agosto 17, 2005

Capítulo 77 - Novos amigos

Após destrancarem a porta, retirando a corda amarrada por Sam para dar segurança ao grupo durante o almoço, os heróis entraram em um longo e escuro corredor. Três tochas foram acesas para fornecer a iluminação necessária para seguirem em frente. Lentamente os aventureiros foram avançando montanha adentro. À medida que avançavam, a engenhosidade dos construtores daquele complexo subterrâneo. As paredes do túnel haviam sido esculpidas de forma que preservassem a beleza natural do lugar. Após vários metros caminhando pelo túnel, os jovens chegaram a uma ampla caverna natural, com paredes e chão cuidadosamente esculpidos. Era possível discernir ao menos quatro saídas nesta câmara que se perdiam na escuridão. Um brilho cintilante, como o de carvão em brasa, era visível na passagem mais distante à direita. Grades rústicas feitas de madeira firme bloqueavam a passagem mais próxima também à direita. Outros dois túneis saiam à esquerda seguindo pela escuridão além do alcance dos olhos dos heróis. No centro da câmara, dezenas de caixotes de madeira se misturavam com colchões de palha dos orcs, sujeira e entulho.
Nailo foi até os caixotes e abriu alguns deles para descobrir o que havia ali. Dentro das caixas, encontrou apenas mantimentos e ferramentas de pouco valor. Ele então retornou para perto dos outros e seguiu pelo primeiro túnel da direita, onde havia uma espécie de cela primitiva, enquanto Legolas e Sairf se dirigiam ao primeiro túnel à esquerda. Acompanhado de Sam e Lucano, o ranger se aproximou da grade furtivamente para tentar descobrir o que estava preso lá dentro. O som de uma forte tossida deixou todos apreensivos. Por uma fresta na barreira os heróis podiam ver dois vultos dentro da caverna após a grade. Enquanto se aproximava, Nailo esbarrou em pedras soltas no chão, despertando a atenção das criaturas com o ruído provocado.
_ Lá vêm eles de novo! – a voz fraca e rouca por trás da barreira de madeira mostrava tratar-se de criaturas inteligentes.
Sam se aproximou da grade, estufou o peito enquanto passava à frente de Nailo e disse com um tom grave e ameaçador:
_ Ei vocês, venham até aqui! Isso é uma ordem prisioneiros!
_ Quem está ai? – foi a resposta ouvida por todos. Era uma voz masculina que demonstrava cansaço e fraqueza.
Os dois prisioneiros se levantaram e passaram a observar os heróis através da grade. Pareciam curiosos e assustados, quando se aproximaram foi possível perceber que eram dois humanos maltrapilhos e desnutridos. Os dois homens vestiam trapos sujos, e tinham marcas pelo corpo que indicavam espancamentos. Sua constituição física era frágil e delicada, como se não comessem há dias.
_ Vocês vieram nos resgatar? Vieram nos salvar? – as vozes dos dois homens ganharam nova vida e seus olhos voltaram a brilhar com a esperança da salvação.
_ Bem, não, na verdade viemos resgatar outra pessoa e os encontramos por mero acaso! – a voz de Sam tremulava, demonstrando seu constrangimento. – Mas nós vamos libertá-los!
Nailo tentou arrombar a fechadura de ferro, mas seus esforços foram em vão. Sam sentou-se tranqüilamente no chão e retirou um rolo de tecido de dentro de sua mochila. Desenrolou cuidadosamente o pano e várias pequenas ferramentas surgiram presas ao tecido. Diversas hastes metálicas de variados tamanhos e formas reluziam sob a luz da tocha. Sam analisou a fechadura por alguns instantes e escolheu duas gazuas que lhe pareceram apropriadas. Introduziu as peças no buraco da fechadura e iniciou seu trabalho. Após alguns segundos, para surpresa de todos, a fechadura foi aberta.
Os dois homens saíram emocionados de dentro de sua cela, uma câmara natural pequena e úmida, onde os dois haviam passado o último mês como reféns dos orcs. Abraçaram os heróis com lágrimas nos olhos, agradecendo um a um os seus salvadores.
Courana e Geradil, como eles se apresentaram, eram dois agricultores de uma pequena comunidade ao sul dali, chamada Locknel que haviam ido até Vallahim para negociar alguns produtos. Na volta para casa, cerca de um mês antes, os dois foram capturados pelos orcs e levados para o dente de pedra, onde permaneceram desde então. Os orcs os espancaram e somente os alimentavam uma única vez por dia. Os pobres plebeus sequer sabiam se era dia ou noite, quando os heróis chegaram para libertá-los.
Legolas e Sairf, que estavam explorando outro túnel, retornaram ao ouvirem o barulho provocado pela gratidão dos prisioneiros.
_ Por que vocês soltaram esses dois? Eu não avisei para tomar cuidado, não sabemos se eles são amigos ou inimigos! – Legolas repreendeu seus amigos energicamente.
_ Calma meu amigo, eles são apenas prisioneiros dos orcs, assim como sua amada! – com seu jeito alegre a amistoso, Sam tentava acalmar Legolas.
_ Está certo, vamos em frente então! – ainda irritado, Legolas avançou em direção às caixas no fundo da câmara, liderando seus companheiros.
_ Esperem, a saída é pelo outro lado! – alertou Courana, ainda assustado com a irritação de Legolas.
_ Nós não vamos sair meus amigos, vamos resgatar a noiva dele! – Sam explicou com um sorriso nos lábios, apontando pra Legolas. – Falando nisso, vocês não viram mais nenhum prisioneiro? Uma elfa ruiva muito bonita por exemplo?
_ Não, nós ficamos o tempo todo presos naquela caverna, só nós dois! Mas devem existir outras celas em algum outro lugar! Bom, nós agradecemos a ajuda, mas não vamos com vocês! Não sabemos lutar, e só iríamos atrapalhar! Boa sorte pra vocês e muito obrigado! – Courana gaguejava, sua voz foi diminuindo de tom gradativamente enquanto ele e Geradil se afastavam lentamente do grupo.
_ Ninguém vai sair daqui! Não confio em vocês dois! Nada me garante que vocês não irão roubar nossos cavalos ou nos denunciar aos orcs! Daqui vocês não sairão sem a gente! – a voz de Legolas ecoou aos gritos na caverna. Era possível ver a fúria em seu olhar enquanto ele apontava o arco na direção dos dois agricultores.
_ Calma Legolas, não precisamos chegar a isso! Courana, Geradil, há mais orcs lá fora na floresta, nós vimos os rastros deles! Além disso, pode haver outros perigos à solta por aí! Se vocês ficarem conosco estarão mais seguros! Nós iremos protegê-los! – Ainx interveio e, com sua astúcia, conseguiu convencer os dois a ficarem junto com o grupo. O elfo entregou um rastelo para cada e continuou. – Vocês não sabem usar armas, mas sabem usar isso! Tome, caso precisem se defender, não estarão desarmados!
_ E se nos traírem, vocês morrerão! – Legolas ainda muito nervoso, continuava ameaçando os dois.
_ Calma Legolas, provarei a você se eles são ou não de confiança! Poderoso Khalmyr, revele para este seu servo tudo que se esconde nos corações destes dois homens!!! – Com as mãos estendidas diante de Courana e Geradil, Loand clamou pelo poder do deus da justiça e constatou que os dois não possuíam maldade dentro de si. – Eles são bons! Não sinto nenhuma maldade nestes dois, podemos ficar despreocupados!
Anix deu água e comida aos dois novos integrantes do grupo, que devoraram em segundos as rações recebidas. Lucano deu um forte aperto de mão nos dois, para saudar os novos membros e também para provar a força do grupo. Geradil gemeu de dor com os dedos sendo esmagados pela força do clérigo. Com tudo resolvido, a equipe decidiu seguir adiante. Seus olhos se voltaram para o interior da caverna, mas não encontraram Nailo. Inconseqüente como sempre, o ranger havia se separado dos demais e seguido sozinho por algum dos túneis.
_ Hum....agora que o Legolas mencionou, estou preocupado com os cavalos! Ho-oh, voe até lá fora e veja se os cavalos ainda estão lá e se estão bem! Se você for ameaçada por alguma coisa fuja depressa! – Sairf acariciou a cabeça de sua coruja enquanto sussurrava algo em seu ouvido num idioma que só os dois podiam entender. O familiar bateu as asas, criando uma leve corrente de ar e partiu em direção à saída da caverna. – Agora sim, vamos em frente!

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