agosto 16, 2005

Capítulo 76 - A lenda de Durgedin

_ Bom, agora vamos embora! – bradou Nailo com entusiasmo enquanto avançava em direção à porta.
_ Calminha aí! Não vamos nos precipitar! Você está esquecendo de mais uma coisa! – novamente Sam interrompeu o avanço do ranger, segurando-o pelo colarinho.
_ Dê uma olhada nisso! Já é quase uma hora da tarde, acho que deveríamos parar e comer um pouco! Se estivermos famintos e cansados, não seremos páreo para aqueles orcs! O menestrel retirou um objeto do bolso e o jogou para Nailo. O herói segurou um cristal translúcido, no qual podia se ler a data e a hora corrente Valag 10, Luvitas, 12:45.
_ O que é isso Sam? – Nailo, assim como todos os outros, estava curioso a respeito daquele estranho cristal. Dentro dele, as letras e os números estavam impressos como por mágica.
_ Ora, isso é uma Runa de Gor! Você pode compra isso em qualquer armazém de médio porte! Com ela você sabe exatamente a data e a hora, sem complicações! – enquanto explicava pacientemente, Sam recolhia o objeto e o guardava novamente em seu bolso.
_ E então, o que você acham de uma pausa para o lanche antes de irmos salvar a bela dama? – perguntou Sam, já com seu bom humor recuperado.
Todos concordaram com a sugestão do bardo e ele prosseguiu:
_ Bem, Sairf, você e o Nailo, vão até o outro lado e se livrem dos corpos dos orcs que derrotamos! Enquanto você fazem isso, eu vou fechar essa porta aqui! Ah, fechem também a porta de entrada, não queremos que nenhum orc chegue pela frente e nos pegue desprevenidos aqui almoçando!
Os dois heróis caminharam pela parede até o outro lado do abismo, e recolheram os corpos dos orcs mortos na batalha da seteira. Após retirarem tudo o que eles possuíam de valor, atiraram seus corpos imundos dentro do abismo. Enquanto isso, Sam e Loand fechavam a porta que conduzia adiante e a amarravam com uma corda, para que não pudesse ser aberta. Intrigado com a água que gotejava nas estalactites e com a umidade do lugar, Anix se aproximou do precipício para observar. Lá embaixo, a dezenas de metros na escuridão abaixo, era possível ouvir o som de uma correnteza, possivelmente um rio subterrâneo. Anix pegou uma brasa que ardia no fogareiro dos orcs e atirou no buraco. O carvão em brasa despencou muitos metros, até que os olhos aguçados do elfo não pudessem mais vê-lo. Somente os ouvidos de Anix perceberam quando a brasa se chocou na água lá embaixo, apagando o restante do fogo que ainda ardia. Os corpos dos orcs atirados no abismo comprovaram as suspeitas de Anix. Era possível ouvir os cadáveres se chocando contra a parede do abismo durante a queda, para logo depois bater na água.
Nailo e Sairf retornaram para junto de seus companheiros antes que a duração da magia chegasse ao fim. Já reunidos, os aventureiros apanharam os cadáveres dos dois orcs, que haviam tentado impedir sua travessia pela ponte, para jogá-los abismo abaixo. Sam recolheu do chão uma espada de fio longo e curvo, que pertencia ao orc derrotado e tinha sido o principal motivo de discórdia entre o grupo após a travessia.
_ Isso não é obra de orcs! Dêem uma olhada nesta falcione amigos! – o bardo olhava admirado cada detalhe da arma.
_ Eu vi, Sam, ela é muito bem feita pra pertencer aos orcs! Foi feita por anões, eu peguei uma dessas também! Veja as inscrições na lâmina! – Anix respondeu exibindo a falcione que havia pegado de outro orc na câmara secreta que descobrira.
_ Tem razão Anix! Isso aqui são runas anãs! Eu vou ler.......Du...Dru...Durgedin! É isso, Durgedin! Esperem, eu já ouvi esse nome, ele não me é estranho! – o menestrel começou a vasculhar sua mente em busca de seus conhecimentos de bardos, enquanto seus amigos o observavam calados.
_ Já sei! Durgedin, o ferreiro! O salão do esplendor, é isso mesmo!
_ Quem é esse Sam?
_ É não, era, Anix! Durgedin foi um ferreiro anão que viveu há muitos anos em Tollon! Ele vivia numa montanha, em uma mina chamada Salão do Esplendor, e era fabricante de armas. Suas armas eram muito famosas pelo mundo afora por causa de sua qualidade, algumas eram até mágicas! Mas um dia ele desapareceu, e ninguém nunca mais ouviu falar dele ou de suas armas! Ele nunca mais foi visto com sua caravana para vender suas armas! Isso já faz uns duzentos anos, eu acho! Há quem diga que ele morreu, outros dizem que ele voltou para Doherimm, ou que simplesmente sumiu pelo mundo! Desde seu sumiço, vários aventureiros tem tentado descobrir a localização de sua forja, sem sucesso! – Sam falava e gesticulava muito, enquanto contava a história do ferreiro anão. Era visível sua felicidade em contar histórias, especialmente as fantásticas como aquela.
_ Eu também já ouvi falar de uma mina de um anão ferreiro! – completou Sairf – Dizem que existem tesouros perdidos nela! Acho que deve ser a mesma história!
_ Isso mesmo meu amigo mago! Acho que sem querer nós descobrimos a lendária forja de Durgedin!
_ Isso explica a pilha de tesouros sobre a qual a noiva do Legolas estava no sonho que tivemos! – deduziu Anix.
Os olhos de Nailo brilharam como dois faróis ao ouvir a palavra tesouro.
_Sam, me empresta essa falcione! – pediu Lucano educadamente ao bardo.
Sam lhe entregou a arma, e Lucano começou evocar o nome de sua deusa para descobrir se ela era mágica ou não. Squall o interrompeu, dizendo que ele mesmo faria o teste.
_ Deixe que eu faça isso Lucano, eu tenho mais magias disponíveis do que você! – Squall pegou a espada das mãos de seu amigo clérigo com cuidado e lançou uma magia de detecção sobre ela.
_ Não, infelizmente ela não é mágica! É uma obra-prima com certeza, mas não há nada de mágico nesta espada! – Squall ainda analisou todas as outras armas que estavam em posse dos orcs, mas constatou que nenhuma delas tinha qualquer poder mágico.
Lucano decidiu testar a arma de Sam na prática e golpeou o corpo de um dos orcs antes que ele fosse atirado no abismo. O cadáver foi partido em duas partes e todos constataram o poder da lâmina de Durgedin, comprovando a veracidade da história contada por Sam. Lucano devolveu a falcione para o bardo, ajudou seus amigos a se livrarem dos corpos dos orcs e todos se sentaram para finalmente descansar e comer.
Os heróis se acomodaram no chão frio e úmido da caverna. Retiraram suas pesadas mochilas das costas e as rações de viagem de dentro delas. O pão e as frutas desidratadas, bem como a carne seca e salgada, tinham um sabor maravilhoso, após uma manhã inteira de viagem e batalhas difíceis. Apesar de todos os perigos enfrentados, todos estavam relativamente tranqüilos, pois já haviam conseguido entrar na montanha e estavam no caminho certo para cumprir sua missão.
Nailo alimentava seu amigo Relâmpago com ternura e carinho, enquanto os três arcanos do grupo faziam o mesmo com seus familiares. Legolas retirou o capuz que cobria o rosto de sua coruja de estimação e a alimentou também. Anix dividiu com seus amigos um cantil de suco que possuía, era realmente um momento tranqüilo e agradável para todos. Mas então, a tranqüilidade foi subitamente quebrada pela voz de Legolas.
_ Quando nós encontrarmos Liodriel, ou algum dos rapazes que desapareceram da vila, não devemos libertá-los de imediato! – murmurou o elfo, com a cabeça abaixada, num tom sério e sombrio.
_ Mas por que não meu amigo? O que o aflige? – Sam tentava diminuir a tensão de seu amigo com sua voz afinada e gentil.
_ Eles podem estar sob algum encanto e tentar nos atacar! A criatura que dorme sob esta montanha controlava mortos-vivos no sonho que tivemos, e pode perfeitamente ter o poder de controlar a mente dos vivos também! Devemos ter cuidado, não podemos confiar em ninguém antes de um interrogatório, nem em minha noiva!
As palavras de Legolas caíram como neve num dia de sol sobre os ouvidos dos heróis. O clima de paz, que reinava até então, deu lugar ao medo e à desconfiança. Todos se calaram e terminaram suas refeições em silêncio, imersos em seus próprios pensamentos e temores. Então, após cerca de longos quarenta minutos, os heróis se levantaram, reuniram seus equipamentos e prosseguiram adiante.

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