abril 01, 2005

Capítulo 14 - O paladino e o druida

O manto de Tenebra caiu sobre Arton e tudo se tornou escuro. Os heróis, assim como outros escravos, retornaram à sua cela no andar principal da mina. Lá todos uniram suas forças para tentar convencer Yczar a ajudá-los na fuga. Entretanto o paladino mostrava-se inflexível. Nenhum argumento surtia efeito sobre ele, parecia que nada seria capaz de fazê-lo mudar de idéia. Yczar tinha vindo de Altrin, sob ordens da igreja de Khalmyr para averiguar o que de estranho acontecia na ilha de Ortenko. A ordem havia ouvido rumores sobre escravidão e maus tratos ocorridos naquele lugar, uma grande injustiça que devia ser detida. Yczar foi incumbido encontrar a tal ilha, perdida no meio do mar Negro, e averiguar se o que diziam os rumores era verdade. Ao chegar na ilha, a barcaça contratada pelo paladino foi fulminada por Teztal. Os tripulantes saltaram no mar e conseguiram chegar à terra firme, para serem escravizados. O marujos que acompanhavam Yczar já haviam morrido há tempos, por desnutrição, doença ou pancadas. Somente Yczar sobrevivera. Durante dois anos, tentou várias vezes fugir. Organizou revoltas, planos de fuga, mas sempre foi capturado e torturado. Os outros escravos, mais fracos que ele, geralmente não resistiam à tortura e morriam. Yczar, entretanto, continuou vivo, assistindo às cenas de tortura e espancamentos, vendo seus companheiros sendo mortos. Durante seu cativeiro, ele fez amizade com Batloc e lhe ensinou os ensinamentos do líder do panteão. Batloc tornou-se um paladno também, discípulo de Yczar, mas o tutor de Batloc já não era mais o mesmo de antes. O paladino sentia-se abandonado por seu deus. Não se conformava com o fato de Khalmyr permitir que tais injustiças ocorressem, era como se o deus da justiça não existisse, ou não se importasse. Assim ele foi perdendo a fé e entrando numa depressão cada vez mais profunda, até se tornar quase um zumbi sem vontade própria. Mas Yczar não sabia que Khalmyr havia lhe escolhido para representá-lo na eliminação de Teztal e seus asseclas. Ele não sabia que teria um papel fundamental na derrocada final do genasi de platina. Mas Anix e seus amigos sabiam disso. Eles sabiam que Yczar, com os poderes recebidos de seu deus seria, o único capaz de se aproximar do Tarrasque e despertá-lo para matar Teztal. Eles só não sabiam como convencer Yczar disso.
Durante mais de uma hora eles tentaram, em vão, argumentar co Yczar. Ouviram sua história e conversaram com os outros escravos na esperança de que alguém tivesse uma idéia. Batloc chegou, fazendo sua ronda e contou aos heróis tudo que havia ocorrido com seu tutor. Segundo o genasi, Yczar agora se encontrava num estado de torpor, como estivesse em outro mundo. Acostumado a ver os escravos sendo maltratados, Yczar perdeu seu senso de justiça, aquela vida havia se tornado a coisa mais natural do mundo para ele. Seria necessário algo que o chocasse para trazê-lo de volta à realidade, somente alguma coisa realmente impressionante para reacender a chama da justiça em Yczar. Somente uma injustiça muito grande, um ato de extrema crueldade traria o paladino de volta a si. Algo como um sacrifício.
Legolas lembrou-se que Elesin seria sacrificado em poucos dias por Yczar, se o paladino presenciasse a cena, talvez despertaria de seu transe.
Com a ajuda das magias de Anix, os aventureiros puderam comunicar-se com o moribundo que se encontrava do outro lado da caverna. O elfo gesticulava e movia seus lábios enquanto Elesin o observava, compreendendo cada palavra, cada gesto, graças à ajuda da magia mensagem. Elesin, outrora um druida, estava há muito tempo na mina, escavando locais com alta concentração de salitre. Seus pulmões foram afetados e ele não tinha mais chances de viver. Somente com o poder de um clérigo poderoso, ou de um dos lendários médicos de Salistick ele teria alguma chance. Mas como era um leal devoto da deusa da natureza, Elesin estava conformado com sua morte. Em breve ele poderia encontrar sua deusa e isto o alegrava. Entretanto, a cerimônia do sacrifício era extremamente cruel como todos suspeitavam. O próprio Elesin já havia testemunha do uma vez o sacrifício de um de seus amigos. Teztal fulminava o sacrificado com seus raios solares. Enquanto gritava de dor, o sangue da vítima era sugado para dentro do colosso de pedra esculpido na montanha. Essa era a forma que Teztal havia encontrado para dar vida a estátua. Talvez ele precisasse de um certo número de vítimas para que sua criação se tornasse viva, por isso realizava periodicamente o sacrifício de um dos escravos. Elesin deveria escolher suas testemunhas, e uma delas deveria ser Yczar. O druida concordou em ajudar e em oferecer sua vida em sacrifício para que as vidas dos outros pudessem ser salvas. Mas para tal ele pediu um favor aos heróis. Ele não queria sentir a dor que seus companheiros haviam sentido no passado e pediu que os aventureiros encontrassem na floresta um certo cogumelo de cor roxa, com manchas amarelas e brancas, com o qual ele poderia fazer uma infusão que o anestesiaria, protegendo-o da dor. Assim, os heróis encontraram uma nova tarefa a cumprir. Batloc os ajudou, entregando-lhe duas cordas, sendo uma delas com um arpéu, para que pudessem escalar o paredão rochoso que separava o cemitério de navios da floresta na ilha. Sem perca de tempo, os heróis partiram para a missão.

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