fevereiro 07, 2007

Campanha B - Capítulo 10 – O sobrado da rua Monaha

Capítulo 10 O sobrado da rua Monaha

Decidiram então ao menos descobrir onde era o lugar indicado no bilhete, e procurar um lugar para descansarem em seguida. Assim, rumaram para o portão sul da cidade, e a partir dali começaram a procurar o tal endereço. Após muita busca, finalmente encontraram a tal rua, um lugarejo escuro, desolado e sujo, um típico lugar para bandidos tratarem de seus negócios. A tal casa 25 era um sobrado alto, rústico e muito velho. Todas as luzes estavam apagadas, de modo que parecia que o lugar estava abandonado, ou, que seus ocupantes ainda não tinha chegado, já que o horário marcado no bilhete ainda não tinha chegado.

Deixaram o lugar, e foram para uma taverna próxima, onde passaram a noite. Seus corpos caíram pesadamente nas camas de palha e adormeceram. Exceto Susrak, que saiu para perambular pelas ruas e aproveitar as horas que restavam para a noite terminar. O clérigo foi até o bairro onde se aglomeravam os anões e entrou no pequeno santuário dedicado à deusa das trevas que existia ali. Pediu ao clérigo que cuidava do pequeno templo para que ele curasse seus ferimentos, e recebeu a cura mágica acompanhada de um sermão, repreendendo-o por ter atacado e matado as criaturas que serviam a Tenebra. Já quase pela manhã, Susrak retornou para a estalagem e foi até o quarto onde Lohranus dormia.

_ Boizinho! Você me esqueceu aqui fora! Abra a porta! Eu quero dormir! – reclamava o clérigo, batendo à porta do minotauro.

Nirvana ouviu a barulheira e abriu a porta de seu quarto para o rapaz. Colocou-o na cama, Susrak agradecia pela gentileza, e saiu, trancando a porta, e foi dormir em outro quarto.

O 11º dia do mês da batalha raiou, enfim. Era um tirag quente e nublado, o prenúncio de que em breve a chuva voltaria a cair sobre a grande capital. A manhã já findava quando os aventureiros finalmente despertaram de seu sono e deixaram o conforto de suas camas. Reuniram-se na taverna, que ficava no andar inferior da estalagem, e, enquanto degustavam pão e frutas para o desjejum, começaram a se conhecer melhor, a se socializar, como havia dito Susrak. Este último, porém, não se encontrava com os demais. Permanecia em seu quarto, pago com o dinheiro de Nirvana, dormindo. E, não fosse pela intromissão de seus companheiros, teria ficado lá o dia todo, como é típico entre os servos da deusa das trevas. Nirvana, que possuía a chave do dormitório, abriu a porta, e permitiu que Lohranus entrasse e carregasse o jovem clérigo para o saguão da taverna, para poderem socializar. Então cada um contou aos demais um pouco de seu passado, de suas habilidades e dos seus desejos. E eles descobriram que todos tinham um objetivo em comum, seguir a carreira de aventureiro, indo de lugar em lugar, enfrentando perigos e reunindo tesouros e fama. Todos, menos Susrak, cujo objetivo era se transformar num lich. Mas, como a pesquisa e os meios necessários para alcançar sua ambição eram caros, ele precisaria de muito dinheiro. E, o meio mais rápido de se conseguir muito dinheiro, embora também fosse o mais arriscado, era justamente se aventurar pelo mundo à procura de tesouros, de modo que, apesar das divergências, todos sabiam que o clérigo estava no lugar certo. Todos enfim se conheceram, e Susrak pode parar de chamar Lohranus de boizinho, já que agora sabia o seu nome, evitando, assim, que sua cabeça se separasse de seu pescoço tão cedo. Assim o dia se foi e a noite veio, como sempre acontecia, e os aventureiros, agora um grupo coeso, começaram a se preparar para voltar a investigar. Usando toda sua lábia e persuasão, Nirvana aproveitou o momento para ler a sorte de Susrak com suas cartas de tarô e aconselhou-o a deixar de lado sua idéia de se transformar em um lich e não buscar vingança ou coisa parecida, pois isso somente lhe traria sofrimento. Susrak ouviu os conselhos da jovem com atenção, mas sua mente insana não duvidava, tinha certeza de que, ao contrário do que tinha sido dito por Nirvana, ele estava no caminho certo.

As runas de gor de Valkaria já marcavam mais de 21 horas, quando o grupo deixou a estalagem e partiu rumo ao sobrado na rua Monaha. Desejavam chegar cedo ao local, para investigar e, se possível, estar lá dentro quando os sinos dessem suas doze badaladas, para saber o que aconteceria naquele lugar à meia-noite. Iam vagarosos em seus cavalos, já que Lohranus os acompanhava a pé, até que após algum tempo, finalmente chegaram à escura e sinistra rua Monaha. O lugar já estava quase que completamente deserto. Somente algumas raras pessoas, que tinham coisas a fazer, circulavam por ali. Entre essas pessoas estavam os aventureiros. Com atenção redobrada e os dedos preparados, prontos para saltar às armas, o grupo continuou avançando pela viela mal iluminada, até que seus olhos puderam ver ao longe seu objetivo. Mas, havia algo mais naquela noite. Havia luzes acesas no andar superior do sobrado, e as janelas desse andar estavam abertas. E também havia uma carroça, com dois cavalos jovens atrelados a ela, parada em frente à casa. Alguém tinha chegado ali antes deles, talvez uma das partes que se encontrariam naquele lugar horas depois para, esperavam os aventureiros, realizarem alguma transação na qual seriam pegos de surpresa pelos jovens.

Continuaram andando e galopando, mais vagarosamente, seguindo pelo lado da rua oposto ao sobrado. Evitavam olhar para o lugar, para não levantar suspeitas e ficavam atentos a tudo ao seu redor. Quando estavam diante da casa, notaram que havia alguém parado atrás da carroça. Parecia uma mulher de longos cabelos alvos, vestida com roupas grossas de couro, corpo belo e viçoso. Trazia nas mãos uma espécie de escudo feito de madeira, ossos e peles, de formato irregular, e uma arma, como uma espada ou talvez uma garra feita a partir do osso de alguma criatura desconhecida. De sua cabeça pendiam chifres estranhos e tortuosos, insinuando que aquela criatura não pertencia àquele mundo. Estava parada, diante do casarão, olhando para sua fachada, como se esperasse ou planejasse algo.

Os aventureiros continuaram em sua marcha, como se não tivessem notado a presença da estranha mulher. Seguiram até o final da rua e deram a volta ao quarteirão, voltando por uma rua paralela até a altura do sobrado. Já que as casas da região não possuíam quintais ou muros que as dividissem, passaram esgueirando-se pelos estreitos corredores que se formavam entre uma casa e outra, até chegarem aos fundos do sobrado. Lá, aos sussurros, começaram a planejar o que fazer. Tinham receio que a mulher na fachada oposta fosse um vigia e, pela sua estranha aparência, seria melhor evitar ser pego de surpresa por aquela exótica figura. Susrak sugeriu abordá-la, para distraí-la e confirmar se era realmente uma vigia. Como tinha sido sua a idéia, o clérigo foi eleito para a missão. Afastou-se de seus amigos e circundou uma casa alguns metros longe dali para não denunciar a posição dos companheiros. Retornou para a rua e aproximou-se lenta e calmamente da mulher, como se passasse por ali distraído. Parou ao lado dela e pode ver que seu rosto era tão belo quanto seu corpo. Tinha orelhas finas e pontudas, que somente agora ele reparava. Era uma elfa. E viu que não eram chifres em sua cabeça, mas sim galhos que estavam presos ao cabelo como um tipo esquisito de enfeito.

_ Belo espécime! – a voz de Susrak cortou como uma navalha o silêncio que imperava por toda a rua.

_ O que você disse? – perguntou a mulher, ao mesmo tempo confusa e irritada.

_ Eu disse, belo espécime! Essa sua espada ai! É muito bonita! – respondeu com um sorriso o rapaz.

_ Obrigada! – resmungou a mulher, voltando seus olhos novamente para o sobrado.

_ Olha, você não é daqui, certo? Sua aparência é bem exótica! Você não é daqui! Estou certo? – insistiu Susrak.

_ Não! – respondeu secamente a mulher.

_ Ora, e o que a trás a essa cidade? O que alguém como você estaria fazendo aqui? – perguntou novamente.

_ Meu lobo!

_ O quê?

_ Meu lobo! Alguém pegou meu lobo e o trouxe pra cá! Eu segui essa carroça até aqui! Meu lobo deve estar ai dentro! E eu vou tirá-lo de lá!

_ Quer dizer então...que você perdeu um lobo e você quer entrar nessa casa pra encontrá-lo de novo?

_ Sim!

_ Ora, meu nome é Susrak Delzhan, muito prazer! E seu nome, qual é?

_ Myrian!

_ Olha Myrian, venha comigo, sim? Eu tenho um grupo de amigos, nós estamos investigando alguns crimes, e também estamos querendo entrar nessa casa! Talvez possamos nos ajudar mutuamente!

_ Se deseja realmente me ajudar a reaver meu lobo, eu irei com você até os seus amigos!

E Susrak levou Myrian até seus companheiros, e ela lhes contou sua história. E todos decidiram trabalharem juntos para investigar o que havia na casa e resgatar o animal companheiro da jovem elfa.

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