junho 20, 2007

Campanha A - Capítulo 286 – Reencontro inesperado

Capítulo 286 Reencontro inesperado

Silfo chegou por último e se juntou ao restante do grupo que se reunia ao redor do goblin morto e de suas estranhas armas. todos olhavam com estranheza para aqueles objetos misteriosos e intrigantes. Começaram a testá-los, um a um. Nailo mexia em uma arma que consistia em um cano de metal com um cilindro perpendicular a ele. Acionou alavancas, gerou manivelas, e algo começou a funcionar lá dentro. Era um tipo de hélice, que girava velozmente dentro do cano do objeto. Uma pequena comporta se abriu no cilindro que ficava na vertical. Nailo entendeu que era algum tipo de arma para produzir vento e reverteu todas as alavancas ao seu estado original, desativando o mecanismo.

Squall testava uma outra arma menor composta de um cilindro de metal cheio de pequenas setas, parecidas com virotes, dentro dele. O elfo apontou a arma para o mar, na direção do navio, e pressionou um gatilho. Os pequenos virotes foram disparados, ligados à arma por pequenos fios metálicos. Percorreram alguns metros em direção ao mar, pequenas escamas se abriram nas pontas dos virotes, transformando-se em hélices que giravam rapidamente, fazendo com que os projéteis subitamente retornassem na direção de Squall. O feiticeiro se assustou ao vê-los vindo em sua direção. Mas, as setas desviaram sua trajetória, passando ao lado do elfo, e fincando-se no chão ao redor dele. Squall estava agora com a arma apontada para cima e cercado pelos fios metálicos que saíam dela e iam até as pequenas flechas fincadas no solo. O feiticeiro acionou uma das alavancas da arma e uma corrente elétrica partiu do cano, percorrendo os fios metálicos e indo até os projéteis fincados no chão. Se fizesse algum movimento mais brusco, Squall sabia que seria eletrocutado. Então, ele acionou a outra alavanca que havia na engenhoca, liberando os fios do cano da arma e interrompendo a descarga elétrica. Uma nova carga de projéteis avançou para a boca do cano da arma. Ela estava pronta para ser usada novamente. Lucano pegou um dos virotes do chão e guardou-o com sigo, descartando o fio de metal.

_ Pessoal, vamos voltar para o farol e descansar! Precisamos recuperar nossas energias! – era Anix.

Mas Silfo era contrário à sugestão do elfo. Estava intrigado com a presença daquele navio, e sugeriu que ele fosse investigado antes. Assim, não seriam surpreendidos por nenhum inimigo que estivesse escondido na embarcação.

_ Mas como chegaremos até o outro lado? – perguntou o mago.

_ Deixem isso comigo! – Orion retirou sua pesada armadura metálica deixando-a sob os cuidados dos elfos. Tomou impulso e saltou, desta vez contudo, alcançando facilmente o navio. As botas de metal do guerreiro fizeram um estampido seco na madeira do navio. Orion recolheu seu escudo do chão e o lançou para o outro lado, junto de sua armadura. Pegou a corda que carregara enrolada em seu corpo e amarrou-a na corrente que sustentava a âncora do navio. Depois, lançou a corda para o outro lado do abismo.

Anix pegou a ponta da corda e terminou de desenrolá-la. Silfo correu e pegou a espada de Orion dentro da armadura e com uma pedra a fincou profundamente no chão. Amarrou a corda no cabo da espada, deixando-a bem esticada e firme.

_ Podem passar! Corda está forte como minhas flechas! – disse o sátiro, orgulhoso.

Anix olhou desconfiado. Lembrou da qualidade das flechas produzidas por Silfo e decidiu não arriscar. Evocou seu poder mágico e criou uma rede, composta de teias pegajosas entrelaçadas, abaixo da corda, para servir de proteção, caso alguém caísse da corda. Além disso, ficou preparado para ajudar com sua mágica, caso alguém corresse perigo.

O primeiro a tentar a travessia foi Squall. Exibido, tentou atravessar andando sobre a corda, equilibrando-se com dificuldade. Para surpresa de todos, conseguiu chegar até a metade da corda. Mas, quando tentou mais um passo, perdeu o equilíbrio e caiu. Anix estava preparado para isso, e usou sua magia de levitação para impedir que o irmão despencasse na teia mágica abaixo dele. Squall foi colocado por Anix de volta na corda e tentou novamente caminhar sobre ela. O mago o repreendeu, mas o teimoso feiticeiro insistiu em seu erro e caiu novamente. E uma vez mais Anix o segurou com seu poder.

_ Squall, deixe de palhaçadas e atravesse isso direito! Eu não vou mais te segurar se você cair agora!

Intimidado, o feiticeiro decidiu se pendurar na corda e atravessar da maneira mais fácil.

O próximo foi Anix. Tentou passar pisando em sua teia mágica, mas ficou com os pés grudados nela e precisou ser resgatado pelos amigos. Depois, passou pendurado na corda, da mesma forma que Squall. Depois foi a vez de Lucano e de Orion, que voltou do navio para pegar sua armadura e sua espada. O guerreiro trocou sua espada por uma de Lucano para servir de apoio para a corda. Legolas e Nailo não atravessaram, preferindo ficar de guarda na ilha, dando cobertura aos amigos com suas flechas, caso fosse necessário. Já Silfo disse que retornaria para o farol, para proteger o corpo petrificado de Deedlit. Anix lhe deu uma tocha, para que ele acendesse no alto da torre, sinalizando que estava tudo bem.

No navio, os heróis começaram sua exploração. Lucano evocou uma bênção de sua deusa sobre si, para se proteger, e outra sobre Squall, para curar os seus ferimentos. Orion ativou sua espada mágica para com suas chamas iluminar o caminho que iriam percorrer.

Abriram um dos alçapões que havia no convés. Sob o solo de madeira havia um amplo compartimento onde vários canhões, barris com o proibido pó negro chamado de pólvora e grandes esferas de metal negro dividiam o espaço existente. Desceram e não encontraram nenhum outro inimigo. No chão daquele andar também havia um alçapão, que conduzia aos níveis inferiores e ele foi logo aberto pelos heróis.

O pavimento abaixo do andar dos canhões era um pouco menor, cheio de pilares de madeira onde redes de dormir se amontoavam, esticadas. Havia portas, uma na proa e outra na popa, que levavam para além da visão dos aventureiros. E também havia um alçapão no chão, revelando a existência de um outro andar.

Anix e Squall usaram seus poderes para ficarem invisíveis, deixando Orion espantado. Desceram então, protegidos por sua camuflagem mágica, e começaram a olhar dentro das redes, em busca de algum goblinóide adormecido. Da entrada do andar a espada flamejante de Orion fornecia iluminação para os dois. Lucano os observava, usando uma bênção para poder enxergar os companheiros invisíveis.

Squall e Anix, entretanto, não viam um ao outro, e, num momento de distração, Squall viu uma das redes se movendo, virada por Anix, e pensou que fosse algum inimigo. O feiticeiro atacou a rede com sua espada, voltando a ficar visível e fazendo ruído suficiente para acordar um batalhão de goblins.

Anix advertiu o irmão. Squall compreendeu o erro que havia cometido e usou sua varinha mágica para ficar novamente invisível. Ficou em silêncio, mas já era tarde, pois alguém já despertara.

_ Quem é que está ai? Não vão me trazer comida hoje não? Estou com fome, seus miseráveis! Se não me alimentarem, usarei uma técnica de tortura de mais de trezentos anos em vocês! – era uma voz grave e suja, carregada de arrogância. Era uma voz familiar. Lucano sacou Dililiümi, esperando confirmar suas suspeitas.

_ Quem está ai? Quem é você? – Squall usou sua magia para disfarçar sua voz e deixá-la parecida com a de um goblin.

_ Como assim quem sou eu? Sou o grande e inesquecível capitão Léo Seis Dedos! Agora venha logo me dar comida, ou sairei daqui usando um de meus truques centenários e lhe darei uma surra!

Lucano não esperou mais. Desceu a escada íngreme que dava acesso ao andar, passou por Anix e Squall e foi até a proa do navio. Atravessou a porta que havia no final do dormitório goblin e entrou num corredor estreito e comprido. Dililiümi clareava o caminho para ele, como uma vela.

Havia duas portas, uma à direita e outra à esquerda. Os resmungos do e protestos vinham da esquerda. O clérigo foi até a porta e a arrombou com um chute poderoso. Encontrou uma prisão. Eram apertadas jaulas de metal enferrujado e enegrecido. O cheiro de fezes e urina impregnava o lugar todo. Numa das celas, sentado sobre um punhado de palha podre e molhada, havia um homem magro de estatura mediana, com uma cicatriz no nariz e longos cabelos loiros embaraçados numa única trança longa e suja. Vestia trapos sujos e fedidos e tinha o rosto coberto por uma barba imunda e embaraçada.

Orion chegou em seguida, trazendo sua espada flamejante para iluminar o local. Junto com ele estavam Anix e Squall, invisíveis. O homem cobriu o rosto com as mãos, protegendo os olhos fundos da luz intensa da espada de fogo. Em cada uma das mãos havia seis dedos.

Era Léo Seis Dedos, pirata cruel e incompetente que aprisionara os heróis numa rede para explodi-los com canhões, tempos atrás, quando ainda estavam no Mar Negro, retornando do cativeiro da ilha de Ortenko. Para sorte, ou azar, dos heróis, selakos haviam chacoalhado o navio em que estavam, virando os canhões para baixo e explodindo o casco do navio, ao invés dos heróis. Léo Seis Dedos afundou junto com os canhões e desapareceu nas águas escuras. Lucano, Squall, Anix, Legolas, Nailo, Sairf, Loand e Yczar submergiram junto com o navio e outros piratas. Caíram em uma zona de “ar molhado”, um tipo de água mágica e respirável, e foram capturados por Sahuagins. No fundo do mar tiveram que passar por diversas provações para reconquistar a liberdade e poder retornar à superfície.

Léo Seis Dedos, o odioso pirata que havia colocado os heróis em grande perigo no passado, e que sobrevivera misteriosamente ao naufrágio do navio de Flat Nose, estava ali, diante deles, preso, enjaulado e indefeso.

Lucano começou a golpear com fúria a corrente que trancava a jaula. Faíscas voavam pelo porão lúgubre, sem causar grandes danos à corrente. Então, o clérigo ouviu uma voz em sua mente.

_ Lucano! Por que toda essa fúria? Por que odeia tanto este homem?

_ Por causa dele, meu grupo e eu quase morremos! Quase tivemos nossos olhos arrancados! – respondeu o elfo, mentalmente.

_ Qual grupo?

_ Os meus amigos! Squall, Anix e os outros! Todos os elfos que andam comigo!

_ Então, este humano é um inimigo dos elfos?

_ Sim!

_ Então eu o ajudarei!!!

A voz silenciou nos pensamentos do clérigo. A espada em suas mãos ardeu como uma forja e foi tomada por chamas muito brilhantes. Lucano voltou a golpear a corrente, que começou a esquentar a avermelhar, até se partir. O sacerdote invadiu a cela, tomado pela fúria que resplandecia em seus olhos, e agarrou o pirata prisioneiro pelo pescoço.

_ Muito bem, marujos! Serão bem recompensados! Agora vamos logo! Temos um navio a tomar!

_ Cale-se! – rugiu Lucano.

_ Ora, marujo! Isso não são modos de tratar o seu capitão! Peça desculpas agora!

_ Cale essa sua boca imunda! – Lucano gritou e torceu um dos seis dedos da mão esquerda de Léo até quase quebrá-lo. Squall, invisível, pressionou sua espada na garganta do pirata, quase o sufocando. – Olhe nos meus olhos, desgraçado! Pois por sua causa eu quase os perdi! Lembra-se de mim? Lembra-se de mim?

_ Pare de gritar comigo! Eu sou o capitão aqui! Você marujo, tire-o daqui! Jogue-o numa cela! Uma semana de prisão a pão e água por insubordinação! – o pirata apontou para Orion, ordenando que ele prendesse Lucano. O sacerdote golpeou o rosto do pirata, calando-o. O guerreiro deu as costas e saiu, indo investigar a porta em frente.

_ Ai, esses elfos! – resmungou Orion, enquanto saía.

Anix voltou a ficar visível, agredindo Orion. Começou a estrangulá-lo e sentiu uma energia estranha percorrendo sua mão. Viu que uma aura negra se formava no ponto em que ele pressionava a garganta do humano. Anix o soltou, espantado. Squall abandonou Léo Seis Dedos e levou sua espada ao pescoço do guerreiro.

_ Nunca mais diga isso! Nós somos elfos sim! Com muito orgulho disso! E você não sabe o que nós passamos por causa daquele indivíduo ali! Então, não me obrigue a descontar a raiva que estou sentindo em você! – rugia Anix. Orion, sem entender o que acontecia, apenas saiu, e foi continuar sua investigação.

_ Lembra-se de mim? Lembra-se de nós? Meses atrás você nos prendeu numa rede em um navio no Mar Negro! Ia disparar canhões contra nós! Mas os canhões viraram para baixo e explodiram o casco do navio! Nós fomos para no fundo do mar e quase morremos nas mãos de um bando de criaturas marinhas! E tudo por sua causa! – gritava Lucano.

_ Ah! Agora me lembro! Vocês caíram em um truque de mais de trezentos anos! Foi bem feito pra vocês! Mas acho que já aprenderam a lição! Agora, saiam de meu caminho e poderão se juntar a mim! – a arrogância continuava na voz do pirata.

Lucano quebrou o dedo do homem, que estava em sua mão. Ameaçou deixá-lo sem dedos, caso ele não se comportasse como o prisioneiro que era. Anix o ameaçou, com suas magias. Léo baixou a cabeça.

_ Sim senhor! Ficarei quietinho! Prometo! Só não me façam mal!

Quase chorando, Léo Seis Dedos contou sua história. Havia sido capturado há cerca de um mês pelos piratas goblinóides e sua líder, a misteriosa bruxa. Desde então, estava prisioneiro dentro daquela cela imunda. Mesmo assim, enquanto falava, Léo Seis Dedos não perdia seu ar de superioridade, dizendo ser tudo um plano para tomar o navio da bruxa, mais uma das suas táticas de trezentos anos. De maneira alguma ele assumiu ter sido feito prisioneiro. Segundo ele, tudo não passava de mais um de seus planos. O pirata foi amarrado e levado para o convés por Anix. Lá em cima, no convés, o mago alimentou o pirata e lhe deu água. Léo começou a comer desesperadamente, como se não o fizesse há muitos dias. Lágrimas escorriam de seus olhos, misturando-se à ração desidratada cedida por Anix, enquanto ele se esbaldava e agradecia com emoção.

_ Obrigado, senhor! Obrigado, senhor! Jamais me esquecerei disso! Serei sempre grato, senhor!

_ Tudo bem! Não precisa chorar! Coma à vontade! Eu vou ficar aqui fazendo umas anotações em meu grimório, enquanto isso! Mas não tente nenhuma gracinha, senão você vai comer uma bola de fogo! – disse Anix, abrindo seu livro de magias e mostrando, ameaçadoramente, uma pequena esfera de enxofre em sua mão, o componente para conjurar a tal magia de fogo.

Enquanto isso, nas entranhas do navio, Squall, Orion e Lucano continuavam investigando. Descobriram que a outra sala em frente às celas era uma asquerosa cozinha de goblins, que fedia mais que a mais imunda fossa dos humanos. Desceram mais um andar no casco da nau goblinóide, e encontraram lá o depósito da embarcação.

Havia no depósito várias caixas com mantimentos em bom estado armazenados, provavelmente produto de algum saque. Havia também vários barris, alguns com vinho e cerveja,outros com óleo e mais alguns com pólvora. Havia ferramentas, tábuas para possíveis remendos na nau, pregos, cordas, panos para velas, piche. E havia sacos. Eram grandes sacos de um tecido grosso, que tinham o tamanho de um gato ou outro animal pequeno. Eram trinta deles, que se amontoavam num canto do casco úmido e eram todos muito pesados. Lucano abriu um dos sacos e seus olhos brilharam ao ver centenas de moedas douradas lá dentro. Era um tesouro. Um tesouro pirata.

Um tesouro que poderia estar amaldiçoado. Lucano usou seus poderes para descobrir se havia alguma magia amaldiçoando aquele ouro. Não havia. Squall, Orion e Lucano comemoraram com gritos de vitória. Os gritos chegaram até o convés do navio.

_ Está ouvindo isso? São gritos! O que está acontecendo com seus amigos? – perguntou Léo Seis Dedos, curioso. Anix se levantou calmamente e foi até ele. Tirou um espelho de dentro de sua mochila e o mostrou ao capitão.

_ Quer saber o que está acontecendo? Então olhe no espelho! – o mago murmurou um feitiço e o espelho brilhou magicamente. E, ao invés do reflexo daqueles que o olhavam, o espelho mostrou o que acontecia no porão do navio. A magia durou apenas um breve instante, e esgotou Anix fisicamente, mas foi o suficiente para entender o que acontecia.

_ Ouro! Ouro! – repetia o pirata, enlouquecidamente.

_ Fique quieto! Ou então vou amordaçá-lo novamente! – advertiu o elfo. Léo Seis Dedos se calou.

Squall, Lucano e Orion carregaram os sacos para cima, para o convés. Cada um deles devia conter cerca de mil moedas. Se fossem realmente todas de ouro, seria uma pequena fortuna de trinta mil tibares de ouro. No meio do saque, Squall se deparou com algo que fez a emoção dominá-lo. Era uma bolsa feminina, uma bolsa que ele conhecia muito bem. Era a bolsa de Deedlit.

Squall pegou a bolsa, entristecido, e começou a olhar dentro dela, procurando por algo que pudesse ser útil para trazê-la de volta à sua forma original. Havia vários pergaminhos mágicos na sacola, todos enrolados em forma de pequenos tubos, com um papel amarrando-os no qual podia ler qual tipo de magia eram capazes de fazer.

Havia pergaminhos de vôo, de detecção mágica, de mísseis mágicos, e havia pergaminhos de magias de respirar sob a água, muito úteis para alguém que se fora se aventurar em uma ilha no meio do oceano. Havia também um outro rolo com pergaminhos que permitiam ao alvo da magia mover-se normalmente sob a água. Squall sabia que Deedlit não era capaz de usar aquele tipo de pergaminhos, já que eram de magias divinas e ela era uma feiticeira que, assim como ele mesmo, conjurava magias arcanas. Squall deduziu então que Rael, o clérigo de Ab’ Dendriel, deveria ter ido até a ilha com Deedlit. Restava agora descobrir onde ele estava.

Muitos minutos se passaram até que todo o tesouro estivesse sobre o convés. Todos comemoravam, os olhos de Léo Seis Dedos brilhavam mais que o ouro. Mas a comemoração durou pouco tempo. Ouviram um estranho ruído vindo de fora do barco, como se um pano molhado se chocasse na embarcação. Todos voltaram suas atenções para bombordo, enquanto o ruído se aproximava do convés, ritmado e cada vez mais perto. Então puderam ver uma criatura horrenda. Era um ser humanóide, de aparência monstruosa que lembrava uma mulher muito velha e enrugada. Sua pele era viscosa e amarelada, coberta de sulcos gosmentos e verrugas purulentas. Tinha cabelos longos e imundos, embaraçados uns nos outros de forma que lembravam algas marinhas podres. Era uma bruxa.

_ Ah! Amigos da elfa vagabunda! Vieram encontrar sua amiga! Digam-me onde encontrar o amuleto dos planos e eu salvarei a vagabunda para vocês! – a mulher tinha uma voz estridente e aterrorizante. Só de olhar para ela, os heróis sentiam vontade de fugir e se esconder. Léo Seis Dedos começou a chorar convulsivamente, repetindo constantemente “a bruxa!a bruxa!”, entre um soluço e outro. Orion sentiu suas forças diminuindo, tamanho era o pavor que a aparência horripilante da bruxa causava.

_ Quem é você? O que faz aqui? – perguntou um dos heróis.

_ Eu sou Silmara! E quero o amuleto dos planos! Digam-me aonde encontrá-lo e eu irei embora! Caso contrário, irei infernizar a vida de vocês!

_ Cale-se, bruxa! Ou você vai ganhar um presentinho meu! – gritou Anix. Lançou a pequena esfera de enxofre na direção da mulher, concentrando-se para retardar a detonação da magia até o melhor momento.

_ Isso, cale-se, sua maldita! – gritou Squall, disparando uma rajada de energia na mulher. Os projéteis serpentearam e foram de encontro à bruxa. E nada aconteceu.

_ Amigos da vagabunda, só eu posso salvar a vagabunda pra vocês! Se não me disserem onde encontrar o amuleto, não conseguirão salvar a vagabunda!

_ Pra que você quer esse amuleto? – era Orion, ativando as chamas de sua espada.

_ Pra dominar todos os planos! Vou ser a rainha de tudo! Vou dominar os reinos dos deuses e tudo mais que existir! Há! Há! Há! Há! Há! – a bruxa gargalhava compulsivamente, enquanto fitava os aventureiros com seu olhar maligno e insano.

_ Eu vou acabar com você! – gritou o humano, corre até a mulher brandindo sua espada.

_ Adeus! – a bruxa se soltou e despencou no mar. Os heróis correram a tempo de vê-la mergulhando nas águas frias e escuras do mar. – Se quiserem salvar a vagabunda, me entreguem o amuleto! E se quiserem brigar, venham até aqui embaixo! – e, após dizer essas palavras, mergulhou sob as ondas e desapareceu.

Squall pensou em usar os pergaminhos que encontrara na bolsa de Deedlit para is atrás da bruxa, mas Anix o deteve.

_ Vamos voltar para o farol! Está escuro e frio lá embaixo, e o mar está agitado demais! Além disso, nós já estamos muito fracos após todas essas batalhas! Vamos descansar por hoje, e amanhã resolveremos tudo! – disse o mago.

Todos concordaram e retornaram para a torre do farol, levando consigo o tesouro que haviam encontrado no navio. Já estavam de volta à ilha quando uma explosão detonou dentro do navio, destruindo parte do convés. Era a magia de Anix, que só agora detonara, após ter sido retardada pelo mago.

Já no forte, Léo Seis Dedos chorava e soluçava, implorando aos heróis que impedissem a bruxa de conseguir o tal amuleto.Orion mostrou o amuleto que tinha e contou como o havia conseguido. Perguntou ao pirata se aquele poderia ser o amuleto dos planos. E a resposta de Léo foi assustadora.

_ Não deve ser! Ouvi a bruxa dizer que o amuleto está em algum navio que afundou nessas águas! Vocês têm que impedi-la de conseguir o amuleto! Se ela conseguir encontrá-lo, será o fim de tudo! Ela me disse o que vai fazer! Ela quer abrir um portal para trazer a Tormenta para nosso mundo! Não da forma como ela vem hoje, em pequenos lugares, mas de uma vez! Ela quer que a Tormenta invada nosso mundo e destrua tudo! Vocês têm que impedi-la! Ela vai matar a todos nós! Não podem deixar que ela consiga o amuleto! Ela é louca! Aquela bruxa...a bruxa...a bruxa... – Léo Seis Dedos voltou a chorar descontroladamente.

Algo precisava ser feito. Se as palavras do pirata fossem verdadeiras, Arton estaria condenado. A Tormenta, a terrível tempestade rubra, que, com seus demônios e sua chuva de sangue ácido, destruíra a civilização de Tamu-ra e arrasara outros pontos do mundo era o pior tipo de ameaça que poderia existir. Os heróis precisavam impedir a bruxa de atingir seus objetivos insanos, ou então, o mundo todo acabaria.

junho 12, 2007

Campanha A - Capítulo 285 – Engenhoqueiro goblin

Capítulo 285 Engenhoqueiro goblin

_ Vamos ver quem vai queimar quem! – gritou Nailo. Uma flecha partiu de seu arco e foi cravar-se no pé do goblin.

_ Seu orelhudo desgraçado! Furou minha bota! E me machucou! Vou assar você vivo! – praguejou o monstro. – E essas suas flechas não vão mais funcionar comigo, seu verme! – e pegou uma outra arma estranha de sua mochila. Disparou-a apara o alto e inúmeras esferas de metal, do tamanho de um punho, saíram de dentro do cano comprido da arma. As esferas subiram e começaram a cair. E, antes que tocassem o chão, elas se abriram e pequenas hastes com hélices metálicas se projetaram para fora de cada esfera, girando velozmente. E cada esfera passou a flutuar ao redor do goblin, uma hélice apontada para o alto, sustentando-a, outra apontada para frente, como se protegesse o goblin. – Podem disparar quantas flechas quiserem agora, seus imprestáveis!

_ Vamos ver se elas não vão funcionar! – Legolas gritou em desafio e disparou duas flechas, quase simultâneas. Sua mão era firme como rocha e os projéteis saíram em altíssima velocidade, traçando um rastro de minúsculos cristais de gelo pelo ar. Peito e pescoço. As setas atingiram o alvo com grande violência, e o inimigo vomitou sangue e sentiu a garganta ser recoberta por uma camada de gelo.

_ Maldito! Vai me pagar por isso! Será o primeiro a morrer! – vociferou o monstro, engasgado com o próprio sangue.

_ Cale-se, seu desgraçado! Vou tirar suas forças! Arëmikeali – Squall apontou a varinha mágica e um raio negro saiu de sua ponta, mas a criatura reagiu rápido, evitando o disparo com facilidade. Squall praguejou.

_ Qual seu nome? – gritou Anix.

_ Pergunta pra sua mãe, que está aqui no convés, nua! – respondeu o inimigo. Deu um sorriso ao ver a reação do mago. – Ta bom! Eu sou Grinch! Guarde este nome! Pois é o nome do cara que vai te matar, seu orelhudo imprestável!

_ Pois então segure isso, seu maldito! Dare bia natha!!! – Anix apontou a mão para o goblin e uma pequena pedra flamejante voou em sua direção. Parecia prestes a explodir e Anix sabia qual seria o resultado daquilo no meio daquela tempestade de magia caótica, sabia que seus poderes mágicos estavam ampliados, sentia que a sorte estava a seu lado. Nimb apenas sorria.

Uma explosão se formou, envolvendo metade do convés da embarcação e avançando para a ilha além daquilo que Anix previra. Por pouco Nailo não foi ferido também. A explosão fez o navio tremer e chacoalhar, o mastro principal ficou enegrecido. No meio de todas aquelas chamas, o goblin pulava de um lado pra outro, se jogava no chão, levantava, dava cambalhotas. Parecia desesperado, queimando no meio do fogo maximizado pelo estranho clima de Wynlla. Mas, ao se dissiparem as chamas, o goblin permanecia em pé, sem sequer um arranhão. Estava ileso.

_ O que você queria me mostrar, orelhudo? Sua mãe sabe fazer coisas melhores que isso! – provocou o monstrinho. Squall se enfureceu.

_ Não fale assim da minha mãe!

_ Ora, ela não liga! Vem perguntar pra ela aqui no convés!

Enquanto discutiam, Lucano clamou por sua deusa e seu corpo foi tomado de um brilho intenso. Correu até a beirada do pequeno penhasco que era o fim da ilha e saltou, superando sem dificuldade os vários metros que o separavam do navio. Pousou no meio do convés.

_ Ora, veio ver a mãe deles? – provocou o monstro, se dirigindo a Lucano.

_ Não! Vim acabar com você! – foi a resposta do clérigo. Dililiümi tremia e brilhava em suas mãos.

Orion se levantou, com muita dificuldade e com o corpo ferido e queimado. Pegou uma poção mágica para restaurar seu vigor, enquanto Nailo aumentava o seu próprio magicamente e sacava suas espadas. Anix ainda discutia com o goblin.

_ Ah! Cansei de você! Cale essa boca, seu orelhudo chato! – Grinch sacou outra arma estranha, um pedaço de cano preso a um cabo de madeira com uma manivela. Tinha duas pontas afiadas na frente, eram como duas flechas, mas estavam ligadas por uma pequena haste. O goblin pressionou um gatilho, as duas setas foram disparadas em grande velocidade e se fincaram no peito de Anix. O monstro girou a manivela e uma faísca saiu da arma, percorrendo um fio metálico que a ligava às setas cravadas em Anix. Era um relâmpago. O mago tombou, fulminado pela descarga elétrica. Grinch gargalhou.

Legolas disparou seu arco novamente, mas o monstro se esquivou de todos os ataques e riu do elfo. Squall mandou Cloud atacar, e com sua mágica aumentou a força física de Nailo. O pássaro voou num rasante sobre o inimigo, cuspindo fogo sobre ele. O goblin deu uma cambalhota para trás, escapando das chamas sem dano algum. Riu novamente.

_ Idiotas! Não dão conta do recado e mandam esse passarinho vir me atacar! Vou fazer espetinho com esse pardal idiota!

_ Cale a boca! – Era Lucano. Dililiümi ardeu e sua lâmina flamejante golpeou o estômago da criatura. As chamas aumentaram furiosamente, e o sangue do monstro brotou farto.

_ Desgraçado! Agora o primeiro a morrer vai ser você! Não vai mais encostar em mim! – Grinch saltou para longe de Lucano, dando piruetas no ar. Mexeu em sua mochila e pressionou um outro gatilho. Uma enorme hélice surgiu, girando sobre a cabeça do goblin, e ele voou. – Agora você não chegará nem perto de mim!

Orion dava a Anix a poção que ele pretendia tomar, salvando o elfo da morte. Nailo lançava sobre si mesmo outra magia, para também saltar no navio, assim como Lucano. Legolas retesava a corda de seu arco. Então o céu rugiu.

Um relâmpago. Um trovão. E o céu tornou-se verde. O cheiro de cloro juntou-se ao da água salgada e a magia se foi. As armas mágicas se apagaram e os heróis sentiram-se mais fracos. Desesperaram-se.

Legolas disparou suas flechas. Mas, desta vez, foram desviadas pelas esferas que flutuavam ao redor do monstro. Squall enfiou uma poção mágica na boca de Orion, mas ela não fez efeito. Anix levantou e correu, não sentia mais seus poderes, era assustador.

Lucano correu, e saltou para atacar o dispositivo de vôo do monstro. Grinch foi mais rápido e golpeou a cabeça do clérigo com sua arma. Mas o elfo resistiu à dor e prosseguiu no ataque, atingindo em cheio o estranho aparato que mantinha o goblin no ar. E Dililiümi quase quebrou. Nailo, Orion, e todos os outros ficaram paralisados.

_ Há! Há! Há! Isso que dá dependerem de magia! Seus batráquios! Orelhudos inúteis! Eu já não tenho desses problemas! Minhas engenhocas não dependem dessa porcaria! Isso não é feitiçaria, é tecnologia! Agora vocês vão se ferrar, seus vermes! – Grinch levantou vôo com sua engenhoca sinistra. Lucano o atacou novamente, rasgando a mochila que ele tinhas nas costas. Mas, nada caiu da bolsa. – Orelhudo desgraçado! Rasgou minha mochila do espaço etéreo! Perdi minhas engenhocas! Vou matar vocês todos por isso! – Do alto, o engenhoqueiro pegou outra arma, que tinha presa à perna, um cilindro metálico comprido, preso a um cabo de madeira, havia alavancas e manivelas por todos os lados. Pressionou um gatilho, engrenagens giraram e uma esfera cinzenta foi disparada, explodindo próximo ao chão, ao lado de Orion.

Um estranho pó se espalhou, criando uma névoa espessa, quase sólida, que envolveu Orion, Squall, Anix e Legolas. Os olhos dos heróis arderam como se tivessem sal, seus pulmões queimaram como se em chamas, e seus corpos e suas armas e armaduras começaram a derreter. Era ácido.

Legolas correu para longe da névoa ácida, enfiou a mão em sua bolsa marrom e arremessou uma bola felpuda que se transformou em um lobo. O animal espreitava logo abaixo do goblin voador, esperando que ele caísse. Orion caiu, desmaiado, mas foi salvo por Squall, que o arrastou para fora da nuvem corrosiva. Anix fugiu para fora da nuvem, enquanto Lucano tentava usar a arma elétrica que o monstro deixara caída no convés do navio após quase matar Anix com ela.

O engenhoqueiro ganhou altura e transpôs a faixa de água e penhasco que separava a ilha do navio. Em poucos segundos, estava sobre Legolas. Os heróis tentavam ainda se recuperar dos efeitos nocivos do ácido lançado pelo inimigo, Nailo mirava-o, tentando prever o local onde pousaria para atacá-lo, se é que ele retornaria ao chão. Então, o destino lhes sorriu. Um relâmpago cortou o céu verde e a benção de Wynna voltou a se derramar sobre os aventureiros. A magia voltara.

_ Tome isso, inseto orelhudo! – Grinch disparou outra de suas armas sobre Legolas. Um estranho pó amarelado caiu sobre ele, em grande velocidade, penetrando em sua pele, olhos e narinas. Legolas começou a rir e soluçar, como se tivesse ouvido alguma anedota engraçada. Mas, o arqueiro percebeu o intento do monstro e se controlou antes que fosse tarde demais. Engoliu o riso e disparou duas flechas encantadas no inimigo, trespassando seu corpo. Grinch finalmente demonstrou sinais de cansaço.

_ Squall prepare-se para lançar seus mísseis mágicos ao meu sinal! – gritou Anix. O mago, de posse novamente de seus plenos poderes, entoou um feitiço e desapareceu no ar. Teletransporte.

Anix surgiu novamente, no mesmo instante, no alto, atrás do goblin. Agarrou-o pelo pescoço, tentando impedi-lo de usar suas armas novamente, e o peso dos dois se somou para fazer com que o dispositivo de vôo começasse a retornar ao solo, gradativamente.

_ Agora!!! – gritou Anix.

Squall lançou seu feitiço e projéteis de energia saíram de seus dedos, serpenteando pelo ar, e atingiram o corpo de Grinch. Não longe dali, no navio, Lucano evocou o nome de Glórienn, e uma espada de luz surgiu acima de sua cabeça, para fulminar o pequeno monstro com um raio mágico.

Ferido e humilhado, o engenhoqueiro goblin amaldiçoou os heróis, largou a arma que disparava bolas de fogo, sacou uma pequena arma pendurada na perna direita e a disparou para trás, tentando atingir Anix. O mago tentou se desviar do disparo, mas, para sua sorte, o projétil se chocou contra o corpo do próprio Grinch. Era uma pequena esfera rosada que explodiu ao se chocar no ombro do seu criador. A bola se expandiu e inchou, como um imenso balão, e envolveu os corpos de Anix e Grinch, fechando-se sobre eles. Os dois ficaram presos, dentro de uma enorme esfera rosada translúcida e flexível. Os pequenos globos que flutuavam ao redor do monstro foram envolvidos e esmagados pela esfera e ficaram destruídos. A hélice do aparato voador de Grinch se enroscou na parede da esfera, quebrando-se, e os dois despencaram. Chocaram-se violentamente contra o solo, Anix desmaiado, Grinch perto disso.

Legolas saltou sobre o globo com sua faca de caça, tentando rasgá-lo, mas não conseguiu sequer arranhar o objeto. Squall tentou com sua espada e obteve o mesmo resultado. Lucano saltou de volta para a ilha, pronto para matar o monstro e salvar a vida de Anix. O humano Orion tinha menor importância para todos, embora estivesse em pior estado.

O céu brilhou verde novamente, e uma muralha feita de energia pura surgiu no meio do oceano, brilhante. Quatro criaturas elementais de enorme tamanho, compostas apenas de água, surgiram sobre a ilha e mergulharam nas águas turbulentas. Gotas de chuva transformavam-se em mariposas de fogo, antes de sequer se aproximarem do solo, iluminando a noite escura. O reino da magia parecia saldar a visita dos heróis com seus fogos de artifício exóticos.

Em meio a todo esse caos mágico, Nailo apanhou do chão a arma mais perigosa de Grinch, a mesma que disparara um projétil explosivo no peito de Orion. Encostou o cano da arma na bolha e pressionou-o até amassar a parede flexível e cobrir o cano por completo. Disparou. Um enorme estrondo foi ouvido, e as chamas espirraram pela lateral da bolha, ferindo o ranger e Squall, que estava mais próximo. O globo finalmente foi furado, e o ar que estava dentro dele começou a vazar, lentamente. Grinch amaldiçoou uma última vez os heróis, e desfaleceu.

Legolas deu um pontapé na boca do inimigo abatido, e Squall enfiou a mão na abertura da bolha e puxou a cabeça de Grinch pra fora, agarrado pelo pescoço. O feiticeiro mostrou suas presas, e Nailo tentou segurá-lo e impedi-lo, mas já era tarde. Squall rasgou a garganta de Grinch a dentadas, retirando o pouco que restava de vida no goblin engenhoqueiro.

Nailo protestava, enfurecido. Queria manter o goblin vivo para interrogá-lo e descobrir mais sobre ele e seus companheiros. Num ímpeto de raiva, no calor da discussão, desferiu um soco no rosto de Squall. Cheio de cólera, o feiticeiro energizou sua espada, seus olhos brilharam vermelhos, sua lâmina era fogo. A espada de Squall rasgou o peito de Nailo e bebeu seu sangue com fartura. Nailo nada fez. Continuou se afastando do grupo, segurando o ferimento que sangrava, e foi ajudar Orion. Ainda cheio de ira, Squall rasgou o que restava da bolha, abrindo caminho para Lucano curar os ferimentos de Anix. O mago despertou, quase ao mesmo tempo em que o humano, e os dois se juntaram ao grupo para inspecionar as estranhas armas portadas pelo goblin. Ao menos, o que havia restado delas.

junho 01, 2007

Campanha A - Capítulo 284 – Navio pirata

Capítulo 284 Navio pirata

Já do lado de fora da torre, na pequena porção de praia onde tinham aportado, Anix começou a bater a ponta do pé na areia úmida. A chuva parara há poucos minutos, mas o céu continuava negro, embora de tempos em tempos fosse tomado por um brilho verde assustador.

_ Pessoal! Tenho uma idéia pra salvar a Deedlit! Quero ouvir a opinião de vocês! Eu pensei em abrir um portal mágico debaixo dela, para ela cair dentro dele. A outra ponta do portal ficaria aqui na praia, acima do chão. Assim, quando a Deedlit caísse, seu corpo iria bater na areia e não se quebraria. Depois a gente a levaria para Ab’ Dendriel nesse barco! – disse Anix.

_ É muito arriscado, Anix! E se na hora que você fizer a magia acontecer algo estranho como das outras vezes. Não podemos arriscar! – discordou Nailo.

_ Mas nós não temos outra opção! – insistiu o mago.

_ Temos sim! Tem um navio enorme lá atrás do farol, Legolas, Silfo e eu o encontramos por acaso. Vamos buscar uma das velas dele, e cordas, para descermos Deedlit pendurada até o chão. Depois a gente a coloca no navio e vamos embora com ele, que é muito mais seguro do que esse barquinho que nos trouxe até aqui!

_ Mas a magia será rápida, talvez dê tempo de trazê-la em segurança antes que aconteça algo novamente!

Mas, por ironia do destino, após Anix dizer estas palavras, o céu foi tomado de um verde intenso que parecia bailar entre as nuvens. E a magia desapareceu por completo. Suas armas mágicas se apagaram, seus poderes deixaram seus corpos. E o pavor tomou conta de todos. Estavam em campo aberto, visíveis a qualquer ameaça, e privado de seus principais poderes. Mas, por sorte, o efeito durou pouco e em segundos tudo voltou ao normal. Os heróis viram seus itens mágicos brilharem com maior intensidade e sentiram a mana mágica transbordando em seus corpos. Squall sentiu toda a força roubada pelo pato da perdição retornar para seu corpo, e todos aproveitaram a chance para curarem seus corpos com suas poções mágicas. Com todo aquele poder extra, era impossível a magia de Anix falhar. Com sorte, talvez ele pudesse teletransportar Deedlit e todos para o continente em segurança. Era uma chance muito boa para ser desperdiçada, e a discussão voltou.

Enquanto Nailo e Anix debatiam, Orion, ouvindo sobre a existência do navio, decidiu olhar com seus próprios olhos a tal embarcação. Enquanto caminhava, lembrava das palavras de Deedlit, sobre a bruxa e o amuleto, e perguntava-se se não iria encontrar a tal bruxa no navio e se ela não iria tentar roubar-lhe o amuleto que carregava. Seria aquele o tal amuleto que a bruxa desejava, e pelo qual tinha atacado os pescadores e feito Deedlit prisioneira? Orion desejava encontrar a resposta, e desejava saber o quanto antes qual a missão que sua deusa tinha lhe reservado no meio daquele grupo de elfos arrogantes que o tratavam com desconfiança. Desejava saber quem era a misteriosa velha que encontrara na cabana da estrada e o que era aquele colar que ela tinha lhe dado. E, mais do que tudo, desejava saber quando encontraria o assassino de sua família, para poder vingar seus parentes mortos.

Perdido em seus pensamentos, Orion chegou ao navio mencionado por Nailo. Sem que ele soubesse, os elfos já se dirigiam para o mesmo lugar. Orion estava diante de uma gigantesca embarcação. Tinha três grandes mastros em seu convés, sendo que o central, e o maior deles, media mais de dez metros de altura. Todas as velas estavam recolhidas e o navio permanecia solitário, ancorado vários metros da costa pedregosa. Com um salto de sorte era possível que ele alcançasse o convés do navio, mas teria de ser um pulo sobre humano. Além disso, se falhasse, cairia entre o navio e o paredão rochoso que descia até a superfície agitada do mar e fatalmente morreria afogado ou esmagado, prensado entre o casco do navio e a costa. Orion decidiu não arriscar. Pegou uma corda e amarrou em seu escudo de aço, e arremessou-o dentro do navio. Puxou lentamente a corda, tentando fazer com que ela se prendesse em algo firme, quando viu os elfos se aproximando, furiosos.

_ Idiota! O que está fazendo! Vai atrair os inimigos! Se tiver alguém ai dentro, já deve saber da nossa presença por sua culpa! – gritavam os filhos de Glórienn.

Orion, cansado de ser destratado por aqueles a quem ajudava, largou a corda e o escudo (que se fixara em alguma coisa, mas não estava firme o suficiente para suportar seu peso) e decidiu saltar para o navio.

Tomou distância e saltou. O corpo do guerreiro, revestido de aço reluzente, alcançou grande altura, mas começou a cair na metade da distância que o separava de seu objetivo. Orion ia cair no mar. Mas, todos foram surpreendidos pelo que aconteceu a seguir.

Uma esfera negra, do tamanho de uma cabeça de criança, veio do navio em alta velocidade. Atingiu em cheio o peito do humano. Canhões! Pensaram os elfos, lembrando-se da jornada que fizeram no mar Negro rumo à ilha de Ortenko. Então, a esfera explodiu e, embora uma bala de canhão pudesse estilhaçar o casco de um navio, uma casa ou outra construção, todos sabiam que balas de canhão não explodiam. Mas aquela explodiu. Detonou em chamas que se espalharam rapidamente e cobriram uma vasta área, atingindo até os que estavam na costa. Parecia até uma magia de bola de fogo, como as que Squall e Anix costumavam usar.

Orion foi arremessado de volta para a ilha.Caiu com violência no chão, sua armadura toda chamuscada e amassada. Todos tentavam ainda entender o que tinha acontecido, quando uma risada vinda do navio lhes chamou a atenção. Um ser pequeno e atarracado, com feições brutas e porcinas surgiu de trás da amurada. Era um goblin. Tinha um lenço amarrado à cabeça, e uma máscara estranha com lentes de vidro cobriam seus olhos. Vestia roupas de couro e tecidos coloridos e calçava botas de cano alto com abas dobradas para se ajustarem às suas pernas reduzidas. E trazia uma porção de itens estranhos pendurados ao corpo. Estranhos objetos de metal, com formas grotescas e utilidade duvidosa adornavam o corpo do pequeno e repugnante ser. Nas suas mãos, uma estranha arma, um tubo fumegante de metal preso a um cabo de madeira, cheio de complexas engrenagens, cabos e gatilhos, exalava uma aura de mistério. Uma arma de fogo! Pensaram todos. Mas, não era uma arma de fogo comum, do tipo que tinham ouvido falar, ou das que o capitão Arthur Tym deveria possuir no Lazarus e igualmente diferente das que o pirata Jack de Forte Rodick usava escondido. Essa era complexa e disparava com a potência de um canhão. Com a potência de uma bola de fogo de um conjurador experiente. Com um ar de superioridade que contratava com sua aparência grotesca, o goblin colocou um pé sobre a amurada da nau e fez-se ouvir numa pilhéria.

_ Vamos lá, seus mandriões! Venham e queimarei seus traseiros um a um! Seus batráquios de orelhas compridas! – e deu uma cusparada no chão e moveu as mãos como se carregasse sua estranha arma.

Campanha A - Capítulo 283 – Crescidos

Capítulo 283 Crescidos

_ Venham todos! Eu tenho uma idéia! – clamou Anix, correndo escada abaixo.

Todos acompanharam o mago em sua corrida e, enquanto desciam viram a porta do segundo andar se abrindo e vomitando uma dúzia de goblins armados. Sem hesitar, Anix concentrou sua mente e lançou uma de suas mais poderosas magias. A bola de fogo certamente explodiria e queimaria todos aqueles goblins, pensou o mago. Mas, antes que a magia explodisse, um trovão foi ouvido e o cheiro de cloro se intensificou no ambiente. E o que era para se transformar numa explosão de chamas, tornou-se uma gigantesca teia.

Não era o que o herói esperava, mas acabou servindo para impedir o ataque dos inimigos. Os goblins ficaram enredados, presos numa gigantesca teia de aranha que cobria boa parte da escada. Eram presas fáceis.

Orion se aproximou, com sua espada flamejante, e começou a atear fogo na teia. As chamas avançavam rapidamente pelas fibras inflamáveis, queimando e ao mesmo tempo soltando os goblins. Mas, cada monstro que se libertava, após receber algumas queimaduras, era morto a golpes de espada por Nailo, Squall e Orion.

Assim eles atravessaram os degraus cobertos pela magia de Anix e mataram todos os inimigos. E são quando o massacre terminou, Squall se lembrou de retirar a galinha de sua cabeça.

Chegaram então à porta do segundo andar. Além dela, dentro de uma enorme sala, um monstro rugia, brandindo uma gigantesca clava de aço recoberta por espinhos metálicos afiados. Era uma criatura de pelagem espessa e aparência bestial, um goblinóide. Tinha cerca de quatro metros de altura e era muito parecido com os bugbear que haviam enfrentado na praia, embora fosse muito maior.

Sem hesitar, Squall apanhou a varinha mágica que pertencera a Zulil, e com o pronunciar de uma palavra mágica, um raio foi disparado em direção ao monstro. A fera encurvou o corpo e deixou sua maça pender nas mãos, como se não suportasse mais o peso da arma. Estava mais fraco.

Orion invadiu a sala, urrando em desafio à criatura. E, para surpresa geral, a cada passo dado pelo guerreiro, seu tamanho aumentava mais e mais, até que ele atingiu a mesma altura do monstro. Orion, o humano gigante, golpeou o couro duro do bugbear com sua espada. O sangue brotou farto, e o cheiro do pelo queimado rivalizou com o do cloro em suas narinas.

O monstro revidou com igual fúria. Sua maça atingiu com peso sobrenatural o peito do humano, amassando-a e esmagando os músculos e ossos que estavam por baixo. O monstro parecia que levaria vantagem, mas foi surpreendido pela chegada de Nailo pelo seu flanco direito. A espada elétrica do ranger penetrou fundo entre as costelas do inimigo, causando dor e ardor. E Nailo agora era um elfo gigante.

O próximo a se tornar gigante foi Lucano. Com Dililiümi ele rasgou o ventre do adversário, e a espada inflamou-se para queimar o inimigo, como se sentisse prazer em fazer aquilo. Uma voz ecoava na mente do clérigo: “Queime o maldito monstro!”.

Por último veio Squall. Correu enquanto seu tamanho aumentava, até ficar diante do monstro, ambos da mesma altura. Passou a espada na garganta do inimigo num corte limpo, fazendo-o tombar para trás, já pálido e sem vida. O sangue jorrava com abundância, e as gotas pareciam aumentar de tamanho antes de tocarem o chão da torre.

_ Vamos! – era Anix. Ele, Silfo e Legolas aguardavam na entrada do andar. Com mais um inimigo abatido, retomaram a descida, apressados. Ao saírem do segundo andar, Squall, Nailo, Orion e Lucano retornaram ao tamanho original.

Campanha A - Capítulo 282 – Pato da perdição

Capítulo 282 Pato da perdição

Guardaram rapidamente todas as suas armas, julgando que embainhadas elas estariam protegidas dos efeitos caóticos do reino de Wynlla. Quando decidiram avançar convocados por Anix para irem até o andar térreo, um novo relâmpago invadiu a câmara, fulminando uma das portas num estrondo reverberante. E novamente o ambiente tornou-se esverdeado. Com a nova porta aberta, não tinham outra opção a não ser investigar a tal porta, antes que alguma outra ameaça surgisse através dela para atacá-los. Squall tomou a frente do grupo.

Era um salão de proporções semelhantes ao anterior, paredes e piso de pedra envelhecida e suja. Espalhados pelo chão vários colchões rústicos de palha e panos apodrecidos amontoavam-se pelos cantos das paredes, formando um repugnante dormitório de goblinóides. Mas, ao invés dos esperados goblins, hobgoblins, orcs e outros monstros, havia somente animais dentro do dormitório. Eram galinhas, pardais, porcos, cabras, carneiros e muitos outros tipos de bichos que estranhamente dividiam o lugar. Squall entrou, cauteloso, e foi até o meio do salão. Nailo aguardava por ele, com seus olhos atentos, na entrada.

Squall foi estranhamente recepcionado por um simpático pato, que passou a segui-lo onde quer que ele fosse, de bico aberto grasnando. Como o animal não desistia de acompanhar o elfo, Squall decidiu livrar-se dele, empurrando-o com o pé (dessa forma também teria certeza de que aquilo não era apenas uma ilusão). Mas, ao tocar o animal com o pé, percebeu o tamanho do erro que cometera e o quanto Nimb, ou Wynna ou até mesmo Hyninn poderia ser cruel. Assim como muitas coisas naquele reino eram estranhas, o pato também tinha seu lado estranho.

Squall empalideceu, por um instante ficou mais alvo que as penas do animal. Sentiu o ar sendo retirado dos pulmões à força, queimando-o como brasa. Sentiu seu coração ser apertado, como se uma mão fantasmagórica o espremesse. E sentiu seus poderes abandonando-o. Squall enfraqueceu, teve sua energia sugada pelo animal e por pouco não desfaleceu. O pato, ao contrário, cresceu e se fortaleceu, ficando tão grande quanto um cão pastor.

O animal avançou na direção de Nailo, tentando bicá-lo. O ranger se esquivou e sacou o arco para se defender. Apesar do perigo, não desejava matar o animal.

Squall avançou contra a ave, tentando agarrá-la e reaver a energia roubada, nem que fosse a dentadas. Em sua investida, percebeu algo estranho. Suas mãos estavam cobertas de penas. Eram asas. Squall estava se transformando num pato também. Olhou em volta, e percebeu enfim ao que acontecera na sala. Viu, jogado num canto, um goblin agonizando. Seu corpo se contorcia e se remexia de forma estranha. Seu nariz se alongava e tomava forma de um focinho. Mãos e pés encolhiam transformando-se em patas, roupas fundiam-se ao corpo, formando uma pele rósea e lisa, até que o goblin se transformou em um porco. Uma galinha, que já fora um goblin, pousou sobre a cabeça do elfo, mas Squall ignorou, só tinha olhos para a bizarra transformação. Vendo isso, Squall entendeu que todos na sala eram goblinóides, que haviam se transformado em animais, e correu para fora da sala antes que se transformasse por completo em um pato. Squall atirou-se para fora e sua metamorfose foi se revertendo aos poucos.

Agora que sabia que o pato na verdade era um goblin ou outro monstro qualquer, Nailo disparou suas flechas sem piedade, matando-o antes que pudesse atacar mais alguém. Nailo e Lucano já começavam a arrastar um armário para lacrar aquela sala amaldiçoada, quando Legolas interferiu.

_ Esperem! Quero ver que tipo de animal eu seria!

Legolas entrou na sala, ficando próximo da saída. Seu corpo se contorceu e se transformou. Legolas ganhou asas transparentes, seus olhos se tornaram negros e grandes e suas nádegas começaram a brilhar. O arqueiro estava se tornando um vaga-lume.

Legolas saiu assustado da sala, retornando à forma original. Squall também ficou curioso e mandou cloud entrar na sala. O falcão voou até o interior do ambiente maldito e despencou no chão, enquanto se tornava uma minhoca. Squall salvou seu amigo antes da transformação se completar e Nailo e Lucano fecharam aquele lugar maldito. E, o mais estranho de tudo é que, enquanto estivera dentro da sala, Squall não sentira nenhuma aura mágica no ambiente, como se não houvesse ali magia alguma.

Após o susto, deram uma busca rápida na sala, procurando algo que pudesse ajudá-los a salvar Deedlit. Mas, a única coisa valiosa encontrada foi um diário, que pertencia ao antigo guardião do farol. Nas últimas linhas escritas do livro, o inquilino descrevia a aproximação de um grande navio, o qual ele foi recepcionar e não retornou. Era o navio dos goblins.