agosto 31, 2005

Capítulo 84 - Chamas na escuridão - A armadilha

Lucano, Anix e Sairf já haviam concluído a preparação de suas magias quando os outros três retornaram ao abrigo. Legolas se sentou para fazer o desjejum e para orar à deusa dos elfos para pedir proteção para ele e seus amigos. Anix ficou junto de seu amigo, fazendo-lhe companhia enquanto também fazia suas orações.
Fora da sala, Squall, assim como seus amigos, desejavam saber o que havia atrás da porta na extremidade oposta do salão. Em grupo, todos se aproximaram lentamente da porta. Uma pequena porta de pedra, com a figura de um anão muito zangado adornando-a em alto relevo. Prepararam-se com suas armas e magias, caso atrás da porta existisse alguma fera que pudesse atacá-los. Nailo ficou diante da porta, segurou com força a alça de rocha que servia de maçaneta e a empurrou, abrindo a porta.
Com o abrir da porta, das paredes em volta saíram compridas labaredas de fogo, atingindo todos os heróis. Sob o calor intenso, Sam e Lucano gritaram para Nailo fechar a porta. Instintivamente, o ranger já a puxava de volta quando foi alertado pelos amigos. A porta se fechou e as chamas que queimavam a carne dos heróis se extinguiram tão rápido quanto surgiram. Nailo, Sam e Lucano apagaram com as mãos os pequenos focos de incêndio que haviam sobrado em suas roupas. Olharam em volta, pois seus dois companheiros Squall e Sairf permaneciam calados apesar do acontecido. Estavam caídos, inconscientes e seriamente feridos.
Sam agiu mais rápido que o pensamento. Desceu sua mochila ao chão e de dentro dela retirou dois frascos com um líquido de cor verde escura. Rapidamente, o bardo jogou o conteúdo de um dos frascos na boca de Squall. Nailo pegou o outro vidro e correu para socorrer Sairf. Lucano, neste instante, preocupava-se mais em curar seus próprios ferimentos com sua mágica. Os dois conjuradores recobraram a consciência, muito fracos ainda e tomaram de suas próprias poções para curar as queimaduras restantes. Legolas e Anix, atraídos pelo barulho no corredor, interromperam suas preces para ver o que estava acontecendo. Chegando ao salão, viram o estado de seus companheiros e finalmente entenderam o motivo da morte dos orcs cujos corpos jaziam no salão quando ali chegaram no dia anterior.
A porta era, na verdade, uma armadilha mortal, preparada pelos anões do salão do esplendor há muitos anos atrás. Sam e nailo criaram uma estratégia para superar a engenhosidade dos anões. Nailo abriria a porta sozinho, e entraria rapidamente na sala além dela. Se algo desse errado, Sam fecharia a porta através de uma corda amarrada na maçaneta, desativando assim o mecanismo da armadilha. Para que a corda não entrasse em combustão, Nailo a molhou no poço abandonado. Além disso, com panos umedecidos e pedaços de madeira, Nailo se encarregou de fechar cada um dos buracos por onde as labaredas saiam. Com todos os preparativos terminados, Nailo foi até a porta e a abriu.
Dos furos na parede, ao invés de chamas, somente um tipo de gás fétido saiu, superando todos os sortilégios de Nailo. O ranger terminou de abrir a porta, revelando uma pequena sala com dois barris de cobre, já sem brilho, em seu interior. Presos à porta por cordas, dois contra-pesos faziam o sistema funcionar, além de fecharem a porta após um tempo pré-determinado para reativar a armadilha. Legolas entrou atrás de Nailo e cortou as cordas, desativando o sistema. Anix veio logo em seguida e, junto com Nailo, buscava entender o mecanismo daquela armadilha.
No fundo de cada barril, havia um pouco de líquido, transparente e de cheiro forte e irritante. Nailo sabia que o líquido deveria ser fogo-grego, mas não entendia como ele não se incendiava dentro dos barris, apesar de estar em contato com o ar. Então, usando seus conhecimentos alquímicos, Anix concluiu que os dois líquidos separados não se incendiavam, mas quando misturados transformavam-se no perigoso líquido incendiário.
O mago tentou misturar os dois líquidos sem que eles incendiassem, mas ao menor contato entre os dois, houve uma pequena explosão que arruinou os planos de Anix. Sem outra opção, ele e Nailo usaram os frascos em que guardavam poções mágicas para recolher os líquidos separadamente. Assim, eles conseguiram reunir material suficiente para produzir seis frascos de fogo grego.
Os dois ainda encontraram pequenos tubos de cobre que saiam de trás dos barris e penetravam na parede. Nailo destruiu os tubos, de forma que a armadilha nunca mais fosse acionada por ninguém. Enquanto isso, lá fora no salão, os outros discutiam sobre qual caminho tomariam a seguir.

Capítulo 83 - Camponeses libertos

O décimo primeiro dia de Luvitas se iniciou como todo Aztag deveria ser, um dia preguiçoso e de difícil despertar. Principalmente porque o dia anterior havia sido uma verdadeira tormenta para todos. Batalhas mortais, perigo por todo lado, orcs malévolos espalhados em cada canto daquele complexo de túneis. Era uma manhã fria, típica de inverno, mas as chamas do fogareiro aqueciam todos dentro da sala, apesar da fumaça incômoda. Após o sonho, os heróis só tinham não tinham dúvidas do que fazer.
_ Courana, Geradil! Preparem suas coisas, vocês vão embora! – Legolas falava com seriedade e rudeza.
_ Mas por que, senhor Legolas? O que aconteceu, por que o senhor mudou de idéia? – perguntaram, espantados com a decisão, os dois plebeus.
_ Vocês não podem ficar aqui com a gente! É perigoso demais! Vocês podem morrer! E tenho medo de que até mesmo nós percamos a vida nesta jornada! Não quero que vocês morram também!
_ Mas e os orcs lá fora? E se eles nos pegarem?
_ E o que vocês preferem? Morrer aqui dentro, ou morrer lá fora tentando ir para casa? Lá fora vocês tem ao menos alguma chance de se salvar!
A última frase de Legolas deixou todos calados e pensativos. Os dois plebeus concordaram em partir e começaram a se arrumar para ir embora.
_ Tomem isso, para vocês se alimentarem! Isso é uma fruta mágica que alimenta tanto quanto uma refeição completa! Fiquem com isso também! Essa jóia deve valer alguns Tibares. Usem-na para diminuir os prejuízos que os orcs lhes causaram! – enquanto falava com docilidade, Sairf presenteou os dois rapazes com a fruta que havia ganhado de Enola, e com um rubi que havia encontrado no corpo de um dos orcs morto por eles.
_ Levem isso também, caso precisem de dinheiro durante sua viagem! – a exemplo de seu amigo, Anix deu aos jovens uma bolsa com vários Tibares de ouro.
Os dois agradeceram muito a toda ajuda recebida e se despediram dos heróis, prometendo que iriam até Follen avisar aos moradores de Darkwood que os heróis estavam bem, conforme pedido de Nailo.
Ficou decidido que Legolas, Sam e Squall escoltariam os dois até a saída da montanha, enquanto os demais ficariam concentrados na preparação de seus corpos e mentes para utilizarem suas magias no dia que começava. Nailo e Loand ficaram responsáveis pela segurança de Lucano, Sairf e Anix, que necessitavam de mais tempo meditando. Caso Algum outro orc surgisse para atacá-los, o ranger e o paladino se encarregariam de defender seus amigos.
Os três heróis, acompanhados dos dois camponeses, fizeram todo o caminho de volta até chegarem à ponte de cordas, na entrada da montanha. Sam cortou cerca de um metro da corda emprestada por Nailo e, com a ajuda de seus amigos, consertou a parte danificada da ponte. Depois amarrou uma ponta da corda no pilar que sustentava a ponte e a outra ponta na cintura de Legolas, que iniciou imediatamente a travessia. Sem a ameaça dos orcs, o elfo não teve dificuldades para chegar ao outro lado em segurança. Assim, um a um, os jovens atravessaram o abismo. O último a passar foi Sam, que após a travessia, deixou a corda presa por um laço no pilar do lado da saída.
Todos juntos abriram os pesados portões de pedra que os separavam do mundo exterior. O sol raiava por trás das árvores naquela manhã fria e calma. A Runa de Gor de Sam marcava exatamente sete horas da manhã quando o grupo chegou ao exterior da montanha. Cautelosamente, todos desceram a encosta, tomando o cuidado de se esconderem entre as árvores para não serem vistos por ninguém. Então chegaram ao local onde estavam os cavalos.
Os animais já haviam se dispersado, e foi preciso gastar alguns minutos para reuni-los novamente. Courana e Geradil montaram no cavalo de Sairf, que o mago havia gentilmente cedido para a fuga dos dois camponeses. Com os olhos cheios de felicidade e gratidão, os dois se despediram e seguiram pela estrada até desaparecerem da visão de Legolas. Era possível ouvir o som dos cascos do cavalo ficando cada vez mais distante, até sumir por completo.
Após alimentar os animais e constatar que todos estavam bem, Sam pegou um frasco de óleo no cavalo de Nailo, como o ranger havia pedido. Todos os três retornaram para a montanha em segurança, após Legolas constatar que não havia nenhuma ameaça nas redondezas.
Ao passarem pelo portão da montanha, decidiram trancá-lo, para evitar que os orcs que estavam na mata pudessem entrar e surpreendê-los. O enorme portão foi fechado, e trancado com uma sólida viga de madeira, que era utilizada pelos orcs para o mesmo fim.
De volta à ponte, Legolas e Squall foram os primeiros a atravessar. Sam amarrou a corda de Legolas na ponte e os dois passaram para o outro lado, onde recolheram a corda. Sam se amarrou na corda que haviam usado antes e atravessou o abismo sem problemas. Do outro lado, os três enrolaram as duas cordas, e rumaram para junto de seus companheiros.

agosto 29, 2005

Capítulo 82 - Anões

Todos se acomodaram na apertada sala, dividindo o espaço com toda a sujeira e mobília dos orcs. A carne, assada deixada pelos orc, era como uma benção para aqueles jovens. O grupo se fartou com aquela refeição enquanto faziam curativos em seus ferimentos. Sam dedilhava seu alaúde, tirando uma doce melodia ora interrompida por algumas notas agudas e distorcidas, ora pelo silêncio quando algum ruído vindo de fora os fazia calar. Após algumas horas, todos adormeceram, um sono inicialmente leve mas que foi se tornando cada vez mais pesado, até que todos estivessem num profundo sono. Durante o sono, suas mentes novamente se conectaram, e eles voltaram a sonhar o mesmo sonho todos juntos, uma nova visão.
Os heróis se viram no salão onde tinham lutado com os orcs. Seus pés não tocavam o chão, e todos possuíam uma aparência translúcida e fantasmagórica. Os dois prisioneiros, Courana e Geradil, não estavam junto com eles. Com grande velocidade, todos começaram a descer em direção ao piso e, quando iam chocar-se contra ele, atravessaram-no como fantasmas. Desceram incontáveis metros, através de camadas de rocha e terra, até chegarem em uma gigantesca caverna cujas paredes brilhavam como se estivessem cobertas de cristais. Seus corpos se moveram, flutuando poucos centímetros acima do solo, e independente de suas vontades. Os heróis atravessaram as paredes da caverna e pararam por uma ligeira fração de segundo em uma câmara onde eram observados por numerosos anões de aparência nobre, que vestiam armaduras brilhantes e portavam armas exuberantes. Sem poder dizer qualquer coisa, ou sequer se mover, os heróis continuaram se movendo através de incontáveis paredes e cavernas com tal rapidez que não os permitia distinguir os detalhes na escuridão. Então eles novamente pararam, desta vez diante de uma resistente porta feita de ferro maciço. Não havia dobradiças à mostra que pudessem ser desmontadas. Grossos rebites eram visíveis por toda a extensão e marcas rúnicas feitas por anões podiam ser vistas no centro da porta. Não tinha mais que um metro e meio de altura, e estava firmemente cravada na entrada de uma caverna de rocha sólida. Do outro lado da porta, era possível ouvir o som de martelos sendo batidos sobre aço, numa sinfonia compassada e agradável. Os heróis se afastaram da porta tão veloz quanto haviam chegado. Passaram por mais paredes e câmaras, até que chegaram em um lugar com muita água corrente. Antes que pudessem prestar atenção em qualquer detalhe, desceram por um grande buraco no chão, até chegarem a um terceiro nível de túneis na montanha.
Saíram em um salão onde a água despencava do teto formando uma volumosa e barulhenta cascata. Havia à frente do grupo paredes feitas de blocos de pedra cuidadosamente empilhados uns sobre os outros, e portas que davam acesso às câmaras adiante. O grupo atravessou as paredes, portas e salas, percorrendo várias câmaras com caixas e sacas empilhadas como um grande depósito. Chegaram a um corredor estreito e o atravessaram até a ultima sala. Dentro da sala, uma mulher anã, de longos cabelos ruivos, vestindo uma armadura de metal brilhante, trazia as mãos cruzadas sobre o peito. A mulher emanada uma tênue aura de paz que era percebida por todos. Apesar da aura que tranqüilizava os presentes, os olhos da anã mostravam dor e tristeza. Delicadamente, ela estendeu as mãos aos jovens heróis e, como se entregasse um presente a um velho e querido amigo, exibiu uma grande chave de metal, toda trabalhada e decorada com runas anãs. Os heróis despertaram repentinamente, assustados e emocionados ao mesmo tempo. Se entreolharam rapidamente, sem que nenhuma palavra precisasse ser dita. Todos sabiam no que cada um dos seus companheiros estava pensando. Courana e Geradil acordaram em seguida, sem suspeitar de nada, nem entender a o porque da agitação de seus salvadores. Os aventureiros começaram os preparativos para retomar a jornada com uma coisa em mente, libertar os dois agricultores.

A travessia do lobo sobre o abismo


O lobo Relâmpago atravessa o abismo com a ajuda dos heróis. Desenho de Sairf

agosto 25, 2005

Capítulo 81 - Ninho

Era consenso entre os heróis que, após tantas batalhas num único dia, eles precisavam de um merecido repouso. Já era por volta das cinco horas da tarde, segundo Sam, e todos concordaram em acampar em algum lugar e prosseguir no dia seguinte. Sairf examinou cuidadosamente a sala de onde os orcs haviam saído, enquanto seus amigos reviravam os cadáveres em busca de tesouro. Só havia uma entrada, tornando o lugar perfeito para proteção do grupo durante a noite. Havia na sala muita fumaça, proveniente de um rústico fogão à lenha, onde a carne de um cervo do mato era mantida aquecida. Camas de palha e mobílias rudimentares e deterioradas se espalhavam pelo chão. Pendurados no teto, diversos crânios serviam de adorno para a sala. Uma análise mais cuidadosa revelou a quem pertenciam os crânios. Eram de anões, anões há muito tempo mortos pelos orcs, como concluiu Legolas, posteriormente. Era um esconderijo perfeito para descansarem, pensou Sairf, e tratou de convencer seus amigos do mesmo. Tudo resolvido, Legolas recolheu os corpos e os atirou dentro da fenda, para que não fossem vistos por quem viesse pelo mesmo caminho que eles mesmos tinham usado para chegar até ali. Então ele partiu com Nailo e Geradil, para buscar um dos braseiros que iluminavam a região da ponte de cordas. Enquanto isso, Squall e Lucano, decidiram fazer um rápido reconhecimento do andar inferior, e desceram as escadas que cortavam a fenda no solo. Legolas retornou para o abrigo com o braseiro para fornecer calor e iluminação ao grupo, sem sequer desconfiar dos problemas que Lucano e Squall enfrentavam.
Vários metros abaixo, Squall e Lucano haviam chegado a um patamar de pedra plano. A escadaria continuava à frente e abaixo indefinidamente. No patamar havia um veio de água que jorrava com força de um buraco na parede à direita. À esquerda, a correnteza seguia rapidamente por uma fenda estreita na parede. A fenda tinha largura e altura suficientes para que uma pessoa de tamanho mediano pudesse caminhar por ela. Curiosos, os dois pararam para observar a fenda. Quando Squall iluminou o vão com a tocha, pode ouvir um zumbido assustador.
Não tardou para que dois insetos, iguais aos que haviam enfrentado antes, surgissem de dentro da fenda e atacassem os dois heróis. Lucano disparou uma flecha assim que avistou os monstros, mas atravessou a pele da asa de um deles sem causar dano algum. Os insetos avançaram e cercaram os dois, tentando atingi-los com seus ferrões. Squall e Lucano se defendiam, tentando golpear os inimigos. Mas os heróis, após tantas batalhas, já não tinham mais forças para lutar.
Squall gastou a última magia que possuía e a usou para aumentar a força de seu companheiro. Com a força ampliada, Lucano, que tinha maior perícia com armas, seria capaz de derrotar as criaturas sozinho. Pensando nisso, Squall pegou o escudo das costas de seu amigo se protegeu com ele.
Lucano abandonou o arco e passou a usar a espada para lutar. Os insetos se debatiam contra a espada de Lucano e o escudo que protegia Squall, sem que nenhum dos lados sofresse ferimentos. Mas as criaturas eram muito rápidas, e o cansaço dos dois heróis aumentava a vantagem para os monstros. Um dos insetos conseguiu pousar no peito de Squall, e o outro sobre a cabeça de Lucano. Quase simultaneamente, os dois cravaram seus ferrões nos pescoços dos heróis.
Sentindo seu sangue sugado gota a gota, Lucano usou sua espada para atingir o inimigo que o atacava. Mas a criatura não caiu com um simples golpe de espada e continuou sugando até saciar sua fome. Com o estômago cheio, o inseto levantou vôo e partiu em direção a fenda, visivelmente mais gordo e pesado. Lucano o atacou por trás, cortando-o ao meio e manchando sua espada com seu próprio sangue absorvido pela criatura.
Squall, precisou da ajuda do clérigo, que cravou a espada nas costas do monstro, apertando com força até que a ponta tocasse o peito de Squall levemente. O feiticeiro retirou a carcaça da criatura de seu peito, todo ensangüentado e devolveu o escudo para Lucano, agradecendo-o pela ajuda. Mas apesar das criaturas estarem mortas, o zumbido de suas asas não cessava de jeito algum. Então os dois perceberam que o barulho vinha da fenda na parede, não dos insetos mortos. Squall iluminou com a tocha e viu o vulto de vários outros insetos voando pela fissura em sua direção. Os dois partiram em disparada, rumo à superfície. Correram pelos degraus como se estivessem correndo num plano reto, tamanho era o desespero que sentiam. Finalmente passaram pelos corpos dos orcs, e chegaram ao salão. Sem hesitar, correram para o abrigo, passaram pela porta e a fecharam depressa. Exaustos, juntaram-se aos seus amigos para descansar e recuperar as energias para o dia seguinte.

Capítulo 80 - Feitiço orc

Com os inimigos derrotados, restava agora abrir o portão que os impedia de seguir adiante. Pancadas e magia não surtiram efeito para destruir a fechadura. Legolas então pegou uma adaga e o martelo de Nailo e começou a tentar desmontar as dobradiças do portão. Eram três grandes dobradiças de ferro, já muito enferrujadas pelos anos de abandono. Cada martelada dada pelo elfo ecoava por todo o salão adjacente. Enquanto isso, Sam usava suas ferramentas para tentar abrir a fechadura. Então uma das dobradiças se partiu em duas, enchendo de esperança os olhos dos heróis. Na outra extremidade do portão, duas das gazuas de Sam também se partiram, inviabilizando a tentativa do bardo. Todas as atenções se voltaram para Legolas, que continuava golpeando a segunda dobradiça. Após um grande esforço, a peça voou, aos pedaços, deixando a passagem quase livre. Num esforço conjunto os heróis agarraram o portão e o puxaram para trás com toda sua força. A última dobradiça não resistiu à torção e se partiu. O pesado portão jogou todos para trás ao cair no chão. Os heróis o removeram do caminho e entraram no salão, desviando-se dos corpos dos insetos mortos que jaziam no chão empoeirado.
Assim que atravessaram o portão, os aventureiros chegaram em um enorme salão. Era possível ver uma porta de pedra, com a figura de um anão zangado entalhada em alto relevo à esquerda. O fim do salão à direita não era visível, pois se perdia no meio da escuridão. Vários corpos orcs, já ressecados pela ação do tempo, espalhavam-se pelo chão. As paredes à frente e atrás do grupo tinham entalhes elaborados de anões trabalhando em suas forjas. No centro do salão, uma fenda no chão descia para as profundezas da montanha. Uma escadaria de pedra, esculpida na fenda, levada aos níveis inferiores.
Então os mais atentos ouviram um estalo e o ranger de uma porta no meio da escuridão à direita. Ho-oh usou seus olhos de coruja para ver o que acontecia no escuro e avisou seu mestre telepaticamente. Sairf então gritou para seus amigos:
_ Orcs! Pelo menos uns cinco deles, cuidado!!!
Imediatamente após o aviso, Legolas disparou uma flecha na direção de onde tinha ouvido o som. O barulho da flecha se espatifando na parede deu a certeza de que o arqueiro tinha errado. Sem poder ver os inimigos, os heróis se protegeram como podiam. Squall fez em si próprio uma magia de proteção, enquanto Sairf invocava uma criatura extraplanar para ajudar no combate. Anix retornou para o túnel pelo qual passara para dar cobertura aos agricultores que haviam libertado, enquanto Lucano se protegia com sua mágica. Guardado pelo poder de Glórien, o clérigo avançou até o final da fenda, onde seus olhos élficos podiam distinguir o inimigo, e avisou seus amigos do perigo que os aguardavam. De uma porta semelhante a que havia no outro extremo do salão, quatro orcs bem armados, mais um outro vestido um manto, que mais parecia ser uma fêmea, saiam para combater contra os heróis.
Sam usou seus truques mágicos para fazer sua besta brilhar como uma tocha, e avançou em direção ao fundo da câmara apontando-a na direção dos inimigos, até ficar ao lado de Lucano. A iluminação fornecida pelo bardo, junto com as tochas que Courana e Geradil atiraram no meio do salão, permitiu que todos pudessem ver os orcs. Legolas correu, ficando entre Lucano e Sam, e disparou uma flecha contra um dos orcs. O disparo foi feito com tamanha potência, que o monstro teve quase o crânio atravessado pela flecha do elfo, além de ter ficado cego do olho direito.
Do outro lado da fissura no chão, Squall avançou alguns passos e disparou seu arco. Seu tiro, entretanto, apenas atingiu a porta por onde os orcs saiam. Sairf, que terminara sua conjuração, aproximou-se de Sam e se protegeu com uma magia, da mesma forma que Squall. Ao mesmo tempo, de um portal mágico no teto, surgia uma monstruosa aranha abissal convocada pelo mago para apoiar o grupo.
Lucano e Sam partiram para a ofensiva simultaneamente. Enquanto o bardo usava sua melodia para inspirar coragem em seus amigos, o clérigo tentava dominar a mente de um dos inimigos. Entretanto, os orcs frustraram as ações dos dois heróis. Lucano e Sam foram atingidos pelas espadas dos orcs com violência. O clérigo felizmente não sofreu ferimento algum graças à sua armadura, entretanto, Sam ficou severamente ferido e perdeu sua concentração, interrompendo sua música mágica. Os outros orcs também correram para atacar os heróis, restando apenas a fêmea do grupo. Legolas se inclinou para trás, deixando que a espada de um dos orcs passasse por ele e se chocasse contra a parede. Depois saltou sobre a fissura e golpeou com o peso de seu corpo o orc que atacava Sam. Mas o arqueiro não saiu ileso, e recebeu o contra golpe do inimigo, ficando com o ombro ferido pela lâmina orc.
Como se não bastassem as espadas, a fêmea orc olhou para Legolas sorridente. Após dar uma piscadela e mandar um beijo para o elfo, a criatura começou a mover os braços numa dança hipnótica, enquanto sussurrava alguma coisa que Legolas não entendia. O arqueiro começou a sentir seus olhos ficando pesados e quase não podia mantê-los abertos. Ele balançou a cabeça e por pouco não caiu num sono profundo. Percebendo o perigo, Squall correu para socorre o amigo. Usando seu poder mágico, o feiticeiro conseguiu deixar a orc atordoada, e salvou Legolas do transe. Com a inimiga pasma, Sairf sentiu que era o momento para derrotá-la antes que fizesse outro truque mágico.
_ Pelos poderes da magia eu ordeno, apareça área escorregadia! – após pronunciar estas palavras, Sairf apontou para os pés da fêmea orc. Do chão surgiu uma substância gelatinosa e lisa. A fêmea e um dos seus guerreiros começaram a escorregar. A Fêmea conseguiu se manter em pé com muito custo, mas seu comandado não resistiu e caiu no chão, espirrando a substância no peito de Lucano. Anix aproveitou a queda do inimigo e disparou uma rajada de energia em sua face. Ao mesmo tempo outro orc sentia os efeitos da picada venenosa da aranha abissal invocada por Sairf. Com um inimigo atordoado, um caído e outro enfraquecido pelo veneno, parecia que o combate seria definido em poucos instantes. Entretanto, as coisas não seriam tão fáceis quanto o grupo desejava.
Lucano começou a invocar o nome de sua deusa quando sentiu o aço frio penetrando em seu ventre. Mesmo ferido pela aranha, o orc conseguiu reunir forças para golpear o clérigo e tirar-lhe a concentração na magia. Lucano nem teve tempo de gritar, pois outro golpe certeiro o atingiu no pé. Mesmo caído, o inimigo não se fava por vencido e continuava atacando o clérigo sem piedade.
_ Filho de uma égua!!! – gritou sam, largando seu alaúde no chão e disparando sua besta à queima roupa no nariz do orc que o ferira. O bardo riu ao ver o nariz do inimigo todo desfigurado pelo ataque. A poucos metros dali, Lucano conseguia desviar de outro golpe do orc caído.
Mesmo sem o nariz, a criatura ainda lutava com bravura, avançando em direção a Legolas, com intenções claras de atirá-lo dentro da fenda, abismo abaixo. Mas Legolas conseguiu ser mais rápido que o orc e disparou uma flecha em seu ombro. Atrás dele, Sam aproveitou a distração e o golpeou com o arco de sua besta. Atordoado pelos ataques, o monstro não conseguiu sequer tocar em Legolas.
Squall temeu quando viu um dos adversários correndo em sua direção. O monstro passou ao lado da aranha abissal e foi atingido por ela no pescoço. Mas ele parecia ignorar o ferimento e continuou avançando. Quando estava a três passos do feiticeiro, abaixou-se e pegou a besta para atacar Squall. Mas o orc caiu morto, vítima do veneno, antes que pudesse disparar seu virote. Squall respirou aliviado, e decidiu tentar o combate corpo a corpo, aumentando sua força magicamente. Mas ele não teve tempo de se beneficiar da magia, pois a líder dos orcs interveio de forma surpreendente. Afastando-se cuidadosamente para não escorregar na gosma sob seus pés, ela se aproximou da parede, gesticulando e murmurando algo em seu idioma. Apanhou um punhado de teias de aranha e apontou sua mão para Legolas. Como se fosse um jato de água, uma fibra branca saiu da mão da criatura e começou a se espalhar por todos os cantos. As teias se fixaram no teto e no piso, numa área circular de mais de cinco metros. Sam, Sairf, Ho-oh, dois dos orcs e a aranha abissal ficaram presos nas teias de aranha, sem poder se mover. Legolas e Lucano conseguiram desviar dos fios que tentavam envolvê-los, mas apesar de não estarem amarrados, permaneciam cercados de teias por todos os lados. Aproveitando a chance, Legolas cravou uma flecha num dos inimigos enredados, arrancando gritos de dor do orc.
A situação era crítica. Os que estavam dentro da teia estavam em clara desvantagem. Os que estavam fora, mal conseguiam ver seus inimigos através do emaranhado de fios. Anix e Squall tentavam em vão avançar através dos fios, enquanto Sairf e Sam tentavam se libertar sem resultado. Somente Lucano e Legolas podiam se mexer dentro da teia, mesmo assim, não estavam em melhor situação. Protegendo-se atrás de um de seus lacaios, a líder dos orcs sorriu novamente e mandou outro beijo para Legolas. Enojado, o elfo viu a criatura pegar um pequeno frasco em uma bolsa presa à cintura. O pequeno vidro continha um líquido transparente que podia ser visto por todos. Ela arremessou o frasco na direção dos heróis e ele se quebrou ao se chocar contra os fios da teia. Ao entrar em contato com o ar, o líquido se incendiou, ateando fogo na teia toda. Era fogo-grego, um composto alquímico de fácil combustão que colocava as vidas dos heróis em perigo. Squall a atingiu com um virote, mas já era tarde. As teias se transformavam em chamas rapidamente e num piscar de olhos atingiram Legolas Lucano e o orc caído.
Lucano tentava usar sua lança, mas ela se enroscava nas linhas, impedindo suas ações. Além disso, o orc diante dele, já havia conseguido se levantar e se livrar dos pequenos focos de chamas em seu corpo e agora golpeava Lucano cruelmente, deixando o clérigo em situação crítica.
Do outro lado da teia, não se podia fazer nada, a não ser ver o fogo avançando contra seus companheiros. Anix e Squall tentavam ajudar como podiam. Enquanto um tentava cortar os fios com a espada, o outro tentava atingir os inimigos com sua besta. Nailo observava atônito, e Loand protegia Courana e Geradil ao mesmo tempo e que vigiava o túnel para não ser surpreendido pela chegada de novos inimigos.
O fogo avançou, matando um dos orcs carbonizado e ferindo Sam. Mesmo usando sua magia de ácido, Anix não foi capaz de libertar o bardo e impedir que o fogo o atingisse. Sairf conseguiu se livrar das teias e começou a abrir caminho para frente. Mais adiante, a fêmea orc tentava novamente hipnotizar Legolas. Como não conseguiu, recuou para perto da porta, tentando fugir. Legolas foi atrás para impedir, disparando uma flecha a dez centímetros da criatura. Ferida, a orc ficou enfurecida, com os olhos vermelhos e rugas pelo rosto. Squall, apesar das teias, conseguia com muito sacrifício atingir seu inimigo com sua besta. Lucano, muito ferido, tentou curar seu corpo com sua mágica, mas as ameaças de seu oponente impediram a concentração do clérigo e a concretização da magia. Sentindo a fragilidade de Lucano, o orc cravou sua falcione no peito do elfo. O sangue rubro jorrou pelo ar, enquanto Lucano desfalecia já quase morto.
O fogo na teia continuou avançando, até atingir Sairf e consumir o que restava dos fios e a vida da aranha abissal. Livre das linhas que o prendiam, Sairf voltou a usar sua magia para criar uma nova área escorregadia sob os pés da orc fêmea. A criatura travava uma batalha dura com Legolas. Seus feitiços não conseguiam abalar a vontade e a coragem do elfo, nem as flechas dele estavam causando grandes ferimentos a ela. Então o chão sob seus pés ficou liso como o gelo, e ela caiu. Vendo sua adversária indefesa, Legolas desferiu o golpe final. Uma flecha certeira penetrou no crânio da líder, extinguindo sua vida. Legolas a chutou descontroladamente, irritado com o assédio e as sucessivas tentativas de controle mental da fera.
Sem as teias para atrapalhar o caminho, os heróis puderam se deslocar livremente. Enquanto Sairf revirava o cadáver de um dos orcs em busca de itens de valor, Sam correu para socorrer Lucano. O algoz do clérigo se colocou entre o corpo do sacerdote e Sam. O bardo tentou golpeá-lo várias vezes, mas o inimigo rebatia os golpes com a lâmina de sua espada e contra-atacava rapidamente. Então Sam também caiu, sem seu chapéu, com um grande corte na cabeça e sem brilho no olhar. O grito de agonia de Sam chamou a atenção de Legolas que se virou e liquidou o orc com uma flecha mortal cravado no olho direito do monstro. Squall se encarregou do último inimigo, num duelo de espadas equilibrado. Apesar das dificuldades, o feiticeiro elfo fez o inimigo tombar com uma estocada no nariz. Com a espada cravada no crânio, o último orc caiu morto.
Sairf e Anix correram para socorrer os amigos inconscientes. Da mochila de Sam, Sairf retirou dois frascos parecidos com as poções mágicas de cura que ele costumava usar. Colocou uma na boca do bardo, ajudando-o a engolir o líquido, e a outra entregou a Anix que correu para salvar Lucano. Sam despertou, mas Lucano continuava desacordado, porém a salvo da morte. Após se certificarem que não havia mais nenhuma ameaça, Squall foi ajudar o clérigo. Com uma infusão que Lucano havia recebido de Enola, Squall trouxe seu amigo de volta à vida.

agosto 19, 2005

Capítulo 79 - Sede de sangue

Os jovens levaram cerca de vinte minutos removendo os objetos que bloqueavam a entrada do túnel. Mesmo com a ajuda de Courana e Geradil, o trabalho era penoso e lento. Assim que o caminho foi liberado, Nailo e Squall correram pelo túnel curvo que seguia adiante. No final do túnel havia uma grade de ferro revestida por tapumes de palha e madeira.
Em seu rompante de curiosidade, Nailo começou a retirar os tapumes que impediam a visão além do portão. Assim que o ranger abriu um buraco com tamanho suficiente, Squall colocou sua mão através da grade, com seu falcão sobre ela, e ordenou que o animal fizesse o reconhecimento do lugar. Cloud levantou vôo e percorreu todo o lugar, relatando telepaticamente tudo o que via ao seu mestre. Era um grande salão muito comprido, com uma porta em cada extremidade. No centro do salão havia uma enorme fenda no chão, com uma escada que conduzia até o andar inferior. Enquanto o pássaro vasculhava o salão, Squall e Nailo tentavam arrombar o portão, já todo descoberto. Squall chacoalhava o portão com força, tentando fazer com que a velha fechadura se rompesse. Entretanto, só o que conseguiu foi provocar um barulho ensurdecedor,que atraiu a atenção de seus companheiros, irritados com a imprudência dos dois. O barulho, entretanto, atraiu a atenção de mais alguém.
O falcão avisou seu mestre, que ouvia o som de abelhas no fundo do túnel que descia ao andar de baixo. Do subsolo, o falcão viu um bando de criaturas voando rumo à superfície. Squall ordenou que seu familiar retornasse para junto dele. Assim que o pássaro pousou no ombro de seu mestre, uma horda de criaturas aladas, que lembravam uma bizarra combinação de moscas com morcegos, surgiu da fenda no que havia no chão. Squall atirou sua tocha no centro do salão, através da grade de ferro, para poder distinguir as criaturas na escuridão. O bando se agrupou sobre a tocha, como moscas em volta de um lampião. Mas a luz das outras tochas trazidas pelos heróis chamou a atenção das criaturas, que rapidamente avançaram contra o grupo.
Nailo recuou e se protegeu atrás de uma alcova na parede. Simultaneamente, ele e Legolas dispararam seus arcos contra os monstros que se aproximavam. A flecha do ranger atravessou o corpo de uma das criaturas, que caiu no chão formando uma poça de sangue. Legolas, entretanto, atingiu uma das estalactites do teto, desperdiçando seu ataque.
Anix avançou pelo túnel, ficando ao lado de Squall na linha de frente. Lado a lado, o mago e o feiticeiro apontaram as mãos na direção do pequeno enxame, gritando as palavras de comando e disparando raios luminosos contra os insetos. Com dois mísseis, Anix arrancou a asa membranosa de um dos monstros e arrancou sua cabeça numa pequena explosão. Com o terceiro disparo Anix deixou outra criatura próxima seriamente ferida, já sem três das suas oito patas articuladas. Com seu primeiro disparo, Squall dilacerou as duas asas de outro monstro e o despedaçou com o segundo antes que a criatura atingisse o chão frio. Os dois comemoravam ainda quando um raio passou ao lado dos dois, destruindo a asa de uma das criaturas que ainda não haviam sido atingidas. Anix e Squall se assustaram e um virote de besta se espatifou no portão, entre os dois elfos. Ambos olharam para trás e viram Lucano concentrado em controlar sua espada espiritual e Sam se desculpando pelo mau tiro.
_ Cloud, ataque!!! – foi a ordem dada por Squall ao falcão em seu ombro. O pássaro voou para o salão tentando atingir um dos monstros com suas garras. Mas a criatura foi mais rápida, desviando-se da investida de Cloud. O inseto contra-atacou, perfurando o corpo do falcão com seu bico pontiagudo e prendendo-se ao seu corpo com suas oito patas articuladas. Preso pela criatura, o familiar de Squall não tinha como reagir. Seu mestre viu seu sangue sendo sugado aos poucos pelo monstro que o prendia. Squall se encheu de fúria ao ver seu querido amigo sendo sugado, mas nada pode fazer, pois, além de estar do outro lado do portão que os separava, as demais criaturas continuavam vindo atacá-los.
O bando de criaturas atravessou o portão de ferro e atacou os heróis que tentavam se defender dos inimigos. Squall e Anix tentavam derrubar os insetos gigantes, que tinham o tamanho de um gato, a tapas e socos, mas seus ataques não surtiam efeito. Duas criaturas se prenderam aos corpos do feiticeiro e do mago, e com seus enormes bicos em forma de agulha, começaram a sugar o sangue dos dois. Os dois tentavam a todo custo se soltar daqueles monstros sedentos de sangue, mas suas forças iam reduzindo pouco a pouco, à medida que seu sangue era drenado. Um pouco mais atrás, a situação também era desesperadora. Legolas e Relâmpago também se debatiam contra os insetos que os atacavam. O arqueiro batia nas criaturas com seu arco tentando afastá-la de seu corpo e sangue. Com muito sacrifício, Legolas conseguiu afastar o monstro o suficiente para disparar uma flecha mortal. O projétil atravessou a criatura e ficou cravado no teto do túnel. No chão, o corpo murcho do inseto jazia imóvel. Ao seu lado, o lobo tentava se desviar do seu inimigo até que o inseto pousou sobre seu dorso. O pequeno monstro levantou a cabeça para dar impulso ao seu agulhão para que ele pudesse penetrar fundo na carne do animal. Entretanto não teve tempo de concluir sua ação, os afiados dentes de Relâmpago o alcançaram antes que seu ferrão atingisse seu objetivo e estraçalharam a criatura em vários pedaços.
Nailo e Sairf, estavam desesperados para ajudar seus amigos. Heroicamente, Nailo atingiu com uma flecha o inseto que sugava a vida de Anix. Assustado, o mago retirou a criatura de cima de seu peito e a atirou no chão. O sangue jorrava sem parar pelo furo aberto pelo monstro. Na ponta oposta do túnel, Sairf concentrava-se em evocar ajuda dos planos celestiais. Enquanto o mago da água recitava seu feitiço, Legolas abateu outro monstro com suas flechas, antes que ele pudesse chegar até Squall, salvando o feiticeiro de sofrer um novo ataque. Para ajudar seu amigo, Anix concentrou uma grande quantidade de energia em sua mão direita. O punho do mago brilhava e faiscava como uma nuvem de tempestade. Anix esticou a mão totalmente eletrificada na direção de Squall, para matar a criatura que o prendia. Porém, um grito vindo de trás fez Anix desistir de seu toque elétrico. Sam, atravessou o corredor correndo, armado com sua besta, indo na direção do feiticeiro.
_ Não se preocupe Squall!!! Vou acertar esse bicho com minha besta!!! – o grito do bardo ecoou pela caverna antes que ele tropeçasse na carcaça do monstro morto por Relâmpago. Sam deu ainda mais dois passos cambaleando em direção de Squall, e o atingiu no peito com o arco da besta. Squall gritou de dor. Como se não bastasse o monstro sugando seu precioso sangue, o desastrado Sam ainda o batia com a besta. Extremamente irritado, o elfo agarrou a criatura com as mãos e num rompante de fúria a arrancou de seu peito. Squall caiu de joelhos, muito enfraquecido pelo ataque do inseto. O monstro pousou sobre suas costas e voltou a picá-lo. Era possível ver o fluxo do sangue através do bico da criatura. Quando a primeira bolha de sangue foi engolida, um golpe certeiro de espada arrancou a criatura de cima de Squall, jogando-a contra a parede já sem vida. Squall agradeceu a Nailo pela ajuda, enquanto Sam se desculpava pela trapalhada cometida. O bardo se aproximou de Squall e cantarolou uma melodia curta. Ao final da canção, as feridas do feiticeiro estavam cicatrizadas. Com seu amigo salvo, e sem ter o que fazer com a eletricidade em sua mão, Anix tocou a fechadura do portão, produzindo uma grande faísca.
Enquanto isso, além do portão, O familiar de Squall travava uma batalha desigual. Quase sem sangue em seu corpo, o animal conseguiu reunir o que lhe restava de forças para se soltar do inseto. Ambos começaram a trocar golpes de garras e bicos. Parecia que o inseto venceria pelo cansaço. Os heróis tentavam ajudar de todas as formas possíveis. Legolas disparava várias flechas na criatura, mas elas apenas se perdiam na escuridão. Sairf terminou seu longo feitiço, e uma gigantesca abelha surgiu nas costas do inseto. Mesmo cercada, a criatura se esquivava de cada ataque recebido. Desesperado, Lucano tentava destruir a fechadura que barrava a passagem do grupo com o poder da sua espada espiritual, mas nem isso parecia dar certo. Então, reunindo o que lhe restava de fôlego, Squall apontou sua mão na direção do último monstro e evocou uma magia com sua voz já quase desaparecendo. Um míssil mágico certeiro perfurou o corpo da criatura, encerrando o combate. O segundo disparo atingiu a tranca sem causar grandes danos a ela. Ao menos Cloud estava a salvo.

agosto 18, 2005

Capítulo 78 - Encontros e desencontros

O numeroso grupo seguiu pelo túnel que Legolas e Sairf haviam começado a explorar. Era uma passagem natural estreita e baixa em relação à câmara anterior que seguia em direção ao norte serpenteando por dentro da montanha. Depois de caminharem alguns metros todos alinhados numa longa fila, os exploradores chegaram a uma nova câmara grande e irregular como a anterior. As paredes, compostas em sua maioria por paredes naturais, preservavam a beleza original da caverna. A câmara se estendia à direita além da visão dos heróis, desaparecendo nas trevas. A poucos metros deles havia mais caixas como as já encontradas anteriormente, e também sacas de grãos e farinha. À esquerda, a câmara se abria em um corredor que seguia em duas direções opostas, para leste e oeste. O corredor tinha paredes retas e bem trabalhadas, levando a entender que ele havia sido esculpido e que não era uma formação natural. Os aventureiros pararam por alguns instantes naquele local, tentando discernir alguma coisa no meio da escuridão, analisando cada detalhe possível de ser observado. O tempo que ficaram ali parados foi suficiente para que Ho-oh retornasse para junto de seu mestre. Conversando com seu familiar em uma língua particular dos dois, Sairf obteve a informação que desejava e a comunicou aos demais: os cavalos estavam seguros.
Então, a chama de uma tocha chamou a atenção de todos. A muitos metros dali, no extremo oposto da caverna, uma criatura caminhava na direção dos heróis, carregando uma tocha nas mãos. Rapidamente todos se agruparam e prepararam suas armas para o combate.

• • • • • •

Nailo, irritado com toda aquela conversa com os dois prisioneiros, desejava sair dali o mais rápido possível. Tinha em mente os tesouros que poderia encontrar naquela montanha, tal qual Sam descrevera, e desejava chegar a eles antes de todos para garantir para si a melhor parte. Sem poder controlar a própria ansiedade, seguiu pelo túnel mais distante do lado esquerdo da caverna. Carregando sua espada numa mão, e uma tocha na outra, Nailo atravessou o túnel acompanhado de Relâmpago até chegar em uma nova caverna muito grande. Seus olhos élficos não conseguiam ver toda a extensão do lugar, tudo o que ele podia ver era um amontoado de caixas e sacos à sua esquerda, a poucos passos da saída da passagem. Diante dele, alguns metros à frente, havia um outro amontoado de caixotes que bloqueavam a entrada de um túnel, do qual somente uma pequena parte era visível. À sua direita existia uma mureta de blocos de pedra cuidadosamente empilhados de forma que cercassem um círculo de quase três metros de diâmetro.
Nailo penetrou na câmara lentamente, e foi até as caixas mais próximas. Lá, encontrou mais suprimentos provavelmente roubados pelos orcs de algum viajante desavisado. Havia pás, picaretas, martelos, pregos, enxadas, barris de óleo, de água, sacas de trigo, milho, farinha entre outras coisas. Nailo revirou sua mochila até que encontrou um jarro de cerâmica que havia comprado durante a viagem para Tollon. Encheu o jarro com óleo e o guardou para usá-lo mais tarde caso necessário.
Subitamente algo chamou sua atenção. Relâmpago começou a rosnar em direção ao fundo da caverna e Nailo viu várias criaturas saindo de uma caverna na lateral. As criaturas carregavam duas tochas consigo e ao ver o ranger, se posicionaram de forma ameaçadora. Nailo se preparou para combater os inimigos, mas o vôo de um pássaro lhe fez entender o que acontecia ali. As criaturas na verdade eram Legolas e os outros, que haviam chegado à mesma câmara que Nailo por outro caminho. O vôo da coruja de Sairf, no instante que ela retornava da superfície, impediu que os heróis se atacassem entre si. Com a confusão desfeita, Nailo se virou e seguiu em direção à mureta de pedra.
O lobo seguiu seu mestre, e todos os outros o reconheceram. Rapidamente, todo o grupo avançou pela caverna, indo se juntar ao ranger.
Todos chegaram até a mureta circular, e descobriram tratar-se de um poço há muito abandonado e sem uso. Dentro dele havia uma água turva e mal cheirosa que despertou a curiosidade de Anix. Com as mãos em formato de concha, o elfo apanhou um pouco do estranho líquido e o colocou na boca. Legolas tentou impedi-lo mas já era tarde para isso. O gosto amargo como fel obrigou Anix a cuspir tudo de volta, quase vomitando o seu almoço. Todos riram do mago e continuaram a exploração, indo até o outro grupo de caixas e suprimentos que bloqueava um outro túnel, onde Nailo já trabalhava na remoção da barreira.

agosto 17, 2005

Capítulo 77 - Novos amigos

Após destrancarem a porta, retirando a corda amarrada por Sam para dar segurança ao grupo durante o almoço, os heróis entraram em um longo e escuro corredor. Três tochas foram acesas para fornecer a iluminação necessária para seguirem em frente. Lentamente os aventureiros foram avançando montanha adentro. À medida que avançavam, a engenhosidade dos construtores daquele complexo subterrâneo. As paredes do túnel haviam sido esculpidas de forma que preservassem a beleza natural do lugar. Após vários metros caminhando pelo túnel, os jovens chegaram a uma ampla caverna natural, com paredes e chão cuidadosamente esculpidos. Era possível discernir ao menos quatro saídas nesta câmara que se perdiam na escuridão. Um brilho cintilante, como o de carvão em brasa, era visível na passagem mais distante à direita. Grades rústicas feitas de madeira firme bloqueavam a passagem mais próxima também à direita. Outros dois túneis saiam à esquerda seguindo pela escuridão além do alcance dos olhos dos heróis. No centro da câmara, dezenas de caixotes de madeira se misturavam com colchões de palha dos orcs, sujeira e entulho.
Nailo foi até os caixotes e abriu alguns deles para descobrir o que havia ali. Dentro das caixas, encontrou apenas mantimentos e ferramentas de pouco valor. Ele então retornou para perto dos outros e seguiu pelo primeiro túnel da direita, onde havia uma espécie de cela primitiva, enquanto Legolas e Sairf se dirigiam ao primeiro túnel à esquerda. Acompanhado de Sam e Lucano, o ranger se aproximou da grade furtivamente para tentar descobrir o que estava preso lá dentro. O som de uma forte tossida deixou todos apreensivos. Por uma fresta na barreira os heróis podiam ver dois vultos dentro da caverna após a grade. Enquanto se aproximava, Nailo esbarrou em pedras soltas no chão, despertando a atenção das criaturas com o ruído provocado.
_ Lá vêm eles de novo! – a voz fraca e rouca por trás da barreira de madeira mostrava tratar-se de criaturas inteligentes.
Sam se aproximou da grade, estufou o peito enquanto passava à frente de Nailo e disse com um tom grave e ameaçador:
_ Ei vocês, venham até aqui! Isso é uma ordem prisioneiros!
_ Quem está ai? – foi a resposta ouvida por todos. Era uma voz masculina que demonstrava cansaço e fraqueza.
Os dois prisioneiros se levantaram e passaram a observar os heróis através da grade. Pareciam curiosos e assustados, quando se aproximaram foi possível perceber que eram dois humanos maltrapilhos e desnutridos. Os dois homens vestiam trapos sujos, e tinham marcas pelo corpo que indicavam espancamentos. Sua constituição física era frágil e delicada, como se não comessem há dias.
_ Vocês vieram nos resgatar? Vieram nos salvar? – as vozes dos dois homens ganharam nova vida e seus olhos voltaram a brilhar com a esperança da salvação.
_ Bem, não, na verdade viemos resgatar outra pessoa e os encontramos por mero acaso! – a voz de Sam tremulava, demonstrando seu constrangimento. – Mas nós vamos libertá-los!
Nailo tentou arrombar a fechadura de ferro, mas seus esforços foram em vão. Sam sentou-se tranqüilamente no chão e retirou um rolo de tecido de dentro de sua mochila. Desenrolou cuidadosamente o pano e várias pequenas ferramentas surgiram presas ao tecido. Diversas hastes metálicas de variados tamanhos e formas reluziam sob a luz da tocha. Sam analisou a fechadura por alguns instantes e escolheu duas gazuas que lhe pareceram apropriadas. Introduziu as peças no buraco da fechadura e iniciou seu trabalho. Após alguns segundos, para surpresa de todos, a fechadura foi aberta.
Os dois homens saíram emocionados de dentro de sua cela, uma câmara natural pequena e úmida, onde os dois haviam passado o último mês como reféns dos orcs. Abraçaram os heróis com lágrimas nos olhos, agradecendo um a um os seus salvadores.
Courana e Geradil, como eles se apresentaram, eram dois agricultores de uma pequena comunidade ao sul dali, chamada Locknel que haviam ido até Vallahim para negociar alguns produtos. Na volta para casa, cerca de um mês antes, os dois foram capturados pelos orcs e levados para o dente de pedra, onde permaneceram desde então. Os orcs os espancaram e somente os alimentavam uma única vez por dia. Os pobres plebeus sequer sabiam se era dia ou noite, quando os heróis chegaram para libertá-los.
Legolas e Sairf, que estavam explorando outro túnel, retornaram ao ouvirem o barulho provocado pela gratidão dos prisioneiros.
_ Por que vocês soltaram esses dois? Eu não avisei para tomar cuidado, não sabemos se eles são amigos ou inimigos! – Legolas repreendeu seus amigos energicamente.
_ Calma meu amigo, eles são apenas prisioneiros dos orcs, assim como sua amada! – com seu jeito alegre a amistoso, Sam tentava acalmar Legolas.
_ Está certo, vamos em frente então! – ainda irritado, Legolas avançou em direção às caixas no fundo da câmara, liderando seus companheiros.
_ Esperem, a saída é pelo outro lado! – alertou Courana, ainda assustado com a irritação de Legolas.
_ Nós não vamos sair meus amigos, vamos resgatar a noiva dele! – Sam explicou com um sorriso nos lábios, apontando pra Legolas. – Falando nisso, vocês não viram mais nenhum prisioneiro? Uma elfa ruiva muito bonita por exemplo?
_ Não, nós ficamos o tempo todo presos naquela caverna, só nós dois! Mas devem existir outras celas em algum outro lugar! Bom, nós agradecemos a ajuda, mas não vamos com vocês! Não sabemos lutar, e só iríamos atrapalhar! Boa sorte pra vocês e muito obrigado! – Courana gaguejava, sua voz foi diminuindo de tom gradativamente enquanto ele e Geradil se afastavam lentamente do grupo.
_ Ninguém vai sair daqui! Não confio em vocês dois! Nada me garante que vocês não irão roubar nossos cavalos ou nos denunciar aos orcs! Daqui vocês não sairão sem a gente! – a voz de Legolas ecoou aos gritos na caverna. Era possível ver a fúria em seu olhar enquanto ele apontava o arco na direção dos dois agricultores.
_ Calma Legolas, não precisamos chegar a isso! Courana, Geradil, há mais orcs lá fora na floresta, nós vimos os rastros deles! Além disso, pode haver outros perigos à solta por aí! Se vocês ficarem conosco estarão mais seguros! Nós iremos protegê-los! – Ainx interveio e, com sua astúcia, conseguiu convencer os dois a ficarem junto com o grupo. O elfo entregou um rastelo para cada e continuou. – Vocês não sabem usar armas, mas sabem usar isso! Tome, caso precisem se defender, não estarão desarmados!
_ E se nos traírem, vocês morrerão! – Legolas ainda muito nervoso, continuava ameaçando os dois.
_ Calma Legolas, provarei a você se eles são ou não de confiança! Poderoso Khalmyr, revele para este seu servo tudo que se esconde nos corações destes dois homens!!! – Com as mãos estendidas diante de Courana e Geradil, Loand clamou pelo poder do deus da justiça e constatou que os dois não possuíam maldade dentro de si. – Eles são bons! Não sinto nenhuma maldade nestes dois, podemos ficar despreocupados!
Anix deu água e comida aos dois novos integrantes do grupo, que devoraram em segundos as rações recebidas. Lucano deu um forte aperto de mão nos dois, para saudar os novos membros e também para provar a força do grupo. Geradil gemeu de dor com os dedos sendo esmagados pela força do clérigo. Com tudo resolvido, a equipe decidiu seguir adiante. Seus olhos se voltaram para o interior da caverna, mas não encontraram Nailo. Inconseqüente como sempre, o ranger havia se separado dos demais e seguido sozinho por algum dos túneis.
_ Hum....agora que o Legolas mencionou, estou preocupado com os cavalos! Ho-oh, voe até lá fora e veja se os cavalos ainda estão lá e se estão bem! Se você for ameaçada por alguma coisa fuja depressa! – Sairf acariciou a cabeça de sua coruja enquanto sussurrava algo em seu ouvido num idioma que só os dois podiam entender. O familiar bateu as asas, criando uma leve corrente de ar e partiu em direção à saída da caverna. – Agora sim, vamos em frente!

agosto 16, 2005

Capítulo 76 - A lenda de Durgedin

_ Bom, agora vamos embora! – bradou Nailo com entusiasmo enquanto avançava em direção à porta.
_ Calminha aí! Não vamos nos precipitar! Você está esquecendo de mais uma coisa! – novamente Sam interrompeu o avanço do ranger, segurando-o pelo colarinho.
_ Dê uma olhada nisso! Já é quase uma hora da tarde, acho que deveríamos parar e comer um pouco! Se estivermos famintos e cansados, não seremos páreo para aqueles orcs! O menestrel retirou um objeto do bolso e o jogou para Nailo. O herói segurou um cristal translúcido, no qual podia se ler a data e a hora corrente Valag 10, Luvitas, 12:45.
_ O que é isso Sam? – Nailo, assim como todos os outros, estava curioso a respeito daquele estranho cristal. Dentro dele, as letras e os números estavam impressos como por mágica.
_ Ora, isso é uma Runa de Gor! Você pode compra isso em qualquer armazém de médio porte! Com ela você sabe exatamente a data e a hora, sem complicações! – enquanto explicava pacientemente, Sam recolhia o objeto e o guardava novamente em seu bolso.
_ E então, o que você acham de uma pausa para o lanche antes de irmos salvar a bela dama? – perguntou Sam, já com seu bom humor recuperado.
Todos concordaram com a sugestão do bardo e ele prosseguiu:
_ Bem, Sairf, você e o Nailo, vão até o outro lado e se livrem dos corpos dos orcs que derrotamos! Enquanto você fazem isso, eu vou fechar essa porta aqui! Ah, fechem também a porta de entrada, não queremos que nenhum orc chegue pela frente e nos pegue desprevenidos aqui almoçando!
Os dois heróis caminharam pela parede até o outro lado do abismo, e recolheram os corpos dos orcs mortos na batalha da seteira. Após retirarem tudo o que eles possuíam de valor, atiraram seus corpos imundos dentro do abismo. Enquanto isso, Sam e Loand fechavam a porta que conduzia adiante e a amarravam com uma corda, para que não pudesse ser aberta. Intrigado com a água que gotejava nas estalactites e com a umidade do lugar, Anix se aproximou do precipício para observar. Lá embaixo, a dezenas de metros na escuridão abaixo, era possível ouvir o som de uma correnteza, possivelmente um rio subterrâneo. Anix pegou uma brasa que ardia no fogareiro dos orcs e atirou no buraco. O carvão em brasa despencou muitos metros, até que os olhos aguçados do elfo não pudessem mais vê-lo. Somente os ouvidos de Anix perceberam quando a brasa se chocou na água lá embaixo, apagando o restante do fogo que ainda ardia. Os corpos dos orcs atirados no abismo comprovaram as suspeitas de Anix. Era possível ouvir os cadáveres se chocando contra a parede do abismo durante a queda, para logo depois bater na água.
Nailo e Sairf retornaram para junto de seus companheiros antes que a duração da magia chegasse ao fim. Já reunidos, os aventureiros apanharam os cadáveres dos dois orcs, que haviam tentado impedir sua travessia pela ponte, para jogá-los abismo abaixo. Sam recolheu do chão uma espada de fio longo e curvo, que pertencia ao orc derrotado e tinha sido o principal motivo de discórdia entre o grupo após a travessia.
_ Isso não é obra de orcs! Dêem uma olhada nesta falcione amigos! – o bardo olhava admirado cada detalhe da arma.
_ Eu vi, Sam, ela é muito bem feita pra pertencer aos orcs! Foi feita por anões, eu peguei uma dessas também! Veja as inscrições na lâmina! – Anix respondeu exibindo a falcione que havia pegado de outro orc na câmara secreta que descobrira.
_ Tem razão Anix! Isso aqui são runas anãs! Eu vou ler.......Du...Dru...Durgedin! É isso, Durgedin! Esperem, eu já ouvi esse nome, ele não me é estranho! – o menestrel começou a vasculhar sua mente em busca de seus conhecimentos de bardos, enquanto seus amigos o observavam calados.
_ Já sei! Durgedin, o ferreiro! O salão do esplendor, é isso mesmo!
_ Quem é esse Sam?
_ É não, era, Anix! Durgedin foi um ferreiro anão que viveu há muitos anos em Tollon! Ele vivia numa montanha, em uma mina chamada Salão do Esplendor, e era fabricante de armas. Suas armas eram muito famosas pelo mundo afora por causa de sua qualidade, algumas eram até mágicas! Mas um dia ele desapareceu, e ninguém nunca mais ouviu falar dele ou de suas armas! Ele nunca mais foi visto com sua caravana para vender suas armas! Isso já faz uns duzentos anos, eu acho! Há quem diga que ele morreu, outros dizem que ele voltou para Doherimm, ou que simplesmente sumiu pelo mundo! Desde seu sumiço, vários aventureiros tem tentado descobrir a localização de sua forja, sem sucesso! – Sam falava e gesticulava muito, enquanto contava a história do ferreiro anão. Era visível sua felicidade em contar histórias, especialmente as fantásticas como aquela.
_ Eu também já ouvi falar de uma mina de um anão ferreiro! – completou Sairf – Dizem que existem tesouros perdidos nela! Acho que deve ser a mesma história!
_ Isso mesmo meu amigo mago! Acho que sem querer nós descobrimos a lendária forja de Durgedin!
_ Isso explica a pilha de tesouros sobre a qual a noiva do Legolas estava no sonho que tivemos! – deduziu Anix.
Os olhos de Nailo brilharam como dois faróis ao ouvir a palavra tesouro.
_Sam, me empresta essa falcione! – pediu Lucano educadamente ao bardo.
Sam lhe entregou a arma, e Lucano começou evocar o nome de sua deusa para descobrir se ela era mágica ou não. Squall o interrompeu, dizendo que ele mesmo faria o teste.
_ Deixe que eu faça isso Lucano, eu tenho mais magias disponíveis do que você! – Squall pegou a espada das mãos de seu amigo clérigo com cuidado e lançou uma magia de detecção sobre ela.
_ Não, infelizmente ela não é mágica! É uma obra-prima com certeza, mas não há nada de mágico nesta espada! – Squall ainda analisou todas as outras armas que estavam em posse dos orcs, mas constatou que nenhuma delas tinha qualquer poder mágico.
Lucano decidiu testar a arma de Sam na prática e golpeou o corpo de um dos orcs antes que ele fosse atirado no abismo. O cadáver foi partido em duas partes e todos constataram o poder da lâmina de Durgedin, comprovando a veracidade da história contada por Sam. Lucano devolveu a falcione para o bardo, ajudou seus amigos a se livrarem dos corpos dos orcs e todos se sentaram para finalmente descansar e comer.
Os heróis se acomodaram no chão frio e úmido da caverna. Retiraram suas pesadas mochilas das costas e as rações de viagem de dentro delas. O pão e as frutas desidratadas, bem como a carne seca e salgada, tinham um sabor maravilhoso, após uma manhã inteira de viagem e batalhas difíceis. Apesar de todos os perigos enfrentados, todos estavam relativamente tranqüilos, pois já haviam conseguido entrar na montanha e estavam no caminho certo para cumprir sua missão.
Nailo alimentava seu amigo Relâmpago com ternura e carinho, enquanto os três arcanos do grupo faziam o mesmo com seus familiares. Legolas retirou o capuz que cobria o rosto de sua coruja de estimação e a alimentou também. Anix dividiu com seus amigos um cantil de suco que possuía, era realmente um momento tranqüilo e agradável para todos. Mas então, a tranqüilidade foi subitamente quebrada pela voz de Legolas.
_ Quando nós encontrarmos Liodriel, ou algum dos rapazes que desapareceram da vila, não devemos libertá-los de imediato! – murmurou o elfo, com a cabeça abaixada, num tom sério e sombrio.
_ Mas por que não meu amigo? O que o aflige? – Sam tentava diminuir a tensão de seu amigo com sua voz afinada e gentil.
_ Eles podem estar sob algum encanto e tentar nos atacar! A criatura que dorme sob esta montanha controlava mortos-vivos no sonho que tivemos, e pode perfeitamente ter o poder de controlar a mente dos vivos também! Devemos ter cuidado, não podemos confiar em ninguém antes de um interrogatório, nem em minha noiva!
As palavras de Legolas caíram como neve num dia de sol sobre os ouvidos dos heróis. O clima de paz, que reinava até então, deu lugar ao medo e à desconfiança. Todos se calaram e terminaram suas refeições em silêncio, imersos em seus próprios pensamentos e temores. Então, após cerca de longos quarenta minutos, os heróis se levantaram, reuniram seus equipamentos e prosseguiram adiante.

Capítulo 75 - Relâmpago atravessa o abismo

_ Nailo, seu irresponsável! Quer nos matar a todos? Todos abaixados e distraídos e você abre essa droga de porta! Se tivesse mais algum inimigo atrás dela nós estaríamos mortos agora! Além do mais, que raio de ranger é você que deixa aquilo que é mais precioso pra você para trás? - Sam, que terminava de cruzar a ponte no exato momento que a porta era aberta, repreendeu com tom firme e sério o ato inconseqüente de Nailo enquanto apontava para o outro lado do abismo.
Lá atrás, após o precipício, uma cena triste podia ser observada por todos. Relâmpago, o lobo companheiro de infância de Nailo, chorava com tristeza, na beirada do fosso, implorando pela ajuda de seu ingrato companheiro que só estava interessado em saquear os orcs mortos.
Nailo finalmente entendeu a falha que havia cometido, ao esquecer seu grande amigo abandonado à própria sorte do outro lado da fenda que os separava.
_ E então Nailo? Como vamos trazer seu lobo para cá? – Sam continuava sério e demonstrava estar profundamente irritado com o deslize de seu companheiro de grupo.
Começou-se uma discussão, onde várias idéias, uma mais fantasiosa que a outra, surgiram para trazer o lobo para o lado onde eles estavam. Nailo inicialmente queria que o lobo atravessasse a ponte de cordas como os outros fizeram. Sairf queria trazer o animal dentro de sua mochila, andando pelas paredes sob o efeito de sua magia. Outros sugeriram que Sairf fizesse a magia que permitia andar nas paredes em alguém com maior força, ou que ele a fizesse no lobo para que ele mesmo pudesse andar pela parede. Nenhuma decisão foi tomada até que Sam interveio, com toda a sua engenhosidade, e resolveu a questão.
_ Quantas cordas nós temos? - indagou o bardo aos amigos.
_ Temos quatro cordas no total! – respondeu Anix, ao contar as mãos levantadas de Legolas, Sairf e Nailo, além da sua própria.
_ Preciso de um pedaço de pano resistente, ou couro, que possa envolver o Relâmpago! – ninguém entendeu o pedido do bardo, mas Anix entregou-lhe a mochila de pele de guepardo que havia sido confeccionada por Silfo na ilha de Ortenko.
Sam pegou a mochila e sacou uma adaga de sua cintura. Com o consentimento de Anix, o menestrel começou a desmontar a mochila, cortando as costuras rudimentares feitas pelo sátiro. Depois ele fez quatro furos, com tamanho suficiente para caberem as patas do lobo, e mais outros dois, onde, segundo ele, seriam amarradas as cordas. Sam amarrou firmemente duas cordas, emendando-as e prendendo-as nos furos da mochila. Com tudo pronto, Sam se levantou e reuniu seu grupo para explicar seu plano.
_ Aqui está Nailo, segure a ponta desta corda. Sairf, faça aquela magia para que o Nailo possa andar pelas paredes como você fez! Você Nailo vai até o outro lado levando isso com você, coloca o seu lobo nesse cesto que eu improvisei e o empurra pra dentro do abismo, você ele não vai querer morder. Ai você vai soltando a corda lentamente, que nós aqui deste lado vamos puxando a outra ponta até trazer o Relâmpago em segurança pra cá!
A idéia de Sam parecia ser a melhor e todos concordaram em colocar o plano do bardo em prática. Sairf passou então a vascular os cantos da caverna como se procurasse algo. De repente o mago apanhou algo e trouxe até Nailo.
_ Tome Nailo, engula isso!
_ Ta bom! – Nailo abriu a boca, esperando que Sairf colocasse o objeto que ele deveria engolir, mas se surpreendeu ao ver que era uma aranha ainda viva.
_ Você ta louco? Eu não vou engolir uma aranha viva, seu demente!
_ Deixa de frescura e come logo isso, só assim a magia vai ter efeito!
_ É isso mesmo, coma logo isso e vai lá salvar seu amigo! – ordenou Sam, com um sorriso sarcástico na boca.
O ranger fechou os olhos e colocou a aranha na boca no mesmo instante em que Sairf, com as mãos estendidas diante de seu corpo, sussurrava as palavras mágicas do feitiço. Nailo sentiu a aranha picando sua boca e se mexendo a medida em que era engolida. Uma estranha queimação começou no estômago de Nailo e subiu até sua garganta, obrigando-o a tomar quase todo o cantil de água. Suas mãos começaram a ficar quentes, como se segurassem brasa. Nailo olhou para as duas palmas e viu incontáveis pelos, quase microscópicos, brotado em sua pele.
_ Agora coloque as quatro patas, digo as mãos e os pés na parede e ande como se você fosse um elfo-aranha! – Sairf sorria ao mesmo tempo em que instruía seu amigo.
Nailo escalou a parede da caverna até o outro lado como se fosse uma aranha. Lá ele recebeu o cumprimento molhado de seu companheiro que saltou em cima de Nailo, lambendo seu rosto assim que ele desceu da parede. Nailo desamarrou a ponta da corda de sua cintura, puxou o cesto para o seu lado da caverna e cuidadosamente envolveu Relâmpago com a pele do guepardo. Então, após amarrar com firmeza o lobo no cesto e nas cordas, Nailo começou a descer seu amigo pelo abismo. O lobo estava imóvel, chorando de pavor enquanto era puxado para o outro lado. Relâmpago avançava lentamente, enquanto girava em torno de si próprio sob o balanço das cordas, com a cauda entre as pernas. Quando finalmente chegou à beirada do precipício, o animal se debateu desesperado, tentando saltar para fora do cesto. Com a ajuda dos heróis ele foi finalmente içado para fora do fosso e libertado. Com seu amigo em segurança, Nailo retornou para junto dos outros escalando a parede novamente.

agosto 11, 2005

Capítulo 74 - Por um fio

Legolas deu mais um passo em direção ao outro lado da fenda. Espantou sua coruja de estimação e pediu a Sam que trouxesse sua mochila. O bardo rapidamente atravessou o portão da montanha, recolhendo todo o equipamento daqueles que haviam entrado pelas seteiras e retornou para junto de seus amigos. Lá dentro, enquanto Legolas tentava estabilizar a ponte de cordas, Anix cravava uma adaga, com uma corda amarrada em seu cabo, na parede ao lado do abismo, para tentar criar uma nova forma de atravessar o precipício.
O ranger das cordas ecoava por toda a caverna, numa sinfonia bizarra e dramática. Legolas tentava a todo custo se manter sobre a ponte, o que a fazia balançar ainda mais. O elfo já tinha superado quase todo o abismo e estava a um ou dois passos de chegar ao outro lado. Quando imaginava que conseguiria chegar em segurança, a figura do orc, surgindo de trás do pilar portando uma falcione reluzente, o fez perder o fôlego. O orc correu, desviando-se dos ataques dos animais que o cercavam. O monstro se deslocou com grande velocidade em direção ao pilar de sustentação da ponte. Legolas, entretanto, via tudo acontecer lentamente, observando cada detalhe. As cicatrizes no rosto do orc, causadas pelas garras dos pássaros de Sairf e Anix, ainda gotejavam o sangue que escorria lentamente entre os pelos imundos do orc. Sua respiração parecia estar sincronizada com seus passos e com o sacolejar da ponte. O orc parou à distância de dois passos de Legolas, ergueu sua espada de lâmina curva e golpeou a corda que prendia a ponte onde Legolas se encontrava. A lâmina foi atravessando a corda, Legolas viu cada uma das partes que compunha a trança se desenrolar lentamente, até que só restasse uma tira prendendo a ponte no pilar. A ponte chacoalhou como um mar revolto e Legolas se agarrou ainda mais firme para não cair no abismo. Legolas estava agora apenas por um fio. Qualquer movimento brusco que fizesse poderia por fim à sua vida de aventuras. A centopéia invocada pelo clérigo tentou agarrar o orc, mas ele se desviou do animal habilmente. O orc levantou sua espada, para desferir o golpe final da corda. Seus olhos brilharam no momento em que a espada começava a descer para ceifar a vida do arqueiro. Mas um raio brilhante o atingiu direto na face, tirando-lhe a vida, a tempo de salvar Legolas. Lá atrás, na outra extremidade da ponta estava Lucano. Ao seu lado, uma longa espada prateada, com o símbolo de Glórien entalhado em sua lâmina, flutuava magicamente enquanto emanava uma aura luminosa. Com o inimigo morto, Legolas terminou a travessia em segurança.
Nailo foi o próximo a atravessar a ponte, usando a corda de segurança para protegê-lo em caso de queda. Um a um, os heróis foram passando para o outro lado. Sairf não quis se arriscar na ponte e preferiu usar meios mágicos para chegar ao outro lado. Retirou de sua bolsa de componentes arcanos uma aranha e a engoliu ainda viva, enquanto murmurava um encanto. Depois o mago subiu pelas paredes, como se ele próprio fosse uma aranha, e chegou ao outro lado.
Sam e Nailo atravessaram as mochilas, amarradas na corda, para que elas não os atrapalhassem durante a travessia.
Anix foi retirar sua adaga da parede, quando suas orelhas começaram a se mover de forma estranha. O mago começou a observar a parede e a empurrou instintivamente, abrindo uma porta até então secreta. Lá dentro, Anix encontrou a câmara que abrigava a seteira onde ficava o orc que teve a tampa da cabeça arrancada por um míssil mágico de Squall. Anix retirou os pertences do cadáver e voltou para atravessar a ponte. O balançar da passagem fez com que o elfo despencasse no abismo. Se não fosse pela corda de segurança, Anix teria desaparecido para sempre. Entretanto, o mago não saiu ileso da queda, sofrendo várias contusões.
Por último, Sam Rael atravessou a ponte sem dificuldades, após recuperar o pássaro de Legolas. Enquanto os heróis ainda revistavam os inimigos derrotados, todos distraídos e sem suas armas à mão, Nailo agiu novamente com imprudência e irresponsabilidade, abrindo a porta que conduzia adiante e revelando os segredos que ela ocultava até o momento.

Capítulo 73 - A um passo do abismo

Ao ver seu amigo ferido, Legolas correu para socorrê-lo. Posicionando-se entre Nailo e os orcs, o elfo sacou seu arco e apontou-o na direção dos inimigos, aguardando o melhor momento para atacá-los. Lucano seguiu seu companheiro, e os dois pararam lado a lado, dando cobertura aos seus amigos que chegavam para combater os monstros.
Entretanto, apesar de serem apenas dois, derrotar aqueles orcs não seria tarefa fácil, pois além de estarem a vários metros de distância, do outro lado do precipício, os dois ainda contavam com a proteção dos pilares de rocha que os tornavam alvos difíceis de serem atingidos à distância. Era preciso encontrar uma forma de combatê-los corpo a corpo para equilibrar a batalha. E a única forma de fazer isso, era atravessando a ponte.
Nailo correu até a ponte de cordas, tentando atravessá-la rapidamente. Entretanto, a ponte construída e projetada pelos orcs, não tinha a menor estabilidade, e jogava de um lado para o outro como um pêndulo. Por pouco o ranger não despencou no abismo e se viu forçado a parar logo no início da passagem, tentando se segurar como podia.
Nailo estava vulnerável, enquanto tentava se manter em pé sobre a ponte, um alvo fácil para os inimigos que não desperdiçaram a oportunidade. As flechas orcs cruzaram o ar frio da caverna na direção do ranger indefeso. O balançar da ponte fez com que Nailo escapasse de uma das flechas, que por pouco não feriu a coruja de Legolas, no ombro do arqueiro. Porém, o segundo projétil atingiu em cheio o estômago de Nailo, que se contorceu pela dor causada pelo ferimento. A ponte balançou com mais violência, Nailo se agarrou como pode nas cordas, mas era apenas questão de tempo para que ele despencasse para a morte certa. Uma mão vinda de trás tocou o seu ombro e o puxou com força para fora da ponte. Nailo caiu sentado, a menos de um metro do abismo, e agradeceu a Sam pela ajuda.
Sairf preparou um feitiço, mas decidiu que o lançaria somente quando os inimigos abandonassem sua cobertura para atacar. Ao seu lado, Lucano e Squall se concentravam, invocando forças extra-planares para auxiliá-los na batalha. No flanco oposto, após murmurar algumas palavras mágicas, Anix apontou seus dedos na direção de um dos inimigos. Ao comando do mago, três objetos luminosos, que se pareciam com estacas de energia pura, saíram de sua mão e foram em direção ao orc. Os projéteis atingiram a cabeça e o peito do orc, que se assustou com o poder mágico de Anix. Enquanto o orc sangrava, os heróis olhavam com espanto para Anix, pois notaram que ele havia ficado mais poderoso. Eles também estavam mais fortes, mas não haviam se dado conta disso. As duras batalhas que haviam enfrentado nos últimos tempos, todas as dificuldades passadas por eles, haviam servido de treinamento, aumentando suas habilidades. Inspirados pelo poder de Anix, os heróis passaram para a ofensiva, pressionando os inimigos com toda sua força.
Legolas foi o primeiro, lançando uma flecha certeira no pescoço do outro adversário. Usando sua técnica secreta, a Flecha Infalível, Legolas causou grande prejuízo ao monstro, que se viu forçado a repensar sua estratégia. Se é que aquelas criaturas estúpidas e imundas possuíam alguma.
O alvo da flecha infalível desapareceu atrás do pilar. Nenhum dos aventureiros era capaz de localizá-lo atrás da coluna que sustentava o teto. Enquanto ele se comunicava com seu companheiro, Nailo tentava, sem sucesso, atingi-los com sua besta mágica, que havia encontrado no navio afundado, meses atrás.
Atendendo a uma ordem dada por seu companheiro, e que somente os orcs podiam entender, o monstro alvejado pela magia de Anix saiu de sua cobertura com o arco preparado para atacar os heróis. Sairf, que estava à espera de uma oportunidade assim, evocou a energia do elemento água e de sua mão direita um jato de ar congelado partiu em direção ao orc. O monstro se desviou rapidamente, e o pilar que lhe protegia ficou congelado diante de seus olhos. Assustado com o poder de Sairf, a criatura se virou rapidamente em sua direção, disparando a flecha que estava no arco. Sairf tentou se virar para escapar do ataque, mas o projétil atravessou sua boca, arrancando-lhe dois de seus molares. O mago da água cuspiu uma bola de sangue no chão, e viu, na poça que se formou, dois de seus preciosos dentes. Sairf se enfureceu, e gritou de dor e de ódio pela perda que havia sofrido.
Mas os inimigos não tiveram tempo para comemorar a desgraça de Sairf. Do outro lado do abismo, dois discos luminosos, brilhantes como o próprio sol, começaram a se formar. Os objetos foram crescendo cada vez mais, até se tornarem dois enormes portais dimensionais. De dentro deles, a ajuda convocada por Squall e Lucano surgiu na forma de um vaga-lume gigante e uma monstruosa centopéia, tão grande quanto um ser humano. Sob o comando daqueles que os haviam evocado, as criaturas atacaram os orcs.
Enquanto seu vaga-lume lutava contra o inimigo, Squall aproveitou a distração do mesmo e, a exemplo de Anix, lançou dois projéteis mágicos contra o orc. A magia explodiu no rosto do inimigo, destruindo-lhe o maxilar inferior. No outro pilar, a centopéia gigante enfrentava o segundo orc, que passou a lutar com uma grande espada, que refletia a luz dos fogareiros.
Os orcs se debatiam contra os animais invocados quando Anix correu até o centro do patamar onde seu grupo se encontrava e apontou para um dos pilares. Num rápido bater de asas, Heart of Dark saltou do ombro de seu mestre e foi em direção ao pilar indicado. O falcão se desviou dos ataques do orc que se escondia atrás da coluna e o feriu com suas garras afiadas. O mostro gritou de dor, mostrando que havia sido atingido. Legolas aproveitou o momento de distração do adversário e avançou até o meio da ponte de cordas. O balanço do objeto obrigou-o a parar e esperar que ela se estabilizasse. Enquanto a ponte chacoalhava e rangia como uma porta emperrada, os heróis se preparavam para a investida. Lucano usou pediu proteção a sua deusa e um escudo mágico se formou à sua frente. Ao seu lado, Sam preparava sua besta para dar cobertura ao amigo em situação de risco sobre o abismo. Enquanto isso, Nailo amarrava uma corda de segurança na sua cintura, prendendo a outra ponta no pilar que sustentava a ponte. Sairf estava concentrado, invocando um de seus feitiços.
O corpo do mago, e o de seu familiar que estava sobre seu ombro emanaram um brilho prateado. A coruja alçou vôo e atravessou o abismo em alta velocidade, desaparecendo atrás do pilar da direita. Foi possível ouvi-lo gritando novamente, ao ser atingido pelo animal de Sairf. Entretanto, a criatura não se movia, permanecia oculto atrás da formação rochosa, como se aguardasse alguma coisa, enquanto o seu companheiro atacava constantemente os heróis.
Segurando uma folha velha e desgastada pelo tempo, Squall pronunciou algumas palavras mágicas. Apontou sua mão direita para o orc que estava visível, e duas estacas de energia cortaram o ar em direção ao orc. A criatura caiu morta logo que foi atingida pelo primeiro projétil. O segundo míssil mágico se chocou contra a parede, criando uma pequena cratera na mesma.

agosto 09, 2005

Capítulo 72 - O portão finalmente é aberto

O sol forte já brilhava no centro do céu quando os outros começaram a subir pela corda. O primeiro foi Nailo, teimoso e egoísta como sempre, subiu com sua mochila, passando à frente de seus amigos. Ao penetrar pela seteira, sua primeira reação foi pilhar o corpo de um dos orcs e retirar tudo o que ele tinha de valor. Após o saque, o ranger seguiu pela direita, descendo o lance de escadas. Atravessou todo o corredor que rumava na direção do portão, até desaparecer da visão de Lucano. No fim do corredor, Nailo encontrou uma porta de pedra, sem trancas, com apenas uma única alça de pedra, esculpida na própria porta. Nailo puxou a porta, abrindo-a, e saiu numa câmara muito grande e assustadora. O ranger penetrou na câmara lentamente, enquanto Lucano dava nós na corda para auxiliar a subida de seus companheiros. À esquerda do ranger estava um precipício de profundidade incalculável. Do outro lado do abismo, cerca de dez metros à frente, havia um outro patamar de rocha. Sobre ele, dois fogareiros, diante de duas enormes colunas de rocha bruta, forneciam uma fraca luminosidade ao ambiente. Para atravessar o fosso, havia apenas uma ponte rústica de cordas e tábuas que não inspirava a menor segurança. No fundo da câmara, diante da ponte, havia outra porta de pedra, fechada e semi-oculta pela escuridão. À esquerda de Nailo estava o portão que dava acesso ao complexo. Ao som da água que gotejava das estalactites do teto, Nailo removeu a pesada tora de madeira que bloqueava a porta, enquanto Lucano, Legolas e Sairf chegavam à câmara pelo mesmo caminho percorrido pelo ranger. Lá fora, Anix, Sam, Squall e Loand aguardavam ansiosos pela abertura do portão, trazendo consigo o equipamento dos que haviam entrado na seteira.
Lucano se deparou com a porta no final do corredor, que havia sido fechada por Nailo. Sem saber o que havia por trás dela, o clérigo começou a abri-la lentamente, já com a espada preparada para atacar. Nailo percebeu a aproximação de seu amigo e quis assustá-lo. O servo de Allihanna, que mais parecia um devoto de Hynnin, o deus dos ladrões, emitiu um uivo, imitando um lobo, para assustar Lucano e os outros. Novamente, a estupidez de Nailo provou-se prejudicial a todos. Com o som do uivo, Nailo fez com que Lucano recuasse. Do outro lado do portão, Anix também recuou, puxando Sam pela camisa. O lobo Relâmpago era o único que sabia quem era o responsável pelo uivo. Dentro da montanha, do outro lado do abismo, outras duas criaturas também ouviram o uivo, e despertaram com ele.
De repente, o uivo se transformou em um grito de dor a agonia. Os heróis reconheceram a voz de Nailo, quando este gritou e praguejou, ao ser atingido por alguma coisa. Ele olhou para trás e viu duas flechas, cravadas em suas costas provocando a saída de seu sangue. Do outro lado do precipício, Nailo viu a figura de dois orcs, protegidos pelos pilares de pedra, apontando seus arcos em sua direção. Os dois orcs, responsáveis pela guarda da porta que dava acesso ao interior da montanha, dormiam atrás dos pilares, negligenciando sua função. Se não fosse pela irresponsabilidade de Nailo, talvez eles jamais tivessem acordado novamente. Entretanto, o ato inconseqüente do ranger não só despertou os inimigos, como também fez com que ele sentisse na pele os efeitos de sua imprudência. Nailo viu-se indefeso por alguns instantes, até que a porta do corredor por onde ele havia passado se abriu e de trás dela surgiram Legolas, Lucano e Sairf. O ranger sentiu algo o empurrando por trás, quebrando as pontas das flechas e arrancando-lhe um gemido abafado. Era Sam, que empurrava o portão para dentro, para que ele e os demais pudessem ajudar seu amigo em perigo. O grupo todo se reuniu novamente, em mais uma batalha sangrenta.

agosto 08, 2005

Capítulo 71 - Entrando ao estilo ladino

Após uma breve retomada de fôlego, todos se puseram a encontrar uma maneira de atravessar o imenso portão que os separava da caverna. Uma verdadeira parede móvel os impedia de penetrar no covil dos orcs. O portão, esculpido na rocha bruta, media quase três metros de largura e a mesma medida de altura. Adornado com inúmeras figuras de anões retratados em cenas épicas de combate, revelava que o local outrora pertencera aos anões e fora, posteriormente, invadido e tomados pelos desprezíveis e repugnantes orcs.
Diante da porta, Squall observava, atento, cada detalhe da intrincada fechadura. Um complexo sistema de trancas e travas, que somente poderiam ser compreendidos por um especialista, provava toda a engenhosidade e capacidade de seus construtores. Pelo orifício, Squall pode ver que algo travava as duas metades do portão, impedindo-o de ser aberto à força bruta. Tratava-se de um objeto de madeira, possivelmente uma tábua grossa ou uma viga. Em qualquer uma das hipóteses, a idéia de arrombar aquele portão estava descartada.
Buscando uma outra entrada, Nailo e Legolas decidiram estudar as seteiras por onde os inimigos lançavam suas flechas contra eles. De um lado, Nailo usava o equipamento de escalada que havia comprado no caminho para Tollon, para tentar escalar o paredão de pedra. Do outro lado, Legolas mirava a abertura na parede com seu arco. Na ponta da flecha do arqueiro, um arpéu, que eles haviam recebido há muito tempo atrás de seu amigo Batloc, seria a esperança para a salvação de Liodriel.
Após algumas tentativas, Legolas finalmente obteve sucesso. A flecha penetrou pela seteira, após se ricochetear em suas bordas, e desapareceu da visão de todos. Pelo som produzido, foi possível perceber que o arpéu havia se chocado com algum objeto macio, possivelmente o corpo de um dos inimigos abatidos pelo grupo. Legolas começou a puxar a corda amarrada no arpéu, lentamente, como já havia feito nas outras tentativas, e sentiu que havia algo sendo arrastado. Subitamente, o gancho se soltou daquilo que o prendia, para depois se chocar contra algo sólido. A corda parou de se mover e, num forte puxão, o arqueiro confirmou o que estava desejando, o gancho estava preso.
Com a corda presa no alto da parede de pedra, Legolas iniciou a escalada. Entretanto, o peso da mochila o impedia de transpor os cerca de cinco metros que o separava da entrada. Enquanto Legolas, já de volta ao chão, tentava reduzir seu peso, era a vez de Sairf e Lucano tentarem vencer o paredão. Da mesma forma que seu amigo elfo, Sairf não conseguiu avançar além de alguns poucos centímetros. Lucano entretanto teve mais sorte e, apesar de carregar sua mochila com todo seu equipamento, conseguiu subir até a abertura na parede.
Lá em cima, pendurado apenas por uma mão, o clérigo conseguiu soltar uma das alças da mochila de seu corpo. Lucano trocou a mão de apoio e terminou de soltar a mochila que despencou e foi habilmente aparada por Legolas. Reunindo todas as suas forças, Lucano suspendeu seu corpo até a altura da seteira e começou a se arrastar para dentro da montanha. A abertura era extremante pequena, não tinha mais do que vinte centímetros de largura e uns sessenta de altura, o que obrigava Lucano a passar seu corpo deitado de lado. O pobre elfo ficou preso na abertura, sofrendo várias contusões. Após muito esforço, ele conseguiu finalmente se soltar e entrar. Seu corpo escorregou para dentro da câmara e, guiado pelos reflexos, Lucano evitou chocar seu rosto no chão. Apoiando as mãos no chão, ele deu uma cambalhota e caiu, agachado, dentro do caverna.
Lá dentro, em um espaço quadrado com pouco mais de dois metros quadrados, ele encontrou o corpo de um dos orcs derrotados. À sua esquerda, havia um longo e estreito corredor que seguia uns dez metros à frente e terminava abruptamente. Nas paredes do corredor, três aberturas permitiam a entrada da luz externa, iluminando um ambiente completamente imundo. Entulho, restos de fogueira, urina e fezes de ratos, ossos e outros tipos de lixo se espalhavam por todo o chão, demonstrando o descuido dos orcs com a higiene. O cheiro de podridão tomava conta do sensível nariz élfico de Lucano, deixando-o nauseado. Abaixo de cada uma das seteiras, jaziam os corpos dos orcs mortos em combate. Lucano olhou para sua direita, e viu um outro corredor, que seguia uns três ou quatro metros, descendo um curto lance de escadas e depois virara para a direita, seguindo em direção ao portão que eles precisavam abrir. Sacando sua espada, Lucano aplicou o golpe final nos orcs que ainda respiravam e, ao sentir que o local estava seguro, deu o sinal para que seus companheiros o acompanhassem.

agosto 05, 2005

Invadindo a Forja da Fúria



A partir de semana que vem as férias terminam, e os heróis retomarão suas atividades normais. Não deixe de acompanhar as aventuras de Legolas, Sairf, Anix, Nailo, Lucano, Squall, Loand e Sam dentro do salão do esplendor, em busca da bela Liodriel e dos outros aldeões desaparecidos.