fevereiro 14, 2007

Campanha B - Capítulo 14 – A mulher invisível

Capítulo 14 A mulher invisível

Então, passos ecoaram pelo corredor, vindos do andar superior. E Lohranus olhou para o topo da escada e viu um par de botas pardas de couro polido. E junto com o som das pisadas sobre a madeira, que retumbavam como tambores, veio também uma voz feminina como uma harpa e firme como uma rocha.

_ E então, seus vermes! Já pegaram os intrusos? Estou louca para botar minhas mãos nesses intrometidos e...!­

Então a mulher que começava a descer as escadas subitamente interrompeu seu discurso. E sua bela voz praguejou ao ver a pilha de corpos no final da escada e ela correu. Correu na direção oposta, com grande velocidade, e os aventureiros subiram rapidamente as escadas para pegá-la. Enquanto galgavam os degraus com rapidez, ouviram o som do vidro se partindo e logo depois o silêncio. Os degraus finalmente terminaram, e o grupo chegou a um grande salão quadrado, que se abria na diagonal para um outro salão ainda maior e de formato retangular. A escadaria ficava bem no meio da sala onde estavam, e ela era ocupada por vários colchões de palha, que se amontoavam nas paredes próximas. Duas janelas, uma ao fundo e outra na parede lateral, deixavam a luz do luar entrar na casa, junto com uma leve brisa. Também havia quatro enormes caixotes de madeira encostados na parede do fundo, um ao lado do outro.

De onde estavam, podiam ver duas estruturas estranhas que ocupavam a maior parte do espaço da sala anexa. Eram duas compridas plataformas de madeira, mais altas que um homem, que ficavam lado a lado, distantes mais de um metro uma da outra. Cada madeira era apoiada nos extremos em enormes cavaletes feitos de madeira e metal, e entre as duas plataformas, havia cordas que pendiam desde o teto, a cerca de quatro metros, até o chão. Pela disposição das enormes tábuas, sua altura e a presença das cordas penduradas no teto, os aventureiros rapidamente deduziram que aquela estrutura devia servir de área de treinamento para os piratas derrotados, o que explicaria sua extraordinária habilidade em fazer acrobacias. Esse salão, por sua vez, dava acesso a três outros ambientes, separados por portas de madeira, sendo que duas estavam à direita do grupo, e uma ao fundo, no canto. E somente uma delas estava aberta, a que ficava mais perto da parte da frente do sobrado, e foi para lá que o grupo correu.

Encontraram um luxuoso dormitório, com cama grande e bem feita, colchão macio e lençóis limpos. Um armário ocupava a parede à direita da porta, e uma escrivaninha a da esquerda, junto à parede da entrada, onde uma vela desgastada iluminava uma série de objetos sobre a mesa. Por fim, uma janela aberta que dava para a lateral da casa, ficava sobre a cama, e estava aberta.

No chão, logo diante da porta, encontraram um pequeno recipiente de vidro, todo quebrado. Havia outros frascos parecidos sobre a mesa, junto a jóias e papéis enrolados. Nirvana usou sua magia de detecção e concluiu que o frasco quebrado, bem como um dos que restavam na mesa, continha uma poção mágica de invisibilidade. A mulher, suposta líder dos piratas, estava invisível, espreitando de algum lugar, para pegá-los desprevenidos. Todos prepararam suas armas e magias, e ficaram em alerta, para não serem surpreendidos. Nirvana percorreu cada metro do andar superior do sobrado, usando sua magia para tentar localizar a inimiga. Todos os outros faziam silêncio, tentando ouvir os movimentos, ou até mesmo a respiração, da mulher. Porém, não encontraram nem sinal dela.

_ Deixe-me tentar localizar o rastro dela! – exclamou Serena. E a elfa passou a olhar o chão de madeira, em busca das pegadas da mulher. Embora o chão fosse rígido e não estivesse assim tão sujo, existia uma fina camada de poeira que o cobria, e os olhos aguçados de Serena eram treinados para localizar e seguir qualquer tipo de rastro, por mais difícil que fosse fazê-lo. E ela conseguiu, a partir da escada, seguir cada passo da misteriosa mulher, em pegadas sutilmente impressas na poeira, que denunciavam a passagem de suas finas botas. E seguiu os rastros até o quarto onde o frasco de poção estava caído no chão, e viu que eles continuavam até a cama, e viu que sobre ela havia marcas fundas das botas da mulher. Serena disparou uma flecha na direção das marcas na cama, e o projétil atravessou a janela e se perdeu na noite escura. Kallas tateou toda a área ao redor das pegadas, apenas para constatar que ela já não estava sobre a cama há tempos. E só havia dois lugares para onde ela poderia ter ido, para o teto ou para fora, além da janela.

Serena desceu rapidamente a escada, seguida por Lohranus. Kallas e Nirvana permaneceram de vigília na janela do quarto. Lá fora, o minotauro acompanhava, admirado, a ação da elfa, que rastejava pelo chão olhando cada amassado na grama, cada grão de terra fora do lugar, cada marca que ele próprio era incapaz de perceber. E ela fazia medições, cheirava o chão, e sentia sua temperatura com suas belas mãos, e não encontrou nem sinal da mulher invisível. Olharam na casa que ficava de frente para a janela, e nada, nenhum sinal, nenhuma pista. E os dois voltaram para cima, e junto dos companheiros, começaram a explorar a casa. E encontraram roupas finas no armário da inimiga desaparecida, vestidos de seda, cetim, e outros tecidos caros com os quais Nirvana se encantou. E escolheu os que mais gostava para si e ajudou Serena a escolher também, e a elfa, até então selvagem, se encantou com aquelas roupas maravilhosas do mundo civilizado. E sobre a mesa, Nirvana encontrou poções mágicas, que serviam para cicatrizar ferimentos superficiais, e uma outra poção de invisibilidade, e um outro líquido transparente, de aroma corrosivo, que Kallas identificou como sendo um tipo de ácido. E também havia papeis enrolados que ram na verdade pergaminhos mágicos. E no meio destes havia uma varinha, também mágica, e ao lado destes, um medalhão de prata, que continha seis linhas entrelaçadas cunhadas em baixo relevo. E Nirvana guardou rapidamente essas coisas, que mais tarde seriam divididas entre seus amigos, e seus olhos se voltaram para o que realmente lhe interessava, as jóias. Uma bela jaspe cintilava à luz da vela, ao lado de uma pedra da lua bela e alva. E, no canto da mesa, um magnífico colar de pérolas fazia os olhos de Nirvana brilharem, maravilhados. Nirvana recolheu cada jóia, após analisá-las dedicadamente, e sua mente já começava a imaginar colares, brincos, pulseiras ou outros tipos de adornos onde colocar aquelas gemas para conseguir um melhor preço por elas e, conseqüentemente, maior quantia para dividir com seus amigos.

Num outro aposento ao lado encontraram um baú de madeira, cheio de panelas e utensílios de cozinha diversos. Era um quarto mais simples, porém, ainda assim muito mais confortável que os colchões de palha do lado de fora. Pelas panelas, o dormitório aparentava pertencer ao cozinheiro, ou outra pessoa de função de destaque entre os piratas. No meio das panelas, oculta no interior de um pequeno caldeirão de ferro, os aventureiros encontraram uma bolsa com várias moedas de ouro.

A sala restante era um cômodo destinado à latrina da casa. Oculta sob uma tampa de madeira havia uma profunda fossa fedorenta. Lohranus usou sua espada para abrir, um a um, os caixotes que estavam armazenados no andar, e lá dentro, encontrou gigantesca quantidade de pólvora. Eram quatro caixas cúbicas, de um metro e vinte de lado, e todas estavam cheias até a borda com o pó negro proibido. Kallas aproveitou e guardou um pouco do material em uma bolsa de couro, para pesquisá-lo mais tarde. Enfim, revistaram o andar de cima inteiro, mas não avistaram nem sombra da fugitiva. Sem mais o que fazer, Lohranus fechou novamente as caixas, e todos desceram as escadas, para investigar a parte inferior da casa. Foi quando encontraram Myrian e Susrak, que corriam, aflitos, para avisar aos amigos que eles tinham companhia. Do lado de fora, uma nova carroça estacionava em frente ao sobrado. Uma carroça conduzida por goblins.

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