fevereiro 22, 2007

Campanha B - Capítulo 18 – Prisões...o fim da missão

Capítulo 18 Prisões...o fim da missão

Serena e Nirvana atravessaram a rua, furtivamente, para não denunciarem o esconderijo de seus companheiros, caso seu disfarce falhasse. Estavam vestidas como duas prostitutas, com as roupas curtas e exageradamente decotadas, maquiagem chamativa e perfumes fortes e provocantes, assim como o modo como andavam, rebolando e exibindo as belas e atraentes curvas que seus corpos possuíam. Passaram lentamente diante da carroça, onde um humano conversava com o líder dos goblins que tinham pegado a pólvora pouco antes. Ouviram-no ordenar ao pequenino que deixasse algo, talvez a pólvora, num tal depósito, que somente os dois conheciam. E viram quando o homem recebeu do pequeno monstro uma grande e pesada sacola, cujo balançar emitia o som de moedas tilintando. Ouviram quando o goblin, ao entregar o dinheiro, acatou a ordem e o chamou pelo nome, Daniel. As duas sorriram, tentando despertar o interesse do homem, mas continuaram andando, mais lentamente, até se afastarem vários metros dos dois.

Então, o tal Daniel se despediu secamente do goblin e partiu, indo na mesma direção das duas mulheres. Mas, virou à direita em um beco que estava atrás delas, logo depois da taverna, e desapareceu. Nirvana e Serena retornaram e entraram também no beco. O homem estava no fundo da estreita e escura viela, preparando um cavalo jovem e robusto para partir. As duas pararam perto da entrada do beco e sorriram maliciosamente para o homem.

_ Olá, senhoritas! Posso ajudá-las? – Daniel sorriu e acenou com a cabeça, num gesto simpático. Sua voz era grave e ele falava devagar, enquanto admirava os belos corpos das damas.

_ Claro! A gente estava procurando companhia! Será que você teria um tempinho para gastar dando atenção a duas garotas solitárias? – Nirvana se adiantou a Serena, aproximando-se do homem de forma sedutora.

_ Mas é claro que sim! Sempre tenho tempo para mulheres lindas como vocês duas! O que acham de me acompanharem até a minha casa para nos divertirmos um pouco? – sussurrou o homem no ouvido de Nirvana.

_ Ótima idéia! Vamos lá, então! – responderam as duas. – Mas, você não está ocupado, está? Se você tiver algo para fazer, podemos esperar você resolver antes de irmos pra sua casa!

_ Não se preocupem! Nada é mais importante que uma companhia tão agradável! O resto pode esperar! Vamos embora! – concluiu Daniel.

O homem subiu em seu cavalo, e estendeu sua mão para Nirvana, que se sentou de frente para ele, e depois para Serena, que ficou atrás. Abraçou Nirvana com o braço direito, colando seu rosto no dela, enquanto segurava as rédeas. A mão direita desceu vagarosamente através da coxa de Serena, terminando num apertão abusado. Serena rangeu os dentes de ódio, mas conseguiu se conter. Já Nirvana estava tão à vontade no seu disfarce que parecia estar realmente se divertindo com tudo aquilo. O homem esporeou o cavalo e os três partiram.

Tempos depois, chegaram a um sobrado alto e estreito, que ficava numa região mais nobre da cidade. Daniel apeou do cavalo e ajudou suas acompanhantes a descerem, sempre aproveitando para tocar e alisar seus belos corpos com intimidade. Entraram. Daniel lhes apontou uma escada no final do corredor de entrada, e pediu para que elas o esperassem no quarto que ficava no andar superior. Disse que iria guardar umas coisas, antes de se juntar às moças. Nirvana concordou e foi para o quarto, Serena, entretanto, pediu para tomar um pouco d’água antes de subir. O bandido lhe mostrou uma porta antes da escada, onde ficava a cozinha, e disse para Serena se servir à vontade, prometendo levar uma bebida mais adequada para o quarto assim que fosse para lá. Serena entrou na cozinha e, quando ouviu o homem entrando numa outra sala próxima, voltou pé-antepé para espionar. Viu Daniel removendo um quadro da parede, revelando um cofre de aço. E ele pegou um molho de chaves que carregava no cinto, abriu o cadeado que trancava o cofre e guardou lá a bolsa de moedas que o goblin havia lhe dado.

Serena voltou velozmente para junto de Nirvana, que já aguardava no quarto de Daniel totalmente nua. Nas mãos da feiticeira estava um lençol, todo enrolado para servir de corda, e ela girava o tecido em suas mãos de forma sensual, enquanto passava a língua nos lábios de modo provocante. Então, após trancar e ocultar o cofre, Daniel finalmente entrou no quarto, trazendo uma garrafa de vinho e três taças.

_ Quem foi um menino mau? – perguntou Nirvana, encarando o homem com um olhar malicioso. Serena ronronava sobre a cama, enquanto arranhava o ar com as mãos como se fosse um gato.

_ Eu! Eu fui um menino malvado! Punam-me! Castiguem-me! – respondeu o homem, atirando-se na cama entra as duas mulheres.

Nirvana e Serena amarravam as mãos e pés do homem, enquanto o provocavam e despiam. Ele, por sua vez, beijava, cheirava e lambia os seus corpos suados, enquanto pedia para ser punido e castigado. Quando terminaram, Daniel estava totalmente nu e imobilizado sobre a cama, com braços e pernas firmemente amarrados. Estava totalmente indefeso, conforme desejavam as duas mulheres. Nirvana e Serena desceram da cama, a feiticeira começou a vestir novamente sua roupa, para desespero do rapaz.

_ Ei, o que estão fazendo! Já terminaram? Vamos lá garotas, eu fui um garoto malvado! Castiguem-me! – reclamou Daniel.

_ Agora você vai falar com a gente! – disse Nirvana. Sua voz era fria, tanto quanto seu olhar, carregado de crueldade. Pegou uma adaga, que tinha sido emprestada por Kallas ainda no beco, e colocou a lâmina embaixo dos testículos do homem, forçando-os para cima até quase cortá-los. – Agora fale seu desgraçado! Pra quem você trabalha? Nós já sabemos do seu negócio com a pólvora! Trate de responder direitinho, senão vou ter que arrancar um pedaço de você! – gritou, por fim, Nirvana.

Daniel tentou fingir que não sabia de nada e que tudo era um engano. Mas, a cada desculpa inventada, Nirvana pressionava com mais força a adaga, até que uma gota vermelha escorreu pelo fio da arma. Serena olhava como se sentisse prazer ao ouvir o homem gritando de dor.

_ Está bem! Eu falo tudo que quiserem saber! Eu não sei o nome da pessoa que comanda a operação, só sei que vou encontrar com ele daqui a dois dias, naquela mesma taverna onde eu as encontrei! – choramingou o homem.

­_ Vocês estão traficando pólvora e extorquindo os comerciantes, certo? Bem, isso nós já sabemos! Mas e quanto ao dono da taverna, qual é o envolvimento dele nisso? Conte logo ou serei obrigada a arrancar essas suas bolinhas! – ameaçou Nirvana.

_ Eu conto, eu conto! A taverna é um ponto de venda de Achbuld, um tipo de erva alucinógena! As pessoas a tomam com vinho! – respondeu.

_ E o que mais você sabe?

_ É só isso, não sei de mais nada!

_ Tem certeza? E essa coisa mole aqui? Acho que você não vai mais precisar disso aqui! Eu vou cortá-lo e jogá-lo pela janela se você não me contar tudinho! – Nirvana gritou e ameaçou, enquanto cutucava o pênis do assustado homem com a ponta de sua adaga.

Daniel gritou e chorou suplicando piedade e dizendo não saber de mais nada. Nirvana passava a lâmina da adaga nas partes intimas, quase as arrancando. E, como o homem não cedeu nem mudou seu discurso, Nirvana acreditou que ele estava dizendo a verdade e nada mais poderia ser arrancado dele que não fosse pedaços de seu corpo esguio. Após um sinal da companheira, Serena pegou um vaso de flores que estava sobre uma cômoda e com ele golpeou a cabeça do homem várias vezes, até que ele ficasse inconsciente. Nirvana voltou a se vestir, e as duas desceram para o térreo, deixando Daniel amarrado e desacordado sobre sua própria cama. A elfa pegou o molho de chaves que o homem carregava, e com ele destrancou o cofre oculto atrás do quadro. Pegaram a bolsa cheia de moedas de ouro que havia sido entregue pelos goblins, também três belos rubis vermelhos que estavam ali guardados e alguns papéis. No meio de toda aquela papelada, as duas descobriram várias anotações que serviam de balanço da movimentação financeira da gangue. Estavam ali anotados todos os valores obtidos através da extorsão, do tráfico de pólvora e da venda ilegal de achbuld. Eram as provas que elas precisariam para colocar o homem na cadeia e encerrar todo aquele caso. Além disso, havia também a escritura da casa onde estavam, cujo titular era um tal Leonardo Nymm, mas as duas não se importaram com o nome já que criminosos costumavam usar vários nomes falsos em seus negócios escusos, talvez a própria escritura fosse uma falsificação. As duas mulheres reuniram todas as provas que precisavam, guardaram para si os objetos de valor e partiram.

Tempos depois, as duas jovens estavam reunidas com seus amigos, na taverna onde Myrian e Susrak aguardavam já fazia um bom tempo. Cada dupla contou aos demais tudo o que tinha visto e acontecido e todos juntos se dirigiram até o posto da milícia onde tinham se oferecido para investigar. Contaram ao capitão tudo que haviam descoberto em sua investigação e lhe entregaram todas as provas, com exceção do dinheiro e jóias que eles guardaram para si (nada mais justo para recompensá-los por todo o trabalho que haviam tido). Juntamente com os soldados da milícia, foram a todos os lugares em que haviam estado. Os soldados prenderam o pirata que havia ficado amarrado no sobrado, invadiram o depósito de pólvora, levando presos três homens que o vigiavam, prenderam o sub-líder da quadrilha, que havia sido amarrado por Nirvana e Serena e, por fim, invadiram a pequena arena onde Lohranus havia soltado o suposto lobo de Myrian, e prenderam o vigia nocauteado pelo minotauro horas antes. O único lugar não visitado foi a taverna Bom Aroma, pois o capitão da milícia decidiu esperar passarem dois dias para prender o líder de toda aquela guilda criminosa e assim terminar de vez com os distúrbios provocados por ela.

Assim, o capitão agradeceu pelos serviços prestados ao reino e prometeu pagar a esperada recompensa na noite seguinte, quando ele voltasse para o posto da milícia, já que o dia estava quase raiando e seu turno terminando. O grupo de aventureiros, agora um grupo de heróis, retornou para seus afazeres, à espera de uma nova chance de se aventurar. Nirvana retornou para sua joalheria e para sua família. Seu pai ficou orgulhoso quando ouviu a história da aventura vivida por sua filha. Já sua mãe, ficou temerosa, e pediu a Nirvana que não se arriscasse daquele jeito outra vez. Lohranus, Kallas e Serena retornaram para a estalagem Olho de Grifo, local onde haviam se conhecido, e ali se instalaram. Myrian também foi com eles para descansar e recomeçar a busca por Grandwolf no dia seguinte. Susrak finalmente voltou para a casa de seus pais, que o receberam com emoção. Assim, cada um voltou à sua própria rotina, a cuidar de sua vida particular, mas, a separação teria duração curta, já que no próximo crepúsculo eles se reencontrariam para buscar a recompensa e dividirem os lucros daquela aventura. E mais, Nirvana prometeu que levaria todos os seus novos amigos para um jantar em sua casa, para lhes apresentar seus pais e tornar mais fortes os laços de amizade que eles haviam firmado naqueles poucos dias em que estiveram juntos. E a paz voltou a reinar nas vidas dos aventureiros, ao menos por algum tempo.

fevereiro 15, 2007

Campanha B - Capítulo 17 – Entregas misteriosas

Capítulo 17 Entregas misteriosas

Lohranus espreitava do beco as ações de seus companheiros. Seus olhos viram Nirvana e Serena passando na frente da taverna como se fossem duas prostitutas e nesse instante, seus instintos de minotauro afloraram e ele percebeu como as duas companheiras de batalha eram belas e formosas. Seus olhos viram quando o homem que conversava com o goblin foi embora e desapareceu em uma viela próxima, e viram também quando as duas moças voltaram e entraram no mesmo beco. Pouco tempo depois as duas saíram do beco a cavalo junto com o homem, enquanto Kallas entrava na taverna para investigar. E Nirvana parecia estar se divertindo tanto, esfregando seu corpo no do homem, que Lohranus chegou a questionar se aquilo seria somente uma encenação realmente. Mais alguns instantes de espera e os dois goblins, que tinham entrado na taverna, finalmente voltaram e partiram com seu líder em sua carroça. Lohranus reuniu seu equipamento e embainhou sua poderosa espada. Colocou os cavalos no fundo do beco, onde não pudessem ser vistos por algum ladrão oportunista, e partiu no encalço da carroça. Passou diante da taverna sem nem olhar para seu interior, afim de não chamar a atenção de possíveis inimigos.

O minotauro seguiu a pé a carroça dos goblins por vários quilômetros. Por sorte, o veículo pesado, bem como sua perigosa carga, aliados à preguiça natural daquelas criaturas, faziam com que o carroção se deslocasse vagarosamente pelas ruas escuras da cidade, facilitando o trabalho de Lohranus. Assim, os três criminosos conduziram o homem-touro até seu esconderijo, sem nem tomar conhecimento disso.

A carroça parou diante de um enorme armazém, numa rua tomada de galpões e depósitos de grandes proporções. Um homem saiu de lá de dentro e abriu um pesado portão. Os goblins desceram vagarosamente cada um dos caixotes da carroça e os levaram um a um para dentro do galpão. Minutos depois, retornaram trazendo um outro caixote, diferente dos demais, mas de proporções semelhantes. Colocaram-no na carroça e partiram.

Lohranus saiu novamente no encalço dos três, correndo e se escondendo atrás de árvores, postes, casas e becos. Perseguiu-os por vários minutos mais, até vê-los parando em frente a outro galpão distante do anterior. Esse galpão, no entanto, parecia não possuir telhado, ao contrário do outro onde eles haviam parado antes. Possuía paredes muito altas e sem janelas, e tinha mais de vinte metros de largura na sua fachada e mais do que o dobro de profundidade, indo até a rua vizinha. Lohranus ficou observando-os, escondido atrás de uma casa no início da rua, e viu uma coruja alçar vôo de uma casa próxima e passar perto dele num rasante. O minotauro olhou para trás e viu que Kallas chegava com os cavalos do grupo para auxiliá-lo.

Juntos, o mago e o bárbaro permaneceram escondidos, enquanto os goblins descarregavam o caixote de madeira e entravam na construção sem telhado. Alguns minutos depois, saíram do prédio e foram embora, desta vez, com a carroça vazia. Os dois aventureiros aguardaram até que eles estivessem muito distantes, e foram até o barracão. A fachada era alta e suja, e um grande portão de madeira, trancado por uma grossa corrente atada por um cadeado robusto, separava os aventureiros de seu interior. Lohranus pegou um rolo de corda que trazia consigo e em cuja ponta havia um pequeno gancho de escalada. Girou a corda, descrevendo um grande círculo no ar, e a arremessou por cima da parede. Puxou vagarosamente até sentir o arpéu enroscar em alguma coisa, então deu um forte puxão para travar o gancho. Com a corda segura, o minotauro fechou os olhos e começou a escalar. Era uma tarefa penosa, especialmente para um minotauro, mas Lohranus tinha um palpite e sentia que precisava entrar naquele lugar de qualquer modo. Foi subindo aos poucos, e à medida que ganhava altura, seus poderosos músculos começaram a tremer. Suas mãos fraquejavam e suavam frio, e ele já se questionava se aquela tinha sido uma boa idéia. Entretanto, e felizmente, ele conseguiu atingir o topo do muro sem problemas maiores. Sentado sobre a parede, puxou a corda, mantendo os olhos fechados para enganar seus instintos. Fincou o arpéu na parede pelo lado de fora e jogou a corda para dentro. Segurou-a com força e desceu rapidamente até o chão, ferindo de leve suas mãos pelo atrito com a corda. Já de volta ao solo firme, Lohranus abriu os olhos e respirou profundamente, aliviado por ter sobrevivido àquela provação. Soltou a corda e a enrolou novamente, deixando-a perto da entrada, enquanto tentava descobrir onde estava. O lugar todo parecia ser algum tipo de teatro ou arena. Arquibancadas construídas de madeira ocupavam as laterais da construção, indo do chão até tocarem nas paredes, elevando-se cerca de dez metros do chão. Ao fundo havia uma construção mais baixa, cerca de três metros de altura, com telhado de meia água caído para frente e quatro grandes portas de madeira sólida fechadas por cadeados. E tudo ali estava deserto, sem uma viva alma sequer para vigiar o lugar. Era perfeito.

Lohranus sacou sua espada e foi até o fundo, e com a lâmina da arma começou a forçar os cadeados até conseguir abri-los a força. Abriu o primeiro portão silenciosamente, e entrou. Estava em um corredor que descia para o subsolo por uma longa escadaria de degraus largos de pedra. No final da descida havia uma luz trêmula, como a de uma vela ao vento. Redobrou o cuidado para ser mais silencioso ainda e foi até o fim da escada, que desembocava num longo corredor. Havia várias jaulas com grades a aço ladeando ambos os flancos do corredor, que terminava numa parede de rocha. Alguns metros após o final da escada, havia uma cadeira velha e pensa, onde um homem magro lia algum tipo de livro. Lohranus deu uma corrida ligeira, fazendo-se notar pelo homem, mas conseguiu atingi-lo na cabeça com o cabo da espada antes que ele pudesse reagir. O homem caiu no chão, desmaiado, com um grande hematoma de cor roxa na testa. Rapidamente, o minotauro olhou as jaulas, em busca do caixote que os goblins haviam trazido. Encontrou animais presos nas jaulas, alguns deles estranhos, como um gigantesco besouro que produzia um ruído agudo e irritante, mas, não encontrou nem vestígio da caixa.

Deixou o corredor, pensando consigo mesmo porque aquele homem estaria trancado naquele lugar, sem ter como sair, e foi para a porta ao lado, e depois para a outra até chegar á última entrada, mas não encontrou qualquer sinal do misterioso caixote. Somente jaulas vazias ou com um ou outro animal preso estavam naquele lugar, deixando o minotauro ainda mais confuso e irritado. Mas, quando abriu a terceira porta e foi até o fundo do corredor, Lohranus encontrou algo familiar. Era um lobo. Lohranus se lembrou de que Myrian possuía um lobo de estimação, que havia sido raptado pelos goblins ou talvez pelos piratas, e, pensando ser aquele o lobo que pertencia à elfa, decidiu libertá-lo.

Lohranus arrebentou o cadeado com a espada, e abriu a jaula onde o animal se encontrava, ficando no lado oposto à saída. O lobo rosnava, desconfiado, para o minotauro, mas, ao ver a grade aberta, correu para fora rapidamente. Lohranus deu uma última olhada no lugar, tentando entender o que acontecera com a caixa, e saiu também. Andou afastado do lobo, para não assustá-lo ou enfurecê-lo e foi até a entrada do lugar. Arrombou o cadeado do portão principal com sua espada e abriu passagem para o animal escapar. O lobo saiu correndo e desapareceu nas ruas escuras de Valkaria. Lohranus contou a Kallas tudo que tinha se passado e os dois decidiram retornar e encontrar o restante do grupo. O minotauro fechou novamente o portão, para que ninguém percebesse que ele tinha sido arrombado, e junto com seu amigo mago e sua fiel coruja, retornaram para a taverna onde Myrian e Susrak os aguardavam.

fevereiro 14, 2007

Campanha B - Capítulo 16 – Aroma suspeito

Capítulo 16 Aroma suspeito

Kallas guiou seus amigos através das ruas da capital. Seu vínculo empático com a coruja Auran lhe permitia encontrá-la facilmente e com isso saber a localização dos goblins. Chegaram a uma rua estreita e escura, como praticamente todas as outras no bairro onde estavam. A carroça que perseguiam estava parada em frente a uma taverna, em cuja placa podia se ler “Taverna Bom Aroma”. Mas, apesar do nome, todos sabiam que algo não cheirava bem naquele lugar, e não eram os odores pútridos do esgoto que corria a céu aberto.

O líder dos goblins conversava com um homem, um humano magro, de cabelos curtos, que trajava roupas simples, porém de qualidade. Os outros dois goblins desceram da carroça, carregando um saco grande de pano, no qual havia algo maleável, talvez pólvora, e entraram na taverna.

No beco onde estavam escondidos, os aventureiros traçaram um plano. Serena e Nirvana rasgaram suas roupas, deixando-as com decotes grandes e insinuantes. Maquiaram-se de forma exagerada e soltaram seus cabelos para tornar o disfarce ainda mais perfeito. As duas se passaria por simples prostitutas, para poder se aproximar do goblin e do homem com o qual conversava e poder ouvir o que falavam. Kallas iria até a taverna, fingindo ser um freguês comum, e tentaria descobrir o que os goblins estavam entregando. E Lohranus permaneceria no beco, escondido para não chamar a atenção, cuidando dos cavalos e equipamentos e preparado para ajudar os companheiros em caso de problemas.

Kallas ficou observando Serena e Nirvana. As duas saíram do beco e foram até o outro lado da rua furtivamente, depois começaram a caminhar na direção da taverna, conversando alto, rindo e andando desleixadamente, de modo provocante. Kallas esperou até que as duas passassem pela carroça, provocando os homens e oferecendo seus corpos e saiu do beco, seguindo o mesmo caminho feito pelas duas mulheres. Passou em frente à carroça e entrou na Bom Aroma, estranhando o comportamento de um grupo que cantarolava animadamente ao lado da entrada, um curioso grupo composto de humanos, um elfo e um meio-orc que se abraçavam como se fossem grandes amigos. Kallas achou aquilo estranho, já que elfos e os filhos bastardos de orcs não costumavam se dar bem, mas decidiu ignorar e seguir com o plano.

Sentou-se numa mesa meio escondida e ficou a observar o comportamento das pessoas que estavam ali. A taverna era escura e suja, e uma fina nuvem de fumaça poluía o ar, tornando-o carregado. Havia um razoável número de fregueses, todos solitários em suas mesas tomando suas bebidas. Alguns estavam encostados nas paredes, ou debruçados sobre as mesas completamente imóveis. Seus olhares eram estáticos e vazios e vez ou outra algum deles esboçava um sorriso sem qualquer razão aparente.

Então Kallas viu o taverneiro passando, e indo em direção a um cliente que acabava de chegar. Viu os dois goblins saindo de trás do balcão junto com ele, e indo para fora da taverna. Kallas voltou seus olhos para fora, e viu os goblins partirem com sua carroça, sabe-se lá para onde. Pouco depois viu Lohranus passando diante da taverna, seguindo na mesma direção dos goblins, e ordenou a Auran para segui-lo. Voltou sua atenção novamente para o taverneiro. O homem, um gordo calvo, de olhar assustadiço e bigode bem aparado, olhava ao redor, desconfiado, antes de encher a caneca do cliente com um vinho tinto. Kallas baixou a cabeça disfarçadamente para não chamar a atenção, e a cobriu com o capuz de seu manto. O taverneiro deu uma outra olhada ao redor e, ao ver que não era observado, colocou sobre a mesa uma pequena bolsa de pano, que pousou silenciosamente sobre a madeira. O taverneiro se retirou e retornou para trás de seu balcão, com a cabeça baixa, sem olhar ao redor. O cliente, por sua vez, escondeu o saquinho com a mão, e então foi sua vez de olhar ao redor com ar de desconfiança. Depois, despejou o conteúdo do saco dentro de sua caneca, uma espécie de pó ou folhagem triturada, e tomou. Deu uma demorada golada na caneca, deixando um fio de vinho escorrer pela lateral da boca. Depois deu um largo sorriso de satisfação e relaxou na cadeira. Alguns instantes depois, seus olhos também fitavam o nada, distantes. Então, o taverneiro notou a presença de Kallas, e foi até ele.

_ O que deseja? – perguntou o homem gordo, secamente.

_ Uma caneca de vinho! – respondeu o meio-demônio, com a mesma polidez.

_ E vai querer completo? – tornou a perguntar o homem.

_ Como assim, completo? – estranhou Kallas. O taverneiro arregalou os olhos, espantado.

_ Ora, completo, bem a caneca de vinho, completa! – explicou o homem, tropeçando nas palavras.

_ Sim, claro que quero completo! – falou o mago. O taverneiro colocou uma caneca sobre a mesa e a encheu com o vinho que trazia em uma jarra. Depois, olhou em volta, tirou um saquinho de pano e colocou-o ao lado da caneca.

_ São dez peças! – disse ele.

_ Dez peças? – surpreendeu-se Kallas, quase num grito.

_ Sim! – o taverneiro parecia desconfiado.

_ Tome! Aqui estão! – Kallas apanhou em sua bolsa dez tibares de ouro e entregou-os ao taverneiro. O homem olhou para as moedas, como se as contasse, e as guardou no bolso. Depois, retornou para trás do balcão, onde parecia sentir-se protegido.

Kallas puxou o saquinho para trás de sua caneca e olhou seu conteúdo. Eram folhas de algum tipo desconhecido de erva, picadas em pedaços pequenos. Um forte aroma saiu do pequeno saco e invadiu as narinas do mago. Kallas fechou o saco e, fingiu colocar seu conteúdo dentro da caneca. Depois, tendo certeza que não era vigiado, guardou o pequeno pacote em seu bolso e tomou seu vinho.

Kallas sentia que Auran se distanciava cada vez mais dele, e soube que era hora de partir. Tomou seu último gole de vinho de deixou a misteriosa taverna para trás. Retornou ao beco, onde estavam os cavalos e as armas do grupo, com exceção do equipamento de Lohranus. Montou em seu cavalo, amarrou os demais à sua cela e partiu, puxando os dois animais consigo. Alguns minutos depois, guiado por Auran, encontrou Lohranus em uma outra rua deserta e lúgubre. A metros de onde estavam, havia uma carroça estacionada diante de uma construção. E da construção saíram três goblins, que entraram novamente em sua carroça e partiram.

Campanha B - Capítulo 15 – Negociação

Capítulo 15 Negociação

Goblins! Devia ser meia-noite, talvez um pouco menos, mas era o momento pelo qual tinham esperado. Iriam descobrir, afinal, que tipo de negócio escuso aquelas criaturas tramavam, embora já tivessem sua própria suspeita. Pólvora. Era praticamente certo que os pequenos e asquerosos monstros estivessem vindo buscar o caixotes de pólvora. Eram apenas três ou quatro goblins, que estacionavam um carroção velho, todo coberto por uma lona suja, em frente ao sobrado. Seria fácil derrotá-los em combate, pensavam os aventureiros, mas isso os impediria de saber quem estava por trás de toda aquela trama sombria. Então, tiveram uma idéia. Fingiriam ser os piratas e agiriam como se nada tivesse acontecido. E Nirvana iria se disfarçar e se passar pela líder dos bandidos do mar, e conduzir a negociação com os goblins. Então, alguém bateu à porta.

_ Atendam logo a essa porta! Droga, seus inúteis, eu mesma irei abri-la! – uma voz feminina falava alto dentro da casa, quase gritando. Os goblins ouviram passos firmes e então a porta se abriu. – O que vocês querem? – perguntou Nirvana. Seu belo cabelo estava solto, caído sobre o rosto para ocultá-lo parcialmente. Usava um dos belos vestidos encontrados no andar superior, assim como um par de sapatos novos e caros.

_ Olá! Finalmente eu a vejo! Até que enfim você mostrou esse seu rostinho bonito pra nós, moça! Nós viemos buscar a encomenda! – respondeu um goblin atarracado e meio amarelado, que batia à porta enquanto seus dois companheiros aguardavam na carroça.

_ Até que enfim! Já estava na hora de vocês apareceram! Onde está o dinheiro? – Nirvana arriscou um blefe, confiando nos amigos que aguardavam dentro da casa, escondidos, prontos para lhe dar cobertura. Sua expressão era fria e séria, como uma líder de criminosos deveria ser.

_ Está na carroça! Tragam, rapazes! – o goblin fez um sinal para os outros dois, que desceram do veículo carregando um pequeno baú. Chegaram perto da porta e abriram-no, revelando seu conteúdo. E os olhos de Nirvana brilharam. Era ouro, mais de mil moedas douradas, como estimou a feiticeira. – E onde está a mercadoria? Será que eu posso vê-la? – continuou o monstro.

_ Sim, está lá em cima! Venha comigo! – Nirvana levou o líder o pequeno negociante para dentro e foi com ele para o andar superior. De trás de uma porta, escondida num dormitório, Serena olhava irritada e mordia os próprios lábios para segurar seu ímpeto de perfurar aquele monstrinho desprezível com suas flechas. Myrian, estava ansiosa também, queria saber que fim afinal, tivera seu lobo, já que ele não estava no sobrado. Lá em cima, Nirvana mostrou a pólvora ao seu pequeno comprador.

_ Muito bom! Você é uma boa vendedora! Bem, onde estão seus homens para ajudar a levar isso pra carroça?

_ Eles já virão! Eu vou chamá-los! – e Nirvana chamou Kallas, Susrak e Lohranus para carregar as caixas. E, para sua sorte, nenhum dos goblins reconheceu o minotauro. Com a ajuda dos outros goblins, em poucos minutos eles colocaram as quatro caixas dentro da carroça, e viram que lá dentro já havia uma outra caixa um pouco menor que as que transportavam pólvora, e ficaram desconfiados.

O goblin entregou a Nirvana a caixa com o dinheiro, e pelo peso ela soube que eram uns dois mil tibares de ouro que ela tinha nas mãos. A carroça partiu, e de uma janela Kallas apontou para ela e mentalmente pediu para que Auran a seguisse do alto. Deram alguns minutos de vantagem para os goblins, apenas o tempo suficiente para terminarem de revistar a casa. Encontraram mais um grande dormitório no andar térreo, com mais colchões de palha toscos e alguns sabres espalhados pelo chão. O outro cômodo, uma espécie de sala de estar, tinha apenas bancos de madeira, uma mesa baixa ao centro e uma cristaleira, com muitos copos e taças e várias garrafas de bebidas diversas. Entre elas, encontraram mais alguns frascos de poção mágica, que foi imediatamente dividido entre os membros do grupo. Embaixo da escada ficava um pequeno depósito de ferramentas e utensílios domésticos, como baldes, vassouras e sabão. Colocaram na carroça todo o tesouro que haviam encontrado na casa, jóias, roupas, armas, ferramentas e até pedras de sabão. Kallas fez contato com Auran e pode vê-la voando ao longe. Deixaram o sobrado e partiram no encalço dos goblins. Myrian e Susrak ficaram responsáveis por cuidar da carroça, e levá-la para a taverna onde eles haviam passado o dia, onde se encontrariam mais tarde com os demais. Nirvana, Kallas, Serena e Lohranus seguiram Auran, para encontrar os goblins e resolver mais uma parte daquele intrincado mistério.

Campanha B - Capítulo 14 – A mulher invisível

Capítulo 14 A mulher invisível

Então, passos ecoaram pelo corredor, vindos do andar superior. E Lohranus olhou para o topo da escada e viu um par de botas pardas de couro polido. E junto com o som das pisadas sobre a madeira, que retumbavam como tambores, veio também uma voz feminina como uma harpa e firme como uma rocha.

_ E então, seus vermes! Já pegaram os intrusos? Estou louca para botar minhas mãos nesses intrometidos e...!­

Então a mulher que começava a descer as escadas subitamente interrompeu seu discurso. E sua bela voz praguejou ao ver a pilha de corpos no final da escada e ela correu. Correu na direção oposta, com grande velocidade, e os aventureiros subiram rapidamente as escadas para pegá-la. Enquanto galgavam os degraus com rapidez, ouviram o som do vidro se partindo e logo depois o silêncio. Os degraus finalmente terminaram, e o grupo chegou a um grande salão quadrado, que se abria na diagonal para um outro salão ainda maior e de formato retangular. A escadaria ficava bem no meio da sala onde estavam, e ela era ocupada por vários colchões de palha, que se amontoavam nas paredes próximas. Duas janelas, uma ao fundo e outra na parede lateral, deixavam a luz do luar entrar na casa, junto com uma leve brisa. Também havia quatro enormes caixotes de madeira encostados na parede do fundo, um ao lado do outro.

De onde estavam, podiam ver duas estruturas estranhas que ocupavam a maior parte do espaço da sala anexa. Eram duas compridas plataformas de madeira, mais altas que um homem, que ficavam lado a lado, distantes mais de um metro uma da outra. Cada madeira era apoiada nos extremos em enormes cavaletes feitos de madeira e metal, e entre as duas plataformas, havia cordas que pendiam desde o teto, a cerca de quatro metros, até o chão. Pela disposição das enormes tábuas, sua altura e a presença das cordas penduradas no teto, os aventureiros rapidamente deduziram que aquela estrutura devia servir de área de treinamento para os piratas derrotados, o que explicaria sua extraordinária habilidade em fazer acrobacias. Esse salão, por sua vez, dava acesso a três outros ambientes, separados por portas de madeira, sendo que duas estavam à direita do grupo, e uma ao fundo, no canto. E somente uma delas estava aberta, a que ficava mais perto da parte da frente do sobrado, e foi para lá que o grupo correu.

Encontraram um luxuoso dormitório, com cama grande e bem feita, colchão macio e lençóis limpos. Um armário ocupava a parede à direita da porta, e uma escrivaninha a da esquerda, junto à parede da entrada, onde uma vela desgastada iluminava uma série de objetos sobre a mesa. Por fim, uma janela aberta que dava para a lateral da casa, ficava sobre a cama, e estava aberta.

No chão, logo diante da porta, encontraram um pequeno recipiente de vidro, todo quebrado. Havia outros frascos parecidos sobre a mesa, junto a jóias e papéis enrolados. Nirvana usou sua magia de detecção e concluiu que o frasco quebrado, bem como um dos que restavam na mesa, continha uma poção mágica de invisibilidade. A mulher, suposta líder dos piratas, estava invisível, espreitando de algum lugar, para pegá-los desprevenidos. Todos prepararam suas armas e magias, e ficaram em alerta, para não serem surpreendidos. Nirvana percorreu cada metro do andar superior do sobrado, usando sua magia para tentar localizar a inimiga. Todos os outros faziam silêncio, tentando ouvir os movimentos, ou até mesmo a respiração, da mulher. Porém, não encontraram nem sinal dela.

_ Deixe-me tentar localizar o rastro dela! – exclamou Serena. E a elfa passou a olhar o chão de madeira, em busca das pegadas da mulher. Embora o chão fosse rígido e não estivesse assim tão sujo, existia uma fina camada de poeira que o cobria, e os olhos aguçados de Serena eram treinados para localizar e seguir qualquer tipo de rastro, por mais difícil que fosse fazê-lo. E ela conseguiu, a partir da escada, seguir cada passo da misteriosa mulher, em pegadas sutilmente impressas na poeira, que denunciavam a passagem de suas finas botas. E seguiu os rastros até o quarto onde o frasco de poção estava caído no chão, e viu que eles continuavam até a cama, e viu que sobre ela havia marcas fundas das botas da mulher. Serena disparou uma flecha na direção das marcas na cama, e o projétil atravessou a janela e se perdeu na noite escura. Kallas tateou toda a área ao redor das pegadas, apenas para constatar que ela já não estava sobre a cama há tempos. E só havia dois lugares para onde ela poderia ter ido, para o teto ou para fora, além da janela.

Serena desceu rapidamente a escada, seguida por Lohranus. Kallas e Nirvana permaneceram de vigília na janela do quarto. Lá fora, o minotauro acompanhava, admirado, a ação da elfa, que rastejava pelo chão olhando cada amassado na grama, cada grão de terra fora do lugar, cada marca que ele próprio era incapaz de perceber. E ela fazia medições, cheirava o chão, e sentia sua temperatura com suas belas mãos, e não encontrou nem sinal da mulher invisível. Olharam na casa que ficava de frente para a janela, e nada, nenhum sinal, nenhuma pista. E os dois voltaram para cima, e junto dos companheiros, começaram a explorar a casa. E encontraram roupas finas no armário da inimiga desaparecida, vestidos de seda, cetim, e outros tecidos caros com os quais Nirvana se encantou. E escolheu os que mais gostava para si e ajudou Serena a escolher também, e a elfa, até então selvagem, se encantou com aquelas roupas maravilhosas do mundo civilizado. E sobre a mesa, Nirvana encontrou poções mágicas, que serviam para cicatrizar ferimentos superficiais, e uma outra poção de invisibilidade, e um outro líquido transparente, de aroma corrosivo, que Kallas identificou como sendo um tipo de ácido. E também havia papeis enrolados que ram na verdade pergaminhos mágicos. E no meio destes havia uma varinha, também mágica, e ao lado destes, um medalhão de prata, que continha seis linhas entrelaçadas cunhadas em baixo relevo. E Nirvana guardou rapidamente essas coisas, que mais tarde seriam divididas entre seus amigos, e seus olhos se voltaram para o que realmente lhe interessava, as jóias. Uma bela jaspe cintilava à luz da vela, ao lado de uma pedra da lua bela e alva. E, no canto da mesa, um magnífico colar de pérolas fazia os olhos de Nirvana brilharem, maravilhados. Nirvana recolheu cada jóia, após analisá-las dedicadamente, e sua mente já começava a imaginar colares, brincos, pulseiras ou outros tipos de adornos onde colocar aquelas gemas para conseguir um melhor preço por elas e, conseqüentemente, maior quantia para dividir com seus amigos.

Num outro aposento ao lado encontraram um baú de madeira, cheio de panelas e utensílios de cozinha diversos. Era um quarto mais simples, porém, ainda assim muito mais confortável que os colchões de palha do lado de fora. Pelas panelas, o dormitório aparentava pertencer ao cozinheiro, ou outra pessoa de função de destaque entre os piratas. No meio das panelas, oculta no interior de um pequeno caldeirão de ferro, os aventureiros encontraram uma bolsa com várias moedas de ouro.

A sala restante era um cômodo destinado à latrina da casa. Oculta sob uma tampa de madeira havia uma profunda fossa fedorenta. Lohranus usou sua espada para abrir, um a um, os caixotes que estavam armazenados no andar, e lá dentro, encontrou gigantesca quantidade de pólvora. Eram quatro caixas cúbicas, de um metro e vinte de lado, e todas estavam cheias até a borda com o pó negro proibido. Kallas aproveitou e guardou um pouco do material em uma bolsa de couro, para pesquisá-lo mais tarde. Enfim, revistaram o andar de cima inteiro, mas não avistaram nem sombra da fugitiva. Sem mais o que fazer, Lohranus fechou novamente as caixas, e todos desceram as escadas, para investigar a parte inferior da casa. Foi quando encontraram Myrian e Susrak, que corriam, aflitos, para avisar aos amigos que eles tinham companhia. Do lado de fora, uma nova carroça estacionava em frente ao sobrado. Uma carroça conduzida por goblins.

fevereiro 12, 2007

Campanha B - Capítulo 13 – Homens do mar

Capítulo 13 Homens do mar

Susrak olhava, curioso, para as coisas que estavam dentro da cozinha de onde tinham saído os três homens. Sobre uma mesa de madeira havia pratos e utensílios de cozinha em geral, junto com estranhas comidas. Algumas pareciam ser animais que o clérigo nunca tinha visto antes, outras ele reconheceu com sendo algum tipo de peixe seco e salgado. Seus amigos nem se importavam com que tipo de iguarias estranhas aquelas pessoas se alimentavam, desejavam chegar ao centro daquele lugar o mais rápido possível e vencer todos os inimigos antes que eles pudessem chamar ajuda, ou antes que a suposta reunião que haveria ali começasse. Não obstante, abriram a porta que dava acesso ao interior do sobrado e avançaram por um largo corredor que se estendia uns dez metros para o fundo da casa e dobrava à direita. Susrak os seguiu rapidamente, deixando o mago Kallas e a druida Myrian para trás.

Após virar para a direita, o corredor continuava até o limite da casa e depois tornava a virar, indo na direção da entrada. Na sua porção que ficava no fundo do sobrado, o corredor era ladeado por uma escada que levava ao andar superior e por uma janela solitária oposta à escada. Lohranus ouviu vozes e passos, que vinham de cima, e pediu silêncio aos companheiros. Todos se calaram e se encostaram na escada, escondidos, enquanto um grande número de homens descia para o térreo. Quando o primeiro deles terminou todos os degraus de sua descida, e já quase virava rumo à entrada da casa, uma lâmina de quase dois centímetros de largura penetrou fundo em suas costas, tirando-lhe a vida. Era Lohranus.

Os homens que desciam voltaram suas atenções para o minotauro, mas não tiveram tempo de reagir, pois um segundo caiu no chão, com seu olho vazado e parte do crânio esmagado e moído pela maça de Susrak.

Ao todo quase uma dezena de inimigos descia pela escada. Enfim uma luta digna, deve ter pensado Lohranus. Myrian não se intimidou e enterrou seu marfim entre as costelas de um inimigo. Kallas, lançou um feitiço sobre si mesmo, para aumentar suas habilidades e lançar-se ao combate.

Susrak, Myrian e Lohranus atacaram uma vez mais, antes que os inimigos revidassem. Em sua fúria violenta, o minotauro derrubava no chão cada inimigo que acertava, com um único golpe. Susrak, cercado por vários inimigos, atrapalhava-se com suas próprias armas, sem conseguir atingir os adversários que se esquivavam em cambalhotas e piruetas. Myrian continuava em um combate ferrenho contra três adversários, minando suas forças aos poucos com sua exótica arma. E Kallas preparava sua clava para agir assim que os inimigos estivessem ao seu alcance.

Então, os inimigos reagiram, rapidamente se organizando e cercando todo o grupo de invasores. Lohranus recebeu diversos golpes de espada, cercado por uma numerosa massa hostil. Susrak tentava bloquear os ataques dos oponentes com seu escudo, recebendo assim poucos ferimentos. Myrian começava a ficar acuada, encostada na parede, enquanto os inimigos a atacavam e a provocavam, fazendo comentários grosseiros sobre sua feminilidade. Kallas, que estava mais atrás, foi surpreendido, quando viu um dos inimigos se atirar da escada num salto mortal e descer batendo os pés na parede e na escada para amortecer a queda, ainda a tempo de atacar e ferir o torso do mago antes de tocar o chão. A destreza anormal daqueles estranhos homens de pele morena os surpreendia. Mas, nem isso, nem a superioridade numérica do inimigo era capaz de intimidá-los. Com um golpe de clava, Kallas começou a virar o jogo para sua equipe, prensando a cabeça do inimigo na parede e fazendo com que seu cérebro escorresse por ela enquanto ele caia lentamente e Auran lhe arrancava os olhos. Protegido atrás do escudo, Susrak aproximou-se de Lohranus e chamou por Tenebra. Sua mão foi envolta por um sinistro brilho negro, que envolveu o corpo do minotauro e lhe devolveu parte da vitalidade retirada pelas espadas inimigas. O minotauro urrou furiosamente, causando espanto nos oponentes, e voltou a fatiá-los como se sua espada partisse frutos maduros. Myrian, Kallas e Susrak tomaram novo fôlego ao ver Lohranus lutando como uma máquina de guerra, e os inimigos acrobáticos foram tombando um a um, com seus rostos esmagados por golpes de clava e maça e seus corpos perfurados e rasgados pelas espadas e até por garras de coruja, até que sobraram apenas dois homens em pé.

Mas, o excelente resultado no combate era conseguido a duras penas. Myrian, Kallas e Susrak estavam severamente feridos, e Lohranus, principal alvo dos ataques adversários, foi levado à inconsciência por uma certeira estocada no peito. O minotauro caiu sem brilho nos olhos, seu corpo, ainda agarrado à sua fúria bárbara, não largava a espada, como se desejasse continuar lutando, mesmo ao custo da própria vida.

Astuta e desonestamente, um dos homens inimigos abaixou-se ao lado do minotauro, enquanto os demais continuavam lutando, e pressionou a lâmina curvada de sua espada de forma ameaçadora sobre o pescoço de Lohranus. Quando todos os outros inimigos tombaram, e apenas dois deles restavam para lutar, Lohranus era o seu refém.

_ Todos parados! Fiquem calminhos ai, ou eu arranco a cabeça deste boizinho! Sem gracinhas ou ele morre! – gritou o homem que ameaçava Lohranus. Todos pararam imediatamente para dar ouvidos às palavras dele.

_ Vamos lá! Obedeçam! Ou então seu amiguinho de chifres vai ser o primeiro a morrer! Soltem as armas, depressa!!! – gritou o segundo homem, apontando o seu sabre de forma debochada para os aventureiros.

Sem opção, Myrian, Susrak e Kallas jogaram as armas no chão e pediram aos deuses para que Nirvana e Serena chegassem logo para ajudar. Todos pensavam em uma forma de sair daquela situação, olhando cada detalhe possível e tentando se comunicar com os companheiros. Mas, a cada gesto, o inimigo pressionava mais e mais a lâmina na garganta de Lohranus, e um fio de sangue começava a brotar na pele do minotauro. Então, os três perceberam que o homem que ameaçava o minotauro estava severamente ferido, e não resistiria a um ataque forte. Susrak fitou-o com seus olhos e se preparou para agir assim que tivesse uma chance. Kallas então chamou Auran mentalmente, e ordenou ao pássaro que atacasse o homem. A coruja deu um vôo rasante, arranhando o homem e criando um momento de distração, que era esperado por todos. Kallas, rapidamente, conjurou uma magia, e um orbe de luz explodiu no rosto do inimigo assim que ele olhou para a coruja. Ferido e surpreso, o inimigo voltou os olhos para o grupo, já pronto para degolar o minotauro que jazia a seus pés, mas não conseguiu fazê-lo. Ao olhar para Susrak, viu o medalhão sagrado do clérigo absorvendo toda a luz que existia no ambiente até tudo ficar escuro. Somente o vulto borrado e fantasmagórico do sacerdote podia ser visto, e sua voz era assustadoramente alta e quase estourava seus tímpanos. Então, o chão se abriu numa fenda de trevas de pavor, e surgiram duas mãos esqueléticas das profundezas, que rasgaram o chão e deram passagem para que um enorme esqueleto invadisse a casa. O homem largou seu sabre no chão, e fugiu apavorado pelo corredor, enquanto o esqueleto o perseguia para devorá-lo. Mas, apenas ele vira isso, já que tinha sido vítima da magia usada por Susrak, para tirá-lo de perto de Lohranus.

O outro inimigo, sem entender o que se passava com o companheiro, atacou Susrak com seu sabre. O clérigo usou seu escudo para prender a arma contra a parede, antes que ela fosse capaz de atingi-lo e desarmou o adversário. Myrian pegou rapidamente sua espada do chão, deu um passo á frente enquanto se levantava, e enterrou a lâmina de marfim no peito do homem. O sangue trasbordava de sua boca, enquanto ele dava seu último suspiro, pouco antes da maça de Susrak esmigalhar o maxilar ensangüentado. O último dos inimigos, ainda fugia de seu próprio pesadelo, incutido em sua mente pela mágica nefasta de Susrak, quando Kallas lançou sobre seu rosto um jato de chamas mágicas, incinerando o pouco que lhe restava de vida. E enfim eles obtiveram a vitória. Myrian atirou-se de joelhos ao chão, com as mãos estendidas sobre o ferimento aberto no peito de Lohranus. Suas delicadas mãos brilharam enquanto ela recitava uma prece ao Grande Urso Branco. O corte foi se fechando lentamente, o sangue, que jorrava aos borbotões, foi totalmente estancado, e os olhos do minotauro abriram-se, cheios de vida novamente.

Serena e Nirvana chegaram no momento em que Lohranus se levantava e agradecia aos amigos pela ajuda. Sentia-se um tanto humilhado por ter sido derrubado em combate, mas ao mesmo tempo sentia-se aliviado por não ter sido ainda a hora de ele se encontrar com Tauron. E também sabia que, apesar de quase ter morrido, lutara com honra e vencera grande número de inimigos, e isso o deixava satisfeito. Nirvana e Serena ajudaram os amigos a retirar os corpos do caminho e a revistá-los, enquanto Susrak e Myrian montavam guarda na janela da cozinha, para avisá-los da chegada que qualquer estranho e para vigiar o homem desmaiado que interrogariam mais tarde.

Na pilha de corpos que se formara no chão, não encontraram nada além de quinquilharias, como colares de conchas, brincos sem valor, anéis enferrujados, dentes podres, algumas moedas de prata e coisas bizarras como colares de orelhas, olhos feitos de vidro e outras. Guardaram as moedas como uma recompensa por terem vencido aquela dura batalha. E, pelos objetos que portavam, pela aparência despojada, pela cor da pele e graças às muitas histórias que tinha ouvido nas tavernas de Valkaria Nirvana concluiu quem eram aqueles estranhos acrobatas. Piratas. Deveriam ser piratas, provavelmente do Mar Negro, que viviam uma vida de crime e aventuras no mar e que aparentemente traziam consigo a proibida pólvora para vender na cidade. Já que o Reinado não tinha influência nos domínios de Grande Oceano, os piratas usavam livremente esse tipo de item, banido dos outros reinos, para abastecerem suas armas e para praticarem seus crimes. E todos finalmente compreenderam o que acontecia naquele sobrado, e o que os goblins iriam negociar ali momentos depois. E Kallas, enquanto Nirvana explicava sua teoria, pegou e guardou para si um colar de orelhas humanas.

fevereiro 09, 2007

Campanha B - Capítulo Capítulo 12 – Cozinheiros acrobatas

Capítulo 12 Cozinheiros acrobatas

Myrian mostrou aos seus novos companheiros um punhado do pó negro que havia encontrado dentro da carroça. Nirvana e Kallas olharam para ele e seus olhos brilharam de espanto. O misterioso pó negro era chamado de pólvora, um composto alquímico altamente inflamável, explosivo até, e extremamente perigoso. Por ser assim tão ameaçador, o pó era proibido em todo o território do Reinado. Portá-lo, comercializá-lo ou fabricá-lo era crime passível de graves punições. Alguns estudiosos discordavam da proibição, dizendo que a pólvora poderia ter grande utilidade e trazer avanços para o mundo, mas, como divergiam outros, não havia necessidade de se utilizar um composto tão instável e perigoso quando a magia estava disponível para os mais variados usos, segura e previsível como uma simples adição. Kallas e Nirvana informaram seus amigos sobre o pó negro e sobre seus perigos, e então, souberam que algo grande estava ocorrendo ali, que aquele caso não envolvia apenas o rapto de um animal ou extorsão, mas sim algo maior e enigmático.

Lohranus desejava aguardar escondido, para ver o que aconteceria quando desse meia-noite, e assim entender que tipo de negociação obscura seria feita naquela casa. Mas, seus companheiros de grupo desejavam entrar o quanto antes na casa, para pegar os supostos criminosos de surpresa. Desses, Myrian era a que mais desejava invadir o lugar, temendo que algo de ruim pudesse estar acontecendo a Grandwolf. Para evitar surpresas, Nirvana pediu a Nikki que pousasse em uma árvore próxima e observasse a casa do alto. A feiticeira então avisou seus amigos de que havia pelo menos cinco pessoas no andar de cima do sobrado. Kallas foi até o fundo, e, com seus olhos de meio-demônio, espiou pela fresta de uma janela, onde viu um longo corredor, sem iluminação e sem ninguém por perto. Era um lugar perfeito para invadir a casa, mas, quando Kallas foi avisar seus amigos, viu que Myrian já agia por conta, tentando abrir uma das janelas laterais com o auxílio de um galho que havia pegado do chão.

Todos pararam, em completo silêncio, para observar a ação da elfa. Suas mãos delicadas, porém fortes, forçavam a janela para fora, ao mesmo tempo em que usavam o pedaço de madeira para levantar a trava interna que mantinha as duas metades da janela unidas. Então, de repente, o dispositivo de trava, que consistia num pedaço de madeira apoiado sobre duas cantoneiras, começou a deslizar pela ponta do graveto, quase caindo. Myrian foi rápida e puxou a janela com mais força, prensando a madeira contra ela e impedindo que caísse. Todos respiraram aliviados e Myrian recomeçou sua labuta. Mas, antes que ela voltasse a levantar a madeira, a janela se abriu subitamente. Um homem de pele bronzeada, vestido com roupas leves de couro e coberto de colares estranhos, pôs a cabeça para fora, perguntando ao grupo de aventureiros o que estavam fazendo ali. No entanto, antes que ele pudesse reagir de qualquer forma que fosse, Myrian o agarrou e o puxou para fora. Lohranus a auxiliou e ambos conseguiram jogar o homem com violência no chão. Susrak tentou golpeá-lo com sua maça, mas interrompeu o ataque na metade, receando atingir um de seus próprios companheiros. Mas, Lohranus se encarregou de deixar o homem inconsciente com uma seqüência de socos fortes no rosto. Agora eles tinham alguém para interrogar, e começaram a pensar em como fariam isso e onde levariam o suspeito. Mas, enquanto seus pensamentos viajavam em suas mentes, o grupo foi surpreendido pela chegada de novos inimigos.

Eram três homens, todos muito magros, porém de músculos fortes e delineados, de pele levemente amarronzada num tom que lembrava o bronze. Também vestiam roupas simples e leves, todas feitas de couro, e traziam em seus corpos adornos exóticos como desenhos e colares feitos de conchas, ossos e até mesmo orelhas humanas. Um deles tinha um trapo de pano amarrado à cabeça, cobrindo todo o cabelo e parte da testa, e um exibia um sorriso podre, com dentes faltantes ou estragados. Os três apareceram na janela para ver o que acontecia, quando viram o companheiro desmaiado e o grupo de aventureiros armados. Saltaram então, sobre a janela, armados com enormes facas de cozinha, e a luta se iniciou.

Lohranus tentou atingi-os com sua espada, enquanto ainda estavam agachados na janela, mas eles habilmente recuaram seus corpos para dentro, escapando da lâmina enorme. A alguns passos dali, Myrian fechou seus olhos e se concentrou, enquanto suas mãos gesticulavam ritmicamente e sua boca recitava versos incompreensíveis para os demais.

Kallas sabia o que a elfa pretendia, e compreendeu que precisava ganhar tempo para que ela conseguisse terminar sua ação. Vendo que os inimigos estavam todos alinhados sobre a janela, o mago empurrou o longo bastão de madeira que trazia consigo entre as pernas dos três desconhecidos, fazendo-os saltitar como se dançassem, para não serem atingidos. As três figuras decidiram então atacar, e saltaram da janela, escapando do bordão de Kallas em rodopios e cambalhotas no ar.

Um deles caiu diante de Lohranus e feriu levemente o peito do minotauro com seu facão. O outro caiu ao lado de Kallas, rasgando o ombro do sulfure com a lâmina num giro rápido. O último deles tropeçou no bastão, como Kallas planejara, e caiu no chão, desconcertado.

Susrak investiu contra o inimigo caído, esmagando suas costelas com ao pesado maciço de metal que era sua maça. Ao seu lado, Lohranus revidou o ataque que havia sofrido, com fúria, rasgando o abdome do inimigo e jogando-o ao chão, já morto. Uma enorme poça de sangue se formava no chão, quando Myrian finalmente abriu os olhos e sussurrou a última palavra. Um brilho em forma de círculo se formou atrás do homem caído, e de dentro dele surgiu uma serpente venenosa. Como que instruída a fazê-lo, a víbora cravou suas presas afiadas e gotejantes de um líquido amarelo na perna do homem. A elfa então deu dois passos ligeiros, ficando ao lado de Kallas, e fez sangrar o inimigo saltador com a presa de marfim que fazia de espada.

O homem soltou um gemido abafado quando a espada o penetrou, desviando os olhos de Kallas. O mago aproveitou o momento e golpeou-o com seu bordão, atingindo a cabaça do homem com força esmagadora. Ferido, o homem tentou fugir, girando no ar diante de Kallas para escapar rumo ao fundo do sobrado. Mas, os ferimentos tornaram sua acrobacia lenta e desajeitada, deixando sua guarda aberta. Kallas girou seu bastão no ar e novamente golpeou a cabeça do inimigo, partindo o osso do crânio e jogando o homem no chão, já á beira da morte.

Por fim, o homem que estava caído e envenenado, tentou se levantar do chão numa cambalhota, enquanto gritava chamando por ajuda. Mas Lohranus conseguiu ser mais rápido e, antes que ele pudesse sair do chão, a espada do minotauro atingiu suas costas com força, prensando-o contra o solo e abrindo uma grande fenda em sua carne, de onde jorrou grande quantidade de sangue e o homem não mais se moveu. Segundos depois, outros homens que estavam no segundo andar, surgiram nas janelas e correram logo após ver o que tinha acontecido, como se fossem na direção da porta.

Sem perder tempo, todos invadiram a casa, pulando a janela por onde os homens tinham saído. Serena fez um gesto para seus amigos seguirem em frente, enquanto tirava um rolo de corda de sua mochila. E, ajudada por Nirvana, ela amarrou o homem que estava desmaiado pelos socos do minotauro, para que pudessem interrogá-lo mais tarde. Enquanto as duas mulheres cuidavam de esconder o homem amarrado sob uma moita, o restante do grupo, agora ajudado por Myrian, invadia o covil do inimigo.

Campanha B - Capítulo 11 – A dama das neves

Capítulo 11 A dama das neves

Myrian era uma jovem elfa seguidora de Allihanna. Nascida próximo da fronteira de Deheon com o gélido país das Montanhas Uivantes, viveu sua infância cercada por dois mundos diferentes. De um lado, a donzela se via cercada pelo frio constante e pela imensidão branca e gelada que eram as Uivantes. Do outro, logo após a fronteira que separava seu território do reino vizinho, vastos bosques cobriam as colinas, com uma flora exuberante e uma farta fauna.

Desde cedo, a jovem aprendera o ofício de seu pai, Aesis, um sábio e dedicado pesquisador da natureza, que empreendia seus dias em uma busca incessante pelo conhecimento que havia escondido nas criações de Allihanna. Sua mãe, a bela Vêniz, morrera ao dar à luz sua única filha, e seu pai tentava compensar a ausência da mãe de todas as formas possíveis. Aesis cuidava com carinho de sua filha, de modo que a tristeza pela falta da mãe jamais se abateu sobre ela. Sempre levava a pequena Myrian com ele nas muitas viagens que fazia em busca de novos ensinamentos e, quando o pequeno botão de flor que era sua menina começou a desabrochar, Aesis começou a lhe transmitir todos os seus conhecimentos. Assim ela aprendeu a amar, respeitar e defender o mundo no qual ela vivia e, quando a maturidade veio, a deusa da natureza a escolheu como uma de suas representantes em Arton e derramou sua graça ela. Myrian recebeu da deusa poderes mágicos fantásticos, que ela ainda aprendia a usar pouco a pouco.

Os anos passaram e a menina se tornou adulta. Embora ainda tivesse pouca experiência, Myrian era uma competente druida, que ajudava seu pai a cuidar e aconselhar as pessoas da pequena aldeia onde vivia. Seu pai, orgulhoso da valorosa filha, levou-a um dia a uma reunião no Bosque Sussurrante, uma porção de mata onde o vento que passava entre as folhagens cheias de neve e gelo produzia assovios que lembravam sussurros. Era nessa pequena floresta, já dentro do território governado pelo Imperador-rei Thormy, que se reunia a Ordem do Urso Branco, seita da qual o pai de Myrian era o líder. O Grande Urso Branco era como a aldeia de Myrian e outras próximas se referiam a Allihanna e era essa forma que a deusa assumia quando falava aos seus devotos daquela região. Aesis fundara a ordem, dezenas de anos antes, para reunir todos os sacerdotes que serviam ao Grande Urso das redondezas para que eles se conhecessem, trocassem seus conhecimentos e se organizassem na proteção do território em que viviam. Mas, apesar do Grande Urso ser uma deidade benigna, havia entre seus servos aqueles cujos corações haviam sido tocados e enegrecidos pela maldade. E uma dessas pessoas era Surwen Chifre Partido.

Surwen servia a Allihanna com grande devoção. Contudo, não levava uma vida apenas de devoção pois, como qualquer um dos filhos de Valkaria, Surwen tinha ambições próprias. Surwen era um druida de grande poder e força física, que quando jovem, havia resistido à investida de um alce em fúria, e partido o chifre do animal com o peito, no momento em que os dois colidiram. Justamente por isso, foi escolhido pela Ordem do Urso Branco para ser o sucessor de Aesis, quando, no futuro, este falecesse. Porém, ele almejava mais que isso, desejava não só o posto de Aesis, mas também a bela elfa que ele desposara, embora mantivesse esse fato em segredo. E, como se não bastasse, desejava ter acesso aos livros de Aesis, onde o druida anotava todo o conhecimento que tinha adquirido em sua longa vida de aventureiro. Surwen sabia que Aesis possuía segredos guardados naqueles livros que não revelava a ninguém, nem mesmo aos mais íntimos amigos da ordem, e, sua ambição sem limites o fazia desejar obter aquele conhecimento. Não que ele fosse uma pessoa de má índole, longe disso, ele admirava e respeitava Aesis e o tinha como um modelo, uma meta a alcançar. Justamente por isso desejava saber o que ele sabia, possuir o que ele possuía. Sua esperança era que algum dia, quando Aesis lhe passasse a liderança da ordem, Surwen finalmente conseguiria atingir seus objetivos. Mas, uma língua venenosa se colocou entre os dois amigos, distorcendo os sentimentos e o discernimento de Surwen, um jovem druida chamado Tuniann Pés Ligeiros. Tuniann estava sempre ao lado de Surwen, e o incentivava a divergir de Aesis e a conquistar aliados dentro da ordem. A harmonia que antes existia deu lugar à intriga e à discórdia, e alguns começaram a se desviar do caminho de Allihanna. Aesis tentava sempre conciliar os membros da ordem, coisa que seu poder de liderança e sabedoria sempre acabavam conseguindo. E assim foi até o dia em que Myrian participou de sua primeira reunião na Ordem do Urso Branco. Tuniann envenenou a mente de Surwen, dizendo que Myrian lhe roubaria o posto de sucessor de Aesis, e as palavras que ele usou foram de tal força, que Surwen perdeu completamente a razão e a sanidade, vendo Aesis não mais como um amigo ou um exemplo a ser seguido, mas sim como um inimigo.

Um dia, quando Aesis caminhava pelo Bosque Sussurrante, indo encontrar seus companheiros da ordem, foi vítima de uma emboscada. Dezenas de criaturas estranhas surgiam como que por mágica para atacá-lo, enquanto os arbustos que cresciam na região se voltavam contra ele, prendendo seu corpo e estrangulando-o. Aesis foi brutalmente assassinado, sem ter ao menos chance de reagir.

Ao tomar conhecimento da morte de seu líder, a Ordem do Urso Branco se desfez. Todos os membros, mesmo os que eram aliados de Surwen o acusaram de assassino, revoltados com o que tinha acontecido com Aesis. Surwen foi banido para sempre do território da ordem, e cada um dos druidas se afastou dos demais, ressentidos com o que acontecera, e temendo que o evento se repetisse. Assim, a Ordem do Urso Branco foi extinta, e seus membros nunca mais se reuniram de novo ou sequer foram vistos novamente nos tempos que se seguiram.

Myrian, por sua vez, entrou em choque ao saber da morte do pai. Correu em prantos pela floresta, desorientada e confusa, até que se perdeu. Vários dias tinham se passado, quando as lágrimas de Myrian haviam finalmente secado. Há dias ela não comia nada, e não sabia onde estava ou como voltar para casa, e também não se importava com isso. Foi quando encontrou um lobo jovem, ou talvez o lobo a tivesse encontrado, que trazia um galho à boca, no qual pendiam diversas castanhas. O animal não fugiu nem atacou a elfa, ao invés disso, aproximou-se dela calmamente e soltou o ramo que trazia no chão. Myrian comeu as castanhas e saciou sua fome, enquanto o lobo a observava, e sentiu que havia uma ligação entre eles dois. Chamou-o de Grandwolf, e juntos os dois saíram da floresta e retornaram para a aldeia.

Em sua casa, Myrian descobriu o que tinha acontecido com a ordem fundada por seu pai, mas não se importou. Pegou suas coisas, decidida a partir daquele lugar cheio de lembranças e descobriu que os livros de seu pai não estavam lá. E soube pelas pessoas que viviam na vila, que nenhum livro havia sido encontrado com o corpo de seu pai. Tinham sido roubados.Myrian foi até o túmulo de seu pai, e jurou resgatar os seus preciosos livros, e então, partiu de volta ao Bosque Sussurrante, onde esperava encontrar o assassino, Surwen.

Mas, enquanto se dirigia ao local onde disseram que Surwen havia sido visto, Grandwolf se afastou, até sumir de sua vista, e então começou a latir freneticamente. Myrian correu, afoita, pois não desejava perder outro ente querido tão logo, e viu o lobo latindo para o chão, no meio da floresta. O elfa olhou para o chão, e viu ali inúmeras pegadas, e manchas vermelhas de sangue, e soube que estava no lugar onde seu amado pai havia morrido. As lágrimas encheram seus olhos, mas antes que a primeira gota pudesse cair, Myrian percebeu algo estranho. As pegadas eram estranhas, de criaturas nunca antes vistas naquela região, criaturas que ela desconhecia e suspeitou que deveria temer. E havia um outro rastro, pé, do formato dos de um elfo ou humano, mas maiores do que o normal, muito maiores do que os pés de Surwen. Também havia um último rastro, constante e sinuoso como o de uma serpente, mas muito maior que todas as cobras que ela já tinha visto antes. Myrian se armou de uma presa de mamute que há muito seu pai havia esculpido na forma de uma espada, e seguiu os rastros até fora do bosque. Lá, encontrou novos rastros, duas marcas paralelas, contínuas e estreitas. E eram fundas, como se tivessem sido feitas por algo muito pesado. Uma carroça.

Myrian e Grandwolf continuaram seguindo os rastros da carroça, até que de longe avistaram uma estátua gigantesca, de uma mulher nua com as mãos suplicantes erguidas aos céus. Quando ela alcançou os portões de Valkaria, já era noite, e as ruas calçadas da grande metrópole, junto com a escuridão que crescia, eram o prenúncio de que a busca pelo assassino de seu pai não seria fácil. Contudo, Myrian tinha uma pista, o assassino tinha grandes pés e, ou era acompanhado por uma serpente gigante, ou arrastava algo pelo chão.

Assim, ela percorreu as ruas daquela cidade imensa e estranha, buscando informações sobre a pessoa que procurava, e se impressionando a cada passo com todas aquelas coisas que a fantástica cidade possuía. No entanto, seu instinto lhe dizia que aquele lugar não era bom, e ela estava certa. Myrian ouviu um grito, de uma mulher em desespero. E correu até um beco escuro para ver o que acontecia. Havia uma mulher caída, morta, sem marcas de violência, anão ser por um vergão no pescoço, que indicava que alguém havia lhe tirado um colar, ou coisa do tipo, a força. Quatro criaturas estranhas e pequenas escalavam um muro no final do beco, pouco antes de sumirem da visão de Myrian. Enquanto estava no beco, Myrian viu Grandwolf correndo em direção à rua, como se perseguisse algo. Antes que ela pudesse reagir, ouviu o animal soltando um ganido de sofrimento. Myrian correu para acudir seu companheiro animal, mas ao chegar à rua, tudo que viu foi uma carroça que se distanciava rapidamente.

Myrian correu como um alce, mas suas pernas não eram capazes de alcançar a carroça, e ela foi se distanciando cada vez mais, até desaparecer em uma rua muito distante. Myrian continuou correndo e entrou na mesma rua que a carroça, e a viu estacionada diante de uma casa. Foi até ela, e a investigou em busca de seu amigo, mas só encontrou restos de um estranho pó negro no piso de madeira da carroça. Só havia um lugar onde Grandwolf poderia estar, dentro da casa.

Myrian estava parada, diante da casa, decidida a entrar, quando Susrak a abordou. Embora estranho, era a primeira pessoa que lhe oferecia ajuda, de modo que ela não a recusou. Assim, Myrian encontrou novos amigos, que a ajudariam em sua jornada para reaver seu amigo e encontrar o assassino de seu pai.

fevereiro 07, 2007

Campanha B - Capítulo 10 – O sobrado da rua Monaha

Capítulo 10 O sobrado da rua Monaha

Decidiram então ao menos descobrir onde era o lugar indicado no bilhete, e procurar um lugar para descansarem em seguida. Assim, rumaram para o portão sul da cidade, e a partir dali começaram a procurar o tal endereço. Após muita busca, finalmente encontraram a tal rua, um lugarejo escuro, desolado e sujo, um típico lugar para bandidos tratarem de seus negócios. A tal casa 25 era um sobrado alto, rústico e muito velho. Todas as luzes estavam apagadas, de modo que parecia que o lugar estava abandonado, ou, que seus ocupantes ainda não tinha chegado, já que o horário marcado no bilhete ainda não tinha chegado.

Deixaram o lugar, e foram para uma taverna próxima, onde passaram a noite. Seus corpos caíram pesadamente nas camas de palha e adormeceram. Exceto Susrak, que saiu para perambular pelas ruas e aproveitar as horas que restavam para a noite terminar. O clérigo foi até o bairro onde se aglomeravam os anões e entrou no pequeno santuário dedicado à deusa das trevas que existia ali. Pediu ao clérigo que cuidava do pequeno templo para que ele curasse seus ferimentos, e recebeu a cura mágica acompanhada de um sermão, repreendendo-o por ter atacado e matado as criaturas que serviam a Tenebra. Já quase pela manhã, Susrak retornou para a estalagem e foi até o quarto onde Lohranus dormia.

_ Boizinho! Você me esqueceu aqui fora! Abra a porta! Eu quero dormir! – reclamava o clérigo, batendo à porta do minotauro.

Nirvana ouviu a barulheira e abriu a porta de seu quarto para o rapaz. Colocou-o na cama, Susrak agradecia pela gentileza, e saiu, trancando a porta, e foi dormir em outro quarto.

O 11º dia do mês da batalha raiou, enfim. Era um tirag quente e nublado, o prenúncio de que em breve a chuva voltaria a cair sobre a grande capital. A manhã já findava quando os aventureiros finalmente despertaram de seu sono e deixaram o conforto de suas camas. Reuniram-se na taverna, que ficava no andar inferior da estalagem, e, enquanto degustavam pão e frutas para o desjejum, começaram a se conhecer melhor, a se socializar, como havia dito Susrak. Este último, porém, não se encontrava com os demais. Permanecia em seu quarto, pago com o dinheiro de Nirvana, dormindo. E, não fosse pela intromissão de seus companheiros, teria ficado lá o dia todo, como é típico entre os servos da deusa das trevas. Nirvana, que possuía a chave do dormitório, abriu a porta, e permitiu que Lohranus entrasse e carregasse o jovem clérigo para o saguão da taverna, para poderem socializar. Então cada um contou aos demais um pouco de seu passado, de suas habilidades e dos seus desejos. E eles descobriram que todos tinham um objetivo em comum, seguir a carreira de aventureiro, indo de lugar em lugar, enfrentando perigos e reunindo tesouros e fama. Todos, menos Susrak, cujo objetivo era se transformar num lich. Mas, como a pesquisa e os meios necessários para alcançar sua ambição eram caros, ele precisaria de muito dinheiro. E, o meio mais rápido de se conseguir muito dinheiro, embora também fosse o mais arriscado, era justamente se aventurar pelo mundo à procura de tesouros, de modo que, apesar das divergências, todos sabiam que o clérigo estava no lugar certo. Todos enfim se conheceram, e Susrak pode parar de chamar Lohranus de boizinho, já que agora sabia o seu nome, evitando, assim, que sua cabeça se separasse de seu pescoço tão cedo. Assim o dia se foi e a noite veio, como sempre acontecia, e os aventureiros, agora um grupo coeso, começaram a se preparar para voltar a investigar. Usando toda sua lábia e persuasão, Nirvana aproveitou o momento para ler a sorte de Susrak com suas cartas de tarô e aconselhou-o a deixar de lado sua idéia de se transformar em um lich e não buscar vingança ou coisa parecida, pois isso somente lhe traria sofrimento. Susrak ouviu os conselhos da jovem com atenção, mas sua mente insana não duvidava, tinha certeza de que, ao contrário do que tinha sido dito por Nirvana, ele estava no caminho certo.

As runas de gor de Valkaria já marcavam mais de 21 horas, quando o grupo deixou a estalagem e partiu rumo ao sobrado na rua Monaha. Desejavam chegar cedo ao local, para investigar e, se possível, estar lá dentro quando os sinos dessem suas doze badaladas, para saber o que aconteceria naquele lugar à meia-noite. Iam vagarosos em seus cavalos, já que Lohranus os acompanhava a pé, até que após algum tempo, finalmente chegaram à escura e sinistra rua Monaha. O lugar já estava quase que completamente deserto. Somente algumas raras pessoas, que tinham coisas a fazer, circulavam por ali. Entre essas pessoas estavam os aventureiros. Com atenção redobrada e os dedos preparados, prontos para saltar às armas, o grupo continuou avançando pela viela mal iluminada, até que seus olhos puderam ver ao longe seu objetivo. Mas, havia algo mais naquela noite. Havia luzes acesas no andar superior do sobrado, e as janelas desse andar estavam abertas. E também havia uma carroça, com dois cavalos jovens atrelados a ela, parada em frente à casa. Alguém tinha chegado ali antes deles, talvez uma das partes que se encontrariam naquele lugar horas depois para, esperavam os aventureiros, realizarem alguma transação na qual seriam pegos de surpresa pelos jovens.

Continuaram andando e galopando, mais vagarosamente, seguindo pelo lado da rua oposto ao sobrado. Evitavam olhar para o lugar, para não levantar suspeitas e ficavam atentos a tudo ao seu redor. Quando estavam diante da casa, notaram que havia alguém parado atrás da carroça. Parecia uma mulher de longos cabelos alvos, vestida com roupas grossas de couro, corpo belo e viçoso. Trazia nas mãos uma espécie de escudo feito de madeira, ossos e peles, de formato irregular, e uma arma, como uma espada ou talvez uma garra feita a partir do osso de alguma criatura desconhecida. De sua cabeça pendiam chifres estranhos e tortuosos, insinuando que aquela criatura não pertencia àquele mundo. Estava parada, diante do casarão, olhando para sua fachada, como se esperasse ou planejasse algo.

Os aventureiros continuaram em sua marcha, como se não tivessem notado a presença da estranha mulher. Seguiram até o final da rua e deram a volta ao quarteirão, voltando por uma rua paralela até a altura do sobrado. Já que as casas da região não possuíam quintais ou muros que as dividissem, passaram esgueirando-se pelos estreitos corredores que se formavam entre uma casa e outra, até chegarem aos fundos do sobrado. Lá, aos sussurros, começaram a planejar o que fazer. Tinham receio que a mulher na fachada oposta fosse um vigia e, pela sua estranha aparência, seria melhor evitar ser pego de surpresa por aquela exótica figura. Susrak sugeriu abordá-la, para distraí-la e confirmar se era realmente uma vigia. Como tinha sido sua a idéia, o clérigo foi eleito para a missão. Afastou-se de seus amigos e circundou uma casa alguns metros longe dali para não denunciar a posição dos companheiros. Retornou para a rua e aproximou-se lenta e calmamente da mulher, como se passasse por ali distraído. Parou ao lado dela e pode ver que seu rosto era tão belo quanto seu corpo. Tinha orelhas finas e pontudas, que somente agora ele reparava. Era uma elfa. E viu que não eram chifres em sua cabeça, mas sim galhos que estavam presos ao cabelo como um tipo esquisito de enfeito.

_ Belo espécime! – a voz de Susrak cortou como uma navalha o silêncio que imperava por toda a rua.

_ O que você disse? – perguntou a mulher, ao mesmo tempo confusa e irritada.

_ Eu disse, belo espécime! Essa sua espada ai! É muito bonita! – respondeu com um sorriso o rapaz.

_ Obrigada! – resmungou a mulher, voltando seus olhos novamente para o sobrado.

_ Olha, você não é daqui, certo? Sua aparência é bem exótica! Você não é daqui! Estou certo? – insistiu Susrak.

_ Não! – respondeu secamente a mulher.

_ Ora, e o que a trás a essa cidade? O que alguém como você estaria fazendo aqui? – perguntou novamente.

_ Meu lobo!

_ O quê?

_ Meu lobo! Alguém pegou meu lobo e o trouxe pra cá! Eu segui essa carroça até aqui! Meu lobo deve estar ai dentro! E eu vou tirá-lo de lá!

_ Quer dizer então...que você perdeu um lobo e você quer entrar nessa casa pra encontrá-lo de novo?

_ Sim!

_ Ora, meu nome é Susrak Delzhan, muito prazer! E seu nome, qual é?

_ Myrian!

_ Olha Myrian, venha comigo, sim? Eu tenho um grupo de amigos, nós estamos investigando alguns crimes, e também estamos querendo entrar nessa casa! Talvez possamos nos ajudar mutuamente!

_ Se deseja realmente me ajudar a reaver meu lobo, eu irei com você até os seus amigos!

E Susrak levou Myrian até seus companheiros, e ela lhes contou sua história. E todos decidiram trabalharem juntos para investigar o que havia na casa e resgatar o animal companheiro da jovem elfa.