abril 29, 2005

Capítulo 25 - A chama da justiça volta a brilhar

O sol finalmente raiou e os genasis entraram na mina gritando e dando chicotadas no ar. Todos acordaram, já com as energias repostas e se prepararam para o trabalho. Um a um os escravos iam saindo da cela, recebendo as ferramentas e se dirigindo aos postos de trabalho indicados pelos genasis. Entretanto, quando chegou a vez dos heróis saírem para trabalhar, foram barrados pelos soldados. Yczar também ficou na cela.
_ Vocês, os novatos da ilha, vão ficar dentro da cela junto com esse inútil até segundas ordens! – a notícia dada pelo capataz encheu de temor os bravos corações dos heróis. Todos temiam que algo ruim lhes fosse acontecer, ou que Teztal tivesse descoberto que eles haviam matado o soldado de cobre.
Todos se entreolhavam, confusos, quando perceberam a presença de Teztal dentro da mina, encarando-os.
_ Muito bem, vermes imprestáveis, vocês foram escolhidos para testemunharem a cerimônia do sacrifício. Venham comigo. – Como de costume, Teztal falava pausadamente, demonstrando muita calma e confiança. Entretanto, seu olhar frio e cruel, mostrava que toda aquela calma servia de manto para esconder um monstro sanguinário.
Guiados por uma comitiva de soldados de cobre, os heróis seguiram junto com Yczar para fora da caverna. Ao saírem, viram o pobre Elesin sendo carregado com desleixo pelos outros soldados. Qualquer dúvida restante foi desfeita neste momento. Aquele Morag, dia 03 do mês de Terraviva, seria o dia da morte de Elesin.
Teztal ia bem à frente do grupo, escoltado pelos genasis, subindo a quase interminável escadaria de seu zigurate. Ao chegarem no topo da pirâmide, depararam-se com uma vista maravilhosa da ilha. Era possível enxergar muitas léguas mar adentro, confirmando a previsão de que Teztal poderia eliminar um barco com seus poderes mesmo que este estivesse muito longe. A brisa fresca da manhã soprava nos rostos dos aventureiros enquanto eles admiravam a paisagem. Era possível ver o navio de Guncha e a praia com clareza. Também era possível visualizar o local por onde sairia o Liberdade, quando estivessem partindo de Ortenko. Enquanto apreciavam a vista, os soldados colocavam Elesin sobre um altar de pedra.
_ Vocês, limpem a oferenda, para que ele esteja puro para o sacrifício. – a voz tranqüila de Teztal destruiu a sensação de bem estar causada pela paisagem.
Enquanto Teztal se preparava, Yczar e os heróis limpavam o corpo frágil de Elesin com panos umedecidos entregues pelos soldados. Elesin os olhava com uma expressão de felicidade e gratidão. Estava feliz, pois seu sofrimento terminaria e ele poderia encontrar sua deusa querida. E grato porque, graças aos jovens heróis, ele não sentiria dor alguma. Todos sentiam uma grande tristeza por participarem daquele ato vil. Mas sabiam que não havia nada a se fazer com todos aqueles soldados em volta, e com o próprio Teztal presente. Entre os soldados, um rosto conhecido trazia um pouco de esperança para o grupo. Batloc estava presente, pronto para ajudar os heróis quando fosse necessário.
O altar de pedra tinha uma leve inclinação e terminava nas costas do enorme colosso de pedra construído por Teztal. Canaletas em suas laterais faziam com que as gotas d’água fossem conduzidas na direção da estátua. No final das canaletas havia uma abertura, nas costas da estátua, para receber todo o líquido escorrido.
Elesin foi limpo e teve suas mão e pés acorrentados ao altar. Teztal se aproximou do pobre homem, ficando entre Legolas e Yczar. Fitou cada uma dos presentes com um olhar gélido e, com sua voz calma, disse:
_ Todos vocês, prestem muita atenção ao que vai acontecer aqui neste momento, pois se vocês sobreviverem ao trabalho na mina, um dia vocês também terão a honra de serem sacrificados.
As palavras do genasi de platina causaram temor e revolta em todos, menos em Yczar. O paladino mais parecia um zumbi sem vontade própria e obedecia cegamente às ordens de Teztal.
O algoz elevou suas mão para o alto murmurando uma prece num idioma profano. Em coro os soldados em volta repetiam as mesmas palavras em voz baixa. O sol começou a brilhar ainda mais forte e um raio incandescente desceu do astro incidindo diretamente sobre Elesin. O corpo do pobre homem se contorceu num violento espasmo. As correntes foram esticadas ao máximo e começaram a ferir os pulsos e tornozelos do sacrificado. Uma luz cegante envolvia o corpo de Elesin que ia murchando pouco a pouco, até restar apenas a pele toda queimada, sobre o esqueleto do pobre homem. O sangue do sacrificado escorria pelas canaletas até dentro do corpo do colosso de pedra, alimentando a estátua para que esta pudesse se levantar algum dia. O raio luminoso desapareceu, restando apenas a carcaça ressecada de Elesin sobre o altar. O odor de carne queimada tomou conta do ambiente e o coro dos genasis cessou, dando lugar ao silêncio. Um silêncio que foi quebrado por um grito de fúria que ecoou até o horizonte distante.
_ Maaaldiiiitoooooo!!!!!!!! – Yczar, saia de seu transe após muito tempo, saltando sobre Teztal com o punho fechado brilhando como um raio. – Desgraçado, eu vou matá-lo! Vou punir seus atos em nome de Khalmyr!!!
O punho reluzente do paladino atingiu em cheio o rosto de Teztal. O poder do deus da justiça, evocado por Yczar, fez com que o genasi cuspisse sangue sobre o altar de pedra. Teztal foi ao chão quando Yczar saltou em suas costas golpeando-o. Anix sentiu que era o momento de eliminar o genasi e lançou um míssil mágico no seu rosto. Legolas também aproveitou a chance, sacando a adaga oculta na bota e cortando um pedaço do manto de Teztal.
Os soldados interviram rápido, tirando Yczar de cima de Teztal e surrando tanto o paladino quanto os heróis. Mesmo com Batloc ajudando disfarçadamente os heróis, Anix foi espancado até perder a consciência. Yczar, caído no chão quase desmaiado foi chutado covardemente por Teztal.
_ Seu maldito! Você será o próximo sacrificado, pode começar a rezar, desgraçado!
Aquele foi o único momento em que Teztal pedeu a postura. Sua voz, outrora calma e suave, agora era mais perfeita representação do ódio e da maldade sobre o mundo de Arton. Aos gritos o genasi ordenou que os soldados levassem os escravos de volta para a mina. Assustados, os genasis de cobre obedeceram sem pronunciar uma só palavra. Levaram os heróis até a cela e os atiram dentro da mesma debaixo de socos e pontapés. Anix, desmaiado, foi arremessado dentro da prisão, sem cuidado nenhum, indo de encontro ao chão, aumentando ainda mais suas contusões. Após alguns minutos de agonia e espera, os soldados trouxeram Yczar, arrastando seu corpo quase desfalecido. Jogaram-no na cela da mesma forma que fizeram com Anix. O paladino, levantou seu corpo todo ferido e se encostou na parede, a cabeça baixa como de costume, sem pronunciar uma palavra sequer. Parecia que tudo estava perdido. Yczar tinha voltado ao seu estado de torpor após um breve despertar. Os soldados jogaram baldes d’água na cela, justificando que o grupo precisava esfriar a cabeça. Provocaram Yczar, dizendo que tinham ordens de dobrar as surras dadas no paladino. Yczar permanecia como que em transe, com a cabeça baixa. Então, quando os soldados se foram, o paladino de Khalmyr levantou sua cabeça lentamente, encarando os heróis com olhos brilhantes e cheios de fúria. Moveu seus lábios todos sujos de terra e disse com voz firme:
_ Quando será a nossa fuga??? – Yczar estava de volta.

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