abril 29, 2005

Capítulo 24 - Um corpo na mata

O amanhecer do Tirag chegou mais cedo do que todos esperavam. Mal haviam adormecido e Enola já os chamava, com o sol quase raiando no horizonte. O 2º dia do mês Terraviva começava com o céu limpo e claro. Os heróis se apressaram em sair e correram floresta adentro em direção a Shinaipa Turud. No meio do caminho encontraram Nailo que dormia sobre uma árvore. Novamente reunido, o grupo retornou rapidamente para o cemitério de navios. Legolas improvisou uma gaiola para o seu coelho dentro do navio. Os heróis guardaram seus equipamentos e retornaram para a mina no exato momento em que o sol raiava e os soldados chegavam para acordar os escravos.
Foi um dia longo e cansativo. Após uma noite cheia de combates e desafios, os heróis estavam exaustos. As poucas horas mal dormidas na morada da ninfa foram insuficientes para restaurar as forças do grupo. Todos desejavam que não tivessem que lutar naquele dia, pois não teriam condições para isso.
Após um penso dia, todos retornaram à cela e, exaustos, tinham em mente apenas um pensamento, dormir. Enquanto os heróis se acomodavam nos desconfortáveis colchões de palha da cela, os outros escravos desciam para o navio, afim de terminar o quanto antes as obras de reparo da nau. Já era noite, pouco antes da hora do “jantar” ser servido, quando uma agitação por parte dos genasis despertou a atenção de todos. Os vigias que guardavam o andar inferior e o andar superior da mina saíram de seus postos e ficaram na entrada da mina, olhando aflitos para o lado de fora. A distração dos soldados permitiu que algo exótico acontecesse na mina. O elevador que conduzia ao andar de baixo do complexo começou a se mover. Todos ficaram curiosos, pois o vigia do andar já não estava mais lá. Quem então estaria subindo para o andar principal? Então a resposta veio junto com a surpresa. Com seus olhos esbugalhados e trêmulos, Vernt, o mineiro louco, subiu ao andar principal e foi direto à cela dos aventureiros, ao encontro de Squall.
_ Eu quero a flecha! Você prometeu que ia me dar, eu quero dormir, me dê!!! – exigia o pequeno homem, todo agitado e eufórico.
_ Depois eu te entrego, agora volta lá pra baixo! Eu dou um jeito de descer lá e te entrego a flecha depois! – Squall tentava acalmar Vernt para que ele saísse dali antes que os soldados o notassem.
_ Não, que quero agora, vou falar pro guarda que você não quer me dar, eu vou gritar!!! – Vernt já estava quase gritando, quando Nailo abriu o túnel secreto para buscar a flecha que tinha em sua mochila. Entretanto, o egoísmo falou mais alto dentro do coração do ranger, fazendo com que ele tomasse uma nova atitude suja e covarde, que poderia por em risco a chance de fuga e a vida de todos naquele local. Quando ia entregar a flecha para Vernt, Nailo voltou atrás e decidiu guardar o objeto para si. O mineiro entrou em desespero, chacoalhando as grades da cela, falando alto e movendo seus olhos freneticamente. Vernt começou a gritar, mas antes que o som pudesse sair de sua boca, recebeu um soco no rosto de um dos heróis, interrompendo sua ação. Cuspindo sangue e dentes, o mineiro preparava-se para chamar os guardas, quando Squall o interrompeu dizendo que lhe entregaria a flecha.
O feiticeiro desceu no túnel, até o local onde tinha deixado seu equipamento. Apanhou a flecha e retornou para a cela rapidamente, entregando o projétil para Vernt.
Os olhos trêmulos do mineiro se fixaram no objeto em suas mão, brilhando e cheios de lágrimas. Era visível a felicidade do homem por conseguir apenas uma chance de ter uma única noite de sono, fato que permitia imaginar os horrores que ele sofria desde o dia em que encontrara com o Destruidor de Mundos.
De posse da flecha, Vernt retornou para o piso inferior da mina saltitante como uma lebre e gritando “Consegui, consegui!!!”, completamente eufórico. Os dois guardas, que vigiavam a entrada da mina, ouviram os gritos e foram averiguar o que estava acontecendo. Foram até a cela dos heróis e com os chicotes prontos para atacar, exigiram explicações sobre a gritaria.
_ Quem é que está gritando ai? Calem-se!!! – disse um dos vigias.
_ Fui eu que gritei! Consegui!!! Consegui!!! – respondeu Legolas, tentando enganar os guardas para que eles não percebessem nada.
_ E por que você está gritando que conseguiu, seu imprestável? Conseguiu o que pra ficar gritando? Acho bom você parar com isso, ou vai levar uma surra!
_ Mas eu consegui! Dois e dois são quatro, consegui!!! – Legolas arregalou os olhos para parecer insano e, enquanto mostrava os dedos para os soldados, fazia a soma, como se aquilo fosse a descoberta do século.
Os genasis, acostumados a ver homens enlouquecendo durante o penoso trabalho escravo na mina, pensaram que Legolas era apenas mais um que havia perdido a sanidade, e ignoraram a atitude do elfo. Mandaram que ele se calasse e dormisse, sem suspeitar da visita de Vernt ao andar.
Os guardas já estavam retornando para a entrada da caverna, quando Nailo chamou um deles, exigindo que fosse levado para o andar superior da mina. O soldado se negou a atender o pedido, obviamente, e ordenou que Nailo fosse dormir. Mais uma vez, o ranger agiu impulsivamente, pondo em risco a sobrevivência de todos os seus companheiros e dos homens escravizados por Teztal. Com a mão fechada, Nailo tentou golpear um dos soldados. Seu golpe não atingiu o alvo, ele recebeu uma chicotada e se calou. Felizmente os soldados pareciam estar preocupados demais com o que se passava lá fora e deixaram que o desacato cometido por Nailo passasse impune desta vez. Não fosse por isso, com certeza o alarme de rebelião seria dado, e os soldados entrariam na cela espancando todos os escravos como de costume. Se isso acontecesse, certamente eles descobririam os bonecos de palha sob os cobertores, que substituíam os trabalhadores que cuidavam dos reparos do navio. Túnel secreto seria descoberto, as chances de fuga iriam por água abaixo, e todos os escravos daquela cela, inclusive Nailo e seu grupo, seriam mortos apara servir de exemplo para os demais. Por sorte, ao menos desta vez, a estupidez do ranger não causou prejuízo àqueles que o cercavam. Entretanto, um dia essa sorte poderia acabar.
Com os soldados mais calmos, após o ato imprudente de Nailo, Anix aproveitou para sondar o que estava acontecendo. Perguntou aos guardas o que se passava lá fora, e recebeu a resposta, dada por Lagunf, de forma rude e apressada.
_ Encontraram um corpo na mata! Um dos nossos amigos! Agora calem-se e durmam, ou levarão uma surra!
Todos já sabiam do que se tratava, restava agora saber se o plano criado por Batloc funcionaria para enganar os homens de Teztal. Sem nada a fazer, a não ser orar aos deuses para que tudo desse certo, os heróis caíram no sono, derrotados pelo cansaço.
Já era madrugada quando Batloc assumiu seu posto na guarda da mina. O único genasi que servia às forças do bem acordou os heróis em sua cela.
_ Pessoal acordem! Tudo bem com vocês? O plano deu certo, eles acreditaram que o Sogmin foi morto em combate com um animal selvagem. Graças a Khalmyr tudo correu bem. Fiquem descansados e se precisarem de alguma coisa, me chamem!
As palavras do soldado eram tudo o que os aventureiros desejavam ouvir. Agora tinham certeza o plano de fuga continuava em segredo. Legolas perguntou a Batloc quando Elesin seria sacrificado por Teztal. Em um ou dois dias, foi a resposta do genasi. Legolas se levantou e foi até a gruta onde os operários trabalhavam no navio. Alimentou o seu coelho e pediu aos trabalhadores que voltassem à mina para que seus amigos pudessem sair. Desceu do navio levando sua adaga escondida dentro de sua bota, prevendo os acontecimentos que estavam por vir. Enquanto os escravos retornavam pelo túnel, viu um deles pintando com betume o nome “Liberdade” no casco do navio. Lembrando emocionado daquele que os conduzira em segurança até a ilha de Ortenko, sugeriu que o nome fosse trocado para Lázarus, o navio afundado do capitão Tyn.
_ Mas senhor Legolas, dá azar batizar um navio com o nome de outro que já afundou!
_ Tudo bem! Então eu sugiro outro nome. Termine de escrever “Liberdade”, mas acrescente o nome “Arthur Tyn” na popa do navio, como homenagem ao capitão que me trouxe até aqui. Com lágrimas nos olhos, Legolas retornou para a cela. O pintor acatou a sugestão do elfo sem objeções, pois sabia que sem Arthur Tym, Legolas e os outros jamais teriam chegado na ilha para libertá-lo e aos seus amigos. O homem desceu do navio e retornou também para a mina.
Os operários do navio entraram na cela e cederam seu lugar para os heróis saírem para o cemitério dos navios. Anix e Sairf abriram seus grimórios e começaram a preparar as suas magias, assim, quando o sol nascesse, em poucas horas, estariam prontos para enfrentar qualquer desafio que surgisse. Squall se encostou na parede do túnel e entrou em meditação profunda. Quinze minutos após, sua mente e seu corpo estavam novamente prontos para lançar magias. Enquanto isso, Lucano orava a Glórien, agradecendo por terem superado os desafios anteriores, e pedindo à deusa dos elfos que lhe concedesse seu poder sagrado.
Depois de cerca de uma hora, todos retornaram para a cela. Lucano e Loand foram os últimos a retornar. O bom clérigo usou os poderes dados pela sua deusa para reparar a espada do paladino. Foi necessário o uso de três feitiços para reparar a lâmina quebrada da bastarda, mas ao final do processo, a espada de Loand estava inteira novamente, pronta para enfrentar os desafios que estavam por vir.
Os heróis voltaram a dormir durante as poucas horas que faltavam para o nascer do sol. Um novo grupo de mineiros descansado desceu pelo túnel para continuar os reparos no navio. Os escravos trabalhavam constantemente, revezando-se em turnos, para que as obras estivessem prontas antes da próxima contagem de escravos, o dia escolhido para a fuga.

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