se aproximar da criatura, mas a nuvem os impedia de realizar qualquer ação. Anix pediu a Loand que usasse seus poderes para descobrir se a criatura era maligna. Todos ficaram surpresos ao saber pelos gestos do paladino que o ser não possuía maldade em seu coração.
Anix e Nailo tentaram se comunicar com a mulher para tentar encerrar o combate de forma pacífica. As primeiras tentativas em idioma élfico falharam. Além de ser extremamente difícil pronunciar palavras embaixo d’água, a criatura aparentemente não conhecia a língua dos elfos. O mago tentou todas as línguas que conhecia, e ficou muito surpreso ao descobrir que a criatura entendia Valkar, o idioma comum no reinado. Falando com extrema dificuldade e gesticulando muito para se fazer entender, o elfo conseguiu fazer com que a criatura os deixasse ir embora pacificamente, desde que deixassem o seu território. E assim eles fizeram.

abril 06, 2005

Capítulo 17 - Os poderes do anão são revelados

A manhã daquele Jetag trazia consigo o início de um novo mês. Era o primeiro dia de Terraviva, o mês de Allihanna a deusa da natureza. Como de costume, os heróis começaram bem cedo a trabalhar nas escavações, garimpando ouro, prata e cobre para Teztal. Como de costume também, eles apenas fingiam trabalhar com afinco, poupando energias para serem usadas durante a noite, quando realizavam as missões para reunir os elementos necessários para concretizar o plano de fuga.
Durante todo o dia, perceberam que estavam sendo observados pelo anão Guitespin, que parecia querer lhes dizer alguma coisa. Entretanto, qualquer tentativa de comunicação era impedida pelos genasis de cobre que vigiavam o local.
Logo após o almoço, o mesmo pão mofado e sujo de sempre, após conversar com o anão, que gesticulava apontando para cima e para o grupo, um dos genasis se aproximou dos heróis com um sorriso sarcástico estampado no rosto.
_ Escravos, pequem suas ferramentas e venham comigo! Vocês irão trabalhar no andar superior da mina, num local carregado de salitre! Vocês chegaram a pouco aqui, por isso ainda estão fortes e agüentaram o serviço por mais tempo. O salitre irá envenená-los pouco a pouco até deixá-los como aquele moribundo ali.
Um sentimento de temor e revolta tomou conta de todos. O anão desejava envenená-los com o salitre, deixando-os doentes como o pobre Elesin. Temendo pelo pior, todos foram para o andar superior, onde a morte lenta os aguardava.
O andar era constantemente vigiado por quatro genasis de cobre. Como nos outros dois pisos, grande quantidade de ouro, prata e cobre brotava de suas paredes a cada golpe de picareta. Um elevador, ainda em construção, deixava clara a intenção de Teztal de construir um novo anda acima daquele para conseguir mais minérios.
Quando a noite chegou, as ferramentas foram recolhidas e levadas para o andar principal da mina. Os escravos foram acomodados em camas de palha que se espalhavam num dos cantos da caverna. O anão foi trazido para cima e acorrentado na parede, próximo dos outros escravos, em grossos grilhões de aço. Somente um soldado permaneceu tomando conta do local, próximo ao elevador de descida. Quando a movimentação cessou, a maioria dos escravos dormiu e o guarda já parecia sonolento, os heróis foram conversar com Guiltespin.
O anão era um poderoso ilusionista que tentara, em vão, aliar-se a Teztal para escapar da escravidão e poder fugir da ilha. Suas intenções reais eram escapar de lá e avisar o Reinado sobre as atrocidades do local. Ele perguntou sobre o plano de fuga aos heróis, que lhe contaram quase tudo, omitindo alguns detalhes. Como previsto por enola, o anão seria de grande ajuda para o grupo. Seu grimório havia sido destruído por Teztal, mas sua mente ainda possuía três magias prontas para serem lançadas. Com as duas primeiras, ele poderia impedir que o navio de Guncha saísse da ilha e com a terceira, garantiria que os escravos fugissem sem que Teztal notasse a falta deles.
O plano do anão era travar a âncora do navio da genasi de ouro, moldando as rochas do leito oceânico em volta da mesma, travando-a no fundo do mar. Para isso ele precisava que os heróis levassem uma pequena bola de argila, encantada pelo anão, até a âncora no fundo da água. Com um pouco de palha, que poderia ser retirada dos colchões, o anão lançaria um feitiço sobre os heróis dando-lhes a capacidade de respirar sob a água por algumas horas, permitindo que eles chegassem ao fundo do mar com facilidade. Restava aos heróis conseguirem a argila para Guiltespin.
Com a terceira magia que lhe restava, o anão poderia criar cópias ilusórias de todos os escravos, para enganar os genasis. O momento ideal para isso, seria quando todos estivessem reunidos no dia da contagem semanal. Enquanto Teztal estivesse contando os escravos ilusórios, os verdadeiros poderiam fugir pelo túnel secreto até o navio. Para isso funcionar, precisariam da ajuda de Batloc, que deveria sero o encarregado de reunir os escravos para a contagem, permitindo que Guiltespin lançasse a magia e todos pudessem fugir , inclusive Batloc. Mas para a magia ser feita, o anão precisava de componentes raros naquela ilha. Ele precisava de um pouco de algodão e uma jade para usar na conjuração do encanto. E o único lugar onde poderiam conseguir tais objetos era o manto e a armadura de Teztal.
Aproximar-se do genasi de platina era praticamente impossível. Mas existia um momento em que ele ficava vulnerável, durante o sacrifício. No momento em que estivesse sacrificando Elesin, os heróis poderiam se aproximar do genasi e robar os itens necessários sem que ele percebesse. Se algo desse errado, Batloc estaria presente para espancar o responsável pelo roubo, tomando cuidado para não machucá-lo, e esconder consigo os objetos roubados.
O plano estava definido. Deveriam conversar com Elesin para lhe entregar o cogumelo e pedir-lhe para escolhê-los como testemunhas junto com Yczar. Precisavam explicar o plano a Batloc para que ele os ajudasse. Mas em primeiro lugar, precisavam conseguir a argila para Guiltespin. E só havia um lugar onde poderiam consegui-la, a praia próxima ao cais.
Esperaram até Batloc surgir, substituindo o guarda anterior na vigilância do andar. Explicaram ao genasi todo o plano de fuga e ele prometeu ajudar no que fosse possível. Batloc arrumou um jeito de retirar os outros vigias da mina por alguns instantes, criando a oportunidade para que os heróis pudessem escapar pelo túnel e ir até a praia.
No caminho, pediram ajuda a Silfo, que guiou o grupo com segurança até a praia, num local afastado do navio de Guncha, enquanto Anix cuidava da segurança de Enola. Depois de cerca de uma hora, reuniram-se com o mago na caverna da ninfa e, de posse da argila, retornaram para a mina.
Sem a ajuda do sátiro para guiá-los através da selva em segurança, os heróis enfrentaram um grande problema. Enquanto caminhavam pela mata em fila, foram surpreendidos por uma serpente gigantesca, que despencou do alto de uma árvore, diante de Nailo que ia à frente do grupo. Era uma víbora imensa, com mais de dez metros de comprimento. Caiu quase sobre o ranger, e num rápido movimento o feriu com suas presas do tamanho de punhais. Nailo tentou atacar a cobra gigante com suas espadas, mas o poder do veneno o fez perder a força e a precisão dos ataques. Sentindo-se muito debilitado, o ranger afasta-se do inimigo, recebendo um novo ataque. Entretanto desta vez, seu movimento cambaleante durante a fuga lhe ajudou a se esquivar dos dentes afiados do monstro.
Sairf, que vinha logo atrá, murmurou um feitiço de proteção sobre si, enquanto Loand correu até a besta, desferindo um poderoso golpe de espada na criatura. As escamas da víbora protegeram seu corpo contra a lâmina do paladino. O monstro abriu sua bocarra, pronta para atacar Loand, o momento que Legolas aguardava. Astutamente, o arqueiro cravou uma flecha no céu da boca da serpente.
Entretanto, a cobra parecia não sentir os efeitos dos ataques e numa mastigada, despedaçou a flecha de Legolas.
Squall e Lucano atacaram quase simultaneamente com magia e espada. Enquanto o feitiço de Squall explodia na face do inimigo, a espada do clérigo golpeava as escamas do monstro sem lhe causar dano.
A víbora voltou a atacar, desta vez Lucano, fazendo o servo de Glórien sentir na pele os efeitos do veneno. Enquanto as presas afiadas rasgavam as costas do elfo, Nailo tentava atingir a cabeça do monstro com uma flecha. Mas o efeito do veneno era devastador no corpo do ranger. Nem com a ajuda do familiar de Sairf que atacava os olhos da serpente, ele conseguiu atingir o alvo.
Uma magia conjurada por Anix explodiu no rosto da cobra, fazendo-a soltar Lucano. Sairf aproveitou a chance e conjurou um feitiço enquanto a serpente se retorcia de dor. Um elemental de água surgiu magicamente ao lado do mago da água e lançou-se freneticamente contra o inimigo. O poderoso ataque do elemental deixou a cobra gravemente ferida, pemitindo que Loand conseguisse cravar a lâmina de sua espada no corpo do réptil gigante. Legolas encerrou o confronto disparando uma flecha que atravessou a cabeça do monstro, fazendo a serpente tombar diante dos heróis.

Capítulo 16 - A dama da floresta

Seu nome era Silfo, nativo de Ortenko e inimigo de Teztal e seus aliados. Conduziu os heróis por uma região de floresta densa, até que chegaram a uma formação rochosa, com uma caverna natural que avançava pelo subsolo. Silfo entrou sozinho na gruta, pedindo para que aguardassem-no por um momento. Instantes depois, ele conduziu o grupo até o fundo da caverna, onde encontraram uma mulher magnífica, de uma beleza inigualável, infinitamente superior à de Guncha.
Os longos cabelos louros daquela dama desciam pelo seu corpo percorrendo cada uma de suas curvas perfeitas. Sob a luz de algumas poucas velas, um fino vestido de seda permitia que os heróis admirassem cada contorno daquele corpo.
_ Saudações a todos, eu sou Enola! – a voz doce e melodiosa saída dos belos lábios da moça, deixou todos ainda mais admirados.
Enola era uma ninfa, um tipo de fada. Amante da natureza, era fiel a Allihanna e a seus ensinamentos. A Ninfa contou a todos sobre o passado de Ortenko, antes que Teztal surgisse.
Shinaipa Turud, a montanha sagrada, era admirada por todos os habitantes da ilha. Uma tribo humana vivia a seus pés, em paz com a natureza. Azgher, o deus sol, deixou um prêmio no topo da montanha. Aquele que se tornasse o primeiro a alcançar o cume de Shinaipa, receberia um grande poder dado pelo deus sol. Por eras os habitantes tentaram escalar a montanha sem êxito. Muitos morreram na empreitada, outros desistiram, mas surgiu um homem com uma ambição sem limites, Teztal. Teztal era um humano comum assim como Guncha. Desejava receber o poder do sol para usá-lo para seus próprios propósitos e decidiu escalar a montanha. Inteligente, ele percebeu que seria mais seguro cavar um túnel até o topo de Shinaipa, escalando-a por dentro. Assim ele fez. Acompanhado de Guncha e alguns outros, começou a escavar a montanha. Lá dentro, encontraram alguma coisa misteriosa que os transformaram nos genasis de metal. Teztal e seus companheiros saíram da montanha muito mais poderosos e começaram a oprimir os da sua tribo. Escravizando seus antigos amigos, ele finalmente conseguiu atingir o topo da montanha e recebeu os poderes do sol. Acasalaram forçadamente com os aldeões e assim criaram uma legião de genasis, a sua raça perfeita. Quando conseguiram produzir um grande número de genasis, eliminaram todos os humanos restantes e passaram a escravizar outros povos que chegavam à ilha de pelo mar, fosse por vontade própria, fosse trazidos à força por piratas. Sob as ordens de Teztal, os escravos eram obrigados a trabalhar na construção da pirâmide e do colosso de pedra.
Enola se ofereceu para curar os ferimentos do grupo. Sairf e Squall ainda estavam desacordados quando receberam o encantamento de cura. Com todos restabelecidos, os heróis contaram à ninfa sobre o plano de fuga e ofereceram a ela a chance de fugir com eles. Tanto Enola, quanto Silfo desejavam se ver livres da ameaça de Teztal, e aceitaram a oferta da fuga. De repente, enquanto falava, a jovem teve uma vertigem e foi obrigada a se apoiar para não cair no chão. Como que num transe, a ninfa pronunciou o que mais parecia uma profecia:
_ Eu vejo a fúria despertando. O pequenino tem a chave para a libertação. Cuidado com o de fala mansa. Aquele de fala suave poderá matá-los.
Imediatamente, todos entenderam o significado daquelas palavras. Ela havia tido uma visão do futuro, concedida por Allihanna, como ela própria explicou depois. Enola havia visto o Destruidor de Mundos acordando para destruir Teztal. O pequenino só poderia ser o anão Guiltespin, que poderia ajudá-los de alguma forma com seus supostos poderes mágicos. E a pessoa de fala mansa, com quem deveria tomar cuidado, não poderia ser outro senão Teztal.
Nailo e Loand resolveram retornar para a mina, deixando seus amigos na companhia de Silfo e Enola. Antes que saíssem, a ninfa entregou a cada um dois pequenos frascos de barro que segundo ela continham uma infusão mágica para curar ferimentos. Enola também prometeu que, junto com Silfo, conseguiriam frutos na floresta para equipar o navio para a viagem rumo ao continente. O ranger e o paladino partiram, e quando chegaram à mina, contaram tudo o que ocorrera a Roryn, o líder dos escravos.
Enquanto os dois retornavam, o restante do grupo permaneceu na caverna de enola até próximo ao amanhecer. Squall e Sairf pediram a Enola que os ensinasse a preparar aquelas poções mágicas, enquanto Anix conversava amigavelmente com Silfo, que havia criado Enola desde pequena, quando a encontrara na selva ainda bebê.
A ninfa os presenteou com frutos mágicos, dando um para cada aventureiro. Ela ainda lhes deu mais três frutos de reserva, que foram guardados por Legolas e sua mochila. Squall provou o fruto de Enola e notou que eles valiam por uma refeição completa.
Pouco antes do sol surgir no horizonte, Enola acordou os heróis que, após prepararem suas magias para serem usadas naquele dia, retornaram à mina de Shinaipa Turud.

Capítulo 15 - Um novo aliado

Já no cemitério de navios, os aventureiros se depararam com um terrível dilema: como escalariam aquela parede de rocha íngreme? Neste momento o grupo entrou em conflito, todos queriam dar sua opinião sobre o que fazer, mas não chegavam a nenhum acordo. Após muita discussão, Legolas amarrou o arpéu numa flecha e com seu arco lançou-o para o alto. O gancho de metal prendeu-se nas rochas do encosta e Nailo, o que tinha maior experiência em escaladas, foi o primeiro a subir. Sem grandes dificuldades, o ranger atingiu o topo do paredão que dava acesso à floresta. Ele amarrou a corda em uma árvore e seus companheiros subiram em seguida.
Já na floresta, Sairf, Anix e Squall fizeram contato mental com seus familiares que haviam sido libertados por Batloc. O genasi havia soltado os animais e preparado outros como refeição para enganar o temível genasi de prata. Os conjuradores ordenaram que seus animais os encontrassem na floresta, junto com o lobo de Nailo.
A experiência do ranger com a natureza foi fundamental neste momento. Em menos de uma hora, apesar da escuridão na selva, eles conseguiram encontrar uma clareira na mata, onde brotavam dezenas de cogumelos como o que eles buscavam.
Todos se aproximaram dos fungos, que eram enormes. O maior deles tinha quase a altura de um homem e, quando o grupo estava próximo a ele, levantou-se, agitando quatro tentáculos semelhantes a gavinhas e os atacou.
Legolas reagiu esquivando-se do monstro e revidando os ataques com flechas. Entretanto a escuridão impediu o elfo de atacar com precisão, apesar de sua visão apurada.
Nailo, Loand e Lucano cercaram a criatura por três lados e com suas espadas abriram grandes feridas no corpo fibroso do estranho ser. Squall e Anix fornecem apoio mágico com seus mísseis mágicos, deixando o monstro bastante debilitado. Entretanto, a criatura não era tão fraca quanto eles pensavam. Seus quatro tentáculos investem contra os heróis. Loand, Lucano e Squall são feridos e Nailo por pouco consegue se esquivar dos ataques. Os três combatentes atingidos sentem que são envenenados pelo ataque do monstro e percebem sua força e vitalidade diminuindo pouco a pouco.
Sairf sente que a criatura pode oferecer perigo e camufla seu corpo com uma névoa mágica que o envolve por completo, para em seguida poder atacar o monstro e ajudar seus companheiros. Entretanto, a ajuda do mago aquático não se faz necessária pois, embora poderoso, o monstro já estava bastante debilitado devido aos ataques do grupo.
Legolas o atinge com uma flecha e Nailo desfere o golpe final com sua espada, liquidando o fungo.
Com a ameaça eliminada, Nailo recolhe alguns pequenos cogumelos para levar a Elesin e fazer a infusão para protegê-lo da dor do ritual do sacrifício. Os conjuradores aproveitam também para guardar algumas amostras dos fungos para usarem como componentes em suas magias.
Poucos minutos depois do combate, enquanto o grupo ainda se refazia do susto, os familiares de Anix, Squall e Sairf, bem como o lobo de Nailo, chegaram na clareira. Com o grupo completo novamente, os heróis iniciam sua jornada de volta à mina.
Antes de partirem, Nailo fez uma rápida investigação no local, a fim de descobrir se mais alguém, além deles mesmos havia passado por ali. Seguindo os rastros deixados pelo cogumelo, o ranger encontrou restos de pequenos animais naquilo que fora um ninho destruído pelo fungo. Juntamente com Squall, decidiu procurar frutas na selva que pudessem ser usadas como alimentação no navio da fuga. Os dois elfos conseguiram encontrar uma árvore repleta de grandes frutos vermelhos e suculentos, chamados Dikeo. O grupo se reuniu ao redor da árvore e coletaram aproximadamente setenta frutos para abastecerem o navio. Após encherem as mochilas com as frutas, retornaram apressados para a montanha, pois Legolas havia visto, do alto de uma árvore, uma movimentação estranha das tochas dos genasis. O arqueiro suspeitava que os soldados pudessem estar procurando por eles e temia que sua ausência pudesse colocar os outros escravos em risco.
Durante a jornada de volta, o grupo foi constantemente seguido por um som distante, que aos poucos foi se aproximando deles. Era como se houvesse algo na selva perseguindo-os. O som foi ficando cada vez mais perto e alto, até que pôde finalmente ser identificado. Era uma flauta. O som de uma melodia de flauta, muito agradável, tomou conta de toda a selva ao redor dos heróis. Legolas pressentiu o perigo e tentou avisar seus companheiros para taparem os ouvidos, mas já era tarde demais para ele. Diante dos olhares aflitos de seus amigos, o elfo caiu em um sono profundo, como que hipnotizado pela música. Squall e Sairf seguiram em velocidade na direção de onde o som vinha, prontos para enfrentar um possível inimigo. Os dois entraram na selva escura e Squall, atingido com violência por alguma coisa, caiu aos pés de Sairf, completamente inconsciente.
O elementarista da água viu uma criatura grande e extremamente forte diante de si. Possuía o torso de um homem, mas tinha patas e chifres de bode. Era um sátiro. Sairf cobriu-se com uma névoa mágica, para confundir a visão de seu oponente. Porém, mesmo com a ajuda mágica, recebeu um poderoso golpe dos chifres do sátiro, assim como Squall, ficando à beira da morte.
O socorro veio rápido. Lucano ameaçou o ser da floresta com sua espada, sem atingi-lo, para ganhar tempo para prestar ajuda a Squall. Enquanto Anix buscava uma posição favorável no alto de uma árvore, Nailo e seu companheiro lobo cercaram o inimigo por trás. Porém, os ataques dos dois nada faziam ao monstro, que parecia ter uma pele muito resistente, além de ser muito habilidoso e bloquear os ataques dos inimigos.
Vendo-se cercado, o sátiro atacou o ranger, ferindo-o com os chifres e correu na direção onde Nailo tinha escondido Legolas atrás de uma árvore. Os heróis tentaram impedir o movimento do inimigo, mas nenhum de seus ataques surtia efeito. Anix e Squall, já recuperado, foram os únicos a conseguirem feri-lo, o primeiro com uma flecha e o segundo com magia.
Mas a criatura era poderosa demais para o grupo enfrentar naquelas condições. Squall se lembrou das flechas de sono de Guncha, e tentou, em vão, atingir o inimigo com uma delas, na esperança de encerrar o combate sem ferimentos mais graves para ambas as partes.
Enfurecido, o sátiro pôs-se a atacar com flechas aqueles que representavam uma ameaça para si. Anix desceu rapidamente da árvore para não ser ferido pelo oponente. Squall, entretanto, foi arremessado ao chão quase morto, com uma flecha cravada em seu peito. Enquanto disparava suas flechas, ele murmurava em seu idioma, a língua silvestre, palavras em tom de desafio aos jovens heróis.
_ Profanadores de Shinaipa Turud, vocês vão morrer seus malditos!!! – Anix e Nailo, fluentes no idioma das criaturas silvestres eram os únicos que entendiam as palavras do sátiro.
Nailo ainda tentou atingir o inimigo com a segunda flecha do sono, mas esta se perdeu na escuridão no meio da selva. Neste instante, Anix já largara suas armas para tentar dialogar e encerrar o combate, enquanto o lobo do ranger acordava Legolas de seu sono.
Anix perguntava ao sátiro o que era Shinaipa Turud, e lhe disse que ele e seus amigos não eram profanadores.
Shinaipa Turud era a montanha da ilha de Ortenko, considerada sagrada pelo sátiro por algum motivo. Os genasis haviam profanado a montanha sagrada. Imaginando que os heróis fossem aliados dos genasis, ele decidiu atacá-los.
Todos baixaram as armas, enquanto Anix e Nailo tentavam encerrar o combate pelo diálogo. Os dois conseguiram convencer o sátiro de que eram apenas escravos dos genasis e que tentavam fugir da ilha e dos seus algozes. O ranger propôs levá-lo embora da ilha junto com os outros escravos, caso desejasse. O sátiro decidiu acreditar nas palavras dos dois e pediu que o grupo o acompanhasse.

abril 01, 2005

Capítulo 14 - O paladino e o druida

O manto de Tenebra caiu sobre Arton e tudo se tornou escuro. Os heróis, assim como outros escravos, retornaram à sua cela no andar principal da mina. Lá todos uniram suas forças para tentar convencer Yczar a ajudá-los na fuga. Entretanto o paladino mostrava-se inflexível. Nenhum argumento surtia efeito sobre ele, parecia que nada seria capaz de fazê-lo mudar de idéia. Yczar tinha vindo de Altrin, sob ordens da igreja de Khalmyr para averiguar o que de estranho acontecia na ilha de Ortenko. A ordem havia ouvido rumores sobre escravidão e maus tratos ocorridos naquele lugar, uma grande injustiça que devia ser detida. Yczar foi incumbido encontrar a tal ilha, perdida no meio do mar Negro, e averiguar se o que diziam os rumores era verdade. Ao chegar na ilha, a barcaça contratada pelo paladino foi fulminada por Teztal. Os tripulantes saltaram no mar e conseguiram chegar à terra firme, para serem escravizados. O marujos que acompanhavam Yczar já haviam morrido há tempos, por desnutrição, doença ou pancadas. Somente Yczar sobrevivera. Durante dois anos, tentou várias vezes fugir. Organizou revoltas, planos de fuga, mas sempre foi capturado e torturado. Os outros escravos, mais fracos que ele, geralmente não resistiam à tortura e morriam. Yczar, entretanto, continuou vivo, assistindo às cenas de tortura e espancamentos, vendo seus companheiros sendo mortos. Durante seu cativeiro, ele fez amizade com Batloc e lhe ensinou os ensinamentos do líder do panteão. Batloc tornou-se um paladno também, discípulo de Yczar, mas o tutor de Batloc já não era mais o mesmo de antes. O paladino sentia-se abandonado por seu deus. Não se conformava com o fato de Khalmyr permitir que tais injustiças ocorressem, era como se o deus da justiça não existisse, ou não se importasse. Assim ele foi perdendo a fé e entrando numa depressão cada vez mais profunda, até se tornar quase um zumbi sem vontade própria. Mas Yczar não sabia que Khalmyr havia lhe escolhido para representá-lo na eliminação de Teztal e seus asseclas. Ele não sabia que teria um papel fundamental na derrocada final do genasi de platina. Mas Anix e seus amigos sabiam disso. Eles sabiam que Yczar, com os poderes recebidos de seu deus seria, o único capaz de se aproximar do Tarrasque e despertá-lo para matar Teztal. Eles só não sabiam como convencer Yczar disso.
Durante mais de uma hora eles tentaram, em vão, argumentar co Yczar. Ouviram sua história e conversaram com os outros escravos na esperança de que alguém tivesse uma idéia. Batloc chegou, fazendo sua ronda e contou aos heróis tudo que havia ocorrido com seu tutor. Segundo o genasi, Yczar agora se encontrava num estado de torpor, como estivesse em outro mundo. Acostumado a ver os escravos sendo maltratados, Yczar perdeu seu senso de justiça, aquela vida havia se tornado a coisa mais natural do mundo para ele. Seria necessário algo que o chocasse para trazê-lo de volta à realidade, somente alguma coisa realmente impressionante para reacender a chama da justiça em Yczar. Somente uma injustiça muito grande, um ato de extrema crueldade traria o paladino de volta a si. Algo como um sacrifício.
Legolas lembrou-se que Elesin seria sacrificado em poucos dias por Yczar, se o paladino presenciasse a cena, talvez despertaria de seu transe.
Com a ajuda das magias de Anix, os aventureiros puderam comunicar-se com o moribundo que se encontrava do outro lado da caverna. O elfo gesticulava e movia seus lábios enquanto Elesin o observava, compreendendo cada palavra, cada gesto, graças à ajuda da magia mensagem. Elesin, outrora um druida, estava há muito tempo na mina, escavando locais com alta concentração de salitre. Seus pulmões foram afetados e ele não tinha mais chances de viver. Somente com o poder de um clérigo poderoso, ou de um dos lendários médicos de Salistick ele teria alguma chance. Mas como era um leal devoto da deusa da natureza, Elesin estava conformado com sua morte. Em breve ele poderia encontrar sua deusa e isto o alegrava. Entretanto, a cerimônia do sacrifício era extremamente cruel como todos suspeitavam. O próprio Elesin já havia testemunha do uma vez o sacrifício de um de seus amigos. Teztal fulminava o sacrificado com seus raios solares. Enquanto gritava de dor, o sangue da vítima era sugado para dentro do colosso de pedra esculpido na montanha. Essa era a forma que Teztal havia encontrado para dar vida a estátua. Talvez ele precisasse de um certo número de vítimas para que sua criação se tornasse viva, por isso realizava periodicamente o sacrifício de um dos escravos. Elesin deveria escolher suas testemunhas, e uma delas deveria ser Yczar. O druida concordou em ajudar e em oferecer sua vida em sacrifício para que as vidas dos outros pudessem ser salvas. Mas para tal ele pediu um favor aos heróis. Ele não queria sentir a dor que seus companheiros haviam sentido no passado e pediu que os aventureiros encontrassem na floresta um certo cogumelo de cor roxa, com manchas amarelas e brancas, com o qual ele poderia fazer uma infusão que o anestesiaria, protegendo-o da dor. Assim, os heróis encontraram uma nova tarefa a cumprir. Batloc os ajudou, entregando-lhe duas cordas, sendo uma delas com um arpéu, para que pudessem escalar o paredão rochoso que separava o cemitério de navios da floresta na ilha. Sem perca de tempo, os heróis partiram para a missão.

Capítulo 13 - Encontro com o Tarrasque

Lanag, 29 sob Salizz
Após passarem um dia no navio de Guncha, os heróis foram conduzidos diretamente para o andar inferior da mina, onde a jazida de ouro descoberta pelo anão os aguardava. Lá, encontraram Vernt, com sue olhar assustadiço e suas mãos trêmulas. Com toda discrição, Squall lhe mostrou uma das flechas de sono de Guncha, prometendo entregá-la assim que o mineiro lhe mostrasse o local onde o monstro se encontrava. A expressão do mineiro encheu-se de felicidade. Agora, bastava que ele espetasse aquela flecha em seu corpo para conseguir dormir como há muito não fazia. O feiticeiro pediu a Vernt que lhe mostrasse o local onde havia encontrado o monstro, que concordou em fazê-lo. Porém, havia um empecilho, o genasi que vigiava o andar não iria permitir que o grupo se afastasse dos outros escravos. Era preciso distraí-lo de alguma forma. Enquanto todos pensavam em alguma maneira de tirar a atenção do guarda sobre eles, Nailo tomou uma atitude para redimir o ato covarde de outrora. O ranger foi até o barril de água, perto do soldado de cobre, fingiu tomar água e começou a reclamar da qualidade da mesma.
_ Essa água está envenenada, quero uma água melhor! – exigia o elfo em tom de desafio.
_ Cale-se, escravo, tome logo sua água e volte ao trabalho! – a pesada mão do genasi afundou a cabeça de Nailo dentro do barril d’água. Quando o ranger tirou a cabeça de dentro do barril, cuspiu toda a água que tinha em sua boca no rosto do guarda.
_ Escravo nojento, você vai ver do que sou capaz!
Como sempre, Nailo havia agido impulsivamente, sem pensar nas conseqüências, mas desta vez, sua imprudência traria benefícios aos seus amigos. O soldado passou a desferir socos e pontapés no ranger, até vê-lo inconsciente no chão. Com um olhar ameaçador, direcionado para os outros escravos como uma besta pronta para disparar, o genasi fez com que todos entendessem seu recado. Quem o desafiasse acabaria como o elfo. O guarda arrastou o corpo desfalecido de Nailo até o elevador e o levou até a cela do andar acima, deixando os escravos confinados no andar inferior sem vigilância. Era a chance que todos esperavam.
Vernt agiu rápido, correndo até o fundo da mina, acompanhado de Squall, Anix, Loand, Legolas, Lucano e Sairf. O homem começou a cavar rápido, pois teriam apenas poucos minutos até a volta do vigia. Então, de um buraco na parede, todos viram um espaço oco, aparentemente muito grande. Vernt correu desesperado, chocando-se contra as paredes, até junto dos outros escravos onde, tremendo de pavor, encolheu-se num canto escuro. Utilizando uma das tochas que forneciam luminosidade à mina, os heróis viram uma criatura imensa e bestial, em profundo sono no interior da montanha. Aquele ser era de uma monstruosidade tamanha, que ninguém conseguiu olhar para ela por muito tempo. Instintivamente, os aventureiros fecharam o orifício com uma pedra e afastaram-se do local, apavorados.
Era verdade, o monstro derrotado por Morkh Amhor no passado havia retornado a Arton de alguma forma, e estava dormindo sob Ortenko. Sem dúvida alguma, aquele era o adversário perfeito para derrotar Teztal. Não haveria forma melhor para distrair o genasi de platina do que o despertar daquela criatura. Mas quem iria acordar aquela fera? Nenhum deles tivera coragem para sequer olhar o monstro por mais que alguns segundos, quanto mais acordá-lo.
Parecia que os riscos corridos para conseguir ver aquela monstruosidade tinham sido em vão. Ninguém naquela mina, fossem os heróis, fossem os mineiros, teria condições de se aproximar do lendário Destruidor de Mundos para acordá-lo. Seria preciso alguém com uma coragem inabalável. Alguém que não temesse nada, com uma valentia sobrenatural para realizar tal tarefa. Precisavam de alguém com a coragem de um paladino para enfrentar tal desafio. Sim, um paladino era isso o que precisavam. Loand era um paladino de Khalmyr, mas ainda era jovem e tinha muito a aprender. Seria preciso um paladino mais velho e experiente, alguém como Yczar. Anix lembrou-se que Yczar também era um defensor da justiça, assim como Loand, mas muito mais experiente e poderoso. Entretanto, Yczar perdera sua fé dentro da mina de Ortenko. Os heróis precisavam descobrir alguma forma de reacender a chama da justiça no coração de Yczar para que ele pudesse ajudá-los. Essa era a próxima tarefa do grupo.